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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNINTER

DERLI PINTO DE SOUZA JUNIOR, JORGE PAULO FILGUEIRA, OSNI CARLOS


COSTA

SISTEMA CARCERÁRIO, EXECUÇÃO PENAL E MEDIDAS

CURITIBA
2023
DERLI PINTO DE SOUZA JUNIOR, JORGE PAULO FILGUEIRA, OSNI CARLOS
COSTA

SISTEMA CARCERÁRIO, EXECUÇÃO PENAL E MEDIDAS

Artigo apresentado na modalidade de Trabalho


Interdisciplinar, como requisito parcial de nota
para conclusão do 6° Período do Curso de Direito
do Centro Universitário Uninter.

Orientador (a): Prof. Bruna Isabelle Simioni Silva

Curitiba
2023
2

SISTEMA CARCERÁRIO, EXECUÇÃO PENAL E MEDIDAS

Derli Pinto de Souza Junior1, Jorge Paulo Filgueira2, Osni Carlos Costa3

RESUMO.

O sistema penitenciário e a execução das penas representam questões cruciais no


âmbito do sistema de justiça criminal, com implicações de grande alcance para a
sociedade e os indivíduos envolvidos. Este artigo aborda a intrincada relação entre o
sistema carcerário, a execução das penas e as medidas de reintegração social no
contexto da justiça criminal. É evidente que o sistema penitenciário frequentemente
enfrenta desafios como superlotação e condições precárias que violam os princípios
dos direitos humanos. Por outro lado, a execução das penas deveria priorizar a
reinserção dos infratores na sociedade. Além do aprisionamento, deveriam ser
implementadas outras alternativas penais para mitigar a superlotação do sistema
prisional.

Palavras-chave: sistema penitenciário, execução das penas, reintegração social,


superlotação, direitos humanos, alternativas penais.

1. INTRODUÇÃO.

O sistema carcerário e a execução penal representam elementos fundamentais


na estrutura da justiça criminal no Brasil, com repercussões profundas e diversificadas
em toda a sociedade. Temas como a população encarcerada, superlotação das
prisões e a proteção dos direitos básicos dos detentos desencadeiam discussões em
diversos campos de esfera nacional. A partir desse contexto, é fundamental analisar
e compreender os desafios inerentes a esse sistema, que na grande parte das vezes,
refletem as várias dinâmicas sociais e econômicas do país.
Em 2009, pela Lei n° 12.106/09 cria-se um departamento denominado
“Departamento de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário e do Sistema

1 RU – 1783992, acadêmico de Direito.


2 RU – 3515650, acadêmico de Direito.
3 RU – 6947, acadêmico de Direito.
3

de Execução de Medidas Socioeducativas”, cujas atribuições estão estabelecidas dos


artigos seguintes:

Art. 1o Fica criado, no âmbito do Conselho Nacional de Justiça, o


Departamento de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário e do
Sistema de Execução de Medidas Socioeducativas – DMF.
§ 1o Constituem objetivos do DMF, dentre outros correlatos que poderão ser
estabelecidos administrativamente:
I – monitorar e fiscalizar o cumprimento das recomendações e resoluções do
Conselho Nacional de Justiça em relação à prisão provisória e definitiva,
medida de segurança e de internação de adolescentes;
II – planejar, organizar e coordenar, no âmbito de cada tribunal, mutirões para
reavaliação da prisão provisória e definitiva, da medida de segurança e da
internação de adolescentes e para o aperfeiçoamento de rotinas cartorárias;
III – acompanhar e propor soluções em face de irregularidades verificadas no
sistema carcerário e no sistema de execução de medidas socioeducativas;
IV – fomentar a implementação de medidas protetivas e de projetos de
capacitação profissional e reinserção social do interno e do egresso do
sistema carcerário;
V – propor ao Conselho Nacional de Justiça, em relação ao sistema
carcerário e ao sistema de execução de medidas socioeducativas, a
uniformização de procedimentos, bem como de estudos para
aperfeiçoamento da legislação sobre a matéria;
VI – acompanhar e monitorar projetos relativos à abertura de novas vagas e
ao cumprimento da legislação pertinente em relação ao sistema carcerário e
ao sistema de execução de medidas socioeducativas;
VII – acompanhar a implantação e o funcionamento de sistema de gestão
eletrônica da execução penal e de mecanismo de acompanhamento
eletrônico das prisões provisórias;
VIII – coordenar a instalação de unidades de assistência jurídica voluntária
no âmbito do sistema carcerário e do sistema de execução de medidas
socioeducativas.
§ 2o Para a consecução dos objetivos institucionais do DMF, o Conselho
Nacional de Justiça poderá:
I – estabelecer vínculos de cooperação e intercâmbio com órgãos e entidades
públicas ou privadas, nacionais, estrangeiras ou supranacionais, no campo
de sua atuação;
II – celebrar contratos com pessoas físicas e jurídicas especializadas. 4

Um dos primeiros aspectos a serem abordados neste artigo diz respeito ao


perfil da população carcerária brasileira. A identificação das características
socioeconômicas, demográficas e criminais dos indivíduos que integram esse grupo
é um passo crucial para uma avaliação abrangente do sistema prisional. Também de
extrema relevância é examinar as causas da superlotação dos presídios no Brasil, um
problema crônico, que não apenas compromete a eficácia do sistema, mas também
traz à tona questões éticas e legais concernentes à violação dos direitos fundamentais
dos detentos.

4BRASIL, L12106/09. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-


2010/2009/lei/l12106.htm
4

Não pode ficar de fora, a problemática que permeia o sistema carcerário


brasileiro, dentre elas, condições subumanas de sobrevivência, falta de acesso a
serviços essenciais, incidentes de violência intramuros e a carência de estratégias
eficazes de ressocialização. Esses fatores juntos constituem alguns dos obstáculos
que impactam tanto os presos quanto a sociedade em geral.
Este artigo tem por objetivo a exploração e análise dos aspectos centrais
relacionados ao sistema carcerário, execução penal e medidas no contexto brasileiro.
A intenção é identificar, com um olhar analítico, os fatores responsáveis pelos
temas aqui abordados, bom como apontar possíveis estratégias de aprimoramento do
sistema, garantindo assim o respeito aos direitos humanos dos detentos, com o
objetivo de promover a reintegração social dos indivíduos que passam pelo sistema
prisional brasileiro.
A respeito do tema proposto, o Conselho Nacional do Ministério Público
(CNMP), publica em sua “Revista do Sistema Prisional”, uma introdução bastante
interessante, e conveniente à necessidade que nosso sistema prisional carece,
conforme:

A questão prisional no Brasil tem sido objeto de atenção do Ministério Público


há muito tempo. Em setembro de 2020, contamos cinco anos da decisão do
Supremo Tribunal Federal que reconheceu um estado inconstitucional de
coisas no sistema prisional brasileiro, nos autos da ADPF 347 MC/DF. A
decisão formaliza algo que o Ministério Público vem alertando há longa data:
é preciso fazer ajustes estruturais no sistema de justiça criminal brasileiro,
que convive com um juízo verdadeiramente contraditório. Tem-se uma
percepção de que a resposta à criminalidade carece de efetividade, ao passo
que os números do sistema prisional dão conta de que nossas estruturas
prisionais não suportam a quantidade de pessoas encarceradas. A
contradição não é aparente: de um lado, o sistema de justiça criminal não
cumpre suas promessas em face de uma criminalidade cada vez mais
organizada e estruturada; de outro lado, o quadro de desigualdade social é
igualmente refletido pela maneira desigual com que opera o sistema penal
seletivamente ao fazer incidir sua resposta.5

5SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO A VISÃO DO MINISTERIO PÚBLICO SOBRE O, [s.d.].


Disponível em:
https://www.cnmp.mp.br/portal//images/Publicacoes/documentos/2021/Revista_do_Sistema_Prisional
_-_Edi%C3%A7%C3%A3o_2020.pdf
5

2. PERFIL DA POPULAÇÃO CARCERÁRIA BRASILEIRA

Assunto de extrema relevância e preocupação nacional é a população


carcerária brasileira. Um país com 214 milhões de habitantes, conta com uma
população de quase 900 mil pessoas encarceradas, segundo dados da Secretaria
Nacional de Políticas Penais – SENAPPEN, de Julho a Dezembro de 2022.6
Uma quantidade alarmante, levando em consideração o percentual de
crescimento dos últimos anos, com relação ao delito que faz com que a pessoa fique
encarcerada, muitas vezes, com detentos de maior periculosidade, e sem julgamento.
Segundo dados do Departamento Penitenciário Nacional (DEPEM), em 2019 a
população carcerária girava em torno de 770 mil presos, comparado aos quase 900
mil do final de 2022, a tacha de pessoas presas no Brasil está em torno de quase 370
para cada 100 mil habitantes. Outro dado de suma importância, é que a maior parte
das pessoas presas, estão ali por delitos relacionados à lei de drogas, a menor parte,
em torno de 11% a 12% desses detentos, são aqueles que cometem crimes contra a
pessoa, tais como homicídio, aborto, ameaça, violência doméstica e auxílio a suicídio,
entre tantos outros7.
Dados fornecidos também pela 17ª edição do anuário de Brasileira de
Segurança Pública são:

Em 2022, a população carcerária do Brasil ultrapassou 830 mil pessoas, de


acordo com dados da 17ª edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública.
Segundo o levantamento, são 832.295 pessoas no sistema prisional.
Do total de presos, 621.608 foram condenados, enquanto 210.687 estão presos
provisoriamente, aguardando julgamento.
Em 2021, a quantidade de pessoas que estavam privadas de liberdade chegava
a 820.689. Em 2022, o número subiu para 832.295 -- aumento de 1,4%.
No total, são 832.295 pessoas encarceradas, mas o total de vagas no sistema
prisional é de 596.162, sendo 43,1% da população carcerária é formada por
jovens de até 29 anos, 68,2% da população carcerária são negros.8

6 Power BI Report, Powerbi.com, disponível em:


https://app.powerbi.com/view?r=eyJrIjoiMTQ2ZDc4NDAtODE5OS00ODZmLThlYTEtYzI4YTk0MTc2M
zJkIiwidCI6ImViMDkwNDIwLTQ0NGMtNDNmNy05MWYyLTRiOGRhNmJmZThlMSJ9&pageName=R
eportSection045531d3591996c70bde
7 KADANUS, disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/republica/populacao-carceraria-triplica-

brasil-2019/
8 População carcerária: 5 mil cidades têm menos moradores do que o total de presos no Brasil; 1 em

cada 4 não foi julgado, G1, disponível em: https://g1.globo.com/sp/sao-


paulo/noticia/2023/07/20/populacao-carceraria-do-brasil-e-maior-do-que-a-populacao-de-5-mil-
municipios-1-em-cada-4-presos-nao-foi-julgado.ghtml
6

A grande parte da população prisional, ainda é negra. Um número que


anualmente vem aumentando, com raras exceções. A quantidade de detentos negros
no sistema carcerário brasileiro, ultrapassa os 65%. Fato interessante, é que a
população carcerária branca, vem diminuindo, atualmente beirando a casa dos 29%.
Também característico do perfil da população carcerária, é a idade dos detentos. Sua
grande maioria está entre 18 e 299 anos.
De forma mais sucinta, temos como números principais:
 A maioria de detentos no sexo masculino. As prisões femininas, ainda
que passem pelos mesmos problemas de superlotação, falta de
infraestrutura e dignidade mínima para as detentas, ainda representam
uma pequena parcela da população carcerária total;
 Negros, seguidos de pardos, representam a grande população
carcerária brasileira. Tal desigualdade vem apenas refletir a realidade
socioeconômica e social do pais;
 Jovens até 30 anos, predominam os presídios e cárceres do país, na
grande maioria por delitos relativos a lei de drogas;
 Baixa escolaridade é uma realidade nos presídios brasileiros. A grande
maioria da população carcerária, é composta por jovens adultos com
baixa escolaridade e que enfrentaram desafios socioeconômicos ao
longo de sua vida;
 Delitos menos violentos e reincidência também é um perfil de maioria
determinante entre a população carcerária, já que a morosidade da
justiça contribui para que presos de baixo potencial criminoso (pequenos
furtos, posse de pequenas quantidades de entorpecentes, etc) fiquem
aguardando em presídios seus julgamentos, e como boa parte do reflexo
disso, muitos saem, e por ficarem um tempo considerável ali, se
deparam com a oportunidade que o crime oferece, voltando assim a
cometer outros e novos delitos.

9População carcerária volta a aumentar, mas déficit de vagas diminui. Consultor Jurídico. Disponivel
em: https://www.conjur.com.br/2022-jul-10/populacao-carceraria-volta-aumentar-deficit-vagas-
cai#:~:text=Este%20n%C3%BAmero%20vem%20caindo%20continuamente,n%C3%BAmero%20era
%20de%20349%2C8.
7

3. SUPER LOTAÇÃO NOS PRESÍDIOS

Um grande problema que afeta não apenas o sistema prisional, mas também a
sociedade como um todo é a superlotação carcerária no Brasil. Com o aumento da
população carcerária e o número limitado de vagas das prisões, vem à problemática,
que é condição precária de sobrevivência dos detentos, que violam seus direitos
fundamentais, comprometendo assim o papel a qual se destinaria esse período de
encarceramento, que é a reabilitação do detento para o retorno ao convívio da
sociedade.
Atribuída ao escritor e poeta irlandês Oscar Wilde (1854 – 1900), a frase “A
Vida Imita a Arte...”10, controversa ao que o filosofo Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.)
já dizia que “A Arte Imita a Vida”11, podemos citar uma obra de ficção do cinema
nacional de 2010, “Tropa de Elite 2 – O Inimigo Agora é Outro”, com roteiro e direção
de José Padilha12, onde em uma de suas primeiras cenas, o personagem Diogo Fraga,
interpretado pelo ator Irandhir Santosem, um professor de história e militante dos
direitos humanos, ministra uma aula, e fala sobre o sistema carcerário no Brasil.
Ressaltamos que a história passa no ano de 2010, mas a cena citada, acontece em
2006, e ainda que seja uma obra de ficção, de acordo com Rodrigo Pimentel, autor do
livro que deu origem ao filme, todo o enredo é praticamente o fato real que acontece
no dia a dia.

A única coisa que não é real é o conflito familiar, o dilema do Nascimento e


sua relação com o filho, com a ex-mulher, toda a busca para reconquistar o
filho que vai viver e trabalhar com o Deputado Fraga. Mas todas as histórias
que envolvem as milícias foram baseadas em fatos reais, que acontecem no
cotidiano do Rio 13

Retornando ao início do filme, a cena mencionada, acontece no mesmo tempo


em que outra cena retrata uma rebelião no presídio de segurança máxima Bangu Um,
Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro/RJ, devido a rivalidade de facções
comandadas pelos internos e exigências por melhorias no sistema carcerário. Neste
momento, em uma aula ministrada pelo personagem professor Fraga, ele fala sobre

10 WILDE,Oscar. A Vida Imita a Arte. Disponível em: https://www.pensador.com/a_vida_imita_a_arte


11 REDAÇÃO EL HOMBRE. Disponível em: https://www.elhombre.com.br/como-a-arte-imita-a-vida-
ou-seria-o-contrario
12 PADILHA, José et al. Disponível em: https://www.adorocinema.com/filmes/filme-189340
13 PIMENTEL. Disponível em: https://www.palestraspimentel.com/blog/tropa-de-elite-resumo
8

a quantidade de detentos, e a perspectiva de aumento da população carcerária no


Brasil:

Diogo Fraga: ...o mais insano disso que a gente vem discutindo, é que prisão
hoje é um lugar extremamente caro, para tornar as pessoas piores. E olha
que cada vez mais...
Só para que vocês tenham uma ideia, em 1996 a população carcerária
brasileira era de 148 mil presos. Hoje, dez anos depois, a população
carcerária é de mais de 400 mil presos, é mais que o dobro, é quase o triplo.
Eu fiz uma conta, é perversa, está aqui, que evidentemente não serve.
Imagina, professor de história fazendo contas é um desastre. Mas essa aqui
eu faço questão de compartilhar com vocês pelo seguinte, eu percebi que a
população carcerária brasileira, ela dobra em média a cada 8 anos, enquanto
que a população brasileira, ela dobra a cada 50 anos. Se continuarmos com
isso aqui, em 2081, a população brasileira será de 570 milhões, ou seja, seus
filhos, seus netos, seus bisnetos. Enquanto que a população carcerária
brasileira será de 510 milhões. Seus filhos, seus netos, seus bisnetos. Ou
seja, 90% dos brasileiros vão estar na cadeia. Já imaginaram?...
...Olha, mas não se preocupem, não se preocupem que essa situação aqui,
ela melhora. Em 2083, todos os brasileiros vão estar morando aqui. (Ironia)
Em um condomínio fechado como esse aqui (aponta para uma maquete),
Bangu Um, nosso primeiro presídio de segurança máxima.14

Dados fictícios, mas alarmante, e não muito fora da realidade, já que


atualmente a população carcerária ultrapassa os 800 mil detentos.
Uma das principais causas de superlotação dos presídios pode ser atribuída
aos chamados “presos provisórios”, de acordo com nossa pesquisa, a população
carcerária brasileira é composta de 41% desses detentos. Sendo que esses indivíduos
são obrigados a ficar com os detentos já sentenciados, podendo inclusive cumprirem
uma pena maior se considerado o tempo que estavam encarcerados à espera do
julgamento15.
A ausência de efetivos investimentos em infraestrutura e a grande demora nos
processos judiciais são fatores que contribuem para o aumento da população
carcerária, causando a superlotação, e elevando a sobrecarga nos presídios e a
violação dos direitos humanos dos detentos.
Tal superlotação acarreta em uma série de consequências negativas. O espaço
inadequado contribui para a falta de higiene, saúde e segurança dos internos, o que
aumenta o risco de doenças, rebeliões e violência entre os presos. Fora isso, também
a superlotação dificulta uma separação mais adequada entre detentos de alta

14WERICK VLOGS. Disponível em: https://youtu.be/hfhTOmHGFzY?t=290 – 4:50’ à 7:06’.


15GOMES, M. A. A superlotação no sistema carcerário brasileiro: suas causas e consequências.
Disponível em: https://www.nucleodoconhecimento.com.br/lei/sistema-carcerario-brasileiro
9

periculosidade, daqueles que estão detidos por delitos menores, cumprido penas mais
leves.
A consequência disso tudo é o impacto sofrido na ressocialização dos detentos,
que em condições precárias de vida, junto com a falta de efetivos programas de
reabilitação, uma grande parte sai das prisões sem nenhuma perspectiva de
reintegração a sociedade, assim contribuindo para o que já mencionamos acima, que
é a reincidência criminal.

3.1 DIREITOS FUNDAMENTAIS

São direitos fundamentais dos detentos, e garantidos pela nossa Constituição,


o direito a integridade física e moral, alimentação adequada, acesso a saúde e
assistência jurídica, dignidade humana, visita familiar, educação e trabalho, entre
outros.16 Tudo isso para assegurar condições mínimas de respeito e dignidade, e
garantir a ressocialização.
A carta magna, traz no seu Artigo 5, inciso XLIX a garantia e respeito a
integridade física e moral do preso, já no inciso XLVIII do mesmo artigo garante que a
pena dever ser cumprida em estabelecimento distinto de acordo com a natureza do
delito, a idade e o sexo do apenado.17
Por sua vez, a Lei de Execuções Penal 7.210 de 1984, na seção II, Artigo 41
constitui os direitos dos apenados, dentre os quais cabe destacar o que diz no inciso
II, que trata da atribuição de trabalho e sua remuneração, nesse sentindo entende-se
por trabalho, qualquer atividade desenvolvida pelo sentenciado dentro ou fora do
estabelecimento prisional.18
O Código Penal, em seu Artigo 39, bem como o artigo 29 da LEP,
garantem que o trabalho realizado pelo condenado, deverá sempre ser remunerado,
sendo inclusive garantidos a este os benefícios da previdência, a remuneração pelo
trabalho desenvolvido não poderá ser inferior a ¾ (Três quartos) do salario mínimo
vigente.19

16 Início - ITTC - Instituto Terra, Trabalho e Cidadania. Disponível em: https://ittc.org.br/


17 BRASIL, CRFB 88. Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm.
18 BRASIL, L7210/84. Disponível em https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7210.htm
19 BRASIL, DEL2848/40. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/Decreto-

Lei/Del2848.htm.
10

4. PROBLEMATICAS DO SISTEMA CARCERÁRIO BRASILEIRO

Inúmeras são as problemáticas enfrentadas pelo sistema carcerário brasileiro,


tais como superlotação, falta de infraestrutura adequada, violência interna e por parte
daqueles que deveriam cuidar da segurança dos detentos, falta de assistência médica
e jurídica adequadas, baixa ressocialização dos detentos e a corrupção no sistema.
Um grande problema que afeta o sistema, e contribui em muito para a
reincidência ao crime e a baixa taxa de ressocialização, está no trabalho do interno.
Devido principalmente ao não cumprimento do que diz o ordenamento jurídico,
é muito difícil à realização de qualquer trabalho que vise a ressocialização do
condenado, uma vez que na maioria dos casos, e por falta de opções, os
encarcerados acabam por serem aliciados pelas facções que dominam as
penitenciarias brasileiras, o que geralmente leva ao cometimento de delitos mais
graves, dificultando com isso ainda mais qualquer chance de reabilitação do indivíduo.
Das inúmeras dificuldades enfrentadas no sistema carcerário para a realização
de trabalhos laborais por parte dos detentos, como a falda de estrutura e a capacitação
adequada, existe ainda a questão da baixa remuneração e falta de incentivos para a
realização dessas tarefas, tornando assim mais difícil a reintegração desses
indivíduos ao convívio social, após o cumprimento de suas penas.
Segundo estudos divulgados pelo IFOPEN, somente 20% dos presos no Brasil,
estavam inseridos em alguma atividade laboral no ano de 2014. Sendo essa baixa
percentagem, atribuída a não separação dos presos de acordo com a gravidade do
crime cometido, o que dificulta a seleção por parte da instituição penitenciaria entre
aqueles que estão ou não aptos a realização de atividades voltadas ao trabalho20.

5. CONCLUSÃO

Uma das medidas que poderiam ser adotadas, para a melhora do sistema
carcerário humanizando o detento, visando a diminuição da reincidência, colaborando
para a efetiva ressocialização da população carcerária, seria o direito a cumprimento
de penas alternativas, entre elas destacamos o trabalho do preso, medida está

20
Direito do preso de trabalhar é realidade só para minoria. Disponível em:
https://www12.senado.leg.br/noticias/especiais/especial-cidadania/direito-do-preso-de-trabalhar-e-
realidade-so-para-minoria
11

prevista Lei de execuções Penal. A falta de oportunidades de trabalho e programas


eficazes de ressocialização, tem levado muitos presos de baixo potencial criminoso,
a reincidirem no crime após o cumprimento de sua pena, ou liberação por remição ou
outros regimes de diminuição da pena em regime fechado.
Desafio grande e que ainda exige ações efetivas, é a superlotação nos
presídios. A superlotação não apenas viola os direitos fundamentais dos detentos,
mas também compromete o propósito da pena, que é a ressocialização. É preciso
buscar soluções que priorizem a dignidade humana para a ressocialização do detento,
assim construindo um sistema prisional mais justo e eficaz.
É imprescindível que a sociedade e autoridades públicas enfrentem essas
questões com máxima seriedade e urgência. O aumento no número de encarcerados,
a superlotação e as condições desumanas que vivem quem está no sistema prisional,
são desafios que já não podem mais serem ignorados.
A desproporcionalidade racial, a concentração de jovens adultos de baixa
escolaridade nas prisões, não refletem a desigualdade social apenas, mas a
necessidade de uma política mais eficaz na prevenção e na ressocialização dos
encarcerados.
Já no tocante a crimes relacionados às drogas e o encarceramento de presos
provisórios, na grande maioria aguardando julgamento por longos períodos, exige
uma revisão das normas e políticas de drogas e do sistema judiciário.
Para lidar com esses problemas complexos, há uma grande necessidade em
se investir em medidas e penas alternativas para o encarcerado, como já mencionado,
além de programas de ressocialização, promover uma reforma no sistema prisional
para que sejam adotados medidas que resguarde a integridade física e moral dos
detento com condições dignas de vida e todos seus direitos fundamentais, fomentar o
trabalho, dentro e fora das prisões, com a garantia de uma remuneração justa,
acrescida da oportunidade de redução de pena para aqueles que realmente
demonstrem esforço em sua ressocialização, promover uma reforma do sistema de
justiça criminal, com uma maior agilidade nos processos judiciais e amplo acesso à
justiça (de qualidade) a todos.
Somente desta forma poderá se enfrentar de maneira efetiva os muitos
problemas do sistema carcerário brasileiro, para que seja ele transformado em um
sistema mais justo, humano e reabilitador de fato.
12

REFERÊNCIAS

BRASIL. Conselho Nacional do Ministério Público. A Visão do Ministério Público sobre


o Sistema Prisional Brasileiro - Conselho Nacional do Ministério Público. Vol. IV.
Brasília. Disponível em: <https://www.cnmp.mp.br/portal/publicacoes/250-
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Acesso em: 08 set. 2023.

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<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2009/Lei/L12106.htm>. Acesso
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PIMENTEL, Rodrigo. Tropa de Elite: Resumo | Por Rodrigo Pimentel (BOPE).


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REDAÇÃO EL HOMBRE. Como a arte imita a vida – ou seria o contrário? Disponível
em: <https://www.elhombre.com.br/como-a-arte-imita-a-vida-ou-seria-o-contrario/>.
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WERICK VLOGS. Filme completo tropa de elite 2. YouTube, 22 ago. 2020. Disponível
em: <https://www.youtube.com/watch?v=hfhTOmHGFzY>. Acesso em: 11 set. 2023
4:50’ até 7:06

WILDE, Oscar. A Vida Imita a Arte. Pensador. Disponível em:


<https://www.pensador.com/a_vida_imita_a_arte/>. Acesso em: 11 set. 2023.

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