Você está na página 1de 5

EXECELENT ISSIMO SENHOR DOUTOR J UIZ DE DIREITO D A 11ª

VARA CRIMINAL DA COMARCA DE MACEIÓ -PE

Processo nº____________________

Luiz, devidamente qualificado nos autos do processo nº__ ____ ____


que lhe move a Justiça Publica, por meio de seu advogado que a este subscreve,
vem respeitosamente, perante Vossa Excelência, com o fulcro no artigo 403, §3
º do Código de Processo Penal, apresentar

MEMORIAIS DE DEFESA

1 -Dos Fatos
Luiz, réu primário, que apenas responde a outro processo pelo crime
de estelionato, foi denunciado e regularmente processado perante a 11ª Vara
Criminal de Maceió, como incurso nas penas do artigo 171, §2º, VI, do CP,
porque pagou a compra que fizeram em uma grande loja de departamentos com
cheque no valor de R$ 36,00 (Trinta e Seis Reais), devolvido pelo banco saca
do, por falta de suficiente de fundos.
Regularmente citado, ofereceu resposta à acusação, juntando prova
de que pagará a dívida no curso do inquérito policial, não tendo, nessa ocasião,
aceito a proposta de suspensão condicional do processo.
O Magistrado, entretanto, julgou prematura a absolvição sumária do
réu, designando data para a audiência. Durante a audiência a defesa requereu
a conversão dos debates orais em memorais escritos, que foi deferido com
anuência do Promotor de Justiça.
Sendo assim, o Ministério Público pediu a condenação de Luiz em
memoriais, o que não deve progredir, conforme estará demostrado a seguir
2- DO DIREITO
2.1- Da atipicidade material
Diante dos fatos narrados é incontestável que Luiz não deve ser
condenado pelo crime de estelionato em razão da atipicidade material no que
tange à Relevância do fato trazida pelo valor de apenas R$3 6,00.
Deve ser aplicado aqui o princípio da Insignificância, o qual
recomenda que o direito penal
I- Vamos ver o artigo 386, inciso III, do Código Processo Pena l:
“O juiz absolverá o Réu, mencionando a causa na parte
dispositiva, desde que reconheça: III- Não constituir fato a
infração penal”
II- É certo de que a tipicidade é requisito essencial para a constituição
de um crime. A tipicidade possui elementos formais e materiais. No que tange
aos elementos materiais, para que a conduta seja considerada criminosa é
necessária haver relevância, o que não aconteceu, visto que a conduta é
insignificante.
III -No caso, portanto, deve ser aplicado o princípio da insignificância,
tendo em vista que o objeto do crime foi uma mera compra no valor de 36 reais,
o que não tem relevância alguma para uma grande empresa de departamentos.
2.2- Aplicação para apena mínima, ausência de circunstância
desfavorável;
I-Vejamos o artigo 59 Código Penal c /c sumula 444 S TJ
Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos
antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente,
aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime,
bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá,
conforme seja necessário e suficiente para reprovação e
prevenção do crime.
I - as penas aplicáveis dentre as cominadas;
II - a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites
previstos
III - o regime inicial de cumprimento da pena privativa de
liberdade;
IV - a substituição da pena privativa da liberdade aplicada,
por outra espécie de pena, se cabível.

A súmula 444 – é vedada a utilização de inquérito policiais


e ações penais em curso para agravar a pena
II-A consideração das circunstâncias previstas no artigo 59 requer
também a realização de um raciocínio de exclusão, só se podendo utilizar, nesta
etapa, aquela não aplicada nas etapas subsequentes da dosimetria da pena.
O local, o modo de praticar o crime, o tempo de sua duração etc,
quando não previsto como circunstâncias relevantes às etapas subsequentes da
fixação da pena, podem ser consideradas para fins de aumento ou redução da
sanção, no momento de fixação da pena base.
III -No caso, portanto, deve ser aplicado a pena mínima, tendo em vista
a ausência de circunstância.
2.3- Fixação do regime inicial aberto em face da pena mínima;

I-Vejamos o artigo 33, §2º, C do Código Penal;

Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime


fechado, semiaberto ou aberto. A de detenção, em regime
semi-aberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência
a regime fechado

§ 2º - As penas privativas de liberdade deverão ser


executadas em forma progressiva, segundo o mérito do
condenado, observados os seguintes critérios e
ressalvadas as hipóteses de transferência a regime mais
rigoroso

c) o condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou


inferior a 4 (quatro) anos, poderá, desde o início, cumpri-la
em regime aberto.

II- O não reincidente condenado a pena inferior a quatro anos pode


iniciar o cumprimento da pena no regime aberto.

III - Note-se que a redação da alínea" c" pode dar a entender que a
definição do regime inicial semiaberto e aberto se trata de uma faculdade do
julgador, porquanto o regime carcerário" pode" ser fixado. Contudo, para exercer
tal discricionariedade, o julgador deve ponderar a incidência das circunstâncias
judiciais no caso concreto, que estão arroladas no artigo 59 do Código Penal.

2.4- Substituição de Pena Privativa de liberdade por Restritiva de


Direito.
I-Vamos observar o artigo 44 do Código Pena

Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e


substituem as privativas de liberdade, quando

I - aplicada pena privativa de liberdade não superior a


quatro anos e o crime não for cometido com violência ou
grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena
aplicada, se o crime for culposo

II - o réu não for reincidente em crime doloso;

III - a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a


personalidade do condenado, bem como os motivos e as
circunstâncias indicarem que essa substituição seja
suficiente

II- Em crimes dolosos, a pena privativa de liberdade não pode ser


superior a 4 anos e o delito não pode ter sido praticado com violência ou grave
ameaça à pessoa.
III - No caso, portanto, deve ser aplicado a substituição de pena, tendo
em vista que o crime se trata de estelionato e não houve grave ameaça, o réu
não é reincidente.

2.5-Sursis Penal
I-Vejamos o artigo 77 do código P enal;

Art. 77 - A execução da pena privativa de liberdade, não


superior a 2 (dois) anos, poderá ser suspensa, por 2 (dois)
a 4 (quatro) anos, desde que

I - o condenado não seja reincidente em crime doloso;

II - a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e


personalidade do agente, bem como os motivos e as
circunstâncias autorizem a concessão do benefício;

II- O “sursis” só será cabível quando (critérios cumulativos):


a) A pena privativa de liberdade for cominada na sentença em
quantidade igual ou inferior a 2 anos;
b) O condenado não for reincidente em crime doloso – Uma
condenação anterior por contravenção não impede a concessão do benefício (já
que a lei exige a reincidência em crime), tampouco a condenação por crime em
que já tenha transcorrido o período de prova de 5 anos;
c) A culpabilidade, os antecedentes, a conduta social do condenado,
assim como os motivos e as circunstâncias do crime demonstrem a necessidade
e a suficiência da medida.
d) A impossibilidade de substituição da pena privativa de liberdade
pela restritiva de direitos

III - A suspensão condicional da pena ao autor de crimes, menos


lesivos, para que não seja ele submetido ao rigor e às agruras de um regime
prisional, desde que cumpra determinadas restrições, diversas da quela de
corrente da privação da liberdade.

Conforme a confissão do acusado em sede de resposta à acusação,


onde ainda informou que repararia o dano, por esse motivo requer seja
reconhecida a atenuante de confissão, prevista no artigo 65, inciso III, alínea d.

Vamos ver o artigo 65, inciso III, alínea d, do Código Penal

“São circunstâncias que sempre atenuam a pena:


III - ter o agente:

d) confessado espontaneamente, perante a autoridade, a autoria do


crime;
Contudo, mediante o pagamento de R$ 36,00 (trinta e seis reais) não
existem fundamento algum para condenação de Luiz, sendo assim, o acusado
deverá ser absorvido com fundamento no art. 386, inciso III do CPP.

3- DO PEDIDO

Diante das razões de fato e de direito, o réu:

1- Requer o seja reconhecida a tipicidade do fato, em razão da insignificância da


lesão, e seja absorvido nos termos do art. 386, III do CPP.

2- Que seja aplicada a pena mínima em razão art. 59 do CP.


3- Que seja aplicada a fixação regime inicial aberto no cumprimento da pena nos
termos art. 33, § 2º alínea C do CP.

4- Que tenha substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direito


por nos termos do art. 44 do CP.

5- Que seja aplicada o Sursis Penal nos termos do art. 77 do CP.

6- Que seja reconhecida a atenuante de confissão nos termos do art. 65, III,
alínea d do CP.

7- Caso o pedido anterior não seja acolhido, requer que, devido ausência de
justa causa, que seja absorvido nos termos art. 386, VII do CPP.

Neste termo.
Pede deferimento.

Maceió, data do sistema.

Advogado/OAB

Você também pode gostar