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Apostila de

Direito Penal II
Prof. Salo de Carvalho
Feito por Gabriela Ururahy ;)
Aplicação da Pena:
Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à
personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e conseqüências do crime, bem
como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para
reprovação e prevenção do crime

a) Primeira etapa: eleição da pena cabível entre as cominadas (PPL, PRD ou multa. Quando
coexistem duas ou mais modalidades distintas de penas deve o julgador eleger,
motivadamente, uma delas. Contudo, são esporádicos os tipos penais que preveem penas
alternadas).
b) Segunda etapa: determinação da quantidade de pena aplicável (tempo; dosimetria);
c) Terceira etapa: fixação do regime inicial de cumprimento (qualidade da pena)
d) Quarta etapa: avaliação da possibilidade de aplicação dos substitutivos penais (substituições
previstas no art. 44)

Espécies de Penas:
➢ Privativas de Liberdade

Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semiaberto ou aberto.
A de detenção, em regime semiaberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a
regime fechado.

a) regime fechado a execução da pena em estabelecimento de segurança máxima ou média; (regras do regime
fechado: art. 34)
b) regime semi-aberto a execução da pena em colônia agrícola, industrial ou estabelecimento similar; (regras
do regime semi-aberto: art. 35)
c) regime aberto a execução da pena em casa de albergado ou estabelecimento adequado. (regras do regime
aberto: art. 36)

OBS.: não existe qualquer vedação à progressividade de regime no Brasil. Na verdade, a volatilidade qualitativa
da pena garantida no CP permite afirmar que dificilmente o condenado cumprirá a integralidade de sua pena
em um mesmo regime – o que não significa que a flexibilidade ocorrerá sempre em favor do réu, uma vez que
há a possibilidade de regressão de regime.

§ 2º - As penas privativas de liberdade deverão ser executadas em forma progressiva, segundo o


mérito do condenado, observados os seguintes critérios e ressalvadas as hipóteses de transferência
a regime mais rigoroso

a) o condenado a pena superior a 8 (oito) anos deverá começar a cumpri-la em regime fechado;
b) o condenado não reincidente, cuja pena seja superior a 4 (quatro) anos e não exceda a 8 (oito), poderá, desde o princípio,
cumpri-la em regime semi-aberto;
c) o condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 4 (quatro) anos, poderá, desde o início, cumpri-la em
regime aberto.

§ 3º - A determinação do regime inicial de cumprimento da pena far-se-á com observância dos critérios
previstos no art. 59 deste Código.

➢ Restritivas de Direito

Art. 43. As penas restritivas de direitos são:


I - prestação pecuniária; (art. 45, 1º)
II - perda de bens e valores; (art. 45, 3º)
III - limitação de fim de semana.
IV - prestação de serviço à comunidade ou a entidades públicas; (art. 46)
V - interdição temporária de direitos; (art. 47)
VI - limitação de fim de semana. (art. 48)

Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade,
quando:
I – aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o crime não for cometido com
violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for culposo;
II – o réu não for reincidente em crime doloso;
III – a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem como
os motivos e as circunstâncias indicarem que essa substituição seja suficiente.

§ 2o Na condenação igual ou inferior a um ano, a substituição pode ser feita por multa ou por uma
pena restritiva de direitos; se superior a um ano, a pena privativa de liberdade pode ser substituída
por uma pena restritiva de direitos e multa ou por duas restritivas de direitos.

§ 3o Se o condenado for reincidente, o juiz poderá aplicar a substituição, desde que, em face de
condenação anterior, a medida seja socialmente recomendável e a reincidência não se tenha
operado em virtude da prática do mesmo crime.

§ 4o A pena restritiva de direitos converte-se em privativa de liberdade quando ocorrer o


descumprimento injustificado da restrição imposta. No cálculo da pena privativa de liberdade a
executar será deduzido o tempo cumprido da pena restritiva de direitos, respeitado o saldo mínimo
de trinta dias de detenção ou reclusão.

§ 5o Sobrevindo condenação a pena privativa de liberdade, por outro crime, o juiz da execução penal
decidirá sobre a conversão, podendo deixar de aplicá-la se for possível ao condenado cumprir a pena
substitutiva anterior.

➢ Multa

Art. 49 - A pena de multa consiste no pagamento ao fundo penitenciário da quantia fixada


na sentença e calculada em dias-multa. Será, no mínimo, de 10 (dez) e, no máximo, de
360 (trezentos e sessenta) dias-multa.
§ 1º - O valor do dia-multa será fixado pelo juiz não podendo ser inferior a um trigésimo do maior salário
mínimo mensal vigente ao tempo do fato, nem superior a 5 (cinco) vezes esse salário.

§ 2º - O valor da multa será atualizado, quando da execução, pelos índices de correção monetária.

Pagamento da multa
Art. 50 - A multa deve ser paga dentro de 10 (dez) dias depois de transitada em julgado a
sentença. A requerimento do condenado e conforme as circunstâncias, o juiz pode permitir
que o pagamento se realize em parcelas mensais.
§ 1º - A cobrança da multa pode efetuar-se mediante desconto no vencimento ou salário do condenado
quando:
a) aplicada isoladamente;
b) aplicada cumulativamente com pena restritiva de direitos;
c) concedida a suspensão condicional da pena.

§ 2º - O desconto não deve incidir sobre os recursos indispensáveis ao sustento do condenado e de sua
família.

Art. 60, § 2º - A pena privativa de liberdade aplicada, não superior a 6 (seis) meses, pode
ser substituída pela de multa, observados os critérios dos incisos II e III do art. 44 deste
Código.

A determinação da quantidade de dias-multa é feita através da análise da culpabilidade do


réu. O valor unitário do dia-multa não pode ser inferior a um trigésimo do maior salário-
mínimo mensal vigente na data do fato, nem superior a 5 vezes esse referencial. O critério
norteador desse valor é fundamentalmente a situação econômica do réu.

Dosimetria da Pena – Método Trifásico:

Art. 68 - A pena-base será fixada atendendo-se ao critério do art. 59 deste Código; em


seguida serão consideradas as circunstâncias atenuantes e agravantes; por último, as
causas de diminuição e de aumento.

➢ 1º: PENA-BASE

A pena-base é aquela que atua como ponto de partida, como parâmetro para as operações
que se seguirão. Corresponde à pena inicial fixada em concreto, dentro dos limites
estabelecidos a priori na lei penal, para que, sobre ela, incidam, por cascata as diminuições
e os aumentos decorrentes de agravantes, atenuantes, majorantes ou minorantes.

A pena-base é composta por inúmeras categorias abertas (circunstâncias judiciais), o que


aumenta o nível de complexidade de seu estabelecimento e fixação.

• CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS SUBJETIVAS: dizem respeito ao autor do fato.

➔ Culpabilidade

A culpabilidade nos permite analisar o grau de responsabilidade penal do autor do


delito. Ainda que atue de forma distinta nas teorias do delito (critério qualitativo) e nas
teorias da pena (critério quantitativo), os elementos constitutivos da culpabilidade são
os mesmos: (i) imputabilidade, (ii) potencial conhecimento do delito e (iii) exigibilidade
de conduta diversa. Contudo, nas teorias do delito, a análise será se o sujeito era
imutável, se possuía consciência da ilicitude do fato e se lhe era exigível uma outra
conduta. Na teoria da pena a análise não é qualitativa, mas quantitativa, propondo-se
a avaliar qual a extensão da imputabilidade, qual o nível de consciência da ilicitude e
qual a medida de exigibilidade de outra conduta poderia lhe ser exigida.

Aspectos que NÃO podem ser valorados na culpabilidade são (i) a valoração da
intensidade do dolo e do grau de culpa e (ii) valoração da periculosidade do réu.

A premeditação do crime evidencia maior culpabilidade do agente criminoso,


autorizando a majoração da pena-base.

É comum que, em fundamentações falhas e de penas excessivas, ocorra a valoração


negativa da culpabilidade através de sua própria definição, como por exemplo: “a
culpabilidade deve ser valorada desfavoravelmente, visto ser o réu imputável, com
consciência da ilicitude, sendo-lhe, portanto, exigível comportamento diverso”. Essa
fundamentação recai em bis in idem e é falha, uma vez que se trata da própria
definição da culpabilidade e o que deve-se aferir é o maior ou menor grau,
quantitativo, de reprovabilidade na conduta do agente.

➔ Antecedentes
O réu é portador de maus antecedentes quando possui condenações anteriores
transitadas em julgado que não constituem reincidência. Somente a condenação
criminal definitiva anterior ao fato ora em julgamento poderia ser levada em conta pelo
magistrado ao cogitar dos chamados (maus) antecedentes judiciais do acusado;
qualquer outra consideração a titulo de maus antecedentes será, pois,
inconstitucional, por afronta aos princípios constitucionais que impedem a alteração
in pejus do julgado criminal, sem prejuízo de prova concreta de ocorrência de mau
antecedente social.

Súmula 444 do STJ: é vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em


curso para agravar a pena-base.

Atos infracionais não podem ser considerados maus antecedentes para elevação da
pena-base, tampouco para a reincidência.

Há reincidência quando há transido em julgado de sentença penal condenatória e,


posteriormente, o sujeito comete outro crime. Nos maus antecedentes, o fato foi
cometido antes do trânsito em julgado, mas só passa a ser considerado antecedente
com a efetivação desta etapa do processo penal.

Em síntese, para configurar antecedentes o trânsito em julgado da sentença


condenatória deve ter ocorrido em data posterior à da prática da nova infração; do
contrário, ou seja, se o trânsito em julgado for anterior ao delito que está sendo
julgado, incidirá a agravante da reincidência. O marco de analise, portanto, é sempre
a data do fato que está sendo julgado, o tempo do crime.

A reincidência é prescrita em 5 anos após a extinção da punibilidade e o réu retorna


à primariedade. Contudo, os maus antecedentes não prescrevem e permanecem na
folha de antecedentes criminais do sujeito perpetuamente. Crítica de Zaffaroni: a pena
perpétua é inconstitucional, não se pode admitir que o autor de um delito perca a sua
condição de pessoa a passe a ser “marcado”, “assinalado” e estigmatizado por toda
sua vida, reduzido à condição de marginalizado perpétuo.

➔ Conduta Social

A conduta social diz respeito às relações do acusado com sua família e sua adaptação
ao trabalho, ao estudo, a um estilo de vida honesto ou reprovável. São os
antecedentes sociais do acusado, a avaliação do grau de desajuste social do
individuo. É difícil compatibilizar o exame da conduta social do apenado com a
perspectiva de um direito penal do fato, já que o condenado deve responder
penalmente pelo que fez e não pelo que é.

➔ Personalidade do Réu

Diz respeito ao complexo de características individuais próprias, que determinam ou


influenciam o comportamento do sujeito. O conceito de personalidade não é jurídico
e constata-se na experiencia cotidiana que a valoração da personalidade do acusado
nas sentenças criminais é quase sempre precária, imprecisa, incompleta, superficial,
limitada a afirmações genéricas. Os magistrados não possuem capacidade técnica
para analisar a personalidade do indivíduo e acabam atribuindo significados leigos ao
conceito.

Atos infracionais podem ser valorados negativamente na personalidade do agente.


Contudo, não podem ser considerados como personalidade desajustada ou voltada
para a criminalidade para fins de exasperação da pena-base.

➔ Motivos

A possibilidade de valoração dos motivos do agente está ligada à ideia da


culpabilidade como reprovabilidade, ou seja, de que determinadas razoes que
impulsionam o agir delitivo indicam uma maior ou menor censura penal. A prova da
motivação do crime geralmente é produzida a partir de depoimentos, testemunhas ou
interrogatórios, ou de documentos.

Paulo Queiroz destaca que são mais reprováveis os crimes que tenham como
motivação a inveja, o ódio gratuito, a ambição desmedida, a lascívia etc.
Contrariamente, são menos censuráveis os crimes que tenham uma motivação nobre,
como a defesa da própria honra injustamente ofendida, o amor etc. Na verdade, esses
motivos nobres ou desprezíveis costumam integrar a tipicidade, constituindo ou
qualificando o delito – por exemplo, as hipóteses de homicídio praticado por motivo
torpe (art. 121, inciso 2º) ou por motivo fútil (art. 121, parágrafo II).

É importante distinguir motivo e fim de agir, ou seja, as razoes da prática delitiva e


a vontade genérica de violação do tipo penal (dolo). Por exemplo, no crime de
homicídio, são distintas duas circunstâncias: a finalidade, caracterizada pela vontade
livre e consciente de matar alguém (dolo, animus necandi); e o motivo, identificado
na razão que deflagra a conduta.

• CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS OBJETIVAS: dizem respeito ao fato praticado.

➔ Circunstâncias em sentido estrito

As circunstâncias em sentido estrito dizem respeito aos aspectos exteriores do delito


e informam questões acerca do tempo (quando), do local (onde) e do modo de
execução do delito (como). Contudo, não se confundem com as elementares
descritivas do tipo.

➔ Consequências

As consequências do crime são aquelas independentes, que se desdobram e que


estão para além do resultado lesivo provocado ao bem jurídico tutelado. É a irradiação
de outros efeitos do fato do crime, não típicos. O dano ou perigo de dano são
resultados inerentes à conduta típica, fundamento da própria incriminação, e valorá-
los novamente seria bis in idem. Todo delito provoca um resultado jurídico (normativo)
que é a lesão ao bem protegido, e esse resultado não pode ser valorado duplamente.
Um exemplo disso é o caso do homicídio consumado. É fato que a conduta, por si só,
já gera um resultado grave – a morte da vítima. Contudo, esse resultado já está
previsto na estrutura do tipo. Nada impede, porém, que os desdobramentos
relativamente independentes do resultado sejam valorados, como por exemplo o fato
de a vítima ser arrimo de família, isto é, o único que trabalha no lar e ser o responsável
pelo provimento de toda sua casa.

➔ Comportamento da vítima

Nesta última circunstância judicial, é analisado o nível de contribuição da vítima para


o fato delitivo, ou seja, a forma como o seu comportamento anterior induzira ou
fomentara o delito. É a provocação ou estímulo à conduta criminosa, a forma como a
pessoa se coloca em situações de vulnerabilidade e se expõe à situação de risco.

É impossível deixar de mencionar o caráter sexista, sobretudo nos crimes contra a


liberdade sexual, de inúmeras análises doutrinárias e jurisprudenciais sobre o
comportamento da vítima mulher.

Identificados os elementos probatórios e definidos os limites conceituais das circunstâncias,


cabe ao juiz valorar positiva ou negativamente os vetores e quantificar a pena-base, primeira
etapa da dosimetria da pena. O cálculo da pena base se dá a partir do intervalo de valores
mínimo e máximo previstos no tipo penal, devendo fornecer um número exato para a próxima
etapa da dosimetria – pena-provisória, onde incidirão as causas atenuantes e agravantes.

O ponto de partida para a fixação da pena-base deve ser o mínimo cominado


legislativamente, distanciando-se desse piso conforme o número de circunstâncias
desfavoráveis. Significa dizer que se todas as circunstâncias judiciais forem favoráveis, a
pena-base deverá ser fixada no mínimo legal. Assim, sendo verificadas poucas ou nenhuma
circunstância judicial desfavorável, é plenamente admissível fixar a pena-base no mínimo.
Contudo, quando há todas as circunstâncias judiciais desfavoráveis, a pena-base não será
necessariamente estabelecida ao máximo, mas aproximando-se do termo médio.

Assim, o cálculo da pena-base parte do mínimo em direção ao termo médio, acrescentando


à pena quantidades decorrentes da valoração negativa das circunstâncias. Em síntese,
partindo sempre do mínimo em direção ao termo médio, o juiz acumularia as circunstâncias
negativas a partir do referencial máximo de 1/8 da diferença entre os dois limites.

➢ 2º: PENA-PROVISÓRIA

Na pena-provisória, são analisadas as circunstâncias agravantes e atenuantes, presentes,


respectivamente, nos artigos 61 e 62 e no artigo 65 do Código Penal. A forma de disposição
legal das agravantes e atenuantes permite afirmar uma maior adequação ao princípio da
taxatividade.

Diferentemente das circunstâncias judiciais, as legais (i) são pré-valoradas, positiva ou


negativamente, em lei, ou seja, as agravantes do art. 61 atuarão sempre como
circunstâncias de aumento e as dispostas no art. 65 serão sempre causas de diminuição; (ii)
estão quantitativamente delimitadas pela jurisprudência e (iii) possuem regras de
preponderâncias específicas.

Vale destacar o caráter taxativo das agravantes e exemplificativo das atenuantes. Nenhuma
causa de aumento que não esteja arrolada nos artigos 61 ou 62 poderá incidir na aplicação
da pena. Diferentemente da atenuante, cuja estrutura é aberta e permite, inclusive por força
de lei (art. 66), que haja uma especial referência a fatores relevantes, anteriores ou
posteriores ao crime, mesmo não previstos em lei (atenuantes inominadas).

• CIRCUNSTÂNCIAS LEGAIS AGRAVANTES

As circunstâncias agravantes só podem ser aplicadas quando não constituem ou qualificam o crime.
Assim, se a agravante tiver correspondência com as elementares do tipo penal imputado (tipo básico
ou qualificado), está vedada a sua valoração na pena-provisória, sob pena de ofensa ao ne bis in
idem.

Art. 61 - São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o
crime:
I - a reincidência;
II - ter o agente cometido o crime:
a) por motivo fútil ou torpe;
b) para facilitar ou assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime;
c) à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação, ou outro recurso que dificultou ou tornou impossível a
defesa do ofendido;
d) com emprego de veneno, fogo, explosivo, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que podia resultar
perigo comum;
e) contra ascendente, descendente, irmão ou cônjuge;
f) com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade,
ou com violência contra a mulher na forma da lei específica;
g) com abuso de poder ou violação de dever inerente a cargo, ofício, ministério ou profissão;
h) contra criança, maior de 60 (sessenta) anos, enfermo ou mulher grávida;
i) quando o ofendido estava sob a imediata proteção da autoridade;
j) em ocasião de incêndio, naufrágio, inundação ou qualquer calamidade pública, ou de desgraça particular do
ofendido;
l) em estado de embriaguez preordenada.

Art. 62 - A pena será ainda agravada em relação ao agente que:


I - promove, ou organiza a cooperação no crime ou dirige a atividade dos demais agentes;
II - coage ou induz outrem à execução material do crime;
III - instiga ou determina a cometer o crime alguém sujeito à sua autoridade ou não-punível em virtude de
condição ou qualidade pessoal;
IV - executa o crime, ou nele participa, mediante paga ou promessa de recompensa.

➔ Reincidência

Art. 63 - Verifica-se a reincidência quando o agente comete novo crime, depois de transitar em julgado
a sentença que, no País ou no estrangeiro, o tenha condenado por crime anterior.

Art. 64 - Para efeito de reincidência:


I - não prevalece a condenação anterior, se entre a data do cumprimento ou extinção da pena e a
infração posterior tiver decorrido período de tempo superior a 5 (cinco) anos, computado o período de
prova da suspensão ou do livramento condicional, se não ocorrer revogação;
lI - não se consideram os crimes militares próprios e políticos.
Zaffaroni: a reincidência, no direito penal brasileiro, não é uma relação entre o primeiro e
o segundo delito, mas sim entre o segundo delito e a condenação anterior. O momento
central para a analise é o da data do fato que está sob julgamento – o tempo do crime.

Na sentença criminal, o magistrado deverá verificar se o réu foi condenado e se houve


trânsito em julgado da sentença penal condenatória. Sendo positiva a resposta, deverá
analisar se o novo crime que está sendo julgado ocorreu antes ou depois da data do
trânsito. Se o novo delito for anterior ao trânsito em julgado, configura-se mau
antecedente; se for posterior ao trânsito, trata-se de reincidência.

Após 5 anos da extinção da punibilidade, o réu volta à primariedade e o registro criminal


só pode ser valorado na qualidade de antecedentes (efeitos perpétuos da pena,
inconstitucionalidade).

➔ Motivo Fútil ou Torpe

A literatura penal brasileira define como torpe o motivo indigno, repugnante, abjeto e que,
por essa razão, ofenderia gravemente os sentimentos e a moralidade média, os
princípios ou padrões éticos dominantes em sociedade – ex.: caso de delitos cometidos
mediante pagamento.

Diferente é a situação do motivo fútil, em que há a análise de desproporcionalidade entre


a causa e a consequência, isto é, há falta de paridade e de adequação entre o crime
cometido e o motivo gerador.
➔ Facilitar ou Assegurar outro Delito

Especial fim de agir vinculado à conduta: garantir a execução, impunidade, ocultação ou


vantagem de outro crime.

➔ Recursos que dificultam a defesa: traição, emboscada, dissimulação

Refere-se à formas especiais de execução do crime caracterizadas pela surpresa ou pela


ruptura com uma relação de confiança entre os sujeitos ativo e passivo do delito.

➔ Meios insidiosos ou cruéis: veneno, fogo, explosivo, tortura

Meios que causam especial sofrimento à vítima ou que tenham a potencialidade de gerar
danos a terceiros (perigo comum). Atentar se o meio arrolado como agravante já não
constitui elementar do tipo.

➔ Parentes e Vulneráveis

Ascendentes, descendentes, irmão, cônjuge, companheiros, pessoas que participam de


relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade (amigos, empregados,
hóspedes), contra criança, maior de 60 (sessenta) anos, enfermo ou mulher grávida

➔ Abuso de Autoridade e de Poder

O autor pratica o delito excedendo dolosamente o exercício legítimo de determinados


poderes que dispõe nas relações privadas (familiares, empregatícias). Usufrui da relação
de dependência da vítima com o agente (empregador, tutor, curador...)

➔ Em ocasião de incêndio, naufrágio, inundação ou qualquer calamidade pública, ou


de desgraça particular do ofendido

➔ Embriaguez preordenada

• CIRCUNSTÂNCIAS LEGAIS ATENUANTES:

O sistema de atenuantes não possui a estrutura hermética que caracteriza as agravantes. A


interpretação delas é mais aberta e o próprio art. 66 do CP prevê a existência das atenuantes
inominadas, estrutura normativa que permite que o juiz valore, no caso concreto, diferentes
situações que entender serem relevantes para a diminuição da pena provisória, mesmo não
figurando no rol das hipóteses do artigo 65.

As atenuantes previstas no artigo 65 do Código Penal são:

➔ Menoridade (21) na data do fato ou maior de 70 na data da sentença

➔ Desconhecimento da lei: apesar de ser inescusável, quando demonstrado


processualmente atua como atenuante.
➔ Motivos Relevantes: motivo de relevante valor social ou moral, que digam respeito às
convicções pessoais do(s) autor(es); questões ideológicas, de foro íntimo, que
expressam posições individuais relativas aos temas afetivos, religiosos e políticos.

➔ Arrependimento e Reparação: o autor do fato, de forma voluntária e com eficiência,


evita ou minora as consequências logo após a prática do crime (arrependimento) ou
repara o dano antes do julgamento (reparação).

➔ Coação, ordem superior e violenta emoção: hipóteses de coação resistível,


cumprimento de ordem de autoridade superior e violenta emoção provocada por ato
injusto da vítima.

➔ Confissão

➔ Multidão em Tumulto

Para calcular a pena provisória, parte-se do valor estabelecido na pena-base e incide-se as


quantidades de agravantes e atenuantes, não excedendo o valor de 1/6 do total da pena-
base em cada uma circunstância.

No caso de concurso de agravantes e atenuantes, a pena deve aproximar-se do limite


indicado pelas circunstâncias preponderantes, entendendo-se como tais as que resultam
dos motivos determinantes do crime, da personalidade do agente e da reincidência. Vale
destacar que, ao calcular a pena provisória, no concurso de circunstâncias judiciais, as
subjetivas possuem maior valor sobre as objetivas – circunstâncias subjetivas são aquelas
que tratam do autor do fato, enquanto as objetivas dizem respeito ao fato propriamente dito.
A minoridade, por exemplo, é uma atenuante subjetiva, enquanto o fato de ter praticado o
crime contra idoso é uma agravante objetiva. Significa dizer que no caso de concurso dessas
circunstâncias, a atenuante possuirá maior impacto sobre o cálculo da pena.

➢ 3º: PENA DEFINITIVA

Assim, inicia-se a terceira etapa da dosimetria: a pena definitiva, etapa em que são levadas
em consideração as eventuais causas de aumento e de diminuição de pena, conhecidas
como majorantes e minorantes, previstas tanto na parte geral quanto na parte especial do
Código Penal, para então chegar à pena definitiva.

A identificação das causas de aumento e de diminuição é simples a partir da consideração


de que já trazem em si o aumento ou a diminuição pretendidos pelo legislador, tanto em
quantidades fixas (um terço, um sexto, a metade e o dobro) quanto em porções variáveis
(um a dois terços, um sexto até metade, um sexto a um terço). Isso não ocorre, como vimos,
com as agravantes e atenuantes.

As causas de aumento e diminuição, na parte geral ou especial, são as únicas hábeis a violar
os limites máximo e mínimo da pena abstratamente cominada pelo legislador, e têm como
base do cálculo inicial o valor estabelecido na pena-provisória (que pode ou não ser o mesmo
da pena-base, dependendo da existência de agravantes e atenuantes). Vale destacar que,
havendo mais de uma causa de aumento ou diminuição prevista na Parte Especial, a causa
de aumento subjetiva será valorada como majorante na pena definitiva e a causa objetiva
incidirá sobre a pena-provisória, como agravante.

Regime de cumprimento e substituição de espécies:

Finalizadas a avaliação das majorantes e minorantes, o juiz fixará o regime inicial de


cumprimento da pena privativa de liberdade (aberto, fechado ou semiaberto), que poderá ser
progredido ou regredido ao longo do cumprimento da sentença, e verificará se há a possibilidade
de substituição da pena por outra espécie, se cabível. Condenações iguais ou inferiores a 1 ano,
por exemplo, podem ser substituídas por pena restritiva de direitos ou multa, e condenações
superiores a 1 ano e inferiores a 4 podem ser substituídas por 1 pena restritiva de direito + multa
ou por 2 restritivas de direitos. As substituições possíveis estão previstas no artigo 44 do CP.

Concurso de Crimes
➢ Concurso Material (real)

Art. 69 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes,
idênticos ou não, aplicam-se cumulativamente as penas privativas de liberdade em que haja
incorrido. No caso de aplicação cumulativa de penas de reclusão e de detenção, executa-se
primeiro aquela.

§ 1º - Na hipótese deste artigo, quando ao agente tiver sido aplicada pena privativa de liberdade,
não suspensa, por um dos crimes, para os demais será incabível a substituição de que trata o art.
44 deste Código.

§ 2º - Quando forem aplicadas penas restritivas de direitos, o condenado cumprirá simultaneamente


as que forem compatíveis entre si e sucessivamente as demais.

Nas hipóteses de ocorrência de crimes idênticos, o concurso material é classificado como


homogêneo; quando ocorrem crimes diversos, há concurso material heterogêneo.

Requisitos do Concurso material: a) Mais de uma ação ou omissão;


b) Prática de dois ou mais crimes.

Consequência: aplicação cumulativa das penas privativas de liberdade em que haja incorrido.

A existência de concurso material (homogêneo ou heterogêneo) implica a realização de inúmeras


condutas em situações distintas (sem identidade) de tempo, local, e maneira de agir. Se o agente
furta vários objetos de uma residência a que adentrara, comete somente um crime de furto, pois só
há um contexto, uma unidade temporal, que reúne no mesmo instante ações para um mesmo fim.
➢ Concurso Formal (ideal)

Requisitos do Concurso Formal: a) Uma só ação ou omissão


b) Prática de dois ou mais crimes

Consequências: a) Aplicação da mais grave das penas,


aumentada de um sexto até a metade
b) Aplicação de somente uma das penas,
se iguais, aumentada de um sexto até
metade.
c) Aplicação cumulativa das penas, se a
ação ou omissão é dolosa, e os crimes
resultam de desígnios autônomos

O art. 70 deixa antever a possibilidade de se distinguir o concurso formal em heterogêneo e


homogêneo quando diz que o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais
crimes, idênticos ou não. Isso quer dizer que as infracoes praticadas pelo agente podem ou não ter
a mesma tipificação. Se idênticas as tipificações, o concurso será reconhecido como homogêneo;
se diversas, será heterogêneo.

• Concurso Formal Próprio

Art. 70, primeira parte - Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou
mais crimes, idênticos ou não, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais,
somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até metade.

A situação que caracteriza o concurso formal próprio, portanto é a da ausência de dolo (direto) nos
crimes subsequentes, que ocorrem de forma indesejada, acidental (culpa consciente ou
inconsciente) ou com assunção de risco (dolo eventual).

• Concurso Formal Impróprio

Art. 70, segunda parte - As penas aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a ação ou omissão
é dolosa e os crimes concorrentes resultam de desígnios autônomos, consoante o disposto no
artigo anterior.

Parágrafo único - Não poderá a pena exceder a que seria cabível pela regra do art. 69 deste
Código.

Aqui, o agente deseja a realização de mais de um crime, tendo consciência e vontade em relação
a cada um deles.

➢ Crime Continuado

Art. 71 - Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes
da mesma espécie e, pelas condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras
semelhantes, devem os subseqüentes ser havidos como continuação do primeiro, aplica-se-lhe a
pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, aumentada, em qualquer
caso, de um sexto a dois terços.

Parágrafo único - Nos crimes dolosos, contra vítimas diferentes, cometidos com violência ou
grave ameaça à pessoa, poderá o juiz, considerando a culpabilidade, os antecedentes, a conduta
social e a personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, aumentar a pena
de um só dos crimes, se idênticas, ou a mais grave, se diversas, até o triplo, observadas as
regras do parágrafo único do art. 70 e do art. 75 deste Código.

Em suma, há crime continuado quando o autor, mediante mais de uma ação ou omissão
(pluralidade de condutas), realiza dois ou mais crimes da mesma espécie (pluralidade de ilícitos)
identificados por circunstâncias similares de tempo, local e modo de execução. Assim, o Código
Penal cria uma ficção na qual os delitos subsequentes, da mesma natureza e praticados em
circunstâncias similares, são entendidos como continuação do primeiro. A consequência é a
aplicação de uma única pena, exasperada de 1/6 a 2/3.

– STF, Súmula 605: não se admite continuidade delitiva nos crimes contra a vida.

– Reforma 1984: causa de aumento: elevação até o triplo: (a) crimes dolosos, (b) cometidos com
violência ou grave ameaça à pessoa, (c) praticados contra vítimas diferentes (art. 71, parágrafo
único, CP)

– Quantificação: (a) dois crimes, 1/6; (b) três, 1/5; (c) quatro, ¼; (d) cinco, 1/3; (e) seis, ½; (f) sete
ou mais, 2/3.

Decoreba:

Concurso material = cumula = soma

Concurso formal perfeito = exaspera de 1/6 a ½ (ou cumula)

Concurso formal imperfeito = cumula = soma

Crime continuado = exaspera de 1/6 a ½ (ou cumula)

Ação Penal
Art. 100 - A ação penal é pública, salvo quando a lei expressamente a declara privativa do
ofendido.

§ 1º - A ação pública é promovida pelo Ministério Público, dependendo, quando a lei o exige, de
representação do ofendido ou de requisição do Ministro da Justiça.

§ 2º - A ação de iniciativa privada é promovida mediante queixa do ofendido ou de quem tenha


qualidade para representá-lo.

§ 3º - A ação de iniciativa privada pode intentar-se nos crimes de ação pública, se o Ministério
Público não oferece denúncia no prazo legal.

§ 4º - No caso de morte do ofendido ou de ter sido declarado ausente por decisão judicial, o direito
de oferecer queixa ou de prosseguir na ação passa ao cônjuge, ascendente, descendente ou
irmão.

A ação penal é uma garantia constitucional que concede ao cidadão o direito de se dirigir ao Estado,
buscando uma solução para determinado conflito. É direito publico, subjetivo e incondicionado –
sempre se pode entrar com uma ação, ainda que, posteriormente, o juiz a julgue improcedente. A
ação penal é agente provocador da jurisdição, é o direito de invocar a prestação jurisdicional e
requerer a reparação de um direito violado.
A ação penal constitui apenas uma fase da persecução penal, que pode iniciar com as
investigações policiais (inquérito, quando não há réu, apenas indiciados), sindicância
administrativa, Comissão Parlamentar de Inquérito etc. Essas investigações são meramente
preparatórias de uma futura ação penal, que só nascerá em juízo, com oferecimento de denúncia
pelo Ministério Público – em caso de ação pública – ou de queixa, pelo particular – quando se
tratar de ação penal privada. O recebimento, de queixa ou de denúncia, marcará o início efetivo
da ação penal.

Para saber qual será o tipo de ação penal para determinado crime, basta ler o artigo no qual este
é tipificado. Se o artigo não especificar o tipo de ação, entende-se que é de ação penal pública
incondicionada; se falar que o dito crime somente se procede mediante queixa, teremos uma
ressalva expressa e a ação penal será privada.

➢ AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA

O Ministério Público é o titular da ação penal pública (art. 129, I, CF) e é o responsável por
movimentar o processo, que se inicia com o oferecimento da denúncia em juízo e deverá conter a
narração do fato criminoso, circunstanciadamente, a qualificação do acusado, a classificação do
crime e o rol de testemunhas (art. 41 do CPP). Significa dizer que o MP não necessita de
autorização ou manifestação de vontade de quem quer que seja para iniciá-la – princípio da
obrigatoriedade. Basta constatar que está caracterizada a prática do crime para promover a ação
penal. Assim, a autoridade policial, ao ter conhecimento da ocorrência de um crime de ação pública
incondicionada, deverá, de ofício, determinar a instauração de inquérito policial para apurar
responsabilidades, nos termos do CPP.

SUJEITO ATIVO
JUIZ (MINISTÉRIO PÚBLICO)

SUJEITO PASSIVO
(AUTOR DO CRIME)

➢ ACÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA:

Continua sendo iniciada pelo Ministério Público, mas dependerá, para a sua propositura, da
satisfação de uma condição de procedibilidade, sem a qual a ação penal não poderá ser instaurada:
necessita da representação do ofendido ou de quem tenha qualidade para representá-lo, ou,
ainda, de requisição do Ministro da Justiça.

Segundo o artigo 103 do CP, o indivíduo decai do direito de queixa ou de representação se não o
exerce dentro do prazo de 6 meses, contado do dia em que veio a saber quem é o autor do crime
– prazo decadencial, 6 meses a partir da ciência da autoria.

O Estado condiciona o início das investigações policiais e o oferecimento de denúncia à


apresentação da representação da parte, sendo necessária a simples declaração de sua vontade
no sentido de possibilitar ao MP a apuração dos fatos narrados.
Uma vez apresentada a denúncia pelo MP e iniciada a ação pública, a parte lesada não pode mudar
de ideia quanto à representação e encerrar o processo penal, prosseguindo até decisão final sob
comando do MP.

➢ AÇÃO PENAL PRIVADA:

Vem sempre expressa no texto legal. É iniciada sempre através da queixa, seguindo o princípio da
disponibilidade, isto é, uma vez oferecida a denúncia, pode-se dispor da ação penal por ela
iniciada e desistir do processo.

A decadência também impede o início da denúncia passado prazo dos 6 meses a partir da ciência
da autoria do delito ou, também, tendo em vista a série de obrigações que a vítima contrai ao iniciar
a ação privada, pode haver perempção com o descumprimento de algumas das obrigações
procedimentais, impedindo o prosseguimento do processo e extinguindo-se a punibilidade.

Extinção da Punibilidade

Art. 107 - Extingue-se a punibilidade:


I - pela morte do agente;
II - pela anistia, graça ou indulto;
III - pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso;
IV - pela prescrição, decadência ou perempção;
V - pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação privada;
VI - pela retratação do agente, nos casos em que a lei a admite;
IX - pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei.

➢ DECADÊNCIA

Art. 103 - Salvo disposição expressa em contrário, o ofendido decai do direito de queixa ou de
representação se não o exerce dentro do prazo de 6 (seis) meses, contado do dia em que veio a
saber quem é o autor do crime, ou, no caso do § 3º do art. 100 deste Código, do dia em que se
esgota o prazo para oferecimento da denúncia

É a perda do direito de ação a ser exercido pelo ofendido, em razão do decurso de tempo. Qualquer
uma das duas, tanto a queixa quanto a representação, devem ser realizadas dentro do prazo
decadencial.

➢ RENÚNCIA AO DIREITO DE QUEIXA

Art. 104 - O direito de queixa não pode ser exercido quando renunciado expressa ou tacitamente.

É a manifestação de desinteresse em exercer o direito de queixa, que só pode ocorrer em crimes


de ação penal exclusiva de iniciativa privada e antes dela ser iniciada. Após iniciada a ação penal
privada – que se caracteriza pelo recebimento da queixa – é impossível renunciar ao direito de
queixa.
➢ PERDÃO DO OFENDIDO

Consiste na desistência do querelante de prosseguir na ação penal, de exclusiva iniciativa privada,


que iniciou através de “queixa-crime”. Não se confunde com o perdão judicial.

Art. 105 - O perdão do ofendido, nos crimes em que somente se procede mediante queixa, obsta
ao prosseguimento da ação.

Art. 106 - O perdão, no processo ou fora dele, expresso ou tácito:

I - se concedido a qualquer dos querelados, a todos aproveita;

II - se concedido por um dos ofendidos, não prejudica o direito dos outros;

III - se o querelado o recusa, não produz efeito.

§ 1º - Perdão tácito é o que resulta da prática de ato incompatível com a vontade de prosseguir na
ação.

§ 2º - Não é admissível o perdão depois que passa em julgado a sentença condenatória.

➢ PEREMPÇÃO

É a perda do direito de prosseguir no exercício da ação penal privada; é uma sanção jurídica
aplicada ao querelante pela sua inércia, pelo mau uso da faculdade que o Poder Público lhe
concedeu de agir, privativamente, na persecução de determinados crimes. Na perempção, o
querelante, que já iniciou a ação de exclusiva iniciativa privada, deixa de realizar atos necessários
ao seu prosseguimento, deixando de movimentar o processo e levando à presunção de desistência.

➢ PRESCRIÇÃO

A prescrição é de ordem pública, devendo ser decretada de ofício, a requerimento do MP ou do


interessado e, uma vez ocorrida, o juiz deverá decretá-la em qualquer fase do processo e não
poderá enfrentar o mérito.

Fundamentos do instituto da prescrição:

I) O decurso do tempo leva ao esquecimento do fato


II) O decurso do tempo leva à recuperação do criminoso
III) O Estado deve arcar com a sua inércia
IV) O decurso do tempo enfraquece o suporte probatório

• PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA: ocorre antes de transitar em julgado a


sentença. O primeiro cálculo a ser feito sobre a prescrição deve recair sobre a pena
máxima cominada em abstrato para cada infração penal. Tem como consequência a
eliminação de todos os efeitos do crime: como se ele nunca tivesse existido.

O lapso prescricional começa a correr a partir da data da consumação do crime ou do


dia em que cessou a atividade criminosa (art. 111), apresentando causas que o
suspendem (art. 116) ou interrompem (art. 117).
Art. 109. A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, salvo o disposto no § 1 o do art. 110
deste Código, regula-se pelo máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime, verificando-
se:

I - em vinte anos, se o máximo da pena é superior a doze;

II - em dezesseis anos, se o máximo da pena é superior a oito anos e não excede a doze;

III - em doze anos, se o máximo da pena é superior a quatro anos e não excede a oito;

IV - em oito anos, se o máximo da pena é superior a dois anos e não excede a quatro;

V - em quatro anos, se o máximo da pena é igual a um ano ou, sendo superior, não excede a dois;

VI - em 3 (três) anos, se o máximo da pena é inferior a 1 (um) ano.

A prescrição da pretensão punitiva subdivide-se em: prescrição abstrata, prescrição


retroativa e prescrição intercorrente.

➔ Prescrição da Pretensão Punitiva Abstrata

Denomina-se abstrata porque ainda não existe pena concretizada na sentença para
ser adotada como parâmetro aferidor do lapso prescricional. Seu prazo regula-se pela
pena cominada ao delito, isto é, pelo máximo da pena privativa de liberdade
abstratamente prevista para o crime, segundo a tabela do art. 109 CP.

Como encontrar o prazo prescricional:

(i) Observar o máximo de PPL cominado à infração penal


(ii) Verificar no art. 109 CP o prazo prescricional correspondente àquele limite de
pena cominada
(iii) Verificar se há alguma das causas modificadoras desse prazo: majorantes ou
minorantes obrigatórias; menoridade ou velhice.

➔ Prescrição da Pretensão Punitiva Retroativa

A prescrição retroativa leva em consideração a pena aplicada, em concreto, na


sentença condenatória, contrariamente à abstrata, que usa como referencial o
máximo de pena cominada ao delito.

A prescrição retroativa pode ser considerada entre a consumação do crime e o


recebimento da denúncia, ou entre este e a sentença condenatória. É manifestação
do princípio da personalidade e da individualização da pena, além de demonstrar, in
concreto, que é exatamente a sanção merecida desde o momento em que se
consumou o fato delituoso, e não aquela abstratamente prevista na norma
incriminadora, que apenas tem o objetivo de estabelecer os limites mínimo e máximo
dentro os quais o magistrado deverá dosar a pena aplicável.

Pressupostos da prescrição retroativa:

(i) Inocorrência da prescrição abstrata


(ii) Sentença penal condenatória
(iii) Trânsito em julgado para a acusação ou improvimento de seu recurso

Como encontrar o prazo prescricional:

(i) Tomar a pena concretizada na sentença condenatória


(ii) Verificar qual é o prazo prescricional correspondente (art. 109 CP)
(iii) Analisar a existência de causa modificadora do lapso prescricional, cuja única
possibilidade é a do art. 115 (criminoso menor de 21 no crime ou maior de 70
na sentença)

➔ Prescrição da Pretensão Punitiva Intercorrente ou Subsequente

Assemelha-se à retroativa, com a diferença de que a retroativa se volta para o


passado – para períodos anteriores à sentença – e a intercorrente dirige-se para o
futuro – períodos posteriores à sentença condenatória recorrível.

Assim, o prazo da prescrição intercorrente começa a correr a partir da sentença


condenatória, até o trânsito em julgado para acusação e defesa.

Pressupostos da prescrição intercorrente:

(i) Inocorrência de prescrição abstrata ou retroativa


(ii) Presença/existência de Sentença condenatória
(iii) Trânsito em julgado para acusação ou improvimento de seu recurso

Como encontrar o prazo prescricional:

(i) Tomar a pena concretizada na sentença condenatória


(ii) Verificar qual o prazo prescricional correspondente (art. 109 CP)
(iii) Analisar a existência de causa modificadora do lapso prescricional, cuja única
possibilidade é a do art. 115 (criminoso menor de 21 no crime ou maior de 70
na sentença)

Termo Inicial da prescrição de pretensão punitiva:

Art. 111 - A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, começa a correr:

I - do dia em que o crime se consumou;

II - no caso de tentativa, do dia em que cessou a atividade criminosa;

III - nos crimes permanentes, do dia em que cessou a permanência;

IV - nos de bigamia e nos de falsificação ou alteração de assentamento do registro civil, da data em


que o fato se tornou conhecido.

V - nos crimes contra a dignidade sexual ou que envolvam violência contra a criança e o adolescente,
previstos neste Código ou em legislação especial, da data em que a vítima completar 18 (dezoito)
anos, salvo se a esse tempo já houver sido proposta a ação penal.
• PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO EXECUTÓRIA: ocorre após o trânsito em julgado da
sentença condenatória. O art. 110 assevera que o cálculo seja realizado sobre a pena
concretizada na sentença, não podendo, em nenhuma hipótese, ter por termo inicial data
anterior à da denuncia ou queixa. Verifica-se nos mesmos prazos fixados no art. 109.

O decurso do tempo sem o exercício da pretensão executória faz com que o Estado perca
o direito de executar a sanção imposta na condenação. Os efeitos dessa prescrição
limitam-se à extinção da pena, permanecendo inatingidos todos os demais efeitos da
condenação, penais e extrapenais.

Pressupostos da prescrição da pretensão executória:

(i) Inocorrência da pretensão punitiva (abstrata, retroativa ou intercorrente)


(ii) Sentença condenatória irrecorrível
(iii) Não satisfação da pretensão executória estatal.

Como encontrar o prazo prescricional:

(i) Tomar a PPL imposta na sentença condenatória


(ii) Verificar o prazo prescricional correspondente (art. 109 CP)
(iii) Analisar a existência de causas modificadoras do lapso prescricional: reincidência
eleva em um terço o prazo prescricional e as hipóteses do art. 115 (menor de 21
ou maior de 70) reduzem pela metade o lapso prescricional.

Art. 110 - A prescrição depois de transitar em julgado a sentença condenatória regula-se pela pena aplicada
e verifica-se nos prazos fixados no artigo anterior, os quais se aumentam de um terço, se o condenado é
reincidente.

§ 1o A prescrição, depois da sentença condenatória com trânsito em julgado para a acusação ou depois
de improvido seu recurso, regula-se pela pena aplicada, não podendo, em nenhuma hipótese, ter por termo
inicial data anterior à da denúncia ou queixa.

Termo Inicial da prescrição de pretensão punitiva:

Art. 112 - No caso do art. 110 deste Código, a prescrição começa a correr:

I - do dia em que transita em julgado a sentença condenatória, para a acusação, ou a que revoga a
suspensão condicional da pena ou o livramento condicional;

II - do dia em que se interrompe a execução, salvo quando o tempo da interrupção deva computar-se na
pena

O prazo começa a correr do dia em que transitar em julgado a sentença condenatória


para a acusação, mas o pressuposto básico para essa espécie de prescrição é o trânsito
em julgado para acusação e defesa, pois enquanto não transitar em julgado para a
defesa a prescrição poderá ser a intercorrente. Nesses termos, percebe-se que podem
correr paralelamente dois prazos prescricionais: o da intercorrente, enquanto não
transitar definitivamente em julgado; e o da executória, enquanto não for iniciado o
cumprimento da condenação, pois ambos iniciam na mesma data, qual seja, o trânsito
em julgado para a acusação.
• CAUSAS MODIFICADORAS DO CURSO PRESCRICIONAL

SUSPENSIVAS (art. 116)

Aquelas que suspendem o curso da prescrição. Porém, quando o prazo suspensivo


acaba, a prescrição volta a ser contada de onde parou.

Art. 116 - Antes de passar em julgado a sentença final, a prescrição não corre:

I - Enquanto não resolvida, em outro processo, questão de que dependa o


reconhecimento da existência do crime;

II - enquanto o agente cumpre pena no exterior;

III - na pendência de embargos de declaração ou de recursos aos Tribunais Superiores,


quando inadmissíveis; e

IV - enquanto não cumprido ou não rescindido o acordo de não persecução


penal.

Parágrafo único - Depois de passada em julgado a sentença condenatória, a prescrição


não corre durante o tempo em que o condenado está preso por outro motivo.

INTERRUPTIVAS (art. 117)

Quando ocorrem, paralisam o curso da prescrição, porém quando o prazo é retomado


ele volta a ser contado a partir do seu início, desprezando o tempo já contado no prazo
da prescrição.

Art. 117 - O curso da prescrição interrompe-se:

I - pelo recebimento da denúncia ou da queixa;

II - Pela pronúncia;

III - pela decisão confirmatória da pronúncia;

IV - pela publicação da sentença ou acórdão condenatórios recorríveis

V - pelo início ou continuação do cumprimento da pena;

VI - pela reincidência.

§ 1º - Excetuados os casos dos incisos V e VI deste artigo, a interrupção da prescrição


produz efeitos relativamente a todos os autores do crime. Nos crimes conexos, que
sejam objeto do mesmo processo, estende-se aos demais a interrupção relativa a
qualquer deles.

§ 2º - Interrompida a prescrição, salvo a hipótese do inciso V deste artigo, todo o prazo


começa a correr, novamente, do dia da interrupção.

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