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Segundo Bitencourt, a prisão com finalidade de custódia de presos provisórios “exis-
tiu desde tempos imemoriáveis” (2011, p. 505). Entretanto, a prisão, com a finalidade
ressocializadora ocorreu em 1595, em Amsterdã, com base nas ideias de John Howard.
(WELZEL, 1956, p. 243).
40 Sandro Luiz da Costa
bem arejadas, havendo diversas casas para separação dos réus, confor-
me suas circunstâncias, e natureza dos seus crimes”. No entanto, mesmo
após a vigência da avançada Lei de Execuções Penais (Lei 7.210/1984) e
da Constituição Cidadã (1988), o Estado insiste em sua omissão de não
implementar este mandamento, não havendo o necessário investimento
em colônias penais (regime semiaberto) 47, casas de albergado48 (regime
aberto e limitação de final de semana) e outros recursos materiais e hu-
manos necessários para a implementação da LEP.
Dessa forma, no Brasil, atualmente a efetividade da pena privati-
va de liberdade é uma utopia e, por consequência, a pena não cumpre suas
funções retributivas, preventivas e muito menos de ressocialização do sen-
tenciado, afetando-se assim a ordem jurídica e social como um todo49.
Nesse sentido, Boschi descreve a realidade brasileira de uma
década atrás, mas, infelizmente, ainda inalterada:
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Em Sergipe somente existe colônia agrícola no município de Areia Branca (CER-
SAB1 e 2), que esteve (na época da elaboração deste trabalho) interditada por decisão
judicial, em face da superlotação e ausência de estrutura adequada.
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No Estado de Sergipe não há nenhuma casa do albergado em funcionamento, razão
pela qual, atualmente, na maior parte do Estado, os condenados que se submetem a es-
te regime cumprem prisão domiciliar, que, por ausência de estrutura de acompanha-
mento adequado, torna-se inefetivo, não obstante seja um dos mais importantes regi-
mes penitenciários para fins de readequação do condenado à sociedade.
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Por estas razões, Zaffaroni critica fortemente a pena de prisão: “Insistir en que el
poder del sistema penal no cumple con ninguna de las funciones que las llamadas
teorías de la pena han pretendido asignarle al mismo, sería redundante. Sabemos que
la pena no cumple ninguna función preventiva general ni negativa ni positiva, que
tampoco cumple ninguna función preventivo-especial positiva y que la única función
preventivo-especial negativa (al igual que general negativa) que podría cumplir sería
a través de un uso generalizado de la muerte. Sabemos que la ejecución penal no
resocializa ni cumple ninguna de las funciones re que se la han inventado (re-
-socialización, personalización, individuación, educación, inserción, etc.), que todo
eso es mentira y que pretender enseñarle a un hombre a vivir en sociedad mediante el
encierro es, como dice Carlos Elbert, algo tan absurdo como pretender entrenar a
alguien para jugar fútbol dentro de un ascensor”. (ZAFFARONI, 1993, p. 43).
Da pena, sua dosimetria e sua execução 41
5.1 MODALIDADES
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No Projeto de Lei 236/2012, que trata sobre o Novo Código Penal, são abolidas as
espécies de pena privativa de liberdade aqui referidas.
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Como exceções a esta regra podem ser citados os artigos: 359-A do CPB; 290, do
Código Eleitoral; 41-B e 41-F, do Estatuto do Torcedor, 29 da Lei 11.105/2005 (Bio-
segurança); 96 e 109 do Estatuto do Idoso; 45 da Lei 9.605/1998 (Crimes ambientais);
17 e 18 da Lei 9.263/1996 (Planejamento familiar), em um universo de mais de 400
tipos penais com pena privativa de liberdade reclusiva pesquisados.
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Vide esta classificação dos crimes no título 6 deste livro, sobre penas restritivas de
direito.
Da pena, sua dosimetria e sua execução 43
54
“Art. 29. O trabalho do preso será remunerado, mediante prévia tabela, não podendo
ser inferior a três quartos do salário mínimo.
§ 1º O produto da remuneração pelo trabalho deverá atender:
a) à indenização dos danos causados pelo crime, desde que determinados judicial-
mente e não reparados por outros meios;
b) à assistência à família;
c) a pequenas despesas pessoais;
d) ao ressarcimento ao Estado das despesas realizadas com a manutenção do conde-
nado, em proporção a ser fixada e sem prejuízo da destinação prevista nas letras an-
teriores.
§ 2º Ressalvadas outras aplicações legais, será depositada a parte restante para
constituição do pecúlio, em cadernetas de poupança, que será entregue ao condenado
quando posto em liberdade.
Art. 30. As tarefas executadas como prestação de serviço à comunidade não serão
remuneradas.
Art. 31. O condenado à pena privativa de liberdade está obrigado ao trabalho na
medida de suas aptidões e capacidade”. (LEP).
44 Sandro Luiz da Costa
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Nesse mesmo sentido, o art. 8º do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos de
1966 (Decreto 592/1992).
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Nesse diapasão: Regras Mínimas para o Tratamento dos Reclusos da ONU – 1955.
Da pena, sua dosimetria e sua execução 45
58
“Art. 120. Os condenados que cumprem pena em regime fechado ou semi-aberto e os
presos provisórios poderão obter permissão para sair do estabelecimento, mediante
escolta, quando ocorrer um dos seguintes fatos:
I – falecimento ou doença grave do cônjuge, companheira, ascendente, descendente
ou irmão;
II – necessidade de tratamento médico (parágrafo único do artigo 14).
Parágrafo único. A permissão de saída será concedida pelo diretor do estabeleci-
mento onde se encontra o preso.
Art. 121. A permanência do preso fora do estabelecimento terá duração necessária à
finalidade da saída”. (LEP).
Da pena, sua dosimetria e sua execução 47
a) Critério objetivo
O critério objetivo, estabelecido pelo art. 33, § 2º, do CPB, para o
regime inicial é a quantidade de pena total (LEP, art. 111, caput) em con-
creto, por espécie de pena privativa de liberdade a que foi condenado o réu.
Deve ser considerada ainda a pena total decorrente do concurso de crimes.
O quadro 3 apresenta o regime inicial conforme o critério objetivo:
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“[...] 3- Condenada a paciente à pena de 5 (cinco) anos de reclusão, inviável a fixa-
ção do regime aberto para o cumprimento inicial da reprimenda, nos termos do art.
33, § 2º, alínea “c”, do Código Penal. 4- Ordem denegada”. (STJ – HC 192.099 –
(2010/0222653-2) – 6ª T. – Relª. Minª. Maria Thereza de Assis Moura – DJe
29.06.2012, p. 1.615).
“[...]A pena aplicada acima de 04 (quatro) anos de reclusão não pode ser cumprida em
regime inicial aberto, de acordo com o disposto no art. 33, § 2º, do Código Penal”.
(TJMT – Ap 161/2012 – Rel. Des. Pedro Sakamoto – DJe 09.08.2012, p. 56).
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Shecaira e Corrêa Junior (2002, p. 195), afirmam que “ao reincidente condenado a
pena de detenção inferior a quatro anos deve ser fixado o regime aberto, tendo-se em
vista o que dispõe o art. 33, § 2º, c, do CP”. No entanto, com a devida vênia, há duplo
equívoco interpretativo nesta afirmação: a) o referido dispositivo se aplica ao conde-
nado até quatro anos (“pena seja igual ou inferior a 4 (quatro) anos”), ou seja, inclui-
se a condenação a quatro anos e não somente a inferior a este patamar e b) de forma
cumulativa, a referida norma exige que o condenado seja não reincidente, razão pela
qual, não é possível que um condenado reincidente tenha direito ao regime inicial
aberto.
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Nesse diapasão o STJ: “[...] XI- Nos termos do art. 33 do Código Penal, proíbe-se ao
réu reincidente a fixação do regime aberto, em qualquer caso, e do semiaberto, quan-
do a pena for superior a 04 anos. Incidência da Súmula nº 269/STJ[...]”. (STJ – HC
233.361 – (2012/0029403-9) – 5ª T. – Rel. Min. Gilson Dipp – DJe 01.08.2012,
p. 2.662, grifo nosso).
Da pena, sua dosimetria e sua execução 51
* Súmula 269 do STJ: desde que as circunstâncias judiciais sejam favoráveis (segundo
critério subjetivo).
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“Art. 33, § 2º, [...] b) o condenado não reincidente, cuja pena seja superior a 4 (qua-
tro) anos e não exceda a oito (oito), poderá, desde o princípio, cumpri-la em regime
semi-aberto; c) o condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 4
(quatro) anos, poderá desde o início, cumpri-la em regime aberto”. (grifo nosso).
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Neste sentido: Bitencourt (2011, p. 522).
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“[...] Em se tratando de réu reincidente, condenado a pena inferior a 4 anos, o regi-
me inicial de cumprimento é o semi-aberto – Manutenção integral da sentença. Apelo
parcialmente conhecido e, onde conhecido, improvido. Decisão unânime”. (TJSE –
ACr 2011317866 – (15625/2011) – Relª. Desª. Geni Silveira Schuster – DJe
17.11.2011, p. 12).
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“É admissível a adoção do regime prisional semi-aberto aos reincidentes condenados
a pena igual ou inferior a quatro anos se favoráveis as circunstâncias judiciais”.
(STJ, Súmula 269).
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Por estas razões apresentadas, não concordamos com o posicionamento de Capez
(2011, p. 387) e Tristão (2008, p. 80 e 128), os quais entendem que, no caso de con-
denação por pena reclusiva, o réu reincidente sempre iniciará a execução da pena em
regime fechado.
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“A determinação do regime inicial de cumprimento da pena far-se-á com observância
dos critérios previstos no artigo 59 deste Código”. (CPB, art. 33, § 3º).
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Sobre fixação da pena-base, vide título 9.3 deste livro.
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“[...]II- Não obstante reconhecer-se a existência de certa discricionariedade, pelo
Julgador, na fixação do regime mais rigoroso, quando existirem motivos de fato e de
direito a recomendarem tal providência, necessária se faz a pertinente fundamenta-
ção em eventuais circunstâncias desfavoráveis do art. 59 do Código Penal. III- Se a
pena-base foi fixada no mínimo legal, tendo as circunstâncias judiciais do art. 59
do Código Penal sido favoravelmente sopesadas, não pode o julgador aplicar regi-
me mais severo, com base nos maus antecedentes. IV- Tratando-se de condenado
que preenche os requisitos para o cumprimento da pena em regime aberto, tendo em
vista a quantidade de pena imposta e em virtude do próprio reconhecimento de con-
dições pessoais favoráveis na dosimetria da reprimenda, eis que fixada a pena-base
no mínimo legal, não cabe a imposição de regime mais gravoso. V- Deve ser permiti-
do ao paciente o desconto de sua reprimenda no regime prisional aberto, mantendo-
se, no mais, a sentença condenatória. VI- Ordem concedida, nos termos do voto do
Relator”. (STJ – HC 193.023 – (2010/0228211-6) – 5ª T. – Rel. Min. Gilson Dipp –
DJe 01.08.2011, p. 3.356, grifo nosso).
“1- A sanção imposta ao paciente revela-se razoável, visto que a pena-base foi esta-
belecida um pouco acima do mínimo legal em razão da existência de circunstância
judicial desfavorável, sendo fixada nos termos do art. 59, c/c o art. 68, ambos do Có-
Da pena, sua dosimetria e sua execução 53
Art. 21. Praticar vias de fato contra alguém: Pena – prisão simples,
de 15 (quinze) dias a 3 (três) meses, ou multa, se o fato não constitui
crime (LCP).
Art. 3º. Recusar hospedagem em hotel, pensão, estalagem ou estabe-
lecimento de mesma finalidade, por preconceito de raça, de cor, de
sexo ou de estado civil: Pena – prisão simples, de 3 (três) meses a 1
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“A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto. A
de detenção, em regime semi-aberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a
regime fechado”. (CPB, art. 33, caput, grifo nosso).
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“A pena de prisão simples deve ser cumprida, sem rigor penitenciário, em estabele-
cimento especial ou seção especial de prisão comum, em regime semi-aberto ou
aberto”. (LCP, art. 6º, grifo nosso).
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Como exceção podem ser citadas as normas penais em branco ao avesso, tais como os
delitos previstos na Lei de Crimes de Genocídio (Lei 2.889/1956).
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“[...] III- É ilegal a fixação de regime fechado quando a pena é fixada em patamar
inferior a quatro anos, e inexistirem circunstâncias judiciais desfavoráveis contra o
paciente ou fatos concretos a justificar a decisão. IV- Habeas Corpus não conhecido.
V- Ordem concedida de ofício para fixar o regime aberto para o início do cumpri-
mento da pena imposta aos pacientes”. (STF – HC 103.737 – Rel. Min. Ricardo
Lewandowski – DJe 20.08.2010, p. 35).
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A pena de oito anos para este crime e outros delitos considerados neste exercício
somente seria possível pela aplicação das regras do concurso de delitos (LEP, art.
111). Este tipo de situação, embora muito rara, será utilizada aqui apenas para fins di-
dáticos.
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A pena definitiva em concreto deve desprezar, para todos os efeitos, as frações de dias
(ou seja, horas), com fulcro no art. 11 do CPB, razão pela qual não deve existir pena
em concreto definitiva com unidades inferiores a dias, sendo aqui apresentado este
exemplo apenas para fins didáticos, objetivando lembrar a importância da aplicação
do art. 11 do CPB durante a dosimetria da pena de prisão.
60 Sandro Luiz da Costa
Resposta: regime inicial aberto, com fundamento no art. 33, § 2º, “c”,
do CPB e considerando-se a primariedade do agente e as circunstân-
cias judiciais favoráveis.
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Embora de rara ocorrência, as circunstâncias judiciais, consideradas em seu conjunto,
podem não ser favoráveis nem desfavoráveis ao agente em um caso concreto, ou seja,
neutras. Neste caso, por não serem desfavoráveis ao condenado, não podem interferir
negativamente na fixação do regime inicial.
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