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UNIVERSIDADE ABERTA - ISCED

FACULDADE DE DIREITO

LICENCIATURA EM DIREITO

Serviço de Penas e Medidas Alternativas á Prisão como ponto central para o


descongestionamento dos Estabelecimentos Penitenciários: Caso de estudo do
Estabelecimento Penitenciário Provincial de Maputo no período de 2018 a 2020.

Ernesto Domingos Chiburre

Maputo, 08 de Fevereiro de 2022


UNIVERSIDADE ABERTA - ISCED

FACULDADE DE DIREITO

LICENCIATURA EM DIREITO

Serviço de Penas e Medidas Alternativas a Prisão como ponto central para o


descongestionamento dos Estabelecimentos Penitenciários: Caso de estudo do
Estabelecimento Penitenciário Provincial de Maputo no período de 2018 a 2020

Monografia científica entregue ao centro de recurso de Maputo, Faculdade de Direito


como requisito para obtenção do grau académico de licenciatura em Direito

O Candidato A supervisora

Ernesto Domingos Chiburre Jorgina de Carmen Pondeca

Maputo, 08 de Fevereiro de 2022


DECLARAÇÃO DE HONRA
Eu, Ernesto Domingos Chiburre, estudante da Faculdade de Direito, da Universidade Aberta -
ISCED (UnISCED), curso de Licenciatura em Direito, com o código n.º 41180280, declaro
por minha honra que o conteúdo do trabalho intitulado: “Serviço de Penas e Medidas
Alternativas á Prisão como ponto central para o descongestionamento dos Estabelecimentos
Penitenciários: Caso de estudo do Estabelecimento Penitenciário Provincial de Maputo no
período de 2018 a 2020”, nunca foi apresentado antes para a aquisição de qualquer grau
académico, é reflexo do meu trabalho pessoal e manifesto que perante qualquer notificação de
plágio, copia ou falta em relação a fonte original, sou directamente o responsável legal,
económica e administrativamente, isentando a Supervisora, a Universidade Aberta - ISCED
(UnISCED) e as instituições que colaboraram com o desenvolvimento deste trabalho,
assumindo as consequências derivadas de tais práticas ilícitas.

Maputo, 08 de Fevereiro de 2022

Assinatura do candidato

Ernesto Domingos Chiburre

I
AGRADECIMENTO
Agradeço, em primeiro lugar, à Deus pelo dom da vida, pela minha saúde, pela sua procteção
em todos os momentos e pela força positiva que transmite-me para continuar a superar todos
os desafios da vida.

Os agradecimentos são extensivos aos meus pais, Domingos Chiburre e Inês Chaisse, pela
vida que me deram e pelo acompanhamento da minha vida, assim como pela transmissão do
conhecimento, formas de convivência na sociedade e o respeito pelo próximo.

Aos meus irmãos: Carlos Chaisse, Rosa Chiburre Cristina Chiburre, Daniel Chiburre, a Minha
Esposa Inês Machava e ao meu Colega e Amigo Sérgio Valentim, Inocêncio Vilanculos.

A Minha Supervisora, pelo apoio, dedicação, críticas, correcções, ensinamentos e lições que
serão úteis para a minha vida profissional, académica e particular.

Aos meus colegas de curso, que se fizeram importantes durante essa jornada.

Os profundos agradecimentos também vão para aqueles que directa ou indirectamente tem
contribuído para a minha realização académica.

II
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho.

Aos meus filhos: Hinégio e Carlos

Aos meus pais: Domingos Chiburre e Inês Chaisse.

Ao meu Irmão: Carlos Chaisse

Espero ter realizado o vosso maior desejo em relação a minha formação!

III
LISTA DE GRÁFICOS
 Gráfico 1: Efectivo dos internos de 2018

 Gráfico 2: Efectivo dos internos de 2019

 Gráfico 3: Efectivo dos internos de 2020

 Gráfico 4: Efectivo dos internos de 2018, 2019 e 2020

 Gráfico 5: Condenados a pena não privativa de liberdade em 2018

 Gráfico 6: Condenados a pena não privativa de liberdade em 2019

 Gráfico 7: Condenados a pena não privativa de liberdade em 2020

 Gráfico 8: Condenados a pena não privativa de liberdade em 2018, 2019 e 2020

IV
LISTA DE SIGLAS

 UNISCED: Universidade Aberta-ISCED

 CRM: Constituição da República de Moçambique

 CP: Código Penal

 SERNAP: Serviço Nacional Penitenciário

 SNAPRI : Serviço Nacional das Prisões

 Nº: Número.

 Artg.: Artigo

 Op. cit.: Obra já citada anteriormente pelo mesmo autor.

 PAPP: Penas Alternativas a Pena de Prisão

 SPAPP: Serviço de Penas Alternativas a Pena de Prisão.

 TSU: Trabalho socialmente útil

V
RESUMO
A pesquisa aborda assuntos relacionados com os Serviços de Penas e Medidas Alternativas á
Prisão como ponto central para o descongestionamento dos Estabelecimentos Penitenciários:
Caso de estudo do Estabelecimento Penitenciário Provincial de Maputo no período de 2018 á
2020, portanto, a escolha deste período, deve-se ao facto de que nos últimos anos, esta se
registar cada vez mais a superlotação dos estabelecimentos penitenciários a todos níveis. Em
2018, Moçambique tinha 18.185 reclusos, contra uma capacidade oficial de 8.188 reclusos, ou
seja, estando acima da sua capacidade de ocupação nos Estabelecimentos Penitenciários. O
sistema penal, assim como a sociedade em Moçambique, passou, ao longo do tempo, por um
significativo progresso, desde a época colónia ate a actualidade. A pesquisa tem por objectivo
analisar ate que ponto o Serviço de Penas e Medidas Alternativas a Prisão pode aliviar
congestionamento dos Estabelecimentos Penitenciários Nacionais (caso de estudo do
Estabelecimento Penitenciário Provincial de Maputo), e apontar as dificuldades que podem
ser levados em conta a resolução dos problemas de superlotação dos Estabelecimentos
Penitenciários. A superlotação nas Penitenciárias continua a ser uma das maiores
preocupações do sector da Justiça em Moçambique, actualmente existem cerca de vinte mil
(20 mil) reclusos em todo o território nacional. Visando a melhoria das condições de reclusão
e para evitar a superlotação, o ministério da justiça, assuntos constitucionais e religiosos diz
estar a realizar várias acções para contornar as penas de prisão, aplicando as penas não
privativas de liberdade para os crimes menos graves. Portanto, para alcance destes objectivos
será adoptada uma abordagem qualitativa, combinada com uma pesquisa exploratório, onde
será desenvolvido através do estudo bibliográfico e documental. O presente trabalho encontra-
se dividido em cinco capítulos. Sendo o primeiro capitulo a introdução que apresenta a
problematização, as hipóteses os objectivos e a justificativa; o capítulo dois apresenta o
referencial teórico; no capítulo três temos a apresentação da metodologia; no capítulo quatro
encontram se a análise e discussão de resultados; no quinto capitulo conclusão e
recomendações; e por ultimo as referencias bibliográficas.

Palavra-chave: Superlotação, Estabelecimento Penitenciário, Serviço de Penas e Medidas


Alternativas á Prisão.

VI
ABSTRACT
The research addresses issues related to the Services of Sentences and Alternative Measures
to Prison as a central point for decongestion of Penitentiary Establishments: Case study of the
Maputo Provincial Penitentiary Establishment from 2018 to 2020, therefore, the choice of this
period should due to the fact that in recent years, there has been more and more overcrowding
of penitentiary establishments at all levels. In 2018, Mozambique had 18,185 thousand
inmates, against an official capacity of 8,188 thousand inmates, that is, above its capacity to
occupy the Penitentiary Establishments. The penal system, as well as society in Mozambique,
has undergone, over time, significant progress, from colonial times to the present. The
research aims to analyze to what extent the Service of Sentences and Alternative Measures to
Prison can alleviate congestion in National Penitentiary Establishments (Maputo Provinci
Penitentiary case study), and point out the difficulties that can be taken into account in the
resolution of the overcrowding problems in Penitentiary Establishments. Overcrowding in
Penitentiaries continues to be one of the biggest concerns of the justice sector in Mozambique,
there are currently around twenty thousand (20 thousand) inmates throughout the national
territory. Aiming at improving the conditions of imprisonment and to avoid overcrowding, the
Ministry of Justice, Constitutional and Religious Affairs says it is carrying out several actions
to circumvent prison sentences, applying non-custodial sentences for less serious crimes.
Therefore, to achieve these objectives, a qualitative approach will be adopted, combined with
an exploratory research, which will be developed through bibliographic and documentary
study. The present work is divided into six chapters. The first chapter being the introduction
that presents the problematization, the hypotheses, the objectives and the justification; chapter
two presents the theoretical framework; in chapter three we have the presentation of the
methodology; in chapter four there is the analysis and discussion of results; in the fifth
chapter, conclusion and recommendations; and finally the sixth chapter the bibliographical
references.

Keyword: Overcrowding, Penitentiary Establishment, Sentencing Service and Alternative


Measures to Prison.

VII
Índice
Pag

DECLARAÇÃO DE HONRA .................................................................................................. I

AGRADECIMENTO .............................................................................................................. II

DEDICATÓRIA ..................................................................................................................... III

LISTA DE GRÁFICOS ......................................................................................................... IV

LISTA DE SIGLAS ................................................................................................................. V

RESUMO................................................................................................................................. VI

ABSTRACT ...........................................................................................................................VII

1.0. INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 1

1.1. PROBLEMA ................................................................................................................... 2

1.2. JUSTIFICATIVA ............................................................................................................ 3

1.3. HIPÓTESES .................................................................................................................... 4

1.4. OBJECTIVOS ................................................................................................................. 4

1.4.1. Objectivo geral ......................................................................................................... 4

1.4.2. Objectivo Especifico................................................................................................. 4

2.0. REVISÃO DA LITERATURA ........................................................................................ 5

2.1. Direito Penal .................................................................................................................... 5

2.1.1. Penas ............................................................................................................................. 6

2.1.2. Origens das penas ..................................................................................................... 7

2.1.3. Tipificação das Penas ............................................................................................... 8

2.2. Direito penitenciário ........................................................................................................ 9

2.2.1. Estabelecimento Penitenciário (Prisão ou Cadeia) ................................................. 10

2.3. Sistemas Prisionais ........................................................................................................ 11

2.3.1. Sistema Panóptico .................................................................................................. 11

2.3.2. Sistema de Filadélfia ou Belga ............................................................................... 12


2.3.3. Sistema Auburniano ou Sistema de Nova Iorque ................................................... 12

2.3.4. Sistema Progressivo ou Reformatório .................................................................... 13

2.4. Sistema Penitenciário Adoptado por Moçambique ....................................................... 14

2.5. Historia das prisões ........................................................................................................ 15

2.5.1. Idade Antiga ........................................................................................................... 15

2.5.2. Idade Média ............................................................................................................ 15

2.5.3. Idade Moderna e Contemporânea ........................................................................... 16

2.6. Breve história do Sistema Penitenciário Moçambicano ................................................ 16

2.7.Teoria dos Fins das Penas .............................................................................................. 18

2.7.1. Teoria absolutista ou retributiva ............................................................................. 18

2.7.2. Teorias Relativas ou Preventivas. ........................................................................... 18

2.7.3. Teoria mista ou unificadora da pena ...................................................................... 19

2.8. Teoria adotada pelo Código Penal Moçambicano ......................................................... 19

2.9. Superlotação .................................................................................................................. 20

2.10. Surgimento das Penas Alternativas à pena de prisão .................................................. 21

2.10.1. Regras de Tóquio .................................................................................................. 21

2.10.2. Surgimento das penas alternativas ........................................................................ 21

2.11. Pena e Medidas alternativa à pena de prisão ............................................................... 22

2.11.1. Pena alternativa..................................................................................................... 23

2.11.2. Medidas alternativas ............................................................................................. 23

2.12. Aplicabilidade das Medidas e Penas alternativas ao condenado ................................. 24

2.13. Pressupostos de aplicação das Penas Alternativas à Pena de Prisão ........................... 25

2.14. Vantagens da aplicação das Medidas e Penas Alternativas à Pena de Prisão. ............ 25

3.0. METODOLOGIA............................................................................................................ 27

3.1. Métodos de Pesquisa ..................................................................................................... 27

3.1.1. Método hipotético-dedutivo ................................................................................... 27


3.2. Pesquisa Bibliográfica ................................................................................................... 27

3.2.1.Técnicas de Pesquisa ............................................................................................... 27

3.2.2. Pesquisa Bibliográfica ............................................................................................ 28

3.3. Colecta de dado ............................................................................................................. 28

3.3.1. Tipo de colecta de dados ........................................................................................ 28

3.4. Vantagens e desvantagens de usar dados primários ...................................................... 28

3.4.1. Vantagens ............................................................................................................... 28

3.4.2. Desvantagens .......................................................................................................... 29

3.5. Vantagens e desvantagens de usar dados secundários................................................... 29

3.5.1. Vantagens ............................................................................................................... 29

3.5.2. Desvantagens .......................................................................................................... 29

3.6. Estudo documental ........................................................................................................ 29

3.7. Consulta a internet ......................................................................................................... 30

3.8. Legislação ...................................................................................................................... 30

4.0. ANÁLISE E DISCUSSÃO DE RESULTADOS ........................................................... 31

4.1. Problemas correntes do Estabelecimento Penitenciário Provincial de Maputo. ........... 31

4.2. Penas Alternativas á Pena de Prisão no Estabelecimento Penitenciário Provincial de


Maputo .................................................................................................................................. 35

4.3. Vantagens de aplicação das penas alternativas a pena de prisão ................................... 38

4.3. Conclusão dos dados recolhidos .................................................................................... 38

5.0. CONCLUSÃO.................................................................................................................. 39

5.1. Recomendações ............................................................................................................. 40

6.0. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 42

Legislações Usadas ............................................................................................................... 43

Consultas na internet ............................................................................................................ 44


1.0. INTRODUÇÃO
A presente monografia tem como tema, “Serviço de Penas e Medidas Alternativas a Prisão
como ponto central para o descongestionamento dos Estabelecimentos Penitenciários: Caso
de estudo do Estabelecimento Penitenciário Pronvicial de Maputo no período de 2018 a
2020”, portanto, a escolha deste período, deve-se ao facto de que nos últimos anos, esta se
registar cada vez mais a superlotação dos estabelecimentos penitenciários a todos os níveis. A
pesquisa analisou a situação actual das Penitenciárias Moçambicanas, no mesmo fez-se uma
breve retrospectiva histórica das penitenciárias.

A superlotação dos Estabelecimentos Penitenciários continua a ser uma das maiores


preocupações do sector da Justiça em Moçambique, actualmente existem cerca de vinte mil
reclusos em todo o território nacional. Visando a melhoria das condições de reclusão e para
evitar a superlotação, o ministério da justiça, assuntos constitucionais e religiosos diz estar a
realizar várias acções para contornar as penas de prisão.

Diante deste cenário, buscar-se-á neste trabalho analisar questões relativas à pena de prisão,
ao momento crítico vivenciado por ela e às formas de punição, em especial, as penas
alternativas à pena de prisão. Quanto a estas, buscar-se-á ao final verificar em que medida elas
têm contribuído para a diminuição do aumento do número de indivíduos presos em
Moçambique, tema este que se apresenta como a problemática principal deste trabalho.

Segundo o ex Ministro da Justiça, Joaquim Veríssimo, defendia aplicação das penas e


medidas alternativas de prisão como forma de reduzir a superlotação dos Estabelecimentos
Penitenciários em Moçambique. O ministro da justiça falava durante a cerimónia de abertura
do quinto conselho coordenador do sector.

As penas não privativas de liberdade, são obrigatoriamente impostas ao condenado nos casos
em que a conduta criminosa seja punível com pena de 1 dia e até ao limite máximo de 3 anos,
verificando os pressupostos gerais estabelecidos no artigo 68 da lei n.º 24/2019 de 24 de
Dezembro. As penas alternativas à prisão foram introduzidas em vários países da África
Austral, incluindo Moçambique, com o propósito de mudar o paradigma do sistema penal,
que remete os indivíduos à privação da liberdade. Mas, tal privação, depende muito do tipo de
crime cometido, que nem sempre merecem medidas privativas de liberdade, podendo serem
traduzidas em prestação de trabalho socialmente útil. Em Moçambique, embora de forma
descontínua, as penas alternativas a prisão, já estão a ser aplicadas.
1
1.1. PROBLEMA
As Penitenciarias Moçambicanas registam uma sobrelotação de 222,1%, sem que seja visível
uma alteração na tendência de abrandamento na ocupação excessiva, indicam dados da
Procuradoria-Geral da República (PGR) no ano de 2020.

A superlotação no sistema penitenciário está a atingir níveis insustentáveis, tornando difícil a


respectiva gestão, segurança, reabilitação e ressocialização dos internos. Assim, é urgente a
adopção de uma estratégia que garanta, a curto e médios prazos, o incremento da capacidade
instalada.

Portanto, Joaquim Veríssimo, o ex-ministro da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos


de Moçambique, disse à Lusa que o fim da superlotação dos Estabelecimentos Penitenciários
em Moçambicanas só será possível com a construção de mais estabelecimentos e a aplicação
de penas e medidas alternativas à prisão.

A superlotação e o impacto socioeconómico da prisão afectam particularmente as crianças e


os jovens. Em Dezembro de 2018, havia cerca de 2.934 crianças e jovens (dos 16 aos 21 anos)
em reclusão. A maioria deles é condenada a penas de prisão curtas e por crimes de violação
de propriedade, roubo de celulares e carteiras. Os tribunais impõem frequentemente sentenças
de privação de liberdade.

A superlotação dos estabelecimentos penitenciários deixa milhares de reclusos a passar longas


noites no chão. Recentemente, a dr Crimilda, Directora Nacional do Serviço de Cuidados
Sanitários do SERNAP avançou que 11 mil reclusos não têm camas para dormir, de um
universo de 20 mil, sendo que as detenções efectuadas nos últimos meses têm agudizado o
problema. De 01 de Janeiro a 31 de Dezembro de 2020 deram entrada nos nossos
estabelecimentos mais de 1000 internos, grande parte em resultado das detenções.

O Ministério Público Moçambicano, considera que a superlotação do Sistema Penitenciário é


provocada pela reduzida capacidade dos estabelecimentos penitenciários, uso excessivo de
medidas privativas da liberdade e fraca aplicação de medidas e penas alternativas à prisão.

Contudo, na base da pesquisa feita, conclui que a situação é mais grave no Estabelecimento
Penitenciário Preventivo de Maputo, que tem acima de 3000 internos (reclusos), sendo a
capacidade do local apenas de 800 reclusos, com esses números, portanto, a situação não é

2
das melhores, reforçando a aplicação de penas e medidas alternativas à prisão para sanar o
fenómeno.

Adiante do que foi exposto coloca-se a seguinte questão de partida: Ate que ponto o Serviço
de Penas e Medidas Alternativas a Prisão pode aliviar congestionamento do Estabelecimento
Penitenciário Provincial de Maputo?

1.2. JUSTIFICATIVA
O presente estudo versa sobre a aplicação de penas e medidas alternativas a prisão, como a
solução central para a resolução da superlotação dos estabelecimentos penitenciários.

A superlotação do Sistema Penitenciário está a atingir níveis insustentáveis, tornando difícil a


respectiva gestão, segurança, reabilitação e ressocialização dos internos. Assim, é urgente a
adopção de uma estratégia que garanta, a curto e médios prazos, o incremento da capacidade
instalada.

Desde modo, a escolha do tema assenta-se na pretensão de desenvolver um trabalho de âmbito


aplicado, que integre as competências e os conhecimentos adquiridos ao longo do curso, tendo
em vista a apresentação de soluções de cariz prático, orientadas para a resolução dos
problemas concretos inerentes às temáticas abordadas, tendo, porém, sempre presentes
preocupações de enquadramento teórico e justificação metodológica, de modo a trazer
sugestões relacionados com Serviço de Penas e Medidas Alternativas a Prisão como ponto
central para o descongestionamento dos Estabelecimentos Penitenciários, apontando as
dificuldades que serão enfrentadas na aplicação de penas e medidas alternativas a prisão.

No que concerne a academia, o tema enquadrasse no âmbito do Direito penal. O tema é


importante na medida em que vai puder conhecer os parâmetros legais inerentes aos processos
dessa natureza, a fim de ampliar os conhecimentos sobre as Penas e Medidas Alternativas a
Prisão como ponto central para solucionar o problema de superlotação dos Estabelecimentos
Penitenciários, e emprazar os interessados a continuarem as pesquisas e possivelmente
apresentarem novas informações sobre este tema.

3
1.3. HIPÓTESES
Segundo Marconi & Lakatos (2009, p.132), “Hipótese é uma posição enunciada para
responder tentativamente a um problema”.

H1: Com aplicação eficaz das penas e medidas alternativas à prisão poderá diminuir
significativamente a superlotação dos internos nos Estabelecimentos Penitenciários em
Moçambique.

H2: As Penas e Medidas alternativas à prisão foram introduzidas em Moçambique com o


propósito de mudar o paradigma do sistema penal.

1.4. OBJECTIVOS

1.4.1. Objectivo geral


 Abordar o papel do Serviço de Penas e Medidas Alternativas a Prisão como ponto
central para o descongestionamento dos Estabelecimentos Penitenciários.

1.4.2. Objectivo Especifico


 Analisar a importância da aplicação das penas e medidas alternativas a prisão para
sociedade.

 Verificar até que ponto as penas e medidas alternativas a prisão pode contribuir para a
diminuição do aumento do número dos internos nos estabelecimentos penitenciários.

 Apontar as dificuldades que são enfrentadas frente a aplicação de medidas e penas


alternativa a prisão em todo o território Moçambicano.

4
2.0. REVISÃO DA LITERATURA

2.1. Direito Penal


De acordo com Crespo, (2009), o Direito Penal é o conjunto de normas jurídicas que associam
factos penalmente relevantes, uma determinada consequência jurídica, uma sanção jurídica ou
um conjunto de normas jurídicas que fazem corresponder a uma descrição de um determinado
comportamento, uma determinada consequência jurídica desfavorável.

Para Sousa (2012, p.22), “ Direito Penal é aquela parte do ordenamento jurídico que fixa as
características da acção criminosa, vinculando-lhe penas ou medidas de segurança”. Por outro
lado é Direito penal todo aquele acto externo que é obra da vontade, feito por um homem
racional e livre que é considerado ilícito.

De acordo com a doutrina, o direito penal ou direito criminal é a parte do ordenamento


jurídico que define as infracções penais (crimes e contravenções) e comina as respectivas
sanções (penas e medidas de segurança). Portanto, esta definição também compreende, em
última análise, o processo e a execução penal.

Portanto, a definição acima, é correcta, mas incompleta, visto que, além de definir crimes e
cominar penas, o direito criminal estabelece os princípios e regras que regulam a actividade
penal do Estado, fixando os fundamentos e os limites ao exercício do poder punitivo, a
exemplo dos princípios de legalidade, irretroactividade, humanidade das penas.

Segundo doutrinado Fernando Capez (2010), em sua obra “Curso de Direito Penal”, Direito
Penal é o segmento do ordenamento jurídico que detém a função de seleccionar os
comportamentos humanos mais graves e perniciosos à colectividade, capazes de colocar em
risco valores fundamentais para a convivência social, e descrevê-los como infracções penais,
cominando-lhes, em consequência, as respectivas sanções, além de estabelecer todas as regras
complementares e gerais necessárias à sua correta e justa aplicação.

Para Dias:

ªDireito Penal é um Conjunto de normas jurídicas que associam factos


penalmente relevantes uma determinada consequência jurídica, uma sanção
jurídica ou, conjunto de normas jurídicas que fazem corresponder a uma

5
descrição de um determinado comportamento uma determinada
consequência jurídica desfavorável

Acresce Beleza, que “sob o aspecto sociológico, direito penal é uma ferramenta de controle
social, a qual visa garantir a necessária disciplina social, assim como, a convivência
harmónica em sociedade”.

Portanto, na perispectiva de Sousa, os factos penalmente relevantes correspondem


determinadas sanções jurídicas-penais, que são basicamente as penas e as medidas de
segurança, e as principais sanções penas são: Prisão e Multa, por outro lado as principais
medidas penais são: medidas de segurança e medidas de correcção.

Nesse contexto, o direito penal é abrangente para o objecto de estudo do tema em análise, que
Penas e Medidas Alternativas á Prisão.

2.1.1. Penas
Pena é sanção penal imposta pelo Estado, em execução de uma sentença ao culpado pela
pratica de infracção penal, o mesmo consiste na restrição ou na privação de um bem jurídico,
com a finalidade de atribuir o mal causado à vitima e à sociedade, bem como a readaptação
social e prevenir futuras transgressões pela intimidação dirigida a colectividade.

De acordo com a lei 24/2019 de 24 de Dezembro, que prova o código penal Moçambicano, no
seu artigo 58, aplicação de qualquer medida ou pena criminal visa garantir a protecção dos
bens jurídicos, a reparação dos danos causados com a infracção praticada, a reinserção do
agente na sociedade e prevenir a reincidência.

No ano 1680 a.c. foi consagrado o Código de Hammurabi, com 282 artigos, os quais
descreviam as penas mais cruéis possíveis, que nos dias atuais jamais seriam imputadas.
Porém, para a época já eram consideradas como forma de evolução no sistema criminal. Seus
ditames ficavam expostos em uma coluna de pedra negra, que imputava a quem os infligisse a
seguinte disciplina, “mas se houver dano, urge dar a vida por vida, olho por olho, dente por
dente, mão por mão, pé por pé, queimadura por queimadura, ferida por ferida, golpe por
golpe.

6
2.1.2. Origens das penas
A ideia de punição referente, surgiu por meio da vingança privada, sendo privilegiada a lei do
mais forte, ou seja, do que detinha maior poder. Não havia preocupação com limites na
aplicação do castigo, nem com aplicação de pena de morte, escravização, banimento, além da
possibilidade da pena estender-se às pessoas da família do criminoso.

Neste sentido, explica Martins:

“Nos primórdios, a punição por um crime restringia-se à vingança


privada. Vigia a Lei do mais forte, do que detinha maior poder, que
não encontrava limites para o alcance ou formas de execução, formas
de reprimenda que entendia em aplicar, aí incluída a morte, a
escravização, o banimento, quando não atingia toda a família do
infractor.”

Nesta época, quando violadas as regras perante as civilizações primitivas, vigia a lei do mais
forte e do que detinha maior poder. O "delinquente" era encarcerado, geralmente em
condições sub-humanas, até o seu julgamento ou sua execução.

Bittencourt (1997, p. 434) afirma que:

Os lugares onde se mantinham os acusados até a celebração do


julgamento eram bem diversos, já que nesta época não existia ainda
uma arquitectura penitenciária própria. Os piores lugares eram
empregados como prisões: utilizavam horrendos calabouços,
aposentos frequentemente em ruínas ou insalubres de castelos, torres,
conventos abandonados, palácios e outros edifícios.

Neste período não existia um sistema prisional e desconhecia-se a privação de liberdade como
sanção penal. Até fins do século XVIII a prisão era usada fundamentalmente para preservar o
réu até seu julgamento, e as sanções (castigos) esgotavam-se com a morte ou com as penas
corporais (mutilações e açoites). O período seguinte foi comandado e regido pela vingança
pública, onde o Estado era força suprema, sendo criadas novas normas visando a sua
segurança. As punições eram mantidas através de penas cruéis e desumanas, com o objetivo
de proteger os interesses do Estado.

7
A insatisfação quanto às punições tornou-se generalizada, a crueldade e a sensação de
vingança outrora buscadas pelos populares, já não existiam mais e a comoção quanto ao
sofrimento do penado passou a ser geral. Buscava-se, de alguma forma, amenizar o
sofrimento daqueles que deveriam ser punidos para haver ordem social.

2.1.3. Tipificação das Penas


As penas podem assumir diferentes classificações de acordo com o conteúdo previsto por
cada uma delas.

De ponto de vista jurídico, no que concerne as infracções penais, podem-se destacar as


seguintes penas:

 Pena privativa de liberdade;

 Penas restritivas de direito;

 Penas de multa;

 Penas cruéis;

 Penas exortatórias ou morais.

Os sistemas penais modernos e mais evoluídos, utilizam regra geral apenas algumas das penas
acima mencionadas que adiante iremos referenciar de forma pormenorizada. À semelhança do
ordenamento jurídico moçambicano, estas penas também são aplicáveis mas não de todo
usuais.

No actual sistema penal moçambicano as principais penas são as de prisão e de multa, pois, o
no 1 do artigo 61 e no 2 do artigo 40 da CRM, proíbe e condena veementemente a pena de
morte, perpétua, as penas cruéis e infamantes e de certo modo as penas exortatórias ou
morais.

Dentre varias tipologias das penas iremos destacar as seguintes:

2.1.3.1. Pena privativa de liberdade


Em seu fundamento, as penas privativas de liberdade vedam o convívio social ao condenado,
privando sua liberdade dos demais seres humanos, familiares, amigos, vizinhos, entre outros.
O sistema de penas privativas de liberdade constituem uma verdadeira contradição na medida
8
em que não têm resolvido o problema da criminalidade, a superlotação, os atentados sexuais,
a falta de ensino e de profissionalização e a carência de funcionários especializados, pelo
contrário, a tendência é de aumentar os índices. Nota-se que a ressocialização do condenado
não se faz sentir se comparando os valores e costumes adquiridos dentro da prisão e os que a
sociedade oferece.

Mirabete, “sustenta que é impossível a ressocialização do homem que se encontra preso,


quando vive em uma comunidade cujos valores são totalmente distintos daquele a que, em
liberdade deverá obedecer”.

2.1.3.2. Penas restritivas de direitos


Penas restritivas de direitos, estão mais viradas a penas alternativas, permitindo assim, a
aplicação de outro tipo de pena em substituição à prisão, sendo que esta constitui uma total
violência e com o rosto de um sistema de justiça desigual e repressivo, num convívio com e
de criminosos mais perigosos. Uma vez aplicada a pena privativa de liberdade, esta pode ser
substituída pela pena restritiva de direito ou alternativas. A este tipo de pena restritiva de
direitos, a determinados criminosos, a autores de infracções penais mais leves veda-se seu
encarceramento, pois sua recuperação tende a se fazer pela restrição de certos direitos.

2.1.3.3. Penas de multa


A aplicabilidade da pena de multa, consiste na redução de uma parte dos activos ou
património do indivíduo, imposto pela pena. Tem incidência directa sobre os bens adquiridos.
A determinação do valor a pagar é da responsabilidade do juiz com fundamento na lei. A pena
de multa também tem um carácter substitutivo à pena de prisão, incumbindo ao indivíduo a
obrigação de arcar com o pagamento da condenação. De algum modo, a multa a pagar não
afasta o condenado de sua profissão muito menos de sua família e amigos, porém, o propósito
que se acha viável a substituição da pena é o pagamento da multa a ser fixada.

2.2. Direito penitenciário


Na perspectiva de Sousa (2012, p.32), “ Direito Penitenciário, também conhecido como
direito das cadeias, caracteriza-se por ser considerado o conjunto de normas que regulam as
actividades destinadas a averiguar o processo mais apto para a perfeita execução das penas de
privação de liberdade”.

9
Nesta vertente, a ciência do Direito Penitenciário distingue-se do Direito Penal pelo facto de a
primeira ser posterior a segunda. Portanto, o direito penitenciário somente poderá aparecer
depois da aplicada uma pena ou medida de privação de liberdade.

Por outro lado, o Direito penitenciário consiste num conjunto de normas jurídicas que
regulam o processo mais apto para realizar de maneira mais perfeita a privação da liberdade
do delinquente. Uma dessas normas abrange o tratamento do condenado durante a sua
reclusão, como construir os estabelecimentos prisionais, abrange também a disciplina, o
vestuário, do contacto dos delinquentes com o mundo exterior, em suma, visa procurar os
meios mais correctos para o cumprimento de penas.

O Direito Penitenciário consta fundamentalmente do DLnº 26643, de 28 de Maio de 1936, da


autoria do Professor Beleza dos Santos.

2.2.1. Estabelecimento Penitenciário (Prisão ou Cadeia)


Uma prisão é lugar fechado ou edifício destinado à reclusão de presos. Essa instituição,
igualmente conhecida como cadeia (Estabelecimento Penitenciário), faz parte do sistema de
justiça e recebe as pessoas que tenham sido detidos ou condenadas por algum delito.

As prisões são, segundo André Cristiano José, uma “construção social ancorada na história”
cuja função tem variado ao longo do tempo, enquanto reflexo das opções dos estados no
combate ao crime.

Segundo Greco:

“A prisão, que no passado era apenas um estágio intermediário para


a aplicação da pena, geralmente de carácter aflitivo, mutiladora e de
morte, hoje goza de proeminência nas legislações penais. Em prol da
protecção dos bens indispensáveis ao convívio em sociedade, o direito
penal priva de liberdade aquele que cometeu o delito”.

A prisão se consubstanciou como pena definitiva no séc. XVIII, substituindo as demais


modalidades punitivas e fazendo com que passassem a ser ignoradas as penas de morte e as
cruéis.

Segundo Haward cit in Sala, (2000, p. 38), estabelecimento penitenciário “é um presídio


especial onde são recolhidos os condenados às penas de reclusão e onde o Estado, por sua
10
vez, os submete à acção das suas leis punitivas, procurando recuperá-los, através de seu
reajustamento como cidadão às normas da vida em sociedade”.

Portanto, analisando correctamente a definição do estabelecimento penitenciário segundo


Haward cit in Sala, (2000, p. 38), pode concluir que o definição dele é mais abrangente e traz
o conceito completo na medida em que, compreendem os “condenado e preventivo”.

2.3. Sistemas Prisionais


A prisão com o objectivo de punir, mas também de reeducar o comportamento do homem em
sociedade surgiu apenas no fim do Século XVIII e princípio do Século XIX. Surge como
garante da nova ordem socio-moral do mundo a ser exercida de forma igual sobre todos os
seus membros.

Segundo Foucault, a prisão fundamenta-se na “privação de liberdade”, e dado que tal


liberdade é um bem pertencente a todos da mesma maneira, perdê-la tem, dessa maneira, o
mesmo preço para todos, “melhor que a multa, ela é o castigo”, permitindo a quantificação da
pena segundo a variável do tempo: “Retirando tempo do condenado, a prisão parece traduzir
concretamente a ideia de que a infração lesou, mais além da vítima a sociedade inteira”.

Sistemas penitenciários existentes:

 O Sistema Panóptico

 O Sistema de Filadélfia ou Belga;

 O Sistema de Auburn;

 O Sistema Progressivo ou Reformatório

2.3.1. Sistema Panóptico


Em sua obra Vigiar e Punir, Foucault (1987: 64) expressa a ideia de que o “panóptico
funciona como uma espécie de laboratório de poder”. Panóptico foi idealizado por Jeremy
Bentham em 1791, tendo-se generalizado nos anos subsequentes como o modelo
arquitectónico das prisões no mundo.

Panóptico era um edifício com formato de anel, no meio do qual havia um pátio com uma
torre no centro. O anel era o conjunto de celas com acesso para o interior com figuras
representativas; uma criança aprendendo a escrever; um operário trabalhando; réu em plena
11
correcção e na torre central encontrava-se um vigilante que garantia o controlo total das celas
e de todos movimentos exibidos pela população reclusória.

2.3.2. Sistema de Filadélfia ou Belga


Este sistema tem origem nos Estados Unidos de América, particularmente no Estado de
Pensilvânia, posteriormente adoptado na Bélgica. O Sistema de Filadélfia ou Belga tinha
como fundamento a segregação e silêncio dos e entre a população reclusa. O acusado devia
permanecer em total isolamento (solitary system) e privado de contacto com seus familiares,
amigos, privado de visitas, de trabalho, de outros presos em sua cela.

Era considerado dos mais penosos sistemas em que o recluso ficava vedado do contacto com
o mundo externo.

Em seu fundamento, Foucault foi mais adiante ao referir que:

“O recluso, sozinho em sua cela, o detento está entregue a si mesmo,


no silêncio de suas paixões pelo mundo que o cerca, ele desce à sua
consciência, interroga e sente despertar em si, o sentimento moral que
nunca parece inteiramente no coração do homem”.

Devido a total privação da liberdade e em compensação ao elevado índice de suicídios


ocorridos e o facto de não proporcionar a reinserção social do condenado, dá-se origem a um
novo sistema, o Auburniano a fim de colmatar ou melhorar as falhas ou disfunções do sistema
pensilvânico.

2.3.3. Sistema Auburniano ou Sistema de Nova Iorque


O Sistema Auburniano surge pela primeira vez nos Estado Unidos de América a semelhança
do Sistema Pensilvanico a sensivelmente em 1820. Se comparado ao Pensilvanico, o
Auburniano assumia uma certa similaridade no que tange a reclusão e confinamento absoluto
se não total, mas neste novo sistema a reclusão era apenas durante o período nocturno, pois,
durante o dia o sentenciado trabalhava juntamente com os outros, isto é, as refeições e o
trabalho eram colectivos apesar do total silêncio onde os presos não podiam se comunicar ou
mesmo trocar olhares ou outro tipo de sinal. Também estavam vedados as visitas, o lazer e a
prática de exercícios.

12
De acordo com Bittencourt, este sistema pretende assumir e servir-se de modelo ideal na
sociedade não obstante mostrar-se vulnerável pela imposição do silêncio absoluto.

2.3.4. Sistema Progressivo ou Reformatório


Surgiu na Inglaterra a gênese do que viria a ser chamado sistema progressivo em combinação
aos dois anteriores sistemas por forma a torná-los menos severos, criando também a
progressão das penas.

A combinação dos dois sistemas penitenciários consistiria em submeter o preso em regime de


isolamento nocturno (Pensilvanico) trabalhando durante o dia em regra do silêncio
(Auburniano). Porém, o sistema progressivo visa permitir também a distribuição do tempo da
condenação em períodos, dando mais privilégios e vantagens ao recluso de acordo com a sua
conduta e aproveitamento demonstrado do tratamento reformador. Este sistema estava mais
virado para a ressocialização do condenado, estimulando-o ao bom comportamento para a
reinserção na sociedade pós cumprimento da pena.

Como forma de garantir a ressocialização e uma óptima reinserção social, este sistema
prisional admitia quatro estágios de evolução no cumprimento da pena e aprendizagem de
algum ofício:

1º Estágio: Isolamento celular nocturno e diurno – tinha como fim último fazer com que o
condenado reflectisse sobre o crime cometido e a pena atribuída.

2º Estágio: Trabalho colectivo sobre a regra de silêncio – o sentenciado realizava suas


actividades junto dos outros presos durante o dia sem possível comunicação e de noite
segregado por celas.

3º Estágio: Liberdade condicional – pela liberdade limitada e em função do bom


comportamento e conduta disciplinar satisfatória, ao delinquente era-lhe concedida a
liberdade condicional;

4º Estágio: Intermédio – constitui a ponte entre a prisão e a liberdade condicional, pois,


pretende-se analisar e avaliar o estado de espírito do sentenciado para saber-se se este está
preparado para assumir a vida em público, em sociedade ou mesmo retomar a normal
convivência social junto dos parentes, vizinhos, amigos, colegas de trabalho, entre outros.

13
O sistema progressivo serviu de grande marco para a reforma e modernização do sistema
penitenciário no mundo. Para além de modificar a estrutura das prisões também introduziu
novos valores e princípios baseados no respeito e dignidade do preso, “buscar a recuperação
do condenado”.

2.4. Sistema Penitenciário Adoptado por Moçambique


O nosso ordenamento jurídico adoptou o sistema ou o regime progressivo, sendo este um
sistema que trouxe consigo, uma grande progressividade e serviu de tal forma como um
grande marco para a reforma e modernização do sistema penitenciário a nível mundial,
revolucionando a existência de valores e princípios baseados no respeito e na dignidade do
preso, e ao mesmo tempo, trouxe consigo a figura da recuperação social do condenado.

Segundo Muerembe (2015), em Moçambique, as prisões apresentam características definidas


no sistema penitenciário progressivo ou reformatório, pois, à medida que o recluso vai
apresentando uma conduta aceitável no seio em que se encontra inserido, o regime de
detenção vai assumindo uma progressão, fazendo deste modo com que as circunstâncias
atenuantes interfiram directamente sobre o delinquente na mudança de um regime para o
outro, isto é de fechado a semi-aberto e deste ao regime aberto ou pela concessão de liberdade
condicional.

O sistema penitenciário Moçambicano remonta desde os primórdios, e foi sofrendo várias


transformações no tempo colonial ate aos dias de hoje. As prisões em Moçambique surgem no
contexto colonial, quando os indivíduos que não cumpriam as orientações exigidas pela
administração colonial portuguesa eram castigados e submetidos a cadeias privando lhes da
liberdade de circulação e eram controlados pela colónia portuguesa.

Portanto, em Moçambique, as prisões apresentam características definidas no sistema


penitenciário progressivo ou reformatório, pois, à medida que o recluso vai apresentando uma
conduta mais aceitável no seio em que se encontra inserido, o regime de detenção vai
assumindo uma progressão, fazendo deste modo com que as circunstâncias atenuantes
interfiram directamente sobre o delinquente na mudança de um regime para outro, isto é, de
fechado a semi-aberto e deste ao regime aberto ou pela concessão a liberdade condicional.

14
2.5. Historia das prisões
Na História da humanidade sempre esteve presente os sistemas de punições, sendo que, ao
longo desta foi se transformando, levou-se muito tempo até chegar ao modelo actual que
segue os princípios da privação de liberdade como modelo de punição coercitiva e
regenerativa.

2.5.1. Idade Antiga


Na idade antiga um longo período da História que se estende aproximadamente do século VIII
a.C., à queda do Império romano do ocidente no século V d.C; o chamado cárcere,
compreendendo de que não havia um código de regulamento social efectivado, é marcado
pelo chamado encarceramento, que apresentava como emprego o ato de aprisionar não como
carácter da pena, e sim como garantia de manter o sujeito sob o domínio físico, para se
exercer a punição.

Segundo Carvalho Filho (2002), a descrição que se tem daqueles locais revela sempre lugares
insalubres, sem iluminação, sem condições de higiene e “inexpurgáveis”. As masmorras são
exemplos destes modelos de cárcere infectos nos quais os presos adoeciam e podiam morrer
antes mesmo de seu julgamento e condenação, isso porque, as prisões, quando de seu
surgimento, se caracterizavam apenas como um acessório de um processo punitivo que se
baseava no tormento físico.

2.5.2. Idade Média


A Idade Média período da história entre os anos de 476 a 1453, caracterizou-se pela economia
feudal e a supremacia da Igreja Católica, mantendo ainda o cárcere apenas como local de
custódia para conservar, aqueles que seriam submetidos a castigos corporais e à pena de
morte, garantindo dessa forma, o cumprimento das punições. Para encarcerar não havia
necessidade da existência de um local específico. Assim sendo, não se defendia no período
uma arquitetura penitenciária própria, mantendo ainda o cárcere como local de custódia para
aqueles que seriam submetidos ao suplício.

Segundo Carvalho Filho (2002) as punições no período medieval eram: a amputação dos
braços, a degola, a forca, o suplício na fogueira, queimaduras a ferro em brasa, a roda e a
guilhotina eram as formas de punição que causavam dor extrema e que proporcionavam
espectáculos à população.

15
2.5.3. Idade Moderna e Contemporânea
A modernidade corresponde ao período da História iniciado a partir de 1453 e tem seu marco
histórico na Revolução Francesa em 1789. É o período que as organizações sociais transitam
do modelo de organização social Feudal para a constituição do Estado Moderno com o
desenvolvimento dos modelos político, económico e social organizado sob a lógica do
Capitalismo.
A idade moderna é marcada a principio pela representação política da monarquia absoluta. A
Monarquia neste cenário, passou a ser livremente comandada pela figura do monarca,
detentor incondicional do poder político. Tal poder desconhecia quaisquer vínculos e limites e
se caracterizava por impor uma barbárie repressiva, que afligia os súbditos desprovidos de
direitos. Não havia sequer necessidade de se justificar a aspereza das punições aos indivíduos
encarcerados, bem como as condutas puníveis. Fazê-lo seria o mesmo que questionar a
própria soberania do rei.

Para Foucault (1998), a finalidade da prisão deixou de ser então o de causar dor física e o
objecto da punição deixou de ser o corpo para atingir a alma do infractor. A prisão torna-se
como pena privativa de liberdade e constitui em uma nova táctica da arte de fazer sofrer.

2.6. Breve história do Sistema Penitenciário Moçambicano


O Sistema Penitenciário Moçambicano remonta do tempo colonial em que a política vigente
naquele tempo era separatista, servindo de forma diferente a população negra da branca. Para
tanto, “determinadas cadeias na altura eram destinadas a prisioneiros de raça branca enquanto
muitas vezes a população local enfrentava penas traduzidas em trabalho forçado “Xibalo” nas
plantações e obras pertencentes aos portugueses”

Já no período pós independência, o Sistema Penitenciário Moçambicano passou a ser


caracterizado por um dualismo de tutela, pois compreendia estabelecimentos prisionais
tutelados pelo Ministério da Justiça, através da Direcção Nacional das Prisões e outros que
estavam na superintendência do Ministério do Interior, através do seu Departamento de
Administração Prisional. Uns Estabelecimentos destinados a detidos em regime de prisão
preventiva e outros param condenados que cumpriam as penas privativas de liberdade.

Deste modo, ajustar a realidade do país independente, várias mudanças institucionais foram
introduzidas, a partir de 25 de Junho de 1975, entra em vigor a primeira Constituição da
Republica de Moçambique, de cariz socialista e partido único. Com independências foram
16
introduzidas varias reformas a todos sectores Publico, as prisões ficaram sob tutela do
Ministério da Justiça, por meio da Direcção de Inspecção Prisional, e também do Ministério
do Interior, por meio da Polícia de Investigação Criminal (esta controlava os centros de
detenção para os detidos em prisão preventiva), Decreto-lei 1 de 1975.

Com base na Lei nº 12/1978 sobre a Organização Judiciária de Moçambique, houve uma
reestruturação de todo o sistema de justiça que passou a orientar-se pelo novo quadro político
no qual, por exemplo, os tribunais passaram a incluir o termo “popular” transformando-se em
tribunais populares cuja perspectiva era assegurar o acesso à justiça para todos os cidadãos.

Segundo esta lei, a sua introdução tinha em vista contribuir no alcance dos objectivos da luta
libertadora abolindo as injustiças inerentes ao sistema colonial e estabelecendo uma justiça
que servisse os interesses e aspirações da maioria do povo Moçambicano.

Até o século XVIII não se falava da pena restritiva de liberdade, o direito penal era marcado
por penas desumanas e cruéis, tais como: a pena de morte, a tortura, o suplício, mutilações,
trabalhos públicos, o confisco, o desterro, a exposição a censura pública, etc.

Portanto, à situação do sistema prisional, tem apresentado deficiências graves ao longo do


tempo, reconhecidas pelo próprio Governo, que na resolução nº 65/2002 de 27 de Agosto
referiu como principais problemas enfrentados pelo sistema prisional a “sobrelotação dos
estabelecimentos penitenciário, o estado de degradação avançada das infra-estruturas e dos
equipamentos, as péssimas condições sanitárias da população reclusa e a dificuldade em
assegurar cuidados médicos básicos e a ausência quase total das acções de reinserção social
dos delinquentes”. O diploma define uma Política Prisional e correspondente Estratégia de
Evolução que tem procurado executar ao longo do tempo.

Em 2006, foi promulgada a constituição do Serviço Nacional das Prisões (SNAPRI) pelo
decreto nº 7/2006 de 17 de Maio, que, enquadrando o sistema de prisões como um todo, e
sendo dotado de um orçamento próprio, teria melhores condições para avaliar as necessidades
prisionais, corrigir as deficiências ao seu nível e propor as medidas que ultrapassam a sua
competência.

Portanto, passando alguns anos, com o intuito de garantir reformas estruturais e a realização
de estudos relacionados com o tratamento dos reclusos para execução das decisões judiciais
em matéria de privação de liberdade e das penas alternativas à pena de prisão, assegurando as

17
condições de reabilitação e reinserção social do cidadão condenado, foi criado o Serviço
Nacional Penitenciário, pela lei no 3/2013 de 16 de Janeiro, norma revogatória do decreto
nomero 7/2006, de 17 de Maio.

2.7.Teoria dos Fins das Penas


Com o surgimento do direito de punir do Estado nascem três correntes doutrinárias a respeito
da função da pena.

2.7.1. Teoria absolutista ou retributiva


As teorias absolutas também conhecidas como teoria retributiva têm como característica
principal a concepção da pena como um mal, um castigo, como retribuição ao mal causado
através do delito, de modo que sua imposição estaria justificada, não como meio para o
alcance de fins futuros.

Segundo (Bitencourt, 2015, p. 134) “a pena tem como fim fazer justiça, nada mais. A culpa do
autor deve ser compensada com a imposição de um mal, que é a pena”, e o fundamento da
sanção estatal está no questionamento de livre-arbítrio, entendido como a capacidade de
decisão do homem para distinguir entre o justo e o injusto.

Portanto, não se pretende com esta teoria dignificar a conduta do preso em garantir a sua
reintegração ou ressocialização, reeducação, recuperação, correcção ou instrução e muito
menos reparar o dano causado pelo delito, mas sim, castigar, punir, repreender, intimidar,
humilhar e privar da liberdade devido à falta de atenção no cumprimento dos preceitos legais
e o desrespeito para com a sociedade ao apresentar uma conduta desviante.

2.7.2. Teorias Relativas ou Preventivas.


Esta teoria, pretendem evitar que as pessoas em geral cometem crimes. Para esta teoria, a
pena tem a função única de defender a sociedade de elementos que perturbam a sua orgânica.
É meio de segregar ou eliminar indivíduos socialmente perigosos e incorrigíveis. Refere que a
sanção criminal reveste a natureza de uma pura defesa natural da sociedade em face de
perigosidade do agente. Esta teoria defende que a pena é contraparte do delito praticado pelo
infractor, ou seja, a pena é sempre um mal merecido ao agente do delito praticado. Portanto,
nesta teoria o Direito Penal é chamado a retribuir um crime, mas é concebido com uma ideia
de prevenir (teoria da prevenção geral). Objectivo da pena é essencialmente o de exercer uma
influência na comunidade em geral
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2.7.3. Teoria mista ou unificadora da pena
Tais teorias tentam agrupar em um conceito único os fins da pena. Esta corrente tenta recolher
os aspectos mais destacados das teorias absolutas e relativas. Silva (2002, p. 35) afirma que as
duas teorias em combinação darão origem a uma terceira chamada mista ou eclética. Nota-se
que a prevenção e retributiva são figuras afins que de algum modo concorrem para o mesmo
fim, o de prevenir e o de punir o delinquente pelo mal cometido, não obstante a sua
complementaridade. As terias mistas conforme Freitas e Manso (2008) trazem o entendimento
de que a pena tem efectivamente o carácter retributivo, pois deve perseguir os fins
proclamados pelas teorias de prevenção geral e especial, isto é, a intimidação da sociedade,
em geral, e a reabilitação (reeducação) do delinquente.

Nessa ordem de ideia, as teorias mistas ou eclécticas dão suporte a este estudo pelo facto de
serem as que vigoram no ordenamento jurídico moçambicano. O Código Penal, dispõe no seu
art. 62 que, a execução da pena de prisão tem em vista, sem prejuízo da sua natureza
repressiva, a regeneração dos condenados e a sua readaptação social.

Portanto, a prevenção da reincidência penitenciária funda-se na reabilitação e reinserção


social dos cidadãos condenados à pena privativa de liberdade. Outrossim, o código de
execução de penas vem dar suporte que diz respeito a efectivação do tratamento do
condenado é programado e faseado, favorecendo a aproximação progressiva à vida livre.

2.8. Teoria adoptada pelo Código Penal Moçambicano


Moçambique adoptou a teorias mista ou unificadora da pena, conforme pode-se perceber lei
24/2019 de 24 de Dezembro no artigo 59: “a aplicação das penas e medidas de segurança tem
em vista a protecção de bens jurídicos, a reparação dos danos causados, a ressocialização do
agente e a prevenção da reincidência.”. Ainda no mesmo diapasão, o artigo 62 do mesmo
dispositivo estabelece: “execução da pena de prisão tem em vista, sem prejuízo da sua
natureza repressiva, a regeneração dos condenados e a sua readaptação social”.

Ao vedar penas de carácter perpétuo ou de duração ilimitada ou indefinida, limitando ao


montante de 24 anos de prisão maior, deixa claro que a pena deve possibilitar o retorno e a
reintegração do condenado ao convívio social, assegurando a passagem gradual de um regime
para outro visto ser inconstitucional a pena de morte.

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Portanto, a finalidade ressocializadora consubstancia-se na retratação do delinquente ao
devolvê-lo a sociedade, adquirindo assim novos valores no contacto ético efectivo com os
familiares e amigos, e acima de tudo evitar as futuras delinquências. Nesta ordem de ideia,
Mirabete (2004 apud Lima, 2006, p.92) lecciona que “o trabalho, sendo um direito social
público reeduca o delinquente, prepara-o para a sua reincorporação à sociedade, proporciona-
lhe meios para reabilitar-se diante de si mesmo e da sociedade, disciplina sua vontade,
favorece sua família”.

A prisão por si pode trazer consequências nefastas ao condenado se este não for tratado
Condignamente, dispõe a Constituição da República de Moçambique no seu art. 40, nº 1,
“Todo cidadão tem direito à vida e à integridade física e moral e não pode ser sujeito à tortura
ou tratamentos cruéis ou desumanos”. Pelo seu ius imperis, o Estado tem a prerrogativa de
criar condições mínimas de encarceramento do delinquente, numa análise simplista, não para
vedar-lhe das liberdades mas sim recompensar pelo crime cometido e preparar-lhe para uma
nova vida na sociedade.

No entanto, existe um abismo entre o que a lei dispõe e a realidade prática. As condições dos
Estabelecimentos Penitenciários violam as disposições supracitadas. Devido às más condições
dos estabelecimentos Penitenciários as pessoas entram e saem pior do que quando entraram.

2.9. Superlotação
Situação em que todos os lugares normais já estão ocupados e ainda existem pessoas não
acomodadas ou em acomodações de emergência; excesso de lotação, sobrelotação.

É inegável que o alto número de condenados às vezes maior que o dobro da capacidade do
estabelecimento penitenciário, o mesmo se traduz como o pior problema existente no sistema
penitenciário Moçambicano, em especial no Estabelecimento Penitenciário Provincial de
Maputo, eis que acarrecta ainda outros problemas a ele intimamente ligados tais como a falta
de higiene, a alimentação precária e a violência.

O problema de superlotação é em algum momento resultado da má aplicação da prisão


preventiva. Em Moçambique os detidos são mantidos nos estabelecimentos penitenciários
acima do período máximo de detenção, como consequência disso resulta a superlotação. A
superlotação continua sendo um problema grave em muitos estabelecimentos penitenciários.

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Existe, em Moçambique, 184 estabelecimentos penitenciários, para 20 000 Internos, cuja a
sua capacidade de internamento é de 8000, ou seja, em torno de 12 000 reclusos acima da
capacidade permitida. Ou seja, o número de estabelecimentos penitenciários existente no país
é claramente insuficiente para albergar o número de reclusos, que é muito maior.

2.10. Surgimento das Penas Alternativas à pena de prisão

2.10.1. Regras de Tóquio


As Regras de Tóquio, “consistem em encontrar alternativas eficazes à prisão dos delinquentes
e permitir que as autoridades ajustem as sanções penais às necessidades de cada delinquente,
de forma proporcional à infracção cometida”, consistem em um manual de instruções sobre a
operacionalização de medidas não privativas de liberdade em todas as fases processuais da
Justiça Penal, sendo normas norteadoras das políticas de aplicação de penas e medidas
alternativas à prisão”.

Elas são um "instrumento chave de orientação, prescrevendo princípios elementares de


orientação aos Estados”. Contudo, o regime das penas alternativas a prisão variam em função
dos contextos em que devem operar, não sendo recomendável, nem possível, adoptar um
corpo uniforme de medidas e procedimentos. Essas Regras de Tóquio sugerem que os Estados
devam ter em conta as condições políticas, económicas, sociais e culturais, bem como as
finalidades e os objectivos do respectivo sistema de justiça criminal.

2.10.2. Surgimento das penas alternativas


As penas alternativas à prisão, ao contrário das penas de prisão, não tem por objectivo privar a
liberdade do indivíduo e provocar um abalo deste de usufruir o que a sociedade oferece,
visando antes alterar o status perante a comunidade onde o delinquente vive e convive.

Segundo Bitencourt:

“Uma das Primeiras penas alternativas surgiu na Rússia, em 1926,


a “prestação de serviço à comunidade”, mais tarde (1960) o
diploma penal russo criou a pena de “trabalhos correccionais”, sem
privação de liberdade; em 1953, a Alemanha adoptou a mesma pena
para infractores menores; em 1963, a Bélgica criou o “arresto de
fim de semana”; em 1967, o Principado de Mônaco adoptou uma

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“forma fraccionada” da privativa de liberdade e, finalmente, em
1972, a Inglaterra instituiu a “prestação de serviços comunitários”,
que, até hoje, é a mais bem sucedida alternativa à pena de prisão. (
pg.XXIV )”.

No início dos anos 80, na fase final da transformação da ditadura para a democracia , surgiu a
discussão para adoptar novas medidas punitivas, dando-se início a Reforma Penal de 1984,
adoptando-se penas alternativas ao ilícito penal.

Já em 1955, a Organização das Nações Unidas, preocupada com os sérios problemas


verificados na execução das penas privativas de liberdade, aprovou regras mínimas para o
tratamento dos presos e, na década de 1970, passou a recomendar a adopção de formas de
pena não privativas de liberdade a serem cumpridas na comunidade. Em 14/12/90, a ONU
aprovou a Resolução 45/110 que estabeleceu regras mínimas das nações Unidas para
elaboração de medidas não privativas de liberdade, a partir de então conhecidas como “Regras
de Tóquio”.

As penas alternativas são destinadas aos criminosos não perigosos e às infracções de menor
gravidade, visando substituir as penas de prisão de curta duração. Elas podem substituir as
penas privativas de liberdade quando imposta na sentença condenatória. Tratando-se de
crimes culposos (aqueles em que o resultado delictivo é obtido em razão de imprudência,
negligência ou imperícia) a substituição é admitida qualquer que seja a pena aplicada.

Em Moçambique, as Penas e Medidas Alternativas a Prisão surgiram coma entrada da lei nº


35/2014 de 31 de Dezembro, que aprova o código penal de Moçambique (CPM), no mesmo
prevê a aplicação de penas alternativas à pena de prisão, no seu art. 89. A pena alternativa à
pena de prisão é: prestação de trabalho socialmente útil, a prestação pecuniária ou em espécie,
a perda de bens ou valores, a multa e a interdição temporária de direitos.

2.11. Pena e Medidas alternativa à pena de prisão


As penas e medidas alternativas à pena de prisão, são tidas como sanções modernas, que
segundo Dotti (1998), “buscam dar maior eficácia e significação ao Direito Penal”.

Segundo a lei n.º 24/2019 de 24 de Dezembro, que prova o código penal Moçambicano, no
que concerne as penas e medidas não privativas de liberdade ou Penas e Medidas Alternativas
á prisão, há uma diferença substancial entre o código penal antigo e actual. Essas penas são
22
sanções criminais diversas da prisão, como a multa, a prestação de serviços à comunidade e as
interdições temporais de direitos. As medidas alternativas são instrumentos que visam impedir
a aplicação de uma pena privativa de liberdade ao autor de uma infracção penal, por exemplo,
a suspensão condicional da pena.

2.11.1. Pena alternativa


Penas alternativas, são penas restritivas de direito, alternativas à privação de liberdade, que
possuem carácter educativo e que traz benefícios à sociedade. Trata-se de medidas que são
aplicadas à infractores que cometeram crimes de baixo potencial ofensivo, sem privá-los do
convívio social.

Com a entrada em vigor da lei n.º 24/2019 de 24 de Dezembro, que prova o código penal
Moçambicano actual, o mesmo trouxe uma ligeira diferença no que concerne as penas
alternativas à pena de prisão. Portanto, o artg. 71 diz que: são penas não privativas de
liberdade as seguintes: a) a multa; b) a prestação de trabalho socialmente útil; e c) a interdição
temporária de direitos.

Portanto, no novo código penal excluíram alguns pontos, trazendo uma ligeira diferença, mas
o importante ainda esta patente no código penal actual, que é aplicação de penas não
privativas de liberdade no seu todo.

2.11.2. Medidas alternativas


Medida não privativa de liberdade dever ser entendida como “qualquer providência
determinada por decisão proferida por autoridade competente, em qualquer fase da
administração da Justiça Penal, pela qual uma pessoa suspeita ou acusada de um delito, ou
condenada por um crime, submete-se a certas condições ou obrigações que não incluem a
prisão.

Portanto, na história da humanidade sempre esteve presente os sistemas de punições, sendo


que, ao longo desta foi se transformando, levou-se muito tempo até chegar ao modelo atual
que segue os princípios da privação de liberdade como modelo de punição coercitiva e
regenerativa.

Segundo o n° 1 e 2 do artigo 67 da lei n.º 24/2019 de 24 de Dezembro, fala da Prevalência das


penas e medidas não privativas de liberdade, diz que: 1. Na função individualizadora de

23
fixação da pena, privilegia-se as medidas substitutivas à pena de prisão, com realce no seu
carácter de ressocialização, colocando-se, sempre que possível, nos termos da lei, o agente em
liberdade monitorado pelo Estado e pela comunidade.

2.12. Aplicabilidade das Medidas e Penas alternativas ao condenado


Aplicação das medidas e penas não privativas de liberdade, devem ser prescritas na lei. As
penas restritivas de direito a serem aplicadas devem estar expressamente cominadas, no nº 3
do art. 2 das (CRM), isto é, as espécies das penas alternativas à prisão e da punibilidade
devem ser legais. Este princípio significa que, "na sua aplicação concreta a autoridade
competente deve observar os critérios estabelecidos por lei para a determinação da pena a
aplicar ao agente do crime". As penas não devem ser aplicadas retroactivamente, excepto se
beneficiar ao réu, as leis incriminadoras não devem ser interpretadas extensivamente, nem
podem ser preenchidas as suas lacunas por analogia.

Com aprovação da lei n.º 35/2014 de 31 de Dezembro, permitiu o uso das penas e medidas
alternativas à prisão, o mesmo traz em seu conteúdo referência as penas alternativas de
prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas, (prestação social alternativa).
Portanto, ainda que o penado não pode cumprir sua pena mediante actuação de terceiros. A
prestação de serviço deve ser imputada de acordo com o tipo penal do crime, em
conformidade com os requisitos de prestação previstos no código penal. Pode-se dizer que
penas alternativas à pena de prisão são normas impostas ao infractor que retiram ou limitam
seus direitos. Assim, ao penado podem ser impostas as penas alternativas a prisão.

Com a entrada em vigor da lei n.º 24/2019 de 24 de Dezembro, que prova o código penal
Moçambicano actual, o mesmo excluiu a prestação pecuniária ou em espécie e a perda de
bens ou valores, trazendo assim uma ligeira diferença no que concerne as penas alternativas à
pena de prisão. Portanto, o artigo 71 diz que: são penas não privativas de liberdade as
seguintes: a) a multa; b) a prestação de trabalho socialmente útil; e c) a interdição temporária
de direitos.

Entretanto, pode se afirmar que não seria proporcional a aplicação da punição merecida
referente à pena privativa de liberdade a uma pessoa que cometeu um acto ilícito não
possuindo intenção, ou nem mesmo ameaçando a vítima de forma grave, sendo colocada a
força no convívio com delinquentes e infractores possuidores de frieza para matar, roubar,
dentre outros crimes com maior potencial ofensivo.
24
Portanto, pode-se afirmar que, a reinserção consiste em mera humanização da pena imposta,
sendo que, por meio dela o infractor terá a oportunidade de mostrar seu valor, bem como sua
capacidade de ressocialização através do cumprimento de sanção ao fato ilícito que lhe foi
imputado.

2.13. Pressupostos de aplicação das Penas Alternativas à Pena de Prisão


De acordo com a lei n.º 24/2019 de 24 de Dezembro, que prova o código penal, no artg. 68,
no n.º 1 e 2.
1. Diz que, as penas não privativas de liberdade aplicam-se nos casos em que o agente,
cumulativamente:
a) for réu primário;
b) proceder à restituição dos bens de que se tenha apropriado, se for o caso; ou tiver reparado
totalmente os danos e prejuízos causados à vítima ou à comunidade com a prática do crime
ou; no caso de reparação parcial, assumir a continuação da reparação ainda em falta no prazo
e condições judicialmente fixados;
c) se sujeitar às medidas, aos deveres e às regras de conduta previstas, sobre as condições da
suspensão provisória do processo, e que o tribunal vier a fixar na decisão.

2. Sempre que se concluir que, por esse meio, se realizam as finalidades da condenação, as
penas não privativas de liberdade são aplicáveis, verificados os seus pressupostos gerais e
especiais.

2.14. Vantagens da aplicação das Medidas e Penas Alternativas à Pena de Prisão.


Com a aplicação das medidas e penas alternativas, o Estado terá muitas vantagens, além da
realização do seu principal objectivo, que é ressocializar. Dentre estas vantagem pode-se
ressaltar a ausência de custo do sistema repressivo, ou seja, o infractor que cumpre a pena de
serviço à comunidade, ao invés de acarretar um alto custo ao Estado, estará beneficiando a
sociedade, além de adquirir novas experiências no convívio social, se sentindo mais útil e
digno.

O infractor de menor potencial ofensivo terá a oportunidade de se reeducar e, de certo modo,


pagar pelo fato ilícito praticado de outras formas, sem ser no cumprimento da pena privativa
de liberdade. Desse modo será ele privilegiado, pois não será retirado de seu convívio social,
nem mesmo será afastado da rotineira convivência familiar. A imposição das penas
25
alternativas possibilitará ao penado a continuação da convivência em família, com a
sociedade, dando-lhe sustento e possibilitando a reparação do dano causado de um modo
menos agressivo. Trata-se de um sistema de inovação na esfera criminal, tendo sido iniciado.

As Penas Alternativas, diminuem o contacto de agentes perigosos com praticantes de delitos


leves, o que para sociedade é importante, pois o não contacto faz com que o agente menos
perigoso tenha maiores chances de não cometer um delito novamente, e se recuperar do
pequeno erro cometido.

Segundo Souza:

“O intuito das penas alternativas, como agente de ressocialização, é


extrair, das pessoas, sua capacidade produtiva, o que possuem de
bom, aumentando com isso, sua auto-estima, e despertando
habilidades que antes estavam adormecidas”.

Por outro lado, um dos pontos positivos seria a anulação do encarceramento, minimizando,
com isso, o problema da superlotação dos estabelecimentos penitenciários e permitindo ao
juiz adequar o tipo penal conforme a gravidade dos fatos e as condições pessoais do
condenado, visando sempre a redução da reincidência.

26
3.0. METODOLOGIA
A metodologia é o conjunto de regras que se empregam no processo da pesquisa e formulação
científica. Também pode se dizer que é o campo em que se estuda os melhores métodos
praticados em determinada área para a produção do conhecimento. O trabalho quanto a
metodologia ou a natureza será do tipo pesquisa aplicada, e quanto a abordagem do problema
foi qualitativa, exploratório e em termos de caracterização ou procedimentos técnicos foi
desenvolvido através do estudo bibliográfico e documental.

Segundo Goldenberg (1997, p. 34) método qualitativo em pesquisa “ busca explicar o porque
das coisas, exprimindo o que convêm ser feito, mais não quantificam os valores e as trocas
simbólicas nem submetem a prova de factos, pois os dados analisados não são métricos”.

3.1. Métodos de Pesquisa


Para a realização do presente trabalho recorrer-se-á ao método de pesquisa bibliográfica,
permitindo aceder aos conteúdos que se pretendem desenvolver e que têm uma correlação
com o tema, que é objecto de estudo neste trabalho de fim de curso e também ao método
hipotético-dedutivo.

3.1.1. Método hipotético-dedutivo


Segundo Marconi & Lakatos (2015,p.110) método hipotético-dedutivo, “é o método que
inicia pela percepção de uma lacuna nos conhecimentos acerca da qual formula hipóteses e,
pelo processo de inferência dedutiva, testa a predição da ocorrência de fenómenos abrangidos
pela hipótese”.

3.2. Pesquisa Bibliográfica


Com o método de pesquisa bibliográfica proceder-se-á à consulta de manuais, publicações
periódicas e, sobretudo, à interpretação da lei, e que segundo Severino (2007, p.122), é aquela
que se realiza a partir do registo disponível, decorrente de pesquisas anteriores, em
documentos impressos, como livros, artigos, teses, etc.

3.2.1.Técnicas de Pesquisa
Para Severino (2007,p.124) “técnicas são os procedimentos operacionais que servem de
mediação prática para a realização das pesquisas”. Como tais, podem ser utilizadas em
pesquisas conduzidas mediante diferentes metodologias e fundadas em diferentes

27
epistemologias. Mas, obviamente, precisam ser compatíveis com os métodos adoptados e com
os paradigmas epistemológicos adoptados.

3.2.2. Pesquisa Bibliográfica


A pesquisa bibliográfica é aquela que se desenvolve tentando explicar um problema,
utilizando o conhecimento disponível a partir das teorias publicadas em livros ou obras.
Normalmente, neste tipo de pesquisa, são utilizados dados de natureza teórica, identificando-
as, analisando-as e avaliando a contribuição dessas para a compreensão ou explicação de um
determinado problema.

3.3. Colecta de dado


Colectas de dados é o processo de reconhecimento de dados para uso secundária por meio de
técnicas específicas e esses dados são utilizados para tarefas de pesquisas, planeamento,
estudo desenvolvimento e experimentações. Assim sendo, os instrumentos e técnica da
pesquisa para colecta de dados, no que concerne o serviço de penas e medidas alternativas a
prisão e usou se colectas de dados secundário.

3.3.1. Tipo de colecta de dados


Dados primários, são dados colectados pelo próprio investigador para um propósito
especifico, dados que ainda não sofreram estudos e analise. Para colecta-los pode-se utilizar
questionários fechado, questionário aberto, entrevista estruturada ou fechada, entrevista semi-
estruturada, entrevista aberta ou livre, entrevista de grupo, discussão de grupo, observação
dirigida e observação livre.

Dados secundários: dados colectados por uma outra pessoa para algum outro propósito, mais
sendo utilizado pelo investigador para outra finalidade.

3.4. Vantagens e desvantagens de usar dados primários

3.4.1. Vantagens
 Os investigadores recolhem dados específicos para o problema em estudo;

 Não há dúvida sobre a qualidade dos dados colectados para o investigador;

 Se necessário pode ser possível obter dados adicionais durante o período de estudo.

28
3.4.2. Desvantagens
 O investigador tem que lidar com todos os problemas de colecta de dados;

 Decidir porque, como, quando colectar;

 Obter os dados colectados pessoalmente ou através de outros;

 Assegurar que os dados colectados sejam de alto padrão;

 Todos os dados desejados são obtidos com precisão e no formato exigido;

 O custo da obtenção de dados é muitas vezes a principal despesa em estudo.

3.5. Vantagens e desvantagens de usar dados secundários

3.5.1. Vantagens
 Os dados já existem sem problemas de colectas de dados;

 E menos dispendiosos;

 O investigador não e pessoalmente responsável pela qualidade de dados.

3.5.2. Desvantagens
 O investigador não pode decidir o que e colectado (se houver dados específicos sobre
algo);

 Só se pode esperar que os dados sejam de boa qualidade;

 Não e possível obter dados adicionais, ou mesmo esclarecimento sobre algo na maior
das vezes.

3.6. Estudo documental


É toda forma de registo e sistematização de dados, informações, colocando-os em condições
de análise por parte do pesquisador.

Portanto, na técnica documental foi recolhida informações como discrição do assunto em


estudo e outra informação mas diversificada, como relatório dos Órgãos de Justiça e o
Governo que trabalham na área relacionada com o assunto.

29
3.7. Consulta a internet
Esta que nos fornece informações indispensáveis para a nossa pesquisa. É um conjunto de
redes de computadores interligados no mundo inteiro, permitindo o acesso dos interessados a
milhares de informações que estão armazenados em seus Web sites postadas por vários
usuários.

3.8. Legislação
Como forma de sustentar a nossa pesquisa iremos analisar alguns dispositivos legais
Moçambicanos, bem como em algumas legislações estrangeiras visto que faremos uma breve
comparação do tema em causa.

30
4.0. ANÁLISE E DISCUSSÃO DE RESULTADOS
No presente capítulo são apresentados os resultados encontrados na pesquisa, onde iremos
trazer os dados obtidos com base nas técnicas e instrumentos de recolha de dados.

4.1. Problemas correntes do Estabelecimento Penitenciário Provincial de Maputo.


Os problemas correntes do Estabelecimento Penitenciário Provincial de Maputo são diversos,
dentre eles destacam-se: a superlotação, falta de infra-estrutura adequada para abrigar os
reclusos, prazos de prisão preventiva largamente expirados, a residência dos reclusos, a má
nutrição, a má higiene e cuidados médicos e a partilha de celas entre reclusos condenados e
reclusos preventivos.

Portanto, de entre vários problemas acima mencionados irei abordar a Superlotação, sendo
esse o ponto central da nossa pesquisa.

A superlotação continua sendo um problema grave em muitos estabelecimentos


penitenciários, em particular o Estabelecimento Penitenciário Provincial de Maputo (Cadeia
Central). A Penitenciária Provincial de Maputo foi concebida para albergar 800 presos
(reclusos), e abriga actualmente 2920 presos, isto é acima da capacidade normal.

A Procuradoria-Geral da República (PGR), o Ministério da Justiça (MJ) e o Serviço Nacional


Penitenciário (SERNAP) reconheceram haver problemas graves de superlotação no
Estabelecimento Penitenciário Provincial de Maputo.

O problema de superlotação é, em algum momento resultado da má aplicação da prisão


preventiva. Em Moçambique, em particular no Estabelecimento Penitenciário Provincial de
Maputo, os detidos são mantidos além do período máximo de detenção, como consequência
disso resulta a superlotação.

No ano de 2018, no Estabelecimento Penitenciário Provincial de Maputo, tinha no seu


efectivo reclusorio 2559, dos quais 1685 condenados e 874 em prisão preventiva.

Dos 1685 condenados, 40 reclusos tinham requisitos para se beneficiar das penas não
privativas de liberdade, mas devido má verificação dos pressupostos da aplicação das penas
não privativas de liberdade pelo tribunal, os mesmo foram condenados a pena de prisão.

31
Gráfico 1: Efectivo dos internos de 2018

Fonte: Autor (2021)

No ano de 2019, a população reclusoria do Estabelecimento Penitenciário Provincial de


Maputo, aumentou o seu efectivo para 2942, dos quais 1977 condenados e 965 em prisão
preventiva, nessa ordem registaram um aumento de 382 reclusos em relação ao ano anterior.

Dos 1685 condenados, 55 reclusos tinham requisitos para se beneficiar das penas não
privativas de liberdade, mas devido má verificação dos pressupostos da aplicação das penas
não privativas de liberdade pelo tribunal, os mesmo foram condenados a pena de prisão.

32
Gráfico 2: Efectivo dos internos de 2019

Fonte: Autor (2021)

No ano de 2020, a população reclusoria do Estabelecimento Penitenciário Provincial de


Maputo, registou uma ligeira redução na ordem de 174 reclusos, sendo: 2768, dos quais 2062
condenados e 706 em prisão preventiva

Dos 1685 condenados, 68 reclusos tinham requisitos para se beneficiar das penas não
privativas de liberdade, mas devido má verificação dos pressupostos da aplicação das penas
não privativas de liberdade pelo tribunal, os mesmos foram condenados a pena de prisão.

33
Gráfico 3: Efectivo dos internos de 2020

68
2%

706
26% Condenados

Preventivos

Reclusos que tinham


2062 requisitos
74%

Fonte: 2021

Após a apresentação dos dados acima mencionados, iremos apresentar um gráfico conjunto
dos dados no período 2018 a 2020. No mesmo, em 2019 o número de internos subiu
significativamente. E por fim o número total do reclusos que tinham requisitos para se
beneficiar das penas não privativas de liberdade

Gráfico 4: Efectivo dos internos de 2018, 2019 e 2020

3000
2500
2000
1500 2942 2768
2559
1000
500
163
0
2018 2019 2020 Reclusos que
tinham que se
benificiar de
2018 a 2020

Fonte: Autor (2021)

34
4.2. Penas Alternativas á Pena de Prisão no Estabelecimento Penitenciário Provincial de
Maputo
O Código penal Moçambicano, lei nº 24/2019, de 24 de Dezembro, prevê a aplicação de
penas não privativas de liberdade, no seu artg. 89, o mesmo diz que: as penas não privativas
de liberdade são: a multa; a prestação de trabalho socialmente útil; e a interdição temporária
de direitos.

A finalidade suprema da pena no seu todo (pena de prisão e pena não privativa de liberdade),
consiste em garantir a protecção dos bens jurídicos, a reparação dos danos causados com a
infracção praticada, a reinserção do agente na sociedade e prevenir a reincidência do
condenado.

No ano de 2018, foram condenados a pena alternativa a pena de prisão, 15 réus, e os mesmos
foram entregues no Estabelecimento Penitenciário Provincial de Maputo (Cadeia Central)
para o cumprimento da pena.

No total de 15 condenados, 12 pena cumprida e 03 incumprimento.

Gráfico 5: Condenados a pena não privativa de liberdade em 2018

3
20%

Pena Cumprida
Incumprimento

12
80%

Fonte: Autor (2021)

35
No ano de 2019, foram condenados a pena alternativa a pena de prisão, 38 réus, e os mesmos
foram entregues na Penitenciária Provincial de Maputo (Cadeia Central) para o cumprimento
da pena.

No total de 38 condenados, 14 em cumprimento, 15 pena cumprida e 09 incumprimento.

Gráfico 6: Condenados a pena não privativa de liberdade 2019

Fonte: Autor (2021)

No ano de 2020, foram condenados a pena alternativa a pena de prisão, 42 réus, e os mesmos
foram entregues na Penitenciária Provincial de Maputo (Cadeia Central) para o cumprimento
da pena.

No total de 42 condenados, 07 encaminhamento, 06 em cumprimento, 15 pena cumprida, 13


incumprimento e 01 pena revogada.

36
Gráfico 7: Condenados a pena não privativa de liberdade em 2020

7 6
22% 19% Em cumprimento
Pena cumprida
1
3% Incumprimento
3 Pena revogada
Encaminhamento
15
47%

Fonte: Autor (2021)

Apos a apresentação dos dados acima mencionados, iremos apresentar um gráfico conjunto
dos dados no período 2018 a 2020. No mesmo, em 2020 o número dos réus condenados a
pena não privativa de liberdade subiu significativamente.

Gráfico 8: Condenados a pena não privativa de liberdade em 2018, 2019 e 2020

50

40

30
38 42
20
20
10

0
2018 2019 2020

Fonte: Autor (2021)

Com os dados acima, concluímos que a taxa de incumprimento, e pena revogada é muito
reduzida, com isso dando mais valor a aplicação efectiva das penas não privativas de
liberdade.

37
4.3. Vantagens de aplicação das penas alternativas á pena de prisão
As Penas Alternativas, diminuem o contacto de agentes perigosos com praticantes de delitos
leves, o que para sociedade é importante, pois o não contacto faz com que o agente menos
perigoso tenha maiores chances de não cometer um delito novamente, e se recuperar do erro
cometido.

Enquanto que, as penas privativas de liberdade detém o culpado e fazem com que ele se afaste
do convívio social, aumentando a possibilidade do indivíduo cometer o mesmo crime ou
outros de potencial ainda maior, marginalizando o indivíduo socialmente e não lhe dando
oportunidade de reconhecer o seu erro e de o redimir de uma forma mais coerente com o tipo
de acto ilícito que cometeu, nomeadamente nos casos de delitos de natureza menor, ou menos
violentos; as penas alternativas geram um gasto menor para a sociedade, e limitam se em
oferecem mais uma oportunidade para alterar procedimentos, reduzem as chances de o
infractor voltar a cometer crimes, não o retirando do convívio social e com a sua família e não
acarretam o abandono do emprego. Além do que, quando o infractor é beneficiário desta
oportunidade, a sociedade pode ganhar, pois a sanção permite que o infractor disponibilize a
sua mão-de-obra em açcões sociais, em entidades públicas.

4.3. Conclusão dos dados recolhidos


Com os dados acima mencionados, concluímos que o numero dos infractores que são
condenados a penas alternativas, é muito reduzido, no que concerne ao total geral dos réus
condenados a pena de prisão, mesmo tendo requisitos para o efeito. No que concerne aos
condenados a pena alternativa, a taxa de incumprimento, e a taxa da pena revogada é muito
reduzida, com isso dando mais valor a aplicação efectivas das penas alternativas a pena de
prisão.

As penas alternativas à prisão, ao contrário das penas de prisão, não têm por objectivo privar a
liberdade do indivíduo e, nessa ordem, permite que o infractor permaneça em liberdade, com
possibilidade de continuar a trabalhar, a estudar e a desenvolver a sua vida familiar.

Com a aplicação da pena alternativa, o infractor tem chance de mudar para o bem e se
regenerar, o mesmo agi educadamente e cumpri a pena na totalidade, com a esperança do
infractor não volta a cometer novas infracções. Desta feita, alcança-se as finalidades das
penas, que é a prevenção geral de futuros crimes, a correcção do infractor, a reincidência, e
salvaguardar o bem jurídico.
38
5.0. CONCLUSÃO
Após várias pesquisas sobre o tema em apresso, concluímos que, Pena é sanção imposta pelo
Estado, em execução de uma sentença ao culpado pela pratica de infracção penal, o mesmo
consiste na restrição ou na privação de um bem jurídico, com a finalidade de atribuir o mal
causado à vitima e à sociedade, bem como a readaptação social e prevenir futuras
transgressões pela intimidação dirigida a colectividade. Das diferentes tipologias das penas
privativas de liberdade, destacam se dois: reclusão e detenção. Por outro lado, as penas de
reclusão e detenção são figuras utilizadas em regimes fechados, semi-abertos e abertos.

A superlotação continua sendo um problema grave em muitos estabelecimentos


penitenciários, em particular o Estabelecimento Penitenciário Provincial de Maputo (Cadeia
Central). Com a pesquisa feita, constatamos que, a Penitenciária Provincial de Maputo foi
concebida para albergar 800 internos (reclusos), e abriga actualmente 2920 internos, isto é
acima da capacidade normal. O problema de superlotação é, em algum momento resultado da
má aplicação da prisão preventiva. Em Moçambique, em particular no Estabelecimento
Penitenciário Provincial de Maputo, os detidos são mantidos além do período máximo de
detenção, como consequência disso resulta a superlotação.

No que concerne as penas alternativas a pena de prisão, o embasamento das mesmas, são as
Regras de Tóquio, que dizem que as “alternativas penais constituem sanções e medidas que
não envolvem a perda da liberdade (Regras de Tóquio, as Regras Mínimas das Nações Unidas
sobre as Medidas não Privativas de Liberdade)”.

A lei nº 24/2019, de 24 de Dezembro, que aprova o código penal de Moçambique (CPM),


prevê a aplicação de penas não privativas de liberdade, no seu art. 89. As penas não privativas
de liberdade são: a multa; a prestação de trabalho socialmente útil; e a interdição temporária
de direitos.

As Penas Alternativas, estão voltadas aos crimes de menor potencial ofensivo, justamente, aos
autores de delitos de menor gravidade. E é justamente por esse fato, que estão voltadas às
medidas que não venham a ferir a liberdade da pessoa. Como todas as penas, as Penas
Alternativas apresentam vantagens e desvantagens, que são percebidas pelos legisladores
durante a efetiva aplicação das mesmas. De qualquer forma, um benefício fundamental
trazido pelas penas não privativas de liberdade, é o fato de que evitam o convívio reclusorio
de criminosos de menor potencial ofensivo com delinquentes perigosos.
39
As penas alternativas à prisão, ao contrário das penas de prisão, não têm por objectivo privar a
liberdade do indivíduo e, nessa ordem, permite que o infractor permaneça em liberdade, com
possibilidade de continuar a trabalhar, a estudar e a desenvolver a sua vida familiar.

Com a aplicação da pena alternativa, o infractor tem chance de mudar para o bem e se
regenerar-se, o mesmo agi educadamente e cumpri a pena na totalidade, com a esperança do
infractor não volta a cometer novos crimes, desta feita, alcança-se as finalidades das penas.

No que concerne aos dados recolhidos, concluímos que o número dos infractores que são
condenados a penas alternativas, é muito reduzido, no que concerne ao total geral dos réus
condenados a pena de prisão, mesmo tendo requisitos para o efeito. No que concerne aos
condenados a pena alternativa, a taxa de incumprimento, e a taxa da pena revogada é muito
reduzida, com isso dando mais valor a aplicação efectivas das penas alternativas a pena de
prisão.

Portanto, a finalidade da pena de prisão, consiste em recuperar o condenado, porém, devido às


más condições dos estabelecimentos prisionais, este fim não tem sido alcançado. A pena de
prisão não tem alcançado a sua função última, as pessoas entram na prisão e saem pior do que
quando entraram. A solução para este dilema é a pena alternativa à pena de prisão, para
crimes pequenos e médios, enquanto nos crimes maiores, sem sombra de dúvida, devem ser
aplicados a pena de prisão.

Por fim, a finalidade suprema da pena no seu todo (pena de prisão e pena não privativa de
liberdade), consiste em garantir a proteção dos bens jurídicos, a correção do infrator, a
reparação dos danos causados com a infração praticada, a reinserção do agente na sociedade,
prevenção geral de futuros crimes e prevenir a reincidência do condenado.

5.1. Recomendações
O problema de superlotação preocupa os Órgãos de Administração Justiça Moçambicana, em
algum momento esse factor é resultado da má aplicação da prisão preventiva e residência dos
internos. Em Moçambique os detidos são mantidos nos estabelecimentos penitenciários além
do período máximo de detenção, como consequência disso resulta a superlotação. Nesse
contexto, recomenda-se:

 Formar mais juízes e procuradores para suprir a demanda da população penitenciaria


na fase de prisão preventiva.
40
 Adopção de medidas alternativas à prisão, por forma a permitir uma melhor reinserção
social da população reclusória na comunidade e no seio familiar, almejando assim a
paz social;

 Criação de estruturas para o cumprimento das penas não privativas de liberdade, e


tribunais de execução das penas, para o controlo e fiscalização dos condenados a
penas de prestação de trabalho a favor da comunidade.

 Criação de tribunais de execução das penas alternativas, para fazer o controlo e


supervisão dos condenados no cumprimento das suas penas, criando banco de dados,
que ilustrará o reu de reincidência dos delinquentes a cumprirem penas;

 Melhoria das instalações penitenciarias para suportar uma Taxa de Reclusão em


crescimento, pelo que as Penitenciarias são no geral mais antigas e em más condições
ou degradadas, estão também superlotadas;

 Ao SERNAP deve criar políticas claras com vista a consensualizar a comunidade e a


sociedade no geral acerca da aplicação das penas alternativas a pena de prisão.

 O Ministério da Justiça Assuntos Constitucionais e Religiosos, deve capacitar aos


juízes e procuradores e outros órgãos de justiça no que concerne a aplicação das penas
não privativas de liberdade.

 Capacitar as Instituições Publicas e Privadas sobre a matéria de tratamentos dos


internos no cumprimento do TSU.

 Ao SERNAP, criar mais centros abertos, para albergar os internos que estão na fase de
inteira confiança para reduzirem o numero dos internos presos.

 Ao SERNAP, criar condições financeiras e meios para os agentes fiscalizarem e


controlarem os internos no cumprimento de TSU.

 Aos Órgãos de Administração de Justiça, capacitarem os gentes de conhecimentos


investigactivos para a resolução dos problemas dos cidadãos, para que possam evitar
prender para depois investigar.

41
6.0. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 ANDRÉ, Cristiano José em, Alguns desafios para a aplicação de penas alternativas à
prisão em Moçambique, CFJJ, 2010, P. 1.

 BELEZA, Teresa, Direito Penal, 1985, p. 11

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