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De acordo com o disposto na Lei de Execução Penal, além da natureza retributiva, a

sanção penal também deve ter a função de "reeducação" para proporcionar


condições para "a integração social harmoniosa de criminosos ou detentos" (Brasil,
1984). Nessa perspectiva, a função das instituições prisionais é realizar uma série
de atividades voltadas à ressocialização dos delinquentes e criar condições para
sua reinserção na sociedade. Essas atribuições devem incentivar o "tratamento"
criminal baseado em "auxílios" materiais, sanitários, jurídicos, educacionais,
psicológicos, sociais, religiosos, trabalhistas e profissionais. Para isso, as
instituições penais devem ser dotadas de estruturas físicas e humanas.

O artigo 1º da Lei de Execução Penal estipula: “A execução penal tem por finalidade
dar cumprimento às disposições das sentenças e decisões penais e criar condições
para a integração harmoniosa de criminosos e detidos”.
Levando em conta o apresentado neste artigo, nota-se que a finalidade da execução
penal, além da efetiva execução da pena, é a ressocialização do indivíduo, mas
infelizmente, para este último, não tem surtido o efeito desejado. Como resultado,
houve uma crise no sistema prisional.
Ressocializar é conceder ao preso a ajuda necessária para se reintegrar à
sociedade, buscar entender o que o levou a cometer esses crimes, dar-lhe a
oportunidade de mudar e ter um futuro melhor, não importa o que aconteceu no
passado.
Continuaremos trabalhando nas principais questões que dificultam a ressocialização
dos presos.

A saúde física e mental são vitais para todos e estão intimamente relacionadas com
a qualidade de vida. O artigo 12 da LEP afirma: “A assistência material aos presos e
detidos incluirá o fornecimento de alimentos, roupas e instalações sanitárias”. Nas
celas, porém, vemos um grupo de presos disputando espaço, obrigados a viver no
lixo, insetos e esgotos a céu aberto, sofrendo dos mais diferentes tipos de doenças.
A alimentação fornecida nas prisões também é inconsistente, em muitos lugares os
presos fazem sua própria alimentação, trazida por suas famílias, e em outros locais
é feita em cozinhas sem o mínimo de higiene. Vale destacar que enquanto a LEP
garante os direitos básicos dos presos, nenhuma autoridade se preocupa com a
situação em que se encontra o sistema prisional.
No que diz respeito à assistência à saúde , a maioria das prisões não possui
estrutura suficiente para atendimento à saúde dos presos. Existem campanhas de
vacinação obrigatória patrocinadas pelo Ministério da Saúde e outras iniciativas
voltadas às doenças infectocontagiosas, mas o atendimento a situações mais
graves é praticamente limitado às emergências, como no caso das vítimas de
espancamentos.
A superlotação carcerária está presente não apenas nos presídios públicos, mas em
todo o sistema. Em média, hoje no Brasil, em uma cela que comporta dez presos,
há dezessete. Esta superlotação está associada a diversos fatores como o número
de prisões feitas nos últimos anos, a demora da justiça no julgamento dos casos e o
Estado na implementação de medidas que auxiliam na reintegração dos prisioneiros
na sociedade. O aumento do número de prisões realizadas no país está ligado às
condições sociais desiguais observadas fora das prisões que, além de ajudar o
detento a retornar a criminalidade, trazem muitos daqueles que nunca se
comprometeram a se envolver na prática de crimes.

O apoio psicológico é uma parte importante do papel de ressocialização, embora


geralmente seja negligenciado. As prisões são locais inóspitos, inadequados e
corruptores, por isso há uma grande necessidade de fiscalização durante após a
execução da pena, a tal ponto que são criados postos de atendimento para esse
público. Distúrbios ou “doenças psicológicas ” são frequentemente causados ​por
fatores orgânicos ou funcionais. As prisões, sendo entidades com tantos problemas,
e o período de reabilitação social que o condenado deixa o sistema prisional são
suficientes para se tornarem fatores geradores de disfunções. Portanto, é óbvio o
papel do psicólogo no acompanhamento desse sujeito socialmente marginalizado,
para prevenir o aparecimento de qualquer quadro clínico de natureza psíquica e
para tratar aqueles que os adquiriram.

Outro desafio encontrado para a reintegração dos detentos à sociedade é a falta de


iniciativas governamentais na reintegração e qualificação dessas pessoas. Mais da
metade dos encarcerados têm baixo nível de escolaridade, o que dificulta a
reinserção no mercado de trabalho. Dessa forma, encontrar uma forma de suprir as
necessidades e as dos membros de sua família é difícil, pois não se possui
habilidades profissionais necessárias. A falta de apoio é uma das maiores
problemáticas nesse processo , pois a falta de qualificação influencia na
reincidência dessas pessoas.

A participação da sociedade na reinserção do detento na vida social é um fator


essencial para que a ressocialização tenha os efeitos esperados. Os obstáculos
enfrentados pelos detidos após serem libertados ainda são numerosos.
Infelizmente, vemos que a sociedade e principalmente os empregadores, diante da
violência e criminalidade, ficam receosos e se deixam levar pelos preconceitos
criados pelos diversos meios de comunicação e adotam uma atitude não humanista
em relação aos que saem da prisão e procuram seguir uma vida longe do crime. A
principal dificuldade encontrada por essas pessoas é entrar no mercado de trabalho,
pois como já foi dito, a maioria não possui ensino fundamental completo ou
experiência profissional, o que junto ao preconceito quanto a sua ficha criminal,
torna praticamente impossível serem admitidos.
Referências:
BARATTA, A. Ressocialização ou controle social: uma abordagem crítica da
reintegração social do sentenciado. Alemanha: Universidade de Saarland,
2007. Disponível em: <http://goo.gl/E4zA8o>. Acesso em: 21 de maio de 2022

JULIÃO, E. F. A ressocialização através do estudo e do trabalho no sistema


penitenciário brasileiro. 2009. Tese (Doutorado) – Programa de
Pós-Graduação em Ciências Sociais do Instituto de Filosofia e Ciências
Humanas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro,
Acesso em: 21 de maio de 2022

LIMA,Elke Castelo Branco A ressocialização dos presos através da educação


profissional.Disponível para consulta em:
http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/5822/A-ressocializacao-dos-presos-atraves
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Acesso em: 22 de maio de 2022

OTTOBONI, Mário. Ninguém é irrecuperável- APAC, A Revolução do


Sistema Penitenciário. São Paulo: Cidade Nova, 1997.
Acesso em: 22 de maio de 2022
-
VOLPE FILHO, Clovis Alberto. Ressocializar ou não-dessocializar, eis a questão
. DireitoNet, 18 de maio de 2010. Disponível em: WWW.direitonet.com.br/artigos/exibir
. Acesso em: 22 de maio de 2022

MARANHÃO.Magno de Aguiar.A necessária inserção social. Disponível


em:<http://www.administradores.com.br/artigos/administração-e-negocios/anec
essaria-insercao-social/23951/>
Acesso em: 22 de maio de 2022

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