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INTENSIVO II

Cleber Masson
Direito Penal
Aula 03

ROTEIRO DE AULA

FIXAÇÃO DO REGIME PRISIONAL

1. Regime prisional: conceito e espécies


É também chamado de regime penitenciário ou sistema prisional.

O professor relembra que a palavra “penitenciária” guarda origem com o direito penal canônico. Penitenciária é o local
em que se cumpriam as penitências.

Conceito: Regime prisional é o modo pelo qual se efetiva o cumprimento da pena privativa de liberdade.

As espécies de regime prisional são:


● Regime fechado;
● Regime semiaberto; e
● Regime aberto.

CP, art. 33, § 1º: “Considera-se:


a) regime fechado a execução da pena em estabelecimento de segurança máxima ou média;
b) regime semi-aberto a execução da pena em colônia agrícola, industrial ou estabelecimento similar;
c) regime aberto a execução da pena em casa de albergado ou estabelecimento adequado.”

Observações:

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✔ O regime semiaberto também pode ser chamado de “semifechado”.
✔ O Pacote anticrime (Lei 13.964/2019) criou o regime fechado de segurança máxima.
✔ O professor salienta que, no Brasil, há também a prisão domiciliar. A prática acabou criando essa espécie de
regime aberto (com ou sem monitoramento eletrônico).

2. Regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade


O regime inicial de cumprimento da pena é fixado na sentença ou no acórdão condenatório.

O regime fixado pelo juiz é inicial porque ele pode ser alterado no curso da execução penal, ou seja, o regime não é
imutável. Assim, o regime prisional pode mudar para melhor (progressão de regime) ou para pior (regressão).

CP, art. 33, §§ 2º e 3º: “§ 2º - As penas privativas de liberdade deverão ser executadas em forma progressiva, segundo o
mérito do condenado, observados os seguintes critérios e ressalvadas as hipóteses de transferência a regime mais
rigoroso:
a) o condenado a pena superior a 8 (oito) anos deverá começar a cumpri-la em regime fechado;
b) o condenado não reincidente, cuja pena seja superior a 4 (quatro) anos e não exceda a 8 (oito), poderá, desde o
princípio, cumpri-la em regime semi-aberto;
c) o condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 4 (quatro) anos, poderá, desde o início, cumpri-la em
regime aberto.
§ 3º - A determinação do regime inicial de cumprimento da pena far-se-á com observância dos critérios previstos no art.
59 deste Código.”

Observações:
1ª) As penas privativas de liberdade deverão ser executadas de forma progressiva. O Brasil adotou o sistema progressivo,
também chamado de sistema inglês, ou seja, o condenado começa a cumprir a pena e vai, paulatinamente, passando para
um regime menos gravoso (conforme o mérito do condenado).

2ª) Se a pena é superior a 8 anos, o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade é o fechado.

3ª) O condenado não reincidente, cuja pena seja superior a 4 anos e não exceda a 8, poderá, desde o princípio, cumpri-la
em regime semiaberto.

4ª) O condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 4 anos, poderá, desde o início, cumpri-la em regime
aberto.

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5ª) O art. 33, §3º cita que a determinação do regime inicial de cumprimento da pena se dará em consonância com as
circunstâncias judiciais do art. 59 do CP1.

2.1. Fatores determinantes na fixação do regime inicial

Existem três fatores determinantes na fixação do regime inicial (nesta ordem):


a) Reincidência ou primariedade.

b) Quantidade da pena aplicada.


Se o agente for primário, será necessário analisar a quantidade de pena aplicada para definir o regime inicial de
cumprimento de pena (pena aplicada é diferente de pena cominada – Esta última não importa).

c) Circunstâncias judiciais – Como visto anteriormente, o juiz utiliza as circunstâncias judiciais para fixar a quantidade de
pena, conforme art. 59, caput do CP.

2.2. Competência para fixação do regime prisional


CP, art. 59, III: “o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade;”

A competência para a fixação do regime prisional é do juiz (por ocasião da sentença condenatória) ou do Tribunal (no
momento do acórdão condenatório) que fixará o regime prisional.
✔ A competência para a fixação do regime inicial não é do juiz da execução.
✔ Durante a execução penal, o regime prisional pode ser alterado pela soma ou unificação de penas. Exemplo: “A”
possui uma pena de 5 anos em regime semi-aberto. Posteriormente, surge uma nova condenação de mais 5 anos.
Neste caso, o regime prisional passará a ser fechado.

Superveniência de novas condenações durante o cumprimento da pena.


Em caso de superveniência de novas condenações durante o cumprimento da pena, o juiz da execução irá adaptar o
regime prisional.

2.3. Fixação do regime inicial e concurso de crimes


Nos casos de crimes em concurso (material, formal ou crime continuado), o juiz deverá observar a totalidade da pena
privativa de liberdade aplicada.

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CP, art. 59: “O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos
motivos, às circunstâncias e conseqüências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme
seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) (...)”.

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2.4. Regime inicial e crimes hediondos ou equiparados
Na redação original da Lei 8.072/90, havia o preceito de que a pena privativa de liberdade deveria ser cumprida em regime
integralmente fechado, ou seja, não havia direito à progressão de regime.
✔ O cumprimento da pena, nessa época, começava e terminava em regime fechado (independentemente da
quantidade de pena e do perfil do agente).
✔ Naquela época, o STF considerou o regime integralmente fechado como sendo constitucional.

Posteriormente, a Lei 9.455/1997 (Lei de Tortura) preceituou que a pena para o crime de tortura seria cumprida em
regime “inicialmente fechado”.
✔ Os crimes hediondos estão previstos no art. 1º da Lei 8.072/90. Os crimes equiparados a hediondos são o
terrorismo, o tráfico de drogas e a tortura.

A Lei 9.455/1997 acabou gerando certa confusão, pois se contrapôs ao que estava preceituado na Lei 8.072/90.
✔ Diante disso, o STF chegou a editar súmula para declarar a constitucionalidade do regime integralmente fechado
dos crimes hediondos e dos demais crimes equiparados (exceto a tortura).

Posteriormente, em 2005, o STF declarou tal regime inconstitucional por violar o princípio da dignidade da pessoa
humana, a proporcionalidade e o princípio da individualização da pena.
✔ A decisão do STF surgiu após uma mudança de diretriz política e foi dada em um caso concreto, estendendo-se
aos demais pela “inconstitucionalidade por arrastamento”.
✔ A partir desse momento, o condenado por tais crimes passou a ter direito à progressão de regime.

A Lei 11.464/2007 alterou a lei dos crimes hediondos e preceituou que, em crimes hediondos, a pena seria cumprida em
regime inicialmente fechado, ou seja, seria possível a progressão.
A progressão era feita com o cumprimento de 2/5 da pena para o primário ou de 3/5 para o reincidente.

Posteriormente, o STF também considerou que a pena cumprida em regime inicialmente fechado era inconstitucional,
pois a lei não poderia impor ao juiz um regime fixo, já que isso ofende o princípio da individualização da pena.

Atualmente, portanto, a fixação do regime inicial de cumprimento de pena em caso de crime hediondo ou equiparado
deve observar unicamente as disposições do art. 33, §§ 2º e 3º do Código Penal.
✔ Assim sendo, no Brasil, o regime prisional inicial para crimes hediondos ou equiparados também pode ser o
aberto, semiaberto ou fechado.
✔ Em tese, portanto, é possível que o agente que cometeu crime hediondo ou equiparado inicie o cumprimento da
pena em regime aberto, atendidos determinados pressupostos.

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3. Pena de reclusão
CP, art. 33, “caput”, 1ª parte: “A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto.”

✔ A pena de reclusão admite qualquer dos três regimes iniciais de cumprimento de pena.

3.1. Critérios

a) Reincidente
Pela sistemática o Código Penal, o reincidente condenado à pena de reclusão começa o cumprimento em regime fechado,
independentemente da quantidade de pena aplicada.
A jurisprudência do STJ, contudo, abrandou tal regra, conforme se verifica na Súmula 269, STJ:

Súmula 269 do STJ: “É admissível a adoção do regime prisional semiaberto aos reincidentes condenados a pena igual ou
inferior a 4 (quatro) anos se favoráveis as circunstâncias judiciais.”

✔ Em suma: De acordo com o Código penal, o reincidente condenado à pena de reclusão deve começar o
cumprimento em regime fechado. A Súmula 269 do STJ, por outro lado, preceitua que é possível, nesta mesma
situação, admitir o regime semiaberto (desde que a pena aplicada seja igual ou inferior a 4 anos e com
circunstâncias judiciais favoráveis).

b) Primário
Primário, no Brasil, é todo aquele que não é reincidente.

No caso de réu primário, leva-se em consideração a quantidade de pena aplicada para fixar o regime inicial de
cumprimento de pena privativa de liberdade.
● Pena aplicada superior a 8 anos: regime inicial fechado.
● Pena aplicada superior a 4 anos e até 8 anos: regime inicial semiaberto.
● Pena aplicada de até 4 anos: regime inicial aberto.

c) Circunstâncias judiciais
Questão: o réu primário foi condenado pelo crime de roubo (com emprego de arma de fogo) a 6 anos de reclusão, ou
seja, o regime inicial é o semiaberto. Neste caso, é possível aplicar o regime prisional inicial fechado?
Sim. O professor destaca que é possível aplicar o regime fechado, desde que as circunstâncias judiciais do art. 59, caput,
do CP sejam desfavoráveis a ele.

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✔ Se as circunstâncias judiciais do art. 59, caput, do CP forem desfavoráveis ao agente, o juiz pode fixar um regime
prisional mais gravoso do que o correspondente à pena aplicada, fundamentando adequadamente a decisão.

Súmula 718 do STF: “A opinião do julgador sobre a gravidade em abstrato do crime não constitui motivação idônea para
a imposição de regime mais severo do que o permitido segundo a pena aplicada.”

✔ A gravidade em abstrato não é motivação idônea para a imposição de regime mais severo do que o permitido
segundo a pena aplicada. Assim sendo, é necessário levar em consideração os dados concretos do crime
(gravidade concreta do crime).

Súmula 719 do STF: “A imposição de regime de cumprimento mais severo do que a pena aplicada permitir exige motivação
idônea.”

4. Pena de detenção
CP, art. 33, “caput”, parte final: “A de detenção, em regime semiaberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a
regime fechado.”

✔ A pena de detenção se inicia no regime aberto ou semiaberto.


✔ Não existe regime inicial fechado na pena de detenção. Assim, a pena de detenção não pode começar em regime
fechado e não há exceção a essa regra.

Obs.: o professor destaca que a Lei 9.034/95 (primeira lei do crime organizado) admitia o regime fechado para início de
cumprimento da pena de detenção. Na vigência dessa lei, portanto, a pena de detenção poderia ser iniciada em regime
fechado quando o crime em questão fosse praticado por uma organização criminosa. Essa lei foi revogada.

Questão: É admissível o regime fechado para cumprimento da pena de detenção?


O Direito Penal brasileiro não admite o regime inicial fechado para cumprimento da pena de detenção. Entretanto, nada
impede que, após o início do cumprimento de pena, o juiz da execução determine a regressão para o regime fechado.

4.1. Critérios
a) Reincidente
O reincidente começa a cumprir a pena de detenção no regime semiaberto.

b) Primário
No caso de réu primário, verifica-se a quantidade de pena:
● Pena superior a 4 anos: regime inicial semiaberto.

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● Pena de até 4 anos: regime inicial aberto.

c) Circunstâncias judiciais
É possível aplicar um regime mais gravoso (semiaberto) do que o correspondente à pena aplicada, desde que as
circunstâncias judiciais sejam desfavoráveis. Nesta situação, é necessária fundamentação idônea.

5. Pena de prisão simples


A pena de prisão simples é a pena privativa de liberdade cominada às contravenções penais.

Lei das Contravenções – Decreto-lei 3.688/1941


“Art. 6º A pena de prisão simples deve ser cumprida, sem rigor penitenciário, em estabelecimento especial ou seção
especial de prisão comum, em regime semi-aberto ou aberto.
§ 1º O condenado a pena de prisão simples fica sempre separado dos condenados a pena de reclusão ou de detenção.”

✓ O professor destaca que não há, no Brasil, sequer estabelecimento feito para regime de segurança máxima
(regime fechado). Diante disso, o professor destaca que não há preocupação em destinar recursos para criar local
especial para cumprimento de prisão simples.

6. Pena-base no mínimo legal e regime prisional mais gravoso do que o correspondente à pena aplicada
Questão: Se o juiz aplicou a pena privativa de liberdade no mínimo legal, ele pode fixar um regime prisional mais gravoso
do que o correspondente à pena aplicada?
Exemplo: o réu foi processado por estupro simples e teve condenação mínima (6 anos). Neste caso, como ele é primário,
o regime prisional seria o semi-aberto.
✓ Se a pena-base foi aplicada no mínimo legal, não é possível a aplicação de um regime mais gravoso do que o
correspondente à pena aplicada, já que, nessa situação, todas as circunstâncias judiciais eram favoráveis ao réu.
✓ Se as circunstâncias judiciais eram favoráveis a ponto de deixar a pena-base no mínimo legal, elas não podem ser
desfavoráveis para a aplicação de um regime mais gravoso do que o correspondente à pena aplicada.

Súmula 440 do STJ: “Fixada a pena-base no mínimo legal, é vedado o estabelecimento de regime prisional mais gravoso
do que o cabível em razão da sanção imposta, com base apenas na gravidade abstrata do delito.”

REINCIDÊNCIA

1. Introdução

⮚ Finalidades da pena

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O professor relembra que, no Brasil, a pena possui uma tripla finalidade: retribuição, prevenção (geral e especial).

A reincidência deixa claro que duas finalidades da pena não foram atingidas: a finalidade retributiva, que é o castigo; e a
finalidade de prevenção especial, já que o agente voltou a delinquir e, portanto, não foi ressocializado.
● A retribuição: é o castigo.
A ideia da retribuição é simples: se o agente pratica o crime, é punido, cumpre a pena (ou não) e, depois disso,
pratica novo crime, isso demonstra que aquele castigo foi insuficiente.
● Prevenção especial é aquela que se dirige ao condenado para que ele não volte a delinquir.

⮚ Fundamento
O fundamento da reincidência é a necessidade de o condenado receber uma pena mais severa (recrudescimento do
tratamento penal), pois ele livremente optou por voltar a delinquir.

⮚ Direito penal de autor?


A reincidência não é um resquício do direito penal do autor.

A reincidência é constitucional e não se trata de direito penal do autor ou de bis in idem.


A reincidência é compatível com o direito penal do fato, pois o agente não está sendo punido simplesmente por ser
reincidente, mas porque praticou um novo fato/crime.

⮚ “Bis in idem”
O Direito Penal não admite a dupla punição pelo mesmo fato, ou seja, não admite o bis in idem.
A reincidência não caracteriza bis in idem, já que o agente não está sendo punido duas vezes por um único crime. Na
verdade, ele está sendo punido por um novo crime cometido.

✓ No caso, o agente demonstrou, com a prática do novo crime, que a condenação anterior era insuficiente.
✓ Obs.: Ver RE 453.000 (Informativo 700).

Situações peculiares
O art. 9º do CP versa sobre a eficácia de sentença estrangeira.

CP, art. 9º: “A sentença estrangeira, quando a aplicação da lei brasileira produz na espécie as mesmas conseqüências,
pode ser homologada no Brasil para:
I - obrigar o condenado à reparação do dano, a restituições e a outros efeitos civis;
II - sujeitá-lo a medida de segurança.”

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A sentença condenatória proferida no estrangeiro gera reincidência no Brasil. Tal sentença não precisa ser homologada
pelo STJ para gerar a reincidência no Brasil.
✔ Em suma: a sentença estrangeira, para servir como pressuposto de reincidência no Brasil, não precisa ser
homologada pelo STJ, bastando a prova da sua existência.

2. Natureza jurídica: art. 61, inc. I, do Código Penal


A natureza jurídica da reincidência é dada pelo art. 61, I do CP:

CP, art. 61, I: “São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime:
I - a reincidência.”

✔ A reincidência é uma agravante genérica e, portanto, incide na segunda fase de aplicação da pena e é aplicável a
qualquer pena.

3. Conceito: art. 63 do Código Penal

CP, art. 63: “Verifica-se a reincidência quando o agente comete novo crime, depois de transitar em julgado a sentença
que, no País ou no estrangeiro, o tenha condenado por crime anterior.”

Reincidência é a agravante genérica, prevista no art. 63 do CP, que se verifica quando o agente comete um novo crime,
depois de ter sido definitivamente condenado, no Brasil ou no exterior, o tenha condenado por crime anterior.

4. Requisitos

Do conceito de reincidência (art. 63, CP), é possível extrair 3 requisitos cumulativos:


a) Prática de um crime, cometido no Brasil ou no estrangeiro;
b) Condenação definitiva (trânsito em julgado) por esse crime; e
c) Prática de novo crime.

Esses 3 requisitos devem ocorrer nesta ordem cronológica.

Situação 1: Se, por exemplo, o agente comete o crime 1 e recebe a condenação definitiva por este crime, ao praticar o
crime 2, ele será considerado reincidente.

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Veja o esquema a seguir:

Cometimento Condenação Cometimento


do crime 1 definitiva 1 do crime 2 Reincidente

Para se falar em reincidência, não basta que o agente já tenha praticado 2 crimes.

Situação 2: O agente pode ter cometido vários crimes (4 crimes), ter uma condenação definitiva e não ser reincidente.

Veja o esquema abaixo:

Obs.: não basta que o agente tenha uma condenação definitiva. Para ser reincidente, ele precisa cometer outro crime
depois de ter uma condenação definitiva por crime anterior.

✓ Na situação 2, mesmo despois de ter 4 condenações definitivas, o agente ainda é primário, pois não cometeu
nenhum crime depois da primeira condenação definitiva.

Essa hipótese é tratada pela jurisprudência como “tecnicamente primário”. O professor destaca que o tecnicamente
primário, na verdade, é primário.

5. Prova da reincidência

Questão: Como se prova a reincidência?


No Brasil, durante muito tempo, houve uma discussão sobre isso. A folha de antecedentes criminais seria suficiente ou
haveria necessidade de uma certidão criminal?

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✓ A folha de antecedentes é chamada vulgarmente de “capivara” e se trata de registro mais genérico sobre
processos penais.
✓ A certidão criminal é documento mais específico, emitida pelo cartório criminal, com informações detalhadas
acerca de determinado processo.

Durante muito tempo, a prova da reincidência dependia de certidão criminal.

Atualmente, a Súmula 636 do STJ2 diz que a reincidência é provada pela folha de antecedentes, pois ela tem presunção
de veracidade por ser documento público.

6. Crime e contravenção penal


Nesse tópico, é necessário interpretar o art. 7º da Lei das Contravenções Penais juntamente com o art. 63 do CP:

Lei das Contravenções Penais, art. 7º: “Verifica-se a reincidência quando o agente pratica uma contravenção depois de
passar em julgado a sentença que o tenha condenado, no Brasil ou no estrangeiro, por qualquer crime, ou no Brasil, por
motivo de contravenção.”

✓ As contravenções penais cometidas no estrangeiro não geram a reincidência no Brasil. Para fins de reincidência,
somente são válidas as contravenções penais praticadas no Brasil.

CP, art. 63: “Verifica-se a reincidência quando o agente comete novo crime, depois de transitar em julgado a sentença
que, no País ou no estrangeiro, o tenha condenado por crime anterior.”

✓ O art. 63 do CP somente fala em crime (e não em contravenção penal).

Tabela demonstrativa da reincidência:


Infração penal anterior Infração penal posterior Resultado

Crime Crime Reincidente

Contravenção penal Contravenção penal Reincidente

Crime Contravenção penal Reincidente

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STJ, Súmula 636: “A folha de antecedentes criminais é documento suficiente a comprovar os maus antecedentes e a
reincidência.”

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Contravenção penal Crime Primário

Observações:
✓ Na primeira hipótese, o agente será reincidente pelo disposto no art. 63 do CP.
✓ Na segunda hipótese, o agente será reincidente pelo disposto no art. 7º da Lei de Contravenções Penais.
✓ Na terceira hipótese, o agente será reincidente e essa interpretação é possível a partir do confronto entre o art.
7º da Lei das Contravenções Penais e o art. 63 do CP.
✓ A quarta hipótese prevista na tabela é uma situação esdrúxula decorrente de uma lacuna legislativa, já que nem
o CP nem a lei das contravenções penais trataram dessa situação. Lembrando que a reincidência é uma situação
prejudicial ao réu e, portanto, não cabe a analogia in malam partem.

7. Espécies de reincidência

a) Quanto à necessidade de cumprimento da pena imposta pela condenação anterior:

- Real, própria ou verdadeira: é aquela que se verifica quando o agente pratica um novo crime depois de ter cumprido
integralmente a pena imposta pela condenação anterior.

- Presumida, ficta, imprópria ou falsa: nesse caso, o agente não precisa ter cumprido a pena imposta pelo crime anterior.
Basta que o agente pratique novo crime depois de ter sido condenado definitivamente por crime anterior.

✓ O Brasil adota a reincidência ficta, presumida, imprópria ou falsa, já que, para o agente ser reincidente, basta que
ele cometa um crime após o trânsito em julgado da condenação por crime anterior.

b) Quanto às categorias dos crimes

- Genérica: na reincidência genérica, o crime anterior e o crime posterior são diferentes.


Exemplo: a condenação anterior foi pela prática de um furto e, posteriormente, o agente pratica uma apropriação
indébita.

- Específica: nesse caso, o crime anterior e o crime posterior são iguais.


Exemplo:
Crime 1: tráfico de drogas e Crime 2: tráfico de drogas.

Em geral, a reincidência genérica e a específica são equiparadas pelo Direito Penal brasileiro.

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Exceções: Há hipóteses no CP e na legislação extravagante em que o reincidente específico recebe um tratamento mais
severo do que o reincidente genérico.
Exemplo: art. 44, §3º do CP (substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos).
Art. 44, § 3º, do Código Penal: “Se o condenado for reincidente, o juiz poderá aplicar a substituição, desde que, em face
de condenação anterior, a medida seja socialmente recomendável e a reincidência não se tenha operado em virtude da
prática do mesmo crime.”

✓ Em regra, para o reincidente em crime doloso, não cabe a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva
de direitos. Entretanto, há exceção a essa regra quando a medida for socialmente recomendável e quando a
reincidência não for específica.
✓ Para o reincidente específico, jamais caberá a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos.

8. Validade da condenação anterior para fins de reincidência: art. 64, inc. I, do Código Penal

CP, art. 64: “Para efeito de reincidência:


I - não prevalece a condenação anterior, se entre a data do cumprimento ou extinção da pena e a infração posterior tiver
decorrido período de tempo superior a 5 (cinco) anos, computado o período de prova da suspensão ou do livramento
condicional, se não ocorrer revogação.”

A condenação anterior deixa de funcionar como pressuposto da reincidência depois de 5 anos, os quais são contados a
partir do cumprimento ou da extinção da pena por qualquer motivo (exemplo: cumprimento da pena).
Exemplo: “A” foi condenado a 20 anos de prisão e a condenação transitou em julgado no dia 10/10/2005. Se o
cumprimento da pena se iniciar no mesmo dia, “A” terminará de cumpri-la em 09/10/2025. Assim sendo, a partir de
09/10/2025, serão contados os 5 anos relativos à caducidade da reincidência.

O Código Penal adota o sistema da temporariedade. Isso porque o CP impõe um período depurador da reincidência
(período depurador ou caducidade da reincidência).

Obs.: Para fins de maus antecedentes, o CP adota o sistema da perpetuidade, ou seja, uma condenação anterior e
definitiva vale para sempre (para fins de maus antecedentes).

9. Crimes militares e políticos: art. 64, inc. II, do Código Penal

CP, art. 64: “Para efeito de reincidência:

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(...)
II - não se consideram os crimes militares próprios e políticos.”

O art. 64, II do Código Penal preceitua que, para efeito de reincidência, não se consideram os crimes militares próprios e
políticos.

⮚ Crimes militares próprios: são aqueles previstos exclusivamente no Código Penal Militar (exemplos:
insubordinação e deserção).
A condenação definitiva por um crime militar próprio, seguida de um crime comum, não gera reincidência.
É, entretanto, possível a reincidência perante dois crimes militares próprios.

⮚ Crimes políticos: são aqueles que ofendem a estrutura e a organização do Estado.

10. Reincidência e maus antecedentes

Veja o esquema abaixo:

Se o agente possui duas condenações definitivas, uma será usada como reincidência e a outra será utilizada como mau
antecedente.

⮚ Se o indivíduo possui uma única condenação definitiva, esse fato não poderá ser utilizado duas vezes em prejuízo
do agente, ou seja, não poderá ser usada como reincidência e como maus antecedentes, nos termos da Súmula
241 do STJ.

Súmula 241 do STJ: “A reincidência penal não pode ser considerada como circunstância agravante e, simultaneamente,
como circunstância judicial.”

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⮚ Essa súmula visa a evitar o bis in idem.

11. Terminologias: reincidente, primário, tecnicamente primário e Multirreincidente

⮚ Reincidente: é aquele que pratica um novo crime depois de ter sido definitivamente condenado por um crime
anterior.

⮚ Primário: o conceito de primário é obtido de forma residual (por exclusão). Primário é todo aquele que não é
reincidente, ou seja, é aquele que não praticou um novo crime depois de ter sido definitivamente condenado por
um crime anterior.

⮚ Tecnicamente primário: é aquele que tem uma condenação definitiva, mas não é reincidente. O tecnicamente
primário, na verdade, é primário.
Exemplo: Quando o agente pratica dois ou mais crimes em momentos distintos e, depois da condenação pelo
primeiro crime (crime 1), o agente não comete outro crime. Neste caso, o agente é primário. A jurisprudência
chama isso de tecnicamente primário.

Cometimento Condenação Condenação


Cometimento
do crime 2 definitiva 1 definitiva 2
do crime 1

No momento da condenação pelo


crime 1, o agente não é reincidente.
Assim, a jurisprudência chama isso
de tecnicamente primário.

⮚ O agente também é considerado primário depois do período de 5 anos após o cumprimento da pena.

⮚ Multirreincidente: é aquele que, além de ser reincidente, ostenta três ou mais condenações definitivas.

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