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essa função social tem por função colocar um limite à função tera
pêutica. Sem o limite da sua função social, a instituição corre o
risco de se transformar em um lugar de alienação, de experimenta
ção e, sem o limite da sua função terapêutica, ela corre o risco de
ser simplesmente suprimida. Fazer valer a necessidade social de
uma resposta institucional à clínica, uma resposta no social, tem a
vantagem que eu mencionei - de evitar suprimir a instituição ou
hospitalizar indefinidamente os pacientes. A primeira vantagem é
evitar esses dois riscos. A segunda vantagem é a de deslocar o
assento do conflito entre dois discursos a uma questão clínica co
mum.
Quando o estado crítico da psicose pode permitir a adesão da
transferência a um analista, não é necessário e nem desejável que
o sujeito seja acolhido na instituição. O tratamento da psicose não
exige automaticamente uma estrutura coletiva de resposta. Muitas
vezes, o sujeito se arranja para criar, ele mesmo, uma pequena
instituição em torno dele mesmo, com várias pessoas que inter
vêm. Assim, quando o tratamento da psicose pode aderir ao ana
lista, a resposta institucional não é necessária. Mas, a clínica, às
vezes, exige uma estrutura coletiva de resposta. É a clínica que
exige respostas que não podem ser dadas por um só. Trata-se, en
tão, de saber se a psicanálise pode orientar uma prática que pode
não ser a de um só, nem de um só momento do dia. Isso porque a
agitação, a injúria, a crise epileptiforme, a briga, a interpretação
persecutória de um gesto não esperam a entrevista do dia seguinte
para se produzir. Uma certa maneira de responder e de endereçar
se ao sujeito, uma certa maneira de intervir ou não, um cálculo da
posição que é preciso ocupar, são exigidos em todos os momentos
da permanência do paciente na instituição, sob pena de tornar-se
isso difícil para os outros ou insuportável para o sujeito. A ques
tão, então, é saber se nós podemos orientar uma prática que não é
de um só e que não se limita a certos momentos de um dia. O
acolhimento institucional não está limitado no tempo e nem a uma
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só pessoa.
Tomemos o caso do adolescente que tem uma faca e não quer
abandoná-la, mas a equipe teme que ele possa se ferir ou ferir os
outros. É preciso tomar uma posição diante disso e essa tomada de
posição pode ser feita por qualquer um dos membros do coletivo
institucional. É preciso encontrar uma resposta. Então, a resposta,
neste caso, foi a de propor ao adolescente guardar a faca dentro de
uma caixa fechada com chave e que a caixa fosse colocada no
escritório da diretora, que era a única a ter a chave da caixa. Isso é
uma historinha que permitiu ao sujeito separar-se da faca sem perdê
la e de não continuar a se constituir em perigo para os outros.
Se uma pessoa que mora na instituição vem se queixar que os
outros o agridem, acusando-o de ser um ladrão, ele vem pedir que
todos os que o chamam de ladrão sejam afastados da instituição.
Não se trata de dizer a ele que, de fato, ele entra nos quartos para
pegar cigarros dos outros. Primeiro, é melhor acolhê-lo com o seu
protesto, por exemplo, por uma declaração de ordem geral que
reconheça sua posição, dizendo que as agressões verbais não são
permitidas nessa casa. É uma maneira inicial de acolhê-lo com o
seu protesto. Antes de evocar as outras disposições relativas aos
quartos, não se trata de discutir com ele para dizer-lhe que talvez
os outros tenham razão. Trata-se, sobretudo, de presentificar um
Outro no qual ele tem um lugar, que o acolhe enquanto mestre,
como alguem que tem razão, por uma declaração do tipo geral,
universal, antes de se colocar numa relação dual com ele. São ti
pos de intervenção que todos os membros do coletivo podem ser
levados a fazer. Não são reservadas a um ou outro ou a algum
momento do dia. É a natureza mesma da clínica, acolhida na insti
tuição, que exige uma resposta comum, uma resposta da qual cada
um pode ser o vetor.
Se levamos em conta que a motivação de instituição é a clíni
ca, a questão não é mais entre a psicanálise e a instituição, mas da
relação entre a clínica e a instituição e, no centro dessa clínica, a
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Discussão:
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