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FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

DEPARTAMENTO DE ESTUDOS JURÍDICOS FUNDAMENTAIS


DIRA 75 – METODOLOGIA DA PESQUISA EM DIREITO
Discentes: Luana Silva Santos Teles e Vivian Cintra Grassis

PROJETO DE PESQUISA RESUMIDO E SIMPLIFICADO

1. Título

A situação do encarceramento no Estado da Bahia no contexto da pandemia de


COVID-19 no ano de 2021

2. Delimitação do tema e problema da pesquisa


O sistema carcerário brasileiro, desde a sua origem, não passou por mudanças
consideráveis na forma de gestão, tendo o foco permanecido no sistema punitivo Estatal,
havendo o encarceramento em massa de indivíduos, em sua maioria pretos e pardos, de baixa
renda e cujo acesso à justiça ocorreu de forma prejudicada, não havendo interesse em
ressocializar os indivíduos inseridos em tais ambientes, os quais, segundo Silva (2017),
acabam por “representar um abismo entre os detentos e o mundo exterior”.
No ano de 2021, 2º ano de pandemia do coronavírus, de acordo com dados
disponibilizados pela Secretaria de Administração Penitenciária e Ressocialização, o
excedente de encarcerados no estado da Bahia foi de 859 pessoas. Isso significa que, mesmo
em contexto de pandemia mundial e medidas de isolamento, encontravam-se 859 indivíduos
além do que as unidades carcerárias podem comportar. Do total de 12.878 indivíduos
encarcerados no ano de 2021, 48,13% correspondem a presos provisórios, ou seja, quase
metade da população carcerária baiana, no ano de 2021, é composta por pessoas cujo
processo penal ainda não transitou em julgado.
Da compreensão acerca do encarceramento no Brasil, que ocupa o terceiro lugar no
ranking de países que mais prendem no mundo, considera-se urgente o estudo acerca das
condições referentes à pandemia de COVID-19 no contexto dos presídios brasileiros,
considerando tratar-se de uma doença com elevadíssima taxa de transmissão e cujas
características exigem um controle de transmissão através de medidas de isolamento social.
Segundo Kátia Mello (2020), “Seja como for, a situação é gravíssima porque, como é do
conhecimento de todos, as penitenciárias brasileiras, por oferecerem condições insalubres,
potencializam a contaminação e a proliferação de doenças.” A partir de tais dados, decorre a
necessidade de uma análise a respeito das condições do sistema carcerário do Estado da Bahia
em contexto de pandemia de coronavírus, debruçando-se sobre o estudo do universo a parte
no qual os detentos estão inseridos, cujas medidas de isolamento social não se aplicam de
forma concreta. Devido a isso, a problemática central da pesquisa está em: Como foram
conciliadas as medidas sanitárias de distanciamento social em relação à pandemia de
COVID-19 com as condições do sistema carcerário baiano?

3. Objetivo geral
Em primeira instância, a pesquisa objetiva a formação do jovem estudante
pesquisador, utilizando o espaço acadêmico enquanto de substancial importância para a
formação de pensadores. Ademais, pretende-se relacionar os dados estatísticos a respeito das
instituições carcerárias do Estado da Bahia com a bibliografia descritiva a respeito das
condições em que se encontram os detentos, utilizando o contexto da pandemia de COVID-19
para evidenciar o descaso do estado para com os indivíduos em situação de cárcere, havendo
a violação do princípio da dignidade da pessoa humana.
A partir de tais reflexões, a pesquisa busca compor a bibliografia disponível acerca do
tema, com o objetivo de nortear o entendimento geral acerca do sistema carcerário, que
atualmente se situa exclusivamente na esfera punitiva, afastando-se da perspectiva de
ressocialização e do respeito aos direitos dos que lá se encontram.

4. Justificativa
A problemática das condições sanitárias em presídios não é recente, é um assunto
recorrentemente debatido, mas pouco modificado. Por se tratarem de pessoas, em sua grande
maioria negras, periféricas, que possuem corpos sem grande valia para o corpo social no
contexto do capitalismo e da conjuntura racista brasileira, há algo similar a uma normalidade,
quase nunca contestada, em discriminar e “empurrar” gradativamente essas pessoas para as
margens sociais, resultando em uma invisibilidade e uma privação dos seus devidos direitos.
A estigmatização dada às pessoas privadas de liberdade atua como uma permissão para o
abandono e o descaso para com elas, mesmo fora de ambientes prisionais, tendo a condenação
como marca eterna de uma vida sem sucesso e sem possibilidades de recomeços.
Tendo em vista a realidade atual, é imprescindível que a atuação do sistema promova
medidas que previnam a exposição destes detentos à COVID-19 nos ambientes
penitenciários, tanto do âmbito do direito penal - com adoção de medidas socioeducativas
ante a condenação, e também da redução das prisões temporárias, antes do trânsito em
julgado - quanto a dos que supervisionam o funcionamento desses ambientes (DEPEN), a
aplicabilidade dessas novas medidas e sua eficácia.
É de suma importância a realização dessa pesquisa, uma vez que se trata da avaliação
das condições humanitárias de detentos na Bahia, em um contexto pandêmico, voltando os
olhos para a atuação do judiciário perante a problemática. Portanto, se a situação estiver de
forma incongruente com a urgência que o problema requer, a pesquisa será uma evidência e
pode servir de levante a esse debate, bem como levá-lo para outros âmbitos, ou caso prove-se
que a situação está sendo bem conduzida, a pesquisa será de grande valia para o
reconhecimento da contribuição do Judiciário no combate contra a COVID-19 em ambientes
penitenciários.

5. Metodologia
Essa pesquisa tem um cunho multidisciplinar envolvendo um arco discursivo que
abarca aspectos da sociologia jurídica, direito penal e ciência política, utilizando-se da revisão
bibliográfica para fundamentação teórica, aliada à metodologia de pesquisa qualitativa
referente aos dados coletados e apurados. Respeitando as limitações referentes ao contexto de
pandemia, a presente pesquisa insere-se no campo da pesquisa empírica, na qual há a
realização de múltiplos estudos, conforme as necessidades dos objetivos que nos propusemos,
no seguimento da escrita, oral e até mesmo visual. Ao selecionar o viés empírico, busca-se a
aproximação da realidade da problemática e a compreensão do fenômeno jurídico no
ambiente social mais amplo (GUSTIN, DIAS E NICÁCIO, 2020, P.66), na tentativa de
alcançar as projeções legislativas sob a população e no seu cotidiano, que segundo Becker
(2014) ao ser explorado, evidencia que muitos eventos e ações acabam tendo explicações
prosaicas, que raramente são levada em consideração nas teorias jurídicas.
A priori, almeja-se recorrer à observação como método inicial, analisando 5 espaços
penitenciários do estado da Bahia, seguindo a realidade do decorrer da pesquisa, a fim de
estabelecer um parâmetro e observar se o comportamento do sistema é similar nos ambientes
apurados. Além disso, busca-se ainda acompanhar presencialmente decisões judiciais que
envolvam as prisões temporárias e preventivas, observando o desenrolar dessa decisão, e se o
aspecto da pandemia é levado em conta durante o processo da deliberação. A posteriori, foi
pensada a utilização da entrevista semi-estruturada como método complementar, abordando
um representante do corpo policial e um detento, em cada espaço, com perguntas iguais,
comparando os distintos referenciais sobre como o sistema está lidando com as restrições
exigidas pela pandemia, a sensação de segurança dos detentos e quais foram os principais
desafios durante o auge pandêmico. Dessa forma, busca-se desenvolver a problemática com a
participação dos verdadeiros atingidos por ela, sustentado na verificação da aplicação das
normas, a fim de trazer meios para solucioná-la e ainda debatê-la no âmbito social

6. Referências Bibliográficas

Artigos científicos:

ANDRADE BARROS, V. A & BARROS, Caroline. Reflexões sobre a casa dos mortos em
tempos de pandemia: As prisões brasileiras. Caderno de Administração, 28, 95-99, 2020.
Disponível em: https://doi.org/10.4025/cadadm.v28i0.53651 Acesso em 23/11/2021

BARBOSA, B. A., MARINHO, L. G., & COSTA, M. B. O sistema prisional brasileiro frente
à pandemia do novo coronavírus. Jornal Eletrônico Faculdades Integradas Vianna Júnior,
13(1), 22, 2021. Disponível em https://jefvj.emnuvens.com.br/jefvj/article/view/790 Acesso
em 29/11/2021

SILVA, Glayce Kelly. O sistema carcerário brasileiro e sua ineficiência quanto aos fins da
pena. DireitoNet, 2020. Disponível em:
https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/10272/O-sistema-carcerario-brasileiro-e-sua-inef
iciencia-quanto-aos-fins-da-pena Acesso em 22/11/2021

FREITAS, Felipe. Vidas negras encarceradas: a pandemia nas prisões brasileiras.


Repositório do Conhecimento do IPEA, 2021. Disponível em:
http://repositorio.ipea.gov.br/handle/11058/10518 Acesso em 23/11/2021.

MELLO, Kátia. O sistema prisional brasileiro no contexto da pandemia de covid-19. Rio De


Janeiro: Conexão UFRJ, 2020. Disponível em:
http://necvu.com.br/wp-content/uploads/2020/11/O-sistema-prisional-brasileiro-no-contexto-d
a-pandemia-de-COVID-19-%E2%80%93-Conexao-UFRJ.pdf Acesso em 22/11/2021
Dados estatísticos:

SECRETARIA DE ADMINISTRAÇÃO PENITENCIÁRIA E RESSOCIALIZAÇÃO. Mapa


da população carcerária. Governo da Bahia, 2021. Disponível em:
http://www.seap.ba.gov.br/pt-br/dados/17 Acesso em 29/11/2021.

Capítulos de livros:

BECKER, Howard. A Epistemologia da Pesquisa Qualitativa. Revista de Estudos Empíricos


em Direito, v. 1, n. 2, p. 184-198, 2014.

GUSTIN, Miracy; DIAS, Maria Tereza; NICÁCIO, Camila. (Re)pensando a pesquisa


jurídica: teoria e prática. 5. ed. São Paulo: Almedina, 2020, 188-228.

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