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ESTUDO DE CASO

EXECUÇÃO PENAL
FEMPERJ
MÓDULO III – MANHÃ
AMANDA LUCIA DA S. BARBOSA
MATRÍCULA: 12483
A prisão-albergue domiciliar é modalidade de prisão aberta. Na letra da lei, trata-se de um
“regime aberto em residência particular”, conforme dispõe o art. 117 da Lei de Execução Penal 1.
Levando em conta certas situações particulares, o legislador entendeu por bem abrandar o rigor
punitivo, mesmo em se tratando de pena a ser resgatada no regime aberto. De tal sorte, estabeleceu
a possibilidade de expiação da pena, em residência particular, portanto fora de estabelecimento
penal, nas seguintes hipóteses: I - condenado maior de setenta anos; II - condenado acometido de
doença grave; III - condenada com filho menor ou deficiente físico ou mental; IV - condenada
gestante. Não se pode confundir a prisão-albergue com a prisão domiciliar. O regime aberto ou
prisão-albergue como regra não admite a execução da pena em residência particular. Pena em
regime aberto, deve ser cumprida em casa de albergado ou estabelecimento adequado, conforme
deflui do art. 33, § 1º, “c”, do Código Penal2.
No entanto, esta modalidade de cumprimento de prisão em regime aberto domiciliar tornou-
se tão comum, diante da inexistência de casas de albergado, que o TJDFT criou uma página em seu
sitio eletrônico apenas para explicar as exigências quanto ao cumprimento da pena em regime
aberto na residência do sentenciado:

A VEPERA, também, é responsável pelo acompanhamento das penas de Prisão Domiciliar. São
aproximadamente 23.000 processos.
Condições para o cumprimento do regime abeto em Prisão Domiciliar:
*Residir no endereço declarado, relacionando-se bem com seus familiares e vizinhos, devendo
comunicar com antecedência à VEPERA eventual mudança de endereço;
*Recolher-se à sua residência das 22h00 às 5h00, salvo prévia autorização deste Juízo prorrogando
o horário de recolhimento;
*Durante o período determinado no termo de audiência, permanecer em casa nos domingos e
feriados por período integral, salvo prévia autorização deste Juízo alterando o horário de
recolhimento;
*Comparecer bimestralmente à VEPERA/DF, em um dos dias designados no calendário de
apresentação, para informar e justificar suas atividades;
*Não se ausentar do Distrito Federal, sem prévia autorização deste Juízo, salvo para as cidades do
entorno, conforme relação descrita no cartão/calendário, devendo estar em casa até às 22h00. Caso
seja residente no entorno, fica autorizado a permanecer naquela cidade, recolhendo-se às 22h00;

1
LEP: Art. 117. Somente se admitirá o recolhimento do beneficiário de regime aberto em residência particular quando
se tratar de:
2
CP: Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semiaberto ou aberto. A de detenção, em
regime semiaberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime fechado. § 1º - Considera-se: (...) c) regime
aberto a execução da pena em casa de albergado ou estabelecimento adequado.
2
*Nunca andar em companhia de pessoas que se encontrem cumprindo pena, seja em regime aberto,
semi-aberto, fechado, ou livramento condicional, mesmo estando autorizadas a sair do presídio.
Não andar acompanhado de menor de idade que esteja cumprindo medida sócio-educativa;
*Nunca portar armas de qualquer espécie;
*Comprovar que exerce trabalho honesto no prazo de 3 meses, ou justificar suas atividades;
*Submeter-se à fiscalização das autoridades encarregadas de supervisionar as presentes condições;
*Não usar ou portar entorpecentes e bebidas alcoólicas. Não freqüentar locais de prostituição,
jogos, bares e similares;
*Sempre portar documentos pessoais e, quando for o caso, autorização de viagem e autorização de
prorrogação de horário;
*Efetuar o pagamento da pena de multa e das custas processuais (se houver);
*Trazer comprovante de endereço (conta de água, luz, telefone ou declaração de duas pessoas
idôneas) por ocasião da primeira apresentação no cartório da VEPERA.
*O não cumprimento das condições impostas para o benefício constitui falta grave, podendo
ocasionar a perda do benefício e a expedição de Mandado de Prisão. A manutenção do benefício
depende do seu comportamento. (TJDFT:
<https://www.tjdft.jus.br/cidadaos/execucoes-penais/vepera/informacoes/regime-aberto-em-prisao-
domiciliar>)

Porém, há um equívoco recorrente na prática forense, em sede de execução penal, nas


hipóteses em que a condenada encontra-se grávida. Reiteradas vezes nos defrontamos com pedidos
de progressão para o regime aberto, na modalidade domiciliar, estando a condenada a cumprir pena
em regime fechado, amparando-se o pedido no art. 117, IV, da Lei de Execução Penal. É evidente
que tal postulação não reúne condições de admissibilidade. A impossibilidade de progressão por
salto impede o acolhimento da pretensão. Necessário observar o sistema progressivo com a
passagem pelo regime intermediário (semiaberto), e só depois do ingresso no regime aberto,
também por progressão, é que se pode cogitar da concessão de albergue domiciliar. A conclusão
decorre evidente do caput do art. 117 da Lei de Execução Penal, onde se lê que somente se admitirá
o recolhimento do beneficiário de regime aberto em residência particular nas hipóteses que
enumera. Como se vê, na letra da lei, só se pode conceder a modalidade domiciliar ao condenado
que se encontre em regime aberto, e desde que evidenciada uma das situações especialíssimas
elencadas nos incisos do art. 117 da Lei de Execução Penal. O entendimento dos tribunais
superiores é de que não obstante a precária situação atual dos estabelecimentos prisionais, permitir
ao apenado, que cumpre pena em regime semiaberto, passar diretamente ao regime domiciliar, sem
o preenchimento de quaisquer requisitos, além de afrontar o sistema escalonado de progressão da
pena, tal como o princípio da isonomia (ao sobrepor o direto do apenado aos dos outros

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reeducandos que aguardam vaga em local adequado), revela-se medida manifestamente
desproporcional.
No entanto, O Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça, por questões
humanitárias, admitem, excepcionalmente, a prisão domiciliar a condenados que estejam
submetidos a pena em regime diverso do aberto, observadas as peculiaridades do caso concreto:

EXECUÇÃO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL. PRISÃO DOMICILIAR HUMANITÁRIA. 1. É


admitida a concessão de prisão domiciliar humanitária ao condenado acometido de doença
grave que necessite de tratamento médico que não possa ser oferecido no estabelecimento
prisional ou em unidade hospitalar adequada. (AgReg STF.)

A Lei n. 12.403, de 4 de maio de 2011, dentre outras providencias deu nova redação aos
arts. 317 e 318 do CPP e instituiu a prisão cautelar domiciliar substitutiva da prisão preventiva,
que não se confunde com a prisão-albergue domiciliar.
O instituto possibilita, dentre outras, as seguintes vantagens: 1º) restringir cautelarmente a
liberdade do indivíduo preso em razão da decretação de prisão preventiva, sem, contudo, submetê-
lo às conhecidas mazelas do sistema carcerário; 2º) tratar de maneira particularizada situações que
fogem da normalidade dos casos e que, em razão disso, estão a exigir, por questões humanitárias e
de assistência, o arrefecimento do rigor carcerário; 3º) reduzir o contingente carcerário, no que diz
respeito aos presos cautelares; e 4º) reduzir as despesas do Estado advindas de encarceramento
antecipado. Parte da doutrina defende que qualquer que seja a situação listada no art. 318, a
substituição traduz direito subjetivo do encarcerado e, portanto, poder-dever conferido ao
magistrado. Em sentido contrário, argumenta-se com a literalidade do art. 318, caput, que ao regular
a matéria diz que o juiz poderá substituir a prisão preventiva pela domiciliar, e então, conclui-se que
não basta que a pessoa presa preventivamente se encaixe em qualquer dos modelos listados no tipo.
Sustenta-se que o juiz deve avaliar aspectos de ordem subjetiva atrelados à pessoa custodiada, caso
a caso, e só após, deferir ou não a substituição da custódia clássica pela domiciliar.
Portanto, no caso do artigo 318 do CPP tem-se uma cautelar substituindo outra cautelar mais
gravosa (prisão), enquanto que no artigo 117 da LEP tem-se uma modalidade de cumprimento de
pena menos gravosa diante de situações especiais que a exijam.

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BIBLIOGRAFIA

1. MARCÃO, Renato. Curso de Execução Penal. 13ª ed. São Paulo: Saraiva, 2015;

2. ROIG, Rodrigo Duque Estrada. Aplicação da pena: limites, princípios e novos


parâmetros. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2015.

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