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RAZÕES DA APELAÇÃO

Processo n.: ….
Recorrente: PATRÍCIO
Recorrido: MINISTÉRIO PÚBLICO

Egrégio Tribunal de Justiça

Colenda Câmara.

I – DOS FATOS

O recorrente foi denunciado pelos delitos descritos no art. 302 e 303 da


Lei 9.503/97 (CTB), pelos fatos já anteriormente descritos nos autos da ação
principal. Tendo cumpridas as diligências legais e a instrução, o juízo acatou os
pedidos do Ministério Público e condenou o recorrente a pena de 04 (quatro)
anos e 09 (nove) meses de detenção em regime inicial fechado. Diante do
exposto, a defesa vem interpor o presente recurso.

II – DOS FUNDAMENTOS
II.I – DO IN DUBIO PRO REO

Da análise das provas, em especial ao laudo pericial realizado no local


do acidente, denota-se que não houve excesso de velocidade por parte do
recorrente. Ainda, há menção que existem buracos na estrada em que ocorreu
o fato. Outro ponto é que nem os peritos puderam informar com certeza se
houve imperícia do recorrente na condução do veículo automotor.
Portanto, diante do exposto no laudo pericial, deve-se aplicar o In dubio
pro reo, princípio que disciplina que quando há dúvida a decisão deve ser
tomada em favor do réu. Previsão de tal princípio se dá na Declaração
Universal dos Direitos Humanos, promulgada pela Organização das Nações
Unidas em 1948, por meio do seu artigo XI, item 1:
Artigo 11°
1. Toda a pessoa acusada de um acto delituoso presume-se inocente
até que a sua culpabilidade fique legalmente provada no decurso de
um processo público em que todas as garantias necessárias de
defesa lhe sejam asseguradas.
(...)
E também na Constituição Federal de 1988, no art. 5º, inciso LVII:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes
no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à
segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
(...)
LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de
sentença penal condenatória;
(...)
Ainda, a vítima sobrevivente sequer compareceu aos atos processuais e
nem foi localizada, ficando assim várias lacunas a serem preenchidas quanto
aos fatos narrados na ação que resultou na sentença condenatória do
recorrente.
Destarte, impõe a absolvição como medida a ser tomada, tendo em vista
o disposto no art. 386, incisos II, IV, V, VII, do CPP:
Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte
dispositiva, desde que reconheça:
(...)
II - não haver prova da existência do fato;
(...)
IV – estar provado que o réu não concorreu para a infração penal;
(...)
V – não existir prova de ter o réu concorrido para a infração penal;
(...)
VII – não existir prova suficiente para a condenação.
(...)
Uma vez existindo prova que careça de materialidade para condenar o
recorrente, não há que se falar em condenação, tendo em vista que deve ser
utilizado o princípio do in dubio pro reo.
Adiante, no mesmo artigo, tem-se o que segue:
(...)
Parágrafo único. Na sentença absolutória, o juiz:
I - mandará, se for o caso, pôr o réu em liberdade;
(...)
Portanto, com o provimento do recurso, o réu deve ser imediatamente
colocado em liberdade.

II.II – DAS CAUSAS DE DIMINUIÇÃO DA PENA

Tendo em vista que o recorrente se enquadra nos requisitos de réu


primário e bons antecedentes, devem ser fixadas as causas de diminuição de
pena, não observadas pelo magistrado de primeiro grau na dosimetria da pena.
É o que dispõe o art. 59, caput, do Código Penal:
Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos
antecedentes, à conduta social, à personalidade do
agente, aos motivos, às circunstâncias e conseqüências
do crime, bem como ao comportamento da vítima,
estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para
reprovação e prevenção do crime:
(...)
Assim, diante do exposto, no quesito culpabilidade do agente, que não
foi comprovada nos autos, devem ser analisados os antecedentes, conduta
social e personalidade do recorrente, devendo, portanto, ser diminuída a pena.

II.III – DO REGIME INICIAL DA PENA

Foi aplicado ao recorrente uma pena de 04 (quatro) anos e 09 (nove)


meses de detenção em regime inicial fechado. É o que dispõe o art. 33 do
Código Penal:
Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado,
semi-aberto ou aberto. A de detenção, em regime semi-aberto, ou
aberto, salvo necessidade de transferência a regime fechado.
§ 1º - Considera-se: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
(...)
b) regime semi-aberto a execução da pena em colônia agrícola,
industrial ou estabelecimento similar;
(...)
§ 2º - As penas privativas de liberdade deverão ser executadas em
forma progressiva, segundo o mérito do condenado, observados os
seguintes critérios e ressalvadas as hipóteses de transferência a
regime mais rigoroso: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984)
a) o condenado a pena superior a 8 (oito) anos deverá começar a
cumpri-la em regime fechado;
b) o condenado não reincidente, cuja pena seja superior a 4
(quatro) anos e não exceda a 8 (oito), poderá, desde o princípio,
cumpri-la em regime semi-aberto;
c) o condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 4
(quatro) anos, poderá, desde o início, cumpri-la em regime aberto.
Não há previsão de cumprimento de detenção em regime inicial fechado,
uma vez que tal modalidade de pena não abrange tal modalidade de regime
nos termos do Código Penal Brasileiro. Ainda, se trata de réu não reincidente e
pena de 04 (quatro) anos, o que implica na adoção do regime inicial
semiaberto, caso fosse o caso de pena de reclusão. Portanto, diante de tal
situação, deve ser fixado o regime inicial semiaberto, que é o que melhor se
adapta ao caso em tela.

III – DOS PEDIDOS

Diante do exposto e delineado acima, REQUER:


a) que seja recebida as razões desta apelação, como também que se
dado o seu devido provimento;
b) que seja absolvido o recorrente diante dos fundamentos expostos,
como também que seja posto em liberdade;
c) que, não sendo aceito o pedido anterior, que seja levado em
consideração as causas de diminuição da pena, consoante o todo exposto e
fundamentado acima;
d) alternativamente, que seja fixado o regime para cumprimento da pena
em semiaberto, diante do já exposto anteriormente.

Termos em que,
Pede deferimento.
Santa Rosa/RS, 27 de abril de 2021.

Advogado...,
OAB/UF nº...

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