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CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
ÍNDICE
História da Instituição Prisional. Encarceramento em Massa. Encarceramento e Pobreza.
Instituições Totalizantes�������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������2
História da Instituição Prisional.������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������2
Prisão como Meio����������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������2
Prisão como Fim������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������3
Encarceramento em Massa. Encarceramento e Pobreza����������������������������������������������������������������������������������������������4
Instituições Totalizantes���������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������7

Lei do Direito Autoral nº 9.610, de 19 de Fevereiro de 1998: Proíbe a reprodução total ou parcial desse material ou divulgação com
fins comerciais ou não, em qualquer meio de comunicação, inclusive na Internet, sem autorização do AlfaCon Concursos Públicos.
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História da Instituição Prisional. Encarceramento em Massa.


Encarceramento e Pobreza. Instituições Totalizantes
História da Instituição Prisional.
Para iniciar nosso estudo, devemos reconstruir o caminho pelo qual a instituição prisional
passou para chegar até o momento atual. O tema é demasiadamente vasto.
Comecemos pelo nome. O edital trouxe a ideia da instituição prisional, e não simplesmente da
prisão. Fala-se, então, no sentido de qualquer limitação à liberdade física. A ideia da prisão então
consiste em uma instituição que limite a nossa liberdade de locomoção. Pode-se, em tese, incluir até
a ideia de manicômios judiciários e hospitais psiquiátricos.
“A definição da pena de prisão que Hobbes oferece é a seguinte: “por esta palavra, ‘prisão’, entendo toda
limitação do movimento causado por um obstáculo externo”. E uma definição ampla que, como explica
em seguida, compreende não só a prisão propriamente dita, mas também a deportação ou exílio, as galés,
as pedreiras e minas, ou simplesmente os grilhões. Ocupar-nos-emos da pena de prisão propriamente
dita, que é a única que permanece até hoje, pois a uniformização da pena consistiu também na uniformi-
zação do “obstáculo externo” que se opõe à liberdade de movimento: os muros da prisão”1.
O modelo atual brasileiro comporta a ideia de instituição prisional em três diferentes níveis:
temos as instituições de regime fechado, nas quais a execução da pena em estabelecimento de segu-
rança máxima ou média; aquelas de regime semiaberto, em que a execução da pena será em colônia
agrícola, industrial ou estabelecimento similar; e, por fim, regime aberto a execução da pena em casa
de albergado ou estabelecimento adequado.
É fato, contudo, que no Brasil praticamente não possuímos casa do albergado, cumprindo-se o
regime aberto na própria residência do sentenciado.
Prisão como Meio
Em relação à origem da prisão, pode-se afirmar que de maneira remota, as instituições prisionais
começam na antiguidade2. Nos primeiros registros da filosofia, já havia referência à instituição prisional.
De acordo com o filósofo Platão: “Haverá na cidade três prisões: uma delas situada na praça pública,
comum à maioria dos delinquentes, que assegurará a guarda dessas pessoas; a segunda, no lugar de
reunião do conselho noturno, que se chamará casa de correção ou reformatório; a terceira no centro do
país, no lugar mais deserto e mais agreste possível, terá um sobrenome que indique seu caráter punitivo.
A primeira teria por fim a segurança, prevenir outros delitos, “assegurar a guarda das pessoas”. A
passagem 909b indica os que irão às outras prisões: “o juiz colocará na casa correcional aqueles a quem
inspire um desequilíbrio ou insensatez, que não conotem maldade temperamental ou de caráter”, ou seja,
os considerados recuperáveis. A função corretiva era confiada aos funcionários do conselho noturno.
É evidente que essa prisão não tinha caráter punitivo, mas corretivo. Ao contrário, a última das três
prisões destinava-se para “aqueles (...) semelhantes a bestas ferozes, não contentes em negar a existência
dos deuses...”. Ou seja, entre as outras duas prisões há uma diferença segundo a gravidade do delito
cometido ou as tendências criminais do delinquente. E essa diferença está marcada pelo lugar destina-
do à prisão. A prisão propriamente punitiva tem reservado “o lugar mais deserto e agreste possível”3.
A nota característica da prisão nesse período é que ela era mais vocacionada como um meio para
a imposição da verdadeira prisão (uma mutilação, trabalhos forçados...) e não propriamente a sanção
penal. Trazia a ideia de uma prisão processual se comparado ao nosso modelo atual.

1 Messuti, Ana. O tempo como pena. Tradução: Tadeu Antonio Dix e Maria Clara Veronesi de Toledo. Prefário Alberto Silva
Franco. São Paulo: RT, 2003, p. 27.
2 Nas palavras de Cezar Roberto Bitencourt: “A origem da pena é muito remota, perdendo-se na noite dos tempos, sendo tão antiga
quanto a História da Humanidade. Por isso mesmo é muito difícil situá-la em suas origens. Quem quer que se proponha a aprofundar-se na
História da pena corre o risco de equivocar-se a cada passo.” (Tratado de direito penal: vol. 1: parte geral. São Paulo, Saraiva, 2018, p. 849).
3 Apud MESSUTI, Ana. O tempo como pena. Tradução: Tadeu Antonio Dix e Maria Clara Veronesi de Toledo. Prefário
Alberto Silva Franco. São Paulo: RT, 2003, pp. 28-29.
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Como afirma Cézar Roberto Bitencourt: “Até fins do século XVIII a prisão serviu somente à con-
tenção e guarda de réus para preservá-los fisicamente até o momento de serem julgados. Recorria-se,
durante esse longo período histórico, fundamentalmente, à pena de morte, às penas corporais (muti-
lações e açoites) e às infamantes. Por isso, a prisão era uma espécie de “antessala” de suplícios, pois se
usava a tortura, frequentemente, para descobrir a verdade.”4
Prisão como Fim
Manoel Pedro Pimentel afirma que a pena de prisão “teve sua origem nos mosteiros da Idade Média,
como punição imposta aos monges ou clérigos faltosos, fazendo com que se recolhessem às suas celas para se
dedicarem, em silêncio, à meditação e se arrependerem da falta cometida, reconciliando-se assim com Deus”5.
Segundo Cezar Roberto Bitencourt, “além dos antecedentes inspirados em concepções mais ou
menos religiosas, um antecedente importantíssimo nos estabelecimentos de Amsterdam, nos Bridwells
ingleses, e em outras experiências similares realizadas na Alemanha e na Suíça. Esses estabelecimen-
tos não são apenas um antecedente importante dos primeiros sistemas penitenciários, como também
marcam o nascimento da pena privativa de liberdade, superando a utilização da prisão como simples
meio de custódia”. Nesse contexto, o sistema da Filadélfia (ou pensilvânico ou sistema do isolamento
celular, apresenta-se como uma das primeiras estruturas modernas de instituição penal. De acordo
com Manoel Pedro Pimentel “este regime iniciou-se em 1790, na Walnut Street Jail, uma velha prisão
situada na rua Walnut, na qual reinava, até então, a mais completa aglomeração de criminosos. Pos-
teriormente, esse regime passou para a Eastern Penitenciary, construída pelo renomado arquiteto
Edward Haviland, e que significou um notável progresso pela sua arquitetura e pela maneira como foi
executado o regime penitenciário em seu interior”6.
Por seu devido rigor, foi substituído pelo chamado sistema de Auburn, cidade de Nova York,
criado em 1818, que permitia o trabalho dos presos, mantido, contudo, o isolamento noturno. Por
prezar o silêncio dos presos também foi chamado de silente system. “O ponto vulnerável desse sistema
era a regra desumana do silêncio. Teria origem nessa regra o costume dos presos se comunicarem com
as mãos, formando uma espécie de alfabeto, prática que até hoje se observa nas prisões de segurança
máxima, onde a disciplina é mais rígida. Usavam, como até hoje usam, o processo de fazer sinais com
batidas nas paredes ou nos canos d’água ou, ainda, modernamente, esvaziando a bacia dos sanitários
e falando no que chamam de boca do boi. Falhava também o sistema pela proibição de visitas, mesmo
dos familiares, com a abolição do lazer e dos exercícios físicos, bem como uma notória indiferença
quanto à instrução e ao aprendizado ministrado aos presos”7.
O sistema progressivo, atual estágio dos sistemas de cumprimento de pena, também é chamado
de “sistema irlandês de Walter Crofton” (1857) concilia os anteriores, baseando-se no rigor da segre-
gação absoluta no primeiro período, e progressiva emancipação, segundo os resultados da emenda.
Nessa conformidade, galgam-se os demais períodos – o segundo, com segregação celular noturna e
vida em comum durante o dia, porém, com a obrigação do silêncio; o terceiro, o de prisão intermédia
(penitenciária industrial ou agrícola), de noite e de dia em vida comum para demonstrar praticamente
os resultados das provações anteriores, isto é, a esperada regeneração e a aptidão para a liberdade; por
fim, chega-se ao período do livramento condicional”8.
A prisão, portanto, como hoje conhecemos, como uma sanção propriamente dita, surge no séc.
XVIII com o Iluminismo, época em que as luzes são trazidas ao campo da punição. Um dos mais
importantes autores da época foi Cesar Bonasena, o conhecido Marquês de Beccaria, que em sua
obra (única), o livro Dos delitos e das penas, defendia a proporcionalidade na aplicação da pena, não
podendo ser excessivamente cruéis, embora ainda entendesse aplicável a pena de morte. Ele defendia
a substituição dos castigos corporais.
4 Tratado de direito penal: vol. 1: parte geral. São Paulo, Saraiva, 2018, p. 850.
5 O crime e a pena na atualidade, p. 138
6 Tratado de direito penal: vol. 1: parte geral. São Paulo, Saraiva, 2018, 854.
7 Pimentel, Manoel Pedro O crime e a pena na atualidade, p. 140.
8 Lyra, Roberto. Comentários ao código penal, v. II, p. 91.
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Com o Iluminismo, portanto, há uma evolução no castigo, que passa de um castigo físico, para
um castigo pela limitação da liberdade.
No Brasil, essa evolução surge com nossa primeira Constituição de 25 de março de 1824. Essa
Carta Magna afasta os castigos corporais e os substitui pela pena privativa de liberdade. Essa modi-
ficação é reforçada pelo Código Penal de 1940, que abole todo tipo de castigo corporal e adota três
tipos de sanções: a pena privativa de liberdade (a prisão), a pena restritiva de direitos (como a presta-
ção de serviços à comunidade) e a multa.
O atual estágio das instituições prisionais no Brasil decorre do marco legislativo da atual Consti-
tuição Federal (1988) e a nova parte Geral do Direito Penal (1984).
Na Constituição há a previsão dos seguintes princípios essenciais: a intranscendibilidade e a in-
dividualização, previstas nos seguintes incisos do art. 5º:
XLVII – não haverá penas:
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;
b) de caráter perpétuo;
c) de trabalhos forçados;
d) de banimento;
e) cruéis;
XLVI – a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes:
a) privação ou restrição da liberdade;
b) perda de bens;
c) multa;
d) prestação social alternativa;
e) suspensão ou interdição de direitos;
XLV – nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a
decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles execu-
tadas, até o limite do valor do patrimônio transferido;
XLVIII – a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito, a
idade e o sexo do apenado;
XLIX – é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral;
L – às presidiárias serão asseguradas condições para que possam permanecer com seus filhos durante o
período de amamentação;
Encarceramento em Massa. Encarceramento e Pobreza
O Brasil vive, sem dúvida, uma situação de encarceramento em massa. Os dados são alarmantes9.
De acordo com artigo publicado pela Pastoral Carcerária Nacional:
“A seletividade penal é inconteste. Segundo dados oficiais do Departamento Penitenciário (Depen) do
Ministério da Justiça13, 56% das pessoas presas têm entre 18 e 29 anos de idade; 62% são pretas; mais de
75% têm apenas o ensino fundamental; mesmo havendo muitos tipos penais, cerca de 74% das pessoas
presas estão condenadas ou são acusadas por crimes contra o patrimônio ou crimes ligados ao tráfico
de drogas classificadas como ilícitas. No caso das mulheres, as sentenças penais ligadas ao tráfico de
drogas chega à 70% no país. A delirante e absurda política de “guerra às drogas” mancha de sangue as
periferias e superlota as cadeias com mulheres e homens que estão na base piramidal e nas funções mais
vulneráveis do comércio ilícito de drogas, principalmente depois da famigerada lei 11.343/2006. O alvo do
sistema penal é invariavelmente a população historicamente empobrecida e impedida de acessar plena-
mente (ou minimamente) os seus direitos sociais. A criminalização das/os indesejáveis, transfiguradas/
os em inimigos da ordem burguesa-meritocrática, aciona e autoriza todo o aparato do Estado Penal nas
periferias e alimenta o populismo penal seja no sistema de justiça, seja nos programas televisivos de final
de tarde, seja nos programas e projetos dos três poderes”10.

9 Fonte: Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias – Infopen, Junho/2016. Secretaria Nacional de Segurança
Pública, Junho/2016; Fórum Brasileiro de Segurança Pública, dezembro/2015; IBGE, 2016.
10 Silveira, Pe. Valdir João. Sistema Penal e Encarceramento da Pobreza. Pelo fim do punitivismo e da política de encarcera-
mento em massa. Disponível em: https://carceraria.org.br/wp-content/uploads/2017/01/Pastoral-Carceraria-Sistema-Penal-e-En-
carceramento-da-Pobreza.pdf. Acesso em 25.10.2019.
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Diante dessas informações, confrontadas com os dados constantes do último relatório do


Sistema Penitenciário Nacional, não é difícil perceber que há, de fato, uma situação crítica no país.
Temos uma massa de encarcerados concentrada em crimes cometidos essencialmente pela parcela
mais pobre da população. Não se pode, é fato, dizer que a pobreza gera o crime. Mas sem dúvida, o
crime e o encarceramento geram pobreza.
O Brasil possui o 3º ou o 4º maior sistema penitenciário do mundo. A variação depende da con-
sideração ou não daqueles que estão no regime aberto. E, majoritariamente, os crimes que mais
levam os brasileiros ao cárcere são os crimes patrimoniais e o crime de tráfico de drogas. Todos são
marcados pelo traço característico da busca pelo patrimônio. Um problema muitas vezes mais social
do que criminal, propriamente dito. Vejamos em dados estatísticos oficiais essa realidade:

Diante desse primeiro quadro, verifica-se que o déficit de vagas chega a quase o dobro de nossa
população prisional. De outro lado, é importante destacar que 40% dessa população carcerária é
composta por presos preventivos, ou seja, aqueles que ainda não foram condenados definitivamente
e, portanto, a rigor não deveriam estar encarcerados.
Gráfico 5. Pessoas privadas de liberdade por natureza da prisão e tipo de regime14

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Há mais, contudo, vemos a seguir a impressionante e constante evolução do número de presos


nos últimos 16 anos.
Gráfico 1. Evolução das pessoas privadas de liberdade entre 1990 e 201612

Fonte: Ministério da Justiça. A partir de 2005, dados do Infopen.

Em relação ao sexo dos apenados, temos uma expressiva diferença entre os encarcerados:
Gráfico 10. Destinação dos estabelecimentos penais de acordo com o gênero
Fonte: Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias – Infopen, Junho/2016.

Importante fator que materializa o encarceramento em massa é a divisão da população pela raça,
cor ou etnia. Vejamos:
Figura 4. Raça, cor ou etnia das pessoas privadas de liberdade e da população total
Fonte: Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias – Infopen, Junho/2016; PNAD, 2015.

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Ademais, ao reforçar as misérias do cárcere, e sua predileção pelo vulnerável, verifica-se o ver-
dadeiro abismo entre o número de presos que têm até o ensino fundamental incompleto e aqueles
que possuem o ensino superior completo.
Gráfico 17. Escolaridade das pessoas privadas de liberdade no Brasil

Vale destacar os números de Santa Catarina: o Estado tem uma população prisional de 21.472
Presos, para um total de 13.870 Vagas no sistema, com uma taxa de ocupação de 154,80% e uma taxa
de aprisionamento de 310,7. No Estado, do total de presos, 35,5% (7.627) Estão presos sem condenação.

Instituições Totalizantes
Instituição totalizante, de acordo com Erving Goffman, seria o “local de residência e de trabalho
onde um grande número de indivíduos com situação semelhante, separados da sociedade mais ampla
por um período considerável de tempo, levam uma vida fechada e formalmente administrada”11 .
Os estabelecimentos prisionais, sem dúvida, encaixam-se perfeitamente no conceito de insti-
tuição totalizante. Com efeito, trata-se de local totalmente separado do contexto social, em que há
normas específicas de convivência dos presos, que criam códigos e estruturas próprias.
Ainda, segundo o mesmo autor:
“As instituições totais de nossa sociedade podem ser, grosso modo, enumeradas em cinco agrupamentos.
Em primeiro lugar, há instituições criadas para cuidar de pessoas que, segundo se pena, são incapazes e
inofensivas; nesse caso estão as casas para cegos, velhos, órfãos e indigentes. Em segundo lugar, há locais
estabelecidos para cuidar de pessoas consideradas incapazes de cuidar de si mesmas e que são também
uma ameaça à comunidade, embora de maneira não-intencional; sanatórios para tuberculoso, hospitais
para doentes mentais e leprosários. Um terceiro tipo de instituição total é organizado para proteger a co-
munidade contra perigos intencionais, e o bem-estar das pessoas assim isoladas não constituir problema
imediato: cadeias, penitenciárias, campos de prisioneiros de guerra, campos de concentração. Em quarto
lugar, há instituições estabelecidas com a intenção de realizar de modo mais adequado alguma tarefa de
trabalho, que se justificam apenas através de tais fundamentos instrumentais: quartéis, navios, escola
internas, campos de trabalho, colônias e grandes mansões (do ponto de vista dos que vivem nas moradias
desempregados). Finalmente, há os estabelecimentos destinados a servir de refúgio do mundo, embora
muitas vezes sirvam também como locais de instrução para os religiosos; entre exemplos de tais institui-
ções, é possível citar abadias, mosteiros, conventos e outros claustros”12.

11 Manicômios, prisões e conventos. Tradução: Dante Moreira Leite. Revisão: Antenor Celestino de Souza. São Paulo: Perspectiva, 1974.
12 Goffman, Erving. Manicômios, prisões e conventos. Tradução: Dante Moreira Leite. Revisão: Antenor Celestino de Souza.
São Paulo: Perspectiva, 1974, pp. 16-17.
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É nessas instituições que se busca determinar o comportamento do preso, para que ele se amolde às
expectativas sociais. Isso passa por sua total exclusão do mundo para que seus valores sejam determina-
dos nos moldes socialmente aceitáveis. Nas palavras de Michel Foucault: “A disciplina ‘ fabrica’ indivíduos;
ela é a técnica de um poder que toma os indivíduos ao mesmo tempo como objetos e como instrumentos de
seu exercício (...). O sucesso do poder disciplinar se deve sem dúvida ao uso de instrumentos simples: o olhar
hierárquico, a sanção normalizadora e sua combinação num procedimento que lhe é específico, o exame”13.
Exercícios
01. Acerca das relações entre o sistema penal brasileiro e a Constituição da República de 1988, é
correto afirmar que
a) o objetivo fundamental da República de erradicar a pobreza e a marginalização é alcançado
mediante uma política criminal racional de encarceramento em massa.
b) o processo de encarceramento em massa e a piora nas condições de aprisionamento durante
a vigência da atual Constituição revelou que a proibição de penas cruéis, em seu aspecto
material, é norma sem plena eficácia.
c) o respeito à integridade física e moral da pessoa presa é direito fundamental previsto no art.
5° da Constituição e, portanto, não é violado em nosso sistema prisional.
d) a despeito de não constar expressamente do texto constitucional, a garantia de condições
para que as presas permaneçam com seus filhos durante o período de amamentação decorre
do princípio da dignidade da pessoa humana.
e) o objetivo fundamental da República de promover o bem de todos, sem preconceitos e dis-
criminação podem ser vislumbrados com uma atuação penal sem seletividade.
02. Foucault se debruçou longamente na análise do saber-poder presente na prisão. De acordo
com as reflexões de Foucault, é correto afirmar que a prisão:
a) expressa o modelo institucional da sociedade de exame e, seu funcionamento, o da
sociedade disciplinar.
b) expressa o saber da sociedade capitalista, o poder da sociedade asilar.
c) expressa o saber da sociedade manicomial e o poder do capital.
d) expressa o saber da racionalidade do capital e o funcionamento da biopolítica.
e) funciona como paradigma da biopolítica e do poder de gestão das populações.
Gabarito
01 - B
02 - A

13 Vigiar e Punir. São Paulo: Vozes, p. 143.


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