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UNIDADE MACAÉ
GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA
Macaé
2017
TATIANE SANTOS OLIVEIRA
Macaé
2017
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Resumo
Este artigo procurou investigar as divergências entre a teoria e a prática das medidas
socioeducativas de internação e fazer e uma análise psicológica de sua estrutura, objetivos
e desafios, através de um estudo teórico. Entendidos como indivíduos ainda em formação, os
adolescentes que cometem delitos são submetidos a medidas de natureza pedagógica, nas
quais, em teoria, prevalecem a socioeducação. Contudo, na prática, é observável que a
situação em que se encontram os adolescentes infratores atinge a esfera de direitos humanos.
Além disto, constatou-se que o crescente número de internações e as punições mais severas
não tem melhorado substancialmente a inclusão social dos egressos do sistema
socioeducativo. Concluiu-se, portanto, que a visão patologizante e individualizante do
adolescente e do ato infracional é ultrapassada, sendo necessário perceber não mais um jovem
que transgride as regras sociais, mas sim um sujeito no qual a infração é apenas um dentre
tantos outros elementos que o compõem, entendendo suas vulnerabilidades e considerando
sua subjetividade. É preciso pensar em novas propostas que tornem possível a garantia dos
direitos fundamentais do adolescente, além do favorecimento da construção de novos sentidos
para sua vida.
Introdução
A infração juvenil é hoje, no Brasil, uma questão que envolve diversos fatores e
provoca muitas discussões a respeito de como lidar com adolescentes e crianças que cometem
ato infracional. Entendidos como indivíduos ainda em formação, concebe-se que estes devem
ter um tratamento diferenciado comparado aos adultos que cometem crimes. Por outro lado, o
crescimento da criminalidade entre adolescentes fomenta um discurso popular em apoio a
uma punição mais severa.
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Graduanda em Psicologia na UNESA - Macaé. E-mail: <tatiane.so@live.com>.
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tiveram grande mudança. Para os adolescentes em conflito com a lei, é priorizada a punição,
pois o sistema procura oferecer segurança aos cidadãos de bem.
Scisleski et al. (2015) veem também uma grande diferença entre as estratégias de
gestão das medidas socioeducativas de meio aberto e das medidas socioeducativas de
privação de liberdade: enquanto as medidas socioeducativas em contexto de liberdade são
geridas na esfera da Assistência Social, aquelas que privam o adolescente de sua liberdade
são, comumente, geridas na esfera da Segurança Pública, que administra também o sistema
prisional adulto. Consequentemente, as medidas de privação de liberdade apresentam a
mesma lógica de funcionamento institucional que as prisões.
Percebe-se então, uma lógica funcional muito parecida com as prisões adultas. E,
mesmo que para os funcionários prevaleça a socioeducação em preterição da punição, para os
jovens internos o sentimento é de encarceramento, privação total de suas liberdades e
constante tensão e desconfiança, tanto para com os funcionários, como entre os próprios
jovens, como mostram os trabalhos de Almeida (2013) e Noguchi e De La Taille (2008). Em
ambas as pesquisas, realizadas em São Paulo, as autoras relatam que nas casas de internação
há um conjunto de regras específicas de conduta formuladas e aplicadas pelos próprios
internos, sem a interferência dos funcionários. Tais regras eram relacionadas à divisão de
tarefas, à higiene, comportamento e, principalmente, ao respeito às visitas dos internos. Se um
jovem infringisse alguma regra, as consequências seriam aplicadas pelos próprios internos,
sem o conhecimento dos funcionários, podendo ser uma conversa, agressões físicas e,
dependendo da gravidade e intencionalidade da infração, a morte. Mas essa não seria uma
prática exclusiva das unidades de internação de São Paulo. Neri (2009), conforme citado por
Almeida (2013), observou a mesma situação nas casas de internação do Rio de Janeiro.
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Entende-se, com isso, que a gestão de segurança das unidades nada auxilia no
processo de socioeducação proposto.
Considerações Finais
também que o aumento da criminalidade entre os adolescentes nos últimos anos foi a causa da
tendência crescente de internação dos mesmos. A sociedade quer a reclusão daqueles que não
se adéquam às suas normas. Mas seriam as internações por si só suficientes para promover a
adequação social e resolver a questão da delinquência juvenil? Segundo o documento oficial
do SINASE, “a elevação do rigor das medidas não tem melhorado substancialmente a
inclusão social dos egressos do sistema socioeducativo” (2006, p. 14). Entende-se, portanto,
que o maior número de internações e as punições mais severas não tem auxiliado no processo
de diminuição da criminalidade. É natural questionar-se, então, por que o sistema continua o
mesmo.
Sobre a questão carcerária, Ferreira (2012) defende que há uma falta de interesse de
muitos governantes a respeito de uma reforma no modelo de gestão e na estrutura do sistema,
pois isso não promove o retorno político almejado. O mesmo se aplica à questão da
criminalidade juvenil. Isto porque a própria população não tem interesse na recuperação dos
detentos/internos, pois estes têm o estigma do criminoso, aquele que não merece uma segunda
chance. Compreende-se assim, que a população, em sua grande parte leiga sobre todos os
processos e fenômenos envolvidos no assunto, indignada e com sentimento de ineficácia no
combate à criminalidade, clama por medidas mais punitivas e mais rígidas. Tais medidas
punitivistas acarretam na não recuperação do detento/interno e no aumento da criminalidade –
somado às desigualdades socioeconômicas – que por sua vez fomentam o anseio por um
sistema punitivista, formando um círculo vicioso, no qual os governantes não tem interesse,
optando por priorizar o discurso eleitoreiro de fácil aceitação, a despeito de propor
verdadeiras mudanças.
Sobre a visão da população sobre o adolescente infrator, Scisleski et al. (2015)
esclarecem que, após a mudança de status do jovem de “menino” à “adolescente em conflito
com a lei”, percebe-se que ele tem, de certa forma, acesso à trabalho, escola, e serviços de
saúde, porém não tem acesso a atividades que possibilitem a saída efetiva da criminalidade,
visto que muitas das oportunidades se inserem, inclusive, na informalidade (“bicos”, sem
carteira assinada), além da dificuldade em escolas aceitarem adolescentes com “esse perfil”.
Entende-se, portanto, que é atribuída aos jovens uma personalidade violenta ou delinquente,
esquecendo-se de seu contexto anterior à prática do ato infracional, onde seus direitos foram
violados. Os mesmos autores fazem uma crítica ao caráter patologizante e individualizante
que é atribuído ao ato infracional cometido pelos jovens. Isto evidencia a dificuldade em
superar a criminalização da pobreza atrelada às noções biológicas/genéticas e individuais
determinantes de envolvimento com o crime. Em seu estudo, os autores encontraram relatos
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desigualdade socioeconômicas. Percebe-se que a ideia de solução com mais prisões busca
uma solução dos efeitos da criminalidade, e não de suas causas. Esta visão encaixa-se com a
de Costa e Assis (2006), que destacam em seu artigo a importância de mudar o pensamento de
sentido de “cura” da delinquência juvenil, sendo necessária sua substituição pela
transformação das condições que afetam a vida do adolescente e pelo investimento em suas
potencialidades.
Percebe-se que Thompson (2002) também concorda que é preciso transformação nas
estruturas socioeconômicas da sociedade, quando este discorre sobre a questão criminal e
penitenciária – que, aqui, pode-se aplicar também à delinquência juvenil:
iguais a todos os indivíduos, pois interagem junto a outras variáveis. Compreende-se que a
implementação dos fatores protetivos nas medidas socioeducativas é de extrema importância
para que se alcance o objetivo de reabilitação dos jovens, pois se mostram eficientes na
promoção de sua resiliência. Desta forma, as autoras apresentam três fatores de proteção
importantes para o adolescente se desenvolver o produzir melhores condições de
enfrentamento de adversidades. São eles, Fortalecimento de vínculo, Autonomia e Projeto de
vida:
Resumen
Este artículo buscó investigar las divergencias entre la teoria y práctica de las medidas
socioeducativas de internación y hacer un analisis psicológico de su estructura, objetivos y
desafios, a través de un estúdio teórico. Vistos como individuos en fase de crecimiento, los
adolescentes que cometen delitos son sometidos a medidas de naturaleza pedagógica, donde
lo que prevalece, en teoria, es la socioeducación. Sin embargo, en la práctica se observa que la
situación en que se encuentran los adolescentes infractores daña la esfera de derechos
humanos. También, se observó que el alto índice de internaciones y penas más severas no ha
mejorado sustancialmente la inclusión social de los individuos del sistema socioeducativo. Se
concluyó, por lo tanto, que la visión patologizante e individualizante del adolescente y del
delito infraccional está sobrepasada, siendo necesario percibir no más un joven que transgrede
las reglas sociales, sino un sujeto en el cual la infracción es sólo uno de tantos otros elementos
que lo componen, comprendiendo su vulnerabilidad y considerando su subjetividad. Es
necesario pensar en nuevas propuestas que sean posibles a la garantia de los derechos
fundamentales del adolescente, y de esa forma favorecer a la construcción de un nuevo
sentido de vida en favor de ellos.
Referências