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A RESSOCIALIZAÇÃO NO SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO.

CARNEIRO, Guilherme de Souza


SANTOS, Giovana Aparecida dos
SOUZA, Luís Fernando Gomes de

Resumo: O objetivo deste artigo é evidenciar as dificuldades enfrentadas pelos detentos em


sua reintegração à sociedade, bem como as condições precárias e desumanas em que são
mantidos durante o período de encarceramento. Para compreender adequadamente a situação,
é necessário examinar a estrutura atual do sistema prisional no Brasil, que abrange diversos
fatores contribuintes para a desorganização e negligência no sistema carcerário. A falta de
interesse público, a superlotação, a falta de acesso a cuidados de saúde, alimentação e
educação são apenas alguns dos problemas identificados. Nesse sentido, este trabalho se
baseia em uma pesquisa bibliográfica qualitativa, utilizando autores como Isaac Sabbá
Guimarães (2014), João Paulo de Moraes Candela (2015), Patrícia Borges Moura (2021) e
outros, que visam abordar os problemas presentes nas prisões. Conclui-se, portanto, que o
sistema prisional, cujo objetivo inicial era prevenir a criminalidade, falha não apenas em sua
efetividade interna, mas também na sua capacidade de auxiliar na ressocialização dos
detentos.

Palavras-chave: Ressocialização. Sistema prisional brasileiro. Direitos Humanos.

1. Introdução

O presente trabalho tem como objeto de pesquisa a ressocialização dentro do sistema


penitenciário brasileiro, usando como metodologia de pesquisa artigos referentes ao tema, que
trazem não apenas uma perspectiva teórica do tema, mas exemplos formados a partir de uma
pesquisa comunitária e social. O tema escolhido trata-se de um assunto amplamente discutido
dentro dos direitos humanos. Partindo de uma perspectiva social do meio em que estamos
inseridos, para que encontremos uma melhor solução aos problemas vigentes na sociedade é
de extrema urgência que as questões presentes nesse artigo sejam discutidas. Indaga-se,
previamente, quais são as problemáticas presentes no sistema penitenciário, que em teoria é
um local para aplicação penal e enfim reintegração do indivíduo ao meio social, mas é
observado na prática que aquele inserido no sistema sofre com desrespeito à própria
integridade física, psicológica e moral.
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Nos artigos lidos, os autores desenvolveram seus temas a fim de compreender as causas
e consequências dos temas representados em cada um, ambos convergindo enfim a responder
questões relacionadas à ressocialização dentro do sistema penitenciário brasileiro, onde
primeiramente culpa-se o estado por ferir os próprios preceitos descritos pelos Direitos
Humanos a fim de punir e criminalizar um indivíduo como aplicação penal.

A violência dentro do cárcere brasileiro tem como consequência a cultura do medo, que
pelas palavras de Christmann e Moura:

“a população, sob influência da mídia e dos meios de comunicação [...] sofre com a
sensação de insegurança e de aumento da criminalidade, a culminar, somado ao
clamor popular, no recrudescimento das leis penais e penalidades impostas àquele
que se desviar da conduta tida como aceitável socialmente.”

O último parágrafo da introdução deve ser uma apresentação da estrutura geral do artigo.
Observem o exemplo:

Com intuito de alcançarmos os objetivos aqui propostos, organizamos estruturalmente este


artigo em três seções, além desta introdução e das considerações finais. Na primeira seção
apresentamos os conceitos teóricos que norteiam a nossa reflexão como, por exemplo, A, B e
C; na segunda seção, fazemos a descrição e análises dos textos selecionados para este estudo.
Na última seção, trazemos as nossas considerações finais.

2. O sistema prisional brasileiro

O sistema prisional brasileiro compreende o complexo penitenciário e a seu


lado, o conjunto de cadeias públicas e carceragens dos distritos policiais de nosso país.
No Brasil adota-se o sistema progressivo, com algumas adaptações. Além disso,
possui três espécies de pena, segundo o art. 32 do Código Penal, as penas são:
privativas de liberdade, restritivas de direito e de multa. A pena privativa de liberdade
possui três regimes de cumprimento de pena: o aberto, semiaberto e o fechado.
O sistema penitenciário brasileiro é regido pela lei nº 7.210 de 1984 “A
assistência social tem por finalidade amparar o preso e o internado e prepará-los para o
retorno a liberdade”. Entretanto, a realidade do sistema carcerário brasileiro não
assegura os direitos humanos e a dignidade humana, isso acarreta a insalubridade das
prisões brasileiras e dificulta a oportunidade de ressocialização dos detentos.
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3. O sistema penitenciário e a ressocialização: uma análise

O artigo científico foi desenvolvido por meio de uma análise qualitativa minuciosa e,
visando facilitar a compreensão e aprofundamento do assunto, foi dividido em três subseções.
A primeira subseção, 3.1, aborda detalhadamente o percurso metodológico adotado na
realização do artigo. A segunda subseção, 3.2, apresenta as análises pesquisadas. Por fim, a
terceira subseção, 3.3, traz uma síntese das análises realizadas.

3.1. Um percurso metodológico

O trabalho em questão foi realizado por meio de uma pesquisa bibliográfica, que
envolveu a revisão da literatura referente ao tema de estudo, sendo ele a ressocialização no
sistema prisional do Brasil. Para isso, foram consultados diversos recursos, como livros,
artigos e sites da Internet, entre outras fontes relevantes.

Título do artigo Autores Ano de


publicação
A realidade do sistema prisional brasileiro e o Nicaela Olímpia Machado 2014
princípio da dignidade da pessoa humana e Isaac Sabbá Guimarães
A crise do sistema prisional brasileiro e os João Paulo de Moraes 2015
desafios da ressocialização Candela
A cidadania e o sistema penitenciário brasileiro Ana Maria de Barros e 2016
Maria Perpétua Dantas
Jordão
A ressocialização no sistema prisional brasileiro Renata Garcia de Oliveira 2018
A crise no sistema prisional brasileiro: a Anderson Thomas 2020
ineficiência da ressocialização em decorrência Nascimento dos Santos
da superlotação
TORTURA E MAUS-TRATOS NO Nathalia Christmann, 2021
CÁRCERE BRASILEIRO: Relatos da Patrícia Borges Moura
Violência Intramuros

Os autores mencionados anteriormente demonstram um amplo conhecimento sobre o tema


abordado neste trabalho. Por exemplo, no artigo de Machado e Guimarães (2014), eles
discutem a superlotação, a falta de assistência médica, a precária alimentação, a falta de
higiene, a omissão do Estado e a insalubridade nos presídios brasileiros como fatores que
contribuem significativamente para os baixos índices de ressocialização e quase ineficácia
desse processo, uma vez que tais condições são desumanas e resultam em altos índices de
rebeliões e doenças nesses ambientes. Moraes (2015), em consonância com as ideias de
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Machado e Guimarães, também descreve os diversos problemas enfrentados pelo sistema


prisional brasileiro, que dificultam a ressocialização dos indivíduos. O autor apresenta dados
sobre as condições atuais dos presídios no Brasil. Por sua vez, Barros e Jardão (2016)
oferecem uma perspectiva crítica sobre o sistema penitenciário e a administração estatal,
analisando a experiência da Pastoral Carcerária de Caruaru na gestão da PJPS. Renata (2018)
toma a ineficácia da aplicabilidade da Lei de Execução Penal como método a abordar a
realidade que se observa dentro do sistema penitenciário. Oliveira vê o Estado como culpado
pelas celas superlotadas e condições desumanas a que são submetidos os detentos, e discorre
sobre como esse ambiente nada propício para a aplicação penal de um indivíduo fracassa com
sua função social, que é ressocializar os presos, mas acaba por tirar todas as oportunidades do
mesmo, além de fazer com que a sociedade desacredite que o mesmo possa se reintegrar
como individuo capaz. Santos (2020) ressalta que a crise no sistema prisional brasileiro é
resultado do excesso de reclusos aglomerados nas prisões, o que dificulta a ressocialização,
uma vez que os estigmas da sociedade em relação aos indivíduos recém-libertos persistem.
Além disso, a omissão do Estado é um fator importante que contribui para a falta de
investimentos e melhorias necessárias nas unidades prisionais, resultando em condições
totalmente desumanas para os detentos. Christmann e Moura (2021), em seu presente artigo,
acreditavam que o Estado, em nome do poder de penalizar, tomava dos indivíduos sua
liberdade a fim de punir detentos, sem antes propiciar a eles um ambiente próprio e que
respeite a dignidade que lhe é merecida segundo a própria lei. As autoras usam como base
relatos daqueles que cumprem a pena e familiares próximos a eles a fim de desenvolver sua
pesquisa. Todos esses artigos e pesquisas trarão subsídios cruciais para a presente pesquisa.

3.2 Análises do sistema prisional brasileiro

3.2.1 A realidade do sistema prisional brasileiro e o princípio da dignidade da pessoa


humana

No artigo “A realidade do sistema prisional brasileiro e o princípio da dignidade da


pessoa humana” dos autores Isaac Sabbá Guimarães e Nicaela Olímpia Machado apresenta-
se os principais problemas do sistema prisional brasileiro e é dito que a desestruturação do
sistema evidencia o descaso da prevenção e da reabilitação dos carcerários e os avanços da
violência são cada vez mais extremos devido a superlotação o que causa constantes rebeliões,
a alimentação precária e os meios de higiene e assistência médica são totalmente insuficientes
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para atender toda a população dos detentos, isso agrava os problemas de saúde e a desordem
dentro dos presídios brasileiros. Sendo assim, a prisão que a princípio foram criadas com a
finalidade de evitar a criminalidade não consegue efetiva ressocialização dos reclusos.

A Lei de Execução Penal nº 7.210/1984³, garante ao preso e aos internados a devida


assistência e outras garantias legais, contudo, os presídios atualmente proporcionam um
ambiente deplorável e desumano aos detentos tendo em vista a superlotação ausência de
assistência médica, alimentação precária e falta de higiene o que acarreta diversas doenças e
aumenta a insalubridade desses ambientes, isso acaba piorando a reincidência dos presos e
impede que eles se reintegrem de maneira digna na sociedade. Muitos apenados também são
esquecidos em virtude do abandono familiar, não tendo assim, uma base. E como eles já
vivem em um ambiente no qual o tratamento e as condições são desumanas sem ajuda da
família, acabam estes muitas vezes se tornando ainda piores do que eram mesmo antes de
estarem presos.

O sistema prisional brasileiro tem como foco a ressocialização e a punição da


criminalidade, nesse viés o Estado assume a responsabilidade de combater os crimes isolando
o criminoso da sociedade através do encarceramento para o indivíduo deixar de ser um perigo
constante para a sociedade.

Os autores trazem um posicionamento de Michel Foucault que diz:

[...] a reforma propriamente dita, tal como ela se formula nas teorias do direito ou se
esquematiza nos projetos, é a retomada política ou filosófica dessa estratégia, com
seus objetivos primeiros: fazer da punição e da repressão das ilegalidades uma
função regular, extensiva à sociedade; não punir menos, mas punir melhor; punir
talvez com uma severidade atenuada, mas para punir com mais universalidade;
inserir mais profundamente no corpo social o poder de punir.

O sistema carcerário brasileiro carece de cumprir a legalidade pois as condições


precárias e as condições subumanas que os detentos estão a mercê são assuntos delicados. E
tendo em vista que as prisões do Brasil se tornaram grandes aglomerados de pessoas em
ambientes totalmente inadequados para a vivência de qualquer ser humano e onde os mais
fortes subordinam os mais fracos, sendo assim os autores pontuam um pensamento de Assis
que dispõe:

O sistema penal e, consequentemente o sistema prisional não obstante


sejam representados como sendo de natureza igualitária, visando atingir
indistintamente as pessoas em função de suas condutas, têm na verdade um caráter
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eminentemente seletivo, estando estatística e estruturalmente direcionado às


camadas menos favorecidas da sociedade.

Os autores trazem ainda os princípios da dignidade humana, o Estado tem o poder de


prender alguém, com base na proteção dos bens tutelados por ele mesmo, com o intuito de
manter a harmonia, a pacificidade e a justiça. Nesse pressuposto é estabelecido um direito
penal para regular as condutas humanas. Assim sendo o artigo 5º, XLIX, da CRFB/1988,
prevê que “é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral”. Todavia, o Estado
não cumpre a execução da lei.

As ofensas à dignidade e aos direitos humanos deveriam ser tratadas como ofensas aos
fundamentos do Estado de Direito, não podendo mais ser tolerado este tipo de
comportamento, de pessoas contra pessoas tendo, portanto, de um ser igual ao outro. Devendo
ressaltar-se ainda que no artigo 40 da LEP “impõe-se todas as autoridades o respeito a
integridade física e moral dos condenados e detentos provisórios”. Isso será responsabilidade
estatal.

Os autores destacam a desestruturação do sistema uma vez que a LEP, por exemplo,
estabelece em seu art. 88 que o cumprimento de pena segregatória se dê e, cela individual
com área mínima de 6 metros quadrados, contudo isso não é a realidade doa presídios
brasileiros que são superlotados e precários, em muitos são inexistentes a higiene e
acompanhamento médico necessário.

Nas expressões de Assis, em relação ao descaso nos presídios, diz que:

A superlotação das celas, sua precariedade e sua insalubridade tornam as prisões


num ambiente propício à proliferação de epidemias e ao contágio de doenças. Todos
esses fatores estruturais aliados ainda à má alimentação dos presos, seu
sedentarismo, o uso de drogas, a falta de higiene e toda a lugubridade da prisão,
fazem com que um preso que adentrou lá numa condição sadia, de lá não saia sem
ser acometido de uma doença ou com sua resistência física e saúde fragilizadas.

Os autores acreditam que é difícil a ressocialização dos presos, quando o sistema prisional não
oferece as condições para a aplicação do que está previsto no art.83 da LEP, “o
estabelecimento penal, conforme a sua natureza, deverá contar em suas dependências com
áreas e serviços destinados a dar assistência, educação, trabalho, recreação e prática
esportiva”. Conclui-se então que a realidade do sistema penitenciário brasileiro e o tratamento
aos presos é totalmente indigno, uma vez que eles não são tratados como pessoas detentoras
de direitos e deveres, garantidos no art.5º, XLIX.
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3.2.2 Os desafios da ressocialização no sistema carcerário brasileiro

O artigo “A crise do sistema prisional brasileiro e os desafios da ressocialização”,


apresenta como temática a apresentação de um conjunto de análises sobre o sistema prisional
brasileiro; destacando o preocupante aumento da população carcerária no país ao decorrer dos
anos e as grandes dificuldades enfrentadas na reintegração desses indivíduos à sociedade.
De acordo com as informações apresentadas pelo autor João Paulo de Moraes
Candela, com base nos dados fornecidos pelo Levantamento Nacional de Informações
Penitenciárias (INFOPEN) em 2014, a população carcerária no Brasil apresenta um
crescimento exorbitante de cerca de 507%. Em média, há 300 presos para cada 1000
habitantes, resultando em um déficit de 231.062 vagas. Além disso, o autor ressalta que há
uma média de 16 indivíduos encarcerados para cada espaço destinado a custodiar 10 pessoas,
representando um aumento de 575% no período de 1990 a 2014. Vejamos a seguir, as
informações por ele apresentadas:

Gráfico 1 ‒ Evolução das pessoas privadas de liberdade – 1990/2013

Fonte: Ministério da Justiça. A partir de 2005, dados do Infopen

Moraes destaca ainda que a falta de efetividade na ressocialização no Brasil é uma


preocupação alarmante. Ele ressalta que não adianta estabelecer um sistema prisional com o
objetivo de punir os infratores se não houver condições adequadas para garantir que eles não
retornem ao mesmo caminho que os levou à prisão. O autor apresenta diversos motivos que
contribuem para as grandes deficiências na ressocialização dos detentos no país, como as
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condições precárias das prisões, a superlotação e, especialmente, a convivência entre presos


de baixa periculosidade ou sem periculosidade alguma com detentos altamente perigosos.
João também compartilha uma entrevista de Maria Angélica Lacerda Marin, professora
de Direito Penal da Fundação Educacional do Município de Assis. Na entrevista, Maria
Angélica responde a várias perguntas relacionadas ao sistema prisional brasileiro, incluindo
questões sobre a ressocialização de ex-presidiários. A professora descreve acreditar que o
trabalho pode desemprenhar um papel importante no processo de recuperação dos detentos,
pois poderia prepará-los para uma futura reintegração no mercado de trabalho após obterem
sua liberdade. Entretanto, ela também destaca que, na sociedade moderna, ainda existe um
forte estigma em relação à prisão. Dessa forma, acredita que é ilusório esperar uma
ressocialização efetiva dentro do sistema penitenciário atual, pois é difícil para um ex-
dentento conseguir uma nova oportunidade de trabalho, resultando uma única alternativa: a
volta para o crime, criando um ciclo interminável entre os indivíduos e a prisão.
Portanto, o autor defende que enquanto não houver novas mudanças significativas no
sistema penitenciário brasileiro, o país estará longe de alcançar seus objetivos de promover a
ressocialização e, como consequência, uma alternativa de um futuro melhor para essas
pessoas.
3.2.3. A cidadania e o sistema penitenciário brasileiro

No artigo "A cidadania e o sistema penitenciário brasileiro", as autoras Ana Maria de


Barros e Maria Perpétua Dantas Jordão buscam mostrar como o sistema penitenciário no
Brasil pode contribuir para a ampliação e reprodução de desigualdades sociais. Além disso,
elas destacam as diversas violações de direitos humanos que ocorrem nas prisões,
evidenciando uma preocupação cada vez menor com a ressocialização dos detentos e um
enfoque predominantemente punitivo.
A prisão é uma instituição política cujo propósito social é reabilitar os indivíduos,
visando à sua "ressocialização". No entanto, a crise do sistema penitenciário brasileiro revela
a incapacidade do Estado em administrar adequadamente as unidades prisionais como
ambientes de reeducação e reintegração social. Além de proporcionar condições desumanas
aos detentos, como doenças, superlotação, falta de higiene, ausência de serviços de saúde e
educação, corrupção e, principalmente, limitações no acesso à justiça e aos direitos
fundamentais garantidos pela Constituição Federal de 1988.
De acordo com informações fornecidas por organizações internacionais como a
"Anistia Internacional", os casos mais graves de violações de direitos humanos são
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predominantemente cometidos por policiais civis e militares. Essas práticas abusivas seguem
um padrão comum: a polícia civil obtém informações e a polícia militar e os agentes
penitenciários são responsáveis por aplicar punições e castigos. Além disso, as autoras do
artigo apresentam estatísticas de violência que indicam que os homicídios são mais frequentes
em áreas periféricas, afetando principalmente jovens entre 14 e 25 anos, geralmente de origem
negra, baixa escolaridade, do sexo masculino e desempregados.
Entre os anos de 1996 a 2002, a Pastoral Carcerária conduziu uma experiência na qual
assumiu a administração prisional da PJPS em Caruaru, com o objetivo de identificar o perfil
dos detentos e estabelecer um diálogo contínuo com eles, seus familiares e agentes
penitenciários, Além disso, o projeto buscou aproximar-se da comunidade local, de forma a
obter respaldo para o trabalho realizado. Com isso, buscou-se impactar diretamente o
ambiente cultural dentro da prisão, incentivando a participação familiar, promovendo
atividades educacionais, artesanais, entre outras. Como resultado, observou-se uma melhora
na autoestima dos detentos e uma maior tranquilidade no cotidiano da unidade, com a
ausência de rebeliões, por exemplo.
Nessa perspectiva, as autoras chegam à conclusão de que é necessário repensar o
sistema penitenciário atual, que se caracteriza pelo autoritarismo, tortura e desrespeito aos
direitos humanos, e priorizar a cidadania dentro do sistema prisional, mesmo que isso
implique em nadar contra uma maré. A construção de novas prisões pode ajudar a resolver o
problema da superlotação, mas se o sistema de administração permanecer inalterado, a crise
no gerenciamento das unidades persistirá. Além disso, a comunidade desempenha um papel
crucial no controle das ações do Estado e, portanto, deve lutar pelos direitos dos detentos,
mesmo que isso ainda seja estigmatizado. O direito humano de cada indivíduo não deve ser
negado. Portanto, é necessário modificar o sistema de justiça criminal, encarando o sistema
carcerário como um problema que requer vontade política para ser enfrentado.

3.2.4 A crise no sistema prisional brasileiro

No artigo de Santos, é realizada a análise da crise no sistema prisional brasileiro e


fatores como a superlotação e insalubridade acarretam a ineficiência da ressocialização. O
autor tem como objetivo demonstrar que ineficácia do sistema penitenciário brasileiro devido
a falta de estrutura e o excesso de pessoas. Além disso, são inúmeros os problemas de saúde e
estrutura, uma vez que algumas prisões são feitas de maneira precipitada ou o indiciado não
tem a jurisprudência eficaz da justiça, acabam sendo presos e encaminhado para um sistema
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prisional no qual dividirá espaço com alguns outros na mesma situação e vários que já foram
condenados. Isso contribui com a inaplicabilidade da ressocialização em decorrência do
sistema penitenciário brasileiro ser falho e não ter infraestrutura para comportar a quantidade
de indivíduos reclusos.
Três sistemas têm relação com a execução da pena privativa da liberdade, cada qual
com suas propriedades e importância para a compreensão de como ele chegou e é aplicado no
Brasil. O sistema celular teve como principal característica o regime punitivista com ideais
religiosos, no qual o preso era isolado diante da bíblia para refletir e se arrepender. O sistema
aburniano teve finalidade econômica e permitia que os presos se reunissem para trabalhar,
entretanto, em silêncio absoluto e eram proibidos de receber visitas. O sistema democrático de
direito, o preso tem seus direitos de acordo com a sua penalidade e a fase em que se encontra,
a primeira é o período de prova a segunda é a public work-house, onde é permitido trabalho,
mas em silencio absoluto e com o isolamento noturno.
No Brasil é adotado o sistema progressivo, porém com algumas adaptações. Além de
tudo, possui três espécies de pena, através do art. 32 do CP, as penas são: privativas de
liberdade, restritivas de direito e de multa. Ademais, a pena privativa de possui três regimes
de cumprimento de pena: o aberto, semiaberto e o fechado. Cezar Roberto Bitencourt (1999,
p. 479-480) pontua que a reforma penal adota um sistema progressivo descumprimento da
pena que possibilita ao condenado, através do seu procedimento, da sua conduta carcerária,
direcionar o ritmo de cumprimento de sua sentença, com mais ou menos rigor.
O autor ressalta que nesses ambientes de reclusão muitos direitos humanos não são
levados em questão, isso vai contra inciso III o art. 1º da carta magna da República federativa
do Brasil que tem como um de seus fundamentos o princípio da dignidade humana. Há de ser
garantido pela CF o respeito a integridade física e moral do preso, comunicação imediata da
prisão e local onde se encontra, ser informado sobre seus direitos e a identificação dos
responsáveis por sua prisão ou interrogatório policial. Afinal, a Lei de Execução Penal
assegura os direitos não garantidos pela sentença ou pela legislação, a sela individual, o
respeito a integridade e a orientação e apoio para a reintegração à vida em liberdade que o
serviço de assistência social colaborará com o egresso para a obtenção do trabalho e vida
digna.
Segundo as informações estatísticas geradas pelo sistema da informação penitenciárias
(INFOPEN), em junho de 2017 726.354 pessoas estavam privadas de sua liberdade nas
unidades administradas pelas Secretarias Estaduais ou em carceragens de delegacias de
polícia ou outros espaços de custódia administrados pelos Governos Estaduais. A taxa de
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ocupação no ano em que a pesquisa foi realizada era de 171,62% sendo evidente que os
sistemas carcerários não comportam a quantidade de presos. (DEPARTAMENTO
PENITENCIÁRIO NACIONAL, 2017).
Santos ressalta ainda que o conceito de ressocializar surge de forma humanitária para
que a reintegração do indivíduo na sociedade de forma digna afim de que ele não volte mais a
praticar ilicitudes e volte a ser um cidadão responsável, no entanto ao sair do período de
reclusão o egresso ressocializado carrega o estigma imposto pela sociedade pelo fato de ter
sido preso, isso impede que ele volte a ter uma vida normal. O Estado é falho na educação e
pelos altos índices de desemprego, dessa maneira o crime é apresentado a vida do cidadão
como uma forma de sobreviver. Ademais, não há como almejar uma recuperação de um
indivíduo que tem boa parte de sua dignidade negligenciada devido a superlotação dos
sistemas penitenciários brasileiros.

Gráfico com o grau de escolaridade dos presos no Brasil:

(DEPARTAMENTO PENITENCIÁRIO NACIONAL, 2017)

Assim sendo, o autor defende que a crise no sistema penitenciário brasileiro ocorre por conta
da superlotação e excessos de processos na justiça penal e que a ressocialização não ocorre
devido aos problemas advindos de um sistema falho que é resultado da omissão estatal, e uma
sociedade que não está pronta para receber um indivíduo que acabou de sair de uma
penitenciária por consequência da inoperância do sistema carcerário e da estigmatização. Por
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fim, é necessário o investimento dos Estado em políticas educacionais e nos sistemas


prisionais brasileiros para que correspondam aos direitos do apenado sem descumprir as
garantias impostas na CF e na LEP, para que de fato o indivíduo seja ressocializado.

3.2.5 Tortura e Maus-Tratos no Cárcere Brasileiro: Relatos da Violência Intramuros

No presente artigo, as autoras observam a violência utilizada como justificativa para


aplicação penal dentro do cárcere brasileiro. O artigo colheu informações através de pesquisas
bibliográficas, relatórios oficiais e relatos de pessoas inseridas no meio, sejam aqueles que
cumpriram pena ou próximos a eles.
Para elas, em tese, o sistema penitenciário tem como objetivo principal ser o local
de aplicação da pena, respeitando os princípios relacionados aos direitos humanos e
objetivando a reintegração dos detentos. Através de relatos, elas percebem o contrário; trazem
a problemática vivida dentro do sistema penitenciário, onde o indivíduo tem sua integridade
física, psicológica e moral ferida a fim de cumprir a pena que lhe foi imposta, o que fere
segundo a constituição a dignidade da pessoa humana.
A aplicação penal surge como mecanismo do Estado de modo que justifique a
violência como mecanismo de controle contra a população; “O sistema carcerário, como
máquina de controle social, fundamenta-se no discurso sobre a violência humana, que
legitima políticas repressivas como forma de efetivação da segurança pública.” (Christmann e
Moura, 2021).
Durante o texto foram descritos relatos, onde os indivíduos são colocados em
questões desumanas e constrangedoras, onde foram omitidas a prestação de assistência
médica e social, tratamento humilhante e constrangedor com enorme frequência.
Nota-se, finalmente, que a ressocialização dos indivíduos no sistema penitenciário
não é o principal objetivo do Estado, que exerce o direito sobre este meio, pois falha em
reintegrar os detentos ao meio social, e estes acabam por reproduzir a violência que os levou
ao sistema penal.

3.2.6 A Ressocialização no Sistema Prisional Brasileiro, por Renata Garcia de Oliveira


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A autora descreve inicialmente a crise do sistema penitenciário, que tem como uma de
suas causas super lotação das penitências e observa através de escolas de pensamento e da
atual legislação meios para desenvolver seu tema de maneira precisa e concisa.

Como consequência dessas ineficiências os presídios acabam por sofrer com a


superlotação vindo junto com ela violação dos Direitos Humanos, que atinge tanto
os detentos quanto os próprios agentes penitenciários, são submetidos a trabalhar e a
viver em condições insalubres e perigosas, ficando mais vulneráveis a contração de
doenças e até mesmo a morte, pois os detentos participantes de facções usam essa
situação como forma de recrutar mais integrantes e gerando assim rebeliões.
(OLIVEIRA, 2018)

Percebe-se, através de seu texto, que a aplicação penal no cárcere brasileiro é


percebida por muitos como um castigo e não como seu real propósito, reintegrar o indivíduo
de volta a sociedade. Os direitos humanos garantidos a cada um são ignorados dentro do
sistema penitenciário, onde os detentos tem sua alimentação, higiene e integridade física
violadas em prol da aplicação da pena pelo Estado.
Caso utilizada de maneira apenas a punir o detento, o que ocorre de acordo com a
teoria Iluminista, Oliveira percebe que o sistema penitenciário perde seu sentido pois passa a
ser usado apenas como um método de praticar “justiça com as próprias mãos”. Acredita-se
que apenas com a aplicação da punição do detento, sua reeducação será garantida e ele será
integrado novamente ao meio social como um novo indivíduo.
Em sua monografia, a autora disserta sobre métodos para solucionar a crise, partindo
do pressuposto o real objetivo do sistema penitenciário, que é reintegrar o indivíduo a
sociedade e compreender os motivos que o levam a praticar tal delito para que tenham uma
nova oportunidade de viver, estudar e trabalhar.
Discorre, trazendo textos presentes na constituição, sobre os direitos (como assistência
material e respeito à sua integridade moral) e deveres (comportamento disciplinado e
execução das ordens recebidas para cumprimento da pena) garantidos ao detento dentro do
sistema prisional, e as condições para que ele possa recuperar aos poucos a liberdade que
outrora possuíra.
Conclui ao final de seu texto, que o Estado, sem buscar desenvolver qualquer
estrutura, trata os detentos com enorme descaso e sequer tenta alcançar a reintegração do
indivíduo. Percebe que se os preceitos fossem aplicados a recuperação dos detentos seria
possível, beneficiando não somente os próprios indivíduos, mas também a sociedade ao qual
este retorna.
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3.3 Síntese conclusiva das análises

Diante do exposto foi observado que o sistema carcerário brasileiro é falho na


tentativa de ressocializar os detentos, uma vez que a estrutura dos presídios e penitenciárias é
totalmente precária visto que os presidiários têm uma alimentação de má qualidade, higiene
precarizada, a maioria não assistência médica sem contar a superlotação que contribui para
proliferação de doenças além de acarretar os motivos para rebeliões. Em decorrer das análises
foi possível compreender que todos os autores tiveram visões semelhantes, visto que o Estado
é totalmente omisso quando se trata do sistema prisional, afinal os reclusos vivem em
condições desumanas que muitas vezes só pioram os seus comportamentos e condutas. Em
consequência disso, a ressocialização no Brasil é quase inviável.

4. Considerações finais

Ao concluir este artigo, chegamos à percepção e à certeza de que o sistema carcerário


brasileiro atual apresenta diversas falhas, sendo até mesmo considerado antiquado e
ultrapassado por muitos estudiosos do assunto.
Os autores mencionados confirmam a teoria de que as penitenciárias no Brasil tratam
seus detentos de forma desumana, resultando em uma visão quase inexistente de reintegração
desses indivíduos na sociedade. Cada autor forneceu dados informativos sobre as atuais
condições precárias enfrentadas pela grande maioria das pessoas encarceradas no país. Eles
expuseram brevemente os principais problemas enfrentados, como superlotação, falta de
estrutura e ausência de separação por periculosidade, entre outros.
Ainda no mesmo contexto, as autoras Ana Maria de Barros e Maria Perpétua Dantas
Jordão descreveram um experimento realizado em Caruaru, no qual a Pastoral Carcerária
assumiu a administração da PJPS, apresentando resultados excelentes. Isso comprova que é
possível promover a ressocialização dos detentos por meio de uma boa administração
penitenciária.
Assim, é imprescindível que o Estado empreenda esforços para aprimorar o sistema
carcerário, com o objetivo de preservar a dignidade humana e considerar a possibilidade de
reintegração futura dessas pessoas à sociedade. É fundamental enfatizar que não estamos
defendendo os erros cometidos pelos detentos, mas sim a defesa dos seus direitos humanos.
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Referências

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 6022: informação e


documentação: artigo em publicação periódica técnica e/ou científica: apresentação. Rio de
Janeiro: ABNT, 2018.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 6023: informação e


documentação: referências: elaboração. Rio de Janeiro: ABNT, 2018.

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https://www.ecalculos.com.br/utilitarios/ipc-do-igp-fgv.php. Acesso em: 13 nov. 2020.

CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à teoria geral da administração. 3. ed. rev. e atual.


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https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv49230.pdf. Acesso em: 16 nov. 2020.

MARQUES, Maria Beatriz. Gestão da informação em sistemas de informação complexos.


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