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Centro Universidade Alves Faria – UniAlfa

Curso de Direito

"TORNANDO-SE CIDADÃO NOVAMENTE: O


QUE É RESSOCIALIZAÇÃO, MODELO APAC,
PERFIL DOS PRESOS E A IMPORTÂNCIA DA
FAMÍLIA "

GABRIEL VIANA DE OLIVEIRA


GOIÂNIA - GO / 2023
1. Introdução

A problemática da ressocialização de indivíduos infratores à sociedade é um


dos desafios mais relevantes no contexto brasileiro contemporâneo. É
fundamental que a forma como o apenado é punido seja eficaz e justa, garantindo
sua recuperação e predisposição para uma vida em conformidade com as leis após
o cumprimento da pena.

No atual cenário do sistema penitenciário brasileiro, é evidente que as


instituições prisionais, frequentemente denominadas "escolas do crime", não têm
cumprido seu papel de ressocialização. Isso é corroborado por altas taxas de
fugas, rebeliões e reincidência entre os presos do país.

Fica evidente, portanto, a urgência em buscar alternativas que permitam aos


infratores serem encaminhados para instituições capacitadas, que tratem o
indivíduo como humano, reconhecendo seu erro e proporcionando uma reflexão
sobre suas ações, a fim de evitar sua reincidência e possibilitar sua reintegração
à sociedade.

2. Humanização prisional

No mundo todo, existem prisões que têm conseguido ajudar os internos a se


recuperarem e se reintegrarem à sociedade. Aqui no Brasil, temos exemplos de
instituições prisionais que adotam abordagens inovadoras, como as prisões da
APAC. Nessas prisões, os presos são tratados de maneira diferente, com respeito
e dignidade, ao contrário do que acontece nas demais prisões.

Nas prisões da APAC, não tem a presença de policiais e os internos têm as


chaves de todas as portas, até as da entrada e saída. Dentro dessas prisões, tem
até lanchonetes e sorveterias, e os internos podem usar roupas comuns. Essas
mudanças têm ajudado a reduzir a taxa de reincidência, que é de apenas 4,5%,
bem menor do que as tradicionais prisões, onde a reincidência chega a 85%.

Quando um infrator é tratado com respeito e dignidade, suas chances de se


reeducar são maiores, como defendia Bernard Shaw. O modelo da APAC tem se
mostrado eficaz não só no Brasil, mas também em outros países, como Argentina
e Peru. Ao perceber que é possível se recuperar e ter uma vida melhor, o
condenado opta por deixar a vida criminosa para trás. Isso não só muda a vida
dele, mas também melhora a sociedade como um todo, reduzindo a violência e
melhorando a qualidade de vida.
No entanto, é importante pensar na prisão apenas como último recurso, em
casos extremos. Muitas vezes, penas alternativas, como trabalhar para a
comunidade ou doar alimentos para os necessitados, podem ser mais adequadas.
Assim, evitamos a superlotação nas prisões, que é um problema grave atualmente.

Temos que entender que colocar pessoas amontoadas em prisões lotadas não
leva a uma recuperação efetiva. Para ajudar na reabilitação do infrator, é
necessário ter instituições penitenciárias adequadas, funcionários capacitados e
respeitar os limites de capacidade das unidades. Além disso, é essencial que a
pena imposta seja proporcional ao crime cometido, algo que Beccaria também
defendia. Isso serve como exemplo para aqueles que estão pensando em agir de
forma ilícita.

A busca por penas justas é fundamental para impactar positivamente a sociedade


e ajudar na recuperação dos infratores. Com as abordagens corretas e o respeito
aos direitos e dignidade dos presos, podemos promover uma verdadeira mudança
no sistema prisional..

3. Perfil do preso

Com base nos dados estatísticos do sistema prisional, procuramos traçar um


perfil do encarcerado. Levando em consideração diversas questões amplamente
discutidas na literatura, como idade, escolaridade, cor, tempo total da pena, grau
de reincidência, faixa etária e tipo de crime cometido. É importante destacar que
o sistema prisional brasileiro se tornou um "aspirador social" de repressão e
criminalização à pobreza, contribuindo para o aumento da população carcerária.

No contexto da violência, os jovens ocupam uma posição de destaque. As taxas


de homicídios são maiores entre os grupos de jovens, conforme apontado pelos
dados do Mapa da Violência. É comum afirmar que os jovens são tanto vítimas
quanto agressores, mas estudos têm demonstrado o contrário, evidenciando que
os jovens do sexo masculino são mais vítimas do que perpetradores.

Além disso, os jovens são facilmente alvos do sistema penal seletivo e de


criminalização. A maioria dos presos no Brasil está na faixa etária de 18 a 29
anos. Isso contribui para um ciclo vicioso de reincidência e uma preocupação
adicional é que a maioria dos crimes cometidos pelos presos está relacionada a
roubo e furto, enquanto crimes mais graves têm percentuais mais baixos.

Especialmente nos últimos anos, diversas modalidades de crimes aumentaram


no país, principalmente homicídios. No entanto, apenas uma pequena parcela dos
presos cometeu crimes contra a pessoa, como homicídios e sequestros. Esse
quadro revela a necessidade de uma reflexão sobre as causas e as ações tomadas
para lidar com a situação crítica da criminalidade.

A situação no Brasil se assemelha ao sistema penal norte-americano. As prisões


não estão lotadas de criminosos perigosos e violentos, mas sim de pessoas
condenadas por crimes não violentos, como envolvimento com drogas, furto,
roubo ou atentados à ordem pública. Isso evidencia a necessidade de repensar as
políticas de encarceramento, buscando alternativas mais eficientes e que
considerem as causas sociais e econômicas subjacentes.

Outro aspecto relevante é a baixa escolaridade dos detentos. A maioria deles


não concluiu o ensino fundamental, o que reflete as desigualdades
socioeconômicas presentes na sociedade. Essa falta de oportunidades
educacionais contribui para a marginalização dessas pessoas e dificulta a
reintegração social após o cumprimento da pena.

Além disso, é importante destacar a discrepância nos índices de encarceramento


entre a população negra e branca. A população negra tem maior
representatividade nos presídios, o que reflete a desigualdade racial existente no
país, tanto em termos de acesso a direitos quanto de tratamento no sistema de
justiça criminal.

Por fim, é necessário repensar as políticas de segurança e justiça criminal

4. Papel da família na ressocialização

A família desempenha um papel fundamental na ressocialização do preso, pois,


ao ser retirado do convívio social e cumprir pena em um presídio, o indivíduo
perde suas referências e rotina, sentindo-se desamparado. Nesse contexto, a
presença e apoio da família tornam-se ainda mais importantes, pois podem
oferecer suporte emocional e contribuir para sua recuperação.
De acordo com especialistas, a participação da família durante todo o processo
de ressocialização é essencial para o êxito do indivíduo em sua reintegração à
sociedade. Através de sua presença constante, a família pode auxiliar o preso a
manter vínculos com a sociedade, preservando sua cultura e valores. A falta de
contato com o mundo exterior pode gerar sentimentos de isolamento e
desmotivação, prejudicando sua recuperação.

Ademais, a família desempenha um papel fundamental ao oferecer apoio


emocional ao preso, permitindo que ele compartilhe suas angústias e
preocupações, encontrando conforto e encorajamento. A autoestima e a confiança
do indivíduo podem ser debilitadas pela falta de motivação, o que pode culminar
em uma desistência da reintegração social após o cumprimento da pena.

Além disso, é papel da família auxiliar o preso na busca por emprego e


oportunidades de estudo, fornecendo informações e suporte nesse processo. A
contribuição financeira também é relevante, uma vez que pode auxiliar nas
necessidades básicas durante o período de recuperação. A família ainda pode
auxiliar na reconstrução das relações sociais do indivíduo, mantendo-o atualizado
sobre acontecimentos na comunidade e ajudando-o a retomar contato com amigos
e colegas de trabalho.

É importante ressaltar que o apoio da família não isenta as instituições


responsáveis pela ressocialização de suas obrigações. Essas instituições devem
oferecer condições adequadas para a recuperação do preso, como alimentação e
higiene adequadas, além de proporcionar atividades educativas e sociais.

No entanto, vale destacar que nem todos os indivíduos têm a oportunidade de


contar com o apoio familiar. Muitos presos não possuem laços afetivos ou seus
familiares não estão em condições de auxiliá-los, o que dificulta ainda mais o
processo de recuperação. Para essas pessoas, é essencial que as instituições
ofereçam um suporte adequado, assegurando que tenham possibilidades reais de
êxito na ressocialização.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em síntese, a ressocialização é um processo complexo que exige a combinação
de diversos elementos. Nesse sentido, o modelo APAC se destaca ao proporcionar
uma abordagem humanizada, a qual se baseia em valores como a valorização da
vida e a promoção da responsabilização individual. Em contrapartida, o perfil do
preso no sistema prisional varia consideravelmente, abrangendo desde jovens
com poucos antecedentes criminais até indivíduos com históricos mais graves e
recorrentes de crimes. Diante dessa realidade, é fundamental adotar abordagens
individualizadas para atender às necessidades específicas de cada detento.

Nesse contexto, a família desempenha um papel crucial na ressocialização do


preso ao fornecer apoio emocional, social e financeiro. Ela pode oferecer suporte
emocional, incentivar e motivar o preso a se reintegrar à sociedade, além de
auxiliá-lo na busca por oportunidades de emprego e estudo. Além disso, manter
os laços do preso com a comunidade e evitar o isolamento social são essenciais
para impedir a desmotivação e reduzir as chances de reincidência. Assim, a
participação ativa da família é indispensável para o sucesso do processo de
reintegração do ex-detento.

Em resumo, a ressocialização requer a combinação de diferentes fatores, desde a


implementação de modelos prisionais humanizados, como o APAC, até a
consideração das particularidades do perfil do preso. Nesse contexto, a presença
e o apoio da família são elementos fundamentais para garantir a recuperação
socioemocional do preso e proporcionar uma nova chance para uma vida positiva
após o cumprimento da pena.

Referências Bibliográficas:

Negreiros Neto, J. M. (2012). Importância da família no processo de ressocialização do


encarcerado diante das condições do sistema penitenciário no estado do Ceará. (TCC,
Especialização).

Monteiro, F. M., & Cardoso, G. R. (2013). A seletividade do sistema prisional


brasileiro e o perfil da população carcerária: um debate oportuno. Civitas: Revista
De Ciências Sociais, 13(1), 93–117. https://doi.org/10.15448/1984-
7289.2013.1.12592

Alvim, Wesley Botelho. "A ressocialização do preso brasileiro." Revista DireitoNet


(2006): 74-78.

Santos, Lorrane Stefanni Gonçalves. "A importância da família na ressocialização de


adolescentes em conflito com a lei." (2018).

Machado, Stéfano Jander. "A ressocialização do preso a luz da lei de execução


penal." Monografia de conclusão de Curso de Bacharelado em Direto, Universidade
do Vale do Itajaí, Biguaçu, SC (2008).

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