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Curso Técnico Auxiliar de Saúde

Ano Letivo 2017/2018


Comunicação e Relações Interpessoais
Módulo 3 - A comunicação na interação com o cliente, cuidador e/ou família

4.A Comunicação e o Género em saúde

Professora: Catarina Pinto


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Curso Técnico Auxiliar de Saúde
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Comunicação e Relações Interpessoais
Módulo 3 - A comunicação na interação com o cliente, cuidador e/ou família

A Igualdade entre mulheres e homens é uma questão de direitos humanos e uma condição
de justiça social, sendo igualmente um requisito necessário e fundamental para a igualdade,
o desenvolvimento e a paz.

A Igualdade de Género exige que, numa sociedade, homens e mulheres gozem das mesmas
oportunidades, rendimentos, direitos e obrigações em todas as áreas.

Dito de outra maneira, mulheres e homens devem e beneficiar das mesmas condições:
• No acesso à educação
• Nas oportunidades no trabalho e na carreira profissional
• No acesso à saúde.

As desigualdades de género estão presentes no estado de saúde de mulheres e homens,


bem como no acesso, na utilização e na participação nos cuidados de saúde e nos cuidados
de longa duração.

Apesar de as mulheres viverem mais e durante mais tempo (número absoluto de anos) sem
incapacidade, vivem um período maior das suas vidas em situação de incapacidade (numa
idade mais avançada) comparativamente aos homens. As mulheres são também utilizadoras
mais frequentes dos cuidados de saúde e têm mais cuidados ao nível da prevenção e
promoção da saúde do que os homens.

Contudo, as mulheres idosas têm maior probabilidade que os idosos de se deparar com uma
situação em que necessitem de cuidados de longa duração: estas predominam no grupo
etário mais velho, sendo que as necessidades identificadas pelos/as próprios/as ao nível dos
cuidados de longa duração revelam uma maior incidência de dependência e incapacidade
com o avançar da idade.

É também um facto conhecido que as mulheres são as principais prestadoras de assistência


informal a dependentes (filhos e pessoas idosas) e constituem a maior parte da força de
trabalho nos sectores social e da saúde.

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Na política da saúde é preocupação do Ministério integrar nas políticas, estratégias e


programas de saúde as diferentes necessidades dos homens e das mulheres, assim como as
medidas necessárias para adotá-las adequadamente. Algumas atuações que pretendemos
promover na área da saúde são:
• A adoção sistemática de iniciativas destinadas a favorecer a promoção específica da
saúde das mulheres, assim como a prevenir a sua discriminação;
• A promoção da investigação científica que atenda às diferenças entre homens e
mulheres em relação à proteção da saúde, especialmente no que se refere ao acesso
aos meios de diagnóstico e terapêutico, tanto nos aspetos clínicos como assistenciais;
• Sempre que seja possível, será incentivada a obtenção e tratamento de dados,
desagregados por sexo, nos registos, inquéritos, estatísticas ou outros sistemas de
informação médica e sanitária;
• A presença equilibrada de mulheres e homens nos postos diretivos e de
responsabilidade profissional do conjunto do SNS;
• A integração do princípio de igualdade na formação de todos os que trabalham nas
diferentes organizações de saúde, garantindo a capacidade para detetar e assistir as
situações de violência de género.

Uma primeira etapa neste sentido consiste em adquirir conhecimentos adequados acerca das
necessidades e do estado de saúde das mulheres e dos homens, respetivamente, bem como
acerca do seu acesso, utilização e participação nos cuidados de saúde e nos cuidados de
longa duração.

Apenas tendo acesso a esta informação, seguida da adaptação das políticas a fim de reduzir
as desigualdades de género, poderão os sistemas de cuidados de saúde e cuidados de longa
duração responder de forma mais adequada às necessidades específicas das mulheres e dos
homens.

Saúde sexual e reprodutiva

A intervenção no âmbito da SSR envolve uma dimensão ética, médica e legal, chamando à
ação diferentes tipos de atores, desde os profissionais de saúde e educação até decisores
políticos e legisladores.

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Numa abordagem que se caracteriza por ser multidisciplinar, são consideradas como áreas
de atuação para a promoção da SSR:
• Prestação de cuidados de saúde perinatais e pós-parto
• Implementação e promoção do acesso a serviços de planeamento familiar
• Prevenção da gravidez indesejada
• Eliminação do aborto não seguro
• Combate à infertilidade
• Prevenção das infeções sexualmente transmissíveis e doenças do aparelho reprodutor
• Combate à violência sexual baseada no género e orientação sexual.

As estratégias para a promoção da saúde sexual e reprodutiva envolvem:


• Um compromisso político claro
• Programas de intervenção comunitária
• Informação adequada e livre de preconceitos
• Educação sexual
• Legislação adequada
• Serviços e infraestruturas de apoio acessíveis
• Investigação e partilha do conhecimento
• Avaliação, acompanhamento e monitorização

Os cuidados de saúde nesta área envolvem, assim, um conjunto de métodos, técnicas e


serviços de prevenção e resolução de problemas relacionados com a saúde reprodutiva,
incluindo a saúde sexual, cujo objetivo é promover a qualidade de vida e das relações
pessoais e não apenas o aconselhamento e cuidados relativos à reprodução ou prevenção
de infeções sexualmente transmissíveis.

Planeamento familiar

Segundo a legislação portuguesa é assegurado a todos, sem discriminações, o livre acesso


às consultas e outros meios de Planeamento Familiar. Através das consultas, todos os
indivíduos têm o direito à informação, conhecimentos e meios que lhes permitam tomar
decisões livres e responsáveis.

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As consultas de PF e os meios contracetivos proporcionados por entidades públicas são


gratuitos. O Estado garante o direito à educação sexual, como uma componente do direito
fundamental à educação.

Compete ao Estado, para a proteção da família, promover, pelos meios necessários, a


divulgação dos métodos de planeamento familiar e organizar as estruturas jurídicas e
técnicas que permitam o exercício de uma maternidade e paternidade conscientes.

Os jovens podem ser atendidos em qualquer consulta de Planeamento Familiar em centros


de saúde ou serviços hospitalares pertencentes ou não à sua área de residência.

Em todos os hospitais com serviço de ginecologia e/ou obstetrícia integrados no Serviço


Nacional de Saúde devem funcionar consultas de Planeamento Familiar de referência que
devem garantir a prestação de cuidados:
• Em situações de risco, designadamente, diabetes, cardiopatias e doenças oncológicas
• Em situações com indicação para contraceção cirúrgica (laqueação de trompas ou
vasectomia)
• Em situações de complicações resultantes de aborto
• A puérperas de alto risco
• A adolescentes

Em todos os centros de saúde deve existir uma equipa multiprofissional que promova e
garanta:
• O atendimento imediato nas situações que o justifiquem
• O encaminhamento adequado para uma consulta a realizar no prazo máximo de 15
dias, ponderado o grau de urgência
• Consulta de PF para utentes que dela não disponham
• A existência de contracetivos para distribuição gratuita aos utentes.

Gravidez

O sistema de saúde garante os seguintes direitos:

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• Qualquer grávida, portuguesa ou estrangeira, mesmo que não esteja inscrita na


Segurança Social, tem direito a consultas médicas, bem como a exames e
internamentos gratuitos, quando aconselhados pelo médico assistente, durante a
gravidez, o parto e nos 60 dias a seguir ao nascimento.
• O pai tem igualmente direito a exames gratuitos, quando esses exames forem
considerados essenciais pelo médico assistente da grávida.

Interrupção Voluntária da gravidez (IVG)

De acordo com a Lei 16/2007, a interrupção voluntária da gravidez é legal em Portugal desde
que:
• Constitua o único meio de remover perigo de morte ou de grave e irreversível lesão
para o corpo ou para a saúde física ou psíquica da mulher grávida;
• Se mostre indicado para evitar perigo de morte ou de grave e duradoura lesão para
o corpo ou para a saúde física ou psíquica da mulher grávida, e seja realizada nas
primeiras 12 semanas de gravidez;
• Haja seguros motivos para prever que o nascituro venha a sofrer, de forma incurável,
de grave doença ou malformação congénita, e for realizada nas primeiras 24 semanas
de gravidez, excecionando-se as situações de fetos inviáveis, caso em que a
interrupção poderá ser praticada a todo o tempo;
• A gravidez tenha resultado de crime contra a liberdade e autodeterminação sexual e
a interrupção for realizada nas primeiras 16 semanas de gravidez;
• Por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas de gravidez.

As complicações decorrentes do aborto não seguro são uma das principais causas de
mortalidade materna em todo o mundo. Porém, se realizado na fase inicial, e com os cuidados
de saúde apropriados, a Interrupção Voluntária da Gravidez é um procedimento médico
seguro e com menores riscos para as mulheres.

A consulta prévia marca o início formal do processo de IVG. É uma consulta de carácter
obrigatório. Nesta, o técnico de saúde deve esclarecer todas as dúvidas da mulher e fornecer
a informação necessária tendo em vista uma tomada de decisão livre, informada e
responsável.

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A consulta pode ser marcada num serviço de saúde legalmente autorizado, como centros de
saúde, maternidades, hospitais públicos ou em clínicas privadas devidamente autorizadas.

O período entre a marcação e a realização da consulta não pode exceder os 5 dias. A


consulta deve garantir que a mulher se encontra livre de pressões na sua tomada de decisão.

A mulher pode fazer-se acompanhar por terceiros durante todo o processo de IVG.

Uma vez clarificado o pedido de IVG, é determinado o tempo de gestação (através de


ecografia) e explicados os diferentes métodos de interrupção da gravidez. No final da
consulta prévia é marcada uma outra para a realização da IVG.

Violência doméstica

Um atendimento a uma mulher vítima de violência, seja num Serviço de Urgência, seja num
Centro de Saúde, pode ser determinante para o seu restabelecimento de saúde, em particular
(pelo tratamento imediato) e, no geral, para toda a sua vida (pelo apoio que pode facultar
para a resolução dos seus problemas).

Por isso, os profissionais deverão tentar sempre promover um processo de apoio que não
termine aí. Tão pouco devem realizar um atendimento como se não estivessem diante de
uma vítima de violência, ainda que, em muitos casos essa condição de vítima lhes tente
ocultar, pelo que devem proceder segundo uma Intervenção na Crise.

E como a crise se poderá prolongar, podendo resultar em doença psiquiátrica, em


dependências, em mais violência, suicídio ou homicídio, essa Intervenção na Crise deverá
ser continuada, pelo que aí se poderá sugerir à mulher vítima um processo de apoio que
transcenda os serviços e envolva outros profissionais e outras instituições.

O diagnóstico, que visa a colheita de informações para a história clínica, e o tratamento em


medicina começam, geralmente, com a entrevista. Um profissional de saúde tem de possuir

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capacidades de entrevistar o paciente, de modo a realizar um adequado diagnóstico da


situação e a fazer seguir um tratamento correto e eficaz.

Por isso, a entrevista constitui o núcleo da relação entre o profissional e o paciente. E, muito
mais além de uma simples recolha de informações, a entrevista clínica deve ser o processo
pelo qual o entrevistador tenta compreender todos os fatores -biológicos, psicológicos e
sociais- que desempenharam um papel no aparecimento do problema de saúde e que irão
afetar a recuperação do paciente.

É essencial que o profissional oriente a sua entrevista consoante as informações que obteve
previamente sobre a pessoa que vai consultar: se a mulher vítima declarou, à entrada no
hospital que foi vítima de violência, a entrevista decorrerá desde logo numa abordagem direta
sobre o problema.

O profissional deverá ter em consideração que a entrevista dependerá da relação que


conseguir estabelecer com a mulher vítima. Ou melhor: a própria entrevista clínica deverá
ser profissional como uma relação, onde a ajudará a confiar em si e tentará compreender
toda a complexidade do problema, tal como quais as melhores formas de obter dela
informações importantes e como poderá ser ajudada.

Tudo isso dependerá, obviamente, da pessoa que tem à sua frente, do modo como esta
discursa e como se comporta, pelo que deverá adaptar o seu próprio comportamento durante
a entrevista.

Porém, há alguns aspetos que poderá considerar na entrevista:


a) A sua apresentação à paciente.
b) Clarificar, desde logo, o objetivo da entrevista.
c) O modo de tratamento que dá à paciente.
d) Estar atento à comunicação verbal.
e) A facilitação.
f) A confrontação.
g) Perguntar.
h) Estar atento à comunicação não-verbal.

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j) Despedir-se.

É importante que o profissional distinga que estes aspetos não são mais que algumas técnicas
de entrevista e que o seu uso não basta para uma adequada Intervenção na Crise: eles
apenas podem ajudar a intervir, nomeadamente no que diz respeito à comunicação com a
mulher vítima.

Assim, o profissional deverá saber que a intervenção tem de ter em conta a importância de:
a) Utilizar o empowerment;
b) Validar os direitos e interesses da mulher vítima;
c) Otimizar todos os recursos existentes para a apoiar;
e) O restabelecimento da segurança e do domínio sobre a sua própria vida;
f) A compreensão da opressão que sente perante as decisões a tomar; acompanhá-
la pessoalmente nas diligências que são próprias do processo de apoio.

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