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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS

INSTITUTO DE PSICOLOGIA

Reflexões em cárcere: ressocialização ou controle social?

Laisa Santana do Nascimento

RIO DE JANEIRO,
2021
Introdução

Em meio às mudanças e retrocessos que aconteceram no país, alguns temas que já


tinham espaço no debate público, hoje aparecem mais em voga, como o sistema
prisional. Durante algum tempo o assunto se viu simbolizado no imaginário popular
através do retratado em programas sensacionalistas, que conquistaram o público por
sua sanha vingativa.
Ao longo da história diferentes formas de pensar o crime foram incorporadas, desde a
criminologia clássica, passando por Lombroso com sua teoria da criminalidade nata,
abrindo brechas para teorias abertamente críticas sobre o sujeito criminoso.
As análise críticas se viam restringidas a área acadêmica, com teóricos abordando
pautas abolicionistas e antipunitivistas. A partir das coberturas sobre a situação
deplorável em que se encontram as prisões brasileiras, com dados atuais indicando
54,9% acima da capacidade, infiltrações, racionamento de água e outras privações;
além de casos recentes de prisões de inocentes, devido falhas judiciais, um debate
sobre a finalidade do sistema prisional se tornou presente.
Observando a conjuntura social, e o fenômeno do encarceramento em massa, vemos
como o perfil médio criminoso não é aleatório, com as criminalizações de certas
culturas, regiões e corpos.
A Psicologia acaba tendo um papel em meio a esse processo, com a prática jurídica
ainda se apresentando como um campo em crescimento. Articulando-se em parte
através de perspectivas positivistas, e apresentando-se através dos tradicionais
relatórios e diagnósticos, com alguns desafios aparecendo no percurso profissional.
Pois, os saberes clínicos e éticos da Psicologia podem muitas vezes serem opostos aos
inerentes ao campo jurídico, fazendo com que o profissional passe por dilemas.
Analisando as problemáticas do encarceramento, há de se questionar se é possível
acreditar num projeto de ressocialização dentro desse sistema desumanizante,
considerando o propósito de controle e ordenamento social.

Justificativa
Pensar a situação do sistema prisional brasileiro não diz respeito somente à população
carcerária ou a seus familiares, é algo relevante para a sociedade como um todo, por
trabalhar quesitos essenciais além da segurança pública, como a educação, a defesa
dos direitos humanos, entre outros.
Há uma necessidade de se refletir sobre a funcionalidade das prisões principalmente
ao relembrarmos que na história do país, uma parte da população foi, e ainda é
discriminada e criminalizada; como ocorreu na Lei de Contravenções Penais, que
chegou a punir a prática da capoeira, embriaguez e vadiagem, visando controlar os
cidadãos, principalmente os pobres.
Pensando ainda no que tange à crise sanitária referente a pandemia de covid-19, as
estruturas fornecidas pelo poder público soam ainda mais alarmantes ao que se
propõe, a reinserção social.
Partindo de uma conduta de acordo com os princípios éticos que defendem que "o
psicólogo trabalhará visando promover a saúde e a qualidade de vida das pessoas e
das coletividades e contribuirá para a eliminação de quaisquer formas de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão (p. 7); é de suma
importância que o profissional possa garantir a defesa dos direitos dos que estão sob
tutela do Estado, fazendo valer sua posição dentro do sistema penitenciário.

Objetivo
Refletir as dimensões do sistema prisional brasileiro, e a possibilidade de
ressocialização em meio aos conflitos e dificuldades impostas pelo cárcere.
Ampliar e acrescentar o debate sobre a funcionalidade do sistema penal, abrangendo
visões contrárias à manutenção do encarceramento. Analisar o papel do psicólogo
jurídico mediante as atribulações e arbitrariedades dos estabelecimentos penais.

Referencial Teórico

Ao adentrar a questão do encarceramento, devemos nos atentar a entender


primeiramente o surgimento da necessidade de punir, "com a introdução e evolução
do sistema carcerário em técnica penitenciária, agora direcionada à idéia de
adestramento" (MAMELUQUE, 2012, p. 623).
A partir disso identifica-se que "A prisão enquanto penalidade inaugura uma forma de
sanção que não se refere a uma infração, mas a um comportamento, a uma
personalidade criminosa, que deve ser buscada no interior de uma história individual."
(REISHOFFER; BICALHO, 2017, p. 34 ).
Partindo disso surge a necessidade da atuação do psicólogo no campo prisional, para
avaliação, produção de laudos e pareceres, de acordo com aspectos estritamente
corretivos.
A mudança de âmbito profissional acontece a partir da retirada da obrigatoriedade do
exame criminológico como requisito para concessão de regressão de pena. Junto dessa
mudança temos um posicionamento importante por parte do Conselho Federal de
Psicologia e de profissionais atuantes no sistema prisional, lançando uma moção
contra a prática, por considerá-la estigmatizante, e contrária aos princípios
norteadores do Código de Ética. Porém, mesmo com essa formulação, o trabalho do
psicólogo se vê cercado de adversidades, devido seu caráter em maior parte
avaliativo, com intromissões dos atores do direito, que se vêem acima numa cadeia de
saber; ou sofrendo pelas escassez de tempo e técnica.
O número de presos no Brasil, contabilizando regime aberto e os que estão em
carceragens de delegacias da Polícia Civil, pode chegar até 750 mil, segundo
levantamento do G1. Os últimos dados demonstram que mesmo com uma queda no
número de presos, há um déficit de 241,6 mil vagas no Brasil; com subida de 31,9%
no número de presos sem julgamento, tudo isso em meio a uma pandemia viral.
Por mais que os rituais de castigo tenham dado lugar a um modelo punitivo
concretizado pela técnica penitenciária, que em tese, planeja transformar a vida do
indivíduo e inseri-lo na sociedade; o que se pode encontrar são lugares insalubres,
superlotados, escuros, infestados de pragas, além de outros problemas estruturais.
Uma das iniciativas para auxiliar na reinserção seria a qualificação profissional do
sujeito, e mesmo nisso o sistema penitenciário acaba pecando, seja pela falta de vagas,
pelo preciosismo na escolha dos trabalhadores, ou pelas funções, que são pouco úteis
na vida fora das grades.
A visão comum é de que o tratamento dado aos detentos é merecido, quase como uma
segunda condenação, ficando esquecido o lado humano, com as subjetividades dos
sujeitos sendo anuladas.
Por mais que se busque individualizar a questão, "Nessas condições conclui-se que as
prisões, longe de serem instituições destinadas à reinserção do social do sentenciado,
transformam-se em espaços de pura segregação social, possibilitando toda sorte de
degradações, estimulando a reincidência criminal e oportunizando toda espécie de
desumanidade."

Metodologia

O público alvo será de psicólogos que atuam no sistema penitenciário, e detentos.


Escolha de técnica de observação, com entrevista por meio de grupos focais,
propiciando troca de informações e diálogo aberto entre os membros.
Elaboração de questionário com especificação do tipo de informação coletada.

Cronograma

Fevereiro Iniciar o processo de pesquisa

Março Revisão de literatura

Abril Elaboração do referencial teórico

Maio Abordagem da pesquisa/metodologia

Junho Abordagem da pesquisa/metodologia

Julho Abordagem da pesquisa/metodologia

Agosto Revisão parcial do projeto

Setembro Entrega do projeto final

Referências

________. Resolução CFP N.º 010/2005. Código de Ética Profissional.

MAMELUQUE, Maria da Glória Caxito. A subjetividade do encarcerado, um desafio


para a psicologia. Psicol. cienc. prof., Brasília, v. 26, n. 4, p. 620-631, dez. 2006.
Disponível em:
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-9893200600040
0009&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 14 out. 2021.
REISHOFFER, Jefferson Cruz; BICALHO, Pedro Paulo Gastalho de. Exame
criminológico e psicologia: crise e manutenção da disciplina carcerária. Fractal:
Revista de Psicologia, v. 29, n. 1, p. 34-44, jan.-abr. 2017. Disponível em:
<https://doi.org/10.22409/1984-0292/v29i1/1430. Acesso em: 14 out . 2021.

ROESLER, Átila Rold Da. Sobre a vadiagem e o preconceito nosso de cada dia.
Justificando, 2016. Disponivel em:
http://www.justificando.com/2016/08/09/sobre-a-vadiagem-e-o-preconceito-nosso-de-
cada-dia/. Acesso em: 14 de out. 2021.

SILVA, Camila Rodrigues. População carcerária diminui, mas Brasil ainda registra
superlotação nos presídios em meio a pandemia. G1, 17 de maio de 2021. Disponível
em:
<https://g1.globo.com/monitor-da-violencia/noticia/2021/05/17/populacao-carceraria-
diminui-mas-brasil-ainda-registra-superlotacao-nos-presidios-em-meio-a-pandemia.g
html. Acesso em: 14 de out. 2021.

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