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NORMALIDADE DA EXCEÇÃO: UMA

ANÁLISE QUANTO À IMPORTÂNCIA DA


GESTÃO DA INFORMAÇÃO NO DIREITO
PENAL BRASILEIRO
Helena Ramos de Castro1
Alex Jordan Soares Mamede2

163 Introdução

A pesquisa visa compreender em que medida a gestão da informação é necessária à


política penal. Para atingir esse objetivo, inicialmente foi realizado um panorama da
situação das prisões brasileiras, espaços em que cotidianamente ocorrem violações de
direitos fundamentais dos presidiários.
A princípio, é desenvolvida a ideia de “normalidade de exceção”, por meio do conceito
elaborado por Boaventura de Sousa Santos, através de um viés do cenário carcerário
do país, onde se constata que a conjuntura dos presídios corresponde na permanente
situação de omissão do Estado quanto aos direitos dos indivíduos privados de
liberdade (SANTOS, 2020, p. 5).
Ainda que estas violações transcorram por décadas e que o cenário do cárcere
brasileiro seja deveras crítico, tendo em vista a ideia do sistema punitivista do processo
penal que sofrem os réus, a população em geral costuma tratar o tema com certa
normalidade, uma vez que essa situação subsiste por décadas.

1 Mestranda em Direito pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Pós-graduanda em Prática


Jurídica Social pela Universidade Federal de Rio Grande (FURG), pós-graduanda em Direito e Processo
Previdenciário pela Damásio. Bacharel em Direito pela FURG. Membro do Grupo de Estudos e
Pesquisa em Direito do Consumidor (GECON-UFPel) e do grupo Cidadania, Direitos e Justiça
(CIDIJUS-FURG). Advogada autônoma. Correio eletrônico: helenade_catro@hotmail.com
2 Mestrando em Direito pela Universidade Federal de Pelotas. Pós-graduado em Direito Processual do

Trabalho. Bacharel em Direito pela Universidade Federal da Paraíba (campus João Pessoa/PB). Oficial
de Justiça Avaliador Federal do TRT da 4ª Região (Rio Grande do Sul). Correio eletrônico:
jordansoares123@gmail.com
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Assim, se introduz conceito de gestão da informação, que corresponde à análise de
dados e registros das informações dos indivíduos encarcerados, abrangendo desde a
coleta e aquisição de informações, com sua devida manutenção, com sua devida
distribuição e, por fim, seu arquivamento.
Essa temática é indispensável uma vez que no Brasil segue habitual a problemática de
que indivíduos cumprindo sua pena em regime de privação de liberdade tenham seus
direitos ofendidos, sendo, por vezes, até mesmo “esquecidos” no sistema, em razão de
não existir um método impecável de consulta de dados, no qual estejam disponíveis
informações como o tempo de pena da sentença, o tempo geral cumprido, a dedução
por dias remidos, os dias trabalhados e outras bases de pesquisa.

164 Para ilustrar este cenário, basta observar os mutirões carcerários realizados pelo
Conselho Nacional de Justiça dentre os anos de 2008 e 2014, período no qual foram
analisados cerca de 400 mil processos, sendo concedidos mais de 80 mil benefícios, e
dentre os quais, ocorreu a soltura de 46 mil presos que já haviam cumprido
integralmente sua pena, mas permaneciam encarcerados.
Logo, percebe-se que é essencial a gestão da informação para a política penal, tendo
em vista que esta auxilia na organização e planejamento local, seja para elaboração de
políticas públicas nacionais de saúde, de trabalho nas prisões, ou até mesmo para
estimativa de possíveis impactos nas futuras alterações legislativas, como no caso de
decretos de indulto.

A normalidade da exceção no ambiente penitenciário brasileiro

Os registros recentes do cenário carcerário brasileiro apontam cada vez mais para um
Estado violador, mais preocupado em punir seus cidadãos do que ressocializá-los.
Ainda que normativamente os detentos possuam garantias constitucionais expressas
quanto aos seus direitos fundamentais, são cotidianas e recorrentes as práticas de
violações dos direitos humanos dos presidiários (ALMEIDA, 2019, p. 44).
Para Almeida e Cacicedo (2020, p. 55), a herança repressiva e autoritária das práticas
de penalizações realizadas no século passado, reflete no sistema que possuímos hoje,
no qual as antigas práticas punitivas de caráter físico passaram a serem encobertas por

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violações de direitos humanos nos presídios e pela falta de amparo do Estado nesses
estabelecimentos.
Segundo estes, o Direito Penal de emergência3 contribuiu para o endurecimento de
normas penais para responder às demandas sociais por segurança pública. A expansão
punitiva, resposta ao Direito Penal de emergência, transformou o sistema penitenciário
brasileiro em uma emergência humanitária, com o aumento da precarização das
prisões, por conta da superlotação de presídios e a consequente falta de estrutura para
atender as demandas de milhares de pessoas privadas de liberdade.
De acordo com Almeida (2019, p. 44), a situação atual dos presídios brasileiros
demonstra uma composição de presidiários que passaram por uma seletividade

165 punitiva, com a grande maioria da população pré-determinada por marcadores sociais,
como a condição de pobreza, a cor da pele, a situação familiar, o gênero, entre outros,
sendo o cárcere um ambiente de exclusão para grupos sociais marginalizados, com
instituições prisionais que não atendem necessidades mínimas de proteção.
Assim, é possível observar no contexto histórico brasileiro a exclusão e seletividade
nas punições aos agentes delituosos. Essa seletividade se comporta de forma mais
intensa em indivíduos que constituem grupos de exclusão social, como é o caso de
pessoas com baixos índices de educação e em situação de pobreza, características que
compõem o cenário prisional brasileiro (ALMEIDA, 2019, p. 45).
Diante do panorama arguido, a princípio depreende-se um cenário de crise prolongada
ou permanente no direito penal. No entanto, segundo Boaventura de Sousa Santos, a
ideia de crise permanente é um oximoro, pois a crise, em seu sentido etimológico, é
excepcional e passageira, sendo uma oportunidade para superar o estado que a situação
se encontra e dar origem a uma situação melhor (SANTOS, 2020, p.5).

3 O direito penal de emergência contribuiu para o endurecimento de normas penais para responder às
demandas sociais por segurança pública. Esse movimento ganhou relevância na década de 1970, na
Itália, com as transformações legislativas por conta do clamor público e das manifestações midiáticas.
Esse movimento político-criminal se refere ao atendimento, por meio do Poder Legislativo, dos pedidos
de medidas urgentes para conter o avanço da criminalidade, solicitados pela população. No Brasil, um
exemplo desse movimento foi a criação do regime disciplinar da Lei 10.792/03, tratando-se de uma
resposta à pressão midiática e política que surgiu após as rebeliões nos presídios de São Paulo e no Rio
de Janeiro, que trouxe uma política de exceção, caracterizada pelo aprisionamento extremo. ALMEIDA,
Bruno Rotta; CACICEDO, Patrick. Emergências, direito penal e covid-19: por um direito penal de
emergência humanitário. Boletim IBCCRIM - ano 28 - n.º 335 - outubro de 2020.
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Quando uma crise é passageira, devem-se explicar quais fatoram a provocam, porém,
se analisarmos esse paradigma através da ótica do direito penal, constatamos que não
existe um cenário de crise passageira, porém de permanência da situação de violação
de direitos dos presidiários.
Almeida, Cacicedo e Pimentel (2020, p. 49) exploram o conceito de “normalidade do
desumano”, na qual podemos comparar com o conceito de Boaventura de Sousa
Santos sobre a “normalidade de exceção”, sobre a situação de degradação constante
dos presídios no país, seja por conta da política de encarceramento em massa adotada
ou por conta do sistema punitivista do processo penal. Esses elementos expõem que
por mais que essa situação seja crítica, ainda sim é permanece sendo encarada com

166 certa normalidade pela população em geral, tendo em vista que a situação se mantém
a mesma há anos.
Nesse sentido, Fernando Gabriel (2021, p. 150), Defensor Público do Estado do Rio
Grande do Sul, assente com a afirmação de que não existe crise no sistema prisional
no Brasil. O pesquisador esclarece que a ideia de crise pressupõe incapacidade
excepcional e passageira de atingir as finalidades propostas. Para o autor, o sistema
penal observado no país, desde seu nascimento, está em rumo ao fracasso quanto ao
seu discurso preventivo e/ou ressocializador.
Esta situação de violações sistemáticas de direitos humanos, junto às condições
precárias nas unidades prisionais, acarretou que o Supremo Tribunal Federal declarasse
um "Estado de Coisas Inconstitucional” (MC na ADPF 347 j. 09/09/2015 4),
considerando as violações reiteradas e sistemáticas a direitos fundamentais dos presos,
somadas à superlotação dos presídios, com ocorrência de torturas, celas insalubres,
falta de saneamento básico e proliferação de doenças (principalmente tuberculose,
HIV e sífilis).
Segundo os pesquisadores Costa e Quadros (2019, 289), a teoria do Estado de Coisa
Inconstitucional reforça o entendimento de que o atual sistema de cumprimento de
penas corresponde a um espaço que termina por legitimar as reiteradas violações de
direitos humanos. Por mais que estas violações aconteçam diariamente ao longo do
país, ainda é custoso identificar com precisão os dados referentes a estas violações.

4ADPF 347 MC, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em 09/09/2015,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-031 DIVULG 18-02-2016 PUBLIC 19-02-2016.
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Porém, a falta de dados concernentes ao sistema carcerário se trata de outra situação
rotineira no âmbito penal.
Até o momento, não existe um sistema informacional que realize a conexão dos dados
informacionais dos presidiários às autoridades competentes, assim como não há um
sistema que faça o acompanhamento automático das condenações em que estão
sujeitos os indivíduos encarcerados. Este é o tema que será abordado no capítulo
seguinte.

Importância da gestão da informação na política penal brasileira

167 Em abril de 2021, o jardineiro Cícero José de Melo recebeu um alvará de soltura,
deixando a Penitenciária Industrial Regional do Cariri, em Juazeiro do Norte, no
interior do Ceará, onde estava encarcerado há mais de 15 (quinze) anos por um crime
que nunca respondeu na Justiça (SAMPAIO, 2021)5.
Ressalta-se que o jardineiro foi preso sob suspeita de tentativa de homicídio no ano
2005, mesmo alegando inocência. Equívocos – em seu sentido mais eufemista da
palavra – como estes são passíveis de ocorrência por conta da precariedade brasileira
no tocante à gestão de informações quanto aos registros relacionados à política penal
brasileira.
A gestão da informação diz respeito a atividades organizacionais, que correspondem à
coleta, aquisição, manutenção, distribuição e arquivamento de informações em bancos
de dados.
Segundo Tatiana Whately de Moura (2018, p. 116), a quantidade de pessoas presas no
Brasil não está disponível de forma confiável e atualizada. Somado a isto, os dados do
Ministério da Justiça são díspares aos dados divulgados pelo Conselho Nacional de
Justiça (CNJ). Ocorre que, no campo penal, a gestão da informação está vinculada à
garantia de direitos humanos, pois a análise de dados condizentes com a realidade das
pessoas encarceradas oferece ao Estado respaldo para elaborar políticas públicas,
condizentes com uma realidade mensurável, baseada em evidências.

5 SAMPAIO, Isayane. Jardineiro é libertado após passar 15 anos preso sem que houvesse processo
contra ele, no Ceará. G1. GLOBO. 09 de abr. de 2021. Disponível em: <
https://g1.globo.com/ce/ceara/noticia/2021/04/09/jardineiro-e-libertado-apos-passar-15-anos-
preso-sem-que-houvesse-processo-contra-ele-no-ceara.ghtml> Acesso em: 18 de mai. 2021.
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O caso de Cícero José, que esteve preso de 2005 a 2021 de forma equivocada, é um
dentre tantos outros casos de presidiários que permanecem cumprindo pena em
regime fechado quando na verdade já cumpriram a pena necessária para obterem a
progressão de regime. No entanto, a falta de um sistema que realize um controle
automatizado sobre os dados dos apenados, possibilita que situações como as citadas
sejam demonstrando a impossibilidade do Estado em obter controle efetivo sobre os
dados referentes aos presídios brasileiros, tornando-o incapaz de saber quais e quantas
pessoas estão presas.
A carência desses dados concretos e inequívocos contribui e reflete na violação de
direitos das pessoas encarceradas, realidade que se perpetua no Brasil atualmente, na

168 qual diversas pessoas são mantidas nas prisões por prazos além dos determinados em
suas decisões judiciais.
Segundo o Conselho Nacional de Justiça, os mutirões carcerários começaram a ser
realizados em agosto de 2008 até o ano de 2014, como forma de garantir e promover
os direitos fundamentais na área prisional. Os esforços resultaram na análise de cerca
de 400 mil processos com mais de 80 mil benefícios concedidos, sendo que destes, 46
mil presos foram libertados, pois já haviam cumprido integralmente sua pena, mas
permaneciam encarcerados (CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, 2021).
Segundo a mesma pesquisadora, no Brasil, a dificuldade não se trata somente à questão
da disponibilização de dados, e sim sobre a precariedade das informações coletadas no
sistema prisional. Isso porque não há uma padronização destas informações, sendo
atualmente 28 sistemas penitenciários distintos (27 Unidades mais a Federação), com
sistemas e logísticas próprias. São mais de 1.400 unidades prisionais que possuem, por
vezes, práticas próprias de gestão, que repercutem nas informações coletadas
(MOURA. 2018, p.117).
Ainda nos locais em que há sistemas informatizados em unidades prisionais, por vezes
não há troca de informações entre órgãos do sistema de justiça. Sem um sistema que
acompanhe digitalmente os prazos relativos ao preso, identificando, por exemplo, a
progressão de regimes, há uma maior probabilidade de que pessoas sejam “esquecidas
no sistema”, como foi o caso referido a princípio.
De acordo com NETO et al (2019) desde a expansão da cobertura do Sistema Único
de Saúde (SUS) para presidiários no Brasil, o perfil epidemiológico desse público,

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considerado um dos maiores do mundo, sempre foi alarmante. Os dados disponíveis
são escassos, fragmentados e relacionados a determinados tipos de enfermidades, o
que dificulta a compreensão da situação.
O acesso aos dados referentes à saúde dos presidiários é de extrema importância para
o desenvolvimento de políticas públicas, de modo a definir as prioridades para
melhorar o sistema de saúde para este público-alvo, bem como para não isolar os
presidiários, mas integrá-los no sistema de saúde e justiça.
Antes de 2005 as informações quanto à base de dados do sistema prisional brasileiro
eram reunidas por levantamentos organizados pelo Conselho Nacional de Política
Criminal e Penitenciária, pelo Departamento Penitenciário Nacional do Ministério da

169 Justiça, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística e pela Pastoral Carcerária.
A partir desta data, foi realizado um levantamento denominado como Infopen, que
passou a realizar a coleta das informações dos estabelecimentos prisionais, sobre as
vagas dos presídios, sobre o gênero dos presidiários e também sobre a situação
processual de cada indivíduo.
No entanto, este levantamento foi realizado com base em dados de formulários
preenchidos pelos gestores das unidades prisionais, o que significa que não há troca de
informações entre os diferentes órgãos do sistema de justiça. Além disso, o Infopen
não apresenta dados do sistema penal como um todo, focando-se somente no sistema
prisional, e por conta disso, não há dados referentes ao cumprimento de alternativas
penais (MOURA, 2018, p. 121).
No ano de 2014 houve uma restruturação na análise de dados do Infopen,
possibilitando a identificação de diversas questões, inclusive se identificando que a
maioria dos presos está detida por prazo superior à duração razoável do processo.
Diante das falhas encontradas nesse sistema de informações estatísticas, o Governo
Federal apresentou a proposta do Sisdepen.
O Sisdepen está descrito na Lei 12.714/2012, que previu a implementação, em um ano,
de um sistema de acompanhamento da execução das penas, da prisão cautelar e da
medida de segurança. No entanto, infelizmente, essa proposta já está com muitos anos
de atraso, tendo em vista que previa o prazo de 365 dias para implantação.
Conforme previsto na lei, o sistema deveria contar com registros de informações
individuais da pessoa presa, como a data da prisão, a comunicação à família e ao

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defensor, a descrição do tipo penal e pena, o tempo de condenação, a quantidade de
dias trabalhados ou estudo, os dias remidos, atestado de comportamento carcerário,
faltas graves, dentre outras previsões (MOURA, 2018, p.127).
Estes dados devem ser preenchidos por todos os órgãos competentes, como a
autoridade policial, o magistrado, o diretor do estabelecimento prisional, contendo
uma possibilidade de informar automaticamente os interessados quanto à situação dos
prazos legais.
No momento, o Sisdepen tem sido desenvolvido pelo Depen, e em tese, essa
ferramenta deverá permitir o acompanhamento individualizado em tempo real do
cumprimento das penas das pessoas encarceradas, além de prover dados quanto às

170 informações penitenciários, em nível nacional, por estado e por estabelecimento penal,
significando um grande avanço para as políticas públicas que visem proteger a
população que vive privada de liberdade.

Considerações Finais

Através da pesquisa elaborada, constatou-se que por meio da gestão da informação na


política penal, no tocante ao gerenciamento da pena dos indivíduos encarcerados, é
possível superar o estado absurdo de indivíduos abandonados nas prisões, que
possuem penas já cumpridas, ou até mesmo direitos a benefícios da execução penal,
mas que possuem seus direitos violados por conta da falta de um sistema
informatizado que faça com que as informações cheguem aos órgãos responsáveis do
sistema de justiça, como a Defensoria Pública ou aos Juízes de Direito.
Além disso, com um sistema eficaz de gerência e análise de dados das pessoas
encarceradas, será possível elaborar políticas públicas que auxiliem decisivamente para
tomada de medidas que contribuam para políticas de saúde pública – por meio da
análise de quais são as enfermidades que os indivíduos estão sofrendo, ou a quantidade
de mulheres com filhos nos presídios –, ou para análise de possíveis indultos.
O impacto com a informatização dos dados precisos da população carcerária, com a
consequente integração dos diferentes sistemas, como da Defensoria Pública, do
Judiciário e do Ministério Público, poderá impedir que ocorram violações de prazos
penais. Ainda que para extinguir as violações de direitos fundamentais dos presos sejam

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necessárias medidas que vão muito além da gestão de dados informacionais dos
presidiários, a reestruturação da forma de gerir os dados dos indivíduos já fará
diferença para vida de milhares de brasileiros.

Referências

ALMEIDA, Bruno Rotta. Prisão e desumanidade no Brasil: uma crítica baseada na


história do presente. Revista da Faculdade de Direito - Universidade Federal de
Minas Gerais, v. 74, 2019, p. 43-64.

171 ALMEIDA, Bruno Rotta; CACICEDO, Patrick. Emergências, direito penal e covid-
19: por um direito penal de emergência humanitário. Boletim IBCCRIM - ano 28 -
n.º 335 - outubro de 2020.

BRASIL. LEI Nº 12.714, DE 14 DE SETEMBRO DE 2012. Dispõe sobre o sistema


de acompanhamento da execução das penas, da prisão cautelar e da medida de
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responsabilidade civil do estado pela violação de direitos dos detentos e os critérios
jurídicos da quantificação indenizatória. REVISTA QUAESTIO IURIS, v. 12, n. 1,
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GHIGGI, F.G. 2021. Do dever de proteção do direito penal às penas da (in)segurança


pública: a crise da falsa dicotomia. Revista da Defensoria Pública do Estado do
Rio Grande do Sul. 27 (jan. 2021), 149–169.

MOURA, Tatiana Whately de. Gestão da informação na política penal. In: VITTO,
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Horizonte/MG: Letramento, Casa do Direito, 2018, p. 113-131.

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