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SOCIEDADE DE ENSINO SUPERIOR ESTÁCIO DE SÁ

CURSO DE GRADUAÇÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA

EVILANE SALLES VIDAL PEREIRA

O PAPEL DO PSICÓLOGO PARA


A RESSOCIALIZAÇÃO NO SISTEMA PRISIONAL

Juiz de Fora
2021
EVILANE SALLES VIDAL PEREIRA

O PAPEL DO PSICÓLOGO PARA


A RESSOCIALIZAÇÃO NO SISTEMA PRISIONAL

Artigo apresentado ao Curso de Graduação em


Segurança Pública requisito para obtenção do
título de Graduado.

Orientador: Rafael Dall Agnol

Banca Examinadora:

______________________________________________
Prof. Rafael Dall Agnol
Sociedade de Ensino Superior Estácio de Sá

Juiz de Fora
2021
O PAPEL DO PSICÓLOGO PARA
A RESSOCIALIZAÇÃO NO SISTEMA PRISIONAL1

EVILANE SALLES VIDAL PAREIRA2


RAFAEL DALL AGNOL3

RESUMO

O presente trabalho apresenta a Psicologia no Sistema Prisional, procurando contar a história


da Psicologia dentro do sistema brasileiro, relatando suas dificuldades e transformações para a
ressocialização do apenado. Este trabalho busca como principal objetivo, definir a função do
psicólogo no Sistema Prisional, mostrando a sua rotina de trabalho e qual é a população
atendida por esse profissional.
O método científico, que será usado para desenvolver o presente trabalho é o dedutivo,
porque, de todos os indivíduos privados da liberdade, o que é interessante são os casos onde
há a presença do atendimento psicológico. Quanto ao procedimento de pesquisa será
bibliográfico, realizando um levantamento de referências teóricas de autores influentes na
área, que já foram analisadas e publicadas por meios escritos ou eletrônicos, a abordagem será
qualitativa, não se preocupando com levantamento de dados estatísticos, mas sim, procurando
explicar o que é e o que convêm ser feito no sistema prisional, com a ajuda da psicologia, no
intuito de ressocializar o apenado. O resultado obtido até o presente momento é parcial, uma
vez que a eficácia do tratamento psicológico dos presos varia de acordo com interesse
individual, por mais que o desfecho desejado é de que ao terminar de cumprir a sua pena, o
preso consiga socializar-se novamente, com valores morais e éticos padronizados pela
sociedade.

Palavras-chaves: Sistema Prisional; Psicologia; Ressocialização.


ABSTRACT
The present work presents Psychology in the Prison System, trying to tell the history of
Psychology within the Brazilian system, reporting its difficulties and transformations for the
resocialization of the inmate. The main objective of this work is to define the role of
psychologists in the Prison System, showing their work routine and the population served by
this professional.
The scientific method that will be used to develop this work is the deductive one, because of
all individuals deprived of liberty, what is interesting are the cases where there is the presence
of psychological assistance. As for the research procedure, it will be bibliographical, carrying
out a survey of theoretical references of influential authors in the area, which have already
been analyzed and published by written or electronic means, the approach will be qualitative,
not worrying about collecting statistical data, but rather looking explain what it is and what
should be done in the prison system, with the help of psychology, in order to resocialize the
inmate. The result obtained so far is partial, since the effectiveness of the psychological
treatment of prisoners varies according to individual interest, even though the desired
outcome is that when the prisoner finishes serving his sentence, he will be able to socialize
again, with moral and ethical values ​standardized by society.

Keywords: Prison System; Psychology; Resocialization.

_______________
1 Trabalho apresentado ao Curso de Graduação em Segurança Pública, como requisito
para obtenção do título de Graduado.
2 Acadêmico do Curso de Graduação em Segurança Pública da Sociedade de Ensino Superior
Estácio de Sá. E-mail para contato: evilanesalles@gmail.com
3 Rafael Dall Agnol, Orientador. Professor da Sociedade de Ensino Superior Estácio de
Sá.
INTRODUÇÃO

O sistema penitenciário, tal como ele existe na sociedade capitalista, principalmente


aqui no Brasil, é extremamente cruel, não só porque confina fisicamente o homem, sem que
esse homem possa compreender o problema da liberdade, se não em relação à sua locomoção
física, mas ele anula a subjetividade do sujeito, no sentido de não lhe oferecer nenhuma
possibilidade de racionalização da situação em que se encontra. De acordo com Foucault
(1987) a prisão também se fundamenta pelo papel de “aparelho para transformar os
indivíduos”, servindo desde os primórdios como uma:

[...] detenção legal [...] encarregada de um suplemento


corretivo, ou ainda uma empresa de modificação dos indivíduos que
a privação de liberdade permite fazer funcionar no sistema legal. Em
suma o encarceramento penal, desde o início do século XIX,
recobriu ao mesmo tempo a privação de liberdade e a transformação
técnica dos indivíduos”.

A história do sistema penitenciário no Brasil revela que, desde o início, a prisão foi
local de exclusão social e questão relegada a segundo plano pelas políticas públicas,
importando, consequentemente, a falta de construção ou a edificação inadequada dos edifícios
penitenciários, na maioria das vezes improvisados.
O trabalho dos Psicólogos (as) no sistema prisional é indispensável mas vem sofrendo
modificações no sentido do lugar, do papel e das funções da Psicologia no âmbito da
execução penal, a atuação é voltada para a garantia dos direitos humanos, priorizando a
autonomia do sujeito e procurando fazer com que a Lei de Execução Penal (LEP) seja
efetuada de fato para que se possa ter um resultado satisfatório na ressocialização, esse
trabalho é um grande desafio devido à falta de lugar e material apropriado, ausência de
políticas públicas e de projetos na área de assistência aos presos.
A prisão e sua lógica da segregação, da exclusão, da produção da delinquência e do
apartheid social já foi objeto de discussões e serviu como ponto para a assunção de uma
posição por parte da Psicologia e dos psicólogos (as) com respeito à ineficácia daquela e sua
capacidade de retroalimentação da violência, do crime e da criminalidade.

O efeito perversos e nocivos do encarceramento, prioritariamente dirigido às classes


pobres, aos negros e aos jovens, é hoje razão de preocupação de organismos internacionais, e
também nacionais, que veem neste processo de encarceramento uma justiça seletiva e distante
de qualquer forma de reintegração social ou responsabilização daqueles que sofrem os efeitos
da pena de prisão.

O Conselho Federal de Psicologia (CFP) reconhece as mazelas do sistema prisional


brasileiro e seu fracasso enquanto instituição capaz de funcionar conforme a própria Lei de
Execução Penal (LEP). Esta não é observada, ao contrário é permanentemente descumprida.
Ressalta-se que a inobservância da lei, suas diretrizes, seu caráter, etc., é fonte inesgotável de
sofrimento para os presos, mas também para os operadores do sistema, advogados, psicólogos
(as), assistentes sociais, professores, policiais penais, etc.

Os presídios são lugares inóspitos, inadequados e corruptivos, por isso há uma grande
necessidade de acompanhamento durante e após o cumprimento da pena, tanto é que são
criados centros de atendimento para este público. Estes espaços de atendimento, para melhor
acompanhamento dos usuários, são compostos de equipes multidisciplinares, com
profissionais de diversas áreas, para resolver todas as demandas possíveis que possam
aparecer. Dentro destas equipes multidisciplinares, é de enorme valia o trabalho dos
profissionais da área da Psicologia. Seu trabalho tanto dentro, quanto fora das unidades
prisionais é de extrema importância, pois quem cumpre ou cumpriu pena privativa de
liberdade é passível de sofrer algum dano que pode afetar seu estado psicológico.

Assim sendo, fica evidenciado o papel do Psicólogo no acompanhamento deste sujeito


marginalizado socialmente, para evitar o surgimento de qualquer quadro clínico de ordem
psíquica e para tratar os que os adquiriram, tornando suas vidas o mais normal possível,
dentro de uma estabilidade, para que a tentativa de ressocialização se efetive da forma mais
natural.

ADOECIMENTO E SAÚDE NA PRISÃO

A maioria das Pessoas Privadas de Liberdade (PPL) vieram das classes mais pobres e,
portanto, tiveram pouco acesso a serviços de saúde durante a vida, o autor ressalta fatores
como a superlotação das celas, as deficiências no atendimento prestado pelas equipes de
saúde e a própria arquitetura das prisões como fatores de risco para os prisioneiros. Este autor
conclui que, sem mudanças radicais na forma como são projetadas as prisões e na forma como
são tratadas as PPL, a ideia de uma “saúde penitenciária” permanece uma contradição de
termos. Em outro estudo, Dolan et al. (2016) ressaltam a maior incidência de doenças como o
HIV, a tuberculose, a hepatite C e a hepatite B em prisioneiros de todo o mundo. Os autores
indicam que – para além das condições estruturais das prisões em diferentes países – a
questão do encarceramento de usuários problemáticos de drogas vem crescendo nas últimas
décadas e influenciando negativamente os indicadores de saúde pública nesta população e nas
suas respectivas comunidades e países. É destacada a necessidade do desencarceramento
destes usuários, com o fim de melhorar estes indicadores e tratar dos usuários fora da esfera
penal.

Podemos dizer que os efeitos do encarceramento atingem não apenas as PPL, mas toda
a rede de relacionamentos anterior à prisão, em especial suas famílias. Pereira
(2016) comenta as “narrativas do cansaço” presentes nos relatos de familiares. Estar cansado,
nas entrevistas realizadas, aparece como uma narrativa comum que diz respeito às inúmeras
dificuldades de seguir a vida mantendo os laços familiares do encarcerado. Os laços
familiares aparecem como um importante vínculo das mulheres encarceradas, tendo em vista
que muitas possuem filhos e precisam deixá-los com suas mães ou outros parentes, que, nas
visitas, atualizam a mulher sobre a vida fora da prisão e de alguma forma mantém seu
controle sobre o cuidado dos filhos. Por outro lado, a ausência da mulher-mãe de sua casa em
geral desestabiliza a dinâmica das relações familiares, onde as que ficam responsáveis por
cuidar dos filhos relatam uma sobrecarga de funções, sendo necessário a muitas delas largar o
emprego para poder ajudar a mulher privada de liberdade e seus filhos. O “auxílio-reclusão”,
benefício legal recebido pelas famílias das PPL quando trabalhavam antes da prisão e
contribuíam para o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), dificilmente é recebido pelas
famílias. São inúmeros os relatos de mulheres que buscam, sem sucesso, esse benefício. O
Estado aparece, na representação das mulheres privadas de liberdade e das visitantes, como
aquele que daria soluções (bolsa família, auxílio-reclusão, defensoria pública etc.), mas que,
na prática, apresenta diversos entraves e burocracias que afastam quem mais precisa deles.

Dessa forma delinea-se novas possibilidades de atuação do psicólogo no sistema


prisional, não mais restrito apenas à confecção de laudos e pareceres, mas atento às questões
de ordem subjetiva e à assistência à saúde das PPL durante a execução penal.

SAÚDE PENITENCIÁRIA: DASAFIOS PARA A PRÁTICA PSICOLÓGICA

A prática psicológica se situa no contexto de alguns paradoxos e tensões: castigar ou


“reeducar”, avaliar/examinar ou prestar assistência, cercar de cuidados no espaço de privação
de liberdade, dentre outros. Estes paradoxos fundamentam diferentes perspectivas para a
prática psicológica no sistema prisional. Nesse contexto, assumindo o compromisso ético-
político com a garantia dos direitos humanos e com a redução dos danos dos efeitos do
encarceramento, a pergunta mais óbvia e, ao mesmo tempo, mais difícil de ser respondida é:
como reduzir o sofrimento daqueles que estão mais vulneráveis à violência institucional?
Como promover saúde no sistema prisional? É possível melhorar as condições de vida e de
saúde nas prisões?

Abordar pragmaticamente a saúde em meio carcerário é antes de tudo reconhecer que,


em países onde o sistema de saúde é falho e os recursos financeiros limitados, a prisão
permanece um objeto de engajamento político pouco legítimo. É também admitir que a
promoção da saúde em meio carcerário repousa sobre um paradoxo: ela se apoia na
autonomia num contexto de privação de liberdade. Este reconhecimento prévio à ação se situa
em diferentes escalas: na nacional a nível dos atores políticos; na da prisão, a nível da
população carcerária, dos detentos e dos agentes carcerários. Nos dois casos, melhor que
defender noções universais abstratas e não situadas, trata-se de abrir um espaço possível tendo
por objetivo o reconhecimento da experiência e das imposições dos diferentes atores, para
uma governança real da saúde.

Marcis (2016) afirma a necessidade de que as ações voltadas às PPL se destinem


também aos guardas da prisão. No entanto, apesar do reconhecimento do sofrimento destes
funcionários a muitos dos agravos que as PPL estão expostas, a logística destas intervenções
pode se tornar problemática. “Se por um lado elas [as intervenções] devem ser simultâneas,
não podem se dirigir ao mesmo público ao mesmo tempo. Além disso, elas pressupõem
recursos mais elevados” (Marcis,2016, p.2015). Apesar das dificuldades de serem elaboradas
intervenções que contemplem tanto as PPL quanto os funcionários do cárcere, em especial os
agentes penitenciários, ressaltamos a importância do diálogo e do cuidado com estes
profissionais. Em revisão sobre o estresse no trabalho dos agentes penitenciários, Bezerra,
Assis e Constantino (2016) encontram níveis elevados de estresse e situações de esgotamento
(burnout) em uma grande parte destes trabalhadores, principalmente quando estes se veem
expostos e sem os recursos necessários para exercer seu trabalho, além da tensão existente
entre punir e educar, que atravessa a prática profissional desta categoria.

O diálogo com os diversos atores que convivem no cárcere se configura como


instrumento para o conhecimento e minimização das questões problemáticas ligadas ao
cárcere. A partir da boa resposta obtida pelos agentes de segurança penitenciária a esta
intervenção, os autores concluem que a “descrença, o sentimento de abandono e de
desvalorização dos profissionais que atuam nas unidades pode ser reduzido por um trabalho
que contemple a escuta e a construção conjunta de soluções que possam ser assumidas pelo
grupo” (Diuana et al., 2008, p.1894).

A PSICOLOGIA E A RESSOCIALIZAÇÃO: UMA BREVE DISCUSSÃO

Ressocialização é uma nova socialização do indivíduo, uma nova habituação aos


preceitos, costumes e valores da sociedade. O instituto da ressocialização se dá, de forma
ampla e, sobretudo na abordagem do presente estudo, quando o cidadão é retirado da
sociedade por um lapso temporal significativo, o que ocorre quando é condenado e cumpre
uma pena restritiva de liberdade em regime fechado, pela prática de um delito.

A psicologia necessita investigar todos os fenômenos ligados ao comportamento do


indivíduo que transgride a lei. É importante a verificação do que levou o indivíduo cometer o
ato, quais as circunstâncias em que ele cometeu e seu histórico, como já mencionado, para
que se possa fazer uma elaboração de planos de intervenção, sendo assim, o processo de
reabilitação fica mais fácil de ser atingido e trabalhos preventivos podem ser realizados de
forma mais positiva (SERAFIM, 2003). Porém, é difícil na prática a realização desse trabalho
de análise do indivíduo infrator mencionada como de grande importância, pois de acordo com
Fernandes (2000) o número de profissionais é bem reduzido em relação à demanda existente.

Nos deparamos com pessoas em cumprimento de pena privativa de liberdade com


diagnostico de Alcoolismo, Pedofilia, transtorno Psicótico e Transtorno Antissocial de
Personalidade dentre outros, assim como pessoas que cometeram crime e não apresentam
transtornos de Personalidade algum, e não conseguimos individualizar a pena, o que interfere
de forma a agravar seus sintomas (FERNANDES, 2000).

O termo penitenciária se define como lugar destinado aos indivíduos que já teriam
conhecimento de sua pena e essa seria caracterizada pela reclusão em regime fechado por um
determinado tempo, sendo que este local por lei deveria ter condições essenciais para abrigar
o apenado, determinando condições que não afetam a saúde do mesmo e alojando-os em celas
individuais. Para as mulheres, prevê a inclusão de uma seção para gestantes e uma creche para
o abrigo e assistência aos filhos das mesmas (SAFFI, 2003). Entretanto, a situação real das
penitenciárias no Brasil não está de acordo com o citado, pois “[...] as penitenciárias no país
vêm se tornando cruéis masmorras, onde se encontram pessoas em cumprimento de pena
privativa de liberdade provisórios misturados com condenados, empilhados num espaço físico
mínimo, prevalecendo o mais absoluto caos” (MACHADO, 2009).

Apesar de todas essas colocações a respeito do sistema prisional, Azevedo (2000)


relata um interesse por parte de algumas penitenciárias no Brasil de uma política com o foco
na ressocialização, resgatando o direito de cidadão dos indivíduos apenados, tentando assim
colocar a Lei de Execução Penal (LEP) em prática. O trabalho do psicólogo está totalmente
voltado para o compromisso social e a práticas que possam contribuir para que se faça
cumprir essa Lei de 1984 a partir de intervenções baseadas na prevenção, educação, justiça e
responsabilização dos sujeitos e da sociedade (SILVA, 2007).

Para Azevedo (2000) o trabalho do psicólogo na área dos Direitos Humanos tem como
objetivo defender os mesmos, combatendo as várias formas de exclusões existentes na
sociedade, contribuindo para a cidadania e fazendo com que a sociedade reflita sobre a
violação desses direitos.

Fica evidente a importância do trabalho do psicólogo dentro do sistema prisional,


visando não apenas a subjetividade do indivíduo como também o combate à violação dos
Direitos Humanos. Assim a psicologia tem um trabalho amplo dentro da instituição
carcerária. A atuação do psicólogo dentro do sistema prisional como já dito anteriormente é
bastante abrangente, pois as demandas são muitas. Além de participar das Comissões
Técnicas de Classificação, o psicólogo pode trabalhar junto aos sujeitos que estão cumprindo
pena privativa de liberdade, familiares e comunidade como também dos próprios profissionais
que atuam dentro da instituição.

O trabalho do psicólogo junto às pessoas que estão em cumprimento de pena privativa


de liberdade ajuda os mesmos a perceber o seu papel como cidadão na sociedade, resgatando
neles vários interesses que na maioria das vezes ficaram latentes por muito tempo. Diante
disso, faz com que surja uma possibilidade de mudança em sua vida para que sejam inseridos
na sociedade, posto que muitos dos que estão cumprindo pena dentro da instituição carcerária
já eram excluídos da sociedade de alguma forma e nunca tiveram oportunidade de fazer valer
seu papel como cidadão.

É visível a necessidade do trabalho da psicologia junto aos agentes penitenciários.


Segundo Lopes (2000) os próprios agentes reclamam da falta de atendimento referentes a
eles. “Os agentes se sentem menosprezados em relação aos sentenciados, no entendimento
deles seria o mesmo que dizer que aqueles que cometem crimes merecem mais respeito do
que aqueles que trabalham na prisão”. Em algumas penitenciárias brasileiras isso já ocorre, de
acordo com o Conselho Federal de Psicologia (2009):

“os psicólogos que atuam dentro do sistema prisional


oferecem aos funcionários do presídio atenção psicológica,
realizando orientações, avaliações, entrevistas e se necessário
fazem o encaminhamento aos serviços especializados. Além
dos atendimentos individuais, podem ser realizados trabalhos
em grupo, como palestras, debates entre outros. Como todo
trabalho em grupo, os temas trabalhados podem ser diversos e
a escolha do mesmo surge de acordo com as demandas dos
participantes”.

De acordo com Jesus (2001) a Psicologia é totalmente capaz de realizar um ótimo


trabalho dentro do sistema prisional, seu saber é de suma importância e visivelmente
necessário para atender as diversas demandas existentes dentro do sistema prisional, bem
como fornece o apoio psicológico necessário para as condições que o ambiente exige.

A importância do psicólogo no contexto prisional com uma atuação diferenciada do


que sempre foi historicamente, pois, sabe-se que essa área está exigindo atividades mais
marcantes e mais significantes para a pessoa presa, percebe-se, portanto, a necessidade de um
estudo mais criterioso nas formas de atuação buscando realmente fazer a diferença em todos
os aspectos que lhe forem acometidos, tentando sempre ir além do normal, do simples e do
insignificante trabalhando junto aos familiares de presos para que o egresso do sistema
prisional que se sente parte do núcleo familiar tem mais facilidade para se readaptar na vida
social. Porém não adianta só a família dar apoio, a comunidade precisa também acolher os
egressos, visto que, excluindo o indivíduo, o mesmo não terá chance de mudança, tendo assim
maior probabilidade de reincidir no ato ilegal. Este atendimento aos familiares é de extrema
importância, visto que essas pessoas precisam estar preparadas para o acolhimento do preso
quando este sair da penitenciária, para que eles saibam como dar apoio e como incentivar esse
indivíduo a seguir outro rumo e a começar a escrever uma nova história.

De acordo com Conselho Federal de Psicologia (2009) de modo geral, os profissionais


da Psicologia que atuam no sistema prisional estabelecem uma relação com os detentos que
lhes permitem identificar dificuldades e demandas a serem atendidas e que precisam ser
encaminhadas à rede mais ampla de suporte. Assim, dentre as tarefas citadas pelos
profissionais do campo está a de realizar encaminhamentos das pessoas presas, na maioria das
vezes a outros profissionais e serviços disponíveis na rede de atenção médica, jurídica ou
psicossocial.

É necessária uma atuação multidisciplinar envolvendo áreas sociais e da saúde para


um trabalho eficaz e menos acumulativo. Ao que foi relatado fica evidente o quão
indispensável é a atuação do psicólogo no sistema prisional brasileiro.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Psicologia foi inserida oficialmente no sistema prisional brasileiro para


instrumentalizar o princípio da individualização das penas na Lei de Execuções Penais de
1984, participando das equipes de saúde penitenciária apenas em 2003 com a promulgação do
Plano Nacional de Saúde no Sistema Penitenciário (PNSSP).

Podemos afirmar que o sistema prisional brasileiro é precário, o modelo deve ser
repensado. É indispensável o trabalho do psicólogo dentro do sistema prisional tendo em vista
que sua atuação é totalmente voltada para a garantia dos direitos humanos, procurando fazer
com que a Lei de Execução Penal seja cumprida de fato para que se possa ter um resultado
satisfatório.

A Psicologia, enquanto ciência e profissão voltada para a garantia de direitos e para a


promoção da saúde, pode contribuir para a melhoria das condições de vida nos cárceres
brasileiros, criando estratégias de escuta das PPL que buscarem este serviço, práticas grupais
ou ações voltadas para a promoção de saúde que envolvam outros atores dentro ou fora do
sistema prisional, como por exemplo, profissionais que desenvolvam atividades artísticas e
culturais, uma vez que a arte e a cultura podem ser ferramentas potentes para a produção de
uma subjetividade que leve em conta a valorização da vida e não da morte. Para tanto, é
imprescindível que a categoria reavalie constantemente e de forma crítica sua própria atuação
e seus pressupostos teórico-práticos, sob o risco constante de legitimar práticas punitivas
desumanas que nada contribuem para a “reinserção social” ou para a prevenção de novos
delitos, retroalimentando o ciclo da violência que perpassa nossa sociedade. As PPL não são
sujeitos completamente afastados do convívio social, tendo em vista que recebem visitas de
companheiros afetivos, filhos e amigos, além do contato com os funcionários do cárcere e
voltarão, em algum momento, ao convívio social. Dessa forma, os diversos problemas de
saúde que acometem a população carcerária devem ser considerados urgências humanitárias e
prioridades da saúde pública, tendo em vista o risco de adoecimento e, no limite, de morte a
que está submetida a população carcerária brasileira.

A partir da constatação dos efeitos perversos do encarceramento, aliados às péssimas


condições do sistema prisional brasileiro, o papel do psicólogo é o de contribuir para a
promoção de saúde neste ambiente, colocando teoria e práxis a serviço daqueles que são
atingidos de forma mais contundente pela violência. Como demonstrado pela análise da
literatura da área da saúde penitenciária, mesmo com recursos limitados é possível formular
intervenções que contribuam para a redução dos agravos à saúde física e mental das PPL e
dos funcionários do cárcere.

Para o psicólogo, trabalhar com as pessoas que estão cumprindo pena privativa de
liberdade não é o mesmo que "enxugar gelo" como muitos dizem, é um trabalho que visa não
só o bem-estar dessas pessoas que se encontram encarceradas, mas o bem-estar da sociedade
como um todo. O trabalho realizado por uma equipe multiprofissional na qual o psicólogo
está inserido, é de suma importância no que se refere a tentativa de mudar os conceitos e
preconceitos existentes dentro e fora do sistema prisional, dando ênfase no trabalho de
readaptação das pessoas que cumprem pena privativa de liberdade. Muitas pessoas, que
acham que segregar e excluir esses indivíduos que cometem atos ilegais é a melhor solução,
esquecem que um dia esses mesmos indivíduos irão voltar a fazer parte do convívio social que
a elas pertencem.

É necessário que haja uma melhora na infraestrutura das cadeias e também uma
preparação para os profissionais que estão inseridos nesse contexto, existem diversas
maneiras de melhorar esse sistema, o que falta para que isso aconteça é uma conscientização
das políticas públicas, para que se perceba a necessidade de oportunizar uma qualidade de
vida melhor para essas pessoas que apesar de estarem nesse contexto, precisam ter os seus
direitos preservados. Como preconiza o Código de Ética Profissional do Psicólogo (Conselho
Federal de Psicologia, 2005), nossas práticas devem estar comprometidas com a defesa
intransigente dos direitos humanos, baseando nosso trabalho no respeito e na promoção da
liberdade, da dignidade, da igualdade e da integridade do ser humano. Cabe a nós, psicólogos,
contribuir para a promoção da saúde e da qualidade de vida das pessoas e das coletividades
em todos os espaços de trabalho, inclusive nas prisões.
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