Caterine A. F. Gomes Teixeira Trabalho sobre o documentário: O cárcere e a rua
Questões:
1.Observando estas detentas e sua vida prisional, descreva seus entendimentos,
a partir das leituras e aportes teóricos que embasam teus entendimentos, sobre a ressocialização delas.
Observando os relatos dessas detentas no documentário, surge a reflexão
sobre as mulheres encarceradas, quais os motivos que as levaram para a criminalidade e como recuperá-las para uma vida cidadã, principalmente em tempos em que a crise do sistema prisional brasileiro fica tão evidente por frequentes rebeliões e dezenas de mortos. Há uma ineficácia da função social da pena de prisão, o Estado segrega uma pessoa apenas para devolvê-la posteriormente à sociedade, mas falha no processo de ressocialização das pessoas encarceradas que permanecem em condições sub-humanas. Foi exatamente o que aconteceu com a Cláudia, a Betânia e a Daniela. Há uma necessidade de uma reanálise de quais consequências a pena de prisão irá acarretar para a sociedade. As condições degradantes nas alas, tanto masculina quanto feminina, não favorecem a ressocialização e podem causar males maiores para a sociedade. Uma sociedade que não oferece oportunidades para pessoas encarceradas se inserirem no mercado de trabalho, o preso fica com aquela marca na ficha, a sociedade precisa pensar, refletir e cobrar as autoridades públicas por um sistema carcerário cujas políticas, de fato, ressocializem os detentos. Dessa forma estamos assistindo e compactuando com uma postura rígida de punição. Somente a prisão não contribui para a diminuição dos índices de criminalidade no Brasil, pelo contrário, somente aumenta cada vez mais. A prisão deveria existir para punir como forma de segregar uma pessoa da sociedade e, posteriormente, devolvê-la ressocializada. No caso específico do encarceramento feminino, entende-se que a prisão de uma mulher, encarcera toda uma família. Se ela tiver filhos, as crianças irão para abrigos ou ficam com parentes em situações em que, muitas vezes, poderão ser maltratadas. Se a mulher estiver grávida, o bebê nascerá num ambiente degradante sem base social e familiar. Obviamente que pelo fato de ser mulher, não quer dizer que deve ser anistiada ou perdoada, mas é preciso oferecer os caminhos para que ela não seja seduzida pelo mundo do crime. Medidas que passam pela efetividade de políticas públicas para a mulher e também por atividades comunitárias.
2.Qual o papel que o psicólogo forense desempenha nesta ressocialização?
Os presídios são lugares inadequados e corruptivos, por isso há uma
grande necessidade de acompanhamento durante e após o cumprimento da pena, para que se obtenha uma ressocialização mais efetiva. De acordo com o CFP (Conselho Federal de Psicologia) na resolução 09/2010, o psicólogo forense deverá priorizar de forma autêntica os direitos humanos dos indivíduos em cumprimento de pena, visando à construção da cidadania através de projetos e de práticas psicológicas para a sua reinserção na vida social. A prática da psicologia não pode ser relacionada à apuração criminal do caso, mas sim à atuação de uma ressocialização que possui como meta principal um tratamento da terapia penal começando de uma relação recíproca entre o profissional e o atendido, caracterizada pelo respeito à liberdade e direito à privacidade do atendido e pelo consenso da ética profissional. O papel do profissional é fazer com que um cidadão “inimigo da sociedade” venha reiniciar seu processo de vida social, desnaturalizar, ouvir, incluir, respeitar as diferenças, promover a liberdade são missões dos psicólogos. 3.Qual tua posição sobre a atuação da psicologia forense nessa prisão, a partir do que observastes no documentário?
Pode-se observar pouco envolvimento e acompanhamento de um
psicólogo forense com as apenadas do documentário em questão. De acordo com os relatos das detentas, logo que ingressaram no presidio foram encaminhadas a um psiquiatra e passaram a utilizar medicamentos calmantes, ao invés de terapia e acompanhamento, simplesmente mantem as detentas entorpecidas, como forma de amenizar o sofrimento psíquico. Outro momento que é percebido essa ausência do psicólogo, é quando foram notificadas que cumpririam a pena sob regime semiaberto, nota-se sentimentos de medo, desamparo, despreparo, não foi realizada nenhuma preparação para essa mudança, ficou muito claro a falha da atuação do psicólogo forense nesta prisão, se realizam algum trabalho de ressocialização, parece ser ineficiente. Existe uma distorção, no senso comum, entre a noção de direitos humanos e o privilégio de bandidos. Essa vinculação acaba por tornar a população contrária à defesa dos direitos humanos, uma vez vinculada aos apenados. Esse tipo de postura acaba por dificultar qualquer possibilidade de implementação de projetos que atendam essa população, ou ainda, a reprodução de políticas públicas que favoreçam a reinserção social dos egressos. Não é possível promover uma repentina melhora na situação de encarceramento. A saúde psicológica se produz com laços sociais fortalecidos, com acolhimento, com possibilidade de fortalecimento do sujeito, com empoderamento, com ampliação da capacidade de intervenção transformadora da realidade. Em presídios, manicômios, albergues, dificilmente os psicólogos conseguirão esse feito. Mas é importante ressaltar que a transformação social não se faz da noite para o dia, e que o psicólogo deve se encontrar presente nesses diversos locais, para participar da sua transformação. Cabe ao psicólogo continuar trabalhando no sistema prisional comprometendo-se a atuar nesses espaços, com uma contribuição crítica e respeitosa, tecnicamente competente e ética, e também a importância da compreensão da dimensão subjetiva da vivência do encarceramento.