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1.

Pena para o direito penal é a sanção imposta pelo Estado ao autor da infração penal,
tendo como obje vo principal a retribuição e a prevenção do delito. A pena é uma das
principais consequências jurídicas do come mento de um crime e deve ser
proporcional à gravidade do delito, levando em conta as circunstâncias em que o crime
foi come do e as condições pessoais do infrator. A pena só pode ser aplicada quando o
autor do delito ver capacidade de entender a ilicitude de sua conduta e de agir de
acordo com esse entendimento. Além disso, é necessário que haja dolo (vontade) ou
culpa (negligência ou imprudência) na conduta do agente.

2. As espécies de pena priva va de liberdade no Brasil são: reclusão, detenção e prisão


simples. A reclusão é aplicada aos crimes de maior lesividade e pode ser cumprida em
regime fechado, semiaberto ou aberto. A detenção é aplicada aos crimes menos graves
e pode ser cumprida em regime semiaberto ou aberto, salvo necessidade de
transferência a regime fechado. A prisão simples é aplicada às contravenções penais e
pode ser cumprida em regime semiaberto ou aberto.

3. As espécies de pena restri vas de direito no Brasil são: prestação pecuniária, perda de
bens ou valores, prestação de serviço à comunidade ou a en dades públicas,
interdição temporária de direitos e limitação de fim de semana. As penas restri vas de
direito são sanções penais que subs tuem a pena priva va de liberdade quando
preenchidos certos requisitos, como a não reincidência em crime doloso, a ausência de
violência ou grave ameaça e a pena priva va de liberdade não superior a quatro anos.
As penas restri vas de direito têm por caracterís cas serem autônomas,
personalíssimas, proporcionais e subs tu vas.

4. A dosimetria da pena de multa no direito penal é feita por meio do critério do dia-
multa, que consiste em mul plicar o número de dias-multa pelo valor de cada dia-
multa. O número de dias-multa varia de 10 a 360, conforme as circunstâncias judiciais,
agravantes, atenuantes, majorantes e minorantes, guardando proporcionalidade com a
pena priva va de liberdade aplicada ou aplicável. O valor de cada dia-multa varia de
1/30 até 5 vezes o maior salário mínimo mensal vigente ao tempo do fato, podendo ser
aumentado até o triplo se o juiz considerar que é ineficaz em virtude da situação
econômica do réu. Na fixação da pena de multa, o juiz deve atender, principalmente, à
situação econômica do réu.

5. A dosimetria da pena priva va de liberdade no direito penal é feita por meio do


sistema trifásico, que consiste em dividir a fixação da pena em três etapas. Na primeira
etapa, o juiz deve fixar a pena-base, com fundamento nas chamadas circunstâncias
judiciais previstas no art. 59 do Código Penal, que são: culpabilidade, antecedentes,
conduta social, personalidade, mo vos, circunstâncias, consequências e
comportamento da ví ma. Na segunda etapa, o juiz deve aplicar as agravantes e
atenuantes genéricas, previstas nos arts. 61 a 66 do Código Penal, que podem
aumentar ou diminuir a pena-base conforme a presença de fatores que agravam ou
atenuam a culpabilidade do agente. Na terceira etapa, o juiz deve considerar as causas
de aumento e de diminuição de pena, previstas na Parte Geral ou na Parte Especial do
Código Penal, que podem elevar ou reduzir a pena em determinada fração conforme a
presença de circunstâncias que qualificam ou privilegiam o crime.
6. As oito circunstâncias judiciais levadas em conta na fixação da pena base são:
culpabilidade, antecedentes, conduta social, personalidade, mo vos, circunstâncias,
consequências e comportamento da ví ma. Elas estão previstas no art. 59 do Código
Penal e servem para avaliar o grau de reprovabilidade da conduta do agente e a sua
adequação à pena mínima e máxima previstas para o crime.

7. A diferença entre qualificadora, causa de aumento de pena e agravante no direito


penal é a seguinte: A qualificadora é um elemento que altera as penas mínima e
máxima do po penal, criando uma nova modalidade mais grave do crime, com novas
elementares ou circunstâncias. A qualificadora é analisada na primeira fase da
dosimetria da pena, na fixação da pena-base. Exemplos de qualificadoras são o
homicídio qualificado (art. 121, §2º, CP) e o furto qualificado (art. 155, §4º, CP). Causa
de aumento de pena é uma circunstância que eleva a pena em determinada fração,
sem alterar as penas mínima e máxima do po penal, nem criar novos elementos para
o crime. A causa de aumento de pena é analisada na terceira fase da dosimetria da
pena, após a aplicação das agravantes e atenuantes. Exemplos de causas de aumento
de pena são o roubo majorado (art. 157, §2º, CP) e o tráfico privilegiado (art. 33, §4º,
Lei 11.343/06). Agravante é uma circunstância que agrava a culpabilidade do agente,
podendo aumentar a pena-base ou a pena provisória dentro dos limites legais do po
penal. A agravante é analisada na segunda fase da dosimetria da pena, após a fixação
da pena-base. Exemplos de agravantes são a reincidência (art. 61, I, CP) e o abuso de
autoridade (art. 61, II, g, CP).

8. O juiz leva em conta os seguintes fatores para fixar o regime inicial da pena priva va de
liberdade: a quan dade da pena aplicada, a reincidência do condenado e as
circunstâncias judiciais do art. 59 do Código Penal. Além disso, o juiz deve observar as
regras legais que determinam o regime inicial conforme o po de pena (reclusão ou
detenção), a gravidade do crime (comum ou hediondo) e a situação do condenado
(primário ou reincidente). Segundo o art. 33 do Código Penal, as regras são as
seguintes:

 A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semiaberto ou


aberto, conforme a quan dade da pena e a reincidência.
 A pena de detenção deve ser cumprida em regime semiaberto ou aberto, salvo
necessidade de transferência a regime fechado por mo vos de segurança ou
disciplina.
 O condenado a pena superior a 8 anos deve começar a cumpri-la em regime
fechado.
 O condenado não reincidente, cuja pena seja superior a 4 anos e não exceda a
8 anos, poderá, desde o princípio, cumpri-la em regime semiaberto.
 O condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 4 anos, poderá,
desde o início, cumpri-la em regime aberto.
 O condenado por crime hediondo ou equiparado deve começar a cumpri-la em
regime fechado, independentemente da quan dade da pena e do perfil
subje vo do réu.
9. Se tratando de crime doloso, os requisitos necessários para que seja possível a
subs tuição da pena priva va de liberdade por penas alterna vas são os seguintes: a
pena aplicada não deve ser superior a quatro anos, o crime não deve ter sido come do
com violência ou grave ameaça à pessoa, o réu não deve ser reincidente em crime
doloso e a subs tuição deve ser suficiente para reprovar e prevenir o crime. Esses
requisitos estão previstos no art. 44 do Código Penal, que dispõe:

Art. 44. As penas restri vas de direitos são autônomas e subs tuem as priva vas de
liberdade, quando:

I - aplicada pena priva va de liberdade não superior a quatro anos e o crime não for
come do com violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena
aplicada, se o crime for culposo;

II - o réu não for reincidente em crime doloso;

III - a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do


condenado, bem como os mo vos e as circunstâncias indicarem que essa subs tuição
seja suficiente.

As penas alterna vas são as penas restri vas de direitos, que podem ser: prestação
pecuniária, perda de bens ou valores, prestação de serviço à comunidade ou a
en dades públicas, interdição temporária de direitos e limitação de fim de semana.
Essas penas estão previstas nos arts. 43 a 48 do Código Penal.

10. Em regra, o reincidente em crime doloso não pode ter a pena priva va de liberdade
subs tuída por penas alterna vas, pois esse é um dos requisitos do art. 44, II, do
Código Penal. No entanto, existe uma exceção prevista no §3º do mesmo ar go, que
permite ao juiz aplicar a subs tuição se, em face da condenação anterior, a medida for
socialmente recomendável e a reincidência não se ver operado em virtude da prá ca
do mesmo crime. Ou seja, se o juiz entender que a subs tuição é mais adequada para
a ressocialização do condenado e que ele não reincidiu na mesma espécie de crime,
ele poderá conceder a subs tuição. Por exemplo, se um indivíduo foi condenado
anteriormente por furto e agora foi condenado por lesão corporal leve, o juiz poderá
subs tuir a pena priva va de liberdade por uma pena restri va de direitos, desde que
atendidos os demais requisitos do art. 44.

11. Sursis humanitário é uma modalidade de suspensão condicional da pena, também


conhecida como sursis, que consiste em suspender a execução da pena priva va de
liberdade por um determinado período de prova, mediante o cumprimento de certas
condições pelo condenado. O sursis humanitário é aplicável ao condenado que
apresenta problemas de saúde que jus fiquem a suspensão da pena, desde que a pena
aplicada não seja superior a quatro anos e o crime não tenha sido come do com
violência ou grave ameaça à pessoa. Esses requisitos estão previstos no art. 44, §2º, do
Código Penal, que dispõe:

§ 2º - Na condenação igual ou inferior a um ano, a subs tuição pode ser feita por
multa ou por uma pena restri va de direitos; se superior a um ano, a pena priva va de
liberdade pode ser subs tuída por uma pena restri va de direitos e multa ou por duas
restri vas de direitos. Poderá ser também suspensa, por dois a quatro anos, se o
condenado for maior de setenta anos de idade, ou razões de saúde jus ficarem a
suspensão.

O período de prova do sursis humanitário deve ser fixado entre quatro e seis anos, se a
pena for superior a dois anos e inferior a quatro anos, e entre dois e quatro anos, se a
pena for igual ou inferior a dois anos. Durante esse período, o condenado deve cumprir
as condições impostas pelo juiz, que podem ser: não mudar de residência sem
autorização judicial; comparecer periodicamente em juízo; prestar serviços à
comunidade; não frequentar determinados lugares; não se ausentar da comarca sem
autorização judicial; não portar armas; não ingerir bebidas alcoólicas; submeter-se a
tratamento médico. Essas condições estão previstas nos arts. 77 e 78 do Código Penal.

Se o condenado cumprir as condições do sursis humanitário durante o período de


prova, a pena priva va de liberdade será ex nta. Se o condenado descumprir as
condições ou pra car novo crime doloso ou culposo, o juiz poderá revogar o sursis
humanitário e determinar o cumprimento da pena priva va de liberdade. Essas
hipóteses estão previstas no art. 81 do Código Penal.

12. Reincidência e maus antecedentes não são a mesma coisa, mas estão relacionados
entre si. A reincidência é uma circunstância agravante que consiste em cometer novo
crime depois de transitar em julgado a sentença que condenou o agente por crime
anterior. A reincidência é analisada na segunda fase da dosimetria da pena e tem como
efeito aumentar a pena dentro dos limites legais do po penal. A reincidência está
prevista no art. 61, I, do Código Penal, que dispõe:

Art. 61 - São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não cons tuem ou
qualificam o crime:

I - a reincidência;

Os maus antecedentes são uma circunstância judicial que consiste em ter o agente
condenações criminais transitadas em julgado por fatos anteriores ao crime atual. Os
maus antecedentes são analisados na primeira fase da dosimetria da pena e têm como
efeito aumentar a pena-base acima do mínimo legal. Os maus antecedentes estão
previstos no art. 59 do Código Penal, que dispõe:

Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à


personalidade do agente, aos mo vos, às circunstâncias e consequências do crime,
bem como ao comportamento da ví ma, estabelecerá, conforme seja necessário e
suficiente para reprovação e prevenção do crime:

I - as penas aplicáveis dentre as cominadas;

II - a quan dade de pena aplicável, dentro dos limites previstos;

III - o regime inicial de cumprimento da pena priva va de liberdade;


IV - a subs tuição da pena priva va da liberdade aplicada, por outra espécie de pena,
se cabível.

A principal diferença entre reincidência e maus antecedentes é o lapso temporal. A


reincidência tem um prazo de cinco anos, contados a par r do cumprimento ou
ex nção da pena anterior, para ser considerada. Após esse prazo, o agente deixa de ser
reincidente e volta a ser primário. Esse prazo está previsto no art. 64, I, do Código
Penal, que dispõe:

Art. 64 - Para efeito de reincidência:

I - não prevalece a condenação anterior, se entre a data do cumprimento ou ex nção


da pena e a infração posterior ver decorrido período de tempo superior a 5 (cinco)
anos, computado o período de prova da suspensão ou do livramento condicional, se
não ocorrer revogação;

Os maus antecedentes, por outro lado, não têm prazo para deixar de ser considerados.
Mesmo após cinco anos da condenação anterior, o agente permanece com maus
antecedentes e pode ter sua pena-base aumentada em razão disso. No entanto, uma
mesma condenação não pode ser usada para caracterizar tanto a reincidência quanto
os maus antecedentes, pois isso configuraria bis in idem (dupla punição pelo mesmo
fato). Nesse sen do, há a Súmula 241 do STJ, que dispõe:

Súmula 241 - A reincidência penal não pode ser considerada como circunstância
agravante e, simultaneamente, como circunstância judicial.

Portanto, se o agente ver mais de uma condenação anterior transitada em julgado


por fatos anteriores ao crime atual, ele poderá ter reconhecidos tanto a reincidência
quanto os maus antecedentes. Se ele ver apenas uma condenação anterior transitada
em julgado por fato anterior ao crime atual, ele poderá ter reconhecida apenas a
reincidência ou apenas os maus antecedentes.

13. Tecnicamente primário no direito penal é o agente que não é reincidente em crime
doloso, mas possui maus antecedentes. Ou seja, é aquele que tem condenações
criminais transitadas em julgado por fatos anteriores ao crime atual, mas que não se
enquadram no conceito de reincidência por terem decorrido mais de cinco anos entre
o cumprimento ou ex nção da pena anterior e o novo crime. O tecnicamente primário
se diferencia do estritamente primário, que é aquele que não tem nenhuma
condenação criminal transitada em julgado por fato anterior ao crime atual, e do
reincidente, que é aquele que comete novo crime depois de transitar em julgado a
sentença que o condenou por crime anterior.

A condição de tecnicamente primário pode influenciar na dosimetria da pena, pois os


maus antecedentes são uma das circunstâncias judiciais previstas no art. 59 do Código
Penal, que devem ser consideradas pelo juiz na fixação da pena-base. Assim, o
tecnicamente primário pode ter sua pena-base aumentada acima do mínimo legal em
razão dos maus antecedentes. No entanto, ele não sofre a agravante da reincidência,
que é aplicada na segunda fase da dosimetria da pena e que aumenta a pena dentro
dos limites legais do po penal. Além disso, o tecnicamente primário pode ter direito a
alguns bene cios legais, como a subs tuição da pena priva va de liberdade por
restri va de direitos ou a suspensão condicional da pena (sursis), desde que atendidos
os demais requisitos.

14. O sistema de preponderância das circunstâncias agravantes e atenuantes é o critério


adotado pelo Código Penal para resolver o concurso entre essas circunstâncias na
segunda fase da dosimetria da pena. Segundo o art. 67 do Código Penal, no concurso
de agravantes e atenuantes, a pena deve se aproximar do limite indicado pelas
circunstâncias preponderantes, entendendo-se como tais aquelas que resultam dos
mo vos determinantes do crime, da personalidade do agente e da reincidência.

Isso significa que, se houver mais de uma circunstância agravante ou atenuante, o juiz
deve verificar qual delas tem maior relevância para o caso concreto e aplicar a pena de
acordo com essa circunstância. Por exemplo, se o agente cometeu um crime por
mo vo fú l (agravante) e confessou espontaneamente (atenuante), o juiz deve analisar
qual desses elementos tem mais peso na conduta criminosa e fixar a pena mais
próxima do mínimo ou do máximo legal, conforme o caso.

No entanto, nem todas as circunstâncias preponderantes estão expressas na lei, de


modo que cabe ao juiz, em cada caso, fazer uma análise criteriosa das circunstâncias
presentes e fundamentar sua decisão. Além disso, há situações em que não é possível
a compensação entre as circunstâncias agravantes e atenuantes, seja por
incompa bilidade lógica ou por vedação legal. Por exemplo, não se pode compensar a
atenuante da menoridade rela va com a agravante da reincidência específica, pois são
circunstâncias de natureza diversa e que não se anulam mutuamente.

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