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REFLEXÕES SOBRE O CÁRCERE

1. A EXPERIÊNCIA DO CÁCERE

O que é o cárcere?

Na Antiguidade o cárcere era empregado como meio de restringir a ação do


indivíduo, subjugá-lo com o intuito de posteriormente aplicar-lhe uma punição: o
suplício físico1. Na Idade Média ele também exercia a função de custódia da pessoa
a fim de garantir que o suplício fosse aplicado. Até a modernidade, nota-se que o
cárcere e a pena eram coisas distintas, não sendo o cárcere, necessariamente, o
cumprimento da pena; a pena era o suplício que seria aplicado ao condenado, o
qual, no geral, causava a sua morte. Na modernidade, contudo, o cárcere é a pena.
Também é interessante notar que nos tempos antigos o cárcere não
apresentava qualquer indício de institucionalização, de elemento ligado diretamente
à aplicação da justiça, tanto que qualquer lugar poderia ser destinado ao cárcere,
desde uma masmorra, um calabouço até a famigerada torre; não existiam prédios
específicos destinados a essa finalidade,2 já que a questão naquela época era o
suplício do condenado diretamente na forma de castigos impingidos ao seu corpo,
não privação de liberdade.
Até o final do século 18 os suplícios marcaram o ritmo das penas, e não se
falava em cárcere como instrumento de punição. O corpo era o objeto da pena e só
no início do século 19 é que os suplícios desapareceram; ou continuaram com certa
sutileza, como diz Foucault3. Ou seja, há pouco mais de 250 anos é que o cárcere,
como o conhecemos, passou a existir. Se os suplícios foram esquecidos, é questão
de ponto de vista, pois cremos que eles foram substituídos por penas que agora
1
PARANÁ. Secretaria de Segurança Pública - ESPEN - Escola de Formação e Aperfeiçoamento
Penitenciário. Disponível em: <http://www.espen.pr.gov.br/Pagina/historia-das-prisoes-e-dos-
sistemas-de-punicoes> Acesso em 08 jun. 2021.

2
Idem ESPEN.

3
FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. Trad. Raquel Ramalhete. 29ª ed.
Petrópolis: Editora Vozes, 2004, p.11.
2

envolvem não só o corpo do condenado, mas seu psicológico e sua alma 4. Entender
o cárcere é entender o conceito de indivíduo, que se esvazia no complexo sistema
de sua anulação e criminalização5 de condutas, cujo principal objetivo é neutralizar o
indivíduo através de disciplinas.
É complexo pensar o cárcere, e quanto mais o fazemos, mais difícil fica a
resposta à indagação sobre o que ele é. É possível que cada pessoa, ao ser
questionada sobre o que entende por cárcere, apresente uma resposta distinta da
outra. Contudo, em uma coisa todos concordam: o cárcere não é um lugar bom.
“Cadeia é um lugar povoado de maldade”. 6 Só quem passou pelo cárcere pode
realmente dizer com segurança o que ele é.
A maioria das pessoas sabe que o indivíduo, quando é mandado para o
cárcere, é submetido a condições regradas de vida e, sem ainda tocar no ponto
chave, é submetido a tais regras para aperfeiçoamento próprio e possível reinserção
à sociedade (ideologia da ressocialização). Qual crença fundamenta a ideia geral de
que o indivíduo poderá se regenerar num local em que é submetido a constante
vigilância, regras duras de convivência sob condições tensas de violência, onde
imperam condições precárias de vida e, em que é sujeitado a um constante sistema
de neutralização de sua individualidade? Pensar que as pessoas são mandadas ao
cárcere para cumprir uma pena e serem ressocializadas é um mito, um delírio 7. O
cárcere não faz isso, pois é um lugar em que pessoas perdem essa característica de
indivíduos, tornam-se animais enjaulados, uma massa de criaturas em uma
instituição totalizante, que tem como função real - e esse é o ponto chave - a
segregação de classe, neutralização do indivíduo e consequentemente sua
desumanização. Podemos dizer que o cárcere é uma instituição em que o indivíduo
que ali está, por um curto ou longo período, “leva uma vida fechada e formalmente
4
Op. Cit. Vigiar e punir...p. 83 e 84.

5
“(...) os teóricos do conflito representam o processo de criminalização, como um processo no qual
grupos poderosos conseguem influir sobre a legislação, usando as instituições penais como uma
arma para combater e neutralizar comportamentos de grupos contrários” (BARATTA, Alessandro.
Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal. Introdução à Sociologia do Direito Penal. 3ª ed.
Tradução e prefácio Juarez Cirino dos Santos. Editora Revan: Instituto Carioca de Criminologia, 2002,
p.129).

6
VARELLA, Dráuzio. Estação Carandiru. São Paulo: Companhia das Letras, 1999, p. 12.

7
“Prender alguém, mantê-lo na prisão, privá-lo de alimentação, de aquecimento, impedi-lo de sair, de
fazer amor etc., é a manifestação de poder mais delirante que se possa imaginar” (FOUCAULT,
Michel. Microfísica do Poder. Organização, introdução e revisão técnica de Roberto Machado. 28ª
ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2014, p.134.
3

administrada”,8 cujo fim real, a segregação de classe, é bem diferente da função


declarada: a ressocialização.

A transformação ocasionada pelo cárcere

A experiência do cárcere é algo que transforma o ser humano; se para o bem


ou para o mal, vai de cada um, da índole da pessoa e, principalmente, dos valores
sob os quais ela foi criada e das condições do cárcere, é claro. Alguns sucumbem
ao meio e se filiam às facções como meio de sobrevivência. Outros tiram a própria
vida, a exemplo do que se noticiou9 sobre o notório condenado Elias Pereira da
Silva, o “Elias maluco”, que se enforcou dentro da prisão de segurança máxima de
Catanduvas-PR. “Tradicionalmente, todo o sofrimento imposto pela condição de
estar preso é o bastante para a decisão de terminar com a sua vida”, segundo
aponta estudo amplo realizado em determinadas instituições penais no Estado do
Rio Grande do Sul.10 Isso fez reascender a polêmica sobre condições degradantes
do cárcere e as penas torturantes do regime disciplinar diferenciado, o RDD, bem
como trouxe à voga a discussão sobre o recrudescimento penal e da não aplicação
das garantias fundamentais e dos direitos humanos contidos na Constituição e nos
tratados internacionais.
Na reportagem que cita o caso de Elias Maluco, o Depen se limitou a declarar
ao jornalista que apenas “cumpre a Lei de Execução Penal (LEP)”, contudo, parece
que no Brasil persiste a ideia do direito penal do inimigo 11, cuja característica é o

8
GOFFMAN, Erving. Manicômios, prisões e conventos. São Paulo: Editora Perspectiva, 1974,
p.15.
9
PORTAL de notícias UOL. Disponível em: <https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/20
20/09/24/elias-maluco-oea-cobrou-governo-brasileiro-por-pena-cruel-antes-de-morte.htm>. Acesso
em 08 jun. 2021.

10
NEGRELLI, Andreia Maria. Suicídio no sistema carcerário: análise a partir do perfil
biopsicossocial do preso nas instituições prisionais do Rio Grande do Sul. Dissertação de
mestrado. PUC, 2006, p.37.

11
Segundo Günter Jakobs, o direito penal do cidadão é o direito de todos. Já o direito penal do
inimigo é constituído contra este. O direito do cidadão visa manutenção das normas, já o do inimigo
cria normas para combater perigos. (JAKOBS, Günter. Direito Penal do Inimigo noções e críticas.
Org. e trad. André Luis Callegarim, Nereu José Giacomolli. 2. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado
Ed., 2007, p. 30).
4

sofrimento do condenado. E, se levarmos em conta o que o Depen afirmou, que a


LEP é cumprida pelo Estado, então se percebe que nela está intrínseco o direito
penal do inimigo.
O fato é que ninguém submetido a tais condições degradantes terá meios de
se reformar; se é que algum dia isso foi pensado concretamente, pois o que se vê é
quase um mito atrelado à ideologia da ressocialização. Alguém que vive essa
experiência aniquiladora do cárcere pode se tornar alguém melhor? Vemos, na
verdade, a animalização do indivíduo, que acabará, mais cedo ou mais tarde, se
voltando para a própria sociedade que o produziu. Como bem disse Foucault:
“Desde 1820 se constata que a prisão, longe de transformar os criminosos em gente
honesta, serve apenas para fabricar novos criminosos ou para afundá-los ainda mais
na criminalidade”12.
Em uma entrevista concedida à apresentadora Marília Gabriela em 2001, o
escritor e ex-presidiário Josemir José Fernandes Prado (Jocenir), autor do livro
“Diário de um Detento”, descreve em um pequeno fragmento sua impressão sobre
os detentos do sistema carcerário com os quais teve de conviver e se adaptar,
segundo ele, nos seus quatro anos de pena no Carandiru. Seu relato exemplifica a
natureza dos indivíduos que compõem o sistema penal:

Fazendo uma análise bem fria da situação, a gente, às vezes, exige deles
um comportamento dentro dos padrões morais nossos, mas só que eles não
conhecem... a maioria não conhece nossos padrões morais, porque eles já
nascem e crescem entre a miséria e a violência, então, o código moral
deles é o código da delinquência (sic).13

O ponto mais chamativo da citação de Josemir é justamente a percepção dele


sobre a idealização por parte daqueles que estão aqui fora em relação aos que
estão lá dentro. Pensemos, por exemplo, em como tentar corrigir um indivíduo
dentro de um sistema em que os padrões morais diferem daqueles que permeiam os
demais sistemas sociais? Como fazer para que o indivíduo volte ao “normal” da
sociedade fazendo com que ele passe anos em um sistema que é anormal por
natureza? Se, como disse Josemir, a falta de conhecimento dos padrões morais dos
12
Op. Cit. Microfísica do Poder. p. 216.

13
PRADO, Josemir José Fernandes. Diário de um detento. Entrevista concedida a Marília Gabriela.
Programa Gabi. Emissora Rede TV. Ano 2001. 9:28 minutos. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=8Bv3NO5ymQo>. Acesso em 06 de jun. 2021.
5

indivíduos encarcerados é resultado de um crescimento do indivíduo em condições


precárias de vida em meio à violência e miséria, também é fato se pensarmos que o
indivíduo dentro da prisão não tem, absolutamente, capacidade de reverter tal
quadro. Assim, nota-se que “a prisão produz e reproduz os fenômenos que, segundo
o discurso ideológico, objetiva controlar ou reduzir”14.
Essa mesma violência que levou o indivíduo para a prisão é a mesma que
pretende reformá-lo, numa espiral icônica de inutilidade, pois, se a violência pudesse
gerar uma reforma positiva no indivíduo, as prisões seriam o milagre dos séculos.
Mas não, ainda que os objetivos ideológicos e os objetivos reais da prisão apontem
para uma aparente repressão da criminalidade, mas cujo pano de fundo indique a
reprodução da criminalidade e das relações sociais15, segregando os estigmatizados
das demais pessoas, a prisão serve aos interesses econômicos do mercado. Nela é
feita aquilo que Foucault chamou de “gestão diferencial” 16 da criminalidade,
reproduzindo as relações sociais entre pobres e riscos e, neste caso, imunizando
estes e estigmatizando aqueles.
São o corpo e espírito do indivíduo moldados aos interesses de mercado,
interesses burgueses que pretendem separar os inaptos, aqueles não capazes de se
adaptar ao capitalismo, cuja função é, junto com a prisão, criar, como dizia Foucault,
corpos dóceis. Por isso, dizia ele

(...) não se trata de cuidar do corpo, em massa, grosso modo, como se


fosse uma unidade indissociável, mas de trabalhá-lo detalhadamente; de
exercer sobre ele uma coerção sem folga, de mantê-lo ao nível mesmo da
mecânica — movimentos, gestos atitude, rapidez: poder infinitesimal sobre
o corpo ativo17.

Assim o indivíduo vai cedendo aos poucos, acostumando-se, por assim dizer,
a “esses métodos que permitem o controle minucioso das operações do corpo, que

14
SANTOS, Juarez Cirino. A criminologia radical. Curitiba: ICPC: Lumen Juris, 2006, p. 83

15
Idem. Criminologia radical…p. 82

16
Se o principio da pena é sem duvida uma decisão de justiça, sua gestão, sua qualidade e seus
rigores devem pertencer a um mecanismo autônomo que controla os efeitos da punição no próprio
interior do aparelho que os produz (FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir - nascimento da prisão.
Tradução de Raquel Ramalhete. 29ª ed. Petrópolis: Editora Vozes, 2004, p. 205)

17
Idem. Vigiar e punir...p. 117.
6

realizam a sujeição constante de suas forças e lhes impõem uma relação de


docilidade-utilidade, são o que podemos chamar as "disciplinas"”, conclui18.

2. SUPERLOTAÇÃO

O cárcere em números (FALA SOBRE A PRECARIEDADE...)

Eis um dos principais, senão o mais noticiado e notório problema em relação


ao sistema prisional na atualidade.

Segundo dados oficiais de 2019 computados pelo Conselho Nacional do


Ministério Público19, havia no Brasil 721.363 pessoas presas; ainda que a
capacidade de detenção não passasse de 446.389, em números exatos. Conforme
se vê no quadro abaixo, a taxa de ocupação média no país é de 161,60%.

Os números mostram que o encarceramento parece ter sido adotado como


regra e solução aos problemas da violência; em contraste sobre o que se expôs
anteriormente, de que o cárcere é criminogênico, portanto, essa realidade social não

18
Idem. Vigiar e punir...p. 117.

19
Conselho Nacional do Ministério Público – CNMP. Disponível em: <https://www.cnmp.mp.br/portal/
relatoriosbi/sistema-prisional-em-numeros>. Acesso em 29 dez. 2020.
7

poderá se sustentar. O fato é que “a situação da segurança pública no Brasil revela


um paradoxo: o modelo que preza pela manutenção da ordem democrática é
operado através de um regime de exceção”.20

Ao verificarmos os dados isolados por região, vemos que o Centro-Oeste


apresenta o quadro mais grave dessa superpopulação carcerária, quase 200% de
taxa de ocupação.

Aos nos debruçarmos sobre esses números, temos de considerar que eles
compõem uma realidade triste, perversa e que espelha a desigualdade em nosso
país, onde nem todos têm acesso à justiça devido a fatores de ordem econômica,
social...

O sistema judicial brasileiro não se encontra estruturado para garantir os


direitos expressos na constituição, em decorrência de inúmeros fatores e
obstáculos limitantes para o acesso a justiça, tais como: (i) fatores
econômicos: custas judiciais e custas periciais elevadas para a produção de
provas; (ii) fatores sociais: duração excessiva do processo, falta de
advogados, juízes e promotores; dificuldade de acesso físico ao Fórum;
pobreza; exclusão e desigualdade social; (iii) fatores culturais:
desconhecimento do direito; analfabetismo; ausência políticas para a
disseminação do direito; (iv) fatores psicológicos: recusa de envolvimento
com a justiça; medo do Poder Judiciário; solução dos conflitos por conta
própria; (v) Fatores legais: legislação com excesso de recursos e "chicanas"
protelatórias; lentidão na outorga da prestação jurisdicional.21

20
CARDOSO, Helena Schiessl; NUNES, Leandro Gornicki; GUSSO, Luana de Carvalho. Criminologia
contemporânea: crítica às estratégias de controle social. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2018, p.
121.
21
FIGUEIREDO, Alcio Manoel de Souza. Acesso à justiça: uma visão sócio-econômica. 2002.
Artigo. Universidade Estadual de Ponta Grossa-PR. Disponível em: file:///D:/Users/Ezequiel/Downloa
ds/72357-299962-1-PB.pdf. Acesso em 15 de out. 2020.
8

Nem todos os encarcerados deveriam estar presos, seja por questões


sanitárias, como as suscitadas pela pandemia22, ou pela demora no julgamento e
desídia processual23, as penas alternativas ainda não são satisfatórias. 24 Em 2017 a
ONG Conectas propôs algumas ações que poderiam reduzir significativamente essa
questão da superlotação, como: aplicação de medidas cautelares diferentes da
prisão; monitoramento do abuso de prisão provisória; realização da audiência de
custódia (já é realidade); fortalecimento das defensorias públicas; aplicação de
penas alternativas para pequenos crimes de tráfico; priorizar e incentivar o estudo e
o trabalho nas unidades prisionais; medidas de auxílio ao reingresso do ex-
presidiário ao mercado de trabalho25; Tais medidas são um auxílio, pequeno, talvez,
ante a massa encarcerada, contudo, é uma tentativa, e, como tal, merece
desenvolvimento e ampliação.

2. A VIOLÊNCIA DENTRO E FORA DO CÁRCERE

22
Superior Tribunal de Justiça. Disponível e: <http://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicaca
o/Noticias/14102020-STJ-confirma-decisao-que-mandou-soltar-todos-os-presos-do-pais-que-tiveram-
liberdade-condicionada-a-fianca.aspx>. Acesso em: 29 dez. 2020.

23
Superior Tribunal de Justiça. Disponível em: <http://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunic
acao/Noticias-antigas/2017/2017-07-26_08-07_Excesso-de-prazo-nao-pode-ser-constatado-apenas-
por-soma-de-prazos-processuais.aspx>. Acesso em 29 dez. 2020.

24
BRASIL. Câmara dos Deputados. Disponível em: <https://www.camara.leg.br/noticias/533204-
especialistas-sugerem-aumento-de-penas-alternativas-para-reduzir-superlotacao-nos-presidios/>.
Acesso em 29 dez. 2020.

25
Portal Conectas. Disponível em: <https://www.conectas.org/noticias/10-medidas-para-o-sistema-
prisional?
gclid=CjwKCAjwn9v7BRBqEiwAbq1Ey7fy2psDQlp1u2Jb5gjsp06SdJrW6hp8CC6Qgbs522Qafthq_bB7
LBoCUWwQAvD_BwE>. Acesso em 29 dez. 2020.
9

Quando as estatísticas transformam em número os atos de violência que


normalmente são vistos como um problema abstrato, ou demasiado extenso para se
entender de imediato, a percepção da população se traduz na máxima “bandido bom
é bandido morto” que, segundo crítica do Forum Brasileiro de Segurança Pública de
2019, “contamina sobremaneira não apenas a atuação policial como também a
gestão prisional”26.
A violência como “contaminação” é facilmente percebida e recebida pela
sociedade, pois surge como resposta ao cidadão, que vê na violência do
encarceramento a solução para violência da criminalidade que o cerca; reprimir a
violência com violência: duas faces de uma mesma moeda. Ao nos debruçarmos
sobre tal fato, fica fácil perceber o mecanismo que se retroalimenta, em que o
sistema que busca isolar o ser violento, o faz utilizando-se de violência. A resposta,
portanto, à violência, tem sido a violência. Isso configura um meio pelo qual o
objetivo principal a ser alcançado, neste caso, o cárcere como remédio à violência,
sujeita os indivíduos a ele destinados, à violência que se busca evitar.

A própria substância da ação violenta é regida pela categoria meio-fim, cuja


principal característica, quando aplicada aos negócios humanos, foi sempre
a de que o fim corre o perigo de ser suplantado pelos meios que ele justifica
e que são necessários para alcancá-lo27.
26
FBSP – FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA. Anuário Brasileiro de Segurança
Pública 2019. São Paulo: FBSP, 2019. Disponível em: http://www.forumseguranca.org.br/wp-
content/uploads/2019/09/Anuario-2019-FINAL-v3.pdf>. Acesso em 10 dez. 2020.

27
ARENDT, Hannah. Sobre a violência. Tradução de André Duarte. Rio de Janeiro: Relume Dumará,
1994, p. 14.
10

O que se disse anteriormente sobre o cárcere ser criminogênico se mostra


evidente, pois seu objetivo não é tratar, mas disciplinar, neutralizar o ser. A falácia
de recuperar uma pessoa submetendo-a a um universo de violência só faz sentido
para o discurso político, e daqueles que fazem a gestão do cárcere, pois “a lei se
destina à proteção dos interesses dos poderosos, enquanto a polícia e a prisão são
garantias violentas de uma ordem social injusta”.28
A própria natureza do cárcere rechaça qualquer possibilidade de não-
violência, pelos menos não no âmbito do confinamento, que submete o ser a uma
desgastante jornada de inatividade improdutiva, porém, de tensão vigilante.
Em nosso país pode-se dizer que a violência é estrutural e decorre dos
processos de manutenção do capitalismo. As vicissitudes causadas por este sistema
quase nunca são percebidas como violência. Um cidadão que tem dificuldades em
ascender na escala social jamais perceberá tal fato como violência. A redução de
direitos ou sua inaplicabilidade, conjugados com a parcialidade de um sistema
jurídico segregador, quase nunca são percebidos como violência.

Um simples exame empírico mostra a natureza classista da definição legal


de crime e da atividade dos aparelhos de controle e repressão social, como
a polícia, a justiça e a prisão, concentradas sobre os pobres, os membros
de classes e categorias sociais marginalizadas e miserabilizadas pelo
capitalismo.29

Depreende-se das questões vistas acima que a violência passa a ser o meio
principal de segregação, aliada à pobreza e a um sistema que se vale de ambos
para definir quem é quem na escala social. Disso, inevitavelmente, surgem aspectos
definidores que são o mote para o que chamamos de coisificação ou
desumanização do ser humano, aqui entendido, é claro, como o pobre, pois as
classes mais abastadas estão longe dessa ressignificação.

3. O COISIFICAÇÃO E DESUMANIZAÇÃO DO SER HUMANO


28
ibid. A criminologia radical. p. 28

29
Op. cit. A criminologia radical. p. 11 e 12.
11

O conceito de coisificação, reificação, surgiu na Alemanha, nas palavras de


Marx30, cujo termo é Verdinglichung, que quer dizer exatamente “transformar algo
em coisa”.

A sociedade moderna tem se tornado cada vez mais um projeto de consumo


ligado intrinsicamente ao sistema capitalista. Marx vaticinava que, ao fim e ao cabo,
tudo se tornará objeto, no processo de reificação, que tem profunda ligação com os
aspectos do capitalismo. Consequentemente a vida se torna um objeto, e, quanto
mais fundamentada em um sistema que só vê o outro como um produto que
consome, mais as interações vão se perdendo, se enfraquecendo e se tornando
mais insensíveis, e o outro passa a ser também um produto, o qual se consome ou
se descarta; “a reificação da própria vida repousa não em um excesso, mas em uma
escassez de esclarecimento, e que as mutilações infligidas à humanidade pela
racionalidade particularista contemporânea são estigmas da irracionalidade total.31

Se se consome algo, sem refletir, coisa também se torna, pois faz parte de
um sistema de coisificação, de objetificação do ser para um simples consumidor.

Onde terei jogado fora


meu gosto e capacidade de escolher,
minhas idiossincrasias tão pessoais,
tão minhas que no rosto se espelhavam
e cada gesto, cada olhar
cada vinco da roupa
sou gravado de forma universal,
saio da estamparia, não de casa,
da vitrine me tiram, recolocam,
objeto pulsante mas objeto
que se oferece como signo de outros
objetos estáticos, tarifados.

30
LIMA, Martonio Mont’Alverne Barreto; LEÃO REGO, Walquíria Gertrudes Domingues. Atualidade
da Reificação de Marx como Instrumento da Análise de Relações Jurídicas e Sociais.
Disponível em: <https://www.scielo.br/j/ln/a/HG7ChyVdLb9kQRHnSxWK45m/?lang=pt>. Acesso em 8
de jun. 2021.
31
ADORNO, Theodor W. Industria Cultural e Sociedade. Traduzido por Juba Elisabeth Levy. São
Paulo: Paz e Terra, 2002, p. 50.
12

Por me ostentar assim, tão orgulhoso


de ser não eu, mas artigo industrial,
peço que meu nome retifiquem.
Já não me convém o título de homem.
Meu nome novo é coisa.
Eu sou a coisa, coisamente32.

(Carlos Drummond de Andrade)

Levada essa pequena digressão ao contexto do cárcere, não há dúvidas que,


pelo que foi exposto anteriormente, o cárcere é uma fábrica de despersonalização
do indivíduo e coisificação dele como objeto. Contudo, mesmo fora do cárcere esse
processo de coisificação se constrói a partir da exclusão, da segregação e da falta
de alteridade.

A sociedade neoliberal é um lugar em que os sujeitos se tornam menos


propensos a ajudar alguém em situação de exclusão, especialmente porque
a vida em meio à multidão retira do sujeito a percepção de responsabilidade
pelo outro, havendo uma cultura da indiferença (negação da alteridade): é
um lugar em que o outro/excluído é negado e os sujeitos criam muros
simbólicos e buscam paliativos para as neuroses cotidianas (...).33

A exclusão social é endêmica. O cárcere, neste caso, apenas reflete algo que
está no seu entorno: a exclusão de alguns passa a ser quase uma necessidade ao
modelo capitalista, principalmente àqueles que não se adaptam a este modelo, os
não-consumidores, logo, precisam dar espaço para os que o são.

5 O FIM DA VIOLÊNCIA PELO ENCARCERAMENTO – UM CONCEITO


MIDIÁTICO FANTASIOSO. (VER SE O TÓPICO ANTERIOR CABE AQUI, COMO
UM ARGUMENTO). VER SE CABE COLOCAR ESSE TÓPICO NO LUGAR DO
TÓPICO 1.

32
ANDRADE, C. D. Obra poética. Volumes 4-6. Lisboa: Publicações Europa-América, 1989.

33
CARDOSO, Helena Schiessl. NUNES, Leandro Gornicki. GUSSO, Luana de Carvalho Silva.
(organizadores). Criminologia Contemporânea: crítica Às estratégias de controle social. Rio de
Janeiro: Lumen Juris, 2018, p. 79.
13

Atualmente as mídias têm um papel quase educacional na vida da muitos, já


que por ela muitas pessoas também se instruem e obtém boa parte do repertório de
conhecimento que possuem (citar Sartori). E essa forma de obter instrução,
conhecimento, carrega consigo o problema de formar pessoas acríticas.

Se pensarmos que a mídia, como instância de tratamento de informação,


difunde conhecimento sobre tudo que nos cerca, é evidente que tal conhecimento
passou pelo crivo daquelas que o produziram.

(...) o acontecimento nunca é transmitido à instância de recepção em seu


estado bruto; para sua significação, depende do olhar que se estende sobre
ele, olhar de um sujeito que o integra num sistema de pensamento e, assim
fazendo, o torna Inteligível34.

Ou seja, tem o viés da instância de informação que o produziu. Contudo, isso


não seria um grande problema, pois é fato que mesmo um livro carrega as
ideologias e idiossincrasia daquele que o escreveu. Entretanto, atenhamo-nos ao
fato de que, na mídia, o tratamento da informação, além de carregado de um viés
direcionado, tem ainda a finalidade de fazer crer, de fazer com que o cidadão encare
aquela verdade, aquela notícia, aquele conhecimento como fato real e certo, e esse
é o principal problema: a falta de crítica por parte de quem recebe a informação.

A constante manifestação da mídia sobre um tema, as diversas formas de


tratar um assunto e a recorrência de muitos deles, acabam criando na audiência
uma sensação de legitimação do que se informa. Há uma frase atribuída a Josefg
Goebbels que diz que “basta repetir uma mentira para que ela se torne uma
verdade”.35 Isso porque ela, a informação, mentirosa ou não, efetua um ajuste no
modo como a pessoa percebe a realidade, já que sua constante divulgação pelos
meios de comunicação, que é o modo como muitas pessoas se informam e
entendem a vida, passa a ser o meio pelo qual a pessoa internaliza a sua realidade.
Logo, temos a realidade normal, a do dia a dia, e a realidade fomentada pela mídia.
34
CHARAUDEAU, Patrick. Discurso das mídias. Tradução Ângela S. M. Corrêa. 2ª ed. São Paulo:
Contexto, 2012. p. 95.

35
Portal de Notícias da BBC Brasil. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/vert-fut-
37852352>. Acesso em 29 dez. 2020.
14

Temos dois mundos cujas dinâmicas funcionam de forma diferente,


contudo, estão intrinsicamente ligados. A realidade mediada é uma
realidade virtualmente construída e fruto de um poder das instâncias
mediadoras. O simbolismo por elas utilizado é oriundo da realidade física,
ordinária, empírica por assim dizer. Entretanto, esta realidade é ordenada e,
como tal, dá sentido imediato ao indivíduo, que já recebe o mundo
concebido, e neste “conformismo lógico”, como dizia Durkheim, mantém-se
inerte e acrítico sobre o mundo que o cerca36.

Entretanto, indicar que a mídia, por vezes, não só divulga, mas fomenta a
violência quando a exibe como uma mercadoria – e é isso que é, pelo menos para
muitos programas - é também negar que a violência é um fato social real. É sabido
que nos primórdios da vida em sociedade, quando os primeiros seres humanos já
perambulavam pela terra, a violência era uma ferramenta de proteção contra
animais e também outros grupos humanos, mas no sentido de garantir a
sobrevivência, de manutenção da prole e do grupo. Contudo, mesmo nesse
longínquo período em que os caçadores-coletores seguiam a marcha da evolução,
sabe-se que esta só foi possível por uma característica bem peculiar: a compaixão.
Pode parecer estranha essa afirmação, já que as imagens que temos dos homens
primitivos estão sempre ligadas a indivíduos brutos, insensíveis e prontos a atacar
ao menor movimento. Entretanto, segundo pesquisas arqueológicas e
antropológicas, os primeiros grupos de seres humanos só sobreviveram porque
desenvolveram um senso de cuidado e proteção entre os seus, permitindo que sua
descendência se perpetuasse.

A própria ideia de bondade contrasta com a imagem de nossos primeiros


humanos – todos, muitas vezes, pessoas que eram brutais por necessidade.
A própria palavra Neandertal evoca uma imagem de uma pessoa violenta,
insensível. Essas imagens são tão fortes em nós que, evidenciar potenciais
de gentileza tão cedo em seres humanos, os quais se preocupam
profundamente uns com os outros, é muitas vezes desconsiderada. No
entanto, apesar de sua sutileza, há evidência de uma sensibilidade única
que persiste em desafiar as imagens de nossos ancestrais e chega até
mesmo a alguns dos primeiros períodos da pré-história, marcadamente
mais difundidos do que poderíamos supor37.
36
QUISTER, Ezequiel Schukes. O (pré) julgamento midiático sensacionalista. A justiça é cega?
Será? Novas Edições Acadêmicas, Curitiba, 2020. p. 40.
37
The very idea of kindness contrasts with our image of our early humans - all too often one of people
who were by necessity brutal, the very word Neanderthal conjuring up an image of thug like
insensitivity. These images are so strong that potential evidence for kindness, that early humans cared
15

Amar o próximo como a si mesmo, que verdadeiramente se justifica pelo fato


de nada ser mais contrário à natureza humana original, segundo Freud, 38 pode ser o
que tenha motivado o ser humano desde o início, mas com o tempo, isso foi se
perdendo.

Em nossa sociedade pairam muitas utopias e ideologias, as quais são


reforçadas pelo aparelho midiático ou mesmo pelo próprio governo. Uma dela, citada
logo no 5º parágrafo deste artigo, a ideologia da ressocialização, busca fazer crer na
possibilidade de reformar o indivíduo submetendo-o a condições degradantes de
vida. Outra função que se pode dizer não declarada de tal ideologia é a de acabar
com a criminalidade (que também beira à utopia). Mais do que reformar o indivíduo,
ela buscar neutralizá-lo para que não cometa mais crimes. Contudo, seguindo esse
viés punitivo, o que o cárcere tem feito é justamente o contrário, já que reproduz a
violência que tenta reprimir, pois, como dito anteriormente, ele é criminogênico.

A utopia se molda à ideologia quando apresenta ao cidadão um discurso


sobre acabar de vez como a criminalidade, sem demonstrar, é claro, que isso é
impossível, pois o crime é algo inerente à sociedade humana. Como diz Elisabeth
Roudinesco,

Dar cabo da perversão. Eis, portanto, na atualidade, a nova utopia das


sociedades democráticas globalizadas, ditas pós-modernas: suprimir o mal,
o conflito, o destino, a desmedida, em prol de um ideal de gestão tranquila
da vida orgânica. Por outro lado, não haveria o risco de um projeto desse
tipo ser capaz de fazer ressurgir, no seio da sociedade, novas formas de
perversões, novos discursos perversos? Não seria ele capaz, em suma, de
transformar a própria sociedade numa sociedade perversa?39

deeply about each other, is often disregarded. Yet despite its subtlety, evidence for a rather unique
sensitivity persists in challenging our images of our ancestors and comes across even from some of
the earliest periods of prehistory, markedly more widespread than we might suppose.(tradução livre)
SPIKINS, Penny. How Compassion made us human - The New Story of Human Origins. New
York: Pen and Sword, 2018, p. 43. Disponível em: <https://www.researchgate.net/publication/3267183
60_How_Compassion_Made_Us_Human_The_origins_of_tenderness_trust_and_morality>. Acesso
em 29 ago. 2020).

38
FREUD, Sigmund. O Mal-Estar na Civilização. Obras Completas. v. 18. Tradução Paulo César de
Souza. São Paulo: Cia das Letras, 2010. p. 51.
39
ROUDINESCO, Elisabeth. A parte obscura de nós mesmos. Uma história dos perversos.
Tradução André Telles. Rio de Janeiro: Zahar, 2007, p. 121. Livro eletrônico disponível em:
<http://lelivros.love/book/baixar-livro-a-parte-obscura-de-nos-mesmos-elisabeth-roudinesco-em-pdf-
epub-e-mobi-ou-ler-online/>. Acesso em 24 de set. 2020.
16

Na citação de Roudinesco vemos que ela levanta certas questões sobre essa
utopia do fim da perversão. É de grande valia pensarmos sobre suas palavras, já
que o pano de fundo sobre o qual ela faz tais indagações, modernamente falando,
foi a sociedade nazista, cujo lema inicial tinha tudo a ver com uma limpeza étnica e o
fim da criminalidade pelo uso da violência, e os resultados disso todos conhecem.
Semelhante ao que nos ocorre hoje, em que o poder estatal decide, acima de outras
considerações humanísticas, quem está liberto ou quem está preso, quem vive ou
quem morre, “os nazistas haviam se arrogado no direito de decidir quem devia ou
não devia habitar o planeta Terra”.40

CONCLUSÃO

Ao tentar esboçar uma conclusão sobre o tema, deparamo-nos com um


universo de possibilidades em que a ferramenta da visão reflexiva, curta e limitada
de que nos valemos, não é capaz de abarcar algo fora desse emaranhado de
dúvidas, circunstâncias e condicionamentos dos quais somos acometidos. A
questão, aqui tratada superficialmente nessas poucas páginas, merece um tratado
ante a sua complexidade e abrangência. Contudo, a vontade e os limites dessas
páginas nos permite sintetizar, ou melhor, delimitar uma ideia simples e até banal
por despretensiosa que é: O ser humano está doente, logo, nossa sociedade está
doente.
Renato Russo, em uma de suas mais famosas músicas, Índios, fala o
seguinte: “nos deram espelhos e vimos um mundo doente”. É certo, contudo, que
nem sempre reconhecemos que estamos doentes: eis um desafio hercúleo.
Percebermos que os problemas são, invariavelmente causa de nosso
comportamento, poderia, em teoria, modificar muito de nossa visão sobre a
sociedade. Ao tecer essa pequena digressão queremos remeter o leitor ao que foi
tratado nas páginas anteriores, de que a violência que é reprimida por violência não
pode ter como substrato nada diferente de violência, de empobrecimento do ser

40
Ibid. A parte obscura de nós mesmos...p.95
17

humano, de perda constante da empatia e, principalmente, da perda da alteridade. É


isso que o cárcere causa.
O cárcere não é um lugar bom, pois sua estrutura extrai o pior do ser humano
e o neutraliza como indivíduo, o desumaniza. Com isso perdemos o exercício da
alteridade, que visa compreendermos melhor a nós mesmo e aos outros. Perdemos
a chance de abrirmos outro viés de pensamento, diferente daquele que só vê na
exclusão a solução do problema.
Vemos que a noção e a tentativa de pensamento alargado sugere outra via de
solução para o problema do cárcere: sugere que este, como mostram todos os
indícios, não serve à reabilitação do delinquente, antes, o faz progredir na seara do
crime. Sugere que o cárcere só existe em relação direta ao capitalismo, já que visa à
segregação principalmente daqueles que não se adaptam a este modelo.
Portanto, a título de remate, consideramos que: 1) O cárcere segrega e
estigmatiza, além de reforçar as diferenças sociais pela gestão diferencial da
criminalidade; 2) O cárcere é um depósito de gente, que, ainda que útil, vê a
inutilidade de sua existência em um ambiente em que útil é ser inútil; 3) O cárcere
como remédio à violência, sujeita os indivíduos a ele destinados à violência que se
busca evitar; 4) A coisificação operada pelo cárcere é o último nível de
despersonificação do indivíduo. A partir do momento que ele se vê como coisa,
surge o delinquente profissional.

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