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FACULDADE DE PAULÍNIA – FACP

CURSO DE DIREITO

DISCIPLINA: DIREITO PENAL - PARTE GERAL II

I – DAS PENAS

1 – CONCEITO, FINALIDADES E FUNDAMENTOS CONSTITUCIONAIS DAS PENAS.

Segundo Victor Eduardo Rios Gonçalves, “pena é retribuição imposta pelo Estado em
razão da prática de um ilícito penal e consiste na privação de bens jurídicos determinada
pela lei, que visa à readaptação do criminoso ao convívio social e à prevenção em relação
à prática de novas transgressões”.

O artigo 59 do Código Penal estabelece que as penas devem ser necessárias e


suficientes à reprovação e prevenção do crime, ou seja, a pena, de acordo com nossa
legislação penal deve reprovar o mal produzida pela conduta praticada pelo agente, bem
como prevenir futuras infrações penais.

Os doutrinadores (em especial aqueles que defendem a chamada teoria relativa – que
apregoam o caráter preventivo da pena, em contraposição aos defensores da teoria
absoluta, que advogam a tese da mera retribuição) costumam dividir a prevenção em
prevenção geral e prevenção especial.

Pela prevenção geral, também conhecida por prevenção por intimidação, a pena aplicada
ao autor da infração tende a refletir na sociedade, fazendo com que seus demais
indivíduos reflitam antes de praticar qualquer infração penal. Alguns autores, dentre os
quais Paulo de Souza Queiroz, prelecionam que a pena tem também outro caráter
preventivo geral, denominado positivo, que é de “infundir, na consciência geral, a
necessidade de respeito a determinados valores, exercitando a fidelidade ao direito;
promovendo, em última análise, a integração social”.

Já a prevenção especial consiste na neutralização daquele que praticou a infração penal,


retirando-o, ainda que momentaneamente, do convívio social, impedindo que venha
praticar novas infrações penais, ao menos na sociedade do qual se viu retirado.
Doutrinadores também vislumbram uma prevenção penal positiva, pois que a missão da
pena consiste também fazer com que o autor do delito desista de cometer novos crimes,
buscando se ressocializar.
As penas a serem estabelecidas devem obedecer aos seguintes princípios
constitucionais:

a) Legalidade – artigo 5º, XXXIX.

b) Individualização da pena – artigo 5º, XLVI.

c) Pessoalidade – artigo 5º, XLV.

d) Vedação da pena de morte, penas cruéis, de caráter perpétuo ou de trabalhos


forçados – artigo 5º, XLVII.

e) Proporcionalidade- artigo 5º, XLVI e XLVII.

2 – PENAS PRINCIPAIS.

Pela leitura do artigo 32 do C.P. tem-se que as penas podem ser:

a) Privativas de liberdade: reclusão e detenção (artigos 33 e seguintes)

b) Restritiva de direitos: prestação pecuniária, perda de bens e valores, prestação


de serviços à comunidade ou a entidades públicas, interdição temporária de
direitos e limitação de fim de semana (artigo 43);

c) Multa (artigos 49 e seguintes)

3 - PENAS PRIVATIVAS DE LIBERDADE:

a) Reclusão – cumprida em regime fechado, semiaberto e aberto.

b) Detenção – cumprida em regime semiaberto ou aberto, salvo a hipótese de


transferência excepcional para o regime fechado.

c) Prisão simples – prevista apenas para as contravenções penais, podendo ser


cumprida no regime semiaberto e aberto.

Manoel Pedro Pimentel em sua obra “O crime e a pena na atualidade” e leciona que a
pena de prisão teve sua origem na Idade Média, mais precisamente nos mosteiros, onde
os clérigos e monges faltosos eram recolhidos à cela para se dedicarem, em silêncio, à
meditação e de se arrependerem da falta cometida, reconciliando-se assim com Deus.
Já os sistemas penitenciários encontram suas origens no século XVIII, tendo seus
antecedentes inspirados em concepções mais ou menos religiosas, bem como nos
estabelecimentos de Amsterdam, nos Bridwells ingleses e em outras experiências
similares realizadas na Alemanha e na Suíça.

Todos estes estabelecimentos não são somente um antecedente importante dos


primeiros sistemas penitenciários, mas também marcam o nascimento da pena privativa
de liberdade, superando a utilização da prisão como simples meio de custódia.

Existem três sistemas penitenciários que mais se destacaram durante sua evolução:

a) Pensilvânico – recebeu este nome por haver sido aplicado, incialmente, em 1790,
na Walnut Street Jail. Também chamado “celular”, nele o preso era recolhido à sua
cela, isolado dos demais, sendo estimulado ao arrependimento pela leitura da
Bíblia.

b) Auburniano – Datado de 1818, teve início na penitenciária de Alburn, Estado de


Nova Iorque. Menos rigoroso que o sistema anterior, permitia o trabalho do preso,
incialmente dentro de suas próprias celas e, posteriormente, em grupos. Por impor
silêncio absoluto aos presos, era também conhecido por “silente system”. Como
no sistema anterior, não era permitida a visita de familiares aos presos.

c) Por fim o Sistema Progressivo, surgido na Inglaterra e posteriormente adotado por


outros países do Reino Unido. No século XIX, Alexander Maconochie, capitão da
marinha real, impressionado com o tratamento desumano dado aos presos
degredados para a Austrália, resolver implantar no presídio de Narwich, na ilha de
Norkolf, um sistema progressivo de cumprimento de penas, a ser realizado em três
estágios; no primeiro, conhecido como período de provas, o preso permanecia
isolado, como acontecia no sistema pensilvânico; o segundo estágio possibilitava
o trabalho comum, observando-se, entretanto, o silêncio absoluto, como
preconizado pelo sistema auburniano; por fim, o terceiro período permitia a
liberdade condicional. Na Irlanda foi acrescentado um novo estágio, entre o
trabalho comum em silêncio e o livramento condicional: o de prisão intermediária
(penitenciária industrial ou agrícola), permanecendo recolhido á noite e de dia vida
em comum para demonstrar praticamente o resultado das provações anteriores.
4 – REGRAS DE REGIME DE CUMPRIMENTO DAS PENAS:

a) Regime fechado: a execução da pena se dá em estabelecimento de segurança


média ou máxima – artigo 34 e 39 do C.P.

b) Regime semiaberto – a pena é cumprida em colônia agrícola, industrial ou


estabelecimento similar. Na falta deste, a jurisprudência entende a possibilidade da pena
ser cumprida no regime fechado. – artigo 35.

c) Regime aberto – a pena é cumprida em casa de albergado ou estabelecimento


adequado, ou seja, o sentenciado trabalha fora durante o dia e à noite se recolhe ao
albergue. Excepcionalmente em regime de prisão domiciliar. – artigo 36.

5 – REGIMES INICIAIS DA PENA (artigo 33 do C.P.):

O estabelecimento do montante da pena e do regime inicial para seu cumprimento não é


um critério absoluto, devendo o Juiz de Direito atentar aos critérios descritos no artigo 59
do C.P.
Também interessante frisar que os condenados a pena superior a oito anos, por crimes
hediondos, tráfico de entorpecentes, terrorismo e tortura devem iniciar, obrigatoriamente,
o cumprimento da pena em regime fechado (Lei 8072/90 e Lei 9455/97). O Supremo
Tribunal Federal tem decisões no sentido de que os condenados por crimes hediondos e
assemelhados não obrigatoriamente devem iniciar o cumprimento de sua pena no regime
fechado.
Se a pena for superior a quatro anos e inferior a oito, inicia-se no regime semiaberto.
Penas inferiores a quatro anos podem ter início no regime aberto.
Observação: os reincidentes sempre iniciam no regime imediatamente mais gravoso.

6 – PROGRESSÃO E REGRESSÃO DE REGIMES.

O condenado poderá, gradativamente (“sem pulos”), passar de um regime mais rigoroso


para o de regime mais brando, assim como poderá ocorrer o inverso, de acordo com o
comportamento e o índice de ressocialização que demonstrar.

a) progressão do regime fechado para semi-aberto – artigo 33, § 2º. –


cumprimento de 1/6 da pena imposta, bom comportamento carcerário, submissão a
exame criminológico e parecer favorável da Comissão Técnica de Classificação (artigo 6º
e 8º da L.E.P.).

b) progressão do regime semi-aberto para o aberto – cumprimento de 1/6 do


restante da pena (quando o sentenciado iniciou em regime fechado) ou 1/6 do total da
pena (quando o regime inicial é o semi-aberto). Aceitação das condições do programa
(prisão-albergue, que esteja trabalhando ou comprove a possibilidade de fazê-lo), bem
como das impostas pelo Juiz de Direito, ficando demonstrado que irá ajustar-se ao novo
regime. Exame criminológico facultativo (artigo 8º da L.E.P.).

Em ambos os casos a oitiva do Ministério Público é imprescindível.

c) regressão do regime – artigo 118 da L.E.P.:

c.1 – prática de crime doloso (não é necessária a condenação).

c.2 – falta grave (fuga, rebelião, descumprimento das obrigações, etc.)

c.3 – nova condenação, cuja pena, somada com a anterior, importe em


impossibilidade para o regime atual.

c.4 – Frustração dos fins da execução ou não pagamento da multa


cumulativamente imposta.

Obs.: a progressão de regime, no caso de condenados em crimes hediondos e


equiparados, dar-se-à após o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, se o apenado
for primário, e de 3/5 (três quintos), se reincidente.

7 – DIREITOS DOS PRESOS:

a ) regime especial para mulheres – artigo 37 do C.P. e incisos XLVIII e L do artigo


5º da C.F.

b) respeito à integridade física e moral – artigo 38 do C.P. e 5º, XLIX da C.F. –


Tortura.

c) Assistência jurídica gratuita – artigo 5º, LXXIV.

d) indenização por erro judiciário ou por permanência na prisão acima do tempo


determinado - artigo 5º, LXXV.

e) artigos 41 e 42 da L.E.P.
Obs.: preso perde direito ao voto – artigo 15, III da C.F..

8 – TRABALHO DO PRESO – artigo 39 do C.P.

Remição – artigos 126 e 127 da L.E.P.

9 – LEGISLAÇÃO ESPECIAL – artigo 40 do C.P. – Lei de Execuções Penais – Lei


7.210/84.

10 – SUPERVENIÊNCIA DE DOENÇA MENTAL – artigo 41 do C.P.

O condenado a quem sobrevém doença mental durante o cumprimento da pena deverá


ser recolhido ao hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou, à falta, outro
estabelecimento adequado – artigo 41 do C.P.

11 – DETRAÇÃO PENAL – artigo 42 do C.P.

a) conceito – cômputo, na pena privativa de liberdade e na medida de segurança,


do tempo de prisão provisória cumprida no Brasil ou no estrangeiro, de prisão
administrativa ou de internação em hospital de custódia ou tratamento psiquiátrico.

b) aplicação – pena privativas de liberdade e algumas restritivas de direito (quando


estas substituírem àquelas). Não é possível a detração è pena de multa, bem como ao
sursis. Neste, todavia, havendo sua revogação, poderá ser feita a detração.

Quanto à medida de segurança, tem-se que a detração será aplicada em relação ao


prazo mínimo fixado pelo Juiz para a realização da primeira perícia médica (que pode
ocorrer entre 1 e 3 anos).

12 – PENAS RESTRITIVAS DE DIREITO – artigo 43 do C.P.

Substituem as penas privativas de liberdade por certas restrições ou obrigações. Tem,


portanto, caráter substitutivo, não podendo ser aplicadas diretamente, até mesmo porque
inexiste sua previsão no tipo penal.
Desta forma, o Juiz de Direito deve estabelecer a pena privativa de liberdade,
substituindo-a, posteriormente, pela restritiva, se presentes os requisitos legais (artigo 54
do C.P.).

Requisitos para aplicação das penas restritivas – artigo 44 do C.P:

a) Pena não superior a 4 anos (exceção a crimes culposos) e crime cometido sem
violência ou grave ameaça;

b) Não reincidente (a não ser que o juiz entenda que seja medida recomendável e a
reincidência não seja específica – artigo 44, § 3º);

c) Indicação de conveniência da medida (análise da culpabilidade, antecedentes,


conduta social, personalidade do agente, bem como dos motivos e circunstâncias
do crime).

Espécies:

a– Prestação pecuniária – artigo 45, § 1º. – pagamento em dinheiro à vítima, a


seus dependentes ou a entidade pública ou privada com destinação social, de importância
fixada pelo Juiz, no valor de um a 360 salários mínimos. Pode ser substituída por
prestação e outra natureza (cestas básicas, por exemplo).

A quantia paga à vítima ou a seus dependentes deverá ser descontada em eventual


condenação em ação de reparação de danos proposta na área cível.

Não confundir com multa, cujo valor reverte a favor do Estado.

b – Perda de bens ou valores – Refere-se a bens ou valores pertencentes ao


condenado e que reverterão em favor do Fundo Penitenciário Nacional. Tem por teto o
montante do prejuízo causado ou o provento obtido com a prática do crime, o que for
maior.

Não confundir com o instituto estabelecido no artigo 91, II, do C.P., que é efeito
secundário da condenação.

c – Prestação de serviços à comunidade ou entidades públicas – atribuição ao


condenado de tarefas gratuitas junto a entidades assistências, hospitais, escolas,
orfanatos ou outros estabelecimentos congêneres, em programas comunitários ou
estatais (artigo 46, §2º).
Somente é admitida quando o réu for condenado à pena privativa de liberdade superior a
seis meses (artigo 46 do C.P.).

As tarefas serão atribuídas pelo Juiz de acordo com as aptidões do condenado, devendo
ser cumpridas à razão de uma hora de tarefa por dia de condenação.

O Juiz da Execução é quem designa a entidade na qual o sentenciado cumprirá a pena,


sendo que cumpre àquela encaminhar, mensalmente, relatório sobre o comparecimento e
aproveitamento do condenado.

d – Interdição temporária de direitos – artigos 47 e 56 do C.P.

Consiste na proibição de cargo, função ou atividade pública, bem como de mandato


eletivo; proibição do exercício de profissão, atividade ou ofício que dependam de
habilitação especial, de licença ou autorização do poder público; proibição de frequentar
determinados lugares; proibição de inscrever-se em concurso, avaliação ou exames
públicos.

O artigo 47, III e 57, viram-se revogados pelo Código de Trânsito Brasileiro, que prevê a
possibilidade de suspensão do direito de dirigir cumulativamente à pena privativa de
liberdade.

e – Limitação de fim de semana – permanência obrigatória, aos sábados e


domingos, por cinco horas diárias, em casa de albergado ou outro estabelecimento
adequado, período em que poderão ser ministrado cursos ou palestras, além de
atividades educativas, aos condenados.

13 – REGRAS PARA A SUBSTITUIÇÃO - artigo 44, § 2º

Pena aplicada até um ano – substituição por uma pena de multa ou por uma pena
restritiva de direitos;

Superior a uma ano – aplica-se uma pena restritiva de direitos cumulativamente a uma de
multa ou duas restritivas de direito.

14 – CONVERSÃO DA PENA RESTRITA DE DIREITOS EM PRIVATIVA DE LIBERDADE


- artigo 44, § 4º

a) descumprimento injustificado da restrição imposta;


b) prática das faltas graves previstas no artigo 51, inciso II e III da L.E.P.;

Obs.: artigo 44, § 5º.

15 – PENA DE MULTA

Pagamento ao Fundo Penitenciário da quantia fixada na sentença. Possui natureza


personalíssima, não se transmitindo a herdeiros, caso este venha a falecer.

a) valor da multa – O juiz deve fixar o número de dias multa (mínimo 10 e máximo
360, levando-se em conta o critério trifásico), para em seguida fixar o valor de cada dia-
multa (1/30 do valor do salário mínimo até 5 vezes este salário, levando-se em conta a
situação econômica do réu – Obs.: Artigo 60, § 1º - triplicação do valor para evitar que a
multa venha a ser ineficaz dada a riqueza do réu).

b) pagamento da multa – prazo de 10 dias a contar da intimação do condenado


(antes deverá haver a atualização do valor por contador judicial e a homologação deste
pelo Juiz, após ouvir o Ministério Público).

Pode haver o parcelamento da multa, bem como o desconto no vencimento ou


salário do condenado (artigo 50 do C.P.).

c) consequências do não pagamento da multa – não é mais permitida a conversão


em detenção, como anteriormente se tinha, cabendo tão somente a execução da multa,
como dívida ativa da Fazenda Pública, nos termos da Lei 6.830/80 (Lei de Execução
Fiscal), inclusive no tocante ao prazo prescricional – 5 anos.

Obs.: existe uma corrente que entende que a execução se deva dar pelo M.P. junto à
Vara de Execuções Criminais, como prevê os artigos 1164 e seguintes da L.E.P. – a
prescrição, aí, ocorreria em dois anos, adotando-se as causas interruptivas e suspensivas
da prescrição previstas na legislação tributária. Este é o posicionamento oficial do
Ministério Público, mas não tem encontrado guarida nas decisões dos tribunais superiores
e na maioria dos doutrinadores.

Obs.: o STJ negou expressamente a substituição da prisão por multa quando da


ocorrência de crime previsto em lei especial, alegando que as leis especiais não preveem
esta possibilidade. As críticas a este posicionamento fazem menção ao artigo 12 do C.P.,
que permite a aplicação supletiva das normas gerais às leis especiais.

d) multa substitutiva – artigo 60, § 2º.


e) cumulação de multas – havendo a cominação de uma pena privativa de liberdade
cumulativamente a uma pena de multa, poderia a primeira ser substituída por pena
de multa? Tem-se que sim, cabendo ainda verificar se a tal substituição absorve
também a multa original ou se elas se somam. O entendimento majoritário é pela
soma de ambas.

16 – DA APLICAÇÃO DA PENA.

O sistema trifásico – teoria defendida por Nélson Hungria, viu-se consagrada no Código
Penal (artigo 68). As qualificadoras não entram nas fases da fixação da pena, pois, com o
reconhecimento de uma qualificadora, altera-se a própria pena em abstrato.

As três fases a serem atendidas pelo Juiz seriam a aplicação das circunstâncias judiciais,
aplicação das agravantes e atenuantes genéricas e, por fim, aplicação das causas de
aumento e diminuição da pena.

1 – 1ª FASE: Aplicação das circunstâncias judiciais – artigo 59 (também chamadas


inominadas).

a – Culpabilidade – grau de reprovabilidade da conduta, de acordo com as


condições pessoais do agente e das características do crime

b – Antecedentes – vida pregressa do autor. Inquéritos arquivados e absolvições,


por falta de provas devem ser considerados.

c – Conduta social – comportamento do agente frente a sua atividade profissional,


vida familiar e social, etc.

d – Personalidade – temperamento e caráter do acusado – perfil psicológico e moral.

e – Motivos do crime – não pode ser considerado se constituir qualificadora


(impossibilidade do bis in idem- dupla exasperação pela mesma circunstância).

f – Circunstâncias do crime – diz respeito aos instrumentos do crime, tempo de sua


duração, forma de abordagem, local da infração, etc.

g – Consequências do crime – intensidade da lesão produzida no bem jurídico.

h – Comportamento da vítima – análise da presença de comportamento que


estimulou a prática do crime ou influenciou negativamente o agente.
Obs.: tais circunstâncias deverão ser também consideradas para que o Juiz escolha a
pena aplicável dentre as cominadas (privativa de liberdade ou multa, p.ex.), para que fixe
o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade e para que avalie a
possibilidade de substituição da pena privativa de liberdade por outra espécie de pena,
nas hipóteses legais (incisos I, III e IV do artigo 59 do C.P.).

Também o sursis (artigo 77, II, do C.P.) e a suspensão condicional do processo (artigo 89
da Lei 9099/95) só poderão ser aplicados quando as circunstâncias do artigo 59
autorizarem a concessão destes benefícios.

Finalmente, tem-se que, nesta primeira fase, o Juiz jamais poderá fixar a pena acima do
máximo ou abaixo do mínimo legal (artigo 59, II).

2) 2ª FASE - Aplicação das agravantes e atenuantes genéricas – artigos 61/62 e 65/66 do


C.P.

Obs.: Embora não haja um índice preestabelecido quanto ao aumento decorrente da


ocorrência de agravante ou atenuante genérica, tem-se na prática o critério, usual, de que
o magistrado deve aumentar ou diminuir 1/6 da pena, conforme o caso. Importante saber-
se que, como corre com as circunstâncias do artigo 59, não pode o Juiz, ao reconhecer a
existência de agravante ou atenuante genérica, fixar a pena acima ou abaixo do mínimo
legal (Súmula 231 do STJ).

I – Agravantes Genéricas -

a) Reincidência – artigo 63 do C.P. – reincidente é aquele que comete novo crime


depois de transitado em julgado de sentença que, no País ou no estrangeiro, o tenha
condenado por crime anterior.

- artigo 7º da L.C.P. – verifica-se a reincidência quando o agente pratica uma


contravenção depois de passar em julgado a sentença que o tenha condenado, no Brasil
ou no exterior, por qualquer crime, ou, no Brasil, por contravenção.

CONDENAÇÃO NOVA INFRAÇÃO ARTIGO


Contravenção praticada no Contravenção REINCIDENTE
Brasil (artigo 7º)
Contravenção praticada no Contravenção NÃO REINCIDENTE
Exterior (artigo 7º é omisso)
Contravenção Crime NÃO REINCIDENTE
(artigo 63 é omisso)
Crime praticado no Brasil ou Crime REINCIDENTE
no exterior (artigo 63)
Crime praticado no Brasil ou Contravenção REINCIDENTE
no exterior (artigo 7º)

Obs.: Artigo 64, I – a condenação anterior não prevalecerá, para fim de reincidência, após
o decurso do prazo de 5 anos a contar da data do cumprimento da pena, computando-se
neste prazo, se for o caso, o período de prova do sursis ou do livramento condicional, se
não houve revogação do benefício.

Artigo 64, II – para fim de reconhecimento de reincidência, não se consideram os crimes


militares próprios (que não encontram descrição semelhante na legislação comum) e
políticos.

A pena de multa não exclui a reincidência.

A reincidência se prova através de certidão judicial da sentença condenatória transitada


em julgado.

Outros efeitos da reincidência:

- impede a substituição da pena privativa de liberdade por pena restritiva de


direitos (artigo 44, II) ou por multa (artigo 44, §2º).

- impede a concessão de sursis, caso se refira a reincidência por crime dolosa.

- aumenta o prazo de cumprimento da pena para a obtenção do livramento


condicional (artigo 83, II).

- impede a concessão de livramento condicional quando se trata de reincidência


específica em crimes hediondos, tráfico de entorpecentes, terrorismo ou tortura (artigo 83,
V).

- constitui causa de revogação do sursis (obrigatória, no caso de condenação por


crime doloso, e facultativa no caso de crime culposo ou contravenção – artigo 81, I e
artigo 81, §1º).

- interrompe a prescrição da pretensão executória (artigo 117,VI).

- aumenta 1/3 o prazo da prescrição executória (artigo 110).


- revoga a reabilitação quando o agente for condenado a pena que não seja de
multa (artigo 95).

- impede o reconhecimento do privilégio nos crimes contra o patrimônio sem


violência ou grave ameaça (artigos 155, § 2º, 170, 171, § 1º, e 180, § 5º).

- obriga o condenado a iniciar o cumprimento da pena no regime mais danoso


(artigo 33, § 2º).

- impossibilita a transação penal nas infrações de menor potencial ofensivo (artigo


76, § 2º, I, da Lei 9099/95).

- impede a suspensão condicional do processo ( artigo89 da lei 9099/95).

Obs.: o artigo 120 determina que, concedido o perdão judicial, o agente passa a ser
novamente primário.

A Súmula 241 do S.T.J. cita que a reincidência não pode ser considerada como
circunstância agravante e, simultaneamente, circunstância judicial – bis in idem.

b) motivo fútil ou torpe – fútil = insignificante, de pouca importância. Torpe = motivo


repugnante, vil, demonstrador de depravação moral do agente (egoísmo, maldade,
ganância, etc.).

c) para facilitar ou assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou a


vantagem de outro crime – conexão de dois crimes: pode ser teleológica – crime é
cometido para facilitar ou assegurar a execução de outro crime (posterior ao primeiro), ou
conseqüencial – praticado para garantir a ocultação, a impunidade ou a vantagem de
outro crime (anterior).

d) à traição, emboscada, dissimulação ou qualquer outro recurso que dificulte ou


torne impossível a defesa do ofendido – traição = deslealdade; emboscada = “tocaia”;
dissimulação= uso de artifícios para aproximar-se da vítima.

e) com emprego de veneno, fogo, explosivo, tortura ou outro meio insidioso ou


cruel, ou de que podia resultar perigo comum – tortura/ meio cruel = grave sofrimento
físico e/ou moral á vítima; meio insidioso = uso de fraude ou armadilha que impossibilite a
vítima de perceber que está sendo atingida; perigo comum = exposição a risco da vida ou
do patrimônio de número indeterminado de pessoas.

f) contra ascendente, descendente, irmão ou cônjuge – abrange qualquer forma de


parentesco (legítimo ou ilegítimo, consanguíneo ou civil). Não atinge o convivente, já que
a enumeração é taxativa e não se pode interpretar a lei em desfavor do réu. Não se aplica
a agravante em que o parentesco seja elementar (infanticídio, por exemplo)

g) com abuso de autoridade ou prevalecendo-se de relações domésticas, de


coabitação ou hospitalidade – diz respeito à confiança que a vítima depositava no agente.
Abuso de autoridade - refere-se às relações privadas. Relações domésticas - membros de
uma mesma família, exceto as hipóteses da alínea anterior, criados, etc. Relação de
coabitação - autor e vítima dividem o mesmo teto, com ânimo definitivo. Relação de
hospitalidade - recebimento em casa de uma visita ou hóspede.

h) com abuso de poder ou violação de dever inerente a cargo, ofício, ministério ou


profissão – cargo ou ofício - servidor público; ministério - atividade religiosa; profissão -
qualquer atividade exercida como meio de vida.

i) contra criança, velho, enfermo ou mulher grávida – menores de 12 anos, maiores


de 70, pessoas doentes e gestantes, quando não elementares ao crime.

j) quando o ofendido estava sob a imediata proteção da autoridade – aumento


devido tanto ao desrespeito à autoridade, quanto à audácia do agente.

l) em ocasião de incêndio, naufrágio, inundação ou qualquer calamidade pública


ou de desgraça particular do ofendido – agravada pela insensibilidade do agente, que
aproveita das facilidades decorrentes de um momento de desgraça particular ou coletiva
para praticar o crime.

m) em estado de embriaguez preordenada – agente se embriaga para afastar seus


freios naturais.

Obs.: Tais agravantes, excetuando-se a reincidência, somente se aplicam aos crime


dolosos.

II – Agravantes no caso de concurso de pessoas – artigo 62 do C.P.

a) promove ou organiza a cooperação no crime ou dirige a atividade dos demais


agentes – mentor ou chefe do grupo criminoso.

b) coage ou induz outrem à execução material do crime – emprego de violência ou


grave ameaça (coação física ou moral) e / ou poder de insinuação.

c) instiga ou determina a cometer o crime alguém sujeito à sua autoridade ou não


punível em virtude de condição ou qualidade pessoal – instigar = reforçar idéia
preexistente. Determinar = mandar, ordenar. Neste caso a pessoa está sob a autoridade
(pública ou particular) de quem instiga ou determina, ou sobre pessoa não punível
(menoridade, doença mental etc.).

d) executa o crime, ou nele participa, mediante paga ou promessa de recompensa


– a paga é prévia à ocorrência do crime. A recompensa, por sua vez, é posterior. Como
basta a simples promessa, ainda que não haja o pagamento da recompensa, a agravante
encontra-se presente.

III – Atenuantes Genéricas – artigo 65 e 66 do C.P. – obriga à redução da pena, mas não
possibilita que esta fique abaixo no mínimo legal.

a) ser o agente menor de 21 anos, na data do fato, ou maior de 70 anos, na data


da sentença – refere-se à sentença de 1º. Grau.

b) o desconhecimento da lei – vide artigo 21 do C.P.

c) ter o agente cometido o crime por relevante valor social ou moral – valor moral =
sentimentos relevantes do próprio agente, avaliados de acordo com o conceito médio de
dignidade do grupo social, no que se refere ao aspecto ético; valor social = que interessa
ao grupo social, à sociedade.

d) procurado, por sua espontânea vontade e com eficiência, logo após o crime,
evitar-lhe ou minorar-lhe as consequências, ou ter, antes do julgamento, reparado o dano
– não se confunde com o arrependimento eficaz, pois na atenuante o agente age após a
consumação.

e) cometido o crime sob coação a que podia resistir, ou em cumprimento de ordem


de autoridade superior, ou sob a influência de violenta emoção, provocada por ato injusto
da vítima – se a coação for irresistível ou se a ordem não for manifestamente ilegal,
afasta-se a culpabilidade do executor. Da mesma forma, se o ato injusto da vítima for
uma agressão, fica afastada a culpabilidade (artigo 22 do C.P.).

f) confessado espontaneamente perante a autoridade, a autoria do crime - só vale


se perante o Juiz.

g) cometido o crime sob a influência de multidão em tumulto, se não a provocou –


brigas envolvendo grande número de pessoas, por exemplo.

IV – Concursos de Agravantes e Atenuantes

De acordo com o artigo 67 do C.P., o Juiz não pode simplesmente “compensar” uma
agravante por uma atenuante, no caso em reconheça a existência de ambas. Ele deve
dar maior valor às chamadas circunstâncias preponderantes, que são aquelas de caráter
subjetivo (motivos do crime, personalidade do agente etc.). Segundo entendimento da
jurisprudência, o fato do agente ser menor de 21 anos na data do fato deve preponderar
sobre todas as demais circunstâncias.

3) 3ª FASE - Aplicação das causas de aumento e diminuição da pena – podem estar


previstas tanto na Parte Geral do Código Penal, quanto na Parte Especial. Neste caso, é
facultado ao Juiz de Direito aplicar pena superior à máxima ou inferior à mínima, previstas
na lei.

O artigo 68 traça uma regra, no sentido de que, no concurso de causas de aumento ou de


diminuição da pena previstas na Parte Especial, pode o Juiz limitar-se a um só aumento
ou a uma só diminuição, prevalecendo, todavia, a causa que mais aumente ou diminua.

Desta forma temos que:

I - havendo duas causas de aumento ou de diminuição, uma da Parte Geral e


outra da Parte Especial, aplicam-se ambas, sendo que o segundo índice deve ser
aplicado sobre a pena resultante do primeiro aumento;

II – havendo uma causa de aumento e outra de diminuição, seja da parte Geral


seja da Especial, aplicam-se ambas;

III – se o Juiz reconhecer duas ou mais causas de aumento ou de diminuição,


estando elas descritas na Parte Especial, o magistrado deve aplicar um aumento, ou
diminuição, aplicando, todavia, a causa que mais exaspere ou atenue a pena.

Como a Lei é silente no caso de haver duas ou mais qualificadoras, parte da doutrina e da
jurisprudência entende que o Juiz deve utilizar uma delas para qualificar o crime,
utilizando-se das demais como agravantes genéricas (por exemplo, pessoa que mata
outra por motivo fútil e com emprego de fogo – motivo fútil qualifica o crime e o emprego
de fogo considera-se agravante genérica) – entendimento do artigo 61 (uma qualificadora
serve pra qualificar e a outra, não utilizada como qualificadora, serve de agravante).

4 - Outras providências na fixação da pena – fixada a pena, deve o Juiz verificar o regime
inicial na qual deva ser ela cumprida (artigo 33 do C.P.), aferir a possibilidade de
concessão do sursis, ou ainda da substituição da pena privativa de liberdade por pena
restritiva de direito ou multa.

I- Nos crimes dolosos:


- se aplicada a pena privativa de liberdade até um ano: possibilidade de
substituição por multa ou por uma pena restritiva de direito ou, ainda, a concessão do
sursis.

- se a pena for superior a um ano, mas inferior a dois: possibilidade de substituição


por multa e uma pena restritiva de direito, ou duas restritivas de direito, ou concessão do
sursis.

- se a pena for superior a dois anos, mas inferior a quatro: possibilidade de


substituição por pena de multa e uma pena restritiva de direito, ou duas restritivas de
direito.

II – Nos crimes culposos:

- não sendo superior a um ano, pode haver a substituição por multa ou por uma
pena restritiva de direito ou, ainda, a concessão do sursis.

- sendo superior a um ano, mas inferior a dois: possibilidade de substituição por


multa e uma pena restritiva de direito, ou duas restritivas de direito, ou concessão do
sursis.

- qualquer que seja o total da pena privativa de liberdade, desde que superior a
dois anos, pode o Juiz substitui-la por uma pena de multa e uma pena restritiva de direito,
ou duas restritivas de direito.

17 – DO CONCURSO DE CRIMES

Prática de dois ou mais delitos pelo mesmo agente.

a – Concurso material (ou Real) – duas ou mais ações ou omissões, prática de


dois ou mais crimes, idênticos (homogêneo) ou não (heterogêneo) – pena somadas (se
for uma de reclusão e outra de detenção, aquela primeiro).

Se em um dos crimes for aplicada a pena privativa de liberdade (sem sursis), as demais
não poderão ser substituídas por pena restritivas de direito. Todavia, pode ocorrer de
ambas serem substituídas por pena restritiva de direitos, podendo ou não ser cumpridas
simultaneamente, de acordo com a possibilidade de isso ocorrer.
b – Concurso formal (ou ideal) – uma ação – dois ou mais crimes, se homogêneos,
o Juiz aplica a pena cominada ao crime, aumentando-a de 1/6 a 1/2. Se heterogêneos,
aplica a pena do mais grave, aumentando-a, também, em 1/6 a 1/2.

O artigo 70 reza que, em se aplicando a fórmula acima, se a pena resultante acaba por
ser maior que aquela cabível no caso da soma das penas estabelecidas a cada um dos
crimes, esta deve prevalecer (exemplo: estupro e perigo de contágio de moléstia venérea)
– concurso material benéfico.

O mesmo artigo indica que, havendo intenção do agente em provocar dois ou mais
resultados, para tanto o mesmo praticando somente uma ação (p.ex.: amarrar duas
pessoas em linha para, com um só disparo, feri-las mortalmente), as penas serão
somadas, como no concurso material – concurso formal impróprio.

c – Crime continuado – duas ou mais ações – dois ou mais crimes – aplicação de


uma só pena, aumentada de 1/6 a 2/3.

c.1 – Requisitos :

c.1.1 – que os crimes cometidos sejam da mesma espécie: segundo o


entendimento majoritário, seriam aquelas ações previstas em um mesmo tipo penal, ainda
que se admita que um seja qualificado ou mesmo tentado. Caso ocorra isso, aplica-se a
pena do crime qualificado ou consumado (maior), aplicando-se o índice de aumento de
1/6 a 2/3. Corrente minoritária defende que crimes de mesma espécie são aqueles com
os mesmos modos de execução e que atinjam o mesmo bem jurídico (estupro e estupro
de vulnerável, por exemplo).

c.1.2 – que os crimes tenham sido cometidos pelo mesmo modo de


execução: impossibilidade, assim, de reconhecer como crime continuado um roubo
praticado com violência e outro com grave ameaça.

c.1.3 – que os crimes tenham sido cometidos nas mesmas condições de


tempo: a jurisprudência tem entendido este lapso temporal como não superior a 30 dias.

c.1.4 – que os crimes tenham sido cometidos nas mesmas condições de


local: no mesmo local, em locais próximos, bairros de uma mesma cidade ou até em
cidades vizinhas.

Obs.: - Alguns autores entendem que basta a presença dos requisitos acima para
caracterizar o crime continuado (teoria objetiva). Outros, no entanto, defendem que deve
haver, ainda, a unidade de desígnios, ou seja, a intenção do agente em praticar os crimes
em continuidade, aproveitando-se das mesmas relações e das mesmas oportunidades
para cometê-los (teoria objetivo-subjetiva).

- não confundir crime continuado com crime habitual, pois neste a reiteração de
atos é circunstância necessária para caracterizá-lo.

- artigo 71, § único – sendo os crimes dolosos, contra vítimas diferentes e com
emprego de violência ou grave ameaça, o Juiz pode triplicar a pena de um deles, se
homogêneos, ou do mais grave, se heterogêneos, considerando para tanto os
antecedentes do acusado, sua conduta social, sua personalidade, bem como os motivos e
circunstâncias do crime. A triplicação da pena, segundo a doutrina, só é cabível, se
houver a ocorrência de mais de dois crimes. Se praticados dois crimes, o Juiz poderá tão
somente dobrar a pena – crime continuado qualificado.

- cabe, também no crime continuado, a aplicação do concurso material benéfico


(soma das penas), quando o triplo da pena puder resultar em pena superior à eventual
soma.

d – A pena de multa no concurso de crimes (artigo 72) – independentemente da


hipótese do concurso de crimes, a pena de multa será aplicada distinta e integralmente,
não se submetendo, pois, a índice de aumento. P.ex.: reconhecida a ocorrência de dois
furtos em continuidade delitiva, o Juiz pode aplicar a pena por um dos crimes,
aumentando-a de 1/6. Todavia, em relação às multas, devem ser somadas, para perfazer
um mínimo de 20 dias-multa.

18 – LIMITE DAS PENAS - artigo 75

O tempo de cumprimento das penas privativas de liberdade não pode ser superior a 30
anos. Se o agente for condenado em processos distintos a penas privativas de liberdade,
cuja soma seja maior de 30 anos, devem ser elas unificadas para atender ao limite
máximo previsto na Lei.

Os índices a serem aplicados na concessão de benefícios (livramento condicional,


progressão do regime, etc.), deverão ser calculados sobre o total da pena, e não sobre os
40 anos.
Obs.: - o parágrafo 2º do artigo 75 reza que, sobrevindo condenação penal por fato
posterior ao início da pena, far-se-á nova unificação, desprezando-se para este fim, o
período de pena já cumprido.

19 – CONCURSO DE INFRAÇÕES - artigo 76

Executar-se-á primeiramente a pena mais grave, para, posteriormente, a menos grave.


No caso de concurso entre crime e contravenção penal, primeiramente cumpre-se a pena
de reclusão ou detenção, referente ao primeiro, para depois a prisão simples, referente à
contravenção.

20- DA SUSPENSÃO CONDICIONAL DA PENA.

a – Conceito – Existem aqueles que defendem que o sursis é direito subjetivo do


réu, enquanto outros entendem ser uma forma de execução da pena. Consiste este
instituto na suspensão da pena privativa de liberdade por determinado tempo (chamado
período de prova), no qual o condenado deve sujeitar-se a algumas condições e, ao
término do qual, não havendo causa para sua revogação, será declarada extinta a pena.
A suspensão não se estende às penas restritivas de direito, tampouco à de multa.

Se o condenado não cumprir as condições durante o período de prova, revoga-se


o sursis, devendo cumprir por inteiro a pena privativa de liberdade que se encontrava com
a sua execução suspensa.

b – Requisitos e condições.

b.1 – Requisitos (estabelecidos no artigo 77 do C.P.).

- pena fixada não superior a dois anos;

- que o condenado não seja reincidente em crime doloso (exceto se


a condenação anterior for de multa - § 1º.);

- que a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a


personalidade do agente, bem como os motivos e circunstâncias do crime autorizem a
concessão do benefício;

- que não seja indicada ou cabível a substituição por pena restritivas


de direito.
Obs.: - a revelia do acusado não impossibilita a suspensão condicional da pena.

b.2 – Condições (a serem observadas durante o período de prova, que


pode ser de 2 a 4 anos, dependendo da gravidade do delito e das condições pessoais do
agente):

- prestar serviços à comunidade no primeiro ano (artigo 46) ou


submeter-se à limitação de fim de semana (artigo 48);

- submeter-se a outras condições fixadas pelo Juiz, desde que


adequadas ao fato e à situação pessoal do condenado (que não sejam vexatórias, que
não ofendam a dignidade e a liberdade de crença, filosófica ou política do agente) – artigo
79.

c – Sursis especial – se houver a reparação do dano por parte do condenado


(salvo na impossibilidade de fazê-lo) e as circunstâncias do artigo 59 forem inteiramente
favoráveis, o Juiz poderá aplicar o sursis especial, na qual o condenado deverá se
submeter a condições menos rigorosas, tais como:

- a proibição de freqüentar determinados lugares;

- proibição de ausentar-se da Comarca onde reside sem a prévia


autorização do Juiz;

- comparecimento pessoal e obrigatório em Juízo, mensalmente,


para informar e justificar suas atividades.

d – Da audiência admonitória - audiência na qual o condenado é cientificado das


condições impostas e advertido das conseqüências de seu descumprimento. Se o
condenado, devidamente intimado, não se fizer presente nesta audiência, o Juiz deve
tornar sem efeito o benefício e executar a pena privativa de liberdade imposta na
sentença – artigo 705 do C.P.P.

e – Causas de Revogação – a revogação pressupõe que o sentenciado já esteja


no período de prova, ou seja, que já tenha ocorrido a audiência admonitória.

e.1 – Causas de Revogação obrigatória – artigo 81 do C.P.

- superveniência de condenação irrecorrível por crime doloso;

- não reparação do dano, sem motivo justificado;


- descumprimento das condições do artigo 78, § 1º. do C.P.
(prestação de serviços à comunidade e limitação de fim de semana).

e.2 – Causas de Revogação facultativa – artigo 81, § 2º., do C.P.

- se o condenado descumpre qualquer das condições judiciais a que


se refere o artigo 79;

- se o condenado descumpre as condições do sursis especial


mencionadas no artigo 78, § 2º.

- superveniência de condenação por contravenção penal ou por


crime culposo, exceto se imposta pena de multa;

Obs.: a revogação facultativa não pode se dar sem que antes o sentenciado possa se
justificar, bem como que o Ministério Público opine a respeito.

f – Prorrogação do período de prova – Pode ocorrer por duas razões:

f.1 – se o condenado, durante o período de prova, passa a ser processado


por outro crime ou contravenção, quando então o prazo a ser considerado passa a ser até
o julgamento definitivo do novo processo (artigo 81, § 2º.). Se vier a ser condenado neste
outro processo, dá-se a revogação do sursis, hipótese em que o agente terá de cumprir a
pena privativa de liberdade originariamente lhe imposta. Se, entretanto, vier a ser
absolvido, o Juiz decretará a extinção da pena referente ao processo no qual foi
concedida a suspensão condicional. Durante o prazo de prorrogação, o condenado fica
desobrigado de cumprir as condições do sursis.

f.2 – Nas hipóteses de revogação facultativa, o Juiz pode, em vez de


decretá-la, prorrogar o período de prova até o máximo, se este não foi o fixado na
sentença (artigo 81, § 3º.).

g – Sursis etário ou em razão de doença grave – se o condenado tiver mais de 70


anos na data da sentença, ou apresentar sérios problemas de saúde e for condenado a
pena não superior a 4 anos, O Juiz poderá também conceder o sursis. Nesse caso, o
período de prova será de 4 a 6 anos, permanecendo inalteradas as demais regras.

h – Cumprimento das condições – decorrido o período de prova, sem que tenha


ocorrido qualquer causa para a revogação do benefício, o Juiz decretará a extinção da
pena (artigo 82).
i – Distinção entre a suspensão condicional da pena (sursis) e a suspensão
condicional do processo – na primeira figura, prevista no Código Penal, há a condenação
do réu a pena privativa de liberdade, suspendendo, o Juiz, o cumprimento desta pena,
submetendo o sentenciado a um período de prova. Como existe condenação, caso venha
a praticar novo crime, o beneficiário será considerado reincidente.

Já na suspensão condicional do processo, previsto na Lei 9099/95, o agente acusado da


prática do delito considerado de pequeno potencial ofensivo (até dois anos), que não
esteja sendo processado, não possua condenação anterior e que tenha presentes os
requisitos para a concessão do sursis, poderá fazer uso deste instituto, submetendo-se a
algumas condições previstas no mencionado diploma legal. O período de prova neste
caso é de 2 a 4 anos. Findo este prazo, não tendo havido a revogação da suspensão, o
Juiz decretará extinta a punibilidade do agente. Desta forma, cometendo ele nova
infração, não será considerado reincidente.

21 – DO LIVRAMENTO CONDICIONAL.

a – Conceito – incidente de execução da pena, consistente em uma antecipação


provisória da liberdade do acusado, concedida pelo Juiz da Vara de Execuções Criminais,
quando presentes alguns requisitos previstos em Lei, ficando o condenado obrigado ao
cumprimento de certas obrigações.

Obs.: a sentença que concede o livramento condicional será lida pelo presidente do
Conselho Penitenciário, na presença do sentenciado, bem como dos demais presos
recolhidos no estabelecimento prisional, portanto no interior deste, devendo aquele
concordar com o cumprimento das condições que lhe foram impostas para fazer jus ao
benefício. Em não concordando, tal fato será comunicado ao Juiz, que o revogará. Esta
leitura e demais atos dá-se em cerimônia solene.

b – Requisitos:

b.1 – Objetivos – aplicação da pena privativa de liberdade superior a dois


anos;

- cumprimento de mais de 1/3 da pena, se o condenado


não for reincidente em crime doloso e apresentar bons antecedentes;
- cumprimento de mais de 1/2 da pena, se reincidente ou
portador de maus antecedentes;

- cumprimento de mais de 2/3 da pena, em caso de


condenação por crime hediondo, tortura, tráfico ilícito de entorpecente ou drogas afins e
terrorismo. Desde que o sentenciado não seja reincidente específico em crime dessa
natureza;

- Parecer do Conselho Penitenciário e do Ministério


Público (artigo 131 da L.E.P.).

b. 2 – Subjetivos – comportamento satisfatório do condenado durante o


cumprimento da pena (Atestado de Bom Comportamento);

- bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído;

- aptidão para prover à própria subsistência mediante


trabalho honesto;

- constatação, através de exame psicológico, de que o


acusado apresenta condições pessoais que façam presumir que, uma vez liberado, não
voltará a delinqüir (exclusivamente para condenados pela prática de crimes dolosos,
cometidos mediante violência ou grave ameaça á pessoa).

c – Soma das penas – deve-se observar, no caso de concursos de crime, o


montante total, resultante da soma das penas, para se verificar a possibilidade da
concessão do benefício.

d – Especificação das condições – devem ser arroladas na sentença que concede


a liberdade provisória.

d. 1 – Condições obrigatórias –

- obrigação de obter ocupação lícita, dentro de um prazo


estabelecido pelo Juiz;

- comparecimento periódico para informar ao Juízo de suas


atividades;

- não mudar do território da Comarca do Juízo de Execuções sem


prévia autorização deste.
d.2 – Condições facultativas –

- não mudar de residência sem comunicação ao Juiz e à autoridade


incumbida da observação cautelar e de proteção;

- recolher-se à sua residência em hora fixada pelo Juiz;

- não frequentar determinados lugares estabelecidos pelo Juiz


(como, por exemplo, bares que sirvam bebidas alcoólicas).

e –Revogação obrigatória – se o beneficiário vier a ser condenado, por sentença


transitada em julgado, a pena privativa de liberdade, por crime cometido durante a
vigência do benefício. Neste caso o tempo em que o sentenciado permaneceu em
liberdade não será descontado, devendo, portanto, cumprir integralmente a pena que
restava por ocasião do início do benefício. Novo livramento só poderá ser obtido em
relação à segunda condenação.

- se o beneficiário vem a ser condenado, por sentença


transitado em julgado, a pena privativa de liberdade, por crime cometido antes do
benefício. Já aqui, o tempo em que o beneficiário esteve em liberdade deve ser
descontado. O tempo restante da pena deve ser somado à da segunda condenação, para
fim de obtenção de novo benefício.

f - Revogação facultativa – se o liberado deixa de cumprir quaisquer das


obrigações da sentença que concedeu o benefício. Nesse caso, não se desconta da pena
o período do livramento e o condenado não poderá obter mais o benefício;

- se o liberado for irrecorrivelmente condenado, por crime


ou contravenção, a pena que não seja privativa de liberdade. Se o delito for anterior, será
descontado o tempo do livramento. Se a condenação referir-se a delito cometido na
vigência do benefício, não haverá tal desconto.

g – Prorrogação do período de prova – considera-se prorrogado o período de


prova se, ao término do prazo anteriormente concedido, o agente está sendo processado
por crime cometido em sua vigência. Durante a prorrogação, o sentenciado fica
desobrigado de observar as condições impostas. Assim, se houver condenação, o Juiz
decretará a revogação do benefício e, se houver absolvição, o Juiz decretará a extinção
da pena.
h – Extinção da pena – Findo o prazo, não tendo sido o livramento revogado ou
prorrogado, deverá o Juiz declarar a pena extinta.

22 – DOS EFEITOS DA CONDENAÇÃO.

a – Efeito Principal – Imposição de pena (privativa de liberdade, restritiva de


direitos, multa ou medida de segurança).

b – Efeitos Secundários:

b.1 – De natureza penal – impede a concessão de sursis em novo crime


praticado pelo agente, revoga o sursis por condenação anterior, revoga o livramento
condicional, gera reincidência, aumenta o prazo da prescrição da pretensão executória,
etc.

b.2 – De natureza extra-penal (afeta o condenado em outras esferas, que


não a penal):

b.2.1 – Genéricos- efeitos automáticos, que não necessitam, por


isso, ser expressamente declarados na sentença:

- tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime;

- perda em favor da União dos instrumentos do crime (ressalvados


os direitos do lesado ou do terceiro de boa-fé e, ainda, desde que o fabrico, alienação,
uso, porte ou detenção das coisas, constituam fatos ilícitos);

- perda em favor da União do produto do crime ou de qualquer bem


ou valor que constitua proveito auferido pelo agente com a prática do fato criminoso
(ressalvados, mais uma vez, os direitos do lesado ou do terceiro de boa-fé);

- suspensão dos direitos políticos, enquanto durarem os efeitos da


condenação;

- perda do cargo, função pública ou emprego público e a interdição


para seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada ( Lei 9.455/97 – Tortura).

b.2.2 – Específicos – devem ser expressamente declarados na


sentença condenatória e só podem ser aplicados em determinados crimes:
- perda do cargo, função pública ou mandato eletivo (quando
aplicada pena privativa de liberdade igual ou superior a um ano, nos crimes praticados
com abuso de poder ou violação de dever para com a Administração Pública);

- perda do cargo, função pública ou mandato eletivo (quando


aplicada pena privativa de liberdade igual ou superior a quatro anos, qualquer que tenha
sido o crime praticado);

- incapacidade para o exercício do pátrio poder, tutela ou curatela,


nos crimes dolosos apenados com reclusão, cometidos contra filho, tutelado ou
curatelado;

- inabilitação para dirigir veículos, quando este é utilizado para a


prática de crime doloso.

23 – DA REABILITAÇÃO.

a – Finalidade – restituir ao condenado a condição anterior à condenação,


apagando a anotação de sua folha de antecedentes e suspendendo alguns efeitos
secundários desta condenação (artigo 93), vedando, entretanto, a reintegração no cargo,
função ou mandato eletivo e titularidade do pátrio poder, tutela ou curatela (artigo 93, §
único)

b – Requisitos – que já tenha transcorrido 2 anos da data da extinção da pena,


computando-se o período de prova, no caso de sursis ou livramento condicional que não
tenham sido revogados;

- que o sentenciado tenha tido domicílio no País durante estes dois


anos;

- que durante este período o sentenciado tenha dado demonstração


efetiva de bom comportamento público e privado;

- que tenha ressarcido a vítima do crime ou que demonstre a


impossibilidade de fazê-lo, ou, ainda, comprove que a vítima não deseja a tal indenização.
c – Competência – Só pode ser concedida, a reabilitação, pelo Juízo da
condenação, e não pelo da execução, posto que tal instituto é concedido após o término
da execução da pena.

d – Renovação – se o Juiz indeferir o pedido de reabilitação, alegando a falta de


alguns dos requisitos necessários para sua concessão, o pedido poderá ser renovado a
qualquer tempo, desde que presentes novas provas (artigo 93, § único).

e – Revogação – Se o reabilitado vier a ser condenado, como reincidente, por


sentença transitado em julgado, a reabilitação será revogada de ofício ou a requerimento
do Ministério Público, Excetua-se a condenação com imposição exclusiva da pena de
multa (artigo 95).

f – Reabilitação e Reincidência - A reabilitação não exclui a reincidência, cujos


efeitos desaparecem, como anteriormente visto, apenas 5 anos após o cumprimento da
pena. Tem-se, assim, que, concedida a reabilitação, o condenado terá direito à obtenção
de certidão criminal negativa, mas as anotações referentes à condenação continuará
existindo para fim de pesquisa judiciária, para verificação de eventuais reincidências.
II – DAS MEDIDAS DE SEGURANÇA

1 – CONCEITO E PRESSUPOSTOS DAS MEDIDAS DE SEGURANÇA

Medidas de segurança são providências de caráter preventivo, fundadas na


periculosidade do agente, aplicadas pelo juiz da sentença, por prazo indeterminado (até a
cessação da periculosidade), e que tem por objeto os inimputáveis e os semi-imputáveis.

São pressupostos para sua aplicação:

a) o reconhecimento da prática de fato previsto como crime – não se aplica a


medida de segurança quando não houver provas de que o réu cometeu a infração penal
ou quando estiver extinta a punibilidade, ainda que reconhecida a inimputabilidade penal.

b) periculosidade do agente – ou seja, probabilidade de que voltará a delinqüir.

c) sentença concessiva – a inimputabilidade por doença mental, circunstância que


isenta o réu de pena, deve ser reconhecida pelo Juiz, que, por conta disso, o absolverá.
Todavia, como nesse caso existe medida de segurança, a doutrina qualifica a sentença
como absolutória imprópria.

2 – ESPÉCIES DE MEDIDAS DE SEGURANÇA E SUA APLICAÇÃO

Tem-se no artigo 96 do C.P. que as medidas de segurança podem ser:

a) detentiva – consistente em internação em hospital de custódia e tratamento


psiquiátrico (artigo 96, I);

b) restritiva – sujeição a tratamento ambulatorial (artigo 96, II).

Na aplicação da medida de segurança ao réu inimputável em razão de doença mental ou


desenvolvimento mental incompleto ou retardado, o Juiz deve levar em conta a pena
atribuída ao fato por ele praticado.

Se for pena de reclusão, o Juiz deverá determinar sua internação.

Em contrapartida, se for apenado com detenção o Juiz poderá aplicar o tratamento


ambulatorial, mas em qualquer fase do tratamento poderá determinar sua internação,
caso a providência se mostre necessária.

Nas hipóteses de semi-imputabilidade (artigo 26, § único, do C.P.), o Juiz, em vez de


diminuir a pena privativa de liberdade em 1/3 a 2/3 , pode optar por substituí-la por
internação ou tratamento ambulatorial, caso fique constatado que o condenado necessite
de tratamento especial (artigo 98 do C.P.).

3 - PRAZO

Em qualquer caso, a internação ou tratamento ambulatorial são decretados por tempo


indeterminado, perdurando enquanto não for averiguada, mediante perícia médica, a
cessação da periculosidade. O Juiz, entretanto, deve fixar um prazo mínimo para a
elaboração da primeira perícia, que ficará entre os limites de um a três anos (artigo 97, §
1º, do C.P.) . Se não constatada a cessação de periculosidade, o condenado será mantido
em tratamento, devendo ser realizada anualmente nova perícia, ou a qualquer tempo,
quando assim determinar o Juiz da Execução.

4 – DESINTERNAÇÃO E LIBERAÇÃO CONDICIONAL

O artigo 97, § 3º, do C.P., estabelece que “a desinternação, ou a liberação, será sempre
condicional, devendo ser restabelecida a situação anterior se o agente, antes do decurso
de um ano, pratica fato indicativo de persistência de sua periculosidade”.

Este fato não precisa ser necessariamente uma infração penal, mas também qualquer
atitude que demonstre ser aconselhável a re-internação ou o reinício do tratamento
ambulatorial

5 – PRESCRIÇÃO DA MEDIDA DE SEGURANÇA

A medida de segurança está sujeita também à prescrição da pretensão executória, mas,


como não há imposição de pena, o prazo será calculado com base no mínimo da pena
prevista em abstrato para a infração penal. Há, porém, entendimento minoritário de que
se deveria levar em conta o máximo da pena em abstrato.
III - DA AÇÃO PENAL

1 – AÇÃO PENAL:

a- Pública - iniciativa exclusiva do Ministério Público (artigo 129, I, da C.F.)

- vigência do “Princípio da Obrigatoriedade” - havendo indícios


suficientes o M.P. deve propor a ação.

- peça processual é a denúncia.

b – Privada – iniciativa da vítima ou, quando menor ou incapaz, de seu


representante legal.

- vigência do “Princípio da Oportunidade” (ou da “Conveniência),


pois cabe à vítima optar ou não por ingressar com a ação penal, para evitar que aspectos
de sua intimidade venham à tona em Juízo.

- peça inicial é a queixa crime.

Obs.: a ação penal tem seu início no exato momento em que o magistrado “recebe” a
denúncia ou a queixa, determinando a citação do acusado e dando-lhe a faculdade de
produzir provas em sua defesa.

2 – AÇÃO PENAL PÚBLICA:

a – Incondicionada – é a regra no Direito Penal. No silêncio da lei, a ação penal


pública é incondicionada ( artigo 100, caput, do C.P.).

b – Condicionada – existência de uma condição, chamada de condição de


procedibilidade. A ação penal pública pode ser condicionada à representação da vítima
ou, se o caso, de seu representante legal, ou à requisição do Ministro da Justiça (ambas
necessariamente expressas no tipo penal).

- A titularidade da ação continua a ser do M.P., que dependerá, entretanto,


de “autorização” para o início da ação penal. Todavia, em entendendo que não existem
sequer indícios de autoria, o Ministério Público pode deixar de oferecer a denúncia, pois
goza de independência funcional.
- Artigo 102 do C.P. (artigo 25 do C.P.P.) – a representação, após oferecida
a denúncia é irretratável. Antes da denúncia, pois, a vítima pode oferecer representação,
retratar-se, oferecendo-a posteriormente, mais uma vez, desde que dentro do prazo
decadencial.

3 – AÇÃO PENAL PRIVADA:

a – Exclusiva – a iniciativa incumbe à vítima ou a seu representante legal (artigo


100, § 2º) .

- Em caso de morte do ofendido antes do início da ação penal, esta


poderá ser intentada por seu cônjuge, ascendente, descendente ou irmão, dentro do
prazo decadencial de seis meses (artigo 100, § 4º). Se a morte ocorrer após o início da
ação penal, também é cabível a substituição, todavia o prazo para tanto será de sessenta
dias (artigo 60, II, do C.P.P.).

- O legislador, no próprio tipo penal, estabelece que a ação penal é


privada e exclusiva.

b – Personalíssima – A ação penal só pode ser intentada pela vítima, não cabendo
substituição em qualquer hipótese. Havendo o falecimento da vítima, disso decorre a
extinção da punibilidade.

c – Subsidiária da pública - É possível ao ofendido o direito de oferecer queixa


subsidiária em substituição à denúncia, quando esta não é apresentada pelo titular da
ação penal (Ministério Público) no prazo legal (5 dias com o indiciado preso e 15, se solto)
– artigo 100, § 3º. do C.P. e 5º, LIX, da C.F.

- O início do prazo de seis meses para se apresentar a queixa


subsidiária dá-se no exato momento em que termina o prazo do M.P.

- O M.P. pode oferecer a denúncia a qualquer tempo, mesmo que se


tenha apresentado a queixa substitutiva, desde, obviamente, que a punibilidade não
venha a se extinguir por qualquer razão.

- Não cabe a queixa subsidiária se o M.P. manifestar-se, dentro do


prazo, pelo arquivamento do inquérito policial ou por seu retorno à Delegacia de Polícia
para novas diligências.
4 – AÇÃO PENAL NOS CRIMES COMPLEXOS – artigo 101 do C.P. – o crime complexo
(aquele cujo tipo é constituído pela fusão de dois tipos penais ou aquele em que um tipo
funciona como qualificadora de outro) é de ação penal pública, desde que, obviamente,
um dos tipos penais seja de ação penal pública.

Ex.: Injúria real (artigo 140, § 2º).


IV – DA EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE.

1- O DIREITO DE PUNIR DO ESTADO.

Com a prática da infração penal, o Estado passa a ter o direito de punir o agente. Esta
possibilidade jurídica de o Estado impor uma sanção ao autor do delito denomina-se
punibilidade, que nada mais é, pois, do que a conseqüência jurídica do crime.

Todavia, em alguns casos esta possibilidade do Estado punir extingue-se,


impossibilitando, assim, a imposição da pena ao autor do delito.

O artigo 107 do C.P. enumera alguns destes casos, ressaltando-se que tal rol não é
taxativo, já que existem outras causas extintivas de punibilidade descritas tanto na Parte
Especial do Código, quanto em leis especiais (p.ex.: morte do cônjuge ofendido no crime
de bigamia – artigo 236 do C.P. – ação penal privada personalíssima), ressarcimento do
dano no peculato culposo (artigo 312, §3º.), homologação da composição quanto aos
danos civis nos crimes de pequeno potencial ofensivo de ação penal privada ou pública
condicionada (artigo 74, § único, da Lei 9099/95), término do período de prova da
suspensão condicional do processo sem que o agente tenha dado causa á revogação do
benefício (artigo 89, § 5º., da Lei 9099/95), etc.

Obs.: Não se pode confundir as causas extintivas de punibilidade com escusas


absolutórias, que podem ser consideradas excludentes de punibilidade. Naquelas o direito
de punir do Estado surge num primeiro momento, sendo posteriormente fulminado pela
causa extintiva.

Já quanto às escusas absolutórias nem sequer surge para o Estado o direito de punir, no
que pese o fato ser típico e antijurídico (ex.: artigo 181, II, do C.P.).

2- CAUSAS EXTINTIVAS DA PUNIBILIDADE:

a – Morte do agente (artigo 107, I) – não basta o mero atestado de óbito, mas sim
a certidão expedida pelo Cartório de Registro Civil. Prevalece o entendimento que, sendo
falsa a certidão apresentada, não poderá mais ser revista a decisão que decretou a
extinção da punibilidade, desde que transitada em julgada tal decisão. Restaria tão
somente a possibilidade de punir o responsável pela falsificação ou uso do documento
falso. Há entendimento em contrário, minoritário.
A extinção da punibilidade pode ocorrer a qualquer momento do processo, ou até mesmo
antes de sua instauração, não se comunicando esta causa aos demais autores da
infração penal.

b - Anistia, Graça ou Indulto (artigo 107, II) :

b.1 – Anistia – exclui o crime, apagando seus efeitos (retroage, operando,


assim, ex tunc). Daí dizer-se que ela tem em vista o fato, não a pessoa. Pode ser própria
(quando concedida antes da condenação) ou imprópria (quando concedida após a
condenação), plena e irrestrita (quando atinge todos os criminosos) ou parcial (quando,
mencionando fatos, exige determinadas condições pessoais para sua obtenção) e,
finalmente, incondicionada (quando a lei não impõe qualquer requisito para sua
concessão) ou condicionada (quando impõe algum requisito).

b.2 – Graça e Indulto – Tem em vista a pessoa e não fato. Pressupõe a


existência de uma sentença condenatória transitada em julgado. Atinge somente a pena,
subsistindo os demais efeitos condenatórios.

b.2.1 – Indulto – é coletivo (concedido a grupos de condenados).


Sua concessão compete ao Presidente da República (artigo 84, XII, da C.F.), que pode
delegar tal função, entretanto, aos Ministros de Estado ou outras autoridades.

b.2.2 – a graça é individual (beneficia pessoa determinada). A


competência para concedê-la também é do Presidente da República.

Obs.: Diante do que dispõe a legislação vigente, para os crimes hediondos, tráfico
de entorpecentes e terrorismo estão vedados os três institutos. Para o crime de tortura,
entretanto, estão vedadas apenas a anistia e a graça, já que a Lei 9.455/96 (Lei de
Tortura) voltou a permitir a concessão do indulto a esta modalidade delituosa.

c- Abolitio Criminis (artigo 107, III) – Retroatividade da Lei Penal mais benéfica.

d – Decadência (artigo 107, IV) – perda do direito de ação do ofendido em face do


decurso do prazo sem o oferecimento da queixa nos crimes de ação penal privada ou de
representação nos casos de crimes de ação penal pública condicionada. Via de regra este
prazo é de seis meses, a contar da data em que se tenha a identificação do autor do fato.
(artigo 103 do C.P.). A decadência somente é possível antes do início da ação penal,
comunicando-se a todos os autores do crime.
e – Perempção (artigo 107, IV) – perda do direito de prosseguir na ação penal
privada em razão da inércia ou negligência processual do querelante (autor da ação).
Reconhecida, estende-se a todos os autores do delito. As hipóteses de perempção
(previstas no artigo 60 do C.P.P.) são: a) quando o querelante, iniciada a ação, deixa de
promover o andamento do processo durante trinta dias seguidos; b) quando, falecendo o
querelante, ou sobrevindo sua incapacidade, não comparecer em juízo, para prosseguir
no processo, dentro do prazo de sessenta dias, qualquer das pessoas a quem couber
fazê-lo; c) quando o querelante deixa de comparecer, sem motivo justificado, a qualquer
ato do processo a que deva estar presente, ou deixar de formular o pedido de
condenação nas alegações finais; e, d) quando o querelante, sendo pessoa jurídica,
venha a se extinguir sem deixar sucessor.

f – Renúncia (artigo 107, V) – ato através do qual o ofendido abre mão de oferecer
a queixa. É ato unilateral, pois não depende da aceitação do autor do delito para produzir
efeito. A renúncia só pode ocorrer antes do início da ação penal e a todos os autores
atinge (princípio da indivisibilidade da ação penal privada – artigos 48 e seguintes do
C.P.P.).

A renúncia pode ser explícita (declaração escrita e assinada pelo ofendido) ou


tácita (consistente na prática de ato que demonstre de forma inequívoca a inexistência de
vontade do autor em exercer o direito de queixa). Esta última admite qualquer meio de
prova (ex.: casamento da vítima do autor do crime).

Obs.: embora o artigo 104, § único, estipule que o fato do ofendido receber a indenização
devida em razão de prática delituosa não consiste em renúncia tácita de seu direito de
queixa, o artigo 74 da lei 9099/95 reza que, em casos de delitos de menor potencial
ofensivo (penas de, no máximo, dois anos), a composição em relação aos danos civis,
homologada pelo Juiz na audiência preliminar implica necessariamente em renúncia ao
direito de queixa e representação. Assim, se o delito for de menor potencial ofensivo, a
norma que deve prevalecer é a Lei 9099/95 (Princípio da Especialidade).

g – Perdão do Ofendido (artigo 107, V) – Também só é possível nos crimes de


ação penal privada. O perdão é cabível após o início da ação penal e desde que não
tenha havido trânsito em julgado da sentença condenatória. Trata-se de ato bilateral, pois
que necessita que o querelado o aceite. Havendo mais de um querelante, o perdão
oferecido por um não atinge a ação penal movida pelos outros.
h – Retratação do Agente (artigo 107, VI) – em casos específicos, estabelecidos
em lei (calúnia, difamação, falso testemunho e falsa perícia).

i – Perdão Judicial (artigo 107, IX) – instituto através do qual o Juiz, embora
reconhecendo a coexistência dos elementos objetivos que constituem o delito, deixa de
aplicar a pena desde que presentes justificadas circunstâncias (ex.s: artigo 121, § 5º.;
129, § 8º.; 180, § 3º.; 242, § único, etc.). O perdão judicial afasta o efeito da reincidência
(artigo 120 do C.P.).

i.1 – Perdão Judicial na Lei 9.807/99 – A Lei em questão, que estabelece


normas para a organização e manutenção de programas especiais de proteção a vítimas
e testemunhas ameaçadas, em seu artigo 13 permite que o Juiz conceda perdão judicial
aos autores primários que tenham colaborado efetiva e voluntariamente com a
investigação e o processo criminal, desde que desta colaboração tenha resultado: a) a
identificação dos demais co-autores e partícipes da ação penal; b) a localização da vítima
com sua integridade física preservada; c) a recuperação total ou parcial do produto do
crime.

3) A PRESCRIÇÃO (ARTIGO 107, IV):

O Código Penal admite as seguintes figuras:

a) Prescrição da pretensão punitiva;

b) Prescrição intercorrente e prescrição retroativa;

c) Prescrição da pretensão executória;

d) Prescrição da pena de multa;

a) Prescrição da pretensão punitiva – o Estado deve exercer o direito de punir,


através dos órgãos próprios, dentro de determinados prazos, estabelecidos em Lei (artigo
109 do C.P.). Se esta pretensão não for exercida dentro deste prazo ocorrerá sua
prescrição. Daí ser chamada esta omissão de prescrição da pretensão punitiva, ou de
prescrição da ação.

Tem-se, pois, que esta modalidade de prescrição impede o início ou interrompe a ação
penal que está em andamento (artigo 61 do C.P.P.), decorrendo disso a extinção da
punibilidade do agente, sem que se avalie o mérito da causa. Tal prescrição somente se
dá, desta forma, antes do trânsito em julgado.

E, ainda que o Judiciário reconheça a ocorrência da prescrição da pretensão punitiva


somente após a condenação, ela ocorreu antes da sentença, tendo sido tão somente
reconhecida posteriormente.

Em qualquer caso, a prescrição da pretensão punitiva afasta todos os efeitos da


condenação.

As agravantes e atenuantes genéricas (artigos 61,62 e 65 do C.P.) não alteram os prazos


prescricionais, muito embora o artigo 115 estabeleça que, sendo o réu menor de 21 anos
na data dos fatos ou maior de 70 anos por ocasião da sentença, o prazo prescricional
será reduzido pela metade. Assim, estas são duas atenuantes genéricas (artigo 65,I) que
alteram o lapso prescricional.

Já as causas de aumento e de diminuição de pena, que podem fazer a pena máxima


sofrer alterações, devem ser levadas em conta na busca do tempo da prescrição.

As penas mais leves prescrevem com as mais graves (a pena de multa, por exemplo,
prescreve juntamente com a pena privativa de liberdade).

O prazo prescricional começa a correr: a) da data da consumação do crime; b) no


momento em que cessou a execução, nos casos de crimes tentados; c) na data em que
cessou a permanência, nos crimes permanentes; d) nos casos de concurso de crimes, a
contar da data da consumação de cada um deles; e) nos crimes de bigamia e nos de
falsificação ou alteração de assentamento de registro civil, a partir do momento em que o
fato se tornou conhecido da autoridade; f) nos crimes contra a dignidade sexual de
crianças e adolescentes, previstos neste Código ou em legislação especial, da data em
que a vítima completar 18 (dezoito) anos, salvo se a esse tempo já houver sido proposta a
ação penal (introduzido pela Lei 12.650/2012).

Importante salientar que o prazo prescricional conta-se na forma do artigo 10 do C.P.

No artigo 117 do C.P. temos as hipóteses em que ocorre a interrupção da prescrição da


pretensão punitiva:

- pelo recebimento da denúncia ou da queixa.

- pela pronúncia.

- pela decisão confirmatória da pronúncia.


- pela publicação da sentença ou acórdão condenatórios recorríveis.

Com a interrupção da prescrição, passa-se a se contar novo prazo, até que ocorra nova
causa interruptiva.

A prescrição da pretensão punitiva também poderá ser suspensa. Nestes casos, o prazo
volta a correr apenas pelo período restante.

Hipóteses de suspensão: a) artigo 116 do C.P. (enquanto não resolvida, em outro


processo, questão de que dependa o reconhecimento da existência do crime e enquanto
o agente cumpre pena no estrangeiro) ; b) artigo 53, §§ 3º. e 5º. da C.F. (sustação de
processo que apura infração penal cometida por deputado ou senador, por crime ocorrido
após a diplomação); c) artigo 89, § 6º. da lei 9099/95 ( durante o período de suspensão
condicional do processo); d) artigo 366 do C.P.P. (não comparecimento do acusado
citado por edital); e) artigo 368 do C.P.P. (acusado no estrangeiro, citado por carta
rogatória).

Obs.: os crimes de racismo e os previstos na Lei de Segurança Nacional (7.170/83) são


imprescritíveis (artigo 5º, XLII da C.F.).

b) Prescrição intercorrente (ou superveniente) e prescrição retroativa – antes da


sentença do Juiz, o prazo prescricional deve ser buscado em relação ao máximo da pena
em abstrato, já que não se sabe a pena que será fixada pelo Magistrado.

Todavia, fixada a pena em sentença de primeira instância, e não tendo recorrido a


acusação, ou ainda tendo sido o recurso improvido pelo Tribunal, pode-se saber, antes
mesmo do trânsito em julgado, qual o patamar máximo que a pena do réu poderá atingir.

Assim, estabelece o artigo 110, § 1º. que, nestes casos, a prescrição regula-se pela pena
aplicada. Tem-se, aqui, a prescrição intercorrente, também chamada superveniente à
sentença condenatória.

A partir da edição da lei nº 12.234, de 5 de maio de 2010, a prescrição, depois da


sentença condenatória com trânsito em julgado para a acusação ou depois de improvido
seu recurso, regula-se pela pena aplicada, não podendo, em nenhuma hipótese, ter por
termo inicial data anterior à da denúncia ou queixa.

Ou seja, o período transcorrido para a decretação da prescrição retroativa só poderá ter


como base transcurso de tempo entre o recebimento da denúncia e data da publicação da
sentença condenatória com trânsito em julgado para a acusação ou depois de improvido
seu recurso.

Esta modalidade de prescrição não pode ser reconhecida pela Juiz de primeiro grau, já
que ela só se aplica após a prolação da sentença, quando se encerra a prestação
jurisdicional, sendo forma de prescrição de pretensão punitiva, afastando, assim, todos os
efeitos da condenação.

Obs.: Com a edição da Lei 12.234/2010 se teve o fim da discussão acerca da


possibilidade da denominada “prescrição antecipada”, que, embora não estivesse
prevista em lei, vinha sendo admitida por grande parte da doutrina e da jurisprudência nas
situações em que se tinha, de forma inequívoca, que a prescrição retroativa haverá de
ocorrer, verificando-se, deste modo, a inutilidade da persecução penal aos fins a que se
presta, inexistindo, assim, interesse de agir por parte do órgão acusador que antevê a
ocorrência da prescrição retroativa.

c) Prescrição da pretensão executória – Condenado o réu, surge para o Estado o


interesse de executar a pena imposta. A isso se chama pretensão executória, que também
está sujeita a prazos. Assim, se o Estado não consegue dar início à execução penal dentro do
prazo estabelecido, ocorre a prescrição da pretensão executória, também por alguns chamada
de prescrição da pena.

Ao contrário do que ocorre com a prescrição da pretensão punitiva, essa espécie de


prescrição atinge tão somente a pena principal, permanecendo os demais efeitos
condenatórios, como, por exemplo, a reincidência.

A prescrição da pretensão executória rege-se pela pena fixada na sentença transitada em


julgado, de acordo com os patamares descritos no artigo 109 do C.P.

Tais prazos tem o acréscimo de um terço se o condenado for reincidente.

O termo inicial dessa forma de prescrição encontra-se no artigo 112 do C.P.

As causas interruptivas da prescrição da pretensão executória são encontradas no artigo 117,


V e VI do C.P. (pelo início ou continuação do cumprimento da pena e pela reincidência).

Havendo interrupção do prazo, o período passa a ser contado integralmente.

Já a suspensão dessa modalidade de prescrição está prevista no artigo 116, parágrafo único
do C.P. (quando o réu estiver preso por outro motivo).

d) Prescrição da pena de multa – O artigo 114 do C.P., em seus dois incisos,


estabelece cinco hipóteses de prescrição de pena de multa: a) 2 anos, quando a multa for a
única pena cominada em abstrato; b) multa cominada em abstrato alternativamente com pena
privativa de liberdade (ex.: rixa) : prazo igual ao cominado para a prescrição da pena privativa
de liberdade; c) multa cominada em abstrato cumulativamente com pena privativa de
liberdade (ex.: furto simples): prazo igual ao cominado para a prescrição da pena privativa de
liberdade; d) 2 anos, quando a multa for a única pena imposta; e) multa aplicada na sentença
juntamente com a pena privativa de liberdade: prazo igual ao da pena detentiva.

Importante salientar que, diante do entendimento majoritário da doutrina e jurisprudência, as


regras estabelecidas nas duas últimas hipóteses somente se aplicam à prescrição retroativa e
intercorrente, já que, havendo trânsito em julgado, a multa passa a ser considerada dívida
ativa da Fazenda Pública, a ela aplicando-se a prescrição de caráter tributário.

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