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RESUMO CRIMES DE TRÂNSITO

CRIMES DE TRÂNSITO1
LEI Nº 9.503, DE 23 DE SETEMBRO DE 1997

O Código de Trânsito Brasileiro sobre os crimes de trânsito dispõe uma parte geral
(artigos 291 ao 301) e outra parte especial que abrange os tipos penais (artigos 302 ao 312).

DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 291. Aos crimes cometidos na direção de veículos automotores, previstos
neste Código, aplicam-se as normas gerais do Código Penal e do Código de
Processo Penal, se este Capítulo não dispuser de modo diverso, bem como a
Lei nº 9.099, de 26 de setembro de 1995, no que couber.
§ 1o Aplica-se aos crimes de trânsito de lesão corporal culposa o disposto nos
arts. 74, 76 e 88 da Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995, exceto se o agente
estiver:
I - sob a influência de álcool ou qualquer outra substância psicoativa que
determine dependência;
II - participando, em via pública, de corrida, disputa ou competição
automobilística, de exibição ou demonstração de perícia em manobra de
veículo automotor, não autorizada pela autoridade competente;
III - transitando em velocidade superior à máxima permitida para a via em 50
km/h (cinqüenta quilômetros por hora).
§ 2o Nas hipóteses previstas no § 1o deste artigo, deverá ser instaurado
inquérito policial para a investigação da infração penal.
§ 3o (VETADO).
§ 4o O juiz fixará a pena-base segundo as diretrizes previstas no art. 59 do
Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), dando
especial atenção à culpabilidade do agente e às circunstâncias e
consequências do crime. (Incluído pela Lei n. 13.546, de 19 de dezembro de
2017). 2

Os crimes de trânsito são, em regra, de menor potencial ofensivo [pena máxima não
superior a 02 (dois) anos], exceto:
a) Homicídio culposo na direção de veículo automotor (Art. 302);3
b) Lesão corporal culposa na direção de veículo automotor, com aumento de pena
(Art. 303, §§, e nas hipóteses do artigo 291, §1º);
c) Embriaguez no volante (Art. 306);4
d) Participação de corrida, disputa ou competição automobilística não autorizada
(Art. 308).5

1
Por Paulo Calgaro de Carvalho, professor e mestre pela UNISUL
2
Entra em vigor em 20 de abril de 2018.
3
Penas - detenção, de dois a quatro anos, e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir
veículo automotor.
4
Penas - detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação
para dirigir veículo automotor.
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DA SUSPENSÃO E DA PROIBIÇÃO
Art 292. A suspensão ou a proibição de se obter a permissão ou a habilitação
para dirigir veículo automotor pode ser imposta isolada ou cumulativamente
com outras penalidades.

Suspensão é da habilitação e ou permissão para dirigir. A proibição é daquele agente


que ainda não tem permissão ou habilitação para dirigir.

Art. 293. A penalidade de suspensão ou de proibição de se obter a permissão


ou a habilitação, para dirigir veículo automotor, tem a duração de dois meses
a cinco anos.
§ 1º Transitada em julgado a sentença condenatória, o réu será intimado a
entregar à autoridade judiciária, em quarenta e oito horas, a Permissão para
Dirigir ou a Carteira de Habilitação.
§ 2º A penalidade de suspensão ou de proibição de se obter a permissão ou a
habilitação para dirigir veículo automotor não se inicia enquanto o
sentenciado, por efeito de condenação penal, estiver recolhido a
estabelecimento prisional.

A penalidade de suspensão ou de proibição de se obter a permissão ou habilitação


vem prevista como pena autônoma que deverá ser somada às penas privativas de liberdade
dos seguintes crimes de trânsito:
a) Homicídio culposo na direção de veículo automotor (Art. 302); 6
b) Lesão corporal na direção de veículo automotor (Art. 303);7
c) Embriaguez no volante (Art. 306); 8
d) Violação de suspensão ou proibição de dirigir veículo automotor (Art. 307)9
e) Participação de corrida, disputa ou competição automobilística não autorizada
(Art. 308).10

Não se trata de pena substitutiva, prevista no artigo 44, do Código Penal, nem
tampouco efeitos da condenação, do artigo 92, do Código Penal.
O habeas corpus não é o instrumento cabível para questionar a imposição de
pena de suspensão do direito de dirigir veículo automotor. Isso porque a pena de
suspensão do direito de dirigir veículo automotor não acarreta, por si só, qualquer risco à
liberdade de locomoção, uma vez que, caso descumprida, não pode ser convertida em
reprimenda privativa de liberdade, tendo em vista que inexiste qualquer previsão legal
nesse sentido. Desse modo, inexistindo qualquer indício de ameaça de violência ou
5
Penas - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a
habilitação para dirigir v e í c u l o automotor
6
Penas - detenção, de dois a quatro anos, e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir
veículo automotor.
7
Penas - detenção, de seis meses a dois anos e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para
dirigir veículo automotor.
8
Penas - detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação
para dirigir veículo automotor.
9
Penas - detenção, de seis meses a um ano e multa, com nova imposição adicional de idêntico prazo de suspensão ou de
proibição
10
Penas - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, multa e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a
habilitação para dirigir v e í c u l o automotor
3

constrangimento à liberdade de ir e vir do paciente, revela-se inadequada a via do habeas


corpus para esse fim. Precedentes citados do STJ: HC 172.709-RJ, Sexta Turma, DJe
6/6/2013; HC 194.299-MG, Quinta Turma, DJe 17/4/2013; e HC 166.792-SP, Quinta
Turma, DJe 24/11/2011. Precedente citado do STF: HC 73.655-GO, Primeira Turma, DJ
13/9/1996. HC 283.505-SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 21/10/2014.

MEDIDA CAUTELAR
Art. 294. Em qualquer fase da investigação ou da ação penal, havendo
necessidade para a garantia da ordem pública, poderá o juiz, como medida
cautelar, de ofício, ou a requerimento do Ministério Público ou ainda mediante
representação da autoridade policial, decretar, em decisão motivada, a
suspensão da permissão ou da habilitação para dirigir veículo automotor, ou a
proibição de sua obtenção.
Parágrafo único. Da decisão que decretar a suspensão ou a medida cautelar,
ou da que indeferir o requerimento do Ministério Público, caberá recurso em
sentido estrito, sem efeito suspensivo.

À exemplo da Lei Maria da Pena e do Código de Processo Penal, o Código de


Trânsito Brasileiro também prevê medidas cautelares criminais

EFEITO DA CONDENAÇÃO
Art. 295. A suspensão para dirigir veículo automotor ou a proibição de se
obter a permissão ou a habilitação será sempre comunicada pela autoridade
judiciária ao Conselho Nacional de Trânsito - CONTRAN, e ao órgão de
trânsito do Estado em que o indiciado ou réu for domiciliado ou residente.

REICINDENCIA ESPECÍFICA
Art. 296. Se o réu for reincidente na prática de crime previsto neste Código, o
juiz aplicará a penalidade de suspensão da permissão ou habilitação para
dirigir veículo automotor, sem prejuízo das demais sanções penais cabíveis.

A reincidência específica não poderá ser aplicada em casos de condenações por


crimes de trânsito que já a prevêem como pena principal (artigos 302, 303, 306, 307 e 308,
CTB). Nesses casos, a reincidência atuará como “circunstância agravante preponderante”.

Nos demais casos, em que os crimes de trânsito não prevêem a penalidade em


destaque de forma principal (artigos 304, 305, 309, 310, 311 e 312, CTB), o Juiz aplicará a
suspensão, sendo que nessas circunstâncias a reincidência não poderá ser utilizada como
agravante genérica de acordo com o artigo 61, I, CP, para evitar “bis in idem”.

Assim temos:

Crime de Trânsito, com


sentença transitado em + Crime de Trânsito = Reincidência específica
julgado

MULTA REPARATÓRIA
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Art. 297. A penalidade de multa reparatória consiste no pagamento, mediante


depósito judicial em favor da vítima, ou seus sucessores, de quantia calculada
com base no disposto no § 1º do art. 49 do Código Penal, sempre que houver
prejuízo material resultante do crime.
§ 1º A multa reparatória não poderá ser superior ao valor do prejuízo
demonstrado no processo.
§ 2º Aplica-se à multa reparatória o disposto nos arts. 50 a 52 do Código
Penal.
§ 3º Na indenização civil do dano, o valor da multa reparatória será
descontado.

A multa reparatória é destinada aos casos de crimes de trânsito que causem


prejuízos materiais à vítima. É declarada na sentença condenatória, ou seja, não é
automática à sentença.

A competência para declará-la é do juiz criminal da causa. É declarada na jurisdição


penal e não na jurisdição civil, uma vez que a multa é instituto penal.11

Pressupõe a ocorrência de prejuízo à vítima.

O § 2º do art. 297 refere-se somente ao procedimento, vez que quem deverá


promover a execução será o próprio interessado e não a Procuradoria Fiscal ou o MP. O
rito é o das execuções fiscais (Lei 6.830/80), nos termos do art. 51, CP. A competência é
da Vara da Fazenda Pública.

CIRCUNSTÂNCIAS AGRAVANTES
Art. 298. São circunstâncias que sempre agravam as penalidades dos crimes de
trânsito ter o condutor do veículo cometido a infração:
I - com dano potencial para duas ou mais pessoas ou com grande risco de
grave dano patrimonial a terceiros;
II - utilizando o veículo sem placas, com placas falsas ou adulteradas;
III - sem possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação;
IV - com Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação de categoria
diferente da do veículo;
V - quando a sua profissão ou atividade exigir cuidados especiais com o
transporte de passageiros ou de carga;
VI - utilizando veículo em que tenham sido adulterados equipamentos ou
características que afetem a sua segurança ou o seu funcionamento de acordo
com os limites de velocidade prescritos nas especificações do fabricante;

11
PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE. SUBSTITUIÇÃO. PENAS RESTRITIVAS DE DIREITOS. PRESTAÇÃO
DE SERVIÇOS À COMUNIDADE E PRESTAÇÃO PECUNIÁRIA [...] A prestação pecuniária é pena restritiva de
direitos, prevista como tal no art. 43, I, do Código Penal, e independe da verificação de dano individual. Portanto, difere
da multa reparatória, prevista no art. 297 do Código de Trânsito Brasileiro, que é pena cumulativa com privativa de
liberdade e pressupõe a ocorrência de prejuízo à vítima. 3.1. De outra banda, diante do inadimplemento injustificado da
prestação pecuniária imposta ao réu, cabível a conversão em pena privativa de liberdade, nos termos do art. 44, §4º, do
Código Penal, não se aplicando, na hipótese, a vedação prevista no caso do não cumprimento da pena de multa.
(Apelação Crime Nº 70006025092, Terceira Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Danúbio Edson
Franco, Julgado em 22/05/2003)
5

VII - sobre faixa de trânsito temporária ou permanentemente destinada a


pedestres.

Art. 299. (VETADO)


Art. 300. (VETADO)

DISPENSA DO FLAGRANTE E DA FIANÇA


Art. 301. Ao condutor de veículo, nos casos de acidentes de trânsito de que
resulte vítima, não se imporá a prisão em flagrante, nem se exigirá fiança, se
prestar pronto e integral socorro àquela.

DOS TIPOS PENAIS

HOMICÍDIO CULPOSO
Art. 302 - Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor:
Penas - detenção, de dois a quatro anos, e suspensão ou proibição de se obter a
permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.
§ 1º No homicídio culposo cometido na direção de veículo automotor, a pena é
aumentada de 1/3 (um terço) à metade, se o agente:
I - não possuir Permissão para Dirigir ou Carteira de Habilitação;
II - praticá-lo em faixa de pedestres ou na calçada;
III - deixar de prestar socorro, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à
vítima do acidente;
IV - no exercício de sua profissão ou atividade, estiver conduzindo veículo de
transporte de passageiros.

§ 2º Se o agente conduz veículo automotor com capacidade psicomotora


alterada em razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa que
determine dependência ou participa, em via, de corrida, disputa ou competição
automobilística ou ainda de exibição ou demonstração de perícia em manobra
de veículo automotor, não autorizada pela autoridade competente:
Penas - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e suspensão ou proibição de se
obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.
(REVOGADO PELA LEI N. 13.281, DE 04 DE MAIO DE 2016)
§ 3o Se o agente conduz veículo automotor sob a influência de álcool ou de
qualquer outra substância psicoativa que determine dependência:
Penas - reclusão, de cinco a oito anos, e suspensão ou proibição do direito de
se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.
(Incluído pela Lei n. 13.546, de 19 de dezembro de 2017). 12

Sujeito Ativo: condutor de veículo


Sujeito Passivo: a pessoa

Elementos Objetivos do Tipo:


a) praticar – cometer, ou seja, empreender uma conduta humana.

12
Entra em vigor em 20 de abril de 2018.
6

b) homicídio – matar alguém


c) culposo – modalidades: negligência, imprudência e imperícia.13
d) veículo automotor: todo veículo a motor de propulsão que circule por seus
próprios meios, e que serve normalmente para o transporte viário de pessoas e
coisas, ou para a tração viária de veículos utilizados para o transporte de
pessoas e coisas. O termo compreende os veículos conectados a uma linha
elétrica e que não circulam sobre trilhos (ônibus elétrico).in Código de Trânsito
Brasileiro. Pela nova legislação, ocorrendo um acidente de responsabilidade do
condutor de uma bicicleta, de charrete, de trem e de bonde será responsabilizado
pelo Código Penal e não pelo Código de Trânsito Brasileiro. Para Fernando
Capez, não se incluem também os ciclomotores.14
e) direção: tem sentido de comando, não querendo se referir apenas a quem segura
o volante, possuindo conotação mais genérica, como controle da máquina –
direção, freios, pedais, etc.

Concurso de agentes - nos crimes de trânsito há possibilidade de co-autoria e


participação, como por exemplo: co-autoria – condutor com um acompanhante, onde o
primeiro mantém o controle nos pedais e este no volante; participação – se o indivíduo, na
direção do veículo automotor, tiver seu acompanhante o instigando e induzindo a
comportar-se de forma imprudente, culminando no evento fatal.15 Contudo, na
jurisprudência prevalece a orientação no sentido de que somente há co-autoria e não
participação.16 José Geraldo da Silva entende que “o homicídio culposo somente admite
a co-autoria, nunca a participação, uma vez que o crime culposo tem o tipo aberto, o que
considera típica toda conduta que violar o dever objetivo de cuidado.17

São vias terrestres urbanas e rurais as ruas, as avenidas, os logradouros, os


caminhos, as passagens, as estradas e as rodovias, que terão seu uso regulamentado pelo
órgão ou entidade com circunscrição sobre elas, de acordo com as peculiaridades locais e as
circunstâncias especiais. E, ainda, as praias abertas à circulação pública, as vias internas
pertencentes aos condomínios constituídos por unidades autônomas e as vias e áreas de
estacionamento de estabelecimentos privados de uso coletivo.

Circunstância especial de aumento de pena (1/3 até a metade):


a) Inciso I – não possuir o agente permissão ou habilitação: traduz a falta de
autorização do Poder Público e não a ausência de porte do documento. Assim, “Exigir que
a habilitação legal só se complete com a exibição da carteira de motorista é ir além da
intenção da própria lei, que a quer para comprovar e não caracterizar a habilitação, que
13
Exemplo de Crime doloso: “Apelação Criminal 2002.008110-3, Blumenau, Rel. Souza Varella EMENTA: JÚRI –
HOMICÍDIO –ACIDENTE DE TRÂNSITO – DOLO EVENTUAL. Motorista que em rodovia de grande movimento ,
dirige seu veículo em alta velocidade e embriagado, vindo a atropelar ciclista. “urge sejam considerados dolosos (dolo
eventual), levando-se em conta que o motorista, na fase inicial e parte do processo de ingestão de bebida alcoólica,
permaneça lúcido e consciente, portanto, em condições de avaliar que, se continuar a beber e vier a assumir a direção de
veículo motorizado, poderá causar resultados danosos, mas mesmo assim não renuncia a ação, ao contrário, anui à
possibilidade de produzir um evento antijurídico.” (Neuton Dezoti – Professor em Botucatu – Univ. Est. Paulista – in
RT 623/407) In: DJ nº 11.009, de 13.08.02. p. 15.
14
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: parte especial. 6ª ed. São Paulo: Saraiva. 2006, vol. 2. p. 78.
15
CAPEZ, 2006, p. 26.
16
STF, HC 61.405, RTJ, 113:517; TJSC, HC 5.148, RF, 257:311.
17
SILVA, José Geraldo e outros. Leis Penais Especiais Anotadas. Campinas: Millennium, 2002. p. 16.
7

se perfaz com a aprovação em exame regular procedido perante a autoridade competente.”


(RT506/398).
b) Inciso II – evento praticado em faixa de pedestres ou calçada: quis o
legislador proteger o pedestre, bem porque tanto a calçada quanto a faixa de pedestres que
são destinadas a uso exclusivo do pedestre. Calçada a “Parte da via, normalmente
segregada e em nível diferente, não destinada à circulação de veículos, reservada ao
trânsito de pedestres e, quando possível, à implantação de mobiliário urbano, sinalização,
vegetação e outros fins.” in Código de Trânsito Brasileiro.
c) Inciso III – omissão de socorro – semelhante ao disposto no Art. 121, § 4º,
todavia o novo tipo acresce “quando possível fazê-lo, sem risco pessoal”. Por exemplo:
não pôde socorrê-lo pois seria linchado; ou vítima caiu no lago e o condutor causador do
evento não sabe nadar.18 Observação: A diferença deste inciso com o Art. 304, do Código
de Trânsito Brasileiro, está na figura do agente, pois enquanto na circunstância especial o
agente é o culpado pelo evento, no Art. 304 é o condutor, num sentido mais amplo. O
aumento de pena ocorre ainda que o socorro tenha sido prestado por terceiro, uma vez que
foi descumprido o dever legal de socorrer por parte do agente.19
d) inciso IV – termo de profissão – veículo destinado ao transporte de pessoas e
suas bagagens: táxi e ônibus e condutor tenha cometido o evento no exercício da profissão.
Exemplos: táxi, ônibus, escolar, lotação. Mesmo que o veículo de transporte de passageiros
esteja vazio ou quando está sendo conduzido até a empresa, após o término da jornada.20

Homicídio culposo qualificado – ao crime de homicídio culposo na direção de


veículo automotor, para aquele que estiver sob efeito de álcool, ou outra substancia
psicoativa que determine dependência, a pena passa para reclusão de cinco (pena mínima)
a oito anos (pena máxima). Isto é, aquele que cometeu o crime poderá ter sua liberdade
restringida, desde que seja reincidente, tendo em vista o disposto no Art. 44, I e II, do
Código Penal.21

LESÃO CORPORAL CULPOSA


Art. 303 - Praticar lesão corporal culposa na direção de veículo automotor:
Penas - detenção, de seis meses a dois anos e suspensão ou proibição de se
obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.

18
Exemplo (Prova de Concurso do MP/MG): O motorista "A", acompanhado pelo passageiro "B", distraiu-se ao
acender um cigarro e acabou por atropelar o pedestre "C", provocando-lhe importantes traumatismos. Em seguida,
induzido pelo acompanhante "B", "A" deixou de prestar socorro a "C", o mesmo fazendo, evidentemente, o indutor.
Considerando que o pedestre veio a falecer horas mais tarde em virtude dos ferimentos sofridos, como fica a situação de
“A” e de “B” ? Neste caso, "A" responderá por homicídio culposo, funcionando a omissão de socorro como causa
especial de aumento de pena, nos termos do Código de Trânsito brasileiro; "B" responderá pela prática de omissão de
socorro, prevista no art. 135 do Código Penal.
19
SILVA, José Geraldo e outros. Leis Penais Especiais Anotadas. Campinas: Millennium, 2002.p. 16.
20
CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: parte especial. 6ª ed. São Paulo: Saraiva. 2006, vol. 2. p. 82.
21
Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade, quando:
I – aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o crime não for cometido com violência ou grave
ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for culposo;
II – o réu não for reincidente em crime doloso; [...] § 3o Se o condenado for reincidente, o juiz poderá aplicar a
substituição, desde que, em face de condenação anterior, a medida seja socialmente recomendável e a reincidência não
se tenha operado em virtude da prática do mesmo crime.
8

§ 1o - Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) à metade, se ocorrer qualquer das


hipóteses do § 1o do art. 302. (Nova Redação - Lei n. 13.546, de 19 de
dezembro de 2017) 22
§ 2o A pena privativa de liberdade é de reclusão de dois a cinco anos, sem
prejuízo das outras penas previstas neste artigo, se o agente conduz o veículo
com capacidade psicomotora alterada em razão da influência de álcool ou de
outra substância psicoativa que determine dependência, e se do crime
resultar lesão corporal de natureza grave ou gravíssima (Incluído pela Lei n.
13.546, de 19 de dezembro de 2017) 23

Observações:
a) incide as penas deste artigo aquele que diante de uma conduta na direção de
veículo automotor ofende a integridade corporal ou saúde de outrem, por imprudência,
negligência ou imperícia.
b) ação penal pública condicionada, EM REGRA;
c) ação penal pública incondicionada, nas circunstâncias do Art. 291, § 1º, em
que será instaurado inquérito policial para a sua apuração; os crimes serão de ação penal
pública incondicionada; e, por fim, não serão admitidas a composição de dano e a transação
penal;

d) É crime de menor potencial ofensivo, exceto:


- nas hipóteses do artigo 291, §1º;
- nas situações de aumento de pena previstas nos parágrafos do artigo 303 e, por
isso, salvo exceções previstas na Lei, a competência é do juizado especial criminal
(competente para o processo e julgamento dos crimes com pena máxima de dois anos).24

d) Lesão corporal culposa qualificada – O § 2º do art. 303 faz menção à lesão


corporal de natureza grave ou gravíssima, cuja definição é extraída dos §§ 1º e 2º do art.
129 do Código Penal.
É grave a lesão da qual resulta:
a) incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias;
b) perigo de vida;
c) debilidade permanente de membro, sentido ou função;
d) aceleração de parto.

E é gravíssima a lesão da qual resulta:


a) incapacidade permanente para o trabalho;
b) enfermidade incurável;
c) perda ou inutilização do membro, sentido ou função;
d) deformidade permanente;
e) aborto.

22
Entra em vigor em 20 de abril de 2018.
23
Entra em vigor em 20 de abril de 2018.
24
COSTA, Leonardo Luiz de Figueiredo. A Alteração da Embriaguez ao Volante é o crime de lesões corporais na
direção de veículo automotor. Boletim Ibccrim. Ano 14, nº 164, julho de 2006. p. 19.
9

Desta forma, se o motorista embriagado causar lesão corporal culposa da qual


decorra um dos resultados acima a pena será de dois a cinco anos de reclusão.

e) Concurso de crimes:25
a) Lesão corporal culposa e fraude processual, concurso de crimes.26
b) Para Fernando Capez, concurso com fuga do local de acidente (Art. 305, do
CTB).

OMISSÃO DE SOCORRO
Art. 304 - Deixar o condutor do veículo, na ocasião do acidente, de prestar
imediato socorro à vítima, ou, não podendo fazê-lo diretamente, por justa
causa, deixar de solicitar auxílio da autoridade pública:
Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa, se o fato não constituir
elemento de crime mais grave.
Parágrafo único - Incide nas penas previstas neste artigo o condutor do
veículo, ainda que a sua omissão seja suprida por terceiros ou que se trate de
vítima com morte instantânea ou com ferimentos leves.

Observações:
a) A lei impõe a obrigação de prestar socorro à vítima. Tal obrigação é do condutor
do veículo no sentido amplo. No caso em apreço, a palavra veículo abrange todos os
previstos no Art. 96, do Código de Trânsito Brasileiro.27

b) De pouquíssima aplicação prática, este artigo acabou caindo em desuso. Isso


porque, os agentes que causam o acidente já há previsão de aumento de pena no homicídio
e na lesão corporal culposos na direção de veículo automotor, não se podendo imaginar
nenhuma possibilidade de bis in idem. E, no caso, é um motorista – sem qualquer culpa,
mas envolvido no acidente. Por exemplo: atropelar alguém (culpa exclusiva da vítima) e
omitir-se a prestar socorro.28 (TACrmSP, AC, Rel. Luiz Ambra, RT, 710:299).

c) Se o condutor envolvido no acidente que não deu causa e não tiver condições de
socorro, ou ainda, temer prestar o socorro, exige-se que solicite auxílio da autoridade
pública.

25
Lesão corporal absorve o delito de dirigir sem habilitação (art. 309, do CTB), conforme o Superior Tribunal de Justiça
(STJ, HC 25.084/SP, j. 18.05.2004).
26
SILVA, José Geraldo e outros. Leis Penais Especiais Anotadas. Campinas: Millennium, 2002.
27
Art. 96 - Os veículos classificam-se em:I - quanto à tração: a) automotor; b) elétrico; c) de propulsão humana; d) de
tração animal; e) reboque ou semi-reboque;II - quanto à espécie: a) de passageiros: 1 - bicicleta; 2 - ciclomotor; 3 -
motoneta; 4 - motocicleta; 5 - triciclo; 6 - quadriciclo; 7 - automóvel; 8 - microônibus; 9 - ônibus; 10 - bonde; 11 -
reboque ou semi-reboque; 12 - charrete; b) de carga: 1 - motoneta; 2 - motocicleta; 3 - triciclo; 4 - quadriciclo; 5 -
caminhonete; 6 - caminhão; 7 - reboque ou semi-reboque; 8 - carroça; 9 - carro-de-mão; c) misto: 1 - camioneta; 2 -
utilitário; 3 - outros; d) de competição; e) de tração: 1 - caminhão-trator; 2 - trator de rodas; 3 - trator de esteiras; 4
- trator misto; f) especial; g) de coleção; III - quanto à categoria: a) oficial; b) de representação diplomática, de
repartições consulares de carreira ou organismos internacionais acreditados junto ao Governo brasileiro; c)
particular; d) de aluguel; e) de aprendizagem.
28
ROESLER, Átila Da Rold. Novas (e velhas) polêmicas sobre os crimes de trânsito . Jus Navigandi, Teresina, ano 8, n.
250, 14 mar. 2004. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=4949>. Acesso em: 03 abr. 2007.
10

d) O parágrafo único traz um tipo penal mesmo que terceiros tenham suprido a
omissão do condutor, ou mesmo ainda, que a vítima esteja com ferimentos leves ou tenha
ocorrido morte instantânea. Deseja o legislador punir o condutor que trata a vítima com
indiferença, impassível, deixando-a à sua própria sorte, jamais aquele que não possuía
condições para tanto, embora quisesse.

e) Assim, o parágrafo veio tentar pôr um fim a entendimentos jurisprudenciais até


então vigentes, que eximiam os agentes nessas circunstâncias. Todavia, há um excesso de
zelo, uma vez que deixar de socorrer um cadáver seria um tanto impossível.
f) O tipo penal exige o dolo.
g) o legislador acresceu na pena “se o fato não constituir elementos de crime mais
grave”, por exemplo, o fato do condutor com sua omissão desejar a morte do causador do
evento – homicídio doloso.
h) lesões leves – o agente responderá pelo delito ainda que as lesões sejam leves.
i) Ocorre o crime do art. 135, CP, quando:
-Outros condutores de veículos não envolvidos no acidente;
-Pessoas que não estão conduzindo veículos (pedestres, ciclistas, caroneiros etc).

REQUISITOS:

CONDUTOR DE ENVOLVIDO EM NÃO DEU CAUSA AO


+ +
VEÍCULO ACIDENTE ACIDENTE

Assim, temos:

Sujeitos ativos nos Arts. Sujeito ativo do Art. 304, Sujeitos ativos do
302 e 303, do CTB do CTB crime do Art. 135
- Motoristas de veículos - Motorista de veículo que - Motorista que NÃO
automotores que deram NÃO deu causa a deu causa e NÃO
causa a acidente com acidente (Motorista esteve envolvido no
vítima (Motoristas TÊM NÃO TEM CULPA), acidente;
CULPA) mas esteve envolvido - Pedestre (inclui o
no acidente ciclista, caroneiro etc)
- Acidente provocado por
terceiro ou por culpa
exclusiva da vítima

- Omitiu socorro - Omitiu socorro


- Omitiu socorro

FUGA DE RESPONSABILIDADE
Art. 305 - Afastar-se o condutor do veículo do local do acidente, para fugir à
responsabilidade penal ou civil que lhe possa ser atribuída:
Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.
Observações:
11

a) O tipo penal pressupõe que o condutor do veículo tenha causado acidente, pois
exige-se que a conduta seja para fugir às responsabilidades civil e/ou penal. Isso porque, o
dispositivo pune quem tenha, no afã de defender-se, eximir-se da responsabilidade ao
afastar-se do local.29

b) Pouco importa se o acidente resulta de vítima ou não. Qualquer acidente de


trânsito com veículo basta. O termo veículo é utilizado de forma genérica, nos termos do
Art. 96, do Código de Trânsito Brasileiro.

c) O tipo penal exige o dolo.30

d) Há entendimentos que tal dispositivo legal viola o disposto na o Art. 5º, incisos
LVII e LXVII,32 consoante dois fundamentos:
31

1º) porque ninguém é obrigado a produzir prova contra si, diante da presunção de
inocência prevista no Art. 5º, LVII;
2º) porque viola a vedação de imposição de prisão civil, no termos do inciso LXVII.
“Adotando os fundamentos acima, o Juizado Especial criminal de Brasília vem
reconhecendo a inconstitucionalidade do art. 305 do CTB, para arquivar todos
os procedimentos que visem apurar tal infração penal, destacando a importância
do controle difuso de constitucionalidade”.33

e) Consumação: consuma-se com o afastamento do local do acidente de trânsito.

f) Concurso com omissão de socorro: 1) se o agente se envolveu no acidente sem


qualquer culpa e fugiu sem prestar socorro à vítima, responderá apenas pela
omissão de socorro; 2) se o agente conduziu a vítima até o hospital, evadindo-se
em seguida, responderá apenas pela evasão.34

g) Ação pública incondicionada

h) Exemplo do TJSC:
ART. 305 DO CTB - FUGA DO LOCAL DO ACIDENTE PARA ISENÇÃO
DE RESPONSABILIDADE CIVIL OU PENAL [...]
Não se pode conceber que, pelo simples fato de estar na condução de um
veículo, o motorista que se envolve em um acidente de trânsito tenha que
aguardar a chegada da autoridade competente para averiguação de eventual

29
Há entendimentos que tal artigo viola o princípio segundo o qual: “ninguém é dado produzir prova contra si.” in
PIMENTEL, Jaime e outro. Crimes de Trânsito Comentados, Iglu, 1998, p.50.
30
Jur. ementada 1277/2001: Penal. Crime de trânsito. Fuga do local do crime. Réu que não agiu com dolo ao afastar-se
do lugar do infausto. Condenação nas penas do art. 305 da Lei nº 9.503/97 impossível. - Fonte: TJSC, AC 00.002779-0,
rel. Jorge Mussi (Acórdão enviado para publicação em 19.12.2000).
31
Art. 5º [...] LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória;
32
Art. 5º [...] LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e
inescusável de obrigação alimentícia e a do depositário infiel;
33
TAQUARY, Eneida Orbage de Britto. O Controle Difuso de Constitucionalidade e o Art. 305 do Código de Trânsito
Brasileiro. Revista Jurídica Consulex Nº 154, de 15 de junho de 2003. p. 54-55.
34
TAQUARY, 2003.
12

responsabilidade civil ou penal porquanto reconhecer tal norma como aplicável,


seria impor ao condutor a obrigação de produzir prova contra si, hipótese vedada
pela Constituição Federal por ofender o preceito da ampla defesa (CF/88, art. 5º,
LV) e do direito ao silêncio (CF, art. 5º, LXIII). [...]
Assim, se o condutor que se envolve em acidente, do qual resulta apenas danos
materiais, pode ter sua liberdade cerceada, está-se criando nova modalidade de
prisão por responsabilidade civil, matéria que encontra limites constitucionais
inestendíveis pelo legislador ordinário, o qual sofre limitação pelo art. 5º, LXVII
da CF/88, que impede a prisão civil por dívida, afora as hipóteses nele
excetuadas. [...]. (Apelação Criminal n. 2008.041427-2, de Gaspar, Relator:
Salete Silva Sommariva. Órgão Julgador: Segunda Câmara Criminal. Data:
24/10/2008).35

CONDUZIR VEÍCULO AUTOMOTOR SOB EFEITO DE ÁLCOOL


Art. 306 Conduzir veículo automotor com capacidade psicomotora alterada em
razão da influência de álcool ou de outra substância psicoativa que determine
dependência:
Penas - detenção, de seis meses a três anos, multa e suspensão ou proibição de
se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor.
§ 1o As condutas previstas no caput serão constatadas por:
I - concentração igual ou superior a 6 decigramas de álcool por litro de sangue
ou igual ou superior a 0,3 miligrama de álcool por litro de ar alveolar; ou
II - sinais que indiquem, na forma disciplinada pelo Contran, alteração da
capacidade psicomotora.
§ 2o A verificação do disposto neste artigo poderá ser obtida mediante teste de
alcoolemia ou toxicológico, exame clínico, perícia, vídeo, prova testemunhal ou
outros meios de prova em direito admitidos, observado o direito à contraprova.
§ 3o O Contran disporá sobre a equivalência entre os distintos testes de
alcoolemia ou toxicológicos para efeito de caracterização do crime tipificado
neste artigo.

Sujeito Ativo: condutor de veículo automotor.


Sujeito Passivo: a coletividade.

O artigo 306 permite que vídeos e outras provas, como relatos e testemunhas, além
do bafômetro, sejam utilizados contra quem for flagrado conduzindo veículos sob efeito do
álcool e outras substâncias psicoativas.

Além de considerar tais provas, o Código de Trânsito Brasileiro aplica como


punição administrativa o valor de R$ 1.915,40, dobrando ainda caso seja registrada
reincidência no período de um ano – quase 4 mil reais.

Elementos Objetivos do Tipo:


a) conduzir – é dirigir, levar.

35
Disponível em http://tjsc6.tj.sc.gov.br/cposg/pcpoResultadoConsProcesso2Grau.jsp?CDP=01000C57D0000. Acessado
em 04 de março de 2009.
13

b) veículo automotor - todo veículo a motor de propulsão que circule por seus
próprios meios, e que serve normalmente para o transporte viário de pessoas e coisas, ou
para a tração viária de veículos utilizados para o transporte de pessoas e coisas. O termo
compreende os veículos conectados a uma linha elétrica e que não circulam sobre trilhos
(ônibus elétrico).in Código de Trânsito Brasileiro. Pela nova legislação, ocorrendo um
acidente de responsabilidade do condutor de uma bicicleta, de charrete, de trem e de bonde
será responsabilizado pelo Código Penal e não pelo Código de Trânsito Brasileiro.

c) É crime de PERIGO ABSTRATO - não se exige a exposição a perigo em


concreto.36

d) Ação pública incondicionada.

e) Consumação: Basta estar dirigindo, em via pública, nas condições estabelecidas


pelo artigo 306, do CTB. Tentativa – é inadmissível.

g) Ausência de teste de bafômetro - a ausência do teste de bafômetro pode ser


suprida por outros meios de prova.

h) Concurso com a direção inabilitada de veículo: a embriaguez ao volante


absorve a falta de habilitação.37

VIOLAÇÃO DE SUSPENSÃO E DIREÇÃO DE VEÍCULO AUTOMOTOR


Art. 307 - Violar a suspensão ou a proibição de se obter a permissão ou a
habilitação para dirigir veículo automotor imposta com fundamento neste
Código38:
Penas - detenção, de seis meses a um ano e multa, com nova imposição
adicional de idêntico prazo de suspensão ou de proibição.
Parágrafo único - Nas mesmas penas incorre o condenado que deixa de
entregar, no prazo estabelecido no § 1º do art. 293, a Permissão para Dirigir
ou a Carteira de Habilitação.

O crime consuma-se de duas formas

a) Aquele que estando com sua permissão ou habilitação para dirigir veículo
automotor suspensa ou proibida por imposição fundamentada no Código, viola aquelas
restrições e mesmo suspenso ou proibido, obtém nova permissão ou habilitação.

36
Nesse sentido, o STF já decidiu pela 2ª Turma (HC 109269, impetrado pela Defensoria Pública da União em favor
de um motorista de Araxá (MG) – Julgado em 27.10.2011.Disponível em
<<http://clubdoadvogado.wordpress.com/2011/10/16/crime-de-embriaguez-ao-volante-e-de-perigo-abstrato-decide-a-
2%C2%AA-turma-do-stf/>>. Acessado em 05.11.2011).
37
SILVA, José Geraldo e outros. Leis Penais Especiais Anotadas. Campinas: Millennium, 2002.
38
Observação - Muita gente confunde a suspensão e a cassação da Carteira Nacional de Habilitação. Mas, no primeiro
caso, o motorista está impedido de dirigir por um determinado período, dependendo da gravidade das infrações de
trânsito cometidas. Após esse período e concluído o curso de reciclagem o condutor volta a ter direito a dirigir. Na
prática, a suspensão ocorre quando o motorista atinge 20 pontos ou mais de infração. Mas, quando o assunto é cassação,
as regras são mais rígidas e envolvem crimes de trânsito
14

b) Ou ainda, quando o infrator (após ter sofrido sanção criminal ou


administrativa39 na qual lhe foi atribuída a pena de suspensão da habilitação para dirigir),
é surpreendido dirigindo veículo automotor (TJRS, Recurso Crime n. 71004203311,
Turma Recursal Criminal, relator Cristina Pereira Gonzales, J. em 15.04.2013).

c) Existem dois tipos de suspensão do direito de dirigir previstos no Código de


Trânsito Brasileiro:
- a suspensão administrativa, de um mês a um ano, imposta pelo órgão ou
entidade executivo estadual de trânsito, pela somatória de vinte pontos ou cometimento de
infração de trânsito que preveja esta sanção de maneira direta (artigo 256, III e 265); e,
- a suspensão criminal, de dois meses a cinco anos, aplicada pela autoridade
judiciária, em determinados crimes de trânsito (artigo 292 a 296).

Ocorre que há entendimento de que essa violação do artigo 307, do CTB, somente
se refere à penalidade imposta judicialmente e não àquelas impostas administrativamente,
uma vez que:
- O Parágrafo único do art. 307, CTB descreve “condenado”; e,
- O artigo 309, prevê a sanção penal mais branda apesar de tratar de direito de
dirigir cassado.40

d) No artigo 307, o condutor está suspenso em seu direito de dirigir, NÃO gerando
perigo de dano (Crime de Perigo in abstrato). Já no artigo 309, refere-se ao condutor com
direito de dirigir cassado, gerando perigo de dano (Crime de Perigo in concreto). Ressalte-
se que a cassação é penalidade mais rigorosa que suspensão.

e) Ação penal pública incondicionada.

f) Assim, temos em síntese:

39
Há entendimento de que essa violação só se refere à penalidade imposta judicialmente e não se aplica àquelas
impostas administrativamente. Isso porque o Parágrafo Único do art. 307, CTB fala em “condenado”. Aquele que tem
habilitação suspensa administrativamente e dirige recebe apenas a penalidade administrativa de cassação da CNH (art.
263, I, CTB).
40
Desta forma, é forçoso concluir-se que só há a configuração do crime de trânsito de violação da suspensão do direito de
dirigir, caso esta tenha sido imposta por autoridade judicial, inexistindo crime, por falta de tipicidade, caso a penalidade
de suspensão do direito de dirigir tenha natureza administrativa (imposta por autoridade de trânsito). (Arnaldo Luis
Theodosio Pazetti. A violação da suspensão do direito de dirigir como crime de trânsito. Disponível em
http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/2725/A-violacao-da-suspensao-do-direito-de-dirigir-como-crime-de-
transito. Acessado em 06/08/2014).
15

Art. 307 Art. 309


Violar suspensão41 e proibição de se Dirigir veículo automotor, em via
obter permissão ou habilitação para pública, sem a devida Permissão para
dirigir veículo automotor Dirigir ou Habilitação ou, ainda, se
cassado42 o direito de dirigir

Crime de Perigo Abstrato Crime de Perigo Concreto

Pena: detenção, de seis meses a um Pena: detenção, de seis meses a um ano,


ano e multa, com nova imposição ou multa.
adicional de idêntico prazo de
suspensão ou de proibição
SUSPENSÃO - a Carteira Nacional CASSAÇÃO - Decorridos dois anos da
de Habilitação será devolvida a seu cassação da Carteira Nacional de
titular imediatamente após cumprida a Habilitação, o infrator poderá requerer
penalidade e o curso de reciclagem sua reabilitação, submetendo-se a todos
(art. 261, do CTB) os exames necessários à habilitação
(ART. 263, CTB).

PARTICIPAR DE DISPUTA NÃO AUTORIZADA


Art. 308 - Participar, na direção de veículo automotor, em via pública, de
corrida, disputa ou competição automobilística ou ainda de exibição ou
demonstração de perícia em manobra de veículo automotor, não autorizada
pela autoridade competente, gerando situação de risco à incolumidade
pública ou privada: (Nova Redação dada pela Lei n. 13.546, de 19 de
dezembro de 2017)
Penas - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, multa e suspensão ou
proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo
automotor.
§ 1o Se da prática do crime previsto no caput resultar lesão corporal de
natureza grave, e as circunstâncias demonstrarem que o agente não quis o
resultado nem assumiu o risco de produzi-lo, a pena privativa de liberdade é de
reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, sem prejuízo das outras penas previstas
neste artigo.
§ 2o Se da prática do crime previsto no caput resultar morte, e as
circunstâncias demonstrarem que o agente não quis o resultado nem assumiu o
41
Suspensão ocorre quando o condutor acumula 20 pontos ou mais num período qualquer de 12 meses; Comete infração
que por si só leva a suspensão do direito de dirigir. Alguns exemplos de infrações que levam a suspensão direta da
CNH: pilotar moto sem capacete ou com a viseira levantada (condutor ou passageiro), dirigir alcoolizado, racha,
velocidade acima de 50% da máxima permitida, transpor bloqueio policia. o tempo da suspensão varia de acordo com a
gravidade da(s) infração(ções) que pode ser de um mês a um ano. Deve fazer o curso de reciclagem e a CNH é
devolvida.
42
Cassaçao - Se o condutor cometer, por duas vezes num período de um ano, algumas infrações consideradas de grande
gravidade, como dirigir embriagado, disputar racha, demonstrar ou exibir manobra perigosa, arrancada brusca,
derrapagem ou frenagem com deslizamento ou arrastamento de pneus. Houver condenação por crime de trânsito. for
flagrado conduzindo qualquer veículo, estando com o direito de dirigir suspenso. só após dois anos podem se
habilitarem novamente, ou seja, reiniciarem o processo completo de habilitação (começar tudo de novo, como se nunca
fossem habilitados).
16

risco de produzi-lo, a pena privativa de liberdade é de reclusão de 5 (cinco) a


10 (dez) anos, sem prejuízo das outras penas previstas neste artigo.

Observações:
a) Exige o tipo penal resulte a incolumidade pública ou privada, ou seja, perigo em
concreto, como por exemplo: um grupo com seus veículos participa de um racha durante a
madrugada, sem espectadores, rua deserta, mas se em virtude de suas condutas colidirem
com um outro veículo ou chocarem-se com um prédio, público ou particular, há tipificação
do Art. 308.

b) Para consumação há necessidade de resultar dano potencial à incolumidade


pública ou privada.

c) O artigo 3443, da Lei de Contravenções Penais, está derrogado pelo Código de


Trânsito Brasileiro: “[...] o Código de Trânsito Brasileiro revogou a direção perigosa em
vias terrestres tipificada na primeira parte do art. 34 do Decreto-Lei nº 3.688/1941”(disse
o relator). (STF - ARE: 635241 RS , Relator: Min. GILMAR MENDES, Data de
Julgamento: 27/06/2012, Data de Publicação: DJe-150 DIVULG 31/07/2012 PUBLIC
01/08/2012).

d) Espectadores e passageiros também respondem pelo crime como partícipes (art.


29, CP)

e) Os parágrafos tratam de crimes preterdolosos, agravados pelo resultado.

DIRIGIR SEM ESTAR HABILITADO


Art. 309 - Dirigir veículo automotor, em via pública, sem a devida Permissão
para Dirigir ou Habilitação ou, ainda, se cassado o direito de dirigir, gerando
perigo de dano:
Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.

Observações:
a) Com perigo de dano – Exemplos: fazendo zigue e zague, fechando outros
veículos, aos trancos e barrancos, aos solavancos, invadindo cruzamento, subindo veículo
na calçada, avançando sinal vermelho, ultrapassando pela direita, pela contramão de
direção etc.

b) a figura típica envolve três condutas: 1) dirigir sem a devida permissão; 2) dirigir
sem a devida habilitação; e c) dirigir quando cessado esse direito.
1) dirigir sem a devida permissão – diz respeito a não obtenção da competente
permissão, por não atender os requisitos do artigo 140, do Código de Trânsito
Brasileiro.44 Não é o caso do condutor não portar, na ocasião, que constitui mera
43
Art. 34. Dirigir veículos na via pública, ou embarcações em águas públicas, pondo em perigo a segurança alheia: Pena
– prisão simples, de quinze das a três meses, ou multa, de trezentos mil réis a dois contos de réis.
44
“Art. 140 - A habilitação para conduzir veículo automotor e elétrico será apurada por meio de exames que deverão
ser realizados junto ao órgão ou entidade executivos do Estado ou do Distrito Federal, do domicílio ou residência do
candidato, ou na sede estadual ou distrital do próprio órgão, devendo o condutor preencher os seguintes requisitos: I -
17

transgressão administrativa. O disposto visa punir aquele que dirige sem possuir
o documento.

2) dirigir sem a devida habilitação – exige-se que o condutor não possua a Carteira
Nacional de Habilitação, por não preencher o requisito do § 3º do artigo 148 do
Código.45

3) dirigir quando cassado esse direito – a cassação ao direito de dirigir encontra-se


prevista no artigo 263, do Código de Trânsito Brasileiro.46

c) o artigo exige ainda que a conduta gere perigo de dano em concreto. Gerar
significa produzir, ou seja, produzir dano, uma lesão, um prejuízo, que pode ser à
integridade física ou ao patrimônio de alguém (pessoa física ou jurídica).

d) enquadra-se também a circunstância do indivíduo conduzindo um caminhão,


quando na realidade sua permissão ou habilitação permite a condução de um automóvel.

e) Súmula 720 do STF: “O art. 309 do Código de Trânsito Brasileiro, que reclama
decorra do fato perigo de dano, derrogou o art. 32 da Lei das Contravenções Penais no
tocante à direção sem habilitação em vias terrestres.”

f) Segundo o Superior Tribunal de Justiça - Não havendo risco de dano concreto a


pessoa, a direção de veículo sem habilitação é apenas infração administrativa, não
configurando crime. (Resp n. 326.953/SP, rel. Ministro Vicente Leal, 6ª Turma, j. 23-10-
01, DJ de 17-6-02, p. 311)

g) Concurso com o uso de documento falso: o agente responderá pelo crime do


Art. 309, do Código de Trânsito Brasileiro, em concurso material como o delito do Art.
304, do CP. 47

h) Trator agrícola: o art. 144, do Código de Trânsito Brasileiro, determina que,


para dirigir trator, o condutor deve estar habilitado nas categorias C, D ou E. Assim, se o
agente for habilitado apenas a categoria B, poderá responder pelo delito do art. 309, CTB, 48
desde que haja perigo de dano.

ser penalmente imputável; II - saber ler e escrever; III - possuir Carteira de Identidade ou equivalente. Parágrafo
único - As informações do candidato à habilitação serão cadastradas no RENACH.”
45
Art. 148 [...] § 3º - A Carteira Nacional de Habilitação será conferida ao condutor no término de um ano, desde que o
mesmo não tenha cometido nenhuma infração de natureza grave ou gravíssima ou seja reincidente em infração média.
46
Art. 263 - A cassação do documento de habilitação dar-se-á: I - quando, suspenso o direito de dirigir, o infrator
conduzir qualquer veículo;II - no caso de reincidência, no prazo de doze meses, das infrações previstas no inciso III
do art. 162 e nos arts. 163, 164, 165, 173, 174 e 175; III - quando condenado judicialmente por delito de trânsito,
observado o disposto no art. 160.§ 1º - Constatada, em processo administrativo, a irregularidade na expedição do
documento de habilitação, a autoridade expedidora promoverá o seu cancelamento.§ 2º - Decorridos dois anos da
cassação da Carteira Nacional de Habilitação, o infrator poderá requerer sua reabilitação, submetendo-se a todos os
exames necessários à habilitação, na forma estabelecida pelo CONTRAN
47
SILVA, 2002.
48
Ibid.
18

i) Veículo roubado: o agente que é surpreendido dirigindo veículo que acabou de


ser roubado, sem possuir habilitação; responderá pelo delito de roubo em concurso material
com o de direção inabilitada,49 desde que haja perigo de dano.

j) Carteira vencida – não configura o crime “[...] o delito previsto no art. 309 do
Código de Trânsito Brasileiro configura-se unicamente quando o agente não possui
permissão para dirigir ou carteira de habilitação ou, ainda, se perdeu o direito de conduzir
veículo automotor, e não no caso da carteira estar vencida”. (TJSC; ACr 2010.081863-5;
São José do Cedro; Primeira Câmara Criminal; Relª Desª Marli Mosimann Vargas; Julg.
21/06/2011; DJSC 11/07/2011; Pág. 412). Nem tampouco exame de saúde vencido, mera
infração administrativa.

k) Ciclomotores – exigem autorização e não CNH, de modo que sua condução


desautorizada é mera infração administrativa e não configura o art. 309, CTB.

l) Indivíduo habilitado que somente não porta o documento – infração


administrativa.

ENTREGA DE VEÍCULO A PESSOA NÃO HABILITADA


Art. 310 - Permitir, confiar ou entregar a direção de veículo automotor a
pessoa não habilitada, com habilitação cassada ou com o direito de dirigir
suspenso, ou, ainda, a quem, por seu estado de saúde, física ou mental, ou por
embriaguez, não esteja em condições de conduzi-lo com segurança:
Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa

Observações:
a) pune-se o agente que permite, entrega. Ou seja, pede ou consente que pessoa
inabilitada ou com habilitação cassada ou com direito de dirigir suspenso, conduza o
veículo.

b) ou a quem por seu estado de saúde, física ou mental, ou por embriaguez não
esteja em condições de conduzir com segurança.

c) conduzir com segurança - significa conduzir obedecendo a legislação de


trânsito.

d) A consumação não se dá com a entrega do veículo, mas sim com a sua


colocação em movimento pela pessoa que o recebe.

e) Exemplos:
"APELAÇÃO CRIME. ENTREGA DE VEÍCULO A PESSOA NÃO
HABILITADA. ART. 310 DO CTB. DELITO DE TRÂNSITO. SENTENÇA
CONDENATÓRIA MANTIDA, POR MAIORIA. Comprovado que o R. não
impediu ao filho a utilização da motocicleta, sabendo que ele dirigia, o que implica
autorização e anuência implícitas para o fato, tipificando a conduta delituosa pela

49
Ibid.
19

omissão. NEGADO PROVIMENTO À APELAÇÃO, POR MAIORIA" (Recurso


Crime n. 71001126234, Turma Recursal Criminal, relaq. Nara Leonor Castro
Garcia, j. em 26-2-2007).
.............

OBSERVAÇÕES:
a) Para a 5ª turma do STJ, o pai que entrega o carro para o filho não pode ser
responsabilizado por homicídio culposo, eis que não se pode presumir a culpa nem
implicar penalmente o pai pela conduta do filho, em razão de responsabilidade reflexa.
(STJ - HC: 235827 SP 2012/0050257-8, Relator: Ministro MARCO AURÉLIO
BELLIZZE, Data de Julgamento: 03/09/2013, T5 - QUINTA TURMA, Data de
Publicação: DJe 18/09/2013).

E ainda,
PENAL. DELITO DO TRÂNSITO. HOMICIDIO CULPOSO. PAI DO MENOR
INABILITADO. - CULPA CONCORRENTE. NÃO HA DIZER-SE FUNDADA
EM SIMPLES PRESUNÇÃO A CULPA DO PAI QUE PERMITE AO MENOR A
DIREÇÃO DE SEU AUTOMOVEL, INOBSTANTE O CONHECIMENTO DAS
REITERADAS INFRAÇÕES DO TRÂNSITO PRATICADAS POR TAL
CONDUTOR QUE AFINAL VEIO A ATROPELAR PEDESTRES, COM
RESULTADOS FATAIS. (STJ - REsp: 69975 SC 1995/0035000-9, Relator:
Ministro EDSON VIDIGAL, Data de Julgamento: 26/11/1996, T5 - QUINTA
TURMA, Data de Publicação: DJ 24.03.1997 p. 9041)

b) Porém, há entendimento contrário em que o pai responde em concurso, por omissão


imprópria (comissivo por omissão). Ou seja, “Aquele que viola dever de cuidado,
possibilitando que menor assuma o controle de veículo automotor, deve ser co-
responsabilizado por eventual crime de trânsito que este cometa.” (TJ-PI - ACR:
201100010071170 PI, Relator: Des. Sebastião Ribeiro Martins, Data de Julgamento:
08/05/2012, 2a. Câmara Especializada Criminal).

VELOCIDADE INCOMPATÍVEL
Art. 311 - Trafegar em velocidade incompatível com a segurança nas
proximidades de escolas, hospitais, estações de embarque e desembarque de
passageiros, logradouros estreitos, ou onde haja grande movimentação ou
concentração de pessoas, gerando perigo de dano:
Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.

Observações:
a) Sujeito ativo – condutor de veículo. Este previsto no Art. 96, do Código de
Trânsito Brasileiro.

b) Velocidade incompatível com a segurança é aquela que não se justifica no local


descrito no tipo penal, ou onde haja grande movimentação ou concentração de pessoas,
gerando perigo de dano. Por isso, não se configurará tal delito quando o agente no volante
de um veículo passar defronte a uma escola, totalmente deserta, a 100 Km/h, às 03:00
horas da manhã.
20

c) A prova da velocidade incompatível pode ser feita por testemunhas não se


exigindo a prova de radares ou equivalentes, nos termos do artigo 220, do CTB, 50 que
depende de uma análise circunstancial. A medição da velocidade por instrumento ou
euqipamento hábil é obrigatória apenas para a penalização do excesso de velocidade.51

d) Há necessidade de gerar perigo de dano in concreto, seja contra a integridade


corporal ou a saúde de outrem, seja contra o patrimônio, público ou privado. EXEMPLO:

Motorista que realizou manobras perigosas em frente a colégio prestará


serviços comunitários - Por dirigir em alta velocidade e realizar manobras
perigosas em local de grande concentração de pessoas, motorista de 26 anos foi
condenado na Comarca de Restinga Seca a cumprir Prestação de Serviços à
Comunidade (PSC). Em duas ocasiões, a comunidade avisou a Brigada Militar
que um jovem conduzindo um Chevette preto estaria dirigindo em velocidade
incompatível com o local e realizando “cavalinhos-de-pau” em frente ao
Colégio Erico Verissimo, no centro da cidade. Segundo o relato dos policiais
militares que registraram as ocorrências, havia vários alunos na calçada no
momento das manobras, por ser horário de início das aulas. [...] O Juiz de
Direito Eduardo Giovelli considerou caracterizado, por duas vezes, o delito
previsto no art. 311 do Código de Trânsito Brasileiro, determinando o
cumprimento 9 meses e 10 dias de detenção em regime aberto [...]. A sentença
foi confirmada pela Turma Recursal Criminal dos Juizados Especiais, que negou
a apelação interposta pelo réu. Processo: 71001258284.52

d) Tentiva: inadmissível.

e) Manobras perigosas próximas aos locais elencados no dispositivo, mas com


velocidade compatível: não caracteriza o delito do artigo 311, Código de Trânsito
Brasileiro.

f) Para que se configure o delito previsto no artigo 311 da Lei n. 9.503/97, é


necessário que o modo como o motorista conduz seu veículo pela via pública ocasione
perigo de dano a outrem.

Ação penal pública incondicionada.


50
Art. 220. Deixar de reduzir a velocidade do veículo de forma compatível com a segurança do trânsito: I - quando se
aproximar de passeatas, aglomerações, cortejos, préstitos e desfiles: II - nos locais onde o trânsito esteja sendo
controlado pelo agente da autoridade de trânsito, mediante sinais sonoros ou gestos; III - ao aproximar-se da guia da
calçada (meio-fio) ou acostamento; IV - ao aproximar-se de ou passar por interseção não sinalizada; V - nas vias rurais
cuja faixa de domínio não esteja cercada; VI - nos trechos em curva de pequeno raio; VII - ao aproximar-se de locais
sinalizados com advertência de obras ou trabalhadores na pista; VIII - sob chuva, neblina, cerração ou ventos fortes; IX
- quando houver má visibilidade; X - quando o pavimento se apresentar escorregadio, defeituoso ou avariado; XI - à
aproximação de animais na pista; XII - em declive; XIII - ao ultrapassar ciclista: XIV - nas proximidades de escolas,
hospitais, estações de embarque e desembarque de passageiros ou onde haja intensa movimentação de pedestres.
51
Art. 218. Transitar em velocidade superior à máxima permitida para o local, medida por instrumento ou equipamento
hábil, em rodovias, vias de trânsito rápido, vias arteriais e demais vias:
52
Publicado em 1 de Agosto de 2007 às 16h02. Fonte: Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul. Boletim
Síntese nº 1.744/07. In: http://www.iob.com.br/juridico/noticia_integra.asp?id=19822. Acessado em 01/08/2007.
21

FRAUDE ACIDENTE DE TRÂNSITO


Art. 312 - Inovar artificiosamente, em caso de acidente automobilístico com
vítima, na pendência do respectivo procedimento policial preparatório,
inquérito policial ou processo penal, o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, a
fim de induzir a erro o agente policial, o perito, ou juiz:
Penas - detenção, de seis meses a um ano, ou multa.
Parágrafo único - Aplica-se o disposto neste artigo, ainda que não iniciados,
quando da inovação, o procedimento preparatório, o inquérito ou o processo
aos quais se refere.

Sujeito ativo: qualquer pessoa


Sujeito passivo: o Estado
Elementos Objetivos do Tipo:
a) o acidente automobilístico envolve pelo menos um veículo automotor.
b) pune-se o agente que, habilidosamente, astuciosamente, procura mudar as
condições do local do ACIDENTE COM VÍTIMA, os veículos envolvidos, como as
pessoas, com o fim de levar a erro agente policial, o perito ou o juiz.

c) se a conduta for realizada em ACIDENTE SEM VÍTIMA, o crime é de fraude


processual do artigo 347, do Código Penal.53

Elemento Subjetivo do Tipo: dolo específico – com o fim de induzir a erro o


agente policial, o perito, ou juiz.

Consumação: com a inovação, independente do resultado – crime de mera conduta.

Concurso com homicídio culposo ou lesão corporal culposa: o agente


responderá em concurso material. 54

Uso de documento de outra pessoa: não caracteriza a fraude, mas pode


caracterizar uso de documento falso. 55

Exemplo: retirar os veículos do local, lavar a pista, esconder veículo, etc.


Ação Penal Pública Incondicionada.

PENAS ALTERNATIVAS
Art. 312-A. Para os crimes relacionados nos arts. 302 a 312 deste Código, nas
situações em que o juiz aplicar a substituição de pena privativa de liberdade
por pena restritiva de direitos, esta deverá ser de prestação de serviço à
comunidade ou a entidades públicas, em uma das seguintes atividades:

53
Art. 347 - Inovar artificiosamente, na pendência de processo civil ou administrativo, o estado de lugar, de coisa ou de
pessoa, com o fim de induzir a erro o juiz ou o perito: Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa. Parágrafo
único - Se a inovação se destina a produzir efeito em processo penal, ainda que não iniciado, as penas aplicam-se em
dobro.
54
SILVA, 2002.
55
SILVA, 2002.
22

I - trabalho, aos fins de semana, em equipes de resgate dos corpos de


bombeiros e em outras unidades móveis especializadas no atendimento a
vítimas de trânsito;
II - trabalho em unidades de pronto-socorro de hospitais da rede pública que
recebem vítimas de acidente de trânsito e politraumatizados;
III - trabalho em clínicas ou instituições especializadas na recuperação de
acidentados de trânsito;
IV - outras atividades relacionadas ao resgate, atendimento e recuperação de
vítimas de acidentes de trânsito”.56

Foram agregadas novas penas restritivas de direitos no ordenamento jurídico, quais


sejam:
a) de prestação de serviços de resgate com os corpos de bombeiros ou equivalente;
b) o trabalho em pronto socorro de hospitais ou em clínicas especializadas em
recuperação de acidentados;
c) ou qualquer outra atividade relacionada ao resgate, atendimento e recuperação de
vítimas de acidente de trânsito, por interpretação analógica.

Tais sanções restritivas tornaram-se meios pedagógicos de orientação e de alerta aos


riscos de acidentes de trânsito pelos males decorrentes, na busca de uma conscientização do
infrator quanto à observância das regras de circulação e respeito ao próximo.

REFERÊNCIAS

BONAVIDES, Paulo.
DUARTE, Walter Antonio Dias. Ainda a Nova Leis de trânsito e o Homicídio Culposo.
Boletim IBCCRIM, n° 101. São Paulo: IBCCRIM, 2001.
WUNDERLICH, Alexandre. “Dolo Eventual nos Homicídios de Trânsito: Uma Tentativa
Frustrada” In: Revista do Tribunais n° 576, outubro de 1998.
SEPARATA, Jurisprudência. Porto Alegre: Itec,
ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Em busca das penas perdidas.4ª ed. Rio de Janeiro: Revan,
1999.
SILVA, José Geraldo e outros. Leis Penais Especiais Anotadas. Campinas: Millennium,
2002.
COSTA, Leonardo Luiz de Figueiredo. A Alteração da Embriaguez ao Volante é o
crime de lesões corporais na direção de veículo automotor. Boletim Ibccrim. Ano 14, nº
164, julho de 2006. p. 19.

56
Inserido pela Lei n. 13.281, de 04 de maio de 2016.
1

RESUMO Nº 1 - DP IV1

TÍTULO XI
DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Capítulo I – Dos Crimes praticados por Funcionário Público contra a


Administração em Geral ( Arts. 312 a 327)
Capítulo II – Dos Crimes praticados por Particular contra a Administração em
Geral (Arts. 328 a 337-A)
Capítulo II-A - Dos Crimes praticados por Particular contra a Administração
Pública Estrangeira (Art.337-B a 337-D)
Capítulo III – Dos Crimes contra a Administração da Justiça (Arts. 338 a 359)
Capítulo IV – Dos Crimes contra as Finanças Públicas (Arts. 359-A a 359-H)
Disposições Finais – Arts. 360 a 361.

CAPÍTULO I
DOS CRIMES PRATICADOS POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO CONTRA A
ADMINISTRAÇÃO EM GERAL
( ARTS. 312 A 327)

Crimes Funcionais
São os que só podem ser cometidos por pessoas que exercem funções públicas.
Classificam-se em :
1) delitos funcionais próprios, e :
2) delitos funcionais impróprios.
No primeiro, a qualidade do funcionário atua como elementar do tipo, e sem ela, o
fato é atípico. Ex: Prevaricação – Art. 319, do Código Penal. Assim, provado que o agente
na época não era funcionário público, desaparece o delito.
Nos impróprios, excluída a qualidade de funcionário público, há dois efeitos:
a) desaparece o crime de que se trata, e;
b) opera-se a desclassificação para outro delito.
Exemplo, Peculato (Art. 312, do Código Penal), excluída a elementar “funcionário
público”, desaparece, por atipicidade relativa, o crime de peculato, subsistindo a
Apropriação Indébita (Art. 168, do Código Penal).
Os delitos funcionais são aqueles que o Código Penal denomina de crimes
praticados por funcionário público contra a Administração Pública.
Todavia, há outros espalhados pelo Estatuto Penal, como por exemplo: Art. 150, §
2º, do Código Penal, Arts. 300, 301, etc.

Conceito de Funcionário Público

Art.327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem,


embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego
ou função pública.

1
Paulo Calgaro de Carvalho – professor UNISUL
2

§ 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou


função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa
prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de
atividade típica da Administração Pública.2
§ 2º - A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos
crimes previstos neste Capítulo forem ocupantes de cargos em comissão
ou de função de direção ou assessoramento de órgão da administração
direta, sociedade de economia mista, empresa pública ou fundação
instituída pelo poder público.3

E ainda:

Funcionário público estrangeiro


Art. 337-D. Considera-se funcionário público estrangeiro, para os efeitos
penais, quem, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, exerce
cargo, emprego ou função pública em entidades estatais ou em
representações diplomáticas de país estrangeiro.
Parágrafo único. Equipara-se a funcionário público estrangeiro quem
exerce cargo, emprego ou função em empresas controladas, diretamente
ou indiretamente, pelo Poder Público de país estrangeiro ou em
organizações públicas internacionais4.

Para o Código Penal, funcionário público quem, embora transitoriamente ou sem


remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública (em entidades estatais ou em
representações diplomáticas de país estrangeiro).
Portanto, a remuneração pelo Estado (em representações diplomáticas de país
estrangeiro) não se faz necessária ao conceito.
Cargo público: é o criado por lei, com denominação própria, em número certo e
pago pelos cofres públicos (Lei 8.112/90, Art. 3º, Parágrafo único).
Emprego público: emprego para serviço temporário, com contrato em regime
especial ou celetista. Ex: diaristas, mensalistas, contratados .. etc.. Art. 37, IX, da
Constituição Federal.
Função pública: conjunto de atribuições que o poder público impõe aos seus
servidores para realização de serviços no plano do Poder Judiciário, Executivo ou
Legislativo.

2
Exemplo: STF. SUS. Médico. Despesas médicas. Cobrança. Vantagem indevida. Lei 9.983/2000. CP, art. 327, §
1º. Alteração. Crime cometido antes de sua vigência. Equiparação a servidor público. Inadmissibilidade.
Concussão. Descaracterização. A 2ª Turma do STF, relatora a Minª. ELLEN GRACIE, deferiu «habeas corpus»
impetrado em favor de médico, para restabelecer acórdão regional que determinara o trancamento da ação penal contra
ele instaurada, pela suposta prática do crime de concussão (CP, art. 316), consistente no ato de exigir de beneficiário do
SUS - Sistema Único de Saúde, em hospital particular a este conveniado, o pagamento de despesas médicas,
hospitalares, remédios e exames. Considerou-se o fato de o delito ter sido praticado antes da vigência da Lei 9.983/2000,
que, dando nova redação ao art. 327, § 1º, do CP, equiparou a servidor público aquele que trabalha para empresa
prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública. (HC
87.227). Fonte: BIJ vol. 0. In: http://www.jurua.com.br/newsletter_view1.asp?recno=8095. Acessado em 31/03/2006.
3
Inclusive GOVERNADOR DO ESTADO. STF. Inq 2606/MT, rel. Min. Luiz Fux, 4.9.2014. Informativo n. 757, de
setembro de 2014,
4
Introduzido pela Lei nº 10.467, de 11 de junho de 2002
3

No caso de funcionário de empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada


com a Administração, a atividade por ela exercida deve ser típica da Administração
Pública, ou seja conforme Mirabete, “toda atividade material que a lei atribui ao Estado
para que a exerça diretamente ou por meio de seus delegados, com o objetivo de satisfazer
concretamente às necessidades coletivas, sob regime total ou parcialmente público. Nessa
categoria estão as empresas de coleta de lixo, de energia elétrica e de iluminação pública,
serviços médicos e hospitalares, de telefonia, de transporte, de segurança etc.”5
Exemplos de funcionários públicos: Presidente da República, Prefeitos, membros
das casas legislativas, inclusive Vereadores, militares, serventuários da justiça, perito
judicial, contador da prefeitura, guarda municipal, jurado, depositário nomeado pelo juiz,
etc.6
Ressalte-se que na identificação do sujeito passivo nos crimes contra funcionário
público, aplica-se apenas o conceito do caput.

OBSERVAÇÕES:

DEPUTADOS E SENADORES: têm imunidade absoluta por suas opiniões, palavras e


votos7 (Art. 53, caput, da Constituição Federal, com redação dada pela Emenda
Constitucional nº 35, de 20 de dezembro de 2001)8. Assim, não respondem os
parlamentares por delitos contra a honra, de incitação ao crime, de apologia de crime ou
criminoso etc, bem como, pelos ilícitos definidos na Lei de Segurança Nacional etc.9

- A Imunidade Absoluta ou material:10 é irrenunciável, não se podendo


instaurar inquérito policial ou ação penal, mesmo que o parlamentar
autorize. Contudo, tal imunidade absoluta não atinge o co-réu, conforme

5
MIRABETE, Júlio Fabbrini. Manual de Direito Penal: parte especial. São Paulo: Atlas, 1998, vol. 3, p. 198.
6
COBRANÇA INDEVIDA. SERVIÇOS. MÉDICO CONVENIADO. SUS. ART. 327, CP. O médico que realiza
consulta pelo Sistema Único de Saúde (SUS) enquadra-se no conceito de funcionário público (art. 327, § 1º, do CP) por
exercer função pública delegada. Assim, estando o médico na função de administrador de hospital, reconhece-se a causa
de aumento da pena prevista no art. 327, § 2º, do CP. Precedentes citados: HC 51.054-RS, DJ 5/6/2006, e RHC 17.974-
SC, DJ 13/12/2005. AgRg no Ag 664.461-SC, Rel. Min. Nilson Naves, julgado em 19/6/2007.
7
A liberdade de palavra ou irresponsabilidade, segundo Darcy Azambuja, surgiu na Inglaterra em 1397, quando o rei
mandou prender o Deputado Haxey, autor do bill que reduzira o orçamento da casa real. Dois anos mais tarde, subindo
ao trono Henrique IV, julgou ilegal a prisão ordenada pelo antecessor e firmou-se a prerrogativa de que o membro do
Parlamento não poderia ser responsabilizado legalmente pelas opiniões e votos emitidos no exercício de suas funções
(AZAMBUJA, 2005, p. 189).
8
“Art. 53. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e
votos.”
9
Não importa para fixação da competência do Supremo Tribunal Federal, se o agente está licenciado para exercer outro
cargo, pois a proteção decorre da função exercida na época do cometimento do crime (STF, no Inq O 777-TO, Rel Min.
Moreira Alves, RTJ 153/760).
10
Imunidade Parlamentar e Nexo de Causalidade - A garantia de imunidade parlamentar, em sentido material, prevista
no art. 53, caput, da CF, com a redação dada pela EC 35/2001, visa assegurar a liberdade de opinião, palavras e votos
dos parlamentares federais, em qualquer local, mesmo que fora do recinto da respectiva Casa Legislativa, desde que
suas manifestações sejam proferidas no exercício do mandato ou em razão dele (“Os deputados e senadores são
invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas opiniões, palavras e votos”). Com base nesse entendimento, a
Turma manteve acórdão de tribunal de justiça local que condenara o recorrente, deputado federal à época, ao pagamento
de indenização por dano moral, por entender inexistente nexo causal entre sua atividade de parlamentar e as declarações
proferidas contra o recorrido, no sentido de que este seria incompetente, vagabundo e dado a orgias. Precedentes
citados: RE 210917/RJ (DJU 18.6.2001); RE 220687/MG (DJU de 28.5.99); Inq 874 AgR/BA (DJU de 26.5.95); Inq
1710/SP (DJU de 28.6.2002).RE 226643/SP, rel. Min. Carlos Velloso, 3.8.2004. (RE-226643)
4

Súmula 245, do Supremo Tribunal Federal, in verbis: “A imunidade


parlamentar não se estende ao co-réu sem essa prerrogativa.”

- IMUNIDADE PARLAMENTAR MATERIAL:

a) DENTRO DA CASA LEGISLATIVA;

“Para os pronunciamentos feitos no interior das Casas Legislativas não


cabe indagar sobre o conteúdo das ofensas ou a conexão com o mandato,
dado que acobertadas com o manto da inviolabilidade. Em tal seara,
caberá à própria Casa a que pertencer o parlamentar coibir eventuais
excessos no desempenho dessa prerrogativa. No caso, o discurso se deu
no plenário da Assembleia Legislativa, estando, portanto, abarcado pela
inviolabilidade. Por outro lado, as entrevistas concedidas à imprensa pelo
acusado restringiram-se a resumir e comentar a citada manifestação da
tribuna, consistindo, por isso, em mera extensão da imunidade material."
(Inq 1.958, rel. p/ o ac. min. Ayres Britto, julgamento em 29-10-2003,
Plenário, DJ de 18-2-2005.) No mesmo sentido: Inq 2.295, rel. p/ o ac.
min.Menezes Direito, julgamento em 23-10-2008, Plenário, DJE de 5-6-
2009. Disponível em <http://jus.com.br/artigos/40050/uma-analise-a-
imunidade-parlamentar#ixzz3mlxN2b3u>. Acessado em 25/09/2015.

b) FORA DA CASA LEGISLATIVA, SE ESTIVER RELACIONADO


COM O EXERCÍCIO DO MANDATO. (Inq 510-DF (DJU de 19.4.91),
Inq 810-QO-DF (DJU de 6.5.94). Inq 1.944-DF, rel. Ministra Ellen Gracie,
1º.10.2003. (INQ-1944). Inq 390 QO/RO (DJU de 27.10.89). Inq
1958/AC, rel. orig. Min. Carlos Velloso, red. p/ o acórdão Min. Carlos
Britto, 29.10.2003. (INQ-1958)Inq 2295/MG, rel. Min. Sepúlveda
Pertence, 3.5.2006. (Inq-2295).

- O período tem início com a DIPLOMAÇÃO e término com o fim do


mandato.

- IMUNIDADE RELATIVA OU FORMAL: refere-se:

1) À PRISÃO – “Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso


Nacional não poderão ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável.
Nesse caso, os autos serão remetidos dentro de vinte e quatro horas à Casa
respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre
a prisão.” (Art. 53, §2º, da Constituição Federal)

Na prática isso significa que o parlamentar não pode prisão em flagrante,


salvo em crime inafiançável, a saber:
a) Os previstos na Constituição Federal (crimes mais sérios como
racismo, hediondos etc).11

11
5

b) E, conforme entendimento do STF, nos casos em que existirem algum


dos motivos previstos no artigo 312, do CPP, 12 nos termos do artigo
324, IV, do Código de Processo Penal. 13 Isto é, o que é afiançável
torna-se inafiançável. 14

Somente depois da condenação criminal imposta em sentença


transitada em julgado torna-se possível prender o parlamentar (não
há prisão temporária e/ou preventiva), bem como decretar a perda do
mandato (CF, art. 55, VI), salvo se já cassado anteriormente pela própria
Cada legislativa (por falta de decoro parlamentar).

2) AO PROCESSO15 (Uma vez recebida a peça acusatória, o Supremo


Tribunal Federal, em se tratando de Senadores e Deputados Federais 16
será obrigado a dar ciência à Câmara e/ou Senado 17 que, "por iniciativa
de partido político nela representado e pelo voto da maioria de seus
membros, poderá, até a decisão final, sustar o andamento da ação"...tal
como dispõe o § 3º do art. 53, da Constituição Federal. Há um prazo de
45 dias para a Casa (Câmara ou Senado) apreciar o "pedido de sustação
do processo"). Desta forma, há mera possibilidade de suspensão do
processo;18 Isto é, os deputados federais e senadores serão julgados,
nos crimes comuns, independentemente de qualquer licença prévia da
respectiva casa legislativa (Art. 102, I, b e 53 §§ 1º e 3º, da CF).

3) ÀS PRERROGATIVAS DE FORO (Os Deputados e Senadores, desde a


expedição do diploma, serão submetidos a julgamento perante o Supremo
Tribunal Federal); e,

INFRAÇÃOARTIGOTortura, Tráfico Ilícito de Entorpecentes e Drogas Afins, Terrorismo e Crimes Hediondos (Lei
8.072, 25/07/90 e Lei 8.930, 06/09/94) 5º, XLIII da CF/88Racismo (Lei 7.716, 05/01/89 e Lei 8.081, 21/09/90) 5º, XLII
da CF/ 88Ação de Grupos Armados, civis ou militares, contra ordem constitucional5º, XLIV da CF/88
12
Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por
conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do
crime e indício suficiente de autoria.
13
Art. 324. Não será, igualmente, concedida fiança: [...] IV - quando presentes os motivos que autorizam a decretação
da prisão preventiva (art. 312).
14
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Cautelar n. 4039/2015. 2ª Turma. Relator: Min. Teori Zavaski. Julgado em
25 de novembro de 2015. Disponível em
http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticiaNoticiaStf/anexo/Acao_Cautelar_4039.pdf. Acessado em 09.10.2017
15
A necessidade de licença prévia da casa para processar um parlamentar, segundo Darcy Azambuja, nasceu em
1603, quando o sir Thomas Shirley, membro da Câmara dos Comuns, foi preso em Londres por ordem do rei. O
Speaker (presidente da Câmara) mandou que o carcereiro o soltasse; não sendo atendido, ordenou a prisão desse
funcionário e somente o libertou quando o deputado foi também libertado. Logo a seguir, a Câmara promulgou um
estatuto (lei) proibindo a prisão de qualquer deputado sem prévia licença da respectiva Câmara (AZAMBUJA, 2005, p.
188-89).
16
O Tribunal de Justiça, ou Tribunal Regional Eleitoral ou Tribunal Regional Federal (RTJ 91/59), cuidando-se de
Deputado Estadual (RT 659/312)
17
Se for Deputado Estadual, o órgão judicial competente irá comunicar a Assembléia Legislativa do Estado.
18
Inquérito Policial – A autoridade policial deve, previamente, solicitar autorização ao Tribunal competente para o
eventual processo e julgamento do investigado, a fim de que possa avaliar a presença de justa causa para a instauração
formal do procedimento de investigação criminal [STF, QO no Inq 2.411/MT (Questão de Ordem no Inquérito Policial),
Pleno, j. 10.10.2007, rel. Min Gilmar Mendes, DJe 25.04.2008].
6

a) crime cometido antes da diplomação do parlamentar: se havia processo


em andamento, a partir da expedição do diploma (CF, art. 53, § 1.º) deve
esse processo ser remetido para o STF (no caso de parlamentar federal); em
se tratando de parlamentar estadual ou distrital, deve o processo ser
remetido para o Tribunal de Justiça respectivo (não pode o processo penal
continuar na comarca de origem).

b) crime cometido após a diplomação, bem como durante o exercício das


funções: para esses delitos vale o foro especial por prerrogativa de função.
Mas cessadas as funções, acaba o foro especial.

(Observação: Supremo Tribunal Federal já formou maioria para restringir


o foro por prerrogativa de função para parlamentares. Ou seja, somente
devem responder a processos no STF se o crime for praticado no exercício
do mandato.
Oito integrantes da corte se manifestaram até o dia 23.11.2017 a favor de
tal restrição. Contudo, o caso foi suspenso por pedido de vista do ministro
Dias Toffoli. STF. Ação Penal n. 937/RJ. Min. Relator Roberto Barroso.
ATA Nº 40, de 23/11/2017. DJE nº 276, divulgado em 30/11/2017)

c) crime cometido após o exercício das funções: não conta com foro
especial (Súmula 451 do STF19). O ex-parlamentar é processado
normalmente em primeira instância.

OBS. O foro especial por prerrogativa de função não alcança causas de


natureza civil (protesto judicial, por exemplo, sem nenhum caráter penal):
STF, Pet. 2.448-6, rel. Celso de Mello, DJU 19.10.2001, p. 53. Cuidando-
se de ação com natureza civil contra parlamentar, seu processamento se
dará normalmente em primeira instância, não sendo o caso de se invocar o
foro especial por prerrogativa de função.
O foro especial envolve os crimes eleitorais, as contravenções penais e
os crimes dolosos contra a vida.

4) PARA SERVIR COMO TESTEMUNHA – não são obrigados a


testemunhar sobre fatos relacionados ao exercício do seu mandato [Art. 53,
§§ 1º ao 8º, da Constituição Federal (com redação dada pela Emenda
Constitucional nº 35, de 20 de dezembro de 2001)].20
19
Súmula 451, do STF: “A competência especial por prerrogativa de função não se estende ao crime cometido após a
cessação definitiva do exercício funcional.”
20
“§ 1º Os Deputados e Senadores, desde a expedição do diploma, serão submetidos a julgamento perante o Supremo
Tribunal Federal. § 2º Desde a expedição do diploma, os membros do Congresso Nacional não poderão ser presos, salvo
em flagrante de crime inafiançável. Nesse caso, os autos serão remetidos dentro de vinte e quatro horas à Casa
respectiva, para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a prisão. § 3º Recebida a denúncia contra
Senador ou Deputado, por crime ocorrido após a diplomação, o Supremo Tribunal Federal dará ciência à Casa
respectiva, que, por iniciativa de partido político nela representado e pelo voto da maioria de seus membros, poderá, até
a decisão final, sustar o andamento da ação. § 4º O pedido de sustação será apreciado pela Casa respectiva no prazo
improrrogável de quarenta e cinco dias do seu recebimento pela Mesa Diretora. § 5º A sustação do processo suspende a
prescrição, enquanto durar o mandato. § 6º Os Deputados e Senadores não serão obrigados a testemunhar sobre
informações recebidas ou prestadas em razão do exercício do mandato, nem sobre as pessoas que lhes confiaram ou
7

DEPUTADOS ESTADUAIS – Eles têm as mesmas imunidades dos Deputados Federais e


dos Senadores, conforme Art. 27, § 1º, da Constituição Federal. Quanto a prerrogativa de
foro, os Deputados Estaduais respondem:
- perante o Tribunal de Justiça, conforme Art. 83, XI, letra “a”,
da Constituição do Estado, pelo cometimento de crimes de
competência da justiça estadual;
- perante o Tribunal Regional Eleitoral, pelo cometimento de
crimes eleitorais (RTJ 91/59);
- perante o Tribunal Regional Federal, pelo cometimento de
crimes federais (RT659/312).

VEREADORES – Art. 29, VIII, da Constituição Federal, estão circunscritos ao Município:


Inviolabilidade dos Vereadores por suas opiniões, palavras e votos no exercício do
mandato e na circunscrição do Município. Trata-se de imunidade absoluta ou material.
Quanto à imunidade formal, o Superior Tribunal de Justiça decidiu que
é possível a previsão de foro privilegiado a vereador quando vier
previsto na Constituição Estadual.21

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA não possui imunidade absoluta, outorgando-se-lhe


apenas prerrogativas de função (ou imunidade formal), nos termos do Art. 102, I,b, e Art.
86, ambos da Constituição Federal.
A imunidade formal prevista no art. 51, I, e no art. 86, “caput”, da Constituição Federal 22 23,
tem por finalidade tutelar o exercício regular dos cargos de Presidente da República e de
Ministro de Estado, razão pela qual não é extensível a codenunciados que não se encontram
investidos em tais funções. (Inq 4483 AgR-segundo-DF e Inq 4327 AgR-segundo-DF, rel.
Min. Edson Fachin, julgamento em 14 e 19.12.2017. (INQ 4483 e INQ 4327). Boletim
Informativo n. 888, de 11 a 19 de dez 2017.

1ª PRERROGATIVA – Oferecida denuncia pelo Procurador-Geral da República ou


ajuizada queixa contra o Presidente da República, o Supremo Tribunal Federal
deles receberam informações. § 7º A incorporação às Forças Armadas de Deputados e Senadores, embora militares e
ainda que em tempo de guerra, dependerá de prévia licença da Casa respectiva. § 8º As imunidades de Deputados ou
Senadores subsistirão durante o estado de sítio, só podendo ser suspensas mediante o voto de dois terços dos membros
da Casa respectiva, nos casos de atos praticados fora do recinto do Congresso Nacional, que sejam incompatíveis com a
execução da medida.”
21
EMENTA: VEREADOR. IMUNIDADE PARLAMENTAR EM SENTIDO MATERIAL: INVIOLABILIDADE (CF,
art. 29, VIII). DISCURSO PROFERIDO POR VEREADOR NA TRIBUNA DA CÂMARA MUNICIPAL À QUAL SE
ACHA VINCULADO. IMPOSSIBILIDADE DE RESPONSABILIZAÇÃO PENAL (E CIVIL) DO MEMBRO DO
PODER LEGISLATIVO DO MUNICÍPIO. PRESSUPOSTOS DE INCIDÊNCIA DA GARANTIA
CONSTITUCIONAL DA IMUNIDADE PARLAMENTAR. PRÁTICA “IN OFFICIO” E PRÁTICA “PROPTER
OFFICIUM”. RECURSO IMPROVIDO.
(Informativo do STF n. 60, de 12 de setembro de 2011, in
http://www.stf.jus.br//arquivo/informativo/documento/informativo640.htm#transcricao1. Acessdo em 23 de setembro de
2011).
22
Art. 51. Compete privativamente à Câmara dos Deputados: I - autorizar, por dois terços de seus membros, a instauração
de processo contra o Presidente e o Vice-Presidente da República e os Ministros de Estado.
23
Art. 86. Admitida a acusação contra o Presidente da República, por dois terços da Câmara dos Deputados, será ele
submetido a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal, nas infrações penais comuns, ou perante o Senado
Federal, nos crimes de responsabilidade.
8

encaminha um pedido de licença à Câmara dos Deputados, sem a qual não poderá
prosseguir para receber ou refeitar a exordial acusatória.

Antes de admitida a acusação por 2/3 dos membros da Câmara dos Deputados (art.
86, caput, da CF), não pode o STF deliberar acerca do recebimento ou rejeição da
denuncia ou queixa. Ou seja, é imunidade processual pela impossibilidade de sofrer
processo criminal SEM prévia licença da Câmara dos Deputados.
Nada impede a consecução dos atos investigatórios, nem tampouco o oferecimento de
denúncia ou o ajuizamento de queixa. Atribui-se ao instituto da “licença prévia” a
natureza jurídica de condição de prosseguibilidade.

O recebimento da denuncia ou da queixa, pelo STF, tem condão de suspender de suas


funções o Presidente da República (art. 86, §1º, I, da CF). No entanto, se o processo
não se encerrar no prazo de 180 dias, cessa o afastamento cautelar do Presidente da
República, sem prejuízo do regular prosseguimento do processo (art. 86, §2º, da CF).

2ª PRERROGATIVA - Durante a vigência do mandato presidencial (temporariamente), a


persecução penal por infrações penais que não guardem relação com o exercício da
função presidencial (nexo funcional), ainda que praticadas durante o mandato (art. 86,
§4º, da CF) ficam suspensas: “Art. 86, §4º O Presidente da República, na vigência
de seu mandato, não pode ser responsabilizado por atos estranhos ao exercício de
suas funções”. Infrações penais cometidas antes do mandato, também estão
abrangidas.

3ª PRERROGATIVA - O Presidente da Republica não está sujeto a qualquer modalidade


de prisão enquanto não sobrevier sentença condenatória. (Art. 86, §3º Enquanto não
sobrevier sentença condenatória, nas infrações comuns, o Presidente da República
não estará sujeito a prisão).

4ª PRERROGATIVA - Suspenso também o prazo prescricional.

EM SÍNTESE:
1º Licença prévia da Câmara dos Deputados, por 2/3 dos votos
2º Suspensão da persecução penal de atos estranhosao mandato
3º Não está sujeito à prisão por atos estranhos, salvo por sentença condenatória
4º Suspensão do prazo prescricional

O GOVERNADOR DE ESTADO não possui imunidade absoluta, mas prerrogativa de


função.24 STJ só tem competência para processar governador em matéria penal
(Processo: PET 2365).25 Artigo 105, inciso I, letra “a”. 26
24
Observação. O artigo 73, § 3º, da Constituição do Estado de Santa Catarina, dispõe que o Governador do Estado não
estará sujeito à prisão. Ocorre que tal dispositivo foi declarado inconstitucional pela ADIN 1024-7.
25
Notícias do Superior Tribunal de Justiça. In: http://www.iob.com.br/juridico/noticia_integra.asp?id=14949. Acessado
em 20 de agosto de 2006.
26
Notícias do Superior Tribunal de Justiça – 08.03.02 - STJ nega prerrogativa de foro penal para governadores
interinos: A prerrogativa constitucional de foro do Superior Tribunal de Justiça para, originariamente, processar e
julgar nos crimes comuns os governadores de Estado não se estende aos Vice-Governadores ainda que estejam,
interinamente, substituindo o Governador do Estado. Processo: RCL 980
9

Pela Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI-5540), em 2017, o Supremo Tribunal


Federal mudou o entendimento e afastou a necessidade de licença das Assembléias
Legislativas dos Estados para julgamento de Governador do Estado pelo Superior Tribunal
de Justiça (STJ), nos casos de crime comum.27 Ou seja:

“Não há necessidade de prévia autorização da Assembleia Legislativa para o


recebimento de denúncia ou queixa-crime e instauração de ação penal contra
o governador de estado, por crime comum, cabendo ao STJ, no ato de
recebimento da denúncia ou no curso do processo, dispor fundamentadamente
sobre a aplicação de medidas cautelares penais, inclusive afastamento do
cargo”.28

Antigamente, o processo contra o Governador do Estado apresentava paralelismo com o


processo contra o Presidente da Republica e, sendo assim, eventual denuncia ou queixa
contra o Governador do Estado não poderia ser recebida pelo STJ, sem licença prévia da
Assembléia Legislativa do respectivo Estado, concedida por 2/3 dos seus membros.

Assim, o inquérito pode ser encaminhado diretamente ao STJ, órgão competente para
processar originariamente e julgar governador de Estado por crimes comuns.

PREFEITOS MUNICIPAIS – no tocante aos Prefeitos Municipais, os crimes


denominados como de responsabilidade pelo art. 1º, do Decreto-lei 201/67 são crimes
comuns, julgados pelo Poder Judiciário (Tribunal de Justiça), sendo, na realidade, crimes de
responsabilidade as infrações político-administrativas do art. 4º do referido Decreto,
julgados pela Câmara de Vereadores e sancionados pela cassação do mandato. 29 Ao prefeito
aplica-se a Súmula 720 do STF: “A competência do tribunal de justiça para julgar
prefeitos restringe-se aos crimes de competência da justiça comum estadual; nos demais
casos, a competência originária caberá ao respectivo tribunal de segundo grau.”
OBSERVAÇÕES:
a) Em caso de crimes de prefeitos municipais, o Decreto-lei n. 201/1967 permite que
os órgãos federais, estaduais ou municipais, interessados na apuração da
responsabilidade do prefeito, requeiram a abertura do inquérito policial ou a
instauração da ação penal pelo Ministério Público e, se não atendidas, poderão ser
requeridas ao Procurador Geral da República (Art. 2, § 2º, do Dec-Lei n. 201/67).
b) É competência do juízo de primeiro grau de jurisdição apreciar e julgar o crime
praticado por ex-prefeito quando estava no exercício do cargo de prefeito uma vez
que a prerrogativa de foro termina quando extinto o mandato e que, de acordo com

27
Por maioria de votos, na sessão do plenário do dia 03 de maio de 2017, os ministros seguiram entendimento do Relator
(Ministro Luís Roberto Barros) na Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI-5540) e decidiram afastar a necessidade
de licença prévia da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (AL-MG) para o recebimento da denúncia ou queixa-crime
e a instauração de ação penal contra o Governador do Estado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ).
28
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. STF altera jurisprudência e afasta necessidade de licença para julgamento de
governador. Notícias STF. Disponível em http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?
idConteudo=342346&tip=UN. Acessado em 04.05.2017.
29
Neste sentido decidiu o STF em sessão plenária no julgamento do habeas corpus 71.991-1/MG, admitindo, quanto aos
crimes do art. 1º, o processo criminal mesmo após a extinção do mandato (DJU 02.03.1994). Também essa orientação
do STJ (DJU 02.02.1995).
10

as Súmulas 164 do Superior Tribunal de Justiça e 703 do Supremo Tribunal


Federal, o prefeito municipal, após a extinção do mandato, continua respondendo
processo pela prática de crime de responsabilidade previsto no Decreto-Lei n. 201,
de 27.2.67 e isso porque o que qualifica o sujeito ativo deste delito é o seu
cometimento na função, e não a permanência no cargo

JUÍZES DE DIREITO E REPRESENTANTES DO MINISTÉRIO PÚBLICO – Não


estão sujeitos à notificação de comparecimento, salvo se expedida por autoridade judiciária,
tampouco serão presos senão por ordem escrita do Tribunal competente para o julgamento,
salvo em flagrante de crime inafiançável (Lei Orgânica da Magistratura Nacional).

Numa interpretação literal da Carta Federal e das Constituições Estaduais brasileiras, os


procuradores de Justiça ficam sujeitos, nas infrações penais comuns (contravenções penais,
crimes “estaduais” e crimes “federais”), ao Tribunal de Justiça do seu Estado,
diferentemente dos desembargadores, que têm foro especial no STJ. Nos delitos eleitorais,
definidos no Código Eleitoral (Lei 4.737/65), na Lei 6.091/74 e na Lei 9.504/97, todos os
membros do Ministério Público dos Estados estão sujeitos à competência originária do seu
respectivo TRE.

Nesse sentido, o STJ no:


a) HC 38691/MG (STJ, 5ª Turma, rel. Min. Arnaldo da Fonseca, j. 16/12/2004) -
Decidiu-se que a causa deveria ser julgada pelo Tribunal de Justiça de Minas
Gerais;
b) Na Ação Penal 623/DF (STJ, Corte Especial, rel. Min. Laurita Vaz, j. 20/10/2010 –
Decidiu-se que a ação penal deveria ser julgada pelo Tribunal de Justiça do Espírito
Santo.

NÃO SÃO FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS PARA EFEITOS PENAIS, os que exercem


apenas um munus público, em que prevalece um interesse privado: tutores, curadores
dativos, inventariantes judiciais, síndicos falimentares.

CONCURSO DE PESSOAS: Na hipótese de concurso, a elementar funcionário público


de natureza pessoal é comunicável entre os fatos dos participantes, conforme Art. 30, do
Código Penal: “Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal,
salvo quando elementares do crime.”

FATO PRATICADO DURANTE O EXERCÍCIO DO MANDATO. O STF entendeu


que se o deputado federal renunciar a competência do STF continua, eis "não se pode tirar
proveito da própria torpeza"30 (Ação Penal 396, STF)31

30
(Disponivel em http://www.conjur.com.br/2010-out-28/renuncia-deputado-nao-tira-competencia-supremo-julga-
lo. Acessado em 05/11/2010.
31
Disponível em http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?incidente=2316196. Acessado em
05/11/2010
11

IMUNIDADES JUDICIÁRIAS - é a prerrogativa do advogado por suas palavras no


exercício da profissão prevista pela Constituição Federal, Código Penal e Estatuto do
Advogado.32

COMPETÊNCIA – segundo orientação do Superior Tribunal de Justiça, ao Tribunal


Regional Federal julgar, por crimes de competência da Justiça Federal, autoridades que, em
virtude da prerrogativa de função, seriam julgadas por Tribunais de Justiça dos Estados
(assim, o Prefeito Municipal).33 Também, aí, como já entendera quanto ao julgamento
pelo Tribunal Regional Eleitoral de prefeito que cometem crimes eleitorais. 34 Contudo,
o Superior Tribunal de Justiça não segue tal orientação em relação a crimes federais
cometidos pelo Juiz de Direito estadual, entendendo ser competente o Tribunal de Justiça
com argumento de que a Constituição Federal, ao atribuir ao Tribunal de Justiça a
competência para julgá-lo, só excluiu de tal competência a Justiça Eleitoral, não a Justiça
Federal.

IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA – O Supremo Tribunal Federal já dediciu


(Petição nº 3.923-SP),35 por unanimidade que não há prerrogativa de foro para a ação de
improbidade administrativa. Os agentes políticos estão sujeitos ao processo por ato de
improbidade administrativa e sem foro especial. Os agentes políticos submetido à Lei
1.079/50, que é lei especial, também estão submetidos à Lei 8.429/92, que é a lei geral. Em
outras palavras, cabe ação de improbidade administrativa contra os agentes políticos
elencados na Lei 1.079/50.36

PROCESSO DE IMPEACHMENT NAS CASAS LEGISLATIVAS– o processo de


impeachment tem início na Câmara dos Deputados, mediante acusação de qualquer
cidadão no gozo de seus direitos políticos, que somente será admitida por dois terços dos
votos, após oportunizado o contraditório ao acusado (STF, MS 21.564, Octávio Gallotti,
Pleno, DJ 27.08.93). Admitida a acusação, o processo é instaurado perante o Senado
32
“A Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal teve um debate acalorado durante a sessão de julgamento na tarde de
ontem (23/4/02). O tema foi a imunidade judiciária, que é a prerrogativa do advogado por suas palavras no exercício da
profissão prevista pela Constituição Federal, Código Penal e Estatuto do Advogado. Esse foi o argumento do pedido de
Habeas Corpus (HC 81389) formulado pelo advogado Eduardo Pizarro Canelós visando trancar Ação Penal proposta
por uma advogada que o processou por calúnia e difamação. Durante discussões no curso de um processo criminal que
apura um homicídio, a advogada, que é assistente da acusação, se sentiu ofendida com frases ditas por Canelós, defensor
do réu. Dentre outras coisas, o advogado supostamente teria lhe passado trotes telefônicos de cunho erótico-
pornográfico, e ainda teria dito, durante os debates, que a advogada gostava de receber as ligações. O pedido foi
deferido, por maioria de três votos a um, para o trancamento da ação contra o advogado Eduardo Pizarro Canelós.” In:
Boletim Síntese nº 424, Disponível na Internet: www.sintese.com, em 24 de abril de 2002.
33
STJ: DJU, p. 14.171, 02.08.1993, 3ª Seção, Rel. Min. Pedro Acioli.
34
Ação penal de competência originária – Crime – Induzimento a inscrição fraudulenta – Questão de ordem –
Competência. 1. O tipo do art. 290 do Código Eleitoral é crime de mera conduta que se consuma com a prática do
induzimento de pessoa a inscrever-se fraudulentamente, sendo competente para o processo e julgamento a zona eleitoral
onde ocorreu o crime. 2. No caso de ser o réu ocupante do cargo de Prefeito, a competência para processo e
julgamento é do Tribunal Regional Eleitoral ao qual pertence a zona onde ocorreu o crime . (O Informativo
TRE/AC, elaborado pela Secretaria Judiciária. Disponível no site www.tre-ac.gov.br. Acessado em 02/03/2010).
35
Contrária à decisão da Reclamação 2.138-DF.
36
É preciso provar má-fé do administrador para que se caracterize a improbidade administrativa É necessária a
existência da má-fé por parte do administrador para que fique caracterizado ato de improbidade administrativa. Com
essa consideração, a Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça deu provimento a recurso especial do ex-prefeito
Francisco Carlos de Oliveira Sobrinho, do município de Governador Dix-Sept Rosado, no Rio Grande do Norte,
denunciado pela contratação, sem concurso, de dois funcionários. Resp 909446. Disponível em
http://www.stj.gov.br/portal_stj/publicacao/engine.wsp?tmp.area=398&tmp.texto=96804. Acessado em 20.04.2010.
12

Federal funcionando como Presidente o do STF (art. 52, parágrafo únido, da CF). Com a
instauração do processo há suspensão automática das funções (art. 86, § 1º, II, da CF). A
condenação ocorrerá com dois terços dos votos do Senado, estará limitada à perda do
cargo e à inabilitação, por 08 (oito) anos para o exercício de função pública.37

INTRANEUS é qualquer funcionário público que tenha atribuição para praticar (ou deixar
de praticar) o fato considerado criminoso, menos testemunha, perito, tradutor, policial ou juiz
arbitral, para os quais haverá o crime do art. 342 do CP. E o que, sem ser funcionário, o
auxilia é EXTRANEUS. Se houver mais de um, serão EXTRANEI. Ou seja, o estranho.

PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA –
Súmula N. 599, do STJ: O princípio da insignificância é inaplicável aos crimes contra a
Administração Pública.
O princípio da insignificância foi mencionado pela primeira vez por Claus Roxin, em 1964.
Também é chamado de “princípio da bagatela”. O princípio da insignificância não tem
previsão legal no direito brasileiro, pois vem da doutrina e da jurisprudência.
Todavia “a insignificância nos crimes de descaminho tem colorido próprio, diante das
disposições trazidas na Lei n. 10.522/2002”, o que não ocorre com outros delitos, como o
peculato etc.” (AgRg no REsp 1346879/SC, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
26/11/2013).
Já para o STF, a prática de crime contra a Administração Pública, por si só, não
inviabiliza a aplicação do princípio da insignificância, devendo haver uma análise do caso
concreto. (HC 107370, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 26/04/2011 e do HC 112388,
Rel. p/ Acórdão Min. Cezar Peluso, julgado em 21/08/2012)

COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL – CASOS MAIS CONTROVERTIDOS

- Crime de falso testemunho praticado perante a Justiça do Trabalho –


Súmula 165, do STJ;
- Crime praticado por funcionário público federal, no exercício de suas
funções e com estas relacionadas.38
- Justiça federal os crimes da Lei de Segurança Nacional e que, antes eram
julgados pela Justiça Militar;
- Crime praticado contra funcionário público federal em decorrência de sua
função (Súmula 147, STJ);
- Crime contra a administração da Justiça perante a Justiça do Trabalho;
- Crimes previstos em tratado ou convenção internacional. Pelo artigo 109,
V, da Constituição Federal, justifica-se a competência da justiça federal
para julgar o tráfico internacional de entorpecentes (Súmula 522, STF:
“Salvo ocorrência de tráfico para o exterior, quando então a
competência será da Justiça Federal, compete à Justiça dos Estados o
processo e julgamento dos crimes relativos a entorpecentes”) e o tráfico
internacional de crianças.
37
“ Governador não pode ser julgado pela Assembléia Legislativa, mas pelo órgão da Lei 1.079/50, ou seja, Tribunal
especial composto de cinco membros do Legislativo e de cinco desembargadores sob presidência do Presidente do
Tribunal de Justiça local”. Ibid
38
STF, 2ª Turma, Rel Min. Paulo Brossad, DJU 22.04.1994, p. 8.943.
13

- Quanto aos crimes contra a organização do trabalho (artigos 197 a 207, CP)
quando considerados coletivamente e não quando se tratar de lesão a
direito individual do trabalhador.
- Quanto às causas relativas aos direitos humanos, conforme a Constituição
Federal.39
- Os crimes em detrimento de sociedade de economia mista federal (ex:
Banco do Brasil e Petrobrás) são de competência da Justiça Estadual,
por isso que não são amparados no art. 109, IV, da CF: “Compete à
Justiça Comum Estadual processar e julgar as causas cíveis em que é
parte sociedade de economia mista e os crimes praticados em seu
detrimento.” (Súmula 42/STJ). O Banco do Brasil é uma sociedade de
economia mista. Ademais, o Supremo Tribunal já sumulou o
entendimento de que compete à justiça estadual julgar as causas em que a
sociedade de economia mista seja parte. Súmula 556: "É competente a
Justiça Comum para julgar as causas em que é parte sociedade de
economia mista." Súmula 517: "As sociedades de economia mista só têm
foro na Justiça Federal, quando a União intervém como assistente ou
opoente."
- Compete à justiça estadual comum, na vigência da Constituição de 1988, o
processo por contravenção penal, ainda que praticada em detrimento de
bens, serviços ou interesse da União ou de suas unidades” (Súmula
38/STJ).
- Estão excluídos também da competência da justiça federal os crimes
federais praticados por menores inimputáveis. A criança e o adolescente
não cometem crime ou contravenção, mas ato infracional, e nem se lhes
aplica pena, mas medida socioeducativa, por isso se submetem à
jurisdição do Juiz da Infância e da Juventude. (STJ, CC 31.786, 3ª Seção,
DJ 20.08.01).
- Os crimes de lavagem ou ocultação de bens, dinheiro e valores estão
previstos na Lei 9.613/98.40 A competência para o crime de lavagem de
dinheiro é definida diante do caso concreto e em função do crime
antecedente (há entendimento contrário: são da Justiça Federal pelos
tratados internacionais em que o Brasil se comprometeu a cumprir).41 Se
39
Art. 109 Aos juízes federais compete processar e julgar: (...) V-A - as causas relativas a direitos humanos a que se
refere o § 5º deste artigo. (...)§ 5º Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da
República, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos
humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do
inquérito ou processo, incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal.
40
Lavagem de dinheiro é o processo pelo qual o criminoso transforma recursos oriundos de atividades ilegais em ativos
com origem aparentemente legal. Essa prática geralmente envolve múltiplas transações, para ocultar a origem dos ativos
financeiros e permitir que eles sejam utilizados sem comprometer os criminosos. A dissimulação é, portanto, a base para
toda operação de lavagem que envolva dinheiro proveniente de um crime antecedente.
41
Lavagem de dinheiro cometida por servidor estadual é de competência da Justiça Federal [...] Atendem aos
requisitos necessários para a definição da competência federal, sendo eles: -os previstos em tratado ou convenção
internacional; e, - os crimes à distância, quando a infração penal ocorreu em um país e o resultado em outro ( depósitos
em contas bancárias no exterior). “Quanto ao primeiro requisito, tanto o crime de corrupção como o crime de lavagem
de dinheiro encontram previsão em tratado ou convenção internacional. Com efeito, a corrupção é delito que o Brasil se
comprometeu a combater, no âmbito do direito internacional. [...] Da mesma forma, a lavagem de dinheiro (em sim
mesma, sem considerar qualquer dos delitos antecedentes) é crime previsto em vários tratados internacionais ratificados
pelo Brasil”, disse o Magistrado do processo. Justiça Federal. Seção Judiciária do Estado de São Paulo. Processo:
14

o crime anterior for de competência da justiça federal, caberá a esta o


julgamento do processo relacionado ao crime acessório. Compete à
justiça estadual, por exemplo, o crime de lavagem ou ocultação de bens,
direitos e valores oriundos, em tese, de crimes falimentares, estelionados
e falsidade, se inexistente, em princípio, imputação de delito antecedente
afeto à justiça federal. No mesmo sentido, na Lavagem de dinheiro
conexo com roubo de bens pertencentes ao Banco do Brasil.
- A competência dos crimes contra a fauna silvestre é da justiça federal
somente se a conduta ocorrer em terras de propriedade da União ou e suas
entidades autárquicas ou fundacionais, quando caracterizado o seu
interesse direto e específico. O crime contra animal doméstico e de
propriedade particular é de competência da justiça estadual. (STJ, 3ª
Seção, j. 24.05.00).42
- Os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a
competência da justiça militar, são de competência da justiça federal (Art.
109, IX, da Constituição Federal).
- Os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro são de
competência da justiça federal (Art. 109, X, da Constituição Federal) –
Artigos 309, CP e 338, CP, e ainda Estatuto do Estrangeiro (art. 125, Lei
6815/80).
- “Compete à justiça comum estadual processar e julgar crime em que o
indígena figure como autor ou vítima” (Súmula 140/STJ). Dentro ou
fora da reserva indígena (Exemplo: genocídio contra silvícolas). Porém,
o crime praticado por indígena, ou contra ele, relacionados com disputa
de terra, atrai a competência da justiça federal. 43 A mesma competência
no caso dos crimes de cárcere privado e de extorsão com resultado morte
praticados por índios sob liderança do cacique, visando à cobrança de
percentual sobre o plantio de terras cultivadas por não-indígena dentro da
reserva índígena.44 Observação: EXAME ANTROPOLÓGICO45 -
ÍNDIO. AUSÊNCIA DE EXAME ANTROPOLÓGICO. RÉU
PLENAMENTE INTEGRADO À SOCIEDADE.
0007986-86.2008.403.6181. Disponível em http://www.jfsp.jus.br/20140714-lavagemcompetencia/. Acessado em
16/07/2014.
42
E ainda, PENAL. CRIME CONTRA A FLORA. LEI 9605/98. JUSTIÇA FEDERAL. DISPOSIÇÕES
CONSTITUCIONAIS. COMPETÊNCIA. CANCELAMENTO DA SÚMULA Nº 91 PELO E. SUPERIOR
TRIBUNAL DE JUSTIÇA. PROVIMENTO DO RECURSO. 1.- A competência da Justiça Federal é delimitada pela
norma preconizada no art. 109 da Constituição Federal. 2.- A Lei nº 9.605/98 revogou a Lei nº 5.197/67, não tendo
especificado a competência para processar e julgar as ações que atingem os bens nela protegidos. 3.- À Justiça Estadual,
de competência remanescente e residual, caberá processar e julgar os crimes previstos na Lei Ambiental, à exceção da
competência federal decorrente do disposto no art. 109 da Carta Magna. 4.- Reconhecida a competência da Justiça
Federal para processar e julgar o crime contra a flora relacionado à destruição da mata nativa na região marginal à UHE
de Ilha Solteira. 5.- Recurso provido. (TRF 3ª REGIÃO - PROC.: 2004.61.24.000473-0 RES 3956 (DJU 10.01.06,
SEÇÃO 2, P. 149, J. 29.11.05)
43
(STF, HC 81827, Maurício Correa, decisão monocrática, DJ 05.04.02.)
44
TRF 4ª , 8ª T, J. 25.06.03
45
EXAME ANTROPOLÓGICO - ÍNDIO. AUSÊNCIA DE EXAME ANTROPOLÓGICO. RÉU PLENAMENTE
INTEGRADO À SOCIEDADE. PRESCINDIBILIDADE. EIVA INEXISTENTE. "Havendo prova inequívoca de ser
o índio completamente integrado na civilização, sendo eleitor, habilitado para dirigir veículo, operador em instituição
financeira, pode o Juiz prescindir do laudo antropológico para aferir a imputabilidade penal" (HCn.9403/PA, rel. Min.
José Arnaldo da Fonseca, Quinta Turma, julgado em 16. 09 . 99. Disponível em:
www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia,acessoem13abr.2010).
15

PRESCINDIBILIDADE. EIVA INEXISTENTE. Havendo prova


inequívoca de ser o índio completamente integrado na civilização, sendo
eleitor, habilitado para dirigir veículo, operador em instituição
financeira, pode o Juiz prescindir do laudo antropológico para aferir a
imputabilidade penal. (HCn.9403/PA, rel. Min. José Arnaldo da Fonseca,
Quinta Turma, julgado em 16. 09 . 99. Disponível em:
www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia,acessoem13abr.2010).
- “Compete à justiça estadual processar e julgar o crime de falsa anotação na
Carteira de Trabalho e Previdência Social, atribuído à empresa privada”
(Súmula 62/STJ). Todavia, o STF já decidiu que a competência é da
Justiça Federal. (ACO – Ação Civel Originária 1479/PR, conflito
negativo de competência entre os Ministério Público Federal e Estadual,
em que se discute a quem caberia apurar possível prática de crime
previsto no art. 297, § 4º, do Código Penal. Relator Min. Dias Toffoli.
Autor MP Federal. Réu MP do Estado do Paraná. J. 28.05.2010.
puclicado no DJE nº 100, de 02/06/2010).
- Falsificação de diploma de curso superior é de competência da justiça
federal, ainda que expedido por faculdade ou universidade particular, já
que está sujeito a registro no Ministério da Educação – MEC. 46 Já as
falsificações de diplomas de 1ª e 2ª graus, desde que não se refiram a
estabelecimento federal de ensino é de competência da justiça estadual.47
- Súmula 704, do STF: “Não viola as garantias do juiz natural, da ampla
defesa e do devido processo legal a atração por continência ou conexão
do processo do co-réu ao foro por prerrogativa de função de um dos
denunciados”.
- Crimes contra o sistema financeiro nacional, nos termos do artigo 26,da Lei
7.492/1986: “A ação penal, nos crimes previstos nesta Lei, será
promovida pelo Ministério Público, perante a Justiça Federal.” Se
houver inércia do Ministério Público Federal, poderá o ofendido
representar ao Procurador-Geral da República (seria o caso de AÇÃO
PENAL PÚBLICA SUBSIDIÁRIA DA PÚBLICA, art. 27, da Lei n.
7.492/1986)48

- Crimes de competência da Justiça Federal:

46
TRF, 4ª R, HC 9004237038, Volkmer Castilho, 3ª T. DJ 06.02.91.
47
Súmula 31/ ex-TFR
48
Art. 27. Quando a denúncia não for intentada no prazo legal, o ofendido poderá representar ao Procurador-Geral da
República, para que este a ofereça, designe outro órgão do Ministério Público para oferecê-la ou determine o
arquivamento das peças de informação recebidas.
16

o Roubo, Furto e Peculato (assalto à Caixa Econômica Federal,49


Correios50)51, por exemplo, pois são empresas públicas. Também
contra entidades autárquicas INSS e banco central). JÁ NÃO É
PARA CASA LOTÉRICA;52
o Estelionato (Saque ilegal de FGTS e seguro-desemprego; fraude
contra o INSS)
o Emissão de moeda falsa (se a falsificação for grosseira, o crime é de
estelionato e a competência é da Justiça Estadual)
o Peculato (Crimes praticados por agentes da Receita Federal, da
Polícia Federal ou qualquer funcionário público federal que usa o
cargo para apropriar-se ou desviar dinheiro ou bem público)
o Corrupção ativa (oferecimento de vantagem a servidor público
federal para que deixe de efetuar ato próprio de seu dever de ofício)
o Corrupção passiva (recebimento de vantagem por servidor público
federal)
o Concussão (é a corrupção passiva, só que mediante constrangimento.
Policial federal que exige dinheiro para não efetuar uma prisão, por
exemplo. A vítima temendo represália, cede à exigência)
o Prevaricação: quando um funcionário público federal retarda ou
deixa de praticar, indevidamente, ato de ofício, ou praticá-lo contra a
lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal Exemplo:
delegado federal que nunca instaura um inquérito policial para apurar
um crime de furto, porque acha que isso é pouco grave
o Advocacia administrativa (quando servidor público federal,
valendo-se do cargo ocupado ou do prestígio no ambiente de

49
PECULATO. APROPRIAÇÃO DE VALORES DEPOSITADOS NA CAIXA ECONÔMICA FEDERAL. PREJUÍZO
A BENS, INTERESSES E SERVIÇOS DA AUTARQUIA. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL. SENTENÇA
QUE APRESENTA CONTRADIÇÃO. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE. PROVIMENTO PARCIAL DO
RECURSO. É COMPETENTE A JUSTIÇA FEDERAL PARA APRECIAR CAUSAS CUJOS FATOS
CONFIGUREM CRIMES CONTRA BENS, INTERESSES E SERVIÇOS DA CAIXA ECONÔMICA FEDERAL
(APELAÇÃO CRIMINAL Nº 1247 RN).
50
Conforme entendimento do STJ em decisão proferida em conflito de competência que segue: CC 108.946 – PR
20/04/2010 “[...] Conforme entendimento pacificado desta Corte, compete à Justiça Estadual o julgamento de delitos
praticados em desfavor de agência franqueada dos Correios, que é a responsável por eventuais perdas, danos, roubos,
furtos ou destruição de bens cedidos pela franqueadora, não configurado prejuízo à EBCT. A competência seria da
Justiça Estadual e não da Federal”
51
Todavia, há entendimentos contrários, como por exemplo:
COMPETÊNCIA. ROUBO. CORREIOS. No caso, compete à Justiça estadual o processo e julgamento da ação penal
instaurada em razão do roubo qualificado perpetrado na agência dos Correios, pois os valores subtraídos, conforme as
instâncias ordinárias, eram de exclusiva propriedade do Banco Postal (convênio entre o Bradesco e a EBCT). Assim, o
prejuízo é dirigido ao franqueado, sem que haja qualquer lesão a bens, serviços, ou interesses da União. Precedentes
citados: HC 109.810-MG, DJe 19/12/2008; HC 39.200-SP, DJ 19/12/2005; CC 46.791-AL, DJ 6/12/2004; CC 27.343-
SP, DJ 24/9/2001, e CC 30.537-PR, DJ 20/8/2001. HC 96.684-BA, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura,
julgado em 5/8/2010.
52
COMPETÊNCIA. ROUBO. CASA LOTÉRICA. Cinge-se a questão em saber se a Justiça Federal é a competente
para o processo e julgamento do feito relativo ao delito de roubo em casa lotérica. A Seção conheceu do conflito e
declarou competente o juízo de Direito, o suscitado, por entender que o roubo ocorrido em casa lotérica,
estabelecimento de pessoa jurídica de direito privado permissionária de serviço público, não caracteriza hipótese de
competência da Justiça Federal, pois inexiste detrimento de bens, serviços ou interesses da União e suas entidades.
Precedente citado: CC 40.771-SP, DJ 9/5/2005. CC 100.740-PB, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado
em 12/8/2009.
17

trabalho, defende interesse alheio, privado, perante a administração


pública)
o Tráfico de influência (Quando alguém, gabando-se de influência
junto a funcionário público federal, pede, exige, cobra ou recebe
qualquer vantagem material ou não, para influenciar tal funcionário a
praticar um ato que beneficiará terceiro)
o Emprego irregular de verbas ou rendas públicas federais (se a
verba repassada for incorporada ao patrimônio do Estado ou
município, a exemplo do que ocorre com o Fundo de Participação
dos Municípios, a competência é da Justiça Estadual. Se a verba
desviada tiver sido repassada pela União por meio de convênio e
estiver sujeita à prestação de contas perante órgão federal (TCU e
ministérios, por exemplo), a competência é da Justiça federal, com
atuação do MPF.
o Contrabando ou descaminho – Súmula n. 151, do STJ.53
o
o Passaporte falso;

o Rádios clandestinas;

o Crimes contra ordem tributária - (sonegação de tributos federais);

o Crimes contra a Previdência - (sonegação de contribuição


previdenciária e apropriação indébita das contribuições recolhidas do
empregado, quando houver prejuízo a autarquia federal) ;

o Crimes Ambientais - (quando praticados em áreas protegidas pela


União ou de interesse da União, como APAs criadas por lei federal e
rios de divisa entre estados. Também são crimes ambientais extração
ilegal de areia e de outros minerais do subsolo;

o Trabalho escravo;

o Crimes contra a ordem econômica - (formação de cartel,


discriminar preços de bens ou serviços com o objetivo de formar
monopólio subordinar a venda de bem ou a utilização de serviço à
aquisição de outro bem);

o Crimes contra o sistema financeiro - (lavagem de dinheiro, gestão


fraudulenta e/ou temerária de instituição financeira, funcionamento
irregular de instituição financeira, remessa ilegal de dinheiro para o
exterior, fraudes bancárias);

53
“A COMPETENCIA PARA O PROCESSO E JULGAMENTO POR CRIME DE CONTRABANDO OU
DESCAMINHO DEFINE-SE PELA PREVENÇÃO DO JUIZO FEDERAL DO LUGAR DA APREENSÃO DOS
BENS.”
18

o Tráfico internacional de drogas, nos termos da Súmula n. 522, do


Supremo Tribunal Federal: “Salvo ocorrência de tráfico para o
exterior, quando, então, a competência será da Justiça Federal,
compete à Justiça dos Estados o processo e julgamento dos crimes
relativos a entorpecentes”;

o Pornografia infantil na internet.54

a) Normalmente é federal, pois geralmente configura crime


transnacional. Se for para exterior por e-mail; ou por rede social
ou por site aberto, acessível ao público internacional.

b) Se for por e-mail restrito ao Brasil, justiça estadual


Isso porque, o uso da internet em crime não basta para determinar
competência da Justiça Federal.

Por exemplo: "Aos juízes federais compete processar e julgar:


os crimes previstos em tratado ou convenção internacional,
quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou
devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou
reciprocamente."(Constituição Federal, artigo 109, inciso V).
Em se evidenciando que os crimes de divulgação de fotografias
e filmes pornográficos ou de cenas de sexo explícito envolvendo
crianças e adolescentes não se deram além das fronteiras
nacionais, restringindo-se a uma comunicação eletrônica entre
duas pessoas residentes no Brasil, não há como afirmar a
competência da Justiça Federal para o processo e julgamento
do feito. Conflito conhecido, para declarar competente o Juízo
Estadual suscitante.” (STJ - CC 57411/RJ - Relator (a): Ministro
Hamilton Carvalhido - Data do Julgamento 13/02/2008).

c) Ou seja, o crime previsto no artigo 241-A da Lei 8.069/90, relativo


à divulgação de imagens pornográficas de crianças e
adolescentes, quando praticado pela internet, “tornando-as
disponíveis para um número indefinido de pessoas e, ao menos
potencialmente, para usuários residentes fora do território
nacional”, é da competência da Justiça Federal, conforme
entendimento da 3ª Seção do Superior Tribunal de Justiça.

o Furto de bem pertencente à Caixa Econômica Federal;


54
Conforme a Constituição, é da sua competência a apuração de infrações penais de repercussão interestadual ou
internacional que exijam repressão uniforme. A atuação da Polícia Federal também possui previsão legal no artigo 1º,
inciso III, da Lei 10.466/02. Porém, o STJ tem entendido que o simples fato de o crime ter sido praticado utilizando a
rede mundial de computadores não impõe a competência federal, já que é imprescindível a internacionalização da
prática delituosa. E, por isso, a Justiça estadual deve julgar armazenamento de vídeos de pornografia infantil
obtidos na internet. STJ. CC 103011. Publicado no DJE de 23.03.2013. Disponível em
http://www.stj.jus.br/webstj/processo/justica/detalhe.asp?numreg=200900222616. Acessado em 17/04/2013.
19

CASOS DA JUSTIÇA ESTADUAL – CASOS MAIS CONTROVERTIDOS

- Crimes contra a Honra - Redes Sociais – Internet – Para o STJ, no caso


de crime contra a honra praticado por meio da Internet, em redes sociais,
ausentes as hipóteses do Art. 109, IV e V, da CRFB/88, sendo as ofensas
de caráter exclusivamente pessoal, e a conduta, dirigida a pessoa
determinada e não a uma coletividade, afastam-se as hipóteses do
dispositivo constitucional e, via de consequência, a competência da
Justiça Federal. Ou seja: “Verificando-se que as ofensas possuem caráter
exclusivamente pessoal, as quais foram praticadas pela ex-namorada da
vítima, não se subsumindo, portanto, a ação delituosa a nenhuma das
hipóteses do dispositivo constitucional, a competência para processar e
julgar o feito será da Justiça Estadual. (STJ CC 121.431/SE, Rel.
Ministro Marco Aurélio Bellizze, 3ª Seção, julgado em 11/04/2012.
Publicado no DJe 07/05/2012).

- “Compete à Justiça Estadual o processo e julgamento dos crimes de


falsificação e uso de documento falso relativo a estabelecimento
particular de ensino.” (Súmula 104, do STJ).

- Crimes contra a economia popular (arts. 2º a 4º, da Lei 1.521/1951), nos


termos da Súmula n. 498, do STF: “Compete à Justiça dos Estados,
ambas as instâncias, o processo e o julgamento dos crimes contra a
economia popular.”

- Presas em flagrante no Aeroporto de Brasília com drogas serão


julgadas pela justiça comum - A Primeira Turma do Supremo Tribunal
Federal (STF) negou provimento ao Recurso Extraordinário (RE) 463500,
e determinou que cabe à justiça do Distrito Federal (DF) processar e
julgar duas mulheres, presas em flagrante no Aeroporto Internacional de
Brasília, com seis quilos de cocaína, durante conexão em um vôo entre
Cuiabá e São Paulo (...). O julgamento foi retomado na tarde de hoje (4)
com o voto-vista do ministro Cezar Peluso, que à época fazia parte da
Primeira Turma. Ele votou na mesma linha do ministro Marco Aurélio,
confirmando que a prisão das mulheres ocorreu em razão do flagrante da
posse da droga quando elas já estavam em solo, fora da aeronave. 55
Ressalte-se que o artigo 109, IX, da Constituição Federal, que garante a
competência da justiça federal para os crimes cometidos a bordo de
aeronaves.

- Pelo STJ, cabe à Justiça estadual processar e julgar eventuais crimes


praticados por médicos conveniados do Sistema Único de Saúde (SUS) e
profissionais dos hospitais. No caso, os médicos conveniados dos SUS e
os profissionais dos hospitais que cobram indevidamente honorários

55
http://www.stf.gov.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=79009&tip=UN. Acessado em 18/12/2007.
20

médicos de pacientes atendidos pelo sistema público de saúde e falsificam


documentos públicos (autorização para internação hospitalar – AIH), com
o objetivo de auferir vantagens econômicas (Processo CC 84813, Min.
Arnaldo Esteves Lima, 3ª Seção do STJ).56

- Súmula 721, do Supremo Tribunal Federal: “A competência


constitucional do Tribunal do Júri prevalece sobre o foro por
prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela Constituição
estadual.” Exceto para Deputados Estaduais, conforme entendimento do
Superior Tribunal de Justiça:

COMPETÊNCIA. CRIMES DOLOSOS CONTRA A VIDA.


DEPUTADO ESTADUAL.
Cuida-se de conflito de competência cuja essência é saber a quem
cabe julgar os crimes dolosos contra a vida quando praticados por
deputado estadual, isto é, se a prerrogativa de função desses
parlamentares está inserida na própria Constituição Federal ou
apenas na Constituição do estado. A Seção, por maioria, entendeu
que as constituições locais, ao estabelecer para os deputados
estaduais idêntica garantia prevista para os congressistas,
refletem a própria Constituição Federal, não se podendo,
portanto, afirmar que a referida prerrogativa encontra-se
prevista, exclusivamente, na Constituição estadual. [...] Diante
desses fundamentos, por maioria, conheceu-se do conflito e se
declarou competente para o julgamento do feito o Tribunal de
Justiça. CC 105.227-TO, Rel. Min. Maria Thereza de Assis
Moura, julgado em 24/11/2010.

- JUÍZO NATURAL - Outro aspecto é o juízo natural. Assim, se o


Promotor de Justiça de São Paulo é acusado de crime cometido em Belo
Horizonte, não será julgado pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais,
mas de São Paulo.57 Tal característica também tem os policiais militares,
pela Súmula 78, do STJ: “Compete à Justiça Militar processar e julgar
policial de corporação estadual, ainda que o delito tenha sido praticado
em outra unidade federativa.” Todavia sendo crime de policial contra
militar das Forças Armadas, a competência é da Justiça Militar da União.

Finalmente, o conceito de funcionário público contido no Art. 327 e seu § 1º, do


Código Penal, também foi ampliado pelos §§ 3º e 4º, do Art. 297, do Código Penal, para
incluir o empregado de uma empresa prestadora de serviços, contratada ou conveniada.
(Antônio Lopes Monteiro)58

EM SÍNTESE

56
In: http://www.stj.gov.br/webstj/processo/justica/detalhe.asp?numreg=200700989424. Acessado em 23.06.2009.
57
Idem.
58
Crimes contra Previdência Social. São Paulo: Saraiva, 2000
21

AUTORIDADES COMPETÊNCIA

Deputados Federais, Supremo Tribunal Federal – crimes federais,


Senadores e Presidente da estaduais e eleitorais
República

Superior Tribunal de Justiça – crimes federais e


Governador do Estado estaduais
Justiça Eleitoral – crimes eleitorais

Tribunal Regional Federal – crimes federais


Deputados Estaduais59 e
Tribunal de Justiça do Estado – crimes estaduais
Prefeitos Municipais60
Tribunal Regional Eleitoral – crimes eleitorais

Tribunal de Justiça do Estado – crimes estaduais e


crimes federais63 (inclusive os procuradores de
justiça – Art. 96, III, da C.F.)64
Juízes de direito e Ministério Tribunal Regional Eleitoral – crimes eleitorais.
Público61 Superior Tribunal de Justiça – para os
(Possuem ainda o Juízo Natural)62 desembargadores – em crimes estaduais e
federais. 65
Tribunal Superior Eleitoral - para os
desembargadores em crimes eleitorais

COMPETÊNCIA – CRIMES DOLOSOS CONTRA A VIDA

A prerrogativa de foro prevalece na competência específica da Constituição Federal


(Exemplo: os Juízes e Promotores de Justiça Estaduais nos crimes dolosos contra a
vida serão julgados pelo Tribunal de Justiça). Contudo, tal prerrogativa não alcança
59
STJ: CC 105.227-TO, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 24/11/2010
60
Súmula 720 do STF: “A competência do tribunal de justiça para julgar prefeitos restringe-se aos crimes de
competência da justiça comum estadual; nos demais casos, a competência originária caberá ao respectivo tribunal de
segundo grau.”
61
A Constituição Federal estabelece: Art. 96 - Compete privativamente III - aos Tribunais de Justiça julgar os juízes
estaduais e do Distrito Federal e Territórios, bem como os membros do Ministério Público, nos crimes comuns e de
responsabilidade, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral.
62
Ex: Promotor de Justiça ou Juiz de direito pertencentes ao Estado de São Paulo e que venham a praticar um crime na
cidade de Belo Horizonte, serão julgados pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.
63
STF - Habeas Corpus 77.558/ES e 68.935/SP, emendas publicadas nos Informativos do STF 148 e 142.
64
Conforme Constituição Estadual de Santa Catarina, o Procurador de Justiça deve ser processado e julgado, por
infrações comuns, pelo Tribunal de Justiça do Estado, a saber: “Art. 83. Compete privativamente ao Tribunal de
Justiça: (...) XI - processar e julgar, originariamente: a) nos crimes comuns, o Vice-Governador do Estado, os
Deputados e o Procurador-Geral de Justiça; b) nos crimes comuns e de responsabilidade, os Secretários de Estado,
salvo a hipótese prevista no art. 75, os juízes, os membros do Ministério Público e os Prefeitos, ressalvada a
competência da Justiça Eleitoral;”
65
Os desembargadores a competência será do Superior Tribunal de Justiça, conforme artigo 105, inciso I, letra “a” , da
Constituição Federal, a saber: “Art. 105 - Compete ao Superior Tribunal de Justiça: I - processar e julgar,
originariamente: a) nos crimes comuns, os Governadores dos Estados e do Distrito Federal, e, nestes e nos de
responsabilidade, os desembargadores dos Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal, os membros dos
Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, os dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais Regionais
Eleitorais e do Trabalho, os membros dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios e os do Ministério Público
da União que oficiem perante tribunais;”
22

aqueles que têm prerrogativa prevista na Constituição do Estado (Ex: Procuradores do


Estado, Secretários etc que serão julgados pelo Tribunal de Júri, nos crimes dolosos
contra a vida). Nesse sentido, Súmula 721, do Supremo Tribunal Federal: “A
competência constitucional do Tribunal do Júri prevalece sobre o foro por prerrogativa
de função estabelecido exclusivamente pela Constituição Estadual.”

CONCURSO DE PESSOAS E FORO PRIVILEGIADO

A Súmula 704, do Supremo Tribunal Federal, estabelece: “Não viola as garantias do


juiz natural, da ampla defesa e do devido processo legal a atração por continência ou
conexão do processo do co-réu ao foro por prerrogativa de função de um dos
denunciados”. Ou seja, o réu com foro privilegiado chama os demais co-réus e
todos respondem no mesmo processo (regra geral), EXCETO:
a) quando o próprio tribunal determinar a separação do processo, nos termos do artigo
80, do Código de Processo Penal;
b) quando se tratar de crime doloso contra vida, em que será obrigatória a separação do
processo, por previsão constitucional; e,
c) quando ocorrer as situações do artigo 79, do CPP, a saber: “Art. 79 - A conexão e a
continência importarão unidade de processo e julgamento, salvo: I - no concurso
entre a jurisdição comum e a militar; II - no concurso entre a jurisdição comum e
a do juízo de menores.”

REFERÊNCIAS

AZAMBUJA, Darcy. Introdução à ciência política. 17ª ed. São Paulo: Globo, 2005.

BRASIL. Código Penal. Atualizado — qualquer editora.

DELMANTO, Celso, DELMANTO, Roberto e DELMANTO JÚNIOR, Roberto. Código


Penal Comentado. 4ª ed. São Paulo: Renovar, 1998.

FRANCO, Alberto Silva e outros. Código penal e sua interpretação jurisprudencial. São
Paulo, RT, 1997.

FERNANDES, Antônio Scarance. Processo Penal Constitucional. 3ª ed. São Paulo:


Revista dos Tribunais, 2002

DEMO, Roberto Luis Luchi. Competência originária para execução penal. Porto Alegre:
Notadez. Revista Jurídica, março/2006.

JURISPRUDENCIA VARIADA RELACIONADA COM OS TEMAS DEBATIDOS


1

RESUMO Nº 2 - DP IV1

DOS CRIMES

São Crimes Praticados por Funcionário Público contra a Administração em Geral:


a) Peculato – Arts. 312 e 313;
b) Inserção de Dados Falsos em Sistema de Informações – Art. 313-A;
c) Modificação ou Alteração de Dados não Autorizada de Sistema de Informações –
Art. 313 – B;
d) Extravio, Sonegação ou Inutilização de Livro ou Documento – Art. 314;
e) Emprego Irregular de Verba Pública – Art. 315;
f) Concussão – Art. 316;
g) Excesso de Exação – Art. 316, §§ 1º e 2º;
h) Corrupção Passiva – Art. 317;
i) Facilitação de Contrabando ou Descaminho – Art. 318;
j) Prevaricação – Art. 319;
k) Condescendência Criminosa- Art. 320;
l) Advocacia Administrativa – Art. 321;
m)Violência Arbitrária – Art. 322;
n) Abandono de Função – Art. 323;
o) Exercício Funcional Ilegalmente Antecipado- Art. 324;
p) Violação de Sigilo Funcional – Art. 325;
q) Violação de Sigilo de Proposta de Concorrência – Art. 326;

PECULATO
Art. 312 - Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou
qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em
razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
§ 1º - Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não
tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que
seja subtraído, em proveito próprio ou alheio, valendo-se de facilidade
que lhe proporciona a qualidade de funcionário.
Peculato culposo
§ 2º - Se o funcionário concorre culposamente para o crime de outrem:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.
§ 3º - No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se precede à
sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é posterior, reduz
de metade a pena imposta.

Protege-se a Administração Pública, preservação do erário público.

Figuras típicas:

! Peculato-Apropriação (Art. 312, caput, 1ª parte)


1
Paulo Calgaro de Carvalho – professor UNISUL
2

1) Tipo fundamental - - !
! Peculato-Desvio (Art. 312, caput, 2ª parte)

2) Peculato-Furto – (Art. 312, § 1º)


3) Peculato-Culposo – (Art. 312, § 2º)
4) Peculato-estelionado – (Art. 313)
5) Peculato-pirataria de dados (Art. 313-A)
6) Peculato-hacker (Art. 313-B)
7) Peculato-equiparado (Art. 552, da CLT)

Sujeito Ativo: crime próprio, só pode ser cometido por funcionário público. 2
Todavia, pode ser cometido por particular em concurso de pessoas (Art. 29, do Código
Penal) por incidência do Art. 30, do Código Penal.
Sujeito Passivo: o Estado. Sendo bem particular sob responsabilidade da
Administração Pública (Ex: veículo apreendido), também o proprietário ou possuidor
figuram como sujeito passivo.
Objeto Material: é a coisa sobre que recai a conduta do funcionário público:
dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel de natureza pública ou privada. Se os bens
foram particulares, é chamado na doutrina de peculato malversação.
Dinheiro: moeda metálica ou papel-moeda circulante no País.
Valor: é qualquer título ou papel de crédito, documento negociável representativo de
obrigação em dinheiro ou em mercadoria: apólices, ações, Letras e Câmbio, etc.
O objeto material é o mesmo do furto, do roubo e da apropriação indébita. É
necessário que a coisa seja pública ou que, sendo particular, esteja sob guarda da
Administração Pública.
Peculato culposo (Art. 312, § 2º, do Código Penal): não admite tentativa. Ex:
funcionário público que deixa serventia de cartório por conta de outrem, sem conhecimento
oficial de autoridade superior, criando culposamente condições favoráveis à prática de
ilícitos administrativos e criminais.
Extinção da Punibilidade (SOMENTE PARA PECULATO CULPOSO) - (Art.
312, § 3º):
a) Ocorrendo reparação do dano antes da sentença irrecorrível, extingue-se a
punibilidade, prejudicando o Art. 16, do Código Penal. Se lhe é posterior, reduz
a metade a pena imposta.
b) A reparação do dano pode efetuar-se mediante restituição do objeto material ou
pela indenização do valor correspondente.
c) Pode ser promovida (tal reparação) pelo sujeito ativo ou por terceiro em seu
nome.

2
15/3/2005 - TRF 4ª Região. Peculato. Funcionário Público. Desclassificação. O réu, funcionário da Caixa Econômica
Federal, condenado pelo crime de peculato, interpôs apelação criminal argüindo a desclassificação do delito para
estelionato ou apropriação indébita. Sustentou o acusado não se enquadrar no crime do art. 312 do CP, pois não era
mais funcionário público na época do recebimento da denúncia. A 8ª Turma, por unanimidade, decidiu que não é
relevante a caracterização do tipo penal, se o agente deixou de ser funcionário público após a prática do crime, tendo
em vista que o acusado valeu-se da facilidade propiciada por sua função de caixa executivo da CEF para efetuar
saques indevidos de contas bancárias, dando parcial provimento ao apelo apenas para reduzir a pena imposta. Foi rel.
o Des. LUIZ FERNANDO WOWK PENTEADO. (Ap. Crim. 2001.71.05.001820-3/RS). In:
http://www.jurua.com.br/newsletter_view1.asp?recno=6916. Acessado em 28.03.05.
3

d) A extinção da punibilidade aproveita somente ao funcionário autor do peculato


culposo e não se estende ao terceiro.
e) O ressarcimento do dano ou restituição da coisa no peculato doloso não
extingue a punibilidade, mas pode influir na pena, pois o ressarcimento do
dano, antes da denúncia, implica em redução de pena, nos termos do art. 16 do
CP. Após, é apenas atenuante genérica – 65, III, d, do CP.
Formas qualificadas: se o autor do peculato, em qualquer de suas formas, for
ocupante de cargo em comissão, função de direção ou de assessoramento, aplica-se o Art.
327, § 2º, do Código Penal.

OBSERVAÇÕES:

a) Existe peculato DE USO? SOMENTE se o bem for FUNGÍVEL (ex.: dinheiro),


haverá peculato; se for infungível (ex.: veículo da Administração Pública),
haverá apenas improbidade administrativa.
Assim, a prestação de serviço, não coisa, não integra a figura típica. Assim,
não constitui peculato o fato de o funcionário público utilizar-se de outrem,
também funcionário público, para a realização de atividade em proveito próprio
(chamado peculato-uso). Neste caso, tratando-se de Prefeito Municipal, o fato
configura delito do Decreto-Lei 201, de 27 de fevereiro de 1967, Art. 1º, II, a
saber:
“Art. 1º São crimes de responsabilidade dos Prefeitos Municipal, sujeitos
ao julgamento do Poder Judiciário, independentemente do
pronunciamento da Câmara dos Vereadores:
(...)
Il - utilizar-se, indevidamente, em proveito próprio ou alheio, de bens,
rendas ou serviços públicos.”
Ou, pode ser Ato de Improbidade Administrativa, nos termos da Lei 8.429, de
02 de junho de 1992, Art. 9º, IV: “Utilizar, em obra ou serviço particular,
veículos, máquinas, equipamentos ou material de qualquer natureza, de
propriedade ou à disposição de qualquer das entidades mencionadas no
art. 1° desta lei, bem como o trabalho de servidores públicos, empregados
ou terceiros contratados por essas entidades.”

“O peculato de uso é impunível criminalmente, somente suscetível de sanções


administrativas (TJSP – RT, 541/342).
...............................
“A utilização de veículos oficiais na realização de serviços particulares, ainda
que acarrete consumo de gasolina, não constitui peculato. É apenas suscetível a
sanções administrativas (TJSP – RT, 438/366).
......................................
No caso, o peculato desvio consiste na conduta da autoridade pública que
desvia dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, em
proveito próprio ou alheio. O bem continua disponível no âmbito da
Administração, porém passa a ser utilizado também para fins privados.
...............................
4

“Peculato – Delito não configurado – Prefeito que se utiliza de veículos e


pessoal da Municipalidade para seu interesse privado – Peculato de uso,
impunível – Absolvição decretada” (TJSP – RT, 541/342).

a) É imprescindível que o sujeito tenha a posse ou detenção do objeto material


diante da atividade por ele realizada na Administração Pública, no Art. 312,
caput, e seu § 2º.
b) Se terceiro, também funcionário público, vale-se da facilidade de acesso que tem
junto à repartição pública, concorrendo a conduta culposa de outro, este
responde por peculato culposo (Art. 312, § 2º), enquanto aquele pelo delito do
Art 312, § 1º, do Código Penal.
c) Art. 552, da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), equiparou ao crime de
peculato os praticados em detrimento de patrimônio das associações sindicais.
d) Exemplo de Peculato-Apropriação: o policial ou carcereiro que se apropria de
bens do preso. Neste caso, é necessário que a coisa esteja sob guarda da
Administração Pública, senão ocorrerá outro delito, como por exemplo, o
policial que subtrai aparelho de CD de automóvel que perseguira e que fora
abandonado na via pública.
“Comete peculato o serventuário que se apropria indevidamente de dinheiro que
lhe fora confiado para o preparo de processos em andamento no cartório de que
era titular”(TJSP – RT, 375/166).
.............................
“O Prefeito Municipal, que se apropria de rendimento de dinheiro da
Municipalidade depositado indevidamente em sua conta bancária pessoal e gasta
a seu bem-prazer, sem controle da contabilidade pública e sem entrada nos
cofres públicos, como se fosse dinheiro próprio.”(TJPR – RT, 512/427).

e) Exemplos de Peculato-Desvio: funcionário que empresta dinheiro da


Administração Pública de que tem guarda (mesmo que seja devolvido
posteriormente com juros e correção monetária). Ou, funcionário que
conscientemente efetua pagamentos pela Administração Pública (dinheiro
público) por serviço não efetuado, ou mercadoria não entregue, ou em valor a
maior, apropriando-se do recurso ou da verba que era destinada para tais
pagamentos.
“Coletor estadual que emprega o dinheiro público em fim diverso daquele para o
qual lhe fora confiado. Reposição do numerário desviado. Circunstância que não
elide a configuração do delito (RJTJSP, 19/484)”.3
f) Exemplo de Peculato-Furto: “Comete crime de peculato impróprio também
denominado peculato-furto, o policial que subtrai peças de uma motocicleta
furtada e que arrecadara em razão de suas funções. Também cometem o crime
de peculato impróprio os policiais que concorreram para que o colega, chefe de
sua equipe, subtraia as peças da motocicleta arrecadada em razão do
cargo”(TJMG- RT, 689/382).
g) No peculato a vantagem pode ser moral ou econômica, mesmo para obtenção de
prestígio pessoal ou político.

3
Apud, ANDREUCCI, Ricardo Antônio. Manual de Direito Penal. São Paulo: Saraiva. 2008, p. 407.
5

h) Não se exige, salvo nos casos excepcionais, o exame pericial, quando está
demonstrado por documentos.
i) Tentativa no Peculato (exceto no culposo): é admissível. Exemplo: tesoureiro da
repartição que é detido ao sair portando dinheiro que deveria ter ficado no cofre.
j) Peculato Militar, ver Art. 303 do Código Penal Militar.
k) Não se aplica o princípio da insignificância à prática do delito de peculato,
ainda que o valor do prejuízo seja irrisório, pois o bem jurídico tutelado, que se
traduz na Administração Pública, em seu aspecto patrimonial e moral, já foi
ferido. (RT 749/779). Todavia, em caráter excepcional, desde que reunidos os
seguintes requisitos: a) ínfima expressão econômica; b) pronta integral
reparação do prejuízo; c) inexistência de violação aos vetores fundamentais da
administração pública; d) imposição de sanção no âmbito administrativo. (TRF
3ª R. 2 ª T – AP 2002.03.99.040538-8 – rel. Nelton dos Santos – j. 19.01.2010 –
DJU 28.01.2010).
Aliás, Súmula n. 599, do STJ: O princípio da insignificância é inaplicável aos
crimes contra a Administração Pública.
l) No peculato apropriação: apropriar é inverter a situação de possuidor ou de
detentor, em situação de proprietário de um bem. Para ocorrer a apropriação, é
preciso que o funcionário público pratique ato de proprietário, demonstrativo da
inversão feita. Exemplo: Pedro vende (troca, doa) computador do MP (atos de
proprietário).
m) No peculato desvio: o funcionário público tem a posse, mas não se apropria do
bem. Desviar é dar destinação diversa ao bem, pretendendo auferir proveito
próprio ou de terceiro. Exemplos: a) alugar ou emprestar o computador (não se
apropriou); b) desvio de dinheiro; c) deposita o dinheiro de impostos em sua
conta, fica com os juros e devolve o dinheiro. Contudo, se ficasse com o
dinheiro, seria peculato-apropriação; d) destinação diversa da verba de
gabinete.4
n) No peculato uso ou o uso inadequado não é sinônimo de desvio: não é
peculato-desvio. Nestes casos, implica em uma infração administrativa ou ato
de improbidade administrativa, não em peculato. Exemplos: a) usar o
computador do Estado para fazer trabalho particular; b) usar o carro para ir à
praia grande.

PECULATO MEDIANTE ERRO DE OUTREM


Art. 313 - Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade que, no
exercício do cargo, recebeu por erro de outrem:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
A espécie é denominada “peculato estelionato”
Sujeito Ativo: só cometido por funcionário público, ou particular em concurso (Art.
29 e 30, do Código Penal)
Sujeito Passivo: o Estado e a vítima da fraude.
Elementos Objetivos do Tipo:
4
Tem que haver uma fraude, uma estratagema, um engodo. Por exemplo: “Delúbio, funcionário público, motorista do
veículo oficial - Placa OF2/DF, indevidamente, num final de semana, utiliza- se do carro a fi m de viajar com a
família. No domingo, à noite, burlando a vigilância, recolhe o carro na garagem da Repartição. Delúbio cometeu
crime de Peculato Desvio.” (Procurador da Fazenda/2006)
6

1) a apropriação de dinheiro ou qualquer outro bem;


2) que a apropriação tenha origem no erro de alguém;
3) seja cometida por funcionário público no exercício do cargo.
O erro pode versar sobre:
1) a coisa que é entregue ao funcionário;
2) a pessoa a quem se faz a entrega;
3) a obrigação que dá origem a entrega.
Exemplos:
a) escrivão de cartório de notas que, tendo recebido dinheiro de partes para
pagamento da lavratura da escritura e do imposto municipal, se apropria do
dinheiro dado ao imposto e não efetua o seu pagamento (A sisa é dada por
engano).
b) Ou, a apropriação do dinheiro destinado a vales postais, cujo recebimento,
porém, não cumpria ao acusado.
c) pagar o valor de uma taxa municipal a funcionário incompetente para recebê-la, o
qual, ao perceber o erro em que incidiu o contribuinte, silencia, apoderando-se do
valor pago (CAPEZ, 2004, p. 402).
Elemento Subjetivo do Tipo: vontade livre e consciente de apropriar-se do objeto
material. Deve abranger a consciência do erro de outrem Por isso, não deve o sujeito ativo
provocar o erro, pois, se houver induzimento, o crime passa a ser outro: estelionato, por
exemplo, o funcionário público afirma falsamente ter competência para receber o
pagamento de determinado imposto (CAPEZ, 2004, p. 403).
Consumação: quando o funcionário se apropria, agindo como se fosse dono.
Tentativa: funcionário é surpreendido no momento em que está abrindo um carta
contendo valor, a ele entregue por erro de outrem.
Concurso de pessoas – é possível, por exemplo: se um funcionário, por um
equívoco, recebe determinada quantia de um contribuinte e pensa restituí-la, no que,
entretanto, é desaconselhado por um amigo – não funcionário – acabando a dividirem o
dinheiro (CAPEZ, 2004, p. 403).
Circunstância Especial de Aumento de Pena: Art. 327, § 2º, do Código Penal.
Observação: no ARTIGO 313, do CP, A POSSE DO OBJETO MATERIAL
DECORRE DE ERRO DE TERCEIRO. Já no ARTIGO 312, CAPUT E SEU § 2º, a
POSSE DECORRE DO EXERCÍCIO DAS FUNÇÕES PÚBLICAS.
Ação Penal Pública Incondicionada

INSERÇÃO DE DADOS FALSOS EM SISTEMA DE INFORMAÇÕES


Art. 313-A. Inserir ou facilitar, o funcionário autorizado, a inserção de
dados falsos, alterar ou excluir indevidamente dados corretos nos
sistemas informatizados ou bancos de dados da Administração Pública
com o fim de obter vantagem indevida para si ou para outrem ou para
causar dano:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
Sujeito Ativo: funcionário público autorizado.
Sujeito Passivo: o Estado.
Elementos Objetivos do Tipo: a prática da conduta típica reveste-se de duas
modalidades:
7

1) é inserir dados falsos nos sistemas informatizados ou bancos de dados ou a


facilitar que alguém o faça.
2) É alterar ou excluir dados corretos desses mesmos sistemas de bancos de
dados.

O núcleo do tipo pode ser tanto como uma ou outra conduta, desde que tenha a
finalidade de obter vantagem ilícita para si ou para outrem ou de causar dano.
Elemento Subjetivo do Tipo: é o dolo, mas há de haver o fim específico (dolo
específico) que é obter vantagem ilícita para si ou para terceiro ou causar dano.
O crime é formal, não sendo necessária a obtenção da vantagem para a
configuração do delito, mas tão-somente que essa seja visada pelo agente.
Consumação: com a realização das condutas. Crime formal
Tentativa: admissível.
Exemplos:
a) “Inserção de dados falsos em sistema de informações – Caracterização –
Inclusão, por funcionário de empresa privada contratada e conveniada
para a execução de atividade típica da Administração Pública, de dados
falsos em sistema informatizado de órgão público – Agente equiparado,
para fins penais, a funcionário público” (TJRJ – RT, 840/646).
b) Advogado e seu corréu, um técnico judiciário de uma Vara Cível,
alteraram a movimentação de um processo para substituir o nome do
autor da ação por outro. Inserindo dados falsos, eles excluíram os dados
corretos do sistema informatizado de um Tribunal de Justiça e geraram
uma precatória falsa. Esta foi utilizada pelo advogado em um banco para
receber uma alta quantia em dinheiro (Notícias do STJ. HC 247433.
GILSON DIPP - QUINTA TURMA, 2012).
Ação Penal Pública Incondicionada.

MODIFICAÇÃO OU ALTERAÇÃO NÃO AUTORIZADA DE SISTEMA DE


INFORMAÇÕES
Art. 313-B. Modificar ou alterar, o funcionário, sistema de informações
ou programa de informática sem autorização ou solicitação de
autoridade competente:
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos, e multa.
Parágrafo único. As penas são aumentadas de um terço até a metade se
da modificação ou alteração resulta dano para a Administração Pública
ou para o administrado.
É um delito de computador ou de informática.
Objetividade Jurídica: protege-se os sistemas de informações e os programas
de informática.
Sujeito Ativo: funcionário público. Ao contrário do dispositivo anterior, não
precisa ser aquele devidamente autorizado a trabalhar com a informatização ou sistema da
Administração Pública (CAPEZ, 2004, p.409).
Sujeito Passivo: o Estado.
Elementos Objetivos do Tipo: prevê duas condutas :
1) modificar o sistema (programa de computador);
2) alterar o sistema (programa de computador);
8

3) A distinção com o tipo penal anterior é que naquele a alteração se refere aos
dados (informações) que constam do sistema; aqui, é o próprio sistema de
informática (programa) que resta alterado ou modificado. O dolo aqui é
genérico.
Elemento Sujetivo do Tipo: dolo e mais “sem autorização ou solicitação de
autoridade competente.”
Consumação: com a prática da conduta de modificar ou alterar o sistema ou o
programa de informática, objetos do tipo penal. Tentativa é admissível.
Ação Penal Pública Incondicionada .

EXTRAVIO, SONEGAÇÃO OU INUTILIZAÇÃO DE LIVRO OU DOCUMENTO


Art. 314 - Extraviar livro oficial ou qualquer documento, de que tem a
guarda em razão do cargo; sonegá-lo ou inutilizá-lo, total ou
parcialmente:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, se o fato não constitui
crime mais grave.
Protege a regularidade do funcionamento da Administração Pública, no que tange à
proteção dos livros e documentos de propriedade e posse do Estado, coibindo o extravio, a
sonegação e a inutilização deles.
Sujeito Ativo: funcionário público e o particular em concurso de agentes (Art. 29 e
30, do Código Penal)
Sujeito Passivo: o Estado e o particular prejudicado.
Elementos Objetivos do Tipo:
c) Extraviar – desviar, desencaminhar, dar destino diverso do devido, fazer
desaparecer (delito permanente).
d) Sonegar – é não exibir, não apresentar, não entregar, relacionar ou mencionar
quanto isso é devido (delito permanente). Surge quando o funcionário, tendo o
dever jurídico de apresentar o objeto material, deixa de fazê-lo em face de haver
escondido. Nesse caso, o momento consumativo ocorre no instante em que surge
o dever de apresentação
e) Inutilizar - é tornar imprestável, inútil, ainda que não ocorra a destruição do
livro ou documento (delito instantâneo).
É necessário que as ações sejam praticadas pelo funcionário no exercício do cargo,
ou seja, que tenha a guarda do livro ou documento em decorrência de sua função.
Exemplo: Chefe de Turma julgadora de Delegacia Regional Tributária que ordena a
um funcionário que consuma com as folhas do julgamento com o voto no sentido
contrário ao de suas pretensões.
Local da Guarda: pode ser a própria repartição ou aquele em que fora dela, é
exercida a função pública. Ex. carro do correios.
Objeto Material: Livro Oficial ou qualquer documento pertencente à
Administração Pública. Ex: Livros de Registros, notas, atas, lançamentos, termos,
protocolos, documentos de arquivos ou de museus, prova de concurso, estudos etc.
Consumação: com o extravio, sonegação, ou inutilização de livro oficial ou
documento, sendo irrelevante que o poder público ou terceiro venha sofrer dano.
Tentativa: admissível no extravio e inutilização. Sonegação não é possível.
Elemento Subjetivo: vontade de praticar uma das condutas previstas na lei.
9

Subsidiariedade: “Se o fato não constituir crime mais grave”. Pode constituir:
Peculato (Art. 312, do Código Penal); Subtração ou inutilização de documento (Art. 337,
do Código Penal). Exemplo: se o funcionário público solicita ou recebe, para si ou para
outrem, vantagem indevida, ou aceita promessa de tal vantagem, a fim de extraviar, sonegar
ou inutilizar livro ou documento, comete o crime de corrupção passiva – artigo 317, do CP.
Circunstância Especial de Aumento de Pena: Art. 327, § 2º, do Código Penal.
Exemplo: “Aquele que inutiliza folha contendo cota de representante do Ministério
Público em autos judiciais comete o crime de inutilização de documento (art. 314 do CP),
eis que não se pode negar a qualidade de documento tal manifestação.” (TJSP – RT,
639/277)
Ação Penal Pública Incondicionada.

EMPREGO IRREGULAR DE VERBAS OU RENDAS PÚBLICAS


Art. 315 - Dar às verbas ou rendas públicas aplicação diversa da
estabelecida em lei:
Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) meses, ou multa.

É o chamado crime de desvio de verbas. Protege-se a correta aplicação do dinheiro


público. As verbas e as rendas públicas devem ser reservadas à aplicação de acordo com o
fim de sua destinação. Isso porque, o funcionário público não pode dar preferência
arbitrária a esta ou àquela obra pública.
Sujeito Ativo: crime próprio, somente cometido por funcionário público que tem
poder de disposição de verbas e rendas públicas.

a) Se for Presidente da República, Art. 11, da Lei 1.079/50:


Art. 11 - São crimes de responsabilidade contra a guarda e o legal
emprego dos dinheiros públicos:
1 - ordenar despesas não autorizadas por lei ou sem observância das
prescrições legais relativas às mesmas;
2 - abrir crédito sem fundamento em lei ou sem as formalidades
legais;
3 - contrair empréstimo, emitir moeda corrente ou apólices, ou
efetuar operação de crédito sem autorização legal;
4 - alienar imóveis nacionais ou empenhar rendas públicas sem
autorização em lei;
5- negligenciar a arrecadação das rendas, impostos e taxas, bem como a
conservação do patrimônio nacional.

b) Se for Prefeito Municipal5 – Art. 1º, III, do Decreto-Lei nº 201/67, a saber:

5
“Recebida denúncia contra Prefeito Municipal, acusado da prática de crime de responsabilidade previsto em
quaisquer dos incisos do art. 1º, do Decreto-lei n. 201/67, deve haver manifestação sobre seu afastamento do exercício
do cargo durante a instrução criminal, justificando-se a providência acauteladora e moralizadora destinada a prevenir
influência negativa na gerência do município, no andamento regular da atividade municipal.” ( in Inquérito n. 481, de
Balneário Camboriú, Rel. Des. Nilton Macedo Machado, de 12/12/95).
10

Art. 1º São crimes de responsabilidade dos Prefeitos Municipal, sujeitos


ao julgamento do Poder Judiciário, independentemente do
pronunciamento da Câmara dos Vereadores:6
(...)
Ill - desviar, ou aplicar indevidamente, rendas ou verbas públicas;7
Sujeito Passivo: União, Estado, Município (Pessoas Jurídicas de Direito Público)
Modalidades do Tipo:
1) emprego irregular de verbas públicas;
2) emprego irregular de rendas públicas.
Verba – a especificação quantitativa do custo da execução de um determinado
serviço público. Ex: gestor público que lança mão da verba destinada à construção
de uma ponte rural para aplicá-la na construção de um jardim.
Rendas – o dinheiro percebido pela Fazenda Pública. Exemplo: o funcionário
público que utiliza o dinheiro público para a realização de serviço não autorizado
por lei.
Lei - no sentido estrito, não incluíndo decretos e quaisquer atos administrativos.
Na primeira modalidade (verba pública) há inclusão de despesa não incluída
legalmente. Na segunda modalidade (renda pública) há aplicação de renda fora de
qualquer autorização legal.
Ainda quando as verbas ou rendas apresentem superavit, este tem de ser guardado
ou recolhido aos cofres públicos (não pode ser empregado senão com permissão
legal).
Conduta Típica: aplicação diversa da estabelecida em lei. Refere-se à lei
orçamentária. É necessário que o funcionário descumpra a lei orçamentária. Se o benefício
for próprio ou alheiro, em detrimento da Fazenda Pública, há crime de Peculato (Art. 312,
do Código Penal). Se o benefício for próprio da Administração Pública, há crime do Art.
315, do Código Penal.
Consumação: com a aplicação indevida das rendas ou verbas públicas. É
dispensável que ocorra dano ao erário público (CAPEZ, 2004, p. 417).
Tentativa: é admissível. Ex: funcionário destina, irregularmente, verbas públicas a
fim diverso de sua destinação, mas o serviço não se realiza por circunstâncias alheias a sua
vontade (crime falho) 8
Circunstância Especial de Aumento de Pena: Art. 327, § 2º, do Código Penal
Observações:
a) O Administrador público deve se ater às destinações das verbas previstas na lei
orçamentária.

6
“Embora em desacordo com a legislação administrativa, não se condena Prefeito Municipal que adquire bens e
realiza serviços e obras públicas sem a devida licitação, se o faz sem dolo, demonstrando mais despreparo relativo a
problemas técnico-administrativos do que intenção de ofender o direito positivo” (TACRIM-SP — AC — Rel.
Ferreira Leite — JUTACRIM 30/336).
7
“Os crimes previstos no Decreto-lei n. 201 não são de mera conduta, mas de natureza formal, envolvendo um
resultado de dano ou de perigo, ínsito na conduta do agente. Não basta, pois, que este os pratique livre e
conscientemente; é necessário, ainda, que tenha a intenção de lesar o erário (ADV 7.133)” - ( in Inquérito n.
98.011469-1, de Tijucas.Relator: Des. Alberto Costa. Publ. DOE 15 de setembro de 1998).
8
Crime falho – ocorre quando a execução é integralmente realizada pelo agente, mas o resultado não se verifica por
circunstâncias alheias. A tentativa é perfeita e denomina-se crime falho.
11

b) O estado de necessidade exclui a antijuricidade. Ex: calamidades públicas,


epidemias, inundações, etc, como verba destinada a construção de estrada e é
aplicada a socorro a vítimas de calamidade.

CONCUSSÃO
Art. 316 - Exigir, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda
que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem
indevida:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e multa

EXCESSO DE EXAÇÃO
§ 1º - Se o funcionário exige tributo ou contribuição social que sabe ou
deveria saber indevido, ou, quando devido, emprega na cobrança meio
vexatório ou gravoso, que a lei não autoriza:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.
§ 2º - Se o funcionário desvia, em proveito próprio ou de outrem, o que
recebeu indevidamente para recolher aos cofres públicos:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.

CONCUSSÃO
a) A EXIGÊNCIA É PARA SI OU PARA OUTREM;
b) HÁ TEMOR, SEM FACULDADE DE ACORDO. NÃO HÁ MERCANCIA,
NÃO TEM OPÇÃO.

Consiste em o funcionário exigir de outrem, indevidamente, uma vantagem econômica ou


patrimonial. A vítima cede por temer represálias relacionadas ao exercício da função
pública.9 Não há emprego de qualquer violência ou grave ameaça contra a vítima, pois se
houver, poderá haver extorsão ou roubo.10

Sujeito Ativo: funcionário público. Admite-se participação de pessoa não qualificada


funcionalmente. Ex: o particular aconselha o funcionário a cometer o fato (induzimento).
Sujeito Passivo: o Estado e a pessoa prejudicada

Elementos Objetivos do Tipo: a exigência pode ser:


- Direta: o sujeito formula diante do sujeito passivo.
- Indireta: sujeito formula mediante interposta pessoa.

Fora da função: licenças, férias ou ainda não investido no cargo.


A vantagem pretendida deve ser indevida, ilícita ou ilegal, não autorizada por lei. A
vantagem pode ser patrimonial ou econômica, presente ou futura, beneficiando o
próprio agente ou terceiro.
Se a vantagem beneficiar a própria Administração Pública não há concussão, mas
pode haver excesso de exação (Art. 316, § 1º, do Código Penal)

9
Para Fernando Capez, “A concussão é uma forma de extorsão praticada com abuso de autoridade.”(CAPEZ, 2004, p.
419).
10
Por exemplo: fiscal da prefeitura aponta um revólver ao camelô, exigindo-lhe a entrega de um cheque em branco.
12

Se não houver exigência, mas solicitação, corrupção passiva (Art. 317, do Código
Penal).

Nexo causal – faz-se necessário nexo causal entre a função pública desempenhada e a
exigência do servidor. Por exemplo: o investigador exige vantagem indevida para não
instaurar inquérito policial. No caso, o investigador não tem competência legal para
instaurar inquérito policial, competência esta do delegado de polícia. Assim, o crime será
outro, como a extorsão simples. (CAPEZ, 2004, p.420).

Elemento Subjetivo: dolo e mais “para si ou para outrem”

Consumação: com a exigência (oral, escrita, por gesto, interposta pessoa, etc), no
momento que chega ao conhecimento do sujeito passivo. Não exige a obtenção da
vantagem. Se esta ocorre é simples exaurimento.11 Assim, a prisão em flagrante nesse
delito deve ocorrer por ocasião da exigência da vantagem, eis que no recebimento dela se
estará diante do exaurimento do delito e, assim, já não haverá mais situação de flagrância a
fundar a prisão
Tentativa:
1) conduta unissubsistente: inadmissível – um só ato (Ex: exigência oral);
2) conduta plurissubsistente: admissível – mais de um ato (Ex: carta escrita).
Ação Penal Pública Incondicionada.

Exemplos:
a) policial, incurso no Art. 316, caput, do Código Penal, que exige dinheiro para
permitir o funcionamento de prostíbulos. Ou, quantia exigida por policial para
liberação de preso em flagrante.
b) policial que exige dinheiro da vítima para não prendê-la em flagrante comete o
delito. Contudo, não pratica tal delito, se o policial exige vantagem indevida da
vítima utilizando-se de violência, ou ameaçando-a gravemente de sequestrar seus
filhos. Neste último caso, o crime será extorsão ou roubo. (CAPEZ, 2004. p, 420).
c) o fiscal da prefeitura que exige que um vendedor ambulante lhe assine um cheque
em branco, sob pena de ser sua barraca apreendida (CAPEZ, 2004, p. 428).
d) “O Vereador que recebe indevidamente parte do salário do seu assessor
administrativo incide nas penas do art. 316, caput, do CP sendo irrelevante o
consentimento ou não da pessoa que sofre a imposição, visto tal delito ser formal,
consumando-se com a mera imposição do pagamento indevido” (STJ – RT,
778/563).
e) “Comete o delito de concussão o policial que exige dinheiro de preso para libertá-
lo”(RJTTJSP, 208/278);
f) Não há que se negar a efetiva prática do delito de concussão (art. 316 do CP), por
médico credenciado do INAMPS que exige determinada soma em dinheiro de
paciente, para a realização de exame já homologado pelo órgão previdenciário que
seria procedido sem custo adicional”(TRF, 4ª Região, RT, 763/700).
11
“O crime capitulado no art. 316, caput, do CP é formal, e consuma-se com a mera imposição do pagamento indevido,
não se exigindo o consentimento da pessoa que sofre e, sequer, a consecução do fim visado pelo agente.” STJ -
HABEAS CORPUS Nº 18.162 - RS (2001/0100396-5) (DJU 25.03.02, SEÇÃO 1, P. 300, J. 07.02.02) in:
http://www.ibccrim.org.br/ementada/14022/index_html, em 25 de abril de 2002.
13

Concurso (diferenciação) com outros crimes:

a) Com a extorsão – a diferença reside na ameaça. Na concussão, a ameaça se refere às


funções do agente. Na extorsão não. Este último, ainda que praticado por funcionário
público, caracteriza-se pelo emprego de violência ou ameaça de mal injusto e grave, sem
relação com a função pública ou qualidade do agente. Exemplo: “Extorsão. Delito que
guarda afinidade com o de concussão. Configuração, contudo, na espécie, do primeiro por
haver o acusado obtido vantagem patrimonial indevida, não em razão da função pública,
mas pelo temor de ameaças ou violência, que impunha às vítimas” (TJSP – RT, 586/309).

b) Com a corrupção passiva – nesta, há solicitação; na concussão, há exigência. Na


corrupção passiva, se a vítima atende a solicitação, é por conveniência ou vantagem; na
concussão, é por medo.

c) Com a conduta de concussão, para deixar de lançar tributo ou contribuição, ou cobrá-


los parcialmente, é crime especial, previsto no art. 3º, II, da Lei 8.137/90 .

EXCESSO DE EXAÇÃO – (EXIGÊNCIA PARA A ADMINISTRAÇÃO


PÚBLICA): exação é cobrança rigorosa de dívida ou imposto. É a exatidão, pontualidade,
correção.

Trata-se de subtipo de concussão, só que aqui o sujeito ativo não visa a proveito próprio ou
alheio. Porém, no desempenho de uma função, excede-se nos meios de execução.

Sujeito Ativo: crime próprio – só funcionário público. Mas pode haver participação de
particular (Art. 29 e 30 do Código Penal)
Sujeito Passivo: o Estado, em segundo lugar o particular.

Figuras do Tipo Penal:


1) exigência indevida de tributo ou contribuição social. Nesse caso, o sujeito cobra
do contribuinte consciente de que ele não as deve ou devendo saber que são
indevidas. Indevido – refere-se ao tributo. Se devido o fato é atípico, ou pode
configurar cobrança gravosa ou abuso de autoridade (Lei 4.898/65);
2) cobrança vexatória ou gravosa – nesta hipótese, o agente cobra as contribuições
devidas de maneira injusta e não autorizada por lei.
Elementos Objetivos do Tipo: exigir taxa, imposto e emolumento. Taxa; é a
contribuição correspondente a um serviço prestado à comunidade – Art. 145, II, da
Constituição Federal. Imposto: é uma contribuição geral, não tendo correspondência,
especificamente, a um serviço público – Art. 16, do Código Tributário Nacional.
Emolumentos: são custas, preços públicos.12 Contribuições Sociais: PIS, PASEP,
contribuições de empregados incidentes sobre a folha de salários.

12
Para o STJ, no conceito de tributo não se inclui custas ou emolumentos. Aquelas são devidas aos escrivães e
oficiais de justiça pelos atos do processo e estes representam contraprestação pela prática de atos extrajudiciais dos
notários e registradores. Tributos são as exações do art. 5º do Código Tributário Nacional. (STJ - RHC: 8842 SC
1999/0066026-9, Relator: Ministro FERNANDO GONÇALVES, Data de Julgamento: 16/11/1999, T6 - SEXTA
TURMA, Data de Publicação: DJ 13/12/1999 p. 179 JC vol. 87 p. 719 RSTJ vol. 142 p. 528 RT vol. 775 p. 552)
14

Meio vexatório ou gravoso: o primeiro, é o humilhante, tormentoso, vergonhoso ou que


cause indignidade. O segundo, é o não permitido em lei, aquele que traz ao contribuinte
maiores ônus não autorizados na lei.

Elemento Subjetivo do Tipo:


1) dolo;
2) que “sabe” (indevido), refere-se à primeira modalidade típica (exigência). O
sujeito tem o pleno conhecimento da ilegitimidade do tributo ou contribuição
social;
3) que “deveria saber”. O sujeito age com dolo eventual. Não tem plena certeza da
natureza indevida da cobrança (dolo direto: modalidade anterior). Mas tem
conhecimento de fatos e circunstâncias que claramente a indicam.13

Consumação:
1) na exigência indevida de tributo ou contribuição social há consumação no
momento em que a vítima toma conhecimento da exigência . A consumação
independe do efetivo pagamento do tributo ou contribuição social. A conduta é
exigir e não receber;
2) na cobrança vexatória ou gravosa há consumação com emprego do meio
vexatório ou gravoso. Independe do recebimento do tributo ou contribuição
social.
Tentativa: é admissível, por exemplo: cobrança vexatória por escrito que não chega ao
contribuinte.

Circunstância Especial de Aumento de Pena: Art. 327, § 2º, do Código Penal.

Tipo qualificado (Art. 316, § 2º): aplicável somente ao excesso de exação. De forma que
não incide sobre a concussão descrita no caput do Art. 316, do Código Penal.
Descrição do Art. 316, § 2º:
1) o funcionário recebe, indevidamente, taxa, imposto ou emolumento para recolher
aos cofres públicos;
2) após o recebimento, desvia o objeto material em proveito próprio ou alheio.
3) Ao invés de recolher aos cofres públicos o que indevidamente recebeu, não o faz,
dele se apoderando (dolo mais a intenção de locupletamento).
4) Consuma-se com o efetivo desvio do objeto.

OBS: Se o apoderamento ocorrer depois do recolhimento do tributo aos cofres públicos,


HÁ PECULATO.

Crime material – admite-se tentativa.

Ação Penal Pública Incondicionada.

CORRUPÇÃO PASSIVA

13
Segundo Júlio Fabbrini Mirabete, in Manual Direito Penal, 12ª ed., vol. 3, o termo “deveria saber” enseja CULPA.
15

Art. 317 - Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou


indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em
razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem:
Pena -reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa. 14
§ 1º - A pena é aumentada de um terço, se, em conseqüência da vantagem
ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de
ofício ou o pratica infringindo dever funcional.
§ 2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício,
com infração de dever funcional, cedendo a pedido ou influência de
outrem:
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) anos, ou multa.

CORRUPÇÃO PASSIVA – HÁ MERCANCIA, OPÇÃO DE ESCOLHA,


PODE ESTAR VINCULADA À CORRUPÇÃO ATIVA.
A corrupção passiva é uma exceção ao princípio unitário que rege o concurso de
pessoas (Art. 29, caput, do Código Penal).15
Há duas espécies de corrupção:
1) Ativa, quando se tem em mira a figura do corruptor, Art. 333, do Código
Penal;
2) Passiva, em face da figura do funcionário público corrompido, Art. 317, do
Código Penal.
Sujeito Ativo: crime próprio, só pode ser cometido por funcionário público.
Admite-se a participação de particular, mediante induzimento, instigação ou auxílio
secundário. Se for contra a ordem tributária, Art. 3º, II, da Lei 8.137/90. Se for testemunha,
perito, tradutor ou interprete judicial, realizada a corrupção em face de processo judicial ou
administrativo, Art. 342, § 1º, do Código Penal.
Sujeito Passivo: o Estado.
Elementos Objetivos do Tipo:
1) solicitar – pedir, manifestar o desejo de alguma coisa;
2) receber – tomar, obter, acolher, alcançar;
3) aceitar – é consentir, concordar, estar de acordo.
É indispensável que o ato tenha relação com a função do funcionário. O ato ou
abstenção a que se refere na corrupção deve ser da competência do funcionário.
Não se tipifica a infração se a vantagem desejada do corruptor não é da atribuição e
competência do funcionário.
Pode o ato, objeto da corrupção, ser legítimo, lícito, justo ou ilegítimo, ilícito,
injusto, eis que é praticado infringindo dever funcional.
É uma forma de mercancia de atos de ofício que devem ser realizados pelo
funcionário. (CAPEZ, 2004, p. 429).
Vantagem – indevida (não autorizada por lei) que pode ser patrimonial, moral,
sentimental, sexual etc (CAPEZ, 2004, p. 432).
Consumação:
a) com a solicitação, ou recebimento, ou a promessa é aceita para a
prática de ato regular ou ato ilícito;
14
Pena determinada pela Lei nº. 10.763, de 12.11.03.
15
Também conhecida como teoria pluralística, em que cada um dos participantes responde por delitos autônomos.
(CAPEZ, 2004, p. 430).
16

b) não ocorre o ilícito, se a vantagem é solicitada e recebida para


ressarcimento de despesas realizadas pelo agente no exercício de suas funções;
c) é crime formal, eis que consuma-se no instante em que a
solicitação chega ao conhecimento de terceiro;
d) não se exige que o sujeito tenha a intenção de realizar ou deixar de
realizar o ato de ofício objeto da corrupção;
e) por sua natureza formal, o delito independe, para consumação, de
qualquer resultado ou conduta posterior. Contudo, se o funcionário público
promete algo e o realiza há incidência do § 1º do Art. 317, do Código Penal.
f) Não ocorre o crime se o delegado aceita oferta de dinheiro
aplicando-o na aquisição de gasolina para a viatura, a fim de intensificar o
policiamento na cidade (RT, 527/407).
g) A prática de corrupção passiva por fiscal, para deixar de cobrar
imposto, é crime específico previsto no art. 3º, II, da Lei n. 8.137/90. Poderá
haver o crime do art. 342, §2º, se o agente ativo se enquadrar naqueles lá
previstos (perito, intérprete, etc.) e se tratar de vantagem destinada a falso
testemunho ou falsa perícia nos procedimentos especificados no referido tipo. A
corrupção passiva praticada por militar é crime específico, previsto no CPM.
Pode ainda configurar crime eleitoral (art. 299 do CE), se o fim for de obter ou
dar voto ou prometer abstenção.
h) No caso do artigo 317, § 2º, o agente deixa de praticar ou retarda o
ato de ofício, não em virtude do recebimento de vantagem indevida, mas cedendo
a pedido ou influência de outrem, isto é, para satisfazer interesse de terceiros ou
para agradar ou bajular pessoas influentes (CAPEZ, 2004, p. 437).
Tentativa:
1) solicitação: verbal é inadmissível. Já na escrita é possível;
2) recebimento: inadmissível;
3) aceite: inadmissível.
A classificação da corrupção:
1) antecedente – quando a vantagem é entregue ao funcionário antes da sua ação ou
omissão funcional. Recompensa é entregue em face de uma conduta futura;
2) subseqüente – a vantagem lhe é entregue depois da conduta funcional;
3) própria – o ato a ser praticado é ilegítimo. Exemplo: o funcionário de cartório
que solicita dinheiro para suprimir documentos do processo judicial (O ATO A
SER REALIZADO É ILEGAL);
4) imprópria – o ato a ser praticado é legítimo, lícito ou justo. Exemplo: oficial de
justiça solicita dinheiro para agilizar mandado judicial de processo em que o
advogado atua (CAPEZ, 2004, p. 430 e 431). Ou seja, O ATO A SER
REALIZADO É LEGAL.
OBS: Qualquer dádiva, presente ou recompensa não configura corrupção passiva.
Assim, gratificações comuns de pequena monta, como garrafas e cestas de natal e
ano-novo, em forma de gratidão. Todavia, poderá figurar violação administrativa,
por exemplo:
Art. 117 Ao servidor é proibido:
(...)
17

XII - receber propina, comissão, presente ou vantagem de qualquer espécie, em


razão de suas atribuições;16

Elemento subjetivo: dolo mais “para si ou para outro”

O sujeito que oferece ou promete vantagem não é vítima, mas agente de outro
crime (art. 333, do CP). Porém, se o particular APENAS ENTREGA A
VANTAGEM PEDIDA, NÃO HÁ CRIME, PELA FALTA DE PREVISAO
LEGAL.

Forma privilegiada – 317, § 2º, do CP, se deixa de praticar ou retarda ato de ofício,
não em virtude do recebimento de vantagem indevida, mas cedendo a pedido ou
influência de outrem, isto é , para satisfazer interesse de terceiros ou para agradar ou
bajular pessoas influentes.
Circunstância Especial de Aumento de Penal: Art. 327, § 2º, do Código Penal.

DIFERENÇAS ENTRE CONCUSSÃO CORRUPÇÃO (PASSIVA E ATIVA)


PREVARICAÇÃO E PECULATO17

Corrupção
Quando falamos em corrupção nos vêm à cabeça imediatamente as participações de
pessoas ligadas à administração pública em crimes. O fato é que existem vários crimes que
podem ser praticados por funcionários públicos, que muitas vezes geram dúvidas. Você
sabe, por exemplo, qual a diferença entre corrupção passiva, corrupção ativa, concussão,
peculato e prevaricação?

Concussão (pena: reclusão de dois a oito anos e multa)


Quando o funcionário exige, para si ou para outro, vantagem indevida, em razão do cargo
que ocupa. Por exemplo: o policial que exige dinheiro para não lavrar um flagrante. Ele
está usando da autoridade de sua função para exigir o dinheiro. A concussão diferencia-se
da corrupção passiva porque é uma exigência que causa temor de represálias, em função
do cargo exercido pelo funcionário público. Embora a concussão seja, em tese, mais grave
que a corrupção passiva, a pena é menor em função de modificação legislativa ocorrida em
2003.

Corrupção passiva (pena: reclusão de dois a doze anos e multa)


Quando o funcionário solicita ou recebe vantagem indevida. Por exemplo, um funcionário
de cartório que pediria dinheiro para expedir certidão com teor diferente do que seria o
correto.

Corrupção ativa (pena: reclusão de dois a doze anos e multa)


Nesse caso, o crime é praticado por um terceiro. Quando alguém oferece ou promete
16
Lei 8.112, de 11 de dezembro de 1990, que dispõe sobre o regime jurídico dos Servidores Públicos Civis da União,
das autarquias e das fundações públicas federais.
17
Fonte: Ministério Público do Estado do Paraná. In: http://www.mp.pr.gov.br/imprensa/pil1207.html. Acessado em
11/04/2006.
18

vantagem indevida a funcionário público, para que ele pratique, atrase ou deixe de praticar
determinado ato que é seu dever. Por exemplo, alguém oferece dinheiro a um policial para
que não seja formalizado o flagrante de um crime.

Prevaricação (pena: detenção de três meses a um ano e multa)


Quando o funcionário retarda ou deixa de praticar, indevidamente, um ato que deveria
obrigatoriamente fazer, ou quando pratica um ato de ofício contra disposição expressa da
lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal. Quando um militar deixa de tomar uma
providência para beneficiar superior hierárquico, mesmo não recebendo qualquer
vantagem com isso.

Peculato (pena: reclusão de dois a doze anos e multa)


O crime de peculato configura-se quando o funcionário público desvia ou apropria-se de
dinheiro, valor ou qualquer bem, público ou particular, de que tem posse em função do
cargo, em proveito próprio ou de outra pessoa. Por exemplo, o tesoureiro de uma
repartição pública que se apropria de dinheiro de diárias de outros funcionários.

Exemplos:

“Delegado de polícia que recebe qualquer quantia para colocar em liberdade quem
se encontra detido comete o delito de corrupção passiva.”(TJMJ – RT, 522/438).
...................................
“Escrevente de cartório criminal que, em razão de suas funções, solicita vantagem
indevida para influir no andamento do processo pela infração do jogo do bicho,
acenando com eventual prescrição da ação penal.” (RJTJSP, 16/434).

FACILITAÇÃO DE CONTRABANDO OU DESCAMINHO


Art. 318 - Facilitar, com infração de dever funcional, a prática de
contrabando ou descaminho (art. 334):
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa18.
É exceção ao princípio unitário que rege o concurso de pessoas (Art. 29, caput, do
Código Penal). O contrabandista responde pelo delito do Art. 334, do Código Penal, e o
funcionário público pelo delito do Art. 318, do Código Penal.
Protege-se a Administração Pública.
Sujeito Ativo: crime próprio, funcionário público. Não é qualquer um, mas aquele a
quem é imposto o dever de reprimir ou fiscalizar o contrabando, ou cobrar direitos ou
impostos devidos pela entrada ou saída de mercadorias do país.
Contudo, se o funcionário público, sem infringir dever funcional, concorre para
contrabando, responde como partícipe pelo delito do Art. 334, do Código Penal.
Exemplo: policiais-militares que acobertam o contrabando, mediante escolta de
veículo para assegurar o contrabando realizado por outrem, respondem em co-
autoria no Art. 334, do Código Penal, pois não têm por lei, o dever funcional de
reprimir o contrabando ou descaminho.

18
Pela determinada pela Lei nº. 8.137, de 27.12.90.
19

Pode ocorrer que o funcionário, sem violação do dever funcional, venha a concorrer
na facilitação realizada por outro funcionário violador de seus deveres junto à aduana.
Neste caso, será partícipe do crime descrito no Art. 318, do Código Penal.
Sujeito Passivo: o Estado.
Contrabando: é o fato de importar ou exportar mercadorias que são total ou
parcialmente proibidas de entrar ou sair do País. Ex: obras contrafeitas (falsificadas),
cigarros, combustíveis, etc.
Descaminho: é a importação ou exportação de mercadorias sem pagamento do
tributo devido.
Diferenças: no contrabando a mercadoria e de importação e exportação proibida;
enquanto, no descaminho a mercadoria é permitida, consistindo o delito a evitar o
pagamento do tributo devido.
Conduta Típica:
a) o comportamento proibido consiste em funcionário público facilitar o
descaminho ou contrabando;
b) facilitar significa auxiliar, tornar fácil;
c) pode ser por ação ou omissão (não criar obstáculo, aconselhar, indicar os meios
da execução de fraude, etc);
d) é necessário infração ao dever funcional; sem ele é atípico pelo Art. 318, do
Código Penal, passando a partícipe do Art. 334, do Código Penal;
e) mero descumprimento do dever funcional concernente à vistoria de mercadorias
não configura o ilícito, eis que exige-se o dolo;
f) também não ocorre no simples erro de classificação que permite o despacho ou o
livre trânsito da mercadoria.
Elemento Subjetivo:
1) dolo, vontade dirigida à facilitação do contrabando ou descaminho;
2) a consciência de o sujeito violar o dever funcional. Se não houver consciência de
o funcionário público infringir dever funcional, não se fala em Art. 318, do
Código Penal.
Consumação: crime formal, com a realização da conduta comissiva ou omissiva de
facilitação. Independe a consumação da prática do contrabando ou descaminho.
Tentativa: é admissível se for conduta comissiva; porém, se for omissiva é
inadmissível.
Exemplo: “O crime definido no art. 318 do CP, consuma-se com a efetiva
facilitação por parte do agente, com consciência de estar infringindo o dever funcional,
pouco importando que circunstâncias diversas impeçam a consumação do
contrabando.”(EJTFR, 68/21)19
Competência: compete a Justiça Federal processar e julgar, diante do interesse da
União (Art. 109, I, da Constituição Federal).20 Ainda que o sujeito seja funcionário estadual
ou haja conexão com o crime de contrabando ou descaminho.

PREVARICAÇÃO (Própria)

19
Apud, ANDREUCCI, Ricardo Antônio. Manual de Direito Penal. 4 ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 420.
20
Art. 109 - Aos juízes federais compete processar e julgar: I - as causas em que a União, entidade autárquica ou
empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de
falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho.
20

Art. 319 - Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de ofício,


ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse
ou sentimento pessoal:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.
O funcionário se abstém da realização da conduta que está obrigado, ou retarda ou a
concretiza contra a lei, com destinação específica para atender a sentimento ou interesse
próprio.
Sujeito Ativo: crime próprio – não se exclui o terceiro partícipe, nos termos do
Arts. 29 e 30, ambos do Código Penal.
Sujeito Passivo: o Estado e secundariamente quem sofrer o dano.
Elementos Objetivos do Tipo:
1) retardando ato de ofício, ou seja: significa não realizar o ato de ofício dentro de
um prazo estabelecido pela lei.;
2) deixando de realizá-lo, ou seja definitivamente não realiza o ato.
3) realizando, ou seja: ele realiza, mas de forma contrária da lei.
Nos dois primeiros o ato é omissivo. No terceiro, o ato é comissivo.
Elemento Subjetivo:
a) dolo mais “satisfazer interesse ou sentimento pessoal”;
b) interesse pessoal é a vantagem pretendida pelo funcionário público, seja moral
ou material. Exemplos:
- “Secretário da Câmara Municipal que se omitiu em ato que devia praticar
para atender interesses de amigos políticos” (RT 223/379);
- “Funcionário que por sua tolerância permite que seus amigos pesquem em
local proibido” (RT 412/296).
- Prevarica o prefeito que vende a preços baixos terrenos urbanos para filhos
e parentes próximos, satisfazendo interesses e sentimentos pessoais, em
descordo com a Lei Orgânica do Município.”(TARS – RT, 629/367).
c) sentimento pessoal diz respeito ao afeto do funcionário público para com as
pessoas, como simpatia, ódio, vingança, despeito, dedicação, caridade, etc.
Exemplos:
- “Funcionário público que por comodismo (e raiva) se recusa a atender
durante o horário normal de expediente os contribuintes que desejavam
recolher, tempestivamente, seus débitos fiscais” (RT 397/286).
- “Médico, chefe do centro de saúde, que retarda expedição de atestado de
óbito em face da animosidade com autoridade policial” (RT 520/367).
- Militar que deixa de tomar providências para beneficiar superior
hierárquico.
- O funcionário público que deixa de expedir um alvará por ser o solicitante
seu inimigo.
Consumação: com a omissão, retardamento ou realização do ato. O retardamento e
a omissão da realização do ato e ofício devem ser indevidos. Já na realização do ato, este
deve ser contrário a lei.
Tentativa: na omissão e no retardamento, sendo crime omissivo próprio não cabe
tentativa. No comissivo cabe a tentativa
Outros delitos e distinções:
21

a) Prevaricação (Art. 319, do Código Penal) e Desobediência (Art. 330, do Código


Penal): na desobediência o sujeito ativo só pode ser particular ou funcionário
quando não age em razão da sua função.
b) Na Corrupção Passiva (Art. 317, do Código Penal): há um ajuste entre o
corrupto e o corruptor, o que inexiste na Prevaricação.
c) Delitos Eleitorais: Arts. 291 a 295, 307, 308, Lei 4.737/65.
d) De acordo com o artigo 445, do CPP, os jurados serão responsáveis
criminalmente, nos mesmos termos em que o são os juízes de ofício. “Art. 445.
O jurado, no exercício da função ou a pretexto de exercê-la, será responsável
criminalmente nos mesmos termos em que o são os juízes togados”.21
e) Ressalte-se que na denúncia, a não menção ao interesse ou sentimento que
motivaram o agente, torna a inicial inepta.
f) O desatendimento de requisição formulada por Promotor de Justiça para a
instauração de inquérito policial, por parte de delegado de polícia, por teimosia
ou capricho, configura o crime, conforme decisão do STF.
g) A omissão ou retardamento do ato por mera indolência, simples desleixo ou
negligência do funcionário, pode configurar improbidade administrativa, nos
termos do artigo 11, II, da Lei 8.429/92. Assim, não caracteriza o delito, se a
omissão é causada por indolência, desídia ou preguiça. Nesse sentido: “Não se
pode reconhecer o crime de prevaricação na conduta de quem omite os próprios
deveres por indolência ou simples desleixo, se inexistente a intenção de
satisfazer o interesse ou sentimento pessoal” (JTACrim, 71/520).22
h) A inobservância aos direitos estabelecidos no inciso XIV, do artigo 7°, da Lei nº
8.906, de 4 de julho de 199423 (Estatuto da Ordem dos Advogados do Brasil) ou
fornecimento incompleto de autos ou o fornecimento de autos em que houve a
retirada de peças já incluídas no caderno investigativo implicará
responsabilização criminal e funcional por abuso de autoridade do responsável
que impedir o acesso do advogado com o intuito de prejudicar o exercício da
defesa, sem prejuízo do direito subjetivo do advogado de requerer acesso aos
autos ao juiz competente. (Lei n. 13.245, de 12.01.2016)

Circunstância Especial de Aumento de Pena: Art. 327, § 2º, do Código Penal.


Ação Penal Pública Incondicionada.

PREVARICAÇÃO (Imprópria)
Art. 319-A. Deixar o Diretor de Penitenciária e/ou agente público, de
cumprir seu dever de vedar ao preso o acesso a aparelho telefônico, de
rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou com
o ambiente externo:
Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano”.24

21
Redação dada pela Lei nº 11.689, de 09.06.08.
22
Todavia, há entendimento contrário, de que a omissão por preguiça constitui prevaricação, por interesse pessoal.
23
XIV - examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir investigação, mesmo sem procuração, autos de
flagrante e de investigações de qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade,
podendo copiar peças e tomar apontamentos, em meio físico ou digital;
24
Artigo inserido pela Lei nº 11.466, de 28 de março de 2007, publicado no DOU de 29/03/2007.
22

Tratando-se de ação dolosa será a grande válvula de escape por parte dos possíveis
criminosos. Isso poderá ensejar um dispositivo inócuo, praticamente na mesma situação de
impunidade.
No plano dogmático o novo tipo é infeliz:
a) por sugerir responsabilidade penal objetiva, modalidade vedada entre nós.
Imaginemos que em revista a determinada cela, descubra-se um rádio em posse de um
detento. Forçosamente o diretor da Penitenciária terá falhado em sua obrigação de impedir
a entrada daquele objeto. Seria essa circunstância suficiente a caracterizar fato típico?
Evidente que não.25
b) pela ausência do alcance do quanto seja o dever específico do diretor de
Penitenciária e/ou agente público, conforme o seguinte exemplo: não tendo o juiz da
Execução e o membro do Ministério Público realizado inspeção mensal dos
estabelecimentos penais, com vistas, inclusive, a garantir a vedação aos presos do acesso a
telefones celulares, teriam cometido o delito contido no art. 319-A? Afinal, a eles incumbe
tal inspeção: arts. 66, VII e 68, parágrafo único, da LEP. O mesmo se diga do Conselho
Penitenciário (art. 70, II), do Departamento Penitenciário Nacional (art. 72, II) e do
Conselho da Comunidade (art. 81, I).26
O dilema é reflexo da má-técnica de criminalizar instâncias administrativas. Nesse
contexto, fica difícil precisar o limite entre o descumprimento da obrigação funcional e a
prática de ilícito penal.27
É um crime omissivo puro.
OBS:
a) Qual a principal diferença entre a PREVARICAÇÃO PRÓPRIA para a
PREVARICAÇÃO IMPRÓPRIA. Na prevaricação própria existe o elemento especial do
tipo (dolo específico) “para satisfazer interesse ou sentimento pessoal”; enquanto na
imprópria, não precisa existir essa finalidade especial do agente. Em síntese, na própria, o
dolo é específico; na imprópria, é genérico.
b) Se o particular que colaborar com o servidor responderá por crime autônomo de
favorecimento real impróprio, previsto no artigo 349-A, do Código Penal.

CONDESCENDÊNCIA CRIMINOSA
Art. 320 - Deixar o funcionário, por indulgência, de responsabilizar
subordinado que cometeu infração no exercício do cargo ou, quando lhe
falte competência, não levar o fato ao conhecimento da autoridade
competente:
Pena - detenção, de 15 (quinze) dias a 1 (um) mês, ou multa.
Ocorre quando o funcionário público deixa de agir por indulgência (tolerância,
complacência, pena, brandura), não denunciando ou não responsabilizando seu subordinado
que viole mandamento de natureza administrativa, no exercício do cargo.
Sujeito Ativo: funcionário público
Sujeito Passivo: o Estado
Elementos Objetivos do Tipo:

25
QUEIROZ, Rafael Mafei Rabelo. A (perene) crise penitenciária e as normas penais placebo: breves notas à Lei nº
11.466/07. In: http://www.ibccrim.org.br/site/boletim/exibir_artigos.php?id=3403. Acessado em 04/04/2007.
26
Idem
27
Ibid.
23

1) deixar de responsabilizar subordinado que cometeu infração no exercício do


cargo; e,
2) não levar o fato cometido pelo subordinado ao conhecimento da autoridade
competente, quando a iniciativa de apuração ou de responsabilidade não é da sua
competência. Ou seja, não noticia a autoridade superior.
Exige-se que o subordinado tenha cometido infração:
- penal, e/ou;
- administrativa
A falta deve guardar conexão com o exercício do cargo. Não há condescendência
quando subordinado cometeu um crime que não se relaciona com o exercício do
cargo. Exemplo: deixou de pagar a conta do supermercado.
Consumação: com a omissão ao tomar conhecimento do fato e de sua autoria, não
promove de imediato a responsabilidade do infrator ou não comunica o fato à autoridade
competente.
Tentativa: inadmissível.
Circunstância Especial de Aumeto de Pena: Art. 327, § 2º, do Código Penal.

ADVOCACIA ADMINISTRATIVA
Art. 321 - Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante
a administração pública, valendo-se da qualidade de funcionário:
Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) meses, ou multa.
Parágrafo único - Se o interesse é ilegítimo:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, além da multa.
Sujeito Ativo: funcionário público;
Sujeito Passivo: Estado.
Elementos Objetivos do Tipo:
Patrocinar: pleitear, advogar, facilitar, apadrinhar interesse de outrem. Por isso,
NÃO EXISTE O CRIME quando o funcionário patrocinar INTERESSE
PRÓPRIO. Somente haverá o delito na hipótese do funcionário defender
interesse alheio.
Pode ser:
1) formal e explícito: petições, razões, etc.
2) dissimulado: acompanhamento pessoal de processos, pedido a funcionário
encarregado do procedimento, etc.
Na forma direta age, ele próprio, para obtenção da realização do interesse do
terceiro. No meio indireto, vale-se de interposta pessoa.
O interesse privado pode ser legítimo ou ilegítimo.
Elemento Subjetivo do Tipo: vontade livre e consciente de patrocinar interesse
privado junto à Administração Pública.
Forma qualificada: se o interesse for ilegítimo, nos termos do parágrafo único do
Art. 321, do CódigoPenal.
Por exemplo: “um funcionário da Secretaria de Transportes defende interesses de
particulares na Secretaria do Meio Ambiente, uma vez que possui certa influência nesta
última.” (CAPEZ, 2004, p. 451).
Consumação: no primeiro ato de patrocínio.
Tentativa: é admissível.
Circunstância Especial de Aumento de Pena: Art. 327,§ 2º, do Código Penal.
24

OBSERVAÇÕES
a) É partícipe o particular em benefício de quem atua o funcionário desde que,
ciente da ilicitude de seu procedimento, solicita o patrocínio.
b) A Lei 8.112/90 (dispõe sobre regime jurídico dos servidores públicos da União),
não permite que o funcionário atue como procurador ou intermediário junto a
repartições públicas.
c) Advocacia administrativa e prevaricação – na advocacia administrativa, o agente
público, não tendo atribuição para praticar determinado ato administrativo,
influencia o servidor dotado de competência para tanto, em benefício de algum
terceiro, não pertencente aos quadros da Administração (CAPEZ, 2004, p. 453).
d) Se o patrocínio de interesse privado der causa a instauração de licitação ou
celebração de contrato, cuja invalidação vier a ser decretada pelo Poder
Judiciário, o crime será o do artigo 91, da Lei 8.666/93.28
e) O que distingue o crime de advocacia administrativa do crime contra a ordem
tributária praticado por funcionário público (artigo 3º, inciso III, da Lei 8137/90)
é a natureza da administração pública. Se fazendária, configura o crime do artigo
3º, inciso III, da Lei 8137/90 29 e não o crime de advocacia administrativa (artigo
321 do CP). Para que haja o crime do artigo 321 do CP, 30 o patrocínio deve
ocorrer perante a administração pública, excluída a fazendária.
Desta forma:
- se o interesse é patrocinado perante a administração geral, o crime é de
advocacia administrativa (artigo 321 do CP);
- se o interesse é patrocinado perante a administração pública fazendária, o
crime é contra a ordem tributária.

VIOLÊNCIA ARBITRÁRIA
Art. 322 - Praticar violência, no exercício de função ou a pretexto de
exercê-la:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, além da pena
correspondente à violência.
É controvertida a vigência do Art. 322, do Código Penal, após edição da Lei
4.898/65. Há duas correntes:
1) O Art. 322, do Código Penal, foi revogado;
2) O Art. 322, do Código Penal, não foi revogado.
A lei penal tutela a Administração Pública. Protege incolumidade física, liberdade
do particular contra a conduta abusiva do funcionário público.
Sujeito Ativo: o funcionário público;
Sujeito Passivo: o Estado e secundariamente a vítima.
Elementos Objetivos do Tipo:
28
Art. 91. Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a Administração, dando causa à instauração de
licitação ou à celebração de contrato, cuja invalidação viera ser decretada pelo Poder Judiciário:Pena - detenção, de 6
(seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
29
Art. 3° Constitui crime funcional contra a ordem tributária, além dos previstos no Decreto-Lei n° 2.848, de 7 de
dezembro de 1940 - Código Penal (Título XI, Capítulo I): III - patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado
perante a administração fazendária, valendo-se da qualidade de funcionário público. Pena - reclusão, de 1 (um) a 4
(quatro) anos, e multa.
30
321 - Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a administração pública, valendo-se da qualidade
de funcionário: Pena - detenção, de um a três meses, ou multa.
25

Consiste em praticar violência, no exercício da função ou a pretexto de exercê-la.


Violência siginifica emprego de força bruta “vis corporalis” que se materializa em vias de
fato, lesão corporal (leve, grave ou gravíssima) ou homicídio.
Fica excluída a violêndia moral e a usada contra coisa.
Há condutas que podem ser tipo abuso de poder (Art. 350, do Código Penal) ou
abuso de autoridade (Lei 4.898/65). Como exemplo: emprego de meios hipnóticos ou
chamado soro da verdade.
É indispensável que o comportamento abusivo seja relacionado no desempenho da
função ou sob a desculpa de exercê-la.
Elemento Subjetivo do Tipo: vontade livre e consciente de praticar o ato violento.
Exige-se consciência da ilegitimidade da conduta. Porque pode ser legítima – Arts. 284 e
292, do Código de Processo Penal, a saber:

Art. 284 - Não será permitido o emprego de força, salvo a indispensável


no caso de resistência ou de tentativa de fuga do preso.
(...)
Art. 292 - Se houver, ainda que por parte de terceiros, resistência à
prisão em flagrante ou à determinada por autoridade competente, o
executor e as pessoas que o auxiliarem poderão usar dos meios
necessários para defender-se ou para vencer a resistência, do que tudo
se lavrará auto subscrito também por duas testemunhas.

Consumação: com a prática da violência (vias de fato, lesão corporal ou


homicídio).
Tentativa: é admissível. Ex: policial desfere golpe de cassetete contra a vítima e
erra o alvo.
Observações:
a) se a violência for contra menor de 18 (dezoito) anos pode haver (conforme as
circunstâncias) tipicidade do Art. 232, do Estatuto da Criança e do
Adolescente.31
b) O STF já se pronunciou no sentido de não estar o artigo derrogado, mas na
prática não se vislumbra mais sua aplicação. Até porque, com o advento da Lei
de Tortura, as condutas que poderiam configurar o crime e que ainda não se
enquadravam no abuso de autoridade, tiveram previsão específica naquele
diploma.

ABANDONO DE FUNÇÃO
Art. 323 - Abandonar cargo público, fora dos casos permitidos em lei:
Pena - detenção, de 15 (quinze) dias a 1 (um) mês, ou multa.
§ 1º - Se do fato resulta prejuízo público:
Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.
§ 2º - Se o fato ocorre em lugar compreendido na faixa de fronteira:
Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.
Abandonar cargo público, fora dos casos permitidos em lei.
Sujeito Ativo: funcionário público;
31
Art. 232 - Submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância a vexame ou a constrangimento:
Pena - detenção de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos
26

Sujeito Passivo: o Estado.

Elementos Objetivos do Tipo:


a) Cargo Público: nos termo do Art. 3º, caput, da Lei 8.112/90, Art. 3º:
“Cargo público é o conjunto de atribuições e responsabilidades
previstas na estrutura organizacional que devem ser cometidas a um
servidor.
Parágrafo único. Os cargos públicos, acessíveis a todos os brasileiros,
são criados por lei, com denominação própria e vencimento pago pelos
cofres públicos, para provimento em caráter efetivo ou em comissão”.
b) Função Pública: consiste em qualquer atividade realizada pelo Estado com a
finalidade de satisfazer as necessidades de natureza pública.
c) Abandonar: ausentar-se de maneira arbitrária do local onde exerce o cargo
público. É o afastamento total dos seus deveres com probabilidade de dano ao setor
público.
d) Fora dos casos permitidos em lei.
Elemento Subjetivo do Tipo: vontade livre e consciente de abandonar o exercício
do cargo ou função pública. Irregularidade da conduta e probabilidade de dano à
Administração Pública. Por isso, se o funcionário abandona o cargo, indevidamente
satisfeitos seus deveres por um substituto – há falta disciplinar, não crime.
Consumação: com o afastamento do exercício do cargo público por tempo
juridicamente relevante. Exemplos:
1) Depois de empossado, não chega o acusado a exercer, por vontade própria, o
cargo para o qual foi nomeado, abandonando a função pública.
2) O acusado que se ausentou por mais de 30 (trinta) dias, sem motivo de força
maior, tempo suficiente para criar possibilidade de dano.
3) Enquanto não há o deferimento do pedido de demissão, não é permitido ao
funcionário abondonar o cargo público. Se o fizer, haverá configuração do crime
Tentativa: delito omissivo próprio – não admite tentativa
Tipos qualificados:
1) Quando o abandono causa prejuízo público (Art. 323, § 1º, do Código Penal) -
No caput basta a probabilidade de dano. O § 1º do Art. 323 cuida de prejuízo
público, ou seja: o causado aos serviços de natureza pública, não abrangendo o
de natureza particular. Exemplo: não arrecadação de impostos, falta d’água à
população, paralisação do serviço postal.
2) Se o abandono ocorre em lugar compreendido na faixa de fronteira (323, § 2º).
Faixa de fronteira é a situada a 150 KM (cento e cinqüenta) quilômetros da
nossa divisa com outros países (Lei 6.634/79), in verbis:
“Art 1º - É considerada área indispensável à Segurança Nacional a faixa
interna de 150 km (cento e cinquenta quilômetros) de largura, paralela à linha
divisória terrestre do território nacional, que será designada como Faixa de
Fronteira.”
Circunstância Especial de Aumento de Pena: Art. 327, § 2º, do Código Penal.
Ação Penal Pública Incondicionada.

EXERCÍCIO FUNCIONAL ILEGALMENTE ANTECIPADO OU PROLONGADO


27

Art. 324 - Entrar no exercício de função pública antes de satisfeitas as


exigências legais, ou continuar a exercê-la, sem autorização, depois de
saber oficialmente que foi exonerado, removido, substituído ou suspenso:
Pena - detenção, de 15 (quinze) dias a 1 (um) mês, ou multa.
Sujeito Ativo: o funcionário público (se for particular é crime do Art. 328, do
Código Penal).
Sujeito Passivo: o Estado
Elementos Objetivos do Tipo:
1) entrar no exercício de função pública antes de satisfeitas as exigências legais,
pois uma vez feita a nomeação, o provimento somente se completará com a
posse e o exercício do cargo;
2) continuar exercê-la depois de exonerado, substituído, suspenso ou removido.
No primeiro, o sujeito já tenha sido nomeado para o cargo público, mas há início
irregular da atividade funcional. Trata-se de norma penal em branco, uma vez que o
tipo penal não diz quais as “exigências legais” (Estatutos dos Servidores da União,
Estados e Municípios). Por exemplo: falta de ato de posse; de inspeção de saúde; de
prova de quitação militar.
No segundo, é uma forma de usurpação de função pública. O funcionário é
exonerado, substituído, suspenso, mas continua no exercício de suas atividades
funcionais. Para configuração é preciso que a permanência no exercício da função
pública ocorra sem autorização.
Elemento Subjetivo do Tipo: dolo mais “depois de saber oficialmente”. Não basta
a simples publicação no Diário Oficial, pois não é suficiente a presunção de conhecimento.
Consumação: ocorre com a realização do primeiro ato de ofício indevido.
Tentativa: é admissível. Ex: o agente na repartição pública, após sua exoneração,
tenta realizar ato de ofício, sendo obstado pelo diretor.
Circunstância Especial de Aumento de Pena: Art. 327, § 2º, do Código Penal.
Exemplos:
“Comete o crime previsto no art. 324 do CP o escrivão que pratica atos funcionais
durante o período de suspensão, como firmar recibos de custas e emolumentos, não
importando que o dinheiro tenha tido a destinação legal, já que havia perigo de lhe
ser dado outro fim.”(TACrim – Ap. Crim. 314.987 – Rel. Edmeu Carmesini)
...........................
“Exercício funcional ilegalmente antecipado ou prolongado – Escrivão de Cartório
de Notas que recebe custas e emolumentos quando se achava suspenso da
função.”(TACrim – RT, 585,330).

Ação Penal Pública Incondicionada.

VIOLAÇÃO DE SIGILO FUNCIONAL


Art. 325 - Revelar fato de que tem ciência em razão do cargo e que deva
permanecer em segredo, ou facilitar-lhe a revelação:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, ou multa, se o fato
não constitui crime mais grave.
§ 1º Nas mesmas penas deste artigo incorre quem:
28

I – permite ou facilita, mediante atribuição, fornecimento e empréstimo


de senha ou qualquer outra forma, o acesso de pessoas não autorizadas a
sistemas de informações ou banco de dados da Administração Pública;
II – se utiliza, indevidamente, do acesso restrito.
§ 2º Se da ação ou omissão resulta dano à Administração Pública ou a
outrem:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa.
Certos fatos relacionados com a Administração Pública podem ficar acobertados do
conhecimento geral em razão do interesse público.Como por exemplo: o Art. 16 do Código
de Processo Penal Militar.
Traz o Art. 325, do Código Penal, uma subsidiariedade expressa, por exemplo:
Violação Sigilo Militar – Art. 326, do Código Penal Militar; Ofensa à Segurança Nacional
– Lei 7.170/83.
Sujeito Ativo: funcionário público. Se já estava demitido não incide a norma. O
terceiro que recebeu as informações não responde pelo crime, a não ser que tenha induzido,
instigado ou auxiliado secundariamente o funcionário infiel.
Sujeito Passivo: o Estado
Elementos Objetivos do Tipo:
1) Revelar: comunicar o fato ou circunstância a terceiro. É a chamada revelação
direta, executada pessoalmente por escrito ou verbalmente.
2) Facilitar a revelação: concorrer com o comportamento próprio a fim de tornar
fácil o conhecimento do fato ou circunstância a terceiro.
3) Se o terceiro já conhecia a informação inexiste o delito.
4) É necessário que o funcionário tenha conhecimento do segredo em razão do
cargo. Trata-se de interesse público. Se for interesse privado, pode configurar
(conforme as circunstâncias) delito do Art. 154, do Código Penal: “Revelar
alguém, sem justa causa, segredo, de que tem ciência em razão de função,
ministério, ofício ou profissão, e cuja revelação possa produzir dano a
outrem.”
Elemento Subjetivo do Tipo: dolo mais “de que tem ciência em razão do cargo”.
Se o funcionário vem a tomar conhecimento de informe sigiloso de outra repartição
pública, e o revela, não comete crime do Art. 325, do Código Penal.
Consumação: com ato de revelação de segredo. Ou de sua facilitação. Crime
formal.
Circunstância Especial de Aumento de Pena: Art. 327, § 2º, do Código Penal.

VIOLAÇÃO DE SIGILO FUNCIONAL DE SISTEMA DE INFORMAÇÕES


Art. 325 -
§ 1º Nas mesmas penas deste artigo incorre quem:
I – permite ou facilita, mediante atribuição, fornecimento e empréstimo
de senha ou qualquer outra forma, o acesso de pessoas não autorizadas a
sistemas de informações ou banco de dados da Administração Pública;
II – se utiliza, indevidamente, do acesso restrito.
§ 2º Se da ação ou omissão resulta dano à Administração Pública ou a
outrem:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e multa
29

Nas condutas acrescidas pelos §§ 1º e 2º, pela Lei 9.983/2000, não há revelação de
informações, mas o acesso a elas. Tratam-se de crimes ligados ao computador ou
informática.
Sujeito Ativo: o funcionário público que tendo acesso ao sistema de informações
ou banco de dados permite ou facilita o acesso a terceiro não autorizado (Há entendimento
que o particular não pratica esse crime, mas pode responder por outro, como furto,
estelionato posterior, dano).
Sujeito Passivo: o Estado.
Elementos Objetivos do Tipo: duas as formas:
1) permitir ou facilitar o acesso ao sistema de informações e bancos de dados da
Administração Pública (Ex: funcionário que empresta sua senha a fim de
permitir acesso de terceiro);
2) utilizar-se do acesso restrito (Ex: o funcionário público que acessa o sistema de
informações ou banco de dados, mas invade parte do sistema em que o acesso
lhe é vedado, ou seja, de uso restrito).
Assim, o terceiro que teve acesso ao sistema de informações ou banco de dados não
responde por esse delito (CAPEZ, 2004, p. 467).
Elemento subjetivo do tipo: é o dolo.
Consumação: no inciso I o delito se consuma com a facilitação do acesso aos
dados. A tentativa é possível. No inciso II, com a efetiva utilização do acesso. Não há
tentativa.
Ação Penal Pública Incondicionada.

VIOLAÇÃO DO SIGILO DE PROPOSTA DE CONCORRÊNCIA


Art. 326 - Devassar o sigilo de proposta de concorrência pública, ou
proporcionar a terceiro o ensejo de devassá-lo:
Pena - Detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.
Sujeito Ativo: funcionário público – Arts. 327, do Código Penal e 84 da Lei
8.666/93, que reza: “Considera-se servidor público, para os fins desta Lei, aquele que
exerce, mesmo que transitoriamente ou sem remuneração, cargo, função ou emprego
público.”
Sujeito Passivo: Estado e os licitantes eventualmente prejudicados.
Elementos Objetivos do Tipo: devassar significa tomar conhecimento indevido
da proposta de licitação. Ex: abertura do envelope da proposta do licitante; envelope contra
a luz.. etc. Proporcionar que terceiro faça o devassamento. A devassa deve ocorrer antes
do término da apresentação das propostas. Anulada a licitação, por motivo diverso,
desaparece o delito, pois não houve prejuízos à Administração Pública.
Elemento Subjetivo do Tipo: o dolo
Consumação: no momento da devassa, ou terceiro que toma conhecimento do
conteúdo da proposta.
Tentativa: é admissível. Ex: funcionário é surpreendido abrindo o envelope da
proposta.
Circunstância Especial de Aumento de Pena: Art. 327, § 2º, do Código Penal.
Da Lei 8.666/93: Para alguns autores, o Art. 326, do Código Penal, está revogado
pelo Art. 94, da Lei 8.666/93, aplicando-se o Art. 84, § 2º, da referida Lei:
30

Art. 94. Devassar o sigilo de proposta apresentada em procedimento


licitatório, ou proporcionar a terceiro o ensejo de devassá-lo: Pena -
detenção, de 2 (dois) a 3 (três) anos, e multa.”
.......................................................
Art. 84. (...)
§ 2º A pena imposta será acrescida da terça parte, quando os autores dos
crimes previstos nesta Lei forem ocupantes de cargo em comissão ou de
função de confiança em órgão da Administração direta, autarquia,
empresa pública, sociedade de economia mista, fundação pública, ou
outra entidade controlada direta ou indiretamente pelo Poder Público.

Isso porque, “(...) tanto a norma do artigo 335, quanto a do artigo 326, falam em
concorrência pública, que é uma modalidade de licitação destinada a contratos de grande
valor. Em decorrência da idade da Parte Especial do Código Penal, poder-se-ia imaginar
que, por via interpretativa, seria possível o enquadramento da ação do agente nas sanções
do artigo 335 (e também 326, do Código Penal), na medida em que a legislação
administrativa contemporânea não utiliza mais a denominação concorrência pública.
Impende realçar-se, porém, que a antiga denominação concorrência pública foi substituída
pela denominação concorrência e que a antiga denominação concorrência administrativa foi
substituída pela denominação tomada de preços.”32
Daí resulta pelo Código Penal (Art. 326 e Art. 335), que apenas quando o processo
de licitação se destina à contratação de serviço de grande valor, abre-se lugar à tutela
jurídico-penal. Pois, se a modalidade de licitação se constitui em tomada de preços ou
convite, qualquer violação ou fraude escaparia à esfera jurídico-penal.
Desta forma, pelo Código Penal (Art.s 326 e 335) se de pequeno valor o serviço, a
licitação se da mediante convite ou tomada de preços, logo inocorre o crime contra a
Administração Pública. Por isso, a tipicidade existente no Art. 94, da Lei 8.666/93, para
abranger todas as modalidades de Licitação.
Ação Penal Pública Incondicionada (Arts. 100 a 108, da Lei 8.666/93).

BIBLIOGRAFIA

BRASIL. Código Penal. Atualizado — qualquer editora.


DELMANTO, Celso, DELMANTO, Roberto e DELMANTO JÚNIOR, Roberto. Código
Penal Comentado. 4ª ed. São Paulo: Renovar, 1998.
FRANCO, Alberto Silva e outros. Código penal e sua interpretação jurisprudenciall. São
Paulo, RT, 1997.

32
in Habeas corpus n. 9.576, de Concórdia.Relator: Des. Marcio Batista, DOE nº 8.130 - Pág 18 - 14/11/90).

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