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Possibility of judicial control of public policies within the framework of the Brazilian prison
system
Revista dos Tribunais | vol. 1036/2022 | p. 143 - 155 | Fev / 2022
DTR\2022\3910
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Mariana Vargas Fogaça
Mestranda em Ciência Jurídica pela Universidade Estadual do Norte do Paraná – UENP.
Pós-graduada em direito processual penal pela IBMEC-SP. Bacharel em direito pela
Universidade Estadual do Norte do Paraná – UENP. Bolsista da Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). marianavargasfogaca@gmail.com
Keywords: Public policy – Prison system – Judicial control – Reservation of the possible
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Possibilidade de controle judicial de políticas públicas no âmbito
do sistema carcerário brasileiro
– Existential minimum
Para citar este artigo: FOGAÇA, Mariana Vargas. Possibilidade de controle judicial de
políticas públicas no âmbito do sistema carcerário brasileiro. Revista dos Tribunais. vol.
1036. ano 111. p. 143-155. São Paulo: Ed. RT, fevereiro 2022. Disponível em: inserir link
consultado. Acesso em: DD.MM.AAAA.
Sumário:
1. Introdução - 2. A crise estrutural do sistema penitenciário nacional - 3. A possibilidade
de controle judicial de políticas públicas no âmbito do sistema carcerário brasileiro - 4.
Considerações finais - 5. Referências
1. Introdução
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do sistema carcerário brasileiro
Em que pese a Constituição Federal assegure diversos direitos aos presos, como a
dignidade, a vedação da tortura e do tratamento desumano ou degradante, a proibição da
imposição de penas cruéis, o cumprimento da pena em estabelecimentos distintos, de
acordo com a natureza do delito, a idade e sexo do apenado e o respeito à integridade física
e moral, tais preceitos não são satisfatoriamente respeitados no sistema carcerário
brasileiro.
Não obstante o viés garantista das normas constitucionais, penais e processuais penais, os
direitos dos presos não são materialmente respeitados pelo Estado. Além da legislação
interna, o atual cenário prisional afronta tratados internacionais de direitos humanos que
foram ratificados pelo país, como o Pacto dos Direitos Civis e Políticos, a Convenção contra
a Tortura e outros Tratamentos e Penas Cruéis, Desumanos e Degradantes, a Convenção
Interamericana de Direitos Humanos.
No que tange à estrutura, verifica-se que o sistema carcerário não oferece condições
mínimas de conforto e salubridade. De acordo com as inspeções realizadas pelo Conselho
Nacional de Justiça, as dependências das unidades prisionais estão em péssimo estado de
conservação, com instalações sanitárias, hidráulicas e elétricas em condições precárias,
celas imundas, sem iluminação e ventilação adequadas5.
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do sistema carcerário brasileiro
A falta de dignidade dentro do sistema prisional e a falta de controle por parte do Estado
contribui com a grande ocorrência de fugas e rebeliões. No ano de 2013, nos 1.500
presídios inspecionados pelo Conselho Nacional do Ministério Público, registrou-se a
ocorrência de 20.310 fugas e de março de 2012 a fevereiro de 2013, 121 rebeliões9.
De acordo com Sarlet, em espaços em que não se respeita a vida, a integridade física e
moral dos indivíduos, que não são oferecidas condições mínimas para uma existência
digna, “não haverá espaço para a dignidade da pessoa humana e esta (a pessoa), por sua
vez, poderá não passar de mero objeto de arbítrio e injustiças”.12 Ressalte-se que o Estado
tem o direito de realizar a aplicação da lei penal, uma vez que cabe a ele realizar a proteção
da sociedade e resguardas os valores sociais. No entanto, ao exercer o jus puniendi, deve
respeitar os direitos fundamentais dos acusados, tanto material como processualmente13.
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Sem embargo, a interferência do Poder Judiciário em políticas públicas, que é uma função
típica do Poder Público, é tema controverso. De um lado, argumenta-se que, em nome da
harmonia e independência dos poderes, não seria possível o controle judicial de políticas
públicas no âmbito do sistema carcerário brasileiro. Em contrapartida, defende-se que, em
caso de falha persistente do Poder Público e de frequentes violações de direitos
fundamentais, é necessário garantir o mínimo existencial aos detentos por meio da
intervenção judicial.
Diante das omissões estatais, multiplicam-se junto ao Poder Judiciário ações ajuizadas por
integrantes da sociedade civil, membros do Ministério Público e da Defensoria Pública em
busca de melhorias das condições estruturais das unidades prisionais do país.
Quando condições mínimas de dignidade e salubridade não são fornecidas pelo Poder
Público e não se verifica pelo sistema de justiça criminal qualquer esforço na melhoria das
condições atuais, cabe controle judicial, visto que, “embora a escolha e implementação da
política pública seja um ato discricionário do Poder Público, não podemos afastar a
possibilidade de controle judicial sobre os atos administrativos discricionários”21. Ou seja,
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Os poderes, além de independentes, devem ser harmônicos entre si, ou seja, devem
trabalhar juntos para que os objetivos fundamentais do Estado sejam conquistados. Logo,
a harmonia e independência dos poderes não é prejudicada com a intervenção judicial,
uma vez que todo poder pode sofrer espécies de controle22.
Evidente que o controle judicial de atos administrativos discricionários não deve ser
realizado como forma de usurpar a vontade do administrador público no desenvolvimento
de políticas criminais. Isto é, não cabe ao judiciário interferir em funções que não lhe são
típicas. Contudo, a discricionariedade do Poder Público não pode legitimar a ineficiência na
prestação dos deveres estatais e a sonegação de direitos fundamentais24.
Para Queiroz e Costa, a Constituição Federal precisa ser observada, “[...] evitando defeitos
congêneres tão enraizados, como a imensa desigualdade social e financeira, além do total
desrespeito ao princípio da dignidade da pessoa humana. É necessária verdadeira
atividade de inclusão definitiva em todas as veias da Sociedade.”25
A teoria da reserva do possível é comumente invocada pelo Poder Público nas demandas
judiciais, sob o argumento de que a ausência de recursos orçamentários suficientes
isentaria o Estado de realizar e planejar políticas públicas em prol dos direitos
fundamentais26. Afirma-se que condições dignas não são fornecidas pelo Poder Público em
razão da insuficiência orçamentária. “Contudo, estes argumentos não são acolhidos de
modo irrestrito pelos tribunais, que frequentemente vêm exigindo um acervo probatório
suficiente que demonstre, de modo cabal, a insuficiência financeira e orçamentária do ente
público demandado.”27
Ademais, há entendimento de que a reserva do possível não pode ser aplicada sob os
direitos que compõem o mínimo existencial29, pois “eles são tão importantes que a sua
outorga não pode ficar sujeita à vontade da maioria parlamentar ou da Administração
Pública”. Por conseguinte, “a ausência de previsão da despesa, nas leis orçamentárias,
bem como a inexistência de políticas públicas, não impedem a sua efetivação judicial”30.
De acordo com Nunes Junior e Vidal Serrano, a teoria da reserva do possível só pode ser
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aplicada quando o mínimo vital tenha sido satisfeito; se o Estado comprovar que tem se
empenhado em cumprir o direito social buscado e seja razoável a sua aplicação. Ou seja,
“[...] a teoria da reserva do possível não foi concebida para mitigar obrigações mínimas do
Estado para com obrigações essenciais, que, caudatárias da dignidade humana, não
encontram possibilidade de restrição válida.”31
O Recurso Extraordinário (RE) 592.581/RS, que teve repercussão geral, foi interposto pelo
Ministério Público do Rio Grande do Sul, em uma ação civil pública que visava à realização
de obras no Albergue Estadual de Uruguaiana. Segundo o acordão que reformou a
sentença de primeiro grau, o pedido de melhorias no presídio tinha por base normas
constitucionais programáticas e não autoexecutáveis, com cumprimento sujeito à
discricionariedade do poder público e aos limites da reserva do possível, não sendo cabível
a intervenção do Poder Judiciário. No entanto, o Plenário do Supremo Tribunal Federal
reformou a decisão e decidiu que o Poder Judiciário possui competência para determinar a
realização de obras ou reformas emergenciais nas unidades prisionais do país com o intuito
de garantir os direitos fundamentais dos presos.
Ressaltou ainda que as autoridades prisionais não podem ser omissas em garantir ao
menos o mínimo existencial aos detentos, não existindo qualquer margem de
discricionariedade do Poder Público para garantir ao menos o núcleo essencial. “A reiterada
omissão do Estado brasileiro em oferecer condições de vida minimamente digna aos
detentos exige uma intervenção enérgica do Judiciário para que, pelo menos, o núcleo
essencial da dignidade da pessoa humana lhes seja assegurada.”33
Por fim, esclareceu que não defende que o Poder Judiciário possa atuar de ofício sempre
que direitos fundamentais estejam em risco, mas apenas quando há omissão estatal que
acarrete graves danos à dignidade da pessoa humana. “Aos juízes só é lícito intervir
naquelas situações em que se evidencie um ‘não fazer’ comissivo ou omissivo por parte das
autoridades estatais que coloque em risco, de maneira grave e iminente, os direitos dos
jurisdicionados”34.
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4. Considerações finais
Ademais, a reserva do possível não pode ser utilizada com o intuito de obstar a
implementação de políticas públicas, principalmente quando se trata de direitos que
compõem o mínimo existencial. Além da necessidade da prova cabal de insuficiência de
recursos, o referido princípio só pode ser aplicado quando o mínimo vital tenha sido
satisfeito e o Estado comprove que não tem sido omisso no cumprimento de suas
obrigações constitucionais.
Desta feita, foi possível verificar que o controle judicial de políticas públicas no âmbito do
sistema carcerário brasileiro é cabível, uma vez que, quando não são fornecidas condições
mínimas de dignidade e salubridade e não se verifica pelo sistema de justiça criminal
qualquer esforço na melhoria das condições atuais, privar o Poder Judiciário de sua função
de controle seria uma afronta ao Estado Democrático de Direito e ao princípio
constitucional da inafastabilidade da jurisdição.
Assim, é lícito que o Poder Judiciário imponha obrigações de fazer à Administração Pública,
sobretudo medidas emergenciais nos estabelecimentos prisionais do país. O intuito é
garantir a preservação da dignidade da pessoa humana e o respeito a integridade dos
presos, sendo que tal medida não configura afronta aos princípios da harmonia e separação
dos poderes.
5. Referências
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Jurisprudência
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24 .COSTA, Daniela Carvalho Almeida da; SANTOS, Ercolis Filipe Alves. Políticas públicas e
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25 .QUEIROZ, Roberlei A.; COSTA, Ilton Garcia. A Efetividade das Normas Constitucionais
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27 .ALMEIDA, Marcelo Pereira de. Notas sobre o controle jurisdicional de políticas públicas.
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30 .ALMEIDA, Marcelo Pereira de. Notas sobre o controle jurisdicional de políticas públicas.
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