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1. Crime Consumado
A previsão do que seria crime consumado está no artigo 14, inciso I do
Código Penal.
“Art. 14 - Diz-se o crime: I - consumado, quando nele se
reúnem todos os elementos de sua definição legal;”
Percebe-se assim que a consumação do crime não ocorre, devido a algo que
está fora, que é alheio ao intento do agente.
Segundo Eugênio Raúl Zaffaroni, a tentativa é um delito incompleto, mas
com uma tipicidade subjetiva completa.
Então a tentativa vai possuir um defeito na tipicidade objetiva, e em razão
disso, surge a expressão tipo subordinado, uma vez que ela não é punida de maneira
autônoma, isto é, será necessário invocar uma norma da parte geral do Código Penal.
Em função disso, por não ocorrer a consumação por circunstâncias alheias à
vontade do agente, no crime tentado o agente vai responder pelo delito objetivado,
mas com a pena reduzida na fração que varia de 1/3 a 2/3, calculada de maneira
inversamente proporcional ao iter criminis percorrido pelo agente.
Significa dizer que quanto mais próximo da consumação, menor será a
redução.
A tentativa é uma causa obrigatória de diminuição de pena, de modo que o
juiz está vinculado a esta redução, sob pena de nulidade processual.
3. Iter Criminis
O iter criminis são as fases pelas quais o agente passa para consumar o
delito. É também chamado de caminho do crime.
Como já dito, o iter criminis engloba as fases para consumar o delito e o
exaurimento está fora e é algo além da consumação, prevalecendo o entendimento de
que o iter criminis possui 4 fases.
As fases são as seguintes: cogitação, atos preparatórios, execução e
consumação.
3.1. Cogitação
Nessa fase, o agente tem a idéia de praticar o delito, o evento, mas não sai do
plano das idéias. Não se pune em direito penal a cogitação do crime.
3.3. Execução
Nesta fase o agente dá início à prática do delito, ele começa a realizar aquilo
que objetivou. Essa fase é fundamental para identificar a tentativa, vez que o
legislador registrou: “quando iniciada a execução...” (Art. 14, inciso II do CP).
O ato executório deve ser inequívoco e idôneo. Inequívoco é o ato que se
dirige à lesão do bem jurídico, o agente não pode ter dúvida quanto ao objeto que quer
alcançar. Idôneo ou eficaz é o ato capaz de gerar lesão ao bem jurídico.
Obs.: a tentativa é um tipo incongruente, isto é, não há coincidência entre a
vontade e o “resultado” alcançado pelo agente. (a palavra resultado é utilizada entre
aspas, pois a rigor, não houve resultado naturalístico, apenas jurídico).
A tentativa é um tipo penal aberto, pois o aplicador do Direito deverá
identificar qual fase foi alcançada.
3.4. Consumação
Nesta fase o agente concretiza a tipicidade, ultrapassando a fase da execução
e alcançando o núcleo da figura típica.
4. Elementos da Tentativa
4.1. Início da Execução
4.2. Não ocorrência do resultado por circunstâncias alheias à vontade do agente.
4.3. Dolo (não existe tentativa sem dolo)
5. Punibilidade da Tentativa
Duas teorias buscaram esclarecer a punibilidade da tentativa:
5.1. Teoria Subjetiva = é aquela que está relacionada à intenção do agente,
punindo o crime tentado da mesma forma que o delito consumado.
O código penal não adotou essa teoria como regra, exceto nos crimes de
atentado ou de empreendimento, como no caso do artigo 352 do Código Penal
(evasão mediante violência).
Art. 352 - Evadir-se ou tentar evadir-se o preso ou o indivíduo
submetido a medida de segurança detentiva, usando de
violência contra a pessoa: Pena - detenção, de três meses a um
ano, além da pena correspondente à violência.
d) Crimes culposos
h) Crime continuado (Art. 71 do CP). Trata-se de, por ficção, crime único,
quando as características de tempo, local, modo, dentro outras, faz presumir que os
delitos finais sejam continuação do primeiro.
6. Formas de Tentativa
6.1. Tentativa Perfeita ou Acabada = quando o agente realiza todos os atos de
execução, mas a consumação não ocorre por circunstâncias alheias à sua vontade.
6.2. Tentativa Imperfeita ou Inacabada = quando o agente não consuma o
crime por não conseguir realizar todos os atos de execução.
6.3. Tentativa Vermelha ou Cruenta = quando o bem jurídico é atingido pelo
agente.
6.4. Tentativa Branca ou Incruenta = quando o bem jurídico não é atingido
pelo agente.
Obs.: é possível que as tentativas perfeita ou imperfeita sejam branca ou cruenta.
6.5. Tentativa Inidônea ou Inadequada = são os casos de crime impossível.
6.6. Tentativa Abandonada = são os casos de desistência voluntária e do
arrependimento eficaz.
Não se aplica o artigo 16, por força do artigo 12 do Código Penal, que prevê
a especialidade como princípio.
Art. 12 - As regras gerais deste Código aplicam-se aos fatos
incriminados por lei especial, se esta não dispuser de modo
diverso.
Obs.: a Súmula foi editada antes da reforma de 1984, mas ela continua sendo
aplicada, por questões de política criminal.
É importante destacar que o arrependimento posterior não se confunde com o
arrependimento eficaz, porque no eficaz, se evita a consumação e se afasta a tentativa.
Já no arrependimento posterior, a consumação subsiste, mas a pena será reduzida.
9. Delito Putativo
No crime putativo o agente pensa que está praticando um delito, quando na
verdade realiza algo irrelevante para o direito penal. O erro do agente é sua marca
característica, pois caso contrário, o direito penal sequer estaria interessado em
apreciar esse assunto.
O delito putativo recebeu da doutrina o nome de crime suposto ou delito
imaginário e ele se divide da seguinte forma:
a) Delito Putativo por erro de proibição: Nesse caso o agente supõe
infringir uma norma penal que na realidade não existe. Ex: o pai que mantém relação
sexual com a filha, maior de idade, de maneira consentida. Ele pensa que o incesto é
crime, quando na verdade é algo irrelevante para o Direito Penal. O delito putativo
por erro de proibição também é chamado de erro de proibição invertido.
b) Delito Putativo por erro de tipo: Agora, o agente está ciente de um
elemento do crime, na verdade, ele pensa que está diante desse elemento, mas essa
situação fática na realidade não existe. Ex: o agente pensa que esta subtraindo a
própria carteira. Essa modalidade de crime putativo se confunde com o crime
impossível, porém o foco entre essas figuras é distinto.
O principal no delito putativo por erro de tipo é o cenário, ao passo que no
crime impossível é o objeto tutelado pelo direito. Por exemplo: a mulher engravida, o
feto morre, mas sem saber ela toma pílula abortiva para interromper a gravidez.
Houve aí crime impossível por conta do objeto vida intra-uterina. No mesmo
contexto, se ela tem gravidez psicológica e faz a mesma manobra, houve delito
putativo por erro de tipo.
c) Delito putativo por obra do agente provocador: Nesse caso, as
circunstâncias fáticas determinadas por outrem induzem a pessoa a praticar o delito, e
ao mesmo tempo são tomadas medidas para inviabilizar a prática criminosa. Ex: o
policial que finge ser bicheiro e prende as pessoas que surgem como apostadoras.
São os casos de flagrante preparado. Nesse sentido, a Súmula 145 do STF:
“não há crime quando a preparação do flagrante pela Polícia torna impossível a
consumação”.
De outro lado, se a Polícia aguardar, retardar a sua ação como no caso da Lei
nº 9.034/95 (Lei do Crime Organizado), o flagrante é esperado, diferido ou retardado.
Ele é válido e o delito será consumado. Ele não se confunde com o preparado, pois
este é nulo, não havendo sequer tentativa e a iniciativa parte do agente provocador.
2) falta de dolo ou culpa: ex. o autor mediato provoca erro de tipo essencial
e inevitável no executor, tal qual o filho que pede a sua mãe que leve uma
“encomenda” ao seu amigo na Europa, quando tratava-se de 200 gramas de cocaína.
3) falta de conduta livre: ex. hipnose. Força maior diante de coação física
irresistível (Anderson Silva pegou sua mãe e desferiu um soco na vítima)
Como se verifica nas situações acima, não há concurso de pessoas entre o
autor mediato e a pessoa sem discernimento que executa a conduta, razão pela qual, a
autoria mediata também é chamada de pseudo concurso de pessoas ou concurso
aparente de pessoas.
Por esta razão, a teoria restritiva melhor coloca e explica a autoria mediata
do contexto do concurso de pessoas.
O que poderá haver é concurso de pessoas entre autores mediatos. (2 pessoas
coagem)
A teoria geral da teoria mediata trabalha apenas com seres humanos sem
discernimentos, isto porque, se o agente utilizar um instrumento ou um animal na
execução do crime, será considerado o seu autor imediato.
Da mesma forma, segundo orientação majoritária, o crime de mão própria
não admite autoria mediata.
FORMAS DE PARTICIPAÇÃO:
a) moral: que se verifica por meio do induzimento ou da instigação.
Obs. Induzir significa criar ideia não existente na mente de alguém. Instigar,
significa alimentar ideia já existe na mente de alguém.
b) material: que se verifica pelo auxilio.
Obs. o auxilio não obstante material pode ser físico ou intelectual. Ex. o
participe entrega o veneno ao executor do homicídio. Ex. o partícipe ensina o
executor do homicídio a fazer o veneno.
Obs. ajuda e auxílio são sinônimos.
Obs. o cúmplice é o partícipe material, porém, cúmplice e cumplicidade são
termos não mais utilizados na lei penal. Cúmplice = partícipe de caráter material.