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AO DETRAN - ES, ÓRGÃO COMPETENTE 108100

Referência auto de infração nº: BG00078928

DENER MAUÉS NEGRÃO, brasileiro, com CPF nº 017.807.902-28, CNH nº

08028388800, com endereço na rua R. Arthur Czartoryski, 421 - Jardim da Penha

Vitória - ES, 29060-370., vem propor:

DEFESA PRÉVIA

Requerendo o cancelamento da autuação, em face o auto de infração nº

BG00078928, pelos fatos e fundamento a seguir:

I) DOS FATOS

No dia, 04/11/2023, por volta das 20:20, quando trafegava na Avenida

Desembargador Lourival De Almeida 416, o Autor foi autuado em razão do suposto

cometimento de infração prevista no artigo 230, inciso V (Conduzir o veículo que não

esteja registrado e devidamente licenciado) do Código de trânsito brasileiro (AIT nº

BG00078928).

Logo após ser abordado, o Autor quitou os débitos pendentes do veículo, e

foi liberado pelas autoridades competentes.

Importante ressalvar que o Autor não possui nenhuma outra infração, com

isso é possível verificar que nao é um infrator costumeiro, não representando perigo

no trânsito.

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Frisa-se que diante da autuação imposta, por estar na carteira provisória o

Autor poderá perder sua CNH, algo completamente desproporcional, imagina ter

que reiniciar todo o processo de habilitação, tendo em vista que cometeu uma

infração administrativa cujo pagamento do valor pecuniário é mais que suficiente

para apenar.

Com isso ante a natureza da infração, que não representa QUALQUER perigo

ao trânsito, a contagem da referida infração não deve servir para cancelamento da

CNH do Autor.

II) DO DIREITO

A) DA FUNDAMENTAÇÃO

Foi consolidado pelos tribunais superiores que infrações administrativas que

NÃO trazem risco à segurança do trânsito, não devem servir para penalidades

administrativas gravosas como Suspensão do Direito de Dirigir ou Cancelamento da

CNH Provisória.

“a falta de registro de veículo no prazo legal, embora configure infração de

natureza grave prevista no art. 233 do CTB, não é motivo suficiente para

impedir a expedição da Carteira Nacional de Habilitação ao condutor que

detém permissão para dirigir, porquanto não constitui direta violação dos

objetivos básicos do Sistema Nacional de Trânsito, quais sejam, a

segurança e educação para o trânsito, nos termos do inciso I do art. 6º do

CTB” (AgInt no AREsp 578.648/RS, Rel. Ministro SÉRGIO KUKINA,

PRIMEIRA TURMA, julgado em 27/02/2018, DJe 13/03/2018).

O legislador, ao estabelecer os procedimentos para a imposição das

penalidades de Suspensão do Direito de Dirigir ou Cancelamento da CNH

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Provisória, quis preservar os objetivos básicos do sistema nacional de trânsito,

especialmente no que diz respeito à segurança e educação para o trânsito,

penalizando condutores que, efetivamente, representassem risco para os demais

usuários da via.

Por isso as infrações administrativas que não se relacionam à capacidade de

conduzir veículos com segurança na via pública, não possuem o condão de

promover o Cancelamento da CNH Provisória.

Basicamente, tais penas tem o único objetivo de punir motoristas com: Traços

de periculosidade ao volante; Condutas negligentes; Condutas imprudentes ou

imperitas que comprometa a segurança no trânsito, e; Comportamentos que trazem

perigo a si e à terceiros.

Em síntese, as infrações que não se enquadram nos quesitos acima, não

devem considerar para aplicação da penalidade administrativa como cancelamento

da CNH, porque não tem qualquer condão de periculosidade, mantendo-se apenas

a cobrança e aplicação de pena pecuniária, a multa.

Como registrou o Ministro Benedito Gonçalves no julgamento do AgRg no

REsp 1.231.072/RS, na Primeira Turma, "o que se quer é que o cidadão esteja apto

ao uso do veículo, habilitado à direção segura, que não ofereça risco à sua

integridade nem a de terceiro e que não proceda de forma danosa à sociedade.

Como podemos verificar pelo fato do Autor somente possuir esta infração

administrativa, o mesmo está apto para conduzir veículo.

B) INFRAÇÕES QUE NÃO TRAZEM PERIGO, NÃO DEVEM SER

CONSIDERADAS

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Puxando esse raciocínio, traz-se entendimentos oriundos da jurisprudência:

ADMINISTRATIVO. CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO. CONDUTOR


AUTUADO POR INFRAÇÃO DE TRÂNSITO DE NATUREZA
ADMINISTRATIVA. PERÍODO DE PERMISSÃO PARA DIRIGIR. FALTA
DE PROCESSO ADMINISTRATIVO PRECEDENTE. CONCESSÃO DE
CARTEIRA NACIONAL DE HABILITAÇÃO DEFINITIVA. EXPEDIÇÃO.
POSSIBILIDADE. 1. A autuação por infração de trânsito somente é apta a
impedir o acesso à Carteira Nacional de Habilitação definitiva (art. 148, § 3º,
do CTB) se precedida de processo administrativo com decisão definitiva, em
que se observou o contraditório e a ampla defesa. Precedente: REsp
800.963/RS, Rel. Ministro José Delgado, Primeira Turma, julgado em
15.2.2007, DJ 5.3.2007. 2. O STJ já se manifestou no sentido de ser possível
a expedição de Carteira Nacional de Habilitação definitiva a motorista que
cometa infração administrativa que não importe em risco à segurança do
trânsito e da coletividade, como ocorreu in casu - infração, em tese, do art.
230, V, do CTB (Art. 230: "Conduzir o veículo: (...) V - que não esteja
registrado e devidamente licenciado"). 3. Desse modo, considerando as
circunstâncias do caso em exame, não é razoável impedir o autor de obter a
habilitação definitiva em razão de falta administrativa, que não diz respeito
à segurança do trânsito (conduzir veículo que não esteja registrado ou
devidamente licenciado) e nenhum risco impõe à coletividade. 4. Recurso
Especial provido. (STJ - REsp: 1523307 SP 2015/0069552-6, Relator: Ministro
HERMAN BENJAMIN, Data de Julgamento: 26/05/2015, T2 - SEGUNDA
TURMA, Data de Publicação: DJe 30/06/2015).

APELAÇÃO – Mandado de segurança – Renovação da CNH – Impedimento


em razão da instauração de Procedimentos Administrativos – Pontuação
decorrente de infrações de natureza administrativa como falta de registro do
veículo, falta de equipamento obrigatório e licenciamento – Infrações que
não atestam a incapacidade do condutor para dirigir veículo automotor –
Penalidades que não podem ser computadas no prontuário como forma de
impedir a renovação da CNH – Precedentes da Câmara e do C. STJ –
Sentença reformada, para conceder a ordem – Apelo provido. (TJ-SP - APL:
10183893520178260482 SP 1018389-35.2017.8.26.0482, Relator: Percival
Nogueira, Data de Julgamento: 13/03/2019, 8ª Câmara de Direito Público,
Data de Publicação: 13/03/2019)

REEXAME NECESSÁRIO E RECURSO VOLUNTÁRIO. MANDADO DE


SEGURANÇA. Anulação de infrações de trânsito de natureza
administrativa e, consequentemente, da penalidade de suspensão do
direito de dirigir aplicada em processo administrativo de trânsito.

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Possibilidade. Infração ao art. 230, V, e 232 do CTB. Natureza
administrativa. Conduzir o veículo que não esteja registrado e devidamente
licenciado. Porte obrigatório dos documentos. Infrações que não atestam a
incapacidade do condutor para dirigir ou representam condução
irresponsável. Precedentes neste sentido. Segurança parcialmente
concedida. Sentença mantida. Reexame necessário e recurso voluntário não
providos. (TJ-SP - APL: 10017087520168260077 SP 1001708-75.2016.8.26.0077,
Relator: Ronaldo Andrade, Data de Julgamento: 10/08/2016, 8ª Câmara de
Direito Público, Data de Publicação: 18/08/2016)

Por todo exposto nas demandas acima destacadas, é que essas penas só

devem ser computadas para fins de penalidades administrativa como Suspensão do

Direito de Dirigir ou Cancelamento da CNH Provisória, quando a infração

computada induz à conclusão de que o motorista não possua aptidão para condução

de veículos com segurança, acarretando perigo para si e, ainda, para integridade

física de terceiros, sempre vinculada a periculosidade e segurança do trânsito.

Devendo este o tema a prevalecer.

C) DA CONCLUSÃO

Por tudo que foi exposto, para manter uma linha uniformizada evitando

decisões diferentes para o mesmo tema, lembrando que as infrações devem ter um

objetivo e uma penalidade proporcional e que o cancelamento da CNH é exceção,

não a regra.

Infrações que NÃO trazem risco à segurança do trânsito, não devem servir

para penalidades administrativas gravosas como Suspensão do Direito de Dirigir ou

Cancelamento da CNH.

Conforme dito no começo, as infrações não serão “perdoadas”, mas punidas

de forma proporcional, uma vez que os valores das multas não são baixos

considerando a situação do país.

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Conforme todo destacado, punir os motoristas que não possuem traços de

periculosidade com cancelamento é algo totalmente desproporcional.

III. DOS PEDIDOS

Ex positis, requer e pede:

a) O recebimento desta defesa em virtude do atendimento dos requisitos de

admissibilidade, bem como das provas que o acompanham;

b) Seja julgada procedente a defesa para declarar a nulidade do auto de infração

nº BG00078928, em virtude dos fatos acima delineados, afastando assim suas

consequências lógicas.

Termos em que,

Pede deferimento.

02 de janeiro de 2024.

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