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FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS APLICADAS

DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA

A PSICOLOGIA JURÍDICA NO SISTEMA PRISIONAL

FERNANDA KELLY SOUZA*

CAMPO MOURÃO

2023
*Acadêmica do curso de Psicologia
RESUMO

Este artigo tem como objetivo principal apresentar e discutir ideias sobre a Psicologia Jurídica no Sistema
Prisional e sua história, e a seguir apresentar os campos de atuação e as dificuldades enfrentadas pelos
psicólogos dentro do sistema prisional, visando buscar soluções de enfrentamento para as necessidades da
comunidade carcerária Brasileira, reduzindo a reincidência e promovendo a saúde mental dos detentos.

Palavras chave: Comunidade Carcerária; Reincidência; Avaliação Psicológica. Saúde Mental.


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ABSTRACT

This article's main objective is to present and discuss ideas about Legal Psychology in the Prison System
and its history, and then to present the fields of activity and the difficulties faced by psychologists within
the prison system, aiming to seek solutions to address the needs of the community. Brazilian prison,
reducing recidivism and promoting the mental health of inmates.

Keywords: Prison Community; Recidivism;Psychological Assessment;Mental Health;


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1 - INTRODUÇÃO

O primeiro contato da Psicologia com o direito ocorreu no final do século XIX,


surgindo o que se denominou de “Psicologia do Testemunho”, tinha como objetivo
verificar através do estudo experimental dos processos psicológicos a fidedignidade do
relato do sujeito envolvido em um processo jurídico.

Esse contato foi marcado por uma trágica aliança reforçadora dos danos, das
dores e dos enganos provocados pelas nocivas ideias de punição, privação da liberdade,
estigmatização e exclusão como punição para os comportamentos etiquetados como
“crime”.

A Psicologia Jurídica no Sistema Prisional no Sistema Prisional tem sido objeto


de estudo e pesquisa ao longo das décadas. A partir do século XX, houve um interesse
crescente em compreender os fatores psicológicos que influenciam o comportamento
criminoso e desenvolver estratégias eficazes para lidar com os desafios do sistema
prisional.

Na década de 1920 surgiram os primeiros testes psicológicos para avaliar a


personalidade e as habilidades dos detentos. Essas avaliações ajudaram a informar as
decisões judiciais e as intervenções terapêuticas nos presídios.

Em 1950 a Psicologia Jurídica começou a se expandir para além da avaliação


psicológica, com um maior foco na compreensão dos fatores que contribuem para o
comportamento criminoso e a reincidência. Estudos sobre a delinquência juvenil e a
influência do ambiente social ganharam destaque nesse período.

No ano de 1970 com o movimento de direitos civis e a crítica ao sistema penal, a


Psicologia Jurídica passou a se preocupar mais com a justiça social e a garantia dos
direitos dos detentos. Surgiram abordagens mais humanísticas e terapêuticas, buscando
promover a reabilitação e a ressocialização dos presos.

Já em 1980 aumentou o interesse em abordagens baseadas em evidencias na


Psicologia Jurídica, com o objetivo de desenvolver intervenções mais eficazes para
reduzir a reincidência e melhorar os resultados no sistema prisional. Nessa época os
estudos sobre tratamento de abuso de substâncias, violência doméstica e saúde mental
dos detentos ganharam destaque, “a criação da Lei de Execução Penal (LEP), em 1984,
foi um marco no trabalho dos psicólogos no Sistema prisional, pois a partir dela o cargo
de psicólogo passou a existir oficialmente (Carvalho, 2004).”

Na década de 2000 a Psicologia Jurídica no sistema penal continua a evoluir,


com uma maior ênfase na prevenção da reincidência, na gestão do risco e na promoção
da justiça restaurativa. Há também uma crescente preocupação com questões como
superlotação carcerária, saúde mental dos detentos e impacto das políticas penais.

2 - METODOLOGIA

O presente projeto foi uma revisão literária com o objetivo de verificar a


convergência e eficácia da psicologia jurídica no sistema prisional, por meio de uma
amostragem seleta de autores relevantes a discussão da matéria ao considerar o seu
número de citações nos trabalhos correlacionados as palavras-chaves, tal como atestar
seu desenvolvimento ao longo do último século.

A pesquisa dos autores se deu a parir da análise do períodico CAPES e SciElo.

3 – RESULTADOS E DISCUSSÕES

A atuação do psicólogo jurídico no sistema prisional é fundamental para


promover a justiça, a segurança e o bem-estar dos detentos. Esse profissional pode
desempenhar uma variedade de funções, desde a avaliação psicológica até a intervenção
terapêutica e a pesquisa sobre a dinâmica prisional.

O psicólogo jurídico pode realizar avaliações psicológicas dos detentos,


identificando suas necessidades de tratamento e fatores de risco para a reincidência
criminal. Essa avaliação pode ajudar a informar as intervenções terapêuticas e medidas
de segurança aplicadas nos presídios. O principal teste utilizado na avaliação
psicológica dos detentos chama-se Palografico, (também conhecido como teste dos
pauzinhos) foi desenvolvido na Espanha, por Salvador Escala Milá. Essa avaliação
psicológica só chegou ao Brasil anos depois, já na década de 1970, tendo Agostinho
Minicucci como um de seus principais disseminadores.

O psicólogo pode desenvolver e implementar intervenções terapêuticas baseadas


em evidências para tratar problemas de saúde mental e comportamento criminoso nos
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detentos. Essas intervenções podem ajudar a reduzir a reincidência e melhorar o bem-


estar dos detentos.

O profissional é responsável também por fornecer treinamento e orientação para


outros profissionais que trabalham no sistema prisional, como agentes penitenciários e
assistentes sociais. Esse treinamento pode ajudar a garantir que todos os profissionais
envolvidos na administração do presídio tenham uma compreensão sólida da dinâmica
prisional e das questões legais e éticas envolvidas.

O profissional está apto a realizar pesquisas científicas para entender melhor os


fatores que contribuem para o comportamento criminoso e desenvolver estratégias mais
eficazes de intervenção, além disso, contribui também para o desenvolvimento de
políticas públicas que promovam a justiça e o bem-estar dos detentos.

É responsável por promover a prevenção ao suicídio, identificar e intervir em


casos de risco de suicídio, implementando estratégias de prevenção adequadas,
desenvolver programas de reabilitação e reinserção social para preparar os detentos para
uma vida produtiva após a liberação, facilitar a resolução de conflitos entre detentos e
funcionários do sistema prisional e oferecer suporte psicológico e orientação aos
familiares dos detentos.

No Brasil, o número total de custodiados é de 644.794 em celas físicas e 190.080


em prisão domiciliar referentes a junho de 2023. Os presos em celas físicas são aqueles
que, independentemente de saídas para trabalhar e estudar, dormem no estabelecimento
prisional. No continente americano, o Brasil perde apenas para os Estados Unidos em
números absolutos.

As prisões brasileiras são marcadas por um conjunto de carências de natureza


estrutural e processual que afetam de forma direta os resultados produzidos em relação à
pretendida ressocialização dos reclusos e à sua saúde. Estudos mostram que aspectos
como ócio, superlotação, pouca quantidade de profissionais dedicados à saúde, ao
serviço social e à educação, além de arquitetura precária e ambiente insalubre,
alimentam o estigma e atuam como potencializadores de diferentes iniquidades e
enfermidades.
Sintomas depressivos entre pessoas presas é tema frequentemente investigado.
Refere-se ao humor persistentemente deprimido, à perda de interesse e alegria e
reduzida energia, que levam ao aumento da fadiga e à atividade diminuída. Um estudo
aponta que 22,9% dos homens e 33,1% das mulheres presas na Paraíba, utilizando
escala de rastreamento, apresentam depressão de moderada a grave; em estágio grave
estão 10,5% dos homens e 17,2% das mulheres13. Os autores encontraram percentuais
mais elevados de novatos nas prisões com graus moderado e grave de depressão e muito
mais pessoas com grau leve entre apenados antigos, sugerindo a adaptação ao meio, a
partir da diminuição de sintomas relatados pelos que estão há mais tempo na prisão.
Mulheres presas do Sul do Brasil, avaliadas para depressão, evidenciaram a prevalência
de 48,7% de depressão grave.

Em âmbito nacional, a Constituição da República Federativa Nacional de 1988,


baseada nas ideias democráticas da Declaração Universal dos Direitos Humanos, trouxe
em sua redação a saúde como direito de todos e dever do Estado, e defende a dignidade,
liberdade e igualdade para todos os cidadãos (BRASIL, 1988). O direito à saúde do
detento também é amparado pela lei de Execução Penal (Lei 7.210), que prevê o direito
à saúde como uma obrigação do Estado (BRASIL, 1984). Há ainda outros instrumentos
legais de iniciativa dos ministérios da Saúde e da Justiça, através de Portarias
Interministeriais, que buscam prover a atenção integral à saúde da população prisional.

Segundo a Lei de Execução Penal em seus artigos 12 e 14 o preso ou internado,


terá assistência material, em se tratando de higiene, a instalações higiênicas e acesso a
atendimento médico, farmacêutico e odontológico. No entanto, a realidade atual não é
bem assim, pois muitos dos presos estão submetidos a péssimas condições de higiene.

Ressaltando-se que as condições higiênicas em muitos estabelecimentos


prisionais são precárias e deficientes, além do acompanhamento médico inexistir em
alguns presídios.

Gail Caputo e James McGuire são dois importantes pesquisadores e


profissionais da Psicologia Jurídica que têm contribuído para o campo da psicologia no
sistema prisional. Embora tenham abordagens e perspectivas diferentes, ambos têm se
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dedicado a compreender e intervir nos aspectos psicológicos relacionados ao sistema


prisional.

Gail Caputo enfatiza a importância da avaliação psicológica e das intervenções


baseadas em evidências no sistema prisional. Ela argumenta que a Psicologia Jurídica
pode ajudar a promover a justiça, a segurança e o bem-estar dos detentos. Caputo
destaca a necessidade de treinamento adequado para os profissionais que atuam nesse
contexto, além de ressaltar a importância da promoção da justiça e do respeito aos
direitos humanos dos presos.

Por outro lado, James McGuire tem se concentrado na avaliação e tratamento de


problemas específicos, como a violência e a reincidência criminal. McGuire defende
uma abordagem baseada em evidências para a intervenção psicológica no sistema
prisional, buscando identificar estratégias eficazes para reduzir o comportamento
criminoso e promover a reintegração social dos detentos.

Embora suas abordagens possam diferir em alguns aspectos, tanto Caputo


quanto McGuire compartilham o objetivo comum de melhorar o sistema prisional por
meio da aplicação dos princípios e práticas da Psicologia Jurídica. Suas contribuições
têm ajudado a ampliar o conhecimento sobre os fatores psicológicos que influenciam o
comportamento criminoso, bem como a desenvolver intervenções mais eficazes para
melhorar a vida dos detentos e reduzir a reincidência.
4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conclui-se com base nas informações apresentadas neste artigo a extrema


importância e necessidade do Profissional em Psicologia no âmbito Prisional. O
psicólogo estando presente visa garantir os direitos humanos dos detentos, tencionando
assim diminuir os números de reincidência e suicídios dentro do presídio, considerando
que a grade maioria da população carcerária é composta por pessoas pobres e que nunca
tiveram acesso ao sistema básico de saúde física e mental, que precisam deste apoio
psicológico.
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REFERÊNCIAS

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