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O sistema penal e a ressocialização do preso no Brasil

Eleones Rodrigues Monteiro Filho


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A prisão é uma forma desumana de destituir o indivíduo de sua
personalidade e de seus referenciais familiares e de
comunidade e de estigmatizá-lo negativamente perante o meio
social, e simples ações de cunho humanitário não satisfazem ao
ideal ressocializador.
RESUMO: Muito se discute a eficácia dos métodos de ressocialização
aplicados nos complexos penitenciários brasileiros, e o sistema prisional de
não está imune a esse questionamento. Em parceria com entidades privadas,
como associações comunitárias, Organizações Não Governamentais (ONGs),
empresas e setores da Igreja, o poder público enceta campanhas de
conscientização e implementa atividades na área de educação, trabalho e
cultura no sentido de readaptar o preso para seu retorno à sociedade. No
entanto, os resultados decorrentes das práticas ressocializadoras não
condizem com as expectativas geradas pela legislação de execução penal,
porquanto o crescimento do contingente carcerário, a superlotação, a
reincidência criminal, o próprio crivo da estigmatização e o repúdio da
sociedade tornam inócuas as pretensas iniciativas ressocializadoras. Sem
contar o parco engajamento do poder público nesse sentido, bem como a
postulação da criminologia crítica segundo a qual o discurso da
ressocialização não passa de retórica oficial para cumprir a pauta ideológica
de direitos humanos. A gestão prisional também se insere nesse contexto de
baixa expectativa das políticas e métodos de ressocialização. Assim, com
essas considerações, o presente artigo objetiva verificar como se dá o
processo de ressocialização de detentos em execução penal no Brasil. E
objetivos específicos como: explicar o que vem a ser Execução Penal;
analisar a ressocialização do detento para readaptação ao meio social e
apresentar os prós e os contras do trabalho de reintegração e suas
consequências. A metodologia de pesquisa utilizou estudo bibliográfico com
apoio de artigos científicos e reportagens. Quanto à fundamentação, o
estudo recorreu a postulados de teóricos que lidam com a questão penal,
como Baratta (2011), Bitencourt (2011), Mirabete (2008), Porto (2007), Paim
(2005), Beccaria (2008) entre outros. O resultado da pesquisa demonstrou as
diretrizes legais e políticas, assim como intervenções públicas e privadas na
prática de ressocialização, porém em ações pontuais. O estudo concluiu que,
apesar da legislação de execução penal orientar todo um processo
ressocializador e de iniciativas de instituições da sociedade civil e do poder
público, a eficácia dos métodos de ressocialização do sistema prisional de
Salvador, assim como do Brasil, não conseguem atingir os objetivos
almejados.

Palavras-chave: Direito Penal. Pena de Prisão. Ressocialização. Métodos de


ressocialização.
1 INTRODUÇÃO
O sistema punitivo já nasceu com o homem, apesar dos
contrastes segmentados no decorrer da história da humanidade. No
âmbito das políticas penitenciárias, a ressocialização é um dos temas
mais recorrentes, visto que trata da reinserção do preso na sociedade
após o cumprimento da pena. A questão maior gira em torno do apoio
da sociedade ao processo ressocializador e do acolhimento solidário
e integral do preso para o restabelecimento de direitos e das relações
sociais.

O princípio da pena de prisão tem finalidade apenas punitiva,


ficando a finalidade integradora a cargo de ações coordenadas pelos
agentes sociais, como Estado, família e sociedade, objetivando não
só a recuperação individual do preso, mas sua reinserção articulada
na sociedade, e a ressocialização constitui o principal instrumento
reeducativo do preso para o retorno à vida social (BITENCOURT,
2011).

No âmbito das políticas penitenciárias, a ressocialização é um


dos temas mais recorrentes, visto que trata da reinserção do preso na
sociedade após o cumprimento da pena. A questão maior gira em
torno do apoio da sociedade ao processo ressocializador e do
acolhimento solidário e integral do preso para o restabelecimento de
direitos e das relações sociais.

No entanto, a realidade do sistema penitenciário nacional tem


revelado um cenário desolador. No curso do cumprimento da
sentença, o preso é submetido a toda sorte de castigos que o próprio
sistema carcerário impõe, como superlotação das prisões,
promiscuidade sexual, proliferação de doenças, alta incidência
criminal e quase nenhuma perspectiva de vida social digna no período
pós pena.

Diariamente se veem na mídia nacional motins, desordens e


caos como resposta dos presidiários à situação à que estão
submetidos: descaso das políticas penitenciárias tanto no
acompanhamento processual quanto na aplicação de medidas e
métodos ressocializadores conferidos em lei.

Nos presídios do Brasil, as políticas de ressocialização


alinham-se às nacionais, reproduzindo a ineficácia metodológica na
condução do processo ressocializador, em nível local. Assim, os
resultados não correspondem às expectativas da lei nem de
postulações teóricas. Afinal, é realmente possível aferir eficácia nos
métodos de ressocialização no sistema prisional soteropolitano?
A motivação para a escolha deste tema se fundamentou no
interesse de analisar uma questão melindrosa e eivada de múltiplos
fatores tal a ideia ressocializadora. Até porque se trata de assunto
que diz respeito a toda a sociedade, o que subentende a compreensão
de todos para discutir e encontrar alternativas para concretizar as
políticas de ressocialização.como determina a lei.

Com esse enfoque, o presente artigo objetiva verificar como se


dá o processo de ressocialização de detentos em execução penal no
Brasil. E objetivos específicos como: explicar o que vem a ser
Execução Penal; analisar a ressocialização do detento para
readaptação ao meio social e apresentar os prós e os contras do
trabalho de reintegração e suas consequências.

A metodologia de pesquisa utilizou estudo bibliográfico com


apoio de artigos científicos e reportagens. Quanto à fundamentação,
o estudo recorreu a postulados de teóricos que lidam com a questão
penal, como Baratta (2011), Bitencourt (2011), Mirabete (2008), Porto
(2007), Paim (2005), Beccaria (2008) entre outros.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 PENA DE PRISÃO: EVOLUÇÃO HISTÓRICA

A noção de pena remonta aos tempos dos primeiros esboços


normativos das sociedades, tal como já visto neste trabalho, como o
Código de Hamurabi, na Babilônia, o Código de Manu, na Índia, e a Lei
das XII Tábuas romana, somente para citar os mais conhecidos.

Na verdade, não se pode precisar em que período histórico a


pena passou a viger, mesmo porque nas primeiras organizações
sociais não havia legislação sistematizada, orgânica, e o que
predominava eram imputações de castigo com base em normas
habituais. A origem da pena mantém um contato estreito com a ideia
de prisão.

Nos primeiros códigos normativos das sociedades não havia a


prisão como recurso privativo de liberdade para o cumprimento de
pena, já que as cominações penais variavam de pena de morte,
castigos físicos, ou, a infâmia, e o espaço físico prisional tinha função
de custodiar o preso até o momento da execução da sentença,
portanto, sem presunção de ideia de cárcere permanente
(BITENCOURT, 2011).
Considerando as fases históricas, Bittencourt (2011) faz
comentários sobre a relação pena e prisão:

A Antiguidade desconheceu totalmente a privação de liberdade,


estritamente considerada como sanção penal. Embora seja inegável
que o encarceramento de delinquentes existiu desde tempos
imemoriais, não tinha caráter de pena e repousava em outras razões.

Assim, pode-se depreender que não havia nenhuma


preocupação em ressocializar o condenado na comunidade,
porquanto as penalizações quase sempre representavam castigos
físicos, ou sua eliminação sumária. Na Idade Média, a prisão
permanece como lugar de guarda do prisioneiro para execução da
pena. A privação da liberdade continua a ter uma finalidade custodial,
aplicável àqueles que foram submetidos aos mais terríveis tormentos
exigidos por um povo ávido de distrações bárbaras e sangrentas.

Apesar de manter a prisão como guarda temporária de


condenados, a Idade Média marcou as primeiras experiências de
prisões como reduto de privação de liberdade e cumprimento de pena,
embora essas prisões não contivessem as características específicas
de espaços prisionais, pois, destinavam-se temporariamente aos
inimigos do Estado, da Igreja e a réus senhoriais, como exemplo
citem-se a Torre de Londres, a Bastilha de Paris, Los Plomos, na
Espanha, porões e calabouços dos palácios (PORTO, 2007).

As pesquisas de Bittencourt (2011) apontam que durante os


séculos XVI e XVII um estado de aguda pobreza se abate sobre a
Europa. Legiões de miseráveis passam a delinquir em busca de
sobrevivência, e os atos infracionais se avolumavam em números
exponenciais.

Realizam-se condenações sumárias, mas por a delinquência


ser tão intensa e por se perceber que a miséria era aspecto
fomentador desta, reduziram-se as execuções. Assim, na segunda
metade do século XVI, iniciou-se um movimento para se instituir a
pena privativa de liberdade, com a construção de prisões preparadas
para a correção dos condenados.

Com essa medida, floresce a ideia de ressocialização do


apenado, embora nascesse em um contexto ainda eivado de castigos
severos e penas capitais. Ainda pelo mesmo autor, as políticas
sociais utilizavam como método a violência e como técnica de
correção o açoite, o desterro e a execução.

Mais adiante, apesar de mudanças nas condições


socioeconômicas, manteve-se o rigor penal para combater a
criminalidade que permanecia elevada, porém com a mentalidade de
reabilitação do preso através de instituições próprias. “Para fazer
frente ao fenômeno sociocriminal, que preocupava as pequenas
minorias e as cidades, dispuseram-se elas mesmas a defender-se,
criando instituições de correção (grifo do autor) de grande valor
histórico penitenciário” (GOMES, 2009).

Essas instituições (prisões) operavam sob a crença de que


uma metodologia focada no trabalho e numa rígida disciplina seria
suficiente para a reabilitação do condenado. Assim, a ideia de
ressocialização dava os primeiros passos, na busca da recuperação
do presidiário, e a tendência da pena privativa de liberdade tomava
corpo, embora permanecessem critérios bastante severos na
condenação, na aplicação da pena e na disciplina do sentenciado.

Quanto à eficácia dessa política penitenciária, com enfoque


ressocializador, não se guardam dados consistentes. Porém, segundo
Bittencourt (2011, p.15), “essa experiência deve ter alcançado
notável êxito, já que em pouco tempo surgiram em vários lugares da
Inglaterra houses of correction ou bridwells, como eram denominadas
indistintamente”.

Também na Inglaterra, nessa mesma linha de atuação, fundam-


se as workhouses, casas de correção que tinham o trabalho como
fundamento, outro referencial histórico da atividade laboral como
método auxiliar na reabilitação do preso.

Em Amsterdã, final do século XVI, surgem as casas de


correção para homens, as Rasphuis, e as Spinhis para mulheres, além
de lugares especiais para jovens. Essas instituições corretivas
destinavam a infratores de pequenos delitos. Aqueles de infrações
mais graves permaneciam submetidos a outras penas, como o exílio,
açoite, pelourinho, entre outros (WOLKMER, 2011).

Ainda na mesma obra, Bittencourt (2011) explica que, a partir


dessas primeiras experiências, as casas de correção espalharam-se
por toda a Europa, alcançando seu auge na segunda metade do
século XVII.

No Século XVII a prisão tornara-se, no século passado, a


principal resposta às questões penalógicas. Adentrou-se o século
XVIII acreditando-se que a prisão poderia resolver as finalidades da
execução penal incluindo a reabilitação do preso. Ou seja, o
componente ressocializador já se consolidara no âmago da pena de
prisão no sentido da reabilitação do sentenciado, embora, como já
dito, ainda eivado de violência e crueldade.

Entretanto, a partir do século XIX, o instrumento da para pena


privativa de liberdade entra em crise, e outros meios para substituí-lo
são necessários, já que os existentes não encontravam respostas.
Com essa medida, floresce a ideia de ressocialização do apenado,
embora nascesse em um contexto ainda eivado de castigos severos e
penas capitais (LOSEKANN, 2012).

Ainda pelo mesmo autor, as políticas sociais utilizavam como


método a violência e como técnica de correção o açoite, o desterro e
a execução. Mais adiante, apesar de mudanças nas condições
socioeconômicas, manteve-se o rigor penal para combater a
criminalidade que permanecia elevada, porém com a mentalidade de
reabilitação do preso através de instituições próprias. “Para fazer
frente ao fenômeno sociocriminal, que preocupava as pequenas
minorias e as cidades, dispuseram-se elas mesmas a defender-se,
criando instituições de correção de grande valor histórico
penitenciário” (PORTO, 2007).

2.2 RESSOCIALIZAÇÃO: CONCEITO E HISTÓRIA

O entendimento do sentido de ressocialização na área penal


remete ao esclarecimento de alguns pontos, e o início é pela
etimologia do termo. A noção etimológica do termo Ressocialização
recobre um amplo campo semântico: reabilitação, recuperação,
readaptação, reinserção, entre outros léxicos correlatos (BECHARA,
2004).

Ressocialização conota, portanto, o sentido de repetir a


socialização, ou o ato de lidar novamente com os outros, retomar
avida em grupo, em sociedade. Na área do Direito Penal,
ressocialização refere reeducação social do apenado durante e
depois de cumprimento de pena. Em sentido amplo, abrange um
conjunto de ações que visa à readaptação do preso na sociedade,
contribuindo na sua recuperação nos aspectos psicossociais,
profissionais e educacionais, com objetivo de inibir qualquer ato
reincidente de natureza criminal.

O processo de ressocialização demanda ações e métodos


integrados do Estado, da família e do próprio preso, para que a
execução penal a partir da prisão já tome parte também da
recuperação social do apenado. Segundo Nery Junior e Nery (2006,
p.164), “tanto quanto possível, incumbe ao Estado adotar medidas
preparatórias ao retorno do condenado ao convívio social”.

Em parceria com as políticas carcerárias oficiais, a família


surge como outro suporte importante na ressocialização do
preso porque o restabelecimento e a ligação afetiva família ajudam o
preso a superar desafios, principalmente de natureza emocional, pois,
em regime de cárcere, o indivíduo perde suas principais referências
na sociedade e na família. Após o cumprimento da pena, o detento
precisa encontrar suporte psicossocial e material para retomar a
vida, e as medidas de ressocialização constituem mecanismo
importante para a restituição de direitos e de vida social do
sentenciado (VEIRA, 2011).

Para Mirabete (2008, p.23),

[...] o direito, o processo e a execução penal constituem apenas


um meio para a reintegração social, indispensável, mas nem por isso
o de maior alcance, porque a melhor defesa da sociedade se obtém
pela política social do estado e pela ajuda pessoal.

Ou seja, apenas o cumprimento da pena não garante a


restituição de valores humanos ao apenado. É preciso que haja
esforços no sentido de traçar medidas para sua reeducação social e,
dessa forma, possa restabelecer seu statu quo social.

O regime interno da prisão é massacrante para o detento, por


isso somente a ação prisional não consegue cumprir a função
readaptativa, pois lá se verificam os aspectos contrários e
inadequados à influência do preso a uma reabilitação satisfatória. A
pronúncia da sentença e o sentimento de perda da liberdade
produzem consequências psicológicas arrasadoras, e a exposição
prolongada em sistema prisional contribui para a formação de cenário
devastador para a vida do preso (MIRABETE 2008).

Nessa mesma linha de raciocínio, Baratta (2011) comenta que,


entre especialistas, já há consenso de que a prisão não oferece
condições de ressocialização do apenado. Assim também entende o
psicólogo e professor de Criminologia da Faculdade de Direito da
Universidade de São Paulo (USP) Alvino Augusto de Sá quando afirma
que “os programas de ressocialização não devem centrar-se na
pessoa do apenado, mas na relação entre ele e o meio, entre ele e a
sociedade, pois é nesta relação que podemos compreender a conduta
desviada”.

Baratta (2011) discorre sobre o processo de ressocialização


propondo a terminologia reintegração social, pois, segundo ele, assim
conotaria a expansão da prática ressocializadora e sua articulação
com todos os segmentos sociais envolvidos no processo, como a
unidade prisional, sociedade e demais agentes do entorno do preso,
pois,compreende ele, que a sociedade tem plena responsabilidade e
compromisso de tornar o “cárcere cada vez menos cárcere”.

Já Molina (2008, p.383) propõe o entendimento de


ressocialização como “uma intervenção positiva no condenado que
[...] o habilite para integrar-se e participar da sociedade, de forma
digna e ativa, sem traumas, limitações ou condicionamentos
especiais”. Portanto, nas passagens teóricas, evidencia-se a
compreensão do processo ressocializador como todo um complexo de
fatores sociopolíticos, articulados entre si, com a finalidade de
restituir ao preso seus direitos de cidadão no pós-pena.

Em todo esse processo ressocializador, torna-se


imprescindível a participação da sociedade, pois brota do seu âmago
a gênese delituosa. Assim, os sistemas penitenciários devem buscar
meios que possam contribuir não apenas na execução unilateral da
pena, mas efetivamente na implementação de políticas penitenciárias
capazes de interferir na reabilitação do preso e sua inserção na
sociedade.

A começar pela reflexão da própria sociedade sobre sua


posição preconceituosa e racista em relação ao preso. A seguir as
políticas públicas de ressocialização, até porque as disposições
legais assim regem nessa direção, como o Código Penal, a
Constituição Federal, tratados e a Lei de Execução Penal (7.210/84).

RESULTADOS E DISCUSSÕES
A partir da década de 1950, o Estado brasileiro passa a avaliar
que a prisão não alcançara os objetivos de cumprimento de pena e
reabilitação do preso, já que os índices de criminalidade e de
reincidência cresciam, o que motivava a se criarem meios que
pudessem reeducar o preso e inibi-lo de futuras ações reincidentes,
além de reincorporá-lo recuperado na sociedade. Então, surgem leis e
programas reeducativos no sentido de se promoverem ações
integradas de recuperação do preso para a vida social (PORTO, 2007).

No entanto, a situação do sistema penitenciário continuou


caótica. Apesar de amplo aparato legal respaldando políticas públicas
na área penitenciária, as ações práticas de ressocialização são
deploráveis, senão inexistentes, salvo raras iniciativas de gestores
prisionais, ou Organizações Não Governamentais (ONGs) (MAYER,
2006).

Sem esforço, podem-se perceber as condições descritas.


Diariamente, a mídia mostra ao país e ao mundo a face perversa do
sistema penitenciário brasileiro: delegacias com celas abarrotadas de
desvalidos sociais, estes sem escolaridade, sem trabalho e sem
perspectivas; motins nos presídios com massa humana de baixo perfil
socioeconômico e cultural; proliferação de doenças de alto risco;
instalações físicas sépticas e subumanas.
A superlotação é o mais grave, e crônico, problema que aflige
o sistema prisional brasileiro. A par de viabilizar qualquer técnica de
ressocialização, a superlotação tem ocasionado a morte de detentos
face à preocupação de doenças contagiosas, como a tuberculose,
entre a população carcerária (PORTO, 2007).

São muitos os casos cotidianos e comprobatórios da situação


caótica do sistema carcerário brasileiro: 15.05.2008 - São Paulo
(NOTÍCIAS TERRA, 2008) enfrenta 45 rebeliões em presídios.

15.01.2010 - Cinco detentos morrem em presídio no Paraná


durante rebelião que durou quase 20 horas. Outros oito detentos
ficaram feridos; um deles está em estado grave. Com capacidade para
580 presos, a Penitenciária Central do Estado abriga atualmente
1.500 detentos. Segundo o Coronel Rodrigo Carstens, da Polícia
Militar, uma investigação deve apontar os motivos que levaram os
presos a se rebelarem (MURICY, 2007).

30.05.2012 - Rebeliões nos presídios da PB são contidas após


18 horas de tumulto; G1 relembra rebeliões ocorridas nos presídios da
Paraíba no ano passado. Secretaria registrou quatro motins em 2011
em João Pessoa. A mais violenta foi no presídio do Roger e deixou 2
mortos e 13 feridos. (G1 NOTÍCIAS, 2012).

Apenas como fator de ilustração, a pequena amostra de


eventos revoltosos em presídios evidencia a falência do sistema
penitenciário. Há o subentendido nesse panorama de desordem de
que não se executam políticas públicas definidas em lei voltadas à
ressocialização do preso.

Dessa forma, sem acompanhamento, método ou políticas


públicas adequadas, o preso torna-se refém da ociosidade, e sua
reeducação para o convívio social cada vez mais se distancia de seus
objetivos. Ainda não houve preocupações que pudessem configurar,
de fato, realizações para a reabilitação do detento e sua reinserção
na sociedade de maneira aceitável tanto pela sociedade quanto por
ele mesmo,embora o escopo da Lei n.7.210/84 oriente diretrizes
específicas nesse sentido.

Os resultados, porém, não correspondem ao alento prescrito


em lei, e só corrobora o pessimismo dos postulados teóricos que
abordam o tema da ressocialização. Se, de fato, as políticas de
ressocialização fossem reconhecidas pelos próprios presos como
redentoras, não haveria tantas rebeliões, fugas ou reincidências no
crime, conforme evidenciou a pesquisa, e o pessimismo referente à
eficácia dos processos de ressocialização no Brasil decorre
provavelmente dessa baixa expectativa da população carcerária
(MURICY, 2007).
CONCLUSÃO
A ineficácia dos métodos ressocializadores do sistema
penitenciário é uma constatação. O estudo demonstrou, ainda que em
breves tópicos, a realidade operacional das políticas públicas
voltadas à reeducação social do preso. A gestão do Sistema segue os
mesmos ditames de programas e projetos lançados Brasil afora
assentados em ações fragmentadas e pontuais sob a bandeira da
ressocialização.

Presídios superlotados sem qualquer disciplina de grau de


periculosidade, baixa expectativa na aplicação da LEP e falta de
compromisso do poder público e da sociedade fazem da
ressocialização apenas uma promessa. Os métodos de reinserção
social, aplicados através de práticas escolares, trabalho e arremedos
de ações sociais de cor assistencialista tentam imprimir a ideia de
ressocialização do preso, uma falácia oficial travestida de direitos e
garantias constitucionais que deveriam ser concretizados antes do
massacre do indivíduo em uma prisão séptica e promíscua.

A prisão é uma forma desumana de destituir o indivíduo de sua


personalidade e de seus referenciais familiares e de comunidade e de
estigmatizá-lo negativamente perante o meio social, e simples ações
de cunho humanitário não satisfazem ao ideal ressocializador. Neste
estudo, foi possível perceber o esforço, embora localizado, que a
gestão carcerária busca empreender no sentido de reinserir o preso
na sociedade.

REFERÊNCIAS
BARATTA, Alessandro. Ressocialização ou Controle Social:
uma Abordagem Crítica da “Reintegração Social” do Sentenciado
(2011). Disponível em:. Acesso em: 01.06.2012.

BECHARA, Evanildo. Moderna gramática portuguesa. 37. ed.


rev. e ampl. 14 reimp. Rio de Janeiro: Lucena, 2004.

BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal: parte


geral-1. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2011.

GOMES, Milton Jordão de F. P. Prisão e ressocialização: um


estudo sobre o sistema penitenciário da Bahia. (Dissertação de
Mestrado em Políticas Sociais e Cidadania. 164 f. 2009 – Universidade
Católica do Salvador – Salvador-BA.) Disponível em:
<http://tede.ucsal.br/tde_arquivos/4/TDE-2010
0602T124816Z147/Publico/Milton%20Jordao%20de%20Freitas
%20Pinheiro%20Gomes.pdf>. Acesso em 06.09.2012.

LOSEKANN, Luciano. Penitenciárias brasileiras não têm


pretensões de ressocialização. Disponível em: < . Acesso em:
28.07.2012.

MAYER, Marc. Na prisão existe a perspectiva da educação ao


longo da vida? Alfabetização e Cidadania. Revista de Educação de
Jovens e Adultos. N.19, Brasília, 2006, p.21.

MIRABETE, Júlio Fabbrini. Execução Penal. 10. ed. São Paulo:


Atlas, 2008.

MOLINA, Antonio Pablos Garcia de. Criminologia: uma


introdução aos seus fundamentos teóricos. São Pulo: Revistas dos
Tribunais, 2008.

MURICY, Marília. As Prisões Aperfeiçoam pessoas na carreira


criminal. Jornal A Tarde. Salvador, 17 fev. 2007.

NERY JUNIOR, Nelson ; NERY, Rosa Maria de


Andrade. Constituição Federal Comentada e Legislação
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NOTÍCIAS TERRA (2006). São Paulo enfrenta 45 rebeliões em


presídios. Disponível em: Acesso em: 16.10.2014.

PORTO, Roberto. O crime organizado e sistema prisional. São


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VIEIRA, Jair Lot. Código de Hamurabi: Lei das XII Tábuas. 3.


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WOLKMER, Antônio Carlos. Fundamentos de história do direito.


2. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2011.

https://jus.com.br/artigos/41528/o-sistema-penal-e-a-ressocializacao-do-preso-no-brasil

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