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MATERIAL PRÓPRIO DE JURISPRUDÊNCIA

8 -EXECUÇÃO PENAL: 14/14 julgados

A pena integralmente cumprida não interfere nos cálculos de benefícios em


nova execução penal
Quando houver condenação por mais de um crime contra a mesma pessoa, incide o art. 111 da
LEP. O Juiz observa o saldo da sanção a cumprir após eventual detração ou remição,
determina o regime prisional e, então, elabora o cálculo de benefícios. Como a contagem
incide sobre as guias reunidas para resgate preferencialmente em sua ordem cronológica de
distribuição, a estimativa terá como marco inicial a data da primeira prisão do reeducando
(interrompida pela última falta grave, no caso de progressão de regime), pois nesta data
começou o cumprimento da execução unificada, sopesado o art. 42 do CP.
Se a primeira execução do paciente foi extinta meses antes da formação da culpa do segundo
processo, sem continuidade com a guia atual, a sanção integralmente resgatada noutro tempo
não orienta nem tem reflexos nos cálculos de pena aplicada na última sentença, única em
cumprimento, porque não existiu a soma ou a unificação de que trata o art. 111 da LEP.
STJ. 6ª Turma. HC 762.729-SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em
04/10/2022 (Info 761).

A ausência de falta grave nos últimos 12 meses não é suficiente para satisfazer o
requisito subjetivo exigido para a concessão do livramento condicional
A Lei nº 13.964/2019 incluiu a alínea “b” no inciso III do art. 83 do CP, com o objetivo de
impedir a concessão do livramento condicional quando há falta grave nos últimos 12 (doze)
meses. Contudo, isso não significa que a ausência de falta grave no mencionado período seja
suficiente para satisfazer o requisito subjetivo exigido para a concessão do livramento
condicional, nem sequer que eventuais faltas disciplinares ocorridas anteriormente não
possam ser consideradas pelo Juízo das Execuções Penais para aferir fundamentadamente o
mérito do apenado. Desse modo, é legítimo que o julgador fundamente o indeferimento do
pedido de livramento condicional em infrações disciplinares cometidas há mais de 12 meses,
em razão da existência do requisito cumulativo contido na alínea “a" do art. 83 do inciso III
do CP, o qual determina que esse benefício será concedido apenas aos que demonstrarem
bom comportamento durante a execução da pena.
STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 776.645-SP, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em
25/10/2022 (Info 756).
A progressão do reincidente não específico em crime hediondo ou equiparado
com resultado morte deve seguir o art. 112, VI, a, da LEP, mesmo que a
condenação tenha sido anterior ao Pacote Anticrime
Aplica-se se o percentual previsto no art. 112, inciso VI, alínea “a”, da Lei nº 7.210/84 (Lei de
Execução Penal) para a progressão de regime ao condenado por crime hediondo com
resultado morte e reincidente genérico, quando a condenação tenha ocorrido antes da
entrada em vigor da Lei nº 13.964/2019 (Pacote Anticrime).
STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 2.015.414-MG, Rel. Min. Reynaldo Soares da
Fonseca, julgado em 25/10/2022 (Info 755)

O que o juízo federal corregedor do presídio analisa para decidir se haverá ou


não a inclusão do preso?
Se devidamente motivado pelo Juízo estadual o pedido de manutenção de preso, em presídio
federal, não cabe ao Magistrado federal exercer juízo de valor sobre a fundamentação
apresentada, mas, apenas, aferir a legalidade da medida. No caso de transferência de preso
para presídio federal, ao Juízo Federal não compete realizar juízo de valor sobre as razões de
fato emanadas pelo Juízo solicitante, sendo-lhe atribuído pelo art. 4º da Lei nº 11.671/2008,
tão somente, o exame da regularidade formal da solicitação.
STJ. 3ª Seção. PET no CC 183.852/MG, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em
27/4/2022. STJ. 3ª Seção. CC 190.601-PA, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior,
julgado em 28/09/2022 (Info 751).

É possível a execução em separado de cada uma das guias de execução de modo


que é possível o reconhecimento do percentual de progressão da reincidência
genérica para um determinado crime e dos percentuais de reincidência
específica para outros
Após as alterações promovidas pela Lei nº 13.964/2019, é possível a execução em separado de
cada uma das guias de execução, de modo que o cálculo para obtenção de benefícios que
dizem respeito à execução penal deve considerar a primariedade em parte da pena, a
reincidência comum em outra e a reincidência específica apenas nas guias que dizem respeito
a crimes de mesma natureza.
STJ. 6ª Turma. HC 654.870-MG, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em
20/9/2022 (Info Especial 10).
Se não houver comprovação efetiva de cumprimento de carga laboral diária não
é possível o reconhecimento do direito à remição
A remição pelo trabalho pressupõe o exercício de atividade laboral mediante subordinação e
controle de horário, não se admitindo o auto controle de carga horária. Caso concreto: não foi
admitida a remição com base em autodeclaração na qual o apenado afirmou que é
proprietário de imóvel rural e, portanto, explorador de atividade econômica.
STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 709.901-RJ, Rel. Min. Olindo Menezes
(Desembargador convocado do TRF da 1ª Região), julgado em 27/9/2022 (Info
Especial 10).

É possível a concessão de remição ficta, com extensão do alcance da norma


prevista no art. 126, §4º, da LEP, aos apenados que estavam impossibilitados de
trabalhar ou estudar em razão da pandemia da Covid-19
Nada obstante a interpretação restritiva que deve ser conferida ao art. 126, §4º, da LEP, os
princípios da individualização da pena, da dignidade da pessoa humana, da isonomia e da
fraternidade, ao lado da teoria da derrotabilidade da norma e da situação excepcionalíssima
da pandemia de Covid-19, impõem o cômputo do período de restrições sanitárias como de
efetivo estudo ou trabalho em favor dos presos que já estavam trabalhando ou estudando e se
viram impossibilitados de continuar seus afazeres unicamente em razão do estado
pandêmico.
STJ. 3ª Seção. REsp 1.953.607-SC, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em
14/09/2022 (Recurso Repetitivo – Tema 1120) (Info 749).

Nos termos do art. 126, § 2º, da LEP, a remição de pena pelo estudo somente é
possível quando o curso for oferecido por instituição devidamente autorizada
ou conveniada com o Poder Público para esse fim
A remição de pena em virtude de curso profissionalizante, realizado pelo apenado na
modalidade à distância (EaD), exige a apresentação de certificado emitido por entidade
educacional devidamente credenciada perante o Ministério da Educação (MEC).
STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 722.388-SP, Rel. Min. Olindo Menezes
(Desembargador convocado do TRF 1ª Região), julgado em 09/08/2022 (Info
748).

É possível aplicar a decisão do STF no HC 143641/SP ou o art. 318-A do CPP para


os casos de cumprimento definitivo da pena em que a acusada foi condenada aos
regimes fechado ou semiaberto?
A jurisprudência está dividida:
• STF: não. Não é possível a concessão de prisão domiciliar para condenada gestante ou que
seja mãe ou responsável por crianças ou pessoas com deficiência se já houver sentença
condenatória transitada em julgado e ela não preencher os requisitos do art. 117 da LEP. Em
caso de execução definitiva da pena, a prisão domiciliar deve observar o que dispõe o art. 117
da LEP. Não se aplica o que o STF decidiu no HC 143.641/SP nem tampouco o art. 318-A do
CPP, que se referem exclusivamente a prisão cautelar. STF. 1ª Turma. HC 177164/PA, Rel.
Min. Marco Aurélio, julgado em 18/2/2020 (Info 967). STF. 1ª Turma. HC 185404 AgR, Rel.
Rosa Weber, julgado em 23/11/2020.
• STJ: sim, em casos excepcionais. Excepcionalmente, admite-se a concessão da prisão
domiciliar às presas dos regimes fechado ou semiaberto quando verificado pelo juízo da
execução penal, no caso concreto, a proporcionalidade, adequação e necessidade da medida, e
que a presença da mãe seja imprescindível para os cuidados da criança ou pessoa com
deficiência, não sendo caso de crimes praticados por ela mediante violência ou grave ameaça
contra seus descendentes.
STJ. 3ª Seção. RHC 145.931-MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em
09/03/2022 (Info 728).

O tempo de ensino a distância (EAD) deve ser computado para a remição de


pena, bastando, como comprovante, a certificação fornecida pela entidade
Caso concreto: uma pessoa que cumpria pena na unidade prisional apresentou pedido de
remição de 16 horas de ensino a distância. O juízo da Vara de Execuções Penais
desconsiderou as horas de ensino a distância, por entender que não havia fiscalização para
comprovar a atividade. O STF entendeu que é devida a remição. O ensino a distância nas
unidades prisionais surgiu como alternativa às limitações para a implementação de estudo
presencial, contribuindo para a qualificação profissional e a readaptação da população
carcerária ao convívio social. Se o sistema penitenciário não oferece fiscalização e
acompanhamento, o sentenciado não pode ser prejudicado. Constando do atestado emitido
pelo Sistema de Informações Penitenciárias que o sentenciado concluiu o aprendizado das
disciplinas, a inércia estatal em acompanhar e fiscalizar o estudo a distância não deve ser a
ele imputada, sob pena de prejudicá-lo pelo descumprimento de uma obrigação que não é
sua. A ineficiência do Estado em fiscalizar as horas de estudo realizadas a distância pelo
condenado não pode obstaculizar o seu direito de remição da pena, sendo suficiente para
comprová-las a certificação fornecida pela entidade educacional. Em razão das condições
diferenciadas em relação aos demais cidadãos, os presos devem ser tratados de forma
diferente, em respeito ao princípio da dignidade humana. Como as pessoas que cumprem
pena já então em situação precária, é necessário sobrevalorizar a remição da pena, para que
elas acreditem na superação do erro e na possibilidade de vida diferente a partir da educação.
STF. 1ª Turma. RHC 203546/PR, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 28/6/2022
(Info 1061)

O TJ/PE instaurou IRDR para dirimir as divergências na aplicação da Resolução


da CIDH de 22/11/2018 (cômputo da pena em dobro para os presos do Complexo
do Curado); enquanto não julgado o IRDR, os processos envolvendo o tema
estão suspensos
Não há como se reconhecer excesso de prazo no julgamento do Incidente de Resolução de
Demandas Repetitivas 0008770-65.2021.8.17.9000 instaurado pelo Tribunal de Justiça de
Pernambuco, quando não extrapolado o prazo estipulado no art. 980 do CPC, assim como
não há ilegalidade na suspensão dos recursos que versam sobre o cômputo em dobro de pena
dos presos no Complexo do Curado até a resolução do Incidente. A instauração de Incidente
de Resolução de Demandas Repetitivas pelo Tribunal de Justiça de Pernambuco, assim como
a suspensão dos recursos que versam sobre o cômputo em dobro de pena dos presos no
Complexo do Curado até a resolução do Incidente, não consubstanciam recalcitrância em
cumprir a Resolução de 28/11/2018 da Corte Interamericana de Direitos Humanos, nem
tampouco desafiam o entendimento exarado pelo STJ no HC 136.961/RJ. Existindo
divergência entre as Varas de Execuções Penais de Pernambuco sobre a aplicação da medida
provisória emanada da Corte Interamericana de Direitos Humanos - CIDH em relação a
temas relacionados a aspectos práticos da forma cômputo do prazo em dobro, a futura
deliberação a ser exarada no IRDR garantirá tratamento isonômico aos presos no Complexo
do Curado, assim como segurança jurídica que deflui da prolação de decisões harmônicas
sobre o tema.
STJ. 5ª Turma. AgRg no HC 708.653-PE, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca,
julgado em 15/03/2022 (Info 731).

O que acontece se o indivíduo que está cumprindo pena restritiva de direitos


for novamente condenado agora a pena privativa de liberdade?
Sobrevindo condenação por pena privativa de liberdade no curso da execução de pena
restritiva de direitos, as penas serão objeto de unificação, com a reconversão da pena
alternativa em privativa de liberdade, ressalvada a possibilidade de cumprimento simultâneo
aos apenados em regime aberto e vedada a unificação automática nos casos em que a
condenação substituída por pena alternativa é superveniente.
STJ. 3ª Seção. REsp 1.918.287-MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, Rel. Acd.
Min. Laurita Vaz, julgado em 27/04/2022 (Recurso Repetitivo – Tema 1106)
(Info 736).

O indulto é instituto da execução penal, não se estendendo os benefícios da


norma instituidora aos presos cautelarmente com direito à detração penal
O período ao qual o Decreto Presidencial 9.246/2017 se refere para fins de indulto é aquele
corresponde à prisão pena, não se alinhando para o preenchimento do requisito objetivo
aquele alusivo ao da detração penal, no qual se está diante de constrição por medida cautelar.
STJ. 6ª Turma. AgRg no AREsp 1.887.116-GO, Rel. Min. Olindo Menezes
(Desembargador convocado do TRF 1ª Região), julgado em 03/05/2022 (Info
736).

O histórico prisional conturbado do apenado, somado ao crime praticado com


violência ou grave ameaça (uma condição legal do art. 83, parágrafo único, do
CP), afasta a constatação inequívoca do requisito subjetivo para a concessão do
livramento condicional
Para a concessão do benefício do livramento condicional, deve o reeducando preencher os
requisitos de natureza objetiva e subjetiva, nos termos do art. 83 do CP c/c o art. 131 da LEP.
Para que o magistrado negue os benefícios de execução penal sob o argumento da ausência de
requisito subjetivo, é necessário que isso seja feito com base em elementos concretos
extraídos da execução. O histórico prisional conturbado do apenado, somado ao crime
praticado (uma condição legal do atual art. 83, parágrafo único, do Código Penal), afasta a
constatação inequívoca do requisito subjetivo para a concessão do livramento condicional.
STJ. 5ª Turma. HC 734.064-SP, Rel. Min. Jesuíno Rissato (Desembargador
convocado do TJDFT), julgado em 03/05/2022 (Info 735).

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