Você está na página 1de 11

A influência dos órgãos da mídia no processo penal: o caso Nardoni

A INFLUÊNCIA DOS ÓRGÃOS DA MÍDIA NO PROCESSO PENAL: O CASO NARDONI


Revista dos Tribunais | vol. 889/2009 | p. 480 - 505 | Nov / 2009
DTR\2009\652

Fábio Martins de Andrade


Advogado.
 
Área do Direito: Penal; Processual
Resumo: O estudo pretende demonstrar tanto indícios e sintomas como também provas de possíveis influências da
mídia no Poder Judiciário. Melhor dizendo, como a divulgação massiva de notícias sobre determinados crimes,
criminosos e a cobertura excessiva dos seus respectivos processos penais acabam por influenciar, direta ou
indiretamente, consciente ou involuntariamente e de modo expresso ou implícito, o andamento e possivelmente até a
solução destes casos criminais.
 
Palavras-chave:  Mídia - Processo penal - Caso Nardoni
Abstract: The study seeks to show both the signs and symptoms but also evidence of possible influence of the media
in the Judicial Power. Rather, as the mass dissemination of news about certain crimes, criminals and excessive
coverage of their criminal cases end up influencing, directly or indirectly, knowingly or unwittingly, and so expressed or
implied, the state and possibly even the solution of criminal cases.
 
Keywords:  Media - Criminal procedure - Case Nardoni
Sumário:
 
- 1. O papel da mídia no século XXI - 2. Alguns pontos sobre a cobertura sensacionalista da mídia nos casos criminais
- 3. A influência dos órgãos da mídia no processo penal: o caso Nardoni - 4. Conclusões
 
Introdução
Transcorridos mais de 20 anos da promulgação da Constituição da República (LGL\1988\3) vigente, permanece
controvertida a solução do confronto entre, de um lado, os direitos protegidos pelos princípios da liberdade de
expressão, imprensa e comunicação; e de outro, os direitos assegurados pelos princípios da personalidade e
privacidade. Trata-se de tormentosa questão jurídica a ser oportunamente enfrentada por toda a sociedade. Enquanto
o pêndulo do exagero leva aos atuais caminhos da "libertinagem" dos órgãos da mídia, alguns excessos e
desvirtuamentos já são claramente notados em todas as esferas da sociedade. O próximo passo certamente será a
exigência de uma programação (televisiva, radiofônica e impressa) de maior qualidade.
De fato, um primeiro ponto que merece destaque neste estudo é o papel da mídia no século XXI e num país como o
Brasil, que contabiliza enorme contingente de pessoas analfabetas e sem formação escolar ou universitária
adequadas. Aqui, já de início, releva notar o enorme potencial transformador que a vocação natural de "bem informar"
ao público com dados e informações de cunho educativo poderia elevar a mídia ao posto de líder neste necessário
movimento de transformação.
Contudo, esta não é a realidade verificada na cobertura de diversos assuntos pela mídia. Como prova de que há
deslizes e defeitos em diversos ramos, basta verificar o fenômeno do sensacionalismo, que pode ocorrer em diversas
áreas do conhecimento humano, como por exemplo, na economia e na política.
Tratando-se de casos criminais, o sensacionalismo se articula ainda com diversos fatores existentes ao longo do
trâmite do processo penal, como são: a separação maniqueísta das pessoas envolvidas; o estereótipo da categoria
"bandida"; as distorções da realidade; a penetração da ideologia do medo na sociedade; a influência negativa em
certas pessoas (fator criminógeno); o uso da palavra (des)necessária e o silêncio da palavra necessária; a vocação
tendenciosa e natural em prol da versão acusatória; a possível utilização, no âmbito do próprio processo penal, de
categorias vagas, como a "garantia da ordem pública" para assegurar de modo "legítimo" a prisão de suspeitos e
acusados, dentre outros.
O caso que se escolhe para estudar alguns destes relevantes fenômenos é o conhecido caso Nardoni. Inicialmente,
importa salientar que não se trata, de modo algum, da defesa e/ou acusação dos réus neste caso. O interesse
estritamente acadêmico, em razão de obra já escrita sobre o assunto, faz com que este, que é um crime que foi
acompanhado com verdadeira neurose pela mídia, tenha particular interesse.
Os primeiros momentos no andamento deste caso demonstram alguns pontos do que se pretende demonstrar. Neste
sentido, é relevante conferir tanto a decisão do Tribunal de Justiça que revogou a prisão temporária como também o
requerimento de prisão preventiva formulado pela autoridade policial e encampado pelo ilustre membro do Ministério
Público, quando da elaboração de sua denúncia.
Em seguida, é possível destacar algumas "provas" expressas que constam nos autos do caso em questão, que
geralmente se relacionam com a prisão provisória dos acusados. De fato, elas aparecem de modo evidente no
decreto de prisão preventiva pelo magistrado de primeiro grau, na manutenção desta prisão pelo Tribunal de Justiça;
e na manutenção da prisão na sentença de pronúncia.
Em cada um destes diferentes momentos do processo é examinado o fundamento de cada decisão, especialmente
focada no aspecto propositadamente selecionada da possível influência dos órgãos da mídia no processo penal, aqui
representado de modo bastante emblemático pelo caso Nardoni.
Uma advertência é necessária neste trecho inicial do estudo. Aqui, adotamos a conclusão lógica de que cidadão não é
perito; "popular" curioso não é investigador; mesa de bar não é Conselho de Jurados; e opinião pessoal de pessoas
leigas não é suficiente para fundamentar uma decisão judicial, especialmente de cunho condenatório.
Caso o leitor tenha o entendimento filosófico, doutrinário, ou até mesmo intuitivo, de que a enorme influência da mídia
deve ser exercida também no âmbito do processo penal, e tanto faz quais são os motivos para que isso ocorra com a
freqüência em que ocorre, então é aconselhável que respire fundo antes de prosseguir na leitura deste ensaio.
Aqui, objetiva-se reconhecer que realmente é possível verificar (em diferentes graus e medidas) alguns elementos
que denunciam a influência dos órgãos da mídia sobre o processo penal brasileiro.
1. O papel da mídia no século XXI
As transformações tecnológicas alcançadas nas últimas décadas já lograram colocar a mídia numa posição
privilegiada no desenvolvimento do processo civilizatório e democrático de qualquer país que aspire ter maior
participação no mundo globalizado de hoje.
Paralelamente a este crescente e relevante potencial amplificador, deveria ter sido aumentada também de modo
exponencial a sua responsabilidade perante a sociedade e, por conseqüência, o controle nas suas atividades através
da regulação pelos órgãos públicos competentes. Frise-se, desde logo, que qualquer controle regulamentar neste
tema é muito diferente - e em nada se assemelha - de qualquer tipo de censura.
Parte do enorme contingencial de pessoas sem formação escolar e universitária adequadas parece limitar-se a olhar
para o mundo através das lentes hipnotizantes oriundas do oráculo da telinha. Em um país como o Brasil, é realmente
notável o potencial educativo - e verdadeiramente informativo - que poderia ser desempenhado pelos principais
órgãos da mídia no exercício de suas atividades.
No âmbito tanto assistencial como também institucional, é evidente que muito poderia ser feito em benefício destas
pessoas, com a promoção de políticas públicas educacionais adequadamente direcionadas. No âmbito jornalístico e
na seara da cidadania, verifica-se que estas pessoas são destituídas do privilégio de ter opinião própria, de conhecer
os dois lados da história/estória, enfim, de se posicionarem de acordo com os seus interesses (no melhor e mais
correto sentido cívico possível). Imaginem o enorme potencial transformador dos órgãos da mídia que divulgassem
dados e informações relevantes e de cunho educativo no horário nobre da televisão, na primeira página dos jornais e
nos melhores horários do rádio, dentre outros.
Esta vocação natural da mídia acentua-se sobremaneira no século XXI, o qual se sabe foi inaugurado pela
sedimentação da sociedade da informação, do espetáculo e do risco. Informação - registre-se - não quer dizer
qualquer "informação"; mas, significa informação de qualidade e de interesse do público consumidor (leitor,
telespectador e ouvinte). Sociedade do espetáculo é aquela na qual a "impressão" ou a "versão" conta mais do que a
própria realidade, muitas vezes relegada a segundo plano, ou seja, a parte é tomada pelo todo. O risco é vivenciado
por cada um de nós e em diferentes graus nas variadas áreas da vida, que amplia o seu leque desde o investimento
de nossa poupança até a paranóia de viver num grande centro urbano.
Como podemos avaliar o papel da mídia nestes primeiros anos do século XXI? Muitas conclusões certamente
poderiam ser exploradas neste momento. No ponto aqui pertinente, todo o seu elevado potencial educativo e
(realmente) informativo tem sido amesquinhado em prol da tradicional busca incessante pelos lucros (inerente a
qualquer empresa privada com fins lucrativos, exatamente como são os variados órgãos da mídia). Em decorrência
disso, a mídia tem desempenhado seu mister de modo verdadeiramente lamentável e até mesmo promíscuo.
Enquanto poderia perseguir a sua vocação natural de "bem informar" ao público com dados e informações de cunho
eminentemente educativo, a mídia tem permanecido atavicamente vinculada àquelas conhecidas fórmulas de
sensacionalismo (em busca do maior lucro da empresa jornalística) do século passado.
Muitos pontos desta lamentável realidade poderiam ser aqui esmiuçados. O sensacionalismo, que é a vertente mais
visível e previsível do amesquinhamento do potencial educativo e a sua tensão com as amarras do maior lucro
possível, pode conectar-se com diferentes áreas do conhecimento humano.
São exemplos de sensacionalismo, aqueles verificados na economia (estado de emergência econômica, por
exemplo), na política (com supostos "escândalos"), dentre outros. Opta-se, no entanto, em focar apenas um, que é
precisamente um dos mais óbvios: a cobertura sensacionalista da mídia nos casos criminais.
2. Alguns pontos sobre a cobertura sensacionalista da mídia nos casos criminais
Em princípio, registre-se que as críticas que se seguirão não são dirigidas à mídia como um todo, encarada de modo
geral e irrestrito. Ao contrário, direcionam-se apenas e tão-somente àqueles órgãos da mídia que freqüentemente
sucumbem ao "ouro de tolo" e buscam, por meio do sensacionalismo (descarado ou enrustido), atingir maiores
índices de audiência e maiores vendagens de jornais.
Por esta razão, as críticas não se limitam apenas ao chamado "tablóide" ou à estigmatizada "imprensa marrom". Ao
contrário, direcionam-se (e de modo especial) aos grandes órgãos da mídia que, quando são chamados a (ou tomam
a iniciativa de) promover a cobertura de eventos criminais e seus desdobramentos, sucumbem ante a perversão do
sensacionalismo (e maiores lucros para a empresa jornalística).
Existem variados motivos que podem levar distintos órgãos da mídia, inclusive de respeitáveis reputações em
algumas áreas, a sucumbir à tentação fácil do sensacionalismo no tema criminal. Geralmente, no entanto, são os
interesses lucrativos da empresa jornalística.
A cobertura sensacionalista da mídia nos casos criminais evidencia-se por uma série de indícios e sintomas
perceptíveis em diferentes graus. Dentre outros, são eles: (a) a separação de maneira maniqueísta e simplista dos
personagens envolvidos em certa trama entre bons (que geralmente são identificados de modo claro com "nós") e
maus (que sempre são identificados de modo claro com "eles"); (b) a criação bem definida de estereótipos da
categoria "bandida" dos personagens (mau = "eles"); (c) a criação e recriação de diferentes distorções da realidade
(retratada, por vezes, pela preferência assumida a priori pela versão oficial e, por conseguinte, acusatória); e (d) a
crescente penetração de uma ideologia do medo no seio da sociedade e o recrudescimento da sensação
generalizada cada vez maior de (in)segurança pública.
Além disso, é possível até mesmo que certas pessoas sejam tão diretamente influenciadas pelo sensacionalismo
massivamente divulgado pelos órgãos da mídia que ele talvez se torne um fator criminógeno, na medida em que
atribui, por exemplo, notoriedade e fama aos suspeitos e criminosos.
Neste sentido, muitos exemplos poderiam ser enumerados para comprovar este exagero (iniciado pela mídia). Um
exemplo meramente ilustrativo e trivial refere-se aos seguidores confirmados do chamado "Maníaco do Parque" que,
face à fama e notoriedade alcançadas a partir da sua "caçada", buscaram superar-lhe as "façanhas". Outro exemplo
poderia ser apontado no caso do estudante de medicina que, em 1999, promoveu verdadeiro massacre no cinema do
Shopping Morumbi, declaradamente inspirado em cena de filme hollywoodiano.
Embora estes efeitos negativos não sejam categoricamente comprovados pelo estágio atual das ciências Psi, eles
foram levantados há bastante tempo e ainda permanecem sob constante exame dos estudiosos.
Tratando-se de investigação ou processo criminal sob os holofotes da mídia, como é possível caracterizar a possível
influência do sensacionalismo? O caso Nardoni ocupou a principal atenção dos órgãos da mídia ao longo do primeiro
semestre de 2008, de modo unânime, neurótico e até mesmo massacrante.
Do ponto de vista da teoria jornalística, é possível compreender que contraposta à palavra usada e abusada pela
mídia há também o silêncio. Sobre o quê? Sobre diversos temas e matérias que poderiam levar ao conhecimento do
público (telespectador, leitor e ouvinte) dados e informações mais educativos.
Sob o aspecto da teoria jurídica, é possível que o acolhimento "quase generalizado" da versão oficial (e, por
conseguinte, acusatória) possa ter levado ao estado de "linchamento midiático" a que chegou a cobertura do caso do
casal.
Posteriormente, nas etapas subseqüentes do procedimento investigatório e do processo penal, o casal foi enquadrado
na ardilosa teia da "garantia da ordem pública", conceito vago que aceita como uma luva tanto o suposto "clamor
popular", como a defesa da "credibilidade da Justiça", dentre outros.
Sob o ponto de vista "sociológico", registre-se que este tipo de notícia divulgada pode pretender também expor
possíveis efeitos neutros e até positivos do sensacionalismo (em relação à massa). Exemplo do primeiro é o efeito
catártico que pode ser aliviadamente verificado: "Ainda bem que foi com ele, e não comigo". No segundo, uma
hipótese ali abrangida seria a do possível reforço dos valores legais: "O bem sempre vence o mal", ou ainda, "o crime
não compensa".
Ademais, registre-se que o descompasso entre a pressa com a qual trabalha o jornalismo hoje e o rito processual que
leva à (ponderada) decisão final no âmbito do Judiciário, conduz a uma evidente antecipação da pena para os
suspeitos que, por obra predominantemente da mídia, já foram condenados em verdadeiro "linchamento midiático",
como referido anteriormente.
O principal problema é que jornalista não é juiz, cidadão comum não é perito e nem polícia. O palco do teatro que foi
prematuramente armado é outro, e muito mais sério e conseqüente do que a velocidade que a mídia exige, como
veremos.
3. A influência dos órgãos da mídia no processo penal: o caso Nardoni
3.1 Considerações iniciais
Neste ponto, pretende-se demonstrar que o processo penal pode sofrer influência direta dos órgãos da mídia, nos
casos de cobertura massiva e sensacionalista. Esta possível influência pode ocorrer de dois modos distintos. O
primeiro verifica-se quando certa peça constante nos autos (petição e principalmente decisão), explícita ou
expressamente, faz referência à cobertura pelos órgãos da mídia de determinado crime e seus desdobramentos sub
judice.
Neste caso, não implica dizer que a(s) peça(s) dos autos (petição ou decisão) se fundamenta(m) exclusivamente nas
informações divulgadas pela mídia. Enquanto numa petição do órgão acusatório é possível (embora indesejável)
verificar menções expressas (e até transcrições) de notícias divulgadas em favor da versão acusatória, uma decisão
judicial não pode fundamentar-se exclusivamente nas notícias divulgadas pela mídia, sob pena de sua flagrante
ilegitimidade.
O foco principal neste ponto é a influência que a mídia pode exercer de modo efetivo quando são verificados os
argumentos pretensamente (ou não) "complementares" às razões jurídicas que seriam suficientes para fundamentar a
decisão.
O segundo é mais sutil, ou seja, embora apenas pareça indicar de maneira implícita a cobertura pelos órgãos da
mídia e suas notícias, ele permanece omisso e menos óbvio no tocante ao dever de motivação da prisão.
Neste caso, a eventual influência é obviamente menos evidente. É possível que a omissão na fundamentação da
decisão seja proposital ou não. Neste aspecto, indícios que claramente apontarão no sentido da influência direta (e
implícita) são: a reprodução de expressões, termos (e até "chavões") utilizados e/ou consagrados na redação
jornalística a respeito do crime, criminoso ou processo; referências aos conceitos vagos do "clamor popular" e/ou da
"garantia da ordem pública" para justificar a prisão provisória, dentre outros.
Com efeito, em qualquer um desses dois casos, os conceitos vagos e abertos existentes na prática processual penal
atual exercem um relevante papel na fórmula que introduz aquele elemento exógeno consistente no "resultado"
gerado através das notícias veiculadas massivamente pelos órgãos da mídia sobre determinado crime e seus
desdobramentos.
Dentre tais conceitos vagos e abertos, adiantamos que se destaca sobremaneira a expressão "garantia da ordem
pública" contida no art. 312 do CPP (LGL\1941\8), espécie mais célebre: o "clamor popular".
Em pesquisa simples na qual se digitou o nome "Nardoni" no sítio de pesquisa do Google, obteve-se em 06.12.2008
nada menos que 622.000 resultados, dentre os quais - registre-se - constam vídeos familiares, policiais, postagens
em blogs, opiniões de especialistas, de leigos, e, principalmente, notícias.
Tratando-se de um crime ocorrido em 29.03.2008, todos os resultados encontrados depois de oito meses são
surpreendentes. Tendo em vista o destaque unânime que o caso monopolizou na mídia durante o primeiro semestre
de 2008, e instigante (sob variados aspectos), o complexo crime de que se trata, objetivamos de maneira proposital
focar o estudo em alguns pontos específicos.1
Todos conhecem o caso. Não é preciso repetir novamente o fato, as suas principais circunstâncias, os eventuais
mistérios e as possíveis complexidades que o envolvem. O leitor habitual de qualquer jornal certamente conhece em
minúcias todos os detalhes que foram massiva e obcecadamente divulgados pelos principais órgãos da mídia.2
É relevante observar que existem algumas "regras" perceptíveis na cobertura em massa e sensacionalista dos órgãos
da mídia. Uma delas é aquela que, em razão da busca pelo "furo jornalístico", submete a informação colhida ao
público em tempo (quase) real. Outra regra diretamente relacionada à anterior diz respeito ao maior interesse
"jornalístico" justamente na fase inicial, ou seja, quando o crime é descoberto, o suspeito investigado, os indícios e
provas colhidos e, finalmente, o culpado condenado!
Em outras palavras, implica dizer que a mídia se interessa mais pela investigação que ocorre nos autos do inquérito
policial do que pelo lento e demorado trâmite que o processo penal necessariamente requer para a prolação de uma
decisão final justa para o caso concreto.
Como conseqüência direta desta articulação de diferentes fatores, sintetizados nas "regras" acima, pode-se dizer (até
intuitivamente) que os piores momentos para se verificarem possíveis influências indesejáveis da mídia no trâmite e
decisões no âmbito do processo penal são aquelas iniciais, que compreendem da descoberta do crime até o decreto
de prisão provisória do suspeito.
Este incidente é, muitas vezes, trivial e de caráter momentâneo para a grande maioria dos decretos de prisão
provisória que são determinados pelo país afora. Todavia, quando o crime fica célebre, o suspeito famoso e o
procedimento investigatório é esperado sempre no tempo real imposto pela mídia, aí a prisão (que deveria ser
provisória e para atender circunstâncias momentâneas específicas e descritas em lei) adquire contornos de
permanência. O tratamento geralmente dispensado pela mídia conduz, em verdade, à condenação antecipada e
irrecorrível decorrente do "linchamento midiático" a que foi submetido o (ainda) réu.
Repise-se que os momentos processuais geralmente mais fáceis de identificar possíveis influências da mídia no
processo penal são aqueles desde a descoberta do crime até a efetiva prisão provisória dos suspeitos, momentos que
certamente coincidem com o maior número de notícias relacionadas, e que tendem a diminuir com o vagaroso passar
do tempo.
3.2 Indícios e sintomas da influência que se pretende demonstrar
Neste ponto, serão pinçados alguns trechos da decisão que concedeu medida liminar em habeas corpus para revogar
a prisão temporária e libertar o casal, bem como da denúncia apresentada pelo membro do Ministério Público. Com
isso, pretende-se demonstrar alguns indícios e sintomas da possível influência da mídia na primeira parte do processo
penal brasileiro (procedimento investigatório). Isto decorreu da divulgação massiva e sensacionalista pelos órgãos da
mídia de notícias a respeito do crime e seus desdobramentos.
Não se almeja adotar a versão defensiva, e muito menos a acusatória, sobre o caso que se pretende tomar como
exemplar para os fins deste trabalho. Afinal, uma vez que o crime é descoberto ou conhecido pelas autoridades
policiais, a partir daí se desenvolve todo o trabalho de investigação que culmina com o oferecimento da denúncia,
momento a partir do qual os suspeitos passam à qualidade jurídica de réus e passam a responder pelo evento que
lhes é imputado.
Ao final, conhecidas tanto a versão acusatória como também - e principalmente - a defensiva, examinadas as provas
juntadas aos autos, ouvidas as testemunhas, acostados os laudos periciais pertinentes, incumbe ao magistrado a
árdua tarefa de decidir em favor de uma destas versões, isto é, aquela que melhor conseguiu lhe convencer em
detrimento da outra (que não foi tão robustamente comprovada).
Assim, não serão emitidos juízos de valor sobre a correção ou incorreção técnica das decisões, como também não
serão destacados aspectos processuais que foram levantados tanto pela acusação como também pela defesa do
casal no caso sob exame. Ao contrário, pretende-se focar apenas o ponto que será demonstrado: a possível influência
dos órgãos da mídia no processo penal brasileiro.
Em 11.04.2008, o Des. Caio Canguçu de Almeida, do TJSP, concedeu medida liminar em habeas corpus para libertar
o casal então suspeito. A modalidade de prisão a que se submetiam na ocasião era a temporária, prevista na Lei
7.960/1989. Em sua decisão, é interessante destacar alguns trechos.
A partir da premissa juridicamente fundamentada de que a prisão temporária é medida extrema e excepcional e que
deve ter sua aplicação estreitamente vinculada às circunstâncias exaustivamente referidas pela lei, o desembargador
se baseou em lições doutrinárias clássicas a respeito da prisão cautelar, especialmente compreendida à luz dos
mandamentos constitucionais,3 para concluir que: "(...) a prisão temporária somente comporta legitimidade a partir do
instante em que, para a elucidação do fato e da autoria, faça-se ela indispensável, inafastável, única providência apta
a evitar que, solto, aquele a quem se investiga, possa frustrar, dificultar ou impedir a colheita de provas".4
Além de fundamentar sua decisão nas lições doutrinárias especializadas da matéria, o desembargador trouxe também
o entendimento jurisprudencial prevalecente, no sentido de que é realmente excepcional a aplicação da prisão
provisória.5
Após fundamentar a sua decisão de modo eminentemente técnico, o desembargador prolatou verdadeiro obiter
dictum em tom de sincero desabafo. Deste trecho, reproduzido abaixo, é imperioso notar que precisamente pelas
indagações não respondidas e colocadas pelo ínclito julgador, ao menos naquela fase processual, é que se justificaria
a soltura dos suspeitos:
"Os presentes autos retratam uma grande tragédia. Uma tragédia que, talvez, não seja maior do que aquelas outras
com que, a cada dia, nos defrontamos, no exercício dessa fascinante tarefa de julgar a que nos propusemos há já
tantos anos, mas que prossegue, até aqui, sem esmorecimento e com muito amor. Mas uma tragédia que, como
poucas, nos questiona e inquieta a propósito da verdade de tudo aquilo que efetivamente se passou naquela trágica
noite dos fatos. Será que o desamor exagerado desses estranhos tempos que correm terá chegado a um extremo tal
que pudesse levar um pai, ou sua companheira, a tão cruelmente eliminar uma graciosa filha de apenas cinco anos e
que, certamente, muito os terá amado? Ou será que o estrepitoso evento terá levado às agruras da suspeita e da
investigação alguém que as coincidências, algumas vezes imprevisíveis e inevitáveis, do destino, fizeram, em algum
momento parecer autor de crime que, quiçá, não deva ser levado à sua conta?"6 (grifos nossos).
Verifica-se que, afastando-se do sensacionalismo promovido pela divulgação massiva de notícias sobre o crime,
embora sintomaticamente conste neste obiter dictum um desabafo sinceramente preocupado sobre os fatos relatados
nos autos, o desembargador decidiu pela soltura dos suspeitos, vez que não seria hipótese legal de aplicação das
restritas hipóteses da prisão temporária.
É bem verdade que, poucos dias após a ocorrência dos fatos, poderia parecer mais fácil esquivar-se da pressão que
subseqüentemente carregou o caso, especialmente levando-se em consideração a versão acusatória, que vinha
então desde o início revelando-se (como geralmente ocorre) preferida pelos principais órgãos da mídia. Registre-se
que, na ocasião, o Des. Canguçu foi bastante criticado pela "opinião publicada".
Em 07.05.2008, o Promotor de Justiça Francisco Cembranelli apresentou a denúncia ao Juiz de Direito do II Tribunal
do Júri da Comarca da Capital do Estado de São Paulo.7
Na denúncia consta a seguinte referência expressa: "Há notícias de que o relacionamento entre os denunciados era
caracterizado por freqüentes e acirradas discussões, motivadas principalmente por forte ciúme nutrido pela madrasta
em relação à mãe biológica da criança".8
Os grifos justificam-se na medida em que constou no corpo daquela petição cuidadosa referência às folhas em que
estava acostado o laudo de exame de corpo de delito, por exemplo. Diante disso, indaga-se: esta referência à
existência de "notícias" limita-se aos autos do inquérito ou abrange também aquelas divulgadas pelos órgãos da
mídia?9
Na mesma ocasião, o Promotor de Justiça concordou com a representação de prisão então formulada pela autoridade
policial, sob o argumento de que a materialidade e os indícios de autoria estavam suficientemente demonstrados.
Nesse sentido, registre-se que o conceito vago da "garantia da ordem pública" foi utilizado para fundamentar o pleito
de prisão daqueles suspeitos, em vista da satisfação do binômio consistente na enorme repercussão social dos fatos
e gravidade da infração:
"Por outro lado, considerando-se as peculiaridades que envolvem os crimes imputados aos denunciados, cuja
gravidade e brutalidade acarretaram severo abalo no equilíbrio social, com reflexos negativos na vida das pessoas
comuns que a tudo acompanham incrédulas, não há como se negar à imprescindibilidade da decretação da prisão
para a garantia da ordem pública.
De grande repercussão social, o crime gerou inegável comoção e insegurança na sociedade brasileira, até mesmo
muito além das fronteiras do país, impondo ao Poder Judiciário o dever de resgatar a tranqüilidade de uma
coletividade consternada e garantir a credibilidade da Justiça, por meio da segregação cautelar dos denunciados"
(grifos nossos).
Merece especial atenção o colorido adjetivado que serviu de fundamento para a "imprescindibilidade da decretação
da prisão para a garantia da ordem pública". Notem os termos particularmente agressivos, como: "brutalidade",
"severo abalo no equilíbrio social" e "reflexos negativos na vida das pessoas comuns que a tudo acompanham [pelos
órgãos da mídia] incrédulas".
De fato, a "garantia da ordem pública" deveria ser resguardada pelo Poder Judiciário em razão da "grande
repercussão social", ou seja, "o crime gerou inegável comoção e insegurança na sociedade brasileira". Como se não
bastasse, isto não é tudo, já que este sentimento popular generalizado já teria atravessado as continentais fronteiras
do país.
Diante disso, ao Judiciário incumbiria resgatar a tranqüilidade ameaçada e a sua credibilidade. Alguma idéia de como
fazer isso? É simples: basta prendê-los! Este foi, afinal, o pleito do ilustre representante do Ministério Público.
É sintomático também notar como a realidade dos fatos a que estão submetidos milhares de cidadãos que cometem
furtos famélicos e de reconhecida bagatela é rapidamente subvertida em proveito da situação então posta naquele
caso específico: "É de se ressaltar, ainda, o natural sentimento de iniqüidade provocado pela permanência dos
denunciados em liberdade, considerando-se os inúmeros anônimos presos pelo simples furto de um vidro de
shampoo ou de um pote de margarina".
Ora, nos parece que "os inúmeros anônimos presos pelo simples furto de um vidro de shampoo ou de um pote de
margarina" são aqueles que não deveriam ser processados e, muito menos, presos (seja provisoriamente seja em
caráter definitivo). "O natural sentimento de iniqüidade" reside precisamente nestes "inúmeros anônimos presos"
injustamente, e não na decisão acerca da efetiva prisão ou não do casal suspeito.10
Ainda no corpo da denúncia, constou que: "O comportamento de alterar a prova e prejudicar a instrução criminal não
se resume a atos tais como ameaçar testemunhas ou deixar de comparecer quando solicitado. A manipulação da
percepção das pessoas, inclusive e sobretudo das testemunhas, induzindo-as em equívoco, criando hipóteses e
lançando inverdades, tudo por meio de imprensa televisionada de grande alcance, a qual, aliás, poucos indiciados
têm acesso, também é fato que não pode ser minimizado no contexto da garantia da instrução criminal".
Neste momento, é curioso perceber como a articulação entre os órgãos da mídia e o sistema penal é natural e
artificialmente vocacionada à versão acusatória, que tudo pode dizer em frente às câmeras e tudo pode alegar junto
aos jornais.
Quanto ao sagrado direito de defesa dos suspeitos, por outro lado, caso eles se atrevam a lançar mão do pouco
espaço que lhes é aberto pela cobertura parcial dos órgãos da mídia, aí então passam a "criar hipóteses" e "lançar
inverdades".
O cúmulo desta subversão é que exatamente isto, tão usado pelo órgão acusatório, passe a se prestar para servir de
base à "garantia da instrução criminal", que é precisamente outra expressão de cunho vago e subjetivo (que
lamentavelmente funciona para assegurar válvula de escape tanto em situações triviais como também mais
complexas).11
3.3 Provas da influência da mídia no processo penal
3.3.1 Decreto de prisão preventiva
No mesmo dia 07.05.2008, o Juiz de Direito Maurício Fossen recebeu a denúncia e decretou a prisão preventiva dos
réus nos seguintes termos:
"Assim, frente a todas essas considerações, entendendo este juízo estarem preenchidos os requisitos previstos nos
arts. 311 e 312 do CPP (LGL\1941\8), defiro o requerimento formulado pela douta Autoridade Policial, que contou com
a manifestação favorável por parte do nobre representante do Ministério Público, a fim de decretar a Prisão Preventiva
dos réus Alexandre Alves Nardoni e Anna Carolina Trotta Peixoto Jatobá, por considerar que além de existir prova da
materialidade do crime e indícios concretos de autoria em relação a ambos, tal providência também se mostra
justificável não apenas como medida necessária à conveniência da instrução criminal, mas também para garantir a
ordem pública, com o objetivo de tentar restabelecer o abalo gerado ao equilíbrio social por conta da gravidade e
brutalidade com que o crime descrito na denúncia foi praticado e, com isso, acautelar os pilares da credibilidade e do
prestígio sobre os quais se assenta a Justiça que, do contrário, poderiam ficar sensivelmente abalados" (grifos
nossos).
Verifica-se, por conseguinte, que a decisão do magistrado seguiu a linha de raciocínio contida na manifestação do
representante do Ministério Público.12 Aqui, dois conceitos vagos e que permitem certo grau de subjetivismo foram
utilizados, quais sejam: a conveniência da instrução criminal e a garantia da ordem pública.
O "objetivo", diferente daquele momento de exame acerca da prisão temporária (de escopo eminentemente mais
restrito que a preventiva), agora seria "tentar restabelecer o abalo gerado ao equilíbrio social por conta da gravidade e
brutalidade com que o crime descrito na denúncia [e ainda não processado e julgado] foi praticado".
A decisão que recebeu a denúncia foi além, chegando mesmo a reconhecer de modo expresso que seria necessário
"acautelar os pilares da credibilidade e do prestígio sobre os quais se assenta a Justiça". Ademais, registrou que: "o
crime imputado aos acusados acabou chamando a atenção e prendendo o interesse da opinião pública".
Neste sentido, enriquecedores são os seguintes trechos de sua decisão:
"Queiramos ou não, o crime imputado aos acusados acabou chamando a atenção e prendendo o interesse da opinião
pública - em certa medida, deve-se reconhecer, pela excessiva exposição do caso pela mídia que, em certas
ocasiões, chegou a extrapolar seu legítimo direito de informar a população - o que, no entanto, não pode ser ignorado
pelo Poder Judiciário e fazer-se de conta que esta realidade social simplesmente não existe, a qual dele espera uma
resposta, ainda mais se levarmos em consideração que o inquérito policial que serviu de fundamento à presente
denúncia encontra-se embasado em provas periciais que empregaram tecnologia de última geração, raramente vistas
- o que é uma pena - na grande maioria das investigações policiais, cujos resultados foram acompanhados de perto
pela população, o que lhe permitiu formar suas próprias conclusões - ainda que desprovidas, muitas vezes, de bases
técnico-jurídicas, mas, mesmo assim, são conclusões - que, por conta disso, afasta a hipótese de que tal clamor
público seja completamente destituído de legitimidade" (grifos nossos).13
Uma vez reconhecido o "interesse da opinião pública" (ou publicada), o magistrado empreende um curioso zigue-
zague na sua linha de argumentação que motivou a decisão que proferiu. Reconheceu o vai-e-vem criado entre a
"excessiva exposição do caso pela mídia" e os contornos legítimos do "direito de informar a população".
De sua decisão, depreende-se que o magistrado adotou o entendimento de que a influência da mídia sobre o
Judiciário é legítima e deve ser levada em consideração.
De um lado, afirmou que, em virtude da "excessiva exposição do caso pela mídia", ela chegou até a "extrapolar seu
legítimo direito de informar a população". Mesmo com esta percepção claramente expressada, o magistrado decidiu,
por outro lado, que esta influência não pode ser ignorada pelo Judiciário, ou seja, que não pode pura e simplesmente
"fazer-se de conta que esta realidade social simplesmente não existe".
Em suma, o magistrado reconheceu expressamente a legitimidade do tal clamor público, mesmo que criada ou
potencializada a partir do excesso verificado pelos órgãos da mídia na sua "excessiva exposição do caso". Em reação
ao reconhecimento da influência pelos órgãos da mídia, o magistrado alinhou-se, ao menos nesta fase inicial, com a
versão acusatória e decidiu no sentido de prestigiar o "legítimo" clamor publicado, em detrimento da liberdade dos
suspeitos.
Como anotado anteriormente, não se pretende aqui tecer críticas técnicas à decisão do ilustre magistrado. Tal como
transcrita neste estudo, parece inegável que existem indícios e sintomas claros da influência da mídia no caso em
foco. Independente do juízo de valor sobre "certo" e "errado", uma vez reconhecido o embate entre a "excessiva
exposição do caso pela mídia" e o conseqüente excesso no "legítimo direito de informar a população", outras
orientações poderiam ter sido adotadas pelo magistrado.
De fato, quando reconheceu que esta influência não poderia ser ignorada pelo Judiciário, ao invés de reconhecê-la
como suficiente para integrar a fundamentação ou motivação de sua decisão, o juiz poderia ter se preocupado em
neutralizá-la, frente aos elevados direitos e garantias individuais que são constitucionalmente assegurados aos
acusados.
Assim agindo, o magistrado continuaria livre na sua convicção e - evidentemente - poderia concordar com a
representação da autoridade policial (encampada pelo membro do Ministério Público).
Contudo, ciente da possível influência da mídia no processo penal sob o seu exame, o eventual esforço em
neutralizar esta possível influência (que já havia sido trazida aos autos com o colorido dramático do membro do
Ministério Público), poderia in casu proporcionar uma decisão absolutamente desvinculada de qualquer possível
influência externa aos autos (e tendenciosa, como vimos).
É sintomático notar que, mesmo explicitando aos seus fundamentos que "em certa medida, deve-se reconhecer, pela
excessiva exposição do caso pela mídia que, em certas ocasiões, chegou a extrapolar seu legítimo direito de informar
a população", o juiz de direito decidiu que "queiramos ou não, o crime imputado aos acusados acabou chamando a
atenção e prendendo o interesse da opinião pública". Neste sentido, parece que temos um círculo vicioso que se
auto-alimenta numa profecia auto-realizável.
De fato, o reconhecimento inicial de que os órgãos da mídia extrapolaram seus respectivos direitos de "bem" informar
deveria servir de base para indicar a total e completa impossibilidade de sua consideração como fundamento, ao
menos nos autos em questão.
Deste modo, outra orientação juridicamente possível seria a neutralização destes efeitos provocados pela mídia. O
fundamento jurídico para esta neutralização seria a necessária proteção dos direitos e garantias fundamentais
assegurados em sede constitucional aos acusados de modo geral (e ao casal suspeito de modo particular).
A decisão, no entanto, reconheceu expressamente que as conclusões da população (geradas a partir da publicação
de excessiva exposição do caso pela mídia) eram desprovidas de bases técnico-jurídicas. A despeito disso, seriam
conclusões que, para fins de verificação do tal "clamor público", deveriam ser levadas em consideração (como
legítimas).
3.3.2 Manutenção da prisão preventiva pelo Tribunal de Justiça
Em 10.06.2008, o TJSP prolatou acórdão denegando ordem de habeas corpus pleiteada. Dentre as variadas razões
que motivaram esta decisão, serão pinçados em destaque apenas aqueles trechos que são especialmente
interessantes para a demonstração da inevitável relação de influência entre a mídia e o Poder Judiciário e a possível
influência do primeiro sobre o último.
Relembre-se, neste ponto, daquela observação sobre como a articulação entre os órgãos da mídia e o sistema penal
é natural e artificialmente vocacionada à versão acusatória, em detrimento do sagrado direito de defesa do acusado.
De fato, no voto que foi acompanhado à unanimidade, no sentido de manter a prisão preventiva anteriormente
decretada pelo magistrado de primeiro grau, o Des. Canguçu de Almeida destacou que:
"Da mesma forma, e com igual propósito, teriam logrado obter declaração a um jornal da Capital do pedreiro Gabriel
Santos Neto, segundo a qual teria ocorrido um arrombamento, seguido de invasão, no prédio vizinho àquele em que
localizado o apartamento do qual foi jogada a vítima, declaração, contudo, posteriormente desmentida pelo próprio
Gabriel, quando de sua oitiva perante a autoridade policial (f.)" (grifos nossos).
Este parece ser o reverso da moeda. Talvez até aquilo que o membro do Ministério Público chamou a atenção na sua
denúncia: o lançamento de inverdades, por meio de imprensa televisionada de grande alcance.
O quanto se expôs neste estudo sobre a necessidade de neutralizar as influências oriundas da mídia no âmbito do
processo penal quanto à tendência predominante da versão acusatória pode ser agora extrapolada em aplicação do
lado oposto.
Quando a defesa de acusados traz elementos (notícias) originados dos órgãos da mídia para influenciar as decisões
no processo penal, é possível que o magistrado as neutralize.
Todavia, uma advertência se impõe. Uma notícia de jornal utilizada como indício para corroborar a versão de defesa
do acusado é potencialmente muito menos lesiva do que a hipótese contrária, isto é, quando uma notícia é utilizada
pelo membro do Ministério Público.
É que a proteção do sagrado direito de liberdade do indivíduo inocente é infinitamente mais digna de atenção do que
a proteção da sociedade na ocorrência de um crime. Por isso, o ônus da prova é do órgão acusatório, os direitos e
garantias dos acusados devem ser observados e respeitados no trâmite do processo e, ao final, quando subsistem
dúvidas, é melhor soltar um culpado do que condenar um inocente.
Voltando ao exame do acórdão do tribunal, que manteve a prisão preventiva dos acusados, fundamentou-se também
na malsinada "preservação da ordem pública":
"Trata-se de acontecimento que alcançou altíssima repercussão, até mesmo no âmbito internacional, não apenas em
razão da hediondez absurda do delito, como pelo fato de envolver membros de uma mesma família de boa condição
social, que teriam dado trágico fim à vida de uma doce menina de apenas cinco anos. Em razão de tudo isso,
revoltou-se a população de toda uma cidade, que em manifestação coletiva quase de histerismo determinante até de
interdições de ruas ou quarteirões, apenas não alcançou atingir fisicamente os pacientes porque oportunamente
impedida pela eficiente atuação policial. A Justiça Penal, por isso, não pode ficar indiferente na prestação que lhe
cobra o reclamo de toda uma Nação" (grifos nossos).14
Relembrando aquele círculo vicioso que se auto-alimenta numa profecia auto-realizável, é importante destacar que o
acontecimento que alcançou "altíssima repercussão, até mesmo no âmbito internacional" logrou tamanha notoriedade
justa e especialmente pela cobertura dos órgãos da mídia.
De fato, o "trágico fim" da "doce menina de apenas cinco anos" foi repisado à exaustão pela mídia. É possível dizer,
sem medo de qualquer exagero, que a pauta nacional do primeiro semestre de 2008 foi o caso em foco. Significa
dizer que, à frente da situação política, econômica, social e cultural do país, estava o caso estudado, onipresente
naquele período.
Em razão deste frenesi, verificou-se - inclusive através dos órgãos da mídia - que a população "de toda uma cidade"
revoltou-se, situação exibida em reiteradas ocasiões de "manifestação coletiva quase de histerismo determinante até
de interdições de ruas ou quarteirões". É curioso notar que, tamanha foi a subversão dos fatos subjacentes a este
caso que, "pela eficiente atuação policial" os pacientes não foram atingidos fisicamente. Este é um passo
determinante e que já foi visto em outros casos.
A cobertura midiática é tamanha que a ira popular transcende aos limites do razoável e dá um passo além, ou seja,
passa a querer linchá-los física e publicamente. É precisamente neste momento que a subversão do sistema
evidencia-se de modo claro.
A prisão provisória que deveria servir para acalmar o "clamor popular" (ou o clamor do público) descrente na
credibilidade da Justiça, passa a servir para proteger os acusados do "clamor popular" irado e que ameaça a sua
integridade física (protegida pela eficiente atuação policial)!15
Em seguida ao voto do desembargador relator, no julgamento daquele habeas corpus, o segundo voto contrário à
pretensão em favor dos pacientes foi proferido pelo Des. Luís Soares de Mello, para quem a impetração carecia de
razão:
"Esta C. Câmara e Turma julgadora está, por certo e em verdade, a apreciar um dos mais emblemáticos casos
judiciais na história da Justiça pátria. Mas nada obstante o gigantesco e desproporcional rumor que o caso concreto
atingiu no seio da 'media' brasileira e, por conseqüência, em todos os lugares, lares, esquinas e bares dos costados
de nossa terra, a verdade é que ele é simples, teórica e tecnicamente considerado, juridicamente analisado" (sic)
(grifos nossos).16
Dentre os argumentos que sinalizavam pela necessidade do encarceramento naquele estágio processual, o
desembargador registrou que: "A materialidade é indiscutível e indisputável, por evidente". De fato: "pela notoriedade
do caso, não há cidadão no país, hoje, que a desconheça". "Sobre os denunciados, e em mais ninguém, dessarte, é
que recaem os escancarados indícios de autoria, já se disse". "Ainda e porque aquilo que a defesa procura provocar
no seio dos que assistem aos fatos diariamente, jamais e em tempo algum se vê dos autos".
Em relação à caracterização do crime como grave-gravíssimo, em razão sobretudo do imenso clamor popular que
logrou acompanhá-lo, o Des. Luís Soares de Mello valeu-se de citação expressa de trecho do voto proferido no HC
58.813/SP, no qual o STJ denegou a ordem então pleiteada em favor de Suzane Louise Von Richthofen em razão do
enorme clamor público então verificado. Ademais, citou expressamente o precedente contido em "outro caso também
emblemático e que igualmente chocou o País - o do homicídio do pataxó Galdino, na Capital Federal (...)",
colacionando o entendimento do STJ, quando negou a liberdade a um dos envolvidos naquele crime (RHC 6.876/DF).
No voto do Des. Luís Soares de Mello, verifica-se pela transcrição dos trechos pinçados, uma clara preocupação no
sentido de neutralizar a influência da mídia na sua decisão, tanto pela vertente acusatória como também defensiva.
Todavia, quando o emérito julgador menciona, para corroborar a motivação de sua decisão, acórdãos prolatados no
âmbito do STJ em casos de imenso clamor popular (como foram os casos Richthofen e Pataxó), então encampa,
ainda que de modo involuntário, uma certa dose de reconhecimento de influência da mídia.
Esta influência ocorre de modo indireto no processo sob seu exame, na medida em que se fundamenta em decisões
proferidas por instância superior em casos de imenso clamor popular que, muito provavelmente, se submeteram à
influência da mídia quando tramitaram seus respectivos processos penais.17
Quando da prolação de seu voto no acórdão, o terceiro desembargador, Euvaldo Chaib, decidiu no mesmo sentido,
justificando-se no comprometimento da paz pública. "Nesse passo, de somenos importância a circunstância da
pessoa segregada ser tecnicamente primária, de bons antecedentes e, ainda, ter domicílio no distrito da culpa,
quando, em princípio, vem a cometer crime de suma gravidade, bárbaro e, nitidamente, comprometedor da paz
pública", decidiu o desembargador.
Em seguida, reconheceu que: "O fato adquiriu repercussão nacional, abalou o meio social, gerou verdadeiro estado
de comoção e, por tais razões, afigura-se inconcebível a colocação em liberdade porque o procedimento destacado
aos pacientes, de forma iniludível, rompe com a ordem pública e, paralelamente, atenta contra a paz social".18
É relevante notar como o Des. Euvaldo Chaib teve lucidez para reconhecer expressamente o sensacionalismo que
cobria a divulgação massiva dos fatos relacionados a este caso e seus desdobramentos. Não obstante, registrou que
pela gravidade do crime e, por conseguinte, seu elevado grau de censura e reprovação, incumbia-lhe manter a ordem
de prisão preventiva.
Neste sentido: "Por fim, deve-se salientar que o julgador não deve ficar alheio à gravidade do fato concreto. Ignorado,
por óbvio, o sensacionalismo - não confundir com clamor público - que os fatos aqui tergiversados atingiram nos
inúmeros meios de comunicação, que, frise-se, não estão aqui sendo considerados, é certo que o grau de censura ao
comportamento imputado aos pacientes é no maior patamar possível de reprovação" (grifos nossos).
3.3.3 Manutenção da prisão na sentença de pronúncia
Em 31.10.2008, o Juiz de Direito Maurício Fossen proferiu sentença que pronunciou o casal acusado para que seja
submetido ao Tribunal do Júri pela prática do crime de homicídio doloso consumado, triplamente qualificado, em
conexão com o crime de fraude processual, consoante narrado e pleiteado na denúncia. Além disso, manteve as
respectivas prisões preventivas.
Após minucioso relatório do volumoso processo e demorado afastamento de cada uma das dez questões preliminares
levantadas pela defesa dos acusados, o magistrado decidiu com arrimo exclusivamente no conjunto probatório de que
dispunha de modo farto nos autos do processo penal.19
Quanto à parte final de sua decisão, na qual manteve a prisão dos acusados, agora convertida de preventiva para
decorrente da sentença de pronúncia, consignou em acréscimo às suas razões anteriores que: "Além disso, na visão
deste julgador - respeito outros entendimentos em sentido diverso - a prisão processual dos acusados se mostra
realmente necessária para a garantia da ordem pública, objetivando acautelar a credibilidade da Justiça em razão da
gravidade e intensidade do dolo com que o crime descrito na denúncia foi praticado e a repercussão que o delito
causou no meio social, (...)" (grifos nossos).
Ademais, na linha de sua decisão anterior, quando do recebimento da denúncia e decreto de prisão preventiva, o
magistrado decidiu também que:
"Portanto, diante da hediondez do crime atribuído aos acusados, pelo fato de envolver membros de uma mesma
família de boa condição social, tal situação teria gerado revolta à população não apenas desta Capital, mas de todo o
país e até no exterior - já que além dos indícios de autoria serem bastante consistentes, a tese de negativa de autoria
sustentada por eles, de tão genérica e baseada apenas em meras suposições, chegou a ser classificada pelo Ilustre
Des. Caio Eduardo Canguçu de Almeida, relator de um dos primeiros 'habeas corpus' impetrados pelos réus, como
destituída de '(...) nenhum resquício de razoabilidade (...)' (autos em apenso) - tanto que envolveu diversas
manifestações coletivas que chegaram a ponto de exigir até mesmo a interdição de ruas e instauração de verdadeiro
aparato militar de contenção, quando do comparecimento dos mesmos ao Fórum para participarem de audiências,
tamanho o número de populares e profissionais de imprensa que para cá acorrera, daí porque a manutenção de suas
custódias cautelares se mostra necessária para a preservação da credibilidade e da respeitabilidade do Poder
Judiciário, as quais ficariam extremamente abaladas caso, agora, quando já existe decisão formal pronunciando os
acusados para serem submetidos a julgamento pelo júri popular, conceder-lhes o benefício de liberdade provisória,
uma vez que permaneceram encarcerados durante toda a fase de instrução" (grifos nossos).
É curioso notar que, após a prolação de uma sentença de pronúncia que pode ser tranquilamente aquilatada como
sem qualquer indício ou sintoma de influência da mídia, quando da manutenção da prisão do casal, o magistrado
reincidiu naquelas considerações anteriores, revelando-se clara e evidente a influência da mídia no processo penal,
ao menos no tocante à manutenção da prisão do casal.
O ponto que se coloca neste momento é que pareciam existir razões mais do que suficientes, de acordo com o
conjunto probatório constante dos autos, para que o ilustre magistrado mantivesse o casal preso, sem necessidade de
qualquer referência à excessiva cobertura do caso pela mídia e sua influência na decisão. Contudo, parece ter optado
(consciente ou involuntariamente) em reconhecer a influência da mídia e considerá-la legítima, suficiente a corroborar
sua decisão.
À luz da sua instrução e processamento, como descrito nas linhas acima, algumas indagações se impõem sobre o
possível desfecho do caso estudado:
1) Quando o caso for submetido ao Tribunal do Júri, será que o ilustre membro do Ministério Público se limitará ao
farto conjunto probatório que parece constar dos autos ou vai extrapolar para trazer dados e informações oriundas
dos órgãos da mídia?
2) Nesta ocasião, será que o Presidente do Tribunal do Júri vai adverti-lo acerca de eventual ilicitude de tais "provas",
ou advertirá os jurados de que não se tratam realmente de provas ou, ainda, simplesmente não se manifestará a
respeito?
3) Por fim, será que o E. Conselho de Jurados, órgão necessariamente leigo, terá discernimento suficiente para
distinguir as conseqüências da excessiva exposição do caso pela mídia e o legítimo direito de informar a população
(extrapolado) e o limite estabelecido pelo conjunto probatório constante nos autos, para fins de legitimação da decisão
que tomará, com base única e exclusivamente nas convicções pessoais (e ocultas, já que não motivadas) de cada um
dos jurados?
4. Conclusões
Pelo exposto, pode-se dizer com segurança que a área mais suscetível e vulnerável à influência da mídia no processo
penal é aquela referente à prisão provisória do acusado. Com efeito, tanto pelos indícios e sintomas, como também
pelas provas que evidenciaram de modo expresso a influência da mídia no processo penal (aqui tomado por este
caso concreto), a parte mais visível que veio à tona referia-se sempre à prisão (pleiteada, decretada ou mantida).
Identificado este momento particularmente vulnerável do processo (por que inicial e de conclusões necessariamente
precárias) com a maior ânsia de sensacionalismo pelos órgãos da mídia, também articulada com o conceito vago da
"garantia da ordem pública", contida no art. 312 do CPP (LGL\1941\8) - e sua mais célebre espécie (o "clamor
popular") -, propõe-se, em prol do desenvolvimento do processo penal mais justo, equânime e equilibrado (na
paridade de armas), que se adote na esfera legislativa uma das seguintes orientações:
• revogar o atual artigo 312 do CPP (LGL\1941\8) e substituí-lo por outro que não contemplaria conceito tão aberto e
vago;
• acrescentar um parágrafo ao art. 312 do CPP (LGL\1941\8) e enumerar de modo casuístico e taxativo o que estaria
legitimamente enquadrado no conceito vago da "garantia da ordem pública";
• proibir a manifestação de pessoas envolvidas no processo direcionadas ao público, como autoridades policiais,
peritos, membros do Ministério Público e magistrados ("mordaça");
• proibir a divulgação pelos jornalistas de fotos e nomes de pessoas envolvidas em delitos, ao menos até certo
momento processual, como por exemplo, o recebimento da denúncia, a prolação da sentença ou outro momento;
• proibir a divulgação pelos jornalistas de fotos e nomes de pessoas envolvidas em delitos, só sendo permitido
mencioná-las por meio das letras iniciais dos seus nomes (como no Estatuto da Criança e do Adolescente
(LGL\1990\37));
• proibir a divulgação pelos jornalistas de qualquer informação ou dado referente ao crime, criminoso, vítima e
processo penal, até que fosse proferida a sentença penal condenatória com trânsito em julgado, dentre outros.
Diante do rol enumerado de modo meramente exemplificativo, evidencia-se que em nenhuma hipótese se cuida de
qualquer tipo (por mais remoto que possa parecer) de censura. Ao contrário, tendo o pêndulo da "libertinagem" de
expressão atingido seu ápice, necessário se impõe conduzi-lo para o lado oposto, que (se espera) levará ao
equilíbrio.
De fato, através dos últimos anos, várias coberturas excessivamente exageradas de crimes, criminosos e processos,
têm sido promovidas pelos principais órgãos da mídia. Os excessos evidenciam-se em casos emblemáticos, como foi
a Escola Base.
Os profissionais da mídia insistem sempre em dizer que a lição foi aprendida no caso da Escola Base. De lá para cá
não existiu nada parecido. Aquele foi um mal necessário ao desenvolvimento e amadurecimento dos órgãos da mídia
no país. A despeito do prejuízo irreparável causado àquelas vítimas (até então culpados!), parece que a lição não foi
realmente aprendida.
Ao contrário, diante de qualquer problema de concorrência ou necessidade da "criação" de situações que parecem
envolver o tal "clamor popular", é curioso notar a convergência (quase) unânime dos órgãos da mídia na cobertura
(então crescentemente) massiva em torno do assunto.
A prova inequívoca de que este discurso orientado não reflete a realidade, é a freqüência - excessiva e abusivamente
- permanente de novos deslizes similares. A título de ilustração, confira a cobertura da mídia do caso Eloá, ocorrido no
segundo semestre de 2008.
Repita-se o que foi dito no início deste estudo. É verdadeiramente lamentável que a mídia, que atualmente ocupa
papel de destacado relevo e possui um potencial transformador incrível junto à sociedade, satisfaça-se com o papel
amesquinhado que vem ocupando nos últimos anos, especialmente em troca de maiores lucros para a empresa
privada a qual está vinculada.
Neste sentido, espera-se sinceramente que os órgãos da mídia promovam uma "revolução" no modo de transmitir as
visões de mundo que são estabelecidas pelas suas respectivas editorias. Neste movimento, espera-se que passem a
utilizar o potencial multiplicador da notícia para informar e educar, e não para corromper e distorcer.
Afinal, num país em que os governantes são tão condescendentes com a iniciativa privada (quando o assunto é
mídia) e o povo é tão sofrido e carente de dados e informações de qualidade, evidenciam-se estas distorções de
modo ainda mais claro. A iniciativa jamais partirá da própria mídia, razão pela qual é necessária a promoção de
modificações legislativas que sinalizem um ponto de partida para então fomentar o urgente e crescente envolvimento
da sociedade civil neste debate tão relevante.
     

Você também pode gostar