Você está na página 1de 6

CENTRO UNIVERSITÁRIO GERALDO DI BIASE

FUNDAÇÃO EDUCACIONAL ROSEMAR PIMENTEL


CURSO DE GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
PSICOLOGIA SOCIAL

A SUBJETIVIDADE DO ENCARCERADO E A INEFICÁCIA


DO SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO

Elisa Guarnieri Borges Lamas


Matheus Magalhães Júdice
Mylena Marques Bergone
Pedro Henrique Campos de Souza
Vitória Isabelly Finoti de Oliveira

VOLTA REDONDA
2022
1. Introdução:

O presente trabalho tem como objetivo a análise do artigo “A Subjetividade do


Encarcerado, um Desafio para a Psicologia”, de autoria de Maria da Glória Caxito
Mameluque, publicado pela Faculdade Integradas Pitágoras de Montes, no ano de
2006.
O artigo em questão foi elaborado a partir dos métodos de pesquisa quantitativos
e qualitativos, consistentes na análise de dados e fatos sócio-históricos e
conceituações filosóficas de autores como Michel Foucault.
A escolha se justificou em razão do artigo abordar o tema sobre a ineficácia do
sistema prisional brasileiro, que afeta diretamente toda a sociedade, causando
prejuízos de ordem moral, econômica, social e psicológica, bem como demonstrar a
necessidade de análise da subjetividade do encarcerado e da importância da
atuação do psicólogo no referido sistema como ferramenta de transformação, além
de trazer informações históricas sobre a evolução do sistema penitenciário.
Não obstante tratar-se de artigo publicado há mais de 15 (quinze) anos, as
informações lá inseridas se enquadram no contexto atual, principalmente em razão
do pouco ou até mesmo nenhum avanço na área em questão, o que reforça a
necessidade e a importância de abordagem do tema.
A título de complementação, serão empregados dados veiculados sobre o
aumento da criminalidade e a alta taxa de reincidência, que demonstram que
estamos diante de um sistema prisional falido, o qual não cumpre especialmente o
seu papel ressocializador.

2. Desenvolvimento:

2.1. A subjetividade e do encarceramento:

O artigo começa introduzindo o conceito de subjetividade, que pode ser


compreendido como sendo a síntese das singularidades biológicas e das vivências
socioculturais capazes de identificar o sujeito; paradoxalmente, aponta que a vida
em sociedade, inclusive a interferência estatal, nos igualam.
A subjetividade, conforme explicado por Bock, Furtado e Teixeira, apud França,
“[...] é o mundo de idéias, significados e emoções construído internamente pelo
sujeito a partir de suas relações sociais, de suas vivências e de sua constituição
biológica; é, também, fonte de suas manifestações afetivas e comportamentais.”
Na sequência, aborda estudos realizados por Foucault, o qual descreve a
abertura do sistema carcerário, a partir de 1840, como um processo de
transformação mediante a inauguração da Prisão Colônia de Paris - Mettray. O
filósofo faz um comparativo de como o sistema era estritamente punitivo, relatando
o caso de Damiens que, em 1757, recebeu a seguinte condenação: “[...] será
atenazado, aplicar-se-ão chumbo derretido, óleo fervente, piche em fogo, cera e
enxofre derretidos conjuntamente, e, a seguir, seu corpo será puxado e
desmembrado por quatro cavalos e seus membros e corpo consumidos ao fogo,
reduzidos a cinzas...”
Segundo Foucault, as práticas de punição normalizada antes da abertura de
Mettray eram físicas e extremamente bárbaras, as quais se cumpriam perante
costumes religiosos e ordens dadas por oficiais importantes da época. Com a
criação das penitenciárias, surge então a ideia de educar aliada à punição.
No Brasil, a partir de 1890, com a instituição do novo Código Penal, o sistema
carcerário começou a passar por grandes transformações. Com as modificações
das leis e políticas voltadas para os direitos humanos, os encarcerados passaram a
ter penas privativas de liberdade. No entanto, apesar das novas legislações
abolirem as práticas de punições físicas, a utilização da pena privativa de liberdade
como o maior recurso de segurança e combate à criminalidade não impediu o seu
avanço e desencadeou a degradação do sistema penitenciário.

2.2. A ineficácia do sistema carcerário brasileiro:

O sistema carcerário brasileiro é constantemente tema de discussões,


principalmente em razão da sua ineficácia no tocante ao papel ressocializador.
Segundo a autora, a modificação de leis, acréscimo de penas e construção de
penitenciárias, por si só, não são capazes de impedir o avanço da criminalidade,
que precisa ser tratada na origem.
As penitenciárias e cadeias públicas do nosso país sofrem com problemas
estruturais de superlotação, precariedade de recursos, ausência de políticas
educacionais e de acesso à saúde, dentre outros, que acabam fomentando a
violência e revolta dos encarcerados.
Os altos números de reincidência criminal, ou seja, de indivíduos que retornaram
ao sistema carcerário após primeira condenação, são a maior prova da ineficácia do
sistema.
Tanto o artigo base, como na recente cartilha veiculada pelo Conselho Nacional
de Justiça “Reentrada e Reiterações Infracionais - Um olhar Sobre os Sistemas
Socioeducativo e Prisional Brasileiros”, é possível verificar que a reincidência
criminal assola grande parte dos encarcerados.
Logo, é possível concluir que a privação da liberdade, por si só, não vem sendo
suficiente para impedir o avanço da criminalidade e ressocializar o encarcerado,
reforçando a tese da necessidade de se buscar tratar a raiz do problema.
Quando do lançamento da referida cartilha, o à época presidente do Supremo
Tribunal Federal, Ministro Dias Toffoli, afirmou: “Não há caminho para a superação
do ‘estado de coisas inconstitucional’ do sistema prisional senão pela compreensão
do caráter estrutural da crise que enfrentamos. Só seremos capazes de promover
mudanças efetivas quando as soluções forem capazes de atacar as raízes dos
nossos problemas”.
Além da reincidência, os dados contidos no artigo, oriundos de uma pesquisa
realizada em 1972, com os encarcerados da penitenciária de São José dos
Campos/SP, indicam que grande parte dos presos também são analfabetos ou
semi-analfabetos e não possuem uma profissão bem definida, demonstrando que a
causa dos crimes provém de uma família desestruturada. Neste ponto, incluímos
também a ineficiência do Estado no tocante à oferta de políticas públicas nas áreas
social, educacional e de saúde, por exemplo, como causa da criminalidade.

2.3. A subjetividade do encarcerado como um desafio para a psicologia:

Diante da conclusão de que o sistema carcerário brasileiro não vem favorecendo


a ressocialização e a recuperação do ser humano, a autora nos traz a reflexão
sobre a necessidade de analisarmos a subjetividade do sujeito encarcerado, pois
somente com o seu fortalecimento é capaz de atingirmos a transformação.
Neste cenário, foi também ressaltada a importância da atuação dos psicólogos no
referido sistema, que ainda é precária e cheia de limitações, além de apresentada
uma crítica sobre a carência de estudos e pesquisas na área.

3. Conclusão:

A partir da análise do artigo, que abordou tema de grande relevância social, foi
possível compreender a importância da psicologia como ferramenta de
transformação do sistema carcerário brasileiro, tendo como premissa,
especialmente, a análise da subjetividade do sujeito e a adoção de medidas além
daquelas estritamente jurídicas relacionadas ao âmbito punitivo. Isso porque a
privação da liberdade, por si só, ainda mais no contexto de extrema precariedade,
não vem cumprindo o seu papel ressocializador e impedindo o aumento da
criminalidade.

4. Referências:

MAMELUQUE, Maria da Glória Caxito. A Subjetividade do Encarcerado, um


Desafio para a Psicologia. Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros -
MG. Psicologia, Ciência e Profissão. 2006. Disponível em:
<https://www.scielo.br/j/pcp/a/dqZR7SG9fYMnN8PDNZQd8fm/?lang=pt>

BRASIL. Conselho Nacional de Justiça. Reentradas e Reiterações Infracionais -


Um olhar sobre os sistemas socioeducativo e prisional brasileiros. Brasília:
CNJ, 2019. Disponível em:
<https://www.cnj.jus.br/wp-content/uploads/2020/03/Panorama-das-Reentradas-no-S
istema-Socioeducativo.pdf>

ANGELO, Tiago. Taxa de retorno ao sistema prisional entre adultos é de 42%,


aponta pesquisa. CONJUR, 2020. Acesso em 22 de maio de 2022. Disponível em:
<https://www.conjur.com.br/2020-mar-03/42-adultos-retornam-sistema-prisional-apo
nta-pesquisa#:~:text=De%20acordo%20com%20o%20levantamento,com%2C%209
%2C5%25.>

Você também pode gostar