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O PLANO DEVACHÂNICO

OU
O MUNDO CELESTE
Suas Características e Habitantes

C. W. Leadbeater
Segunda Edição Revista e Ampliada

The Theosophical Publishing Society Londres - Benares 1902

ÍNDICE
INTRODUÇÃO

-O lugar do plano mental na evolução


-Dificuldades de expressão

CARACTERÍSTICAS GERAIS

-Uma formosa descrição


-A bem-aventurança do Mundo Celeste - Sua intensa vitalidade
-Um novo método de cognição
-Ambiente - A linguagem cromática dos anjos
-As grandes ondas
-Os mundos celestes superior e inferior
-A ação do pensamento - A formação de elementais artificiais
-Formas-pensamento
-Os sub-planos
-Os registros do passado

HABITANTES

Humanos
-Encarnados - Adeptos e seus discípulos
-Os adormecidos ou em transe
-Os desencarnados - Sua consciência
-As qualidades necessárias para a vida celeste
-Como um homem chega à vida celeste pela primeira vez
-Os céus inferiores, com exemplos de cada
-A realidade da vida celeste
-A renúncia ao céu
-Os mundos celestes superiores

Não-humanos

-A essência elemental
-O que é
-A velação do Espírito
-Os reinos elementais
-Como a essência evolui
-O reino animal
-Os Devas
-Suas Classes

Artificiais

-Artificiais

CONCLUSÃO

-Os planos ainda mais elevados

Prefácio

Poucas palavras são necessárias ao enviarmos este livreto para o mundo. É


o sexto de uma série de Manuais concebidos para atender a demanda do
público por uma exposição simples dos ensinamentos Teosóficos. Alguns
têm lamentado que nossa literatura seja ao mesmo tempo por demais
abstrusa, demasiado técnica, e muito cara para o leitor comum, e é nossa
esperança que esta presente série possa ter sucesso ao suprir uma
necessidade muito real. A Teosofia não é só para os instruídos; é para
todos. Talvez entre aqueles que nestes opúsculos obtiverem seu primeiro
vislumbre de suas doutrinas, possa haver uns poucos que serão conduzidos
por eles a penetrar mais fundamente em sua filosofia, sua ciência e sua
religião, enfrentando seus problemas mais abstrusos com o zelo do
estudante e o ardor do neófito. Mas estes Manuais não são escritos só para
os estudantes ávidos, a quem nenhumas dificuldades iniciais podem
atemorizar; são escritos para os ocupados homens e mulheres do mundo
cotidiano, e procuram tornar claras algumas das grandes verdades que
fazem a vida mais fácil de suportar e a morte mais fácil de enfrentar. Escrito
por servos dos Mestres que são os Irmãos Mais Velhos de nossa raça, eles
não terão nenhum outro objetivo senão servir nossos semelhantes.

Nota do Autor

Uma vez que pesquisas posteriores revelaram que o termo 'Devachan' é


etimologicamente inexato e enganador, o autor teria preferido omiti-lo
inteiramente, e publicar este manual sob o título mais simples e mais
descritivo de 'O Plano Mental'. Os editores lhe informam, entretanto, que
esta alteração causaria dificuldades em matéria de copyright, e produziria
confusão de vários modos, de modo que ele se rende aos seus desejos.

INTRODUÇÃO

No manual anterior uma tentativa foi feita de descrever em alguma extensão


o plano astral - a parte inferior do vasto mundo invisível em meio do qual
vivemos e nos movemos desapercebidamente. Neste livreto deve ser
assumida a tarefa ainda mais difícil de tentar dar alguma idéia do estágio
logo acima daquele - o plano mental ou mundo celeste, freqüentemente
chamado em nossa literatura de Devachan ou Sukhâvati.

Mesmo assim, ao chamarmos este plano de mundo celeste, nós


tencionamos claramente implicar que ele contém a realidade que
fundamenta todas as melhores e mais espirituais idéias do céu que têm sido
propostas em várias religiões, ainda que não deva ser considerado de modo
algum somente deste ponto de vista. É um reino da natureza, que tem
excepcional importância para nós - um vasto e esplêndido mundo de vida
vívida no qual estamos vivendo agora assim como nos períodos entre as
encarnações físicas. É somente nossa falta de desenvolvimento, só as
limitações impostas sobre nós por esta roupagem de carne, que nos impede
de percebermos plenamente que toda aquela glória dos altos céus está ao
redor de nós aqui e agora, e que influências provenientes daquele mundo
estão sempre agindo sobre nós se apenas as entendermos e as
acolhermos. Impossível como isso possa parecer ao homem do mundo, é a
mais corriqueira das realidades para o ocultista; e para aqueles que ainda
não captaram esta verdade fundamental podemos apenas repetir o
conselho dado pelo instrutor Budista: 'Não vos lamenteis nem choreis nem
oreis, apenas abride vossos olhos e vêde. A luz está toda à vossa volta, se
somente tirardes a venda de vossos olhos e olhardes. É tão maravilhoso,
tão belo, tão superior a tudo que o homem tem sonhado ou pelo qual tem
rezado, e é para todo o sempre'. (A Alma de uma Pessoa, pg. 163)

É absolutamente necessário para o estudante de Teosofia perceber esta


grande verdade, de que existem na natureza vários planos ou divisões,
cada um com sua própria matéria de um apropriado grau de densidade, que
em cada caso interpenetra a matéria do plano imediatamente inferior ao
seu. Deveria ser ainda entendido claramente que o emprego dos termos
'superior' e 'inferior' com relação a estes planos não se refere de qualquer
modo à sua posição (uma vez que ocupam o mesmo espaço), mas somente
ao grau de rarefação da matéria de que são respectivamente compostos, ou
(em outras palavras) à extensão na qual sua matéria é subdividida - pois
toda matéria de que sabemos alguma coisa é essencialmente a mesma, e
difere apenas no grau de sua rarefação e na rapidez de suas vibrações.

Segue-se, portanto, que falar de um homem como passando de um desses


planos para outro não implica nunca nenhum tipo de movimento no espaço,
mas simplesmente, uma mudança de consciência. Pois cada homem tem
em si mesmo matéria pertencente a cada um desses planos, um veículo
correspondente a cada um, no qual ele pode atuar no plano quando
aprender como isso pode ser feito. Assim pois passar de um plano a outro é
alterar o foco da consciência de um dos veículos para outro, usar para cada
momento o astral, ou o corpo mental em vez do físico. Pois naturalmente
cada um destes corpos responde unicamente às vibrações de seu próprio
plano; e assim enquanto a consciência do homem estiver focalizada em seu
corpo astral, ele perceberá somente o mundo astral, exatamente como
enquanto nossa consciência está usando só os sentidos físicos nós não
percebemos nada senão o mundo físico - ainda que ambos estes mundos (e
muitos outros) existam e estejam em plena atividade ao nosso redor todo o
tempo. Na verdade, todos esses planos juntos constituem realmente um
todo vivo e poderoso, mesmo que nossos débeis poderes sejam capazes de
observar somente uma parte muito pequena dele a cada vez.

Quando consideramos esta questão de localização e interpenetração


devemos permanecer em guarda contra possíveis mal-entendidos. Deveria
ser compreendido que nenhum dos três planos inferiores do sistema solar
são co-extensivos a ele exceto no que se refere a uma condição particular
da subdivisão mais alta ou atômica de cada um. Cada globo físico tem seu
plano físico (incluindo sua atmosfera), seu plano astral, e seu plano mental,
todos interpenetrando-se mutuamente, e portanto ocupando a mesma
posição no espaço, mas todos inteiramente à parte entre si e não se
comunicando com os planos correspondentes de nenhum outro globo. É só
quando nos elevamos aos níveis mais elevados do plano búdico que
encontramos uma circunstância, de algum modo, comum a todos os
planetas de nossa cadeia.
Não obstante isso, há, como foi dito acima, uma condição da matéria
atômica de cada um desses planos que é cósmica em sua extensão; de
forma que os sete sub-planos atômicos de nosso sistema, tomados à parte
dos restantes, podem ser ditos constituindo um plano cósmico - o mais
baixo, algumas vezes chamado cósmico-prakrítico. O éter interplanetário,
por exemplo, que parece estender-se por todo o espaço - de fato deve ser
assim, pelo menos até a estrela mais distante visível, de outro modo nossos
olhos físicos não poderiam perceber a estrela - é composto de átomos
físicos ultérrimos em sua condição normal e não comprimida. Mas todas as
formas inferiores e mais complexas do éter existem somente (até onde se
sabe hoje) em conexão com os vários corpos celestes, agregadas em seu
redor como está sua atmosfera, ainda que provavelmente se estendendo
consideravelmente além de suas superfícies.

Precisamente o mesmo é verdadeiro em relação aos planos astral e mental.


O plano astral de nossa própria terra a interpenetra e à sua atmosfera, mas
se estende por alguma distância para além da atmosfera. Pode ser
lembrado que este plano era chamado pelos gregos de mundo sublunar. O
plano mental por sua vez interpenetra o astral, mas se estende ainda mais
no espaço do que o anterior.

Só a matéria atômica de cada um destes planos, e mesmo esta só em uma


condição inteiramente livre, é co-extensiva ao éter interplanetário, e
conseqüentemente uma pessoa não pode passar de planeta para planeta
mesmo de nossa própria cadeia em seu corpo astral ou mental, mais do que
o pode em seu corpo físico. No corpo causal, quando altamente
desenvolvido, esta façanha é possível, ainda que mesmo então de modo
algum com a facilidade e rapidez com que isso pode ser feito no plano
búdico por aqueles que conseguiram elevar sua consciência àquele nível.

Uma clara compreensão destes fatos evitará a confusão que muitas vezes
tem sido feita por estudantes entre o plano mental de nossa Terra e aqueles
de outros globos de nossa cadeia que existem no plano mental. Deve ser
compreendido que os sete globos de nossa cadeia são globos reais,
ocupando posições definidas e separadas no espaço, não obstante o fato
de que alguns deles não estão no plano físico. Os globos A, B, F e G estão
separados de nós e entre si da mesma exata maneira que o estão Marte e a
Terra; a única diferença é que onde esta possui planos físico, astral e
mental próprios, os globos B e F não têm nada abaixo do plano astral, e os
A e G, nada abaixo do mental. O plano astral de que tratamos no Manual V
e o plano mental que logo vamos considerar são aqueles próprios desta
Terra somente, e não têm nada a ver com aqueles dos outros planetas.

O plano mental sobre o qual tem lugar a vida celeste é o terceiro dos cinco
grandes planos aos quais a humanidade está no presente relacionada,
tendo abaixo o astral e físico, e acima o búdico e nirvânico. É o plano onde
o homem, exceto se em um estágio extraordinariamente primitivo de seu
progresso, despende de longe a maior parte de seu tempo durante o
processo de evolução; pois, fora o caso dos inteiramente não-
desenvolvidos, a proporção da vida física em relação à celestial raramente é
muito maior que um para vinte, e em alguns casos de pessoas bastante
boas poderia por vezes cair para um para trinta. É, de fato, a verdadeira e
permanente morada do Ego reencarnante ou Alma do homem, cada descida
à encarnação constituindo meramente um breve embora significativo
episódio em sua carreira. Portanto é bem aproveitado o tempo que
devotamos ao seu estudo, por tanto tempo e com todo o cuidado que sejam
necessários para adquirir uma compreensão do mesmo tão completa
quanto seja possível para nós, enquanto encerrados no corpo físico.

Infelizmente há dificuldades práticas insuperáveis no caminho de qualquer


tentativa de transpor os fatos deste terceiro plano da natureza em palavras -
naturalmente, pois amiúde consideramos as palavras insuficientes para
expressar nossas idéias e sentimentos mesmo neste plano mais inferior.
Leitores de O Plano Astral lembrarão que lá foi assinalada a impossibilidade
de veicular qualquer noção adequada das maravilhas daquela região para
aqueles cuja experiência ainda não havia transcendido o mundo físico;
alguém poderá apenas dizer que cada observação feita lá a respeito desta
circunstância se aplica com força decuplicada ao esforço que está diante de
nós nesta seqüência daquele tratado. Não somente a matéria que
deveremos tentar descrever é muito mais remota que a astral desta a que
estamos acostumados, mas a consciência daquele plano é tão
imensamente mais larga do que qualquer coisa que possamos imaginar
aqui embaixo, e suas verdadeiras condições tão inteiramente diferentes,
que quando instado a descrevê-la nas palavras ordinárias o explorador
sente-se numa extrema impotência, e pode apenas confiar que a intuição de
seus leitores suplementará as inevitáveis imperfeições de sua descrição.

Para tomarmos apenas um dos muitos possíveis exemplos de nossas


dificuldades, pareceria como se neste plano mental o espaço e o tempo não
existissem, pois eventos que aqui embaixo se desenrolam em sucessão e
em lugares distantemente separados, apareceriam lá como se ocorrendo
simultaneamente e no mesmo ponto. Este pelo menos é o efeito produzido
na consciência do Ego, ainda que haja circunstâncias que apóiem a
suposição de que a absoluta simultaneidade seja atributo de um plano ainda
mais elevado, e que esta sensação no mundo celeste é só o resultado de
uma sucessão tão rápida que os intervalos de tempo infinitesimalmente
diminutos são indistinguíveis, como ocorre no bem conhecido experimento
óptico de voltearmos uma vareta cuja extremidade está em brasa, o olho
recebe a impressão de um contínuo anel de fogo se a vareta for girada mais
rápido que dez vezes por segundo; não porque um anel contínuo realmente
exista, mas porque o olho humano comum é incapaz de distinguir como
separadas quaisquer impressões similares que se sigam em intervalos
menores que a décima parte do segundo.

Como quer que seja, o leitor prontamente compreenderá que na tentativa de


descrever uma condição de existência tão totalmente dessemelhante
daquela da vida física como esta que temos de considerar, será impossível
evitar dizermos muitas coisas que serão parcialmente ininteligíveis e podem
mesmo parecer de todo inacreditáveis àqueles que não tiverem
pessoalmente experimentado esta vida mais alta. Que isso deva ser assim,
como eu disse, é inevitável, de modo que os leitores que se consideram
incapazes de aceitar o relato de nossas investigações devem simplesmente
esperar por uma noção mais satisfatória do mundo celeste até quando
sejam capazes de o examinar por si mesmos: posso apenas repetir a
declaração anteriormente feita em O Plano Astral de que todas as
precauções razoáveis foram tomadas para assegurar a exatidão. Neste
caso como no outro, podemos dizer que 'nenhum fato, velho ou novo, foi
incluído neste tratado a menos que tenha sido confirmado pelo testemunho
de pelo menos dois investigadores treinados e independentes dentre nós, e
que foram passados como corretos por estudantes mais velhos cujo
conhecimento é necessariamente muito maior que o nosso. É esperado,
portanto, que este relato, ainda que não possa ser considerado completo,
possa ser acreditado como confiável até onde se propõe.'

A organização geral do manual precedente será seguida até onde possível


neste também, de modo que aqueles que o desejarem fazer poderão
comparar os dois planos estágio por estágio. O título 'Cenário', entretanto,
seria inapropriado para o mundo mental, como veremos mais adiante; de
modo que o substituiremos pelo título que segue.

CARACTERÍSTICAS GERAIS

Talvez o método menos insatisfatório de abordarmos este assunto


superlativamente difícil será o de mergulharmos diretamente em meio à
coisa e fazermos a tentativa (mesmo que destinada a falhar) de descrever o
que um discípulo ou estudante treinado vê quando pela primeira vez o
mundo celeste se desvenda diante dele. Eu usei a palavra discípulo
cautelosamente, pois a não ser que um homem esteja nesta relação com
um dos Mestres de Sabedoria, há apenas pouca chance de ser capaz de
passar para esta gloriosa terra de bem-aventurança em plena consciência, e
retornar à Terra com clara recordação do que viu lá. Daí que nenhum
'espírito' convencional jamais transmitiu nada além de trivialidades
extremamente baratas pela boca do médium profissional; lá nenhum
clarividente comum jamais chegou, ainda que algumas vezes os melhores e
mais puros tenham lá entrado quando durante o transe mais profundo
escaparam ao controle de seus mesmerizadores - e mesmo então
raramente trouxeram mais que uma débil lembrança de uma intensa mas
indescritível bem-aventurança, geralmente colorida pelas suas convicções
religiosas pessoais.

Quando uma alma partiu, recolhendo-se dentro de si mesma após o que


chamamos morte, e chegou àquele plano, nem os pensamentos lamentosos
de seus amigos entristecidos nem os apelos dos círculos espíritas poderão
jamais trazê-la de volta para a comunhão com a Terra física até que todas
as forças espirituais que houver posto em ação em sua vida recente tiverem
frutificado ao máximo, e ela estiver mais uma vez pronta para tomar sobre si
novas roupagens de carne. Nem, mesmo se pudesse retornar, seu relato de
sua experiência daria qualquer idéia verdadeira daquele plano, pois, como
veremos em breve, só aqueles que entram em plena consciência desperta
são capazes de se mover lá com liberdade e sorver ao máximo a
deslumbrante glória e beleza que o mundo celeste tem a oferecer. Mas tudo
isso será explicado mais completamente mais tarde, quando tratarmos dos
habitantes deste reino celestial.

Uma Formosa Descrição

Numa carta antiga de um eminente ocultista a seguinte bela passagem foi


dada, como citação de memória. Nunca fui capaz de descobrir de onde foi
tirada, ainda que pareça ser uma outra versão, consideravelmente
expandida, da que aparece em Catena of Buddhist Scriptures, de Beal, pg.
378.

'Nosso Senhor o Buda disse: Milhares de miríades de sistemas de mundos


além deste há uma região de bem-aventurança chamada Sukhâvati. Esta
região é circundada por sete séries de balaustradas, sete séries de vastas
cortinas, sete séries de árvores balouçantes. Esta mansão sagrada dos
Arhats é governada pelos Tathâgatas e é possuída pelos Bodhisattvas. Tem
sete lagos preciosos, no meio dos quais jorram águas cristalinas
possuidoras de sete e mais uma distintas qualidades e propriedades. Este,
oh Sâriputra, é o Devachan. Sua divina flor udambara lança uma raiz na
sombra de cada Terra, e flori para todos os que a encontram. Aqueles
renascidos nesta região bendita - os que cruzaram a ponte dourada e
chegaram às sete montanhas douradas - estes são veramente felizes; para
eles não há mais sofrimento ou tristeza neste ciclo.'

Mesmo que veladas sob o opulento imaginário do Oriente, podemos


facilmente detectar nesta passagem algumas das características principais
que apareceram mais proeminentemente nas referências de nossos
modernos investigadores. As 'sete montanhas douradas' podem ser apenas
as sete subdivisões do plano mental, separadas uma da outra por barreiras
impalpáveis, ainda que reais e efetivas lá como 'sete séries de balaustradas,
sete séries de vastas cortinas, setes séries de árvores balouçantes'
poderiam ser aqui: os sete tipos de águas cristalinas, tendo cada uma suas
propriedades e qualidades distintas, representam os diferentes poderes e
condições mentais pertencentes a eles respectivamente, enquanto a
qualidade única que têm em comum é a de concederem àqueles lá
residentes a maior intensidade de felicidade que são capazes de
experimentar. Sua flor de fato 'lança uma raiz na sombra de cada Terra',
pois de cada mundo o homem encontra o céu correspondente, e a felicidade
de que nenhuma língua pode falar é o botão que desabrocha para todos os
que viveram de modo a se prepararem para obtê-lo. Pois eles terão
'passado a ponte dourada' sobre a correnteza que divide este reino do
mundo do desejo; para eles a luta entre o superior e o inferior é finda, e para
eles, portanto, 'não há mais sofrimento ou tristeza neste ciclo', até quando
uma vez mais o homem aprontar-se para a encarnação, e o mundo celeste
uma vez mais for deixado para trás por algum tempo.

A Bem-Aventurança do Mundo Celeste

Esta intensidade de bem-aventurança é a primeira grande idéia que deve


formar uma base para todas as nossas concepções da vida celeste. Não é
apenas que estamos tratando de um mundo no qual, pela sua própria
constituição, o mal e a tristeza são impossíveis; não é só um mundo no qual
toda criatura é feliz; os fatos neste caso vão muito além de tudo isso. É um
mundo onde cada ser, pelo simples fato de estar lá, deve estar desfrutando
da mais alta felicidade espiritual de que é capaz - um mundo cujo poder de
resposta às suas aspirações é limitado somente pela sua capacidade de
aspirar.

Aqui pela primeira vez começamos a captar algo da verdadeira natureza da


grande Fonte de Vida; aqui pela primeira vez captamos um distante
vislumbre daquilo que o Logos deve ser, e do que Ele tenciona que
sejamos. E quando a estupenda realidade disso explode ante nossa atônita
visão, não podemos senão sentir que, com este conhecimento da verdade,
a vida jamais poderá nos olhar como antes. Não podemos senão nos
maravilharmos da desesperada inadequação de todas as idéias mundanas
do homem sobre a felicidade; de fato, não podemos evitar perceber que a
maioria delas está absurdamente invertida e é de impossível realização. E
que na maior parte ele realmente voltou as costas para a verdadeira meta
que procura. Mas aqui pelo menos há verdade e beleza, transcendendo em
muito tudo o que cada poeta sonhou; e na luz de sua glória superior todas
as outras alegrias empalidecem e se apagam, irreais e insatisfatórias.

Algum detalhe disso tudo deveremos tentar esclarecer mais tarde; o ponto a
ser enfatizado agora é que este radioso senso, não só de bem-vinda
ausência de todo o mal e discórdia, mas de persistente, irresistível presença
de júbilo universal, é a primeira e mais impressionante sensação
experimentada por quem entra no mundo celeste. E ela jamais o abandona
enquanto lá permanece; qualquer trabalho que possa estar fazendo;
quaisquer ainda mais altas possibilidades de exaltação espiritual que
possam surgir diante dele à medida que aprenda mais das capacidades
deste novo mundo em que se encontra, o estranho, indescritível sentimento
de inexprimível deleite pela mera existência em tal reino sobrepuja tudo
mais - esta apreciação do extravasante júbilo dos outros sempre lhe é
presente. Nada na Terra se assemelha; nada o pode figurar; se alguém
pudesse imaginar a livre vida da criança elevada à nossa experiência
espiritual e então intensificada muitos milhares de vezes, talvez alguma
tênue sombra de uma idéia disso poderia ser insinuada; e mesmo tal
comparação ficaria miseravelmente aquém daquilo que está além das
palavras - a tremenda vitalidade espiritual deste mundo celeste.

Um modo pelo qual esta intensa vitalidade se manifesta é a extrema rapidez


de vibração de todas as partículas e átomos de sua matéria mental. Como
proposição teórica estamos todos cientes de que mesmo aqui no plano
físico nenhuma partícula de matéria, mesmo fazendo parte do mais denso
dos corpos sólidos, jamais está parada por qualquer momento; não
obstante, quando pela abertura da visão astral isso deixa de ser para nós
uma teoria de cientistas, mas torna-se um fato real e sempre presente,
percebemos a universalidade da vida de um jeito e numa largueza que era
de todo impossível antes; nossos horizontes mentais se expandem, e
começamos mesmo a ter vislumbres de possibilidades na natureza que para
aqueles que ainda não podem ver devem parecer o mais desvairado dos
sonhos.

Se este é o efeito de adquirir a mera visão astral, e aplicando-a à mera


matéria densa, tente imaginar o resultado produzido na mente do
observador quando, tendo deixado este plano físico para trás e estudado
profundamente a vida muito mais intensa e as vibrações infinitamente mais
rápidas do astral, encontra um novo e transcendente sentido se abrindo
dentro de si, que desvenda ao seu olhar deslumbrado um outro e ainda
mais elevado universo, cujas vibrações são muito mais aceleradas que as
da luz de nosso plano físico o são em relação às do som - um universo onde
a onipresente vida que pulsa incessante em volta e dentro de nós é de uma
espécie toda diferente, é como se tivesse sido elevada a uma potência
enormemente mais alta.

Um Novo Método de Cognição

O próprio sentido, pelo qual se torna apto para conhecer tudo isso, não é a
menor das maravilhas deste mundo celestial; já não ouve e vê e sente
através de órgãos separados e limitados, como faz aqui embaixo, nem tem
mesmo as imensamente expandidas capacidades de visão e audição que
possuía no plano astral; no lugar deles ele sente em si um estranho e novo
poder que não é nenhum daqueles, mas os inclui todos e muito mais - um
poder que o habilita no momento em que se depare com qualquer coisa ou
pessoa não só a vê-la e senti-la e ouvi-la, mas a saber tudo
instantaneamente sobre ela por dentro e por fora - suas causas, seus
efeitos, e suas possibilidades, pelo menos até onde concerne a este plano e
tudo o que está abaixo. Ele descobre que para ele pensar é realizar; lá não
há nunca dúvida, hesitação, ou retardo acerca desta ação direta do sentido
superior; se pensa em algum lugar, lá está; se num amigo, aquele amigo
surge diante dele. Já nenhum mal-entendido pode surgir, já não pode ser
enganado ou iludido por nenhuma aparência externa, pois cada
pensamento e sentimento do seu amigo se desvelam como num livro aberto
diante dele neste plano.

E se for afortunado bastante para ter entre seus amigos um outro cujo
sentido superior esteja aberto, sua relação é duma perfeição além de toda
concepção terrena. Pois para eles não há distância ou separação; seus
sentimentos já não podem ser ocultos ou na melhor das hipóteses só
parcialmente expressos por palavras desajeitadas; pergunta e resposta são
desnecessárias, pois as imagens-pensamentos são lidas assim que se
formam, e o intercâmbio de idéias é tão rápido quanto o seu nascimento
fulgurante na mente.

Todo o conhecimento é deles para a pesquisa - todo, isto é, o que não


transcende mesmo este plano elevado; o passado do mundo lhes está tão
aberto como o presente; os indeléveis registros na memória da natureza
estão sempre à sua disposição, e a história, seja antiga ou moderna, se
desenrola diante de seus olhos à sua vontade. Já não estão mais à mercê
do historiador, que pode estar mal-informado, e deve ser mais ou menos
parcial; eles podem estudar por si mesmos qualquer incidente no qual
estejam interessados, com a absoluta certeza de ver 'a verdade, somente a
verdade e nada mais que a verdade'. Se são capazes de permanecer nos
níveis mais altos do plano, a longa série de suas vidas pregressas se
desenrola diante deles como um pergaminho; eles vêem as causas
kármicas que os fizeram ser como são; vêem o karma que ainda resta à sua
frente para ser trabalhado antes que 'a longa e triste conta seja encerrada',
e assim percebem com infalível certeza seu exato lugar na evolução.

Se for perguntado se podem ver o futuro tão claramente quanto o passado,


a resposta deve ser negativa, pois esta faculdade pertence a um plano
ainda mais alto, e ainda que neste plano mental a previsão lhes seja em
grande medida possível, já não é perfeita, porque onde quer que na rede do
destino interfira a mão do homem desenvolvido, sua vontade poderosa pode
introduzir novos fatores, e alterar o padrão da próxima vida. O caminho do
homem comum não-desenvolvido, que não tem praticamente nenhuma
vontade própria digna desse nome, amiúde pode ser previsto com clareza
suficiente, mas quando o Ego ousadamente toma seu futuro em suas
próprias mãos, a previsão exata se torna imposssível.

Ambiente

As primeiras impressões, então, do discípulo que entra neste plano mental


em plena consciência serão de intensa bem-aventurança, indescritível
vitalidade, poder enormemente aumentado, e a perfeita segurança que
deles advém; e quando faz uso de seu novo sentido para examinar as
adjacências, o que ele vê? Ele se encontra no meio do que lhe parece ser
um universo inteiro de luz e cores e sons eternamente cambiantes, como
jamais terá chegado a imaginar em nenhum de seus mais altos sonhos.
Veramente é verdadeiro aqui embaixo que 'o olho não viu, nem o ouvido
escutou, sequer o coração do homem terá chegado a imaginar' as glórias do
mundo celeste: e o homem que o experimentou uma vez em plena
consciência considerará o mundo com olhos largamente diversos para
sempre daí em diante. Pois sua experiência é tão dessemelhante de tudo o
que conhecemos no plano físico que ao tentar colocá-la em palavras
qualquer um se vê aflito por um curioso senso de desvalia - de absoluta
incapacidade, não só de lhe fazer justiça, pois disso perde-se toda
esperança desde o início, mas mesmo de dar alguma idéia de tudo isso
àqueles que por si mesmos não o viram.

Que um homem se imagine, com o sentimento de intensa felicidade e poder


enormemente aumentado já descritos, flutuando em um mar de luz viva,
rodeado por todas as variedades concebíveis de beleza de cor e forma - o
todo mudando com cada onda de pensamento que emite de sua mente, e
sendo em verdade, como logo irá descobrir, somente a expressão de seu
pensamento na matéria do plano e em sua essência elemental. Pois aquela
matéria é da mesmíssima classe que aquela de que o próprio corpo mental
é composto, e portanto quando aquela vibração de partículas do corpo
mental a que chamamos pensamento ocorre, ela imediatamente se difunde
para a matéria mental circundante, e nela suscita vibrações
correspondentes, enquanto que na essência elemental ela se espelha com
absoluta exatidão. Pensamentos concretos naturalmente tomam a forma
dos objetos, enquanto que idéias abstratas usualmente aparecem como
todos os tipos de perfeitas e formosíssimas formas geométricas; mas em
relação a isso deve ser lembrado que muitos pensamentos que para nós cá
embaixo são pouco mais que a mais aérea das abstrações, se tornam fatos
concretos neste plano superior.

Será pois verificado que neste mundo mais alto qualquer um que desejar
devotar-se por algum tempo a um pensar tranqüilo, e abstrair-se do
ambiente, poderá realmente viver em um mundo próprio sem a possibilidade
de interrupção, e com a vantagem adicional de ver todas as suas idéias (e
suas conseqüências, plenamente desenvolvidas) passando num tipo de
panorama perante seus olhos. Se, entretanto, desejar em vez observar o
plano em que se encontra, ser-lhe-á necessário suspender mui
cuidadosamente seu pensamento durante este período, para que suas
criações não possam influenciar a prontamente impressionável matéria ao
seu redor, e destarte alterando todas as condições até onde lhe dizem
respeito.

Este manter a mente em suspenso não deve ser confundido com o


esvaziamento da mente tendo em mira aquilo a que muitas das práticas do
Hatha Yoga se direcionam: neste caso a mente é bloqueada numa absoluta
passividade a fim de que não possa, por qualquer pensamento próprio,
oferecer resistência à entrada de qualquer influência externa que possa
acontecer aproximar-se - uma condição muito próxima da mediunidade;
enquanto que no primeiro caso a mente está tão agudamente alerta e
positiva quanto pode estar, mantendo seus pensamentos por ora em
suspenso meramente para evitar a intrusão de fatores pessoais na
observação que deseja fazer.

Quando o visitante do plano mental consegue pôr-se nesta posição ele


descobre que mesmo já não sendo um centro ele mesmo de radiação de
toda aquela maravilhosa pletora de luz e com, forma e som, que eu tão
inutilmente tentei figurar, ela de todo modo não deixou de existir; ao
contrário, suas harmonias e cintilações estão até mais grandiosas e mais
plenas do que nunca. Especulando por uma explanação deste fenômeno,
ele começa a perceber que toda esta magnificência não é meramente uma
inútil ou fortuita demonstração - alguma espécie de aurora boreal
devachânica; ele descobre que tudo aquilo tem um significado - um
significado que ele mesmo pode entender; e logo capta o fato de que o que
ele está testemunhando com tamanho êxtase de deleite é simplesmente a
gloriosa linguagem cromática dos Devas - a expressão do pensamento ou a
conversação de seres muito superiores a ele na escala evolutiva. Pela
experiência e pela prática ele descobre que também pode usar este novo e
belo modo de expressão, e com esta descoberta propriamente entra na
posse de uma outra grande porção de sua herança neste reino celestial - o
poder de manter diálogo com, e aprender de, seus excelsos habitantes não-
humanos, de quem trataremos mais completamente quando chegarmos a
discorrer sobre esta parte de nosso assunto.

A esta altura já terá se tornado evidente o motivo pelo qual foi impossível
devotar uma seção deste estudo ao cenário do plano mental, do modo como
foi feito no caso do astral; pois de fato o plano mental não tem nenhum
cenário propriamente dito exceto aquele que cada indivíduo escolhe
construir para si mesmo através de seu pensamento - a menos na verdade
que levemos em conta o fato de que o vasto número de entidades que estão
continuamente passando diante dele são elas mesmas em muitos casos
objetos da mais transcendente beleza. Por mais difícil que seja expressar
em palavras as condições desta vida superior talvez fosse uma melhor
descrição dos fatos dizer que qualquer cenário possível existe lá - que não
há nada concebível de formosura na Terra ou no céu ou no mar que não
exista aqui com uma plenitude e intensidade além de todo o poder de
imaginação; mas que além de todo esse esplendor de viva realidade cada
homem vê somente aquilo que é capaz de ver - aquilo para o que seu
desenvolvimento durante as vidas terrestre e astral o capacitou a responder.

As Grande Ondas

Se o visitante desejar levar sua análise do plano ainda além, e descobrir


como seria quando inteiramente imperturbado pelo pensamento ou
conversação de qualquer de seus habitantes, ele pode fazê-lo formando em
volta de si uma poderosa concha através da qual nenhuma destas
influências possa penetrar, e então (é claro que mantendo sua própria
mente perfeitamente tranqüila como antes) examinando as condições que
existem dentro desta concha.

Se ele levar a cabo este experimento com cuidado suficiente, descobrirá


que o mar de luz tornou-se - não estático, pois suas partículas continuam
com suas vibrações intensas e rápidas, mas - como que homogêneo; pois
que aquelas maravilhosas fulgurações de cor e constantes mudanças de
forma já não têm lugar, mas que ele é capaz de perceber agora uma outra e
inteiramente diferente série de pulsações regulares que os outros
fenômenos mais artificiais haviam previamente obscurecido. Estas são
evidentemente universais, e nenhuma concha que o poder humano pudesse
fazer as anularia ou afastaria. Elas não provocam nenhuma alteração de
cor, não assumem nenhuma forma, mas fluem com irresistível regularidade
através de toda a matéria do plano, para dentro ou de novo para fora, como
as exalações e inalações de alguma grande respiração além de nosso
conhecimento.

Há diversas séries delas, claramente discerníveis uma da outra pelo


volume, pelo período de vibração, e pelo tom da harmonia que carregam, e
mais grandiosa do que todas pulsa uma grande onda que parece o
verdadeiro batimento cardíaco do sistema - uma onda que, partindo de
centros desconhecidos em planos ainda mais subidos, derrama sua vida
através de todo nosso mundo, e então remonta em sua maré tremenda
Àquele de quem proveio. Vem numa longa curva ondulante, e o seu som é
como o murmúrio do mar; e nela mesmo e através dela durante todo o
tempo lá ecoa um poderoso e retumbante cântico de triunfo - a verdadeira
música das esferas. O homem que alguma vez tiver ouvido este glorioso
canto da natureza jamais o esquece; mesmo aqui em seu lúgubre plano
físico de ilusão ele o ouve sempre como uma espécie de subtom, mantendo
sempre diante de sua mente a força e a luz e o esplendor da vida real
acima.
Se o visitante for puro de coração e de mente, e tiver chegado a certo grau
de desenvolvimento espiritual, é-lhe possível identificar sua consciência com
o fluxo desta onda estupenda - imergir seu espírito nela, e deixar que o leve
direto à sua fonte. Digo que isso é possível; mas não é prudente - a menos,
de fato, que seu Mestre esteja a seu lado para resgatá-lo no exato momento
do poderoso abraço; doutro modo sua força irresistível o arrastaria para
planos cada vez mais altos, cujas esmagadoras glórias seu Ego ainda não é
capaz de suportar; ele perderia a consciência, sem certeza de quando ou
onde ou como recuperá-la. É verdade que o objetivo último da evolução
humana é atingir a unidade, mas ele deve conquistar esta meta final com
plena e perfeita consciência como um rei vitorioso arrebatando triunfante
sua herança, e não mergulhar na absorção em um estado de nula
inconsciência bem pouco diferente da aniquilação.

Os Mundos Celestes Superior e Inferior

Tudo o que tentamos até agora indicar nesta descrição pode ser tomado
como aplicando-se às subdivisões mais baixas do plano mental; pois este
domínio da natureza, exatamente como o astral, ou o físico, tem suas sete
subdivisões. Destas as quatro inferiores são chamadas nos livros de rûpa
ou planos de forma, e estes constituem, o Mundo Celeste Inferior, no qual o
homem comum passa sua longa vida de bem-aventurança entre uma
encarnação e a próxima. Os outros três planos são denominados arûpa ou
sem forma, e constituem o Mundo Celeste Superior, onde atua o Ego
reencarnante - o verdadeiro domicílio da Alma do homem. Estes nomes
Sânscritos têm sido dados porque nos planos rûpa cada pensamento
assume uma certa forma definida, enquanto que nas subdivisões arûpa ele
se expressa de um modo inteiramente diferente, como a seguir
explicaremos. A distinção entre estas duas grandes divisões do plano - a
rûpa e a arûpa - é profundamente marcada; na verdade, vai tão longe que
requer o uso de diferentes veículos de consciência.

O veículo apropriado ao mundo celeste inferior é o corpo mental, enquanto


aquele do mundo celeste superior é o corpo causal - o veículo do Ego
reencarnante, no qual ele passa de vida para vida durante todo o período
evolucionário. Uma outra enorme distinção é a de que naquelas quatro
subdivisões inferiores algum grau de ilusão ainda é possível - não realmente
para a entidade que permanece acima deles em plena consciência durante
a vida, mas para a pessoa não desenvolvida que passa para lá depois do
que os homens chamam de morte. Os mais elevados pensamentos e
aspirações que ele gerou durante sua vida terrena se agregam então à sua
volta, e criam uma espécie de concha em seu redor - um tipo de mundo
subjetivo só seu; e nele ele vive sua vida celeste, percebendo apenas
debilmente ou nada percebendo das glórias verdadeiras do plano que existe
lá fora, e, na verdade, comumente supondo que o que ele vê é tudo o que
há para ver.

Mas estaríamos laborando em erro considerando esta nuvem de


pensamentos como uma limitação. Sua função é capacitar o homem a
responder a certas vibrações - não isolá-lo dos outros. A verdade é que
estes pensamentos que cercam o homem são os poderes pelos quais ele
usufrui da abundância do mundo celeste. Este próprio plano mental é um
reflexo da Mente Divina - um reservatório de extensão infinita do qual a
pessoa que desfruta do céu é capaz de fazer uso exatamente de acordo
com o poder de seus próprios pensamentos e aspirações gerados durante
as vidas física e astral.

Mas no mundo celeste superior esta limitação já não existe; é verdade que
mesmo aqui há muitos Egos que só leve e sonhadoramente estão cônscios
de seu entorno, mas até onde podem ver, eles vêem verdadeiramente, pois
o pensamento já não assume as mesmas formas limitadas que assumia no
plano abaixo.

A Ação do Pensamento

A precisa condição mental dos habitantes humanos destes vários subplanos


será naturalmente muito mais completamente tratada na sua seção
correspondente; mas uma compreensão da maneira pela qual o
pensamento age nos níveis superior e inferior respectivamente, é muito
necessária para um acurado entendimento destas grandes divisões pois
que talvez seja útil retomar em detalhe alguns dos experimentos feitos por
nossos exploradores na tentativa de lançar luz sobre este assunto.

Num período de investigação anterior se tornou evidente que no plano astral


bem como no mental havia presente uma essência elemental muito distinta
da mera matéria do plano, e que era, se possível, ainda mais
instantaneamente sensível aqui à ação do pensamento do que havia sido
naquele mundo inferior. Mas aqui no mundo celeste tudo era substância-
pensamento, e portanto não só a essência elemental, mas a própria matéria
do plano era diretamente afetada pela ação da mente; daí se tornou
necessário fazer uma tentativa de distinguir estes dois efeitos.

Depois de vários experimentos menos concludentes foi adotado um método


que deu uma idéia bem mais clara dos diferentes resultados produzidos, um
investigador permaneceu na subdivisão mais baixa para emitir as formas-
pensamento, enquanto outros ascenderam ao nível imediatamente superior,
para serem capazes de observar o que estava se passando de cima, e
assim evitando muitas possibilidades de confusão. Nestas circunstâncias foi
tentado o experimento de enviar-se um pensamento afetuoso e auxiliador
para um amigo ausente num país distante.

O resultado foi muito notável: uma espécie de concha vibratória, formada da


matéria do plano, irradiou-se em todas as direções ao redor do operador,
correspondendo exatamente ao círculo que se forma na água parada de
uma poça quando uma pedra é atirada nela, exceto que esta era uma esfera
de vibração se estendendo em muitas dimensões em vez de meramente
sobre uma superfície plana. Estas vibrações, como aquelas no plano físico,
ainda que muito mais gradualmente, perdiam intensidade à medida que se
estendiam para longe de sua fonte, até que a uma enorme distância
pareciam se exaurir, ou pelo menos se tornavam fracas demais para serem
perceptíveis.

Assim cada um no plano mental é um centro de pensamento irradiante,


ainda que todos os raios emitidos se cruzem em todas as direções sem
interferirem um com outro no mais mínimo grau, exatamente como o fazem
aqui embaixo os raios de luz. Esta expansiva esfera de vibrações era
multicolorida e opalescente, mas suas cores também empalideciam com a
distância.

O efeito na essência elemental do plano, entretanto, foi inteiramente


diferente. Neste o pensamento imediatamente chamou à existência uma
forma distinta semelhante à humana, de uma só cor, ainda que exibindo
muitas nuances desta cor. Esta forma relampejou instantaneamente através
do oceano para o amigo a quem o bom voto tinha sido dirigido, e lá tomou
para si essência elemental do plano astral, e assim se tornou um elemental
artificial comum daquele plano, esperando, como explicado no Manual V,
por uma oportunidade de derramar sobre ele sua carga de influência
auxiliadora. Ao assumir aquela forma astral o elemental mental perdeu
muito de seu fulgor, mesmo que sua brilhante cor rosada fosse ainda
nitidamente visível dentro da concha de matéria inferior que construiu,
demostrando que assim como o pensamento original animou a essência
elemental de seu próprio plano, aquele mesmo pensamento, mais sua forma
de elemental mental, funcionou como alma do elemental astral - desse
modo seguindo estritamente o método pelo qual o próprio espírito primordial
se reveste de véus sobre véus em sua descida através dos vários planos e
subplanos de matéria.

Experimentos ulteriores ao longo de linhas similares revelaram o fato de que


a cor do elemental projetado variava de acordo com o caráter do
pensamento. Como foi dito acima, o pensamento de forte afeição produziu
uma criatura de brilhante cor rosada; um intenso desejo de cura, projetado
para um amigo doente, chamou à vida um adorável elemental branco-
prateado; enquanto um concentrado esforço mental para estabillizar e
fortificar a mente de uma pessoa deprimida e desesperada resultou na
produção de um formoso mensageiro de coruscante amarelo-dourado.
Em todos estes casos será notado que, além do efeito de cores e vibrações
irradiantes produzidas na matéria do plano, uma força definida em forma de
um elemental era enviada para a pessoa a quem o pensamento era
direcionado; e isso invariavelmente ocorria, com uma notável exceção. Um
dos operadores, ainda na subdivisão mais baixa do plano, dirigiu um
pensamento de intenso amor e devoção para o Adepto que é seu instrutor
espiritual, e imediatamente foi notado pelos observadores de cima que o
resultado foi de certo modo inverso do que havia acontecido nos casos
anteriores.

Deveria ser pressuposto que um discípulo de um dos grandes Adeptos


esteja sempre conectado com seu Mestre por uma constante corrente de
pensamento e influência, que se expressa no plano mental como um grande
raio ou fluxo de deslumbrante luz de todas as cores - violeta e ouro e azul; e
poderia talvez ter sido esperado que o devotado, amoroso pensamento do
discípulo enviasse uma vibração especial ao longo dessa linha. Em vez
disso, o resultado foi uma súbita intensificação das cores desta corrente de
luz, e um muito nítido efluir de influência espiritual, em direção ao discípulo;
de modo que se tornou evidente que quando um estudante volta seu
pensamento para seu Mestre, o que realmente acontece é a vivificação de
sua conexão com o Mestre, abrindo assim um caminho para um
derramamento adicional de força e ajuda para ele a partir dos planos mais
altos. Pareceria que o Adepto é, como de fato é, tão carregado de
influências que sustentam e fortalecem, que qualquer pensamento que
intensifica a atividade do canal de comunicação com ele não lhe manda
nenhuma corrente, como o faria usualmente, mas simplesmente abre uma
porta mais larga através da qual o grande oceano de seu amor encontra
vazão.

Nos níveis arûpa a diferença de efeitos do pensamento é muito acentuada,


especialmente no que diz respeito à essência elemental. A perturbação
causada na mera matéria do plano é similar, ainda que grandemente
intensificada nesta forma muito mais refinada de matéria; mas na essência
nenhuma forma é jamais criada, e o método de atuação é inteiramente
modificado. Em todas as experiências nos planos inferiores foi descoberto
que o elemental alcançou a pessoa em que pensamos, e esperou uma
oportunidade favorável de descarregar sua energia seja sobre seu corpo
mental, o astral, ou mesmo seu corpo físico; aqui o resultado é uma espécie
de relampejante fulguração da essência a partir do corpo causal do
pensador direto para o objeto de seu pensamento; pois enquanto o
pensamento nas divisões inferiores é sempre dirigido à mera personalidade,
aqui influímos no Ego reencarnante, no próprio homem verdadeiro, e se sua
mensagem faz alguma referência à personalidade só a alcançará a partir de
cima, através da instrumentalidade de seu veículo causal.
Formas-Pensamento

Naturalmente os pensamentos visíveis neste plano não são de modo


nenhum definidamente direcionados para alguma outra pessoa; muitos são
simplesmente jogados a flutuar a esmo, e a diversidade de forma e cores
encontradas entre estes é praticamente infinita, de modo que o seu estudo é
uma ciência em si, e uma ciência fascinante. Qualquer coisa como uma
descrição detalhada mesmo que só das suas classes principais ocuparia
muito mais espaço que o que dispomos; mas uma idéia dos princípios pelas
quais tais classes poderiam ser agrupadas pode ser tirada de um extrato de
um mui esclarecedor trabalho sobre o assunto escrito pela Sra. Besant no
Lucifer (a versão antiga de The Theosiphical Review) de setembro de 1896.
Lá ela enuncia os três grandes princípios subjacentes à produção de formas-
pensamento que são emitidas pela ação da mente - que (a) a qualidade do
pensamento determina sua cor, (b) a natureza do pensamento determina
sua forma, (c) a precisão do pensamento determina a clareza de seu
desenho. Dando exemplos do modo como a cor é influenciada, ela continua:

'Se os corpos astral e mental estão vibrando sob a influência da devoção, a


aura será banhada de azul, mais ou menos intenso, belo e puro de acordo
com a profundidade, elevação, e pureza do sentimento. Numa igreja tais
formas-pensamento podem ser vistas surgindo, mas em sua maioria não
muito definidamente delineadas, apenas massas evolventes de nuvens
azuis. Amiúde a cor é escurecida por mistura de sentimentos egoístas,
quando o azul é mesclado de marrons perdendo assim seu brilho puro. Mas
o pensamento devocional de um coração altruísta é muito adorável na cor,
como o azul profundo de um céu estival. Através de tais nuvens de azul
freqüentemente irrompem estrelas douradas de grande luminosidade,
jorrando para cima como uma chuva de centelhas.

'Raiva dá origem ao vermelho, de todas as tonalidades desde o vermelho-


tijolo até o escarlate brilhante; a raiva furiosa se mostrará como relâmpagos
de opaco vermelho escuro por entre escuras nuvens marrons, enquanto que
a raiva de uma nobre indignação é dum escarlate vívido, de modo nenhum
desgracioso de ver, ainda que provoque um arrepio desagradável.

'A afeição gera nuvens de tons rosa, variando desde o violáceo opaco, onde
o amor é animal em sua natureza o rosa-vermelho é tingido de marrom
quando egoísta, ou de verde opaco quando ciumento, até as mais refinadas
nuances de delicado cor-de-rosa como os primeiros rubores da aurora,
quando o amor se torna purificado de todo elemento egoísta, e flui em
amplos, cada vez mais largos círculos de generosa e impessoal ternura e
compaixão para com todos os necessitados.

'O intelecto produz formas-pensamento amarelas, a razão pura dirigida a


objetivos espirituais surge como um amarelo muito delicado e belo,
enquanto se usado para objetivos mais pessoais ou mesclado com ambição
contém laivos mais profundos de laranja, claro e intenso.' (Lucifer, vol. XIX,
pg. 71)

Deve é claro ser mantido em mente que as formas-pensamento astrais bem


como mentais são descritas na declaração acima, alguns dos sentimentos
mencionados precisando de matéria do plano inferior bem como do superior
para poderem ter expressão. Alguns exemplos são dados das belas formas
de flores e conchas às vezes assumidas pelos nossos mais nobres
pensamentos; e uma referência especial é feita ao caso não incomum em
que o pensamento, tomando forma humana, é passível de ser confundido
com uma aparição:

'Uma forma-pensamento pode assumir a forma de seu emissor; se uma


pessoa quer fortemente estar presente nalgum lugar especial, visitar uma
pessoa particular, e ser vista, tal forma-pensamento pode assumir sua
própria imagem, e um clarividente presente no local desejado veria o que
provavelmente tomaria como o seu amigo em corpo astral. Tal forma-
pensamento pode veicular uma mensagem, se isso formar parte de seu
conteúdo, estabelecendo no corpo astral da pessoa alcançada vibrações
como as suas, e estas passadas adiante pelo corpo astral até o cérebro,
onde seriam traduzidas num pensamento ou frase. Tal forma-pensamento,
novamente, poderia trazer ao seu emissor, pela conexão magnética entre
eles, vibrações impressas sobre si mesma.

A íntegra do artigo de onde estes extratos são retirados deveria ser mui
cuidadosamente estudada por aqueles que desejam captar esta seção
verdadeiramente complexa de nosso assunto, pois, com a ajuda de
ilustrações belamente executadas em cor que o acompanham, possibilita,
àqueles que ainda não são capazes de ver por si mesmos, aproximarem-se
muito mais de uma percepção do que são em verdade as formas-
pensamento do que qualquer coisa anteriormente escrita.

Os Subplanos

Se for perguntada qual é a diferença real entre a matéria dos vários


subplanos do plano mental, não será fácil responder a não ser em termos
muito gerais, pois este desafortunado escriba esgota seus adjetivos nessa
malsucedida tentativa de descrever o plano inferior, e então já não possui
nada para falar dos outros. O que, de fato, pode ser dito, exceto que sempre
que ascendemos o material se torna mais fino, as harmonias mais plenas, a
luz mais viva e transparente? Há mais sobretons no som, mais nuances
delicadas nas cores ao subirmos, mais e mais cores novas aparecem -
matizes inteiramente desconhecidos da visão física; e tem sido poética mas
verdadeiramente dito que a luz do plano inferior é treva no plano acima.
Talvez esta idéia se torne mais simples se em pensamento partirmos do
ápice em vez de do fundo, e tentarmos perceber que naquele subplano mais
alto encontraríamos sua respectiva matéria animada e vivificada por uma
energia que também flui para baixo como a luz vem de cima - de um plano
que jaz além ainda do mental. Então se descermos à segunda subdivisão
veríamos que a matéria de nosso primeiro subplano se há tornado a energia
deste - ou, para falarmos com mais precisão, que a energia original, mais a
vestimenta de matéria do primeiro subplano com a qual se revestiu, ainda é
a energia animadora da matéria deste segundo subplano. Do mesmo modo,
na terceira divisão descobriríamos que a energia original terá se velado
duas vezes na matéria deste terceiro e segundo subplanos pelos quais
passou; assim que na hora em que chegarmos à nossa sétima subdivisão
teríamos nossa energia encerrada ou velada seis vezes, e por isso muito
mais fraca e menos ativa. Este processo é exatamente análogo à velação
do Âtma, ou Espírito primordial, em sua descida como essência monádica a
fim de energizar a matéria dos planos do cosmos, e como isso ocorre
freqüentemente na natureza, poupará ao estudante muito trabalho se ele
tentar se familiarizar com esta idéia (Vide Ancient Wisdom, de Annie Besant,
pg. 54 e notas de rodapé).

Os Registros do Passado

Ao falarmos das características gerais do plano não devemos omitir a


menção ao sempre presente pano de fundo formado pelos registros do
passado - a memória da natureza, a única história do mundo realmente
confiável. Enquanto que o que temos neste plano não seja ainda o registro
absoluto, mas um mero reflexo de algo ainda mais alto, de qualquer maneira
é claro, acurado, e contínuo, diferindo assim das manifestações desconexas
e espasmódicas que são tudo o que resta dele no mundo astral. É, portanto,
somente quando um clarividente possui a visão deste plano mental que
suas imagens do passado podem ser fidedignas; e mesmo então, a menos
que ele tenha o poder de voltar em plena consciência daquele plano ao
físico, temos que admitir a possibilidade de erros ao trazer a lembrança do
que viu.

Mas o estudante que conseguiu desenvolver os poderes latentes em si o


bastante para lhe possibilitarem o uso do sentido pertencente a este plano
mental enquanto ainda em corpo físico, tem diante de si um campo de
pesquisa histórica do mais apaixonante interesse. Não apenas pode revisar
à sua vontade toda a história com que nos familiarizamos, corrigindo à
medida em que a examina os muitos erros e mal-entendidos que têm-se
imiscuído nos relatos deixados para nós; ele pode também percorrer como
queira toda a história do mundo desde seus primórdios, observando o lento
desenvolvimento do intelecto no homem, a descida dos Senhores da
Chama, e o crescimento das poderosas civilizações que eles fundaram.
Tampouco seu estudo está confinado ao progresso da humanidade
exclusivamente; ele tem à sua frente, como num museu, todas as estranhas
formas animais e vegetais que ocuparam a cena nos dias em que o mundo
era jovem; ele pode acompanhar todas as maravilhosas mudanças
geológicas que têm ocorrido, e observar o curso dos grandes cataclismas
que têm alterado incessantemente toda a face da Terra.

Muitas e variadas são as possibilidades abertas pelo acesso a esses


registros - tantas e tão variadas na verdade que mesmo se esta fosse a
única vantagem do plano mental, ainda transcenderia em interesse todos os
mundos inferiores. Mas quando a isso acrescentamos o notável incremento
nas oportunidades para aquisição de conhecimento proporcionadas por sua
nova e expandida faculdade - o privilégio de intercâmbio direto e ilimitado
não só com o grande reino Dévico, mas com os próprios Mestres da
Sabedoria - o descanso e alívio da fatigosa tensão da vida física que é
proporcionado pelo desfrute de sua profunda e imutável felicidade, e acima
de tudo, a enormemente aumentada capacidade do estudante avançado
para o serviço aos seus semelhantes - então começaríamos a ter alguma
tênue concepção do que um discípulo ganha quando conquista o direito de
entrar à vontade e em perfeita consciência na sua herança neste radiante
domínio do mundo celeste.

HABITANTES Em nossa tentativa de descrevermos os habitantes do plano


mental nos será talvez conveniente dividí-los nas mesmas três grandes
classes indicadas no manual sobre o plano astral - os humanos, não-
humanos e artificiais - apesar de que as subdivisões serão naturalmente
menos numerosas neste caso do que naquele, uma vez que os produtos
das más paixões humanas, que abundavam tão largamente lá, não podem
ter lugar aqui.

Humanos

Exatamente como foi o caso quando tratamos do mundo inferior, será


desejável que subdividamos os habitantes humanos do plano mental em
duas classes - os que ainda estão ligados a um corpo físico, e os que não o
estão - os vivos e os mortos, como são usual mas muito erroneamente
chamados. Uma brevíssima experiência nestes planos superiores já é
suficiente para alterar fundamentalmente a concepção do estudante sobre a
mudança que acontece na morte; ele imediatamente percebe, na abertura
de sua consciência mesmo no astral, e ainda mais neste mundo mental, que
a abundância da vida verdadeira é algo que jamais pode ser conhecido aqui
embaixo, e que quando deixamos esta Terra física estamos passando para
dentro daquela verdadeira vida, e não para fora dela. Não temos por
enquanto na língua portuguesa nenhumas palavras convenientes e ao
mesmo tempo exatas para expressar estas condições; talvez chamá-los
respectivamente de encarnados e desencarnados sejam, afinal, os menos
ilusórios dentre vários termos possíveis. Procedamos portanto à
consideração dos habitantes do plano mental que se reúnem sob a
classificação de

Os Encarnados.

Aqueles seres humanos que, enquanto ainda ligados a um corpo físico, são
encontrados se movendo em plena consciência e atividade neste plano, são
invariavelmente Adeptos ou seus discípulos iniciados, pois até que um
estudante tenha sido ensinado por seu Mestre como usar seu corpo mental
ele será incapaz de se mover com liberdade mesmo nos seus níveis
inferiores. Para funcionar conscientemente durante a vida física nos planos
superiores indica um avanço ainda maior, pois significa a unificação do
homem, de modo que aqui embaixo ele já não é uma mera personalidade,
mais ou menos influenciada pela individualidade acima, mas ele mesmo é
aquela individualidade - limitada e confinada por um corpo, certamente, mas
de todo modo possuindo em si o poder e conhecimento de um Ego
altamente evoluído.

Magníficos objetos são estes Adeptos e iniciados à visão que aprendeu a vê-
los - esplêndidos globos de luz e cor, expulsando toda influência má aonde
quer que vão, agindo sobre todos os que se aproximam deles como a luz do
sol age sobre as flores, e difundindo em seu redor um sentimento de paz e
felicidade os quais mesmo aqueles que não os vêem freqüentemente
sentem. É neste mundo celestial que muito do seu mais importante trabalho
é feito - mais especialmente sobre seus níveis mais elevados, onde a
individualidade pode ser diretamente influenciada. É deste plano que eles
derramam as maiores influências espirituais sobre o mundo do pensamento;
de lá também impulsionam grandes e beneficentes movimentos de todos os
tipos. Aqui muito da força espiritual acumulada pelo glorioso auto-sacrifício
dos Nirmânâkayas é distribuída; aqui também é dado ensinamento direto
àqueles discípulos que são suficientemente adiantados para recebê-lo desta
forma, uma vez que pode ser comunicado muito mais rápida e
completamente aqui do que no plano astral. Somando-se a todas essas
atividades eles têm um grande campo de trabalho em conexão àqueles que
chamamos mortos, mas isto será mais adequadamente explanado em uma
seção posterior.

É um prazer notar que uma classe de habitantes que penosamente se


intrometeram em nosso relato sobre o plano astral está quase inteiramente
ausente aqui. Em um mundo cujas características são o altruísmo e a
espiritualidade o mago negro e seus discípulos obviamente não podem ter
nenhum lugar, uma vez que o egoísmo é a essência dos procedimentos das
escolas tenebrosas, e seu estudo das forças ocultas é inteiramente para fins
pessoais. Não só que em muitos deles o intelecto é altamente desenvolvido,
e conseqüentemente a matéria do corpo mental extremamente ativa e
sensível ao longo de certas linhas; mas em todos os casos estas linhas
estão conectadas com desejo pessoal de alguma espécie, e portanto podem
encontrar expressão somente através daquela parte do corpo mental que se
tornou quase inextrincavelmente fundida à matéria astral. Como
conseqüência necessária desta limitação segue-se que suas atividades são
praticamente confinadas aos planos astral e físico. Um homem cujo curso
de vida é mau e egoísta, pode de fato ter períodos de puro pensamento
abstrato durante os quais pode utilizar o corpo mental se tiver aprendido
como fazê-lo, mas no momento em que o elemento pessoal aparece, e é
feito um esforço para produzir algum resultado funesto, o pensamento já
deixa de ser abstrato, e o homem se acha trabalhando em conexão à
familiar matéria astral novamente. Quase se poderia dizer que um mago
negro só poderia agir no plano mental quando esquecer que é um mago
negro.

Mas mesmo enquanto ele o esquece ele poderia ser visto no plano mental
somente aos homens atuando conscientemente neste plano - jamais sob
nenhuma hipótese por aqueles que estão desfrutando o repouso celeste
nesta região após a morte, pois cada um deles está tão inteiramente
encerrado dentro do mundo de seu próprio pensamento que nada fora
daquilo pode afetá-lo, e ele destarte está absolutamente seguro. Desse
modo é justificada a grande e antiga descrição do mundo celeste como o
lugar 'onde os maus cessam de perturbar, e o os fatigados repousam'.

Dormindo ou em transe

Ao pensarmos nos habitantes encarnados do plano mental, naturalmente se


apresenta por si a questão de se ou pessoas comuns durante o sono, ou
pessoas psiquicamente desenvolvidas numa condição de transe, podem
alguma vez penetrar até este plano. Em ambos os casos a resposta deve
ser que a ocorrência é possível, ainda que extremamente rara. Pureza de
vida e de propósito são pré-requisitos absolutos, e mesmo quando o plano
fosse alcançado não haveria nada que se poderia chamar de consciência
real, mas simplesmente uma capacidade para receber certas impressões.

Exemplificando a possibilidade de entrar no plano mental durante o sono,


um incidente pode ser mencionado que ocorreu em conexão com os
experimentos feitos pela Loja Londrina da Sociedade Teosófica em torno da
consciência do sonho, um relato da qual foi dado em meu livreto Dreams.
Pode ser lembrado por aqueles que tiverem lido aquele tratado que uma
imagem-pensamento de uma adorável paisagem tropical foi apresentada às
mentes de várias classes de pessoas adormecidas, no intuito de testar a
extensão do que era lembrado após despertarem. Um caso que não foi
referido no relato previamente publicado, já que não tinha qualquer conexão
com o fenômeno dos sonhos, servirá como útil ilustração aqui.

Foi o de uma pessoa de mente pura e considerável ainda que não treinada
capacidade psíquica; e o efeito da apresentação da imagem-pensamento à
sua mente foi de um caráter algo surpreendente. Tão intenso foi o
sentimento de reverente júbilo, tão elevados e tão espirituais foram os
pensamentos evocados pela contemplação desta cena gloriosa, que a
consciência da pessoa adormecida passou inteiramente para o corpo
mental - ou, para expressar a mesma idéia em outras palavras, ascendeu
ao plano mental. Entretanto, não se deve supor a partir disso que ela se
tornou consciente de seu ambiente ou de suas reais condições; ela estava
simplesmente no estado das pessoas comuns que chegam a este nível
após a morte, flutuando no mar de luz e cor realmente, mas não obstante
inteiramente absorvida em seu próprio pensamento, e inconsciente de todo
o resto - permanecendo em contemplação extática da paisagem e de tudo o
que ela lhe sugeriu - ainda que contemplando, seja bem entendido, com o
mais agudo insight, a mais perfeita apreciação, e com o vigor exaltado de
pensamento peculiar ao plano mental, e fruindo todo o tempo a intensidade
da bem-aventurança que foi tão freqüentemente referida antes. A
adormecida permaneceu naquela condição por diversas horas, ainda que
aparentemente toda desapercebida da passagem do tempo, e enfim
acordou com uma sensação de paz profunda e júbilo interior às quais, uma
vez que não trouxera nenhuma recordação do que ocorrera, foi de todo
incapaz de dar explicação. Não há dúvida, entretanto, que uma experiência
como essa, sendo ou não lembrada no corpo físico, atuaria como nítido
impulso para a evolução espiritual do Ego interessado.

Ainda que na ausência de um número suficiente de experiências se evitaria


falar muito assertivamente, parece quase certo que um resultado como este
recém descrito seria possível apenas no caso de uma pessoa portadora de
algum desenvolvimento psíquico: e a mesma condição é ainda mais
definidamente necessária para que um indivíduo mesmerizado possa tocar
o plano mental em transe. Tão decididamente é este o caso, que
provavelmente nem um dentre mil clarividentes comuns jamais o alcança;
mas nas raras ocasiões quando isso é obtido o clarividente, como
assinalado antes, deve ser não só de um desenvolvimento excepcional, mas
de uma perfeita pureza de vida e propósito; e mesmo quando todas estas
características incomuns estão presentes permanece ainda a dificuldade
que um psíquico destreinado sempre encontra em traduzir com exatidão
uma visão do plano superior para o inferior. Todas estas considerações, é
claro, somente enfatizam aquilo em que com tanta freqüência insistimos
antes - a necessidade do cuidadoso treinamento de todos os psíquicos por
um instrutor qualificado antes que seja possível dar muito peso aos seus
relatos sobre o que vêem.
Os Desencarnados

Antes de considerarmos em detalhe a condição das entidades


desencarnadas nas várias subdivisões do plano mental, devemos ter mui
claramente em nossas mentes a categórica distinção entre os níveis rûpa e
arûpa, aos quais já fizemos menção. No primeiro o homem vive inteiramente
no mundo de seus próprios pensamentos, ainda se identificando
completamente com sua personalidade na vida que acabou de deixar; no
último ele é simplesmente o Ego reencarnante ou Alma, que (se tiver
desenvolvido suficiente consciência naquele nível para saber qualquer coisa
com clareza) compreende, pelo menos em alguma extensão, a evolução na
qual está engajado, e o trabalho que tem de fazer.

Deveria ser lembrado que cada homem passa através de ambos estes
estágios entre a morte e o nascimento, ainda que a maioria não
desenvolvida tenha tão pouca consciência em qualquer um deles que
poderia ser dito com mais verdade que sonham através deles. Não
obstante, seja consciente ou inconscientemente, todo ser humano deve
tocar os níveis mais altos do plano mental antes que a reencarnação possa
ter lugar; e à medida que sua evolução progride seu toque se torna mais e
mais definido e real para ele. Não só é mais consciente lá à medida que
progride, mas o período que passa naquele mundo se torna mais longo;
pois o fato é que sua consciência está lenta mas constantemente se
elevando através dos diferentes planos do sistema.

O homem primitivo, por exemplo, tem comparativamente pouca consciência


em qualquer plano além do físico durante a vida, e do astral inferior após a
morte; e na verdade o mesmo pode ser dito do homem inteiramente não
desenvolvido de nossos dias. Uma pessoa um pouco mais avançada
começa a ter um curto período de vida celeste (nos níveis inferiores, é
claro), mas ainda passa consideravelmente a maior parte de seu tempo
entre encarnações no plano astral. Ao progredir a vida astral se reduz e a
celeste se amplia, até que quando ele se torna uma pessoa intelectual e
espiritualmente orientada ele passa através do plano astral com quase
nenhuma demora, e desfruta de uma longa e feliz estadia nos mais
refinados dos níveis mentais inferiores. Nesta altura, entretanto, a
consciência no verdadeiro Ego em seu nível mais superior está já desperta
em considerável extensão, e assim sua vida consciente no plano mental se
divide em duas partes - a última e mais curta nos subplanos mais elevados
no corpo causal.

O processo descrito previamente então se repete, a vida nos níveis


inferiores gradualmente encurtando, enquanto a vida superior se torna
progressivamente mais longa e plena, até que finalmente chega o tempo em
que a consciência é unificada - quando o os eus superior e inferior se unem
indissoluvelmente, e o homem já não é mais capaz de se enclausurar em
sua nuvem de pensamentos, e tomar o pouco que ele pode ver através dela
pelo todo do grande mundo celeste em seu redor - quando ele percebe as
verdadeiras possibilidades de sua vida, e assim pela primeira vez
verdadeiramente começa a viver. Mas na época em que ele atingir tais
alturas ele já terá entrado na Senda, e tomado seu futuro progresso
definitivamente em suas próprias mãos.

As Qualidades necessárias para a Vida Celeste

As realidades maiores da vida celeste quando comparadas com aquelas da


Terra resplandecem claramente quando consideramos quais condições são
requisitos para a obtenção deste elevado estado de existência. Pois as
verdadeiras qualidades que um homem deve desenvolver durante a vida, se
há de ter qualquer existência no mundo celeste após sua morte, são tão
somente aquelas que todos os melhores e mais nobres de nossa raça têm
concordado em considerar como real e permanentemente desejáveis. A fim
de que uma aspiração ou uma força-pensamento resulte em existência
naquele plano, suas características dominantes devem ser altruístas.

O afeto pela família ou pelos amigos leva muitos homens para o mundo
celeste, e o mesmo o faz a devoção religiosa; já seria um erro supor que
toda afeição ou toda devoção devam assim necessariamente encontrar lá
suas expressões post-mortem, pois de cada uma destas qualidades
obviamente há duas variedades, a egoísta e a altruísta - ainda que poderia
ser razoável argüir que só o segundo tipo em cada caso seja realmente
digno do nome.

Há o amor que se derrama sobre seu objeto, não buscando nada em troca -
nem jamais pensando em si, mas somente no que pode fazer pelo ser
amado; e um tal sentimento gera uma força espiritual que não pode frutificar
a não ser no plano mental. Mas há também uma outra emoção que às
vezes é chamada de amor - um tipo exigente e egoísta de paixão que
deseja principalmente ser amada - que pensa todo o tempo no que recebe
em vez de no que dá, e é muito suscetível de degenerar no horrível vício do
ciúme com (ou mesmo sem) a menor provocação. Tal afeto não tem em si
nenhuma semente para desenvolvimento mental; as forças que põe em
ação nunca sobem acima do plano astral.

O mesmo é verdadeiro para o sentimento de uma certa grande classe de


devotos religiosos, cujo único pensamento é, não a glória da Deidade,
apenas como podem salvar suas próprias almas miseráveis - uma posição
que forçosamente sugere que eles ainda não desenvolveram nada que
mereça o nome de alma.

De outro lado há a devoção religiosa real, que jamais pensa em si, mas
somente em amor e gratidão para com a deidade ou um líder, e está cheia
do ardente desejo de fazer algo por ela ou em seu nome; e tal sentimento
conduz freqüentemente a uma prolongada vida celeste de um tipo
particularmente exaltado.

Este é claro seria o caso qualquer que fosse a deidade ou líder, e


seguidores de Buddha, Krishna, Ormudz, Allah, e Cristo todos igualmente
satisfarão sua necessidade de bem-aventurança celeste - sua duração e
qualidade dependendo da intensidade e pureza dos sentimentos, e não de
seu objeto, ainda que esta última consideração indubitavelmente afete a
possibilidade de receber instrução durante aquela vida superior.

A maioria da devoção humana, todavia, como o amor humano comum, não


é inteiramente pura nem toda altruísta. Aquele amor pode de fato ser vil, no
qual nenhum pensamento ou impulso altruísta tenha entrado; e por outro
lado uma afeição que é principalmente muito pura e nobre pode às vezes
ser empanada por um espasmo de sentimentos ciumentos ou por um
pensamento passageiro no eu. Em ambos os casos, como em todos, a lei
da justiça eterna separa infalivelmente; e assim como o fugaz lampejo de
sentimentos mais nobres no coração menos evoluído seguramente receberá
sua recompensa no mundo celeste, mesmo que não reste nada além na
vida para elevar a alma acima do plano astral, assim o pensamento mais
baixo que empalidece a santa radiância de um amor verdadeiro recolherá
sua força no plano astral, não interferindo em nada com a magnificente vida
celestial que decorre infalivelmente de anos de profunda afeição aqui
embaixo.

Como um Homem chega à Vida Celeste pela Primeira Vez

Veremos, portanto, que nos estágios iniciais de sua evolução muitos dos
Egos atrasados jamais chegam conscientemente ao mundo celeste,
enquanto que um número já maior obtém apenas um comparativamente
leve toque de alguns de seus planos inferiores. Cada alma deve é claro
recolher-se em seu Eu real nos níveis superiores antes da reencarnação;
mas não se segue que naquela condição experimente qualquer coisa que
possamos chamar de consciência. Este assunto será tratado com mais
completude quando viermos a abordar os planos arûpa; parece melhor
iniciarmos com o mais baixo dos planos rûpa, e trabalharmos sempre para
cima, de modo que por ora podemos deixar de lado aquela porção da
humanidade cuja existência consciente após a morte é praticamente
confinada ao plano astral, e prosseguirmos considerando o caso de uma
entidade que recém ascendeu de tal posição - quem pela primeira vez teve
uma tênue e fugaz consciência na subdivisão mais baixa do mundo celeste.

Evidentemente há vários métodos pelos quais este importante passo no


desenvolvimento inicial da alma pode ser induzido a acontecer, mas será
suficiente para nosso propósito atual se tomarmos como ilustração de um
deles uma algo patética historieta retirada da vida real que ocorreu ser
observada por nossos estudantes quando estavam investigando esta
questão. Neste caso o agente das grandes forças evolucionárias foi uma
pobre costureira, vivendo em um dos mais lúgubres e esquálidos dos
nossos terríveis subúrbios Londrinos - um fétido cortiço no East End no qual
a luz e o ar dificilmente podiam circular.

Naturalmente ela não era muito instruída, pois sua vida tinha sido uma longa
rotina do mais árduo trabalho sob condições as menos favoráveis; mas não
obstante ela era uma criatura benevolente e de bom coração, transbordante
de amor e gentileza para todos os que com ela entravam em contato. Seus
aposentos eram tão pobres, talvez, quanto qualquer outro no casarão, mas
pelo menos eram mais limpos e arrumados que os outros. Ela não tinha
nenhum dinheiro para dar quando a doença fazia as necessidades ainda
mais prementes que o usual para algum de seus vizinhos, porém em tais
ocasiões ela estava sempre disponível todas as vezes que podia roubar
alguns poucos momentos de seu trabalho, oferecendo com solícita simpatia
todo o serviço que lhe era possível.

Realmente, ela era mui providencial para as rudes, ignorantes moças


operárias da redondeza, e elas gradualmente passaram a vê-la como uma
espécie de anjo de auxílio e misericórdia, sempre disponível em horas de
aflição ou doença. Muitas vezes, depois de fatigar-se todo o dia sem quase
nenhum momento de folga, ela levantava-se na metade da noite, assumindo
seu turno no cuidado de alguns dos muitos padecentes que sempre se
encontram em vizinhanças tão fatais à saúde e à felicidade como aquelas
de um subúrbio Londrino; e em muitos casos a gratidão e afeto que sua
incansável amabilidade despertou neles foram absolutamente os únicos
sentimentos elevados que haviam tido durante todas suas vidas ásperas e
sórdidas.

As condições de vida naquele cortiço sendo estas, pouco admira que alguns
de seus pacientes morressem, e então se tornou claro que ela tinha feito por
eles muito mais do que sabia; ela tinha lhes dado não só uma gentil
pequena assistência em sua aflição temporal, mas um impulso muito
importante no curso da evolução espiritual. Pois estas eram almas
subdesenvolvidas - entidades de uma classe muito atrasada - que jamais
em nenhum de seus nascimentos haviam posto em ação as forças
espirituais que sozinhas poderiam lhes dar existência consciente no plano
mental; mas agora pela primeira vez não apenas tinha sido posto diante
delas um ideal pelo qual poderiam se esforçar, mas também amor
realmente altruísta tinha sido evocado nelas pela sua atuação, e o simples
fato de terem tido um sentimento tão forte como esse as tinha elevado e
dado-lhes mais individualidade, e assim depois de sua permanência no
plano astral se tivesse encerrado ganhariam sua primeira experiência na
subdivisão mais inferior do mundo celeste. Uma experiência breve,
provavelmente, e de modo algum de um tipo avançado, mas ainda de longe
mais importante do que parece à primeira vista; pois quando uma vez a
grande energia do altruísmo é despertada, a verdadeira frutificação de seus
resultados no mundo celeste lhe dá a tendência de se repetir, e por reduzida
em extensão que possa ser esta primeira efusão, ainda assim cria na Alma
uma pálida cor de uma qualidade que certamente se expressará de novo na
próxima vida.

Tão gentil benevolência de uma pobre costureira deu a diversas almas


menos desenvolvidas sua introdução a uma vida espiritual consciente que
encarnação após encarnação crescerá mais e mais fortemente, e reagirá
mais e mais sobre as vidas terrenas do futuro. Este pequeno incidente
talvez sugira uma explicação para o fato de que em várias religiões tanta
importância seja atrubuída ao elemento pessoal na caridade - a associação
direta entre doador e recebedor.

Sétimo Subplano - O Céu Inferior -

Esta subdivisão mais baixa do mundo celeste, à qual a ação de nossa pobre
costureira alçou os objetos de seu amável cuidado, tem como sua principal
característica a afeição por familiares ou amigos - altruísta, é claro, mas
usualmente algo estreita. Aqui, entretanto, devemos nos precaver contra a
possibilidade de mal-entendido. Quando é dito que a afeição familiar leva
um homem ao sétimo subplano celestial, e a devoção religiosa ao sexto, as
pessoas por vezes naturalmente imaginam que uma pessoa tendo estas
duas características fortemente desenvolvidas em si dividiria este período
no mundo celeste entre estas duas subdivisões, primeiro passando um
longo período de felicidade em meio à sua família, e então ascendendo para
o próximo nível, onde esgotaria as forças espirituais engendradas por suas
aspirações devocionais.

Isso, todavia, não é o que ocorre, pois num caso como o que supomos o
homem despertaria para a consciência na sexta subdivisão, onde se acharia
engajado, junto com aqueles que ele amou tanto, na mais alta forma de
devoção que fosse capaz de realizar. E quando pensamos que isto é
bastante razoável, pois o homem que é capaz de devoção religiosa bem
como de afeição familiar comum está naturalmente apto para ser favorecido
com um mais alto e amplo desenvolvimento da última virtude que alguém
cuja mente é suscetível de influência só numa direção. A mesma regra
funciona em todo o percurso acima; o plano mais elevado sempre inclui as
qualidades do mais inferior bem como aquelas peculiares a si mesmo, e
quando isso ocorre seus habitantes têm essas qualidades em mais
completa medida que as almas num plano mais baixo.
Quando se diz que a afeição familiar é característica do sétimo subplano,
não se deve por isso supor por um momento que aquele amor seja
confinado a este plano, mas antes que o homem que se encontrar aqui
depois da morte é um em cujo caráter esta afeição era da mais alta
qualidade - a única, de fato, que o capacitou para a vida celeste. Mas o
amor de um tipo muito mais nobre e exaltado que tudo que pode ser visto
neste plano pode ser é claro encontrado nos subplanos superiores.

Uma das primeiras entidades encontradas pelos investigadores neste


subplano constitui um exemplo mui típico de seus habitantes. O homem
durante a vida tinha sido um pequeno merceeiro - não uma pessoa de
desenvolvimento intelectual ou algum tipo de sentimento religioso especial,
mas simplesmente o honesto e respeitável pequeno comerciante comum.
Sem dúvida ele tinha ido à igreja regularmente a cada Domingo, porque era
a coisa costumeira e adequada a fazer; mas religião tinha sido para ele uma
espécie de nuvem espessa que ele realmente não entendia, que não tinha
conexão alguma com os negócios da vida cotidiana, e para a resolução de
cujos problemas nunca era levada em conta. Ele não tinha portanto
nenhuma profundidade de devoção que poderia tê-lo levado ao próximo
subplano; mas ele tinha por sua esposa e família uma cálida afeição na qual
havia uma grande elemento de altruísmo. Eles estavam constantemente em
sua mente, e era por eles muito mais que por si mesmo que ele tinha
trabalhado da manhã à noite em seu pequeno estabelecimento; e assim
quando, depois de um período de existência no plano astral, tinha afinal se
desvencilhado do seu corpo de desejo em desintegração, encontrou-se
nesta subdivisão inferior do mundo celeste com todos os seus seres
amados reunidos ao seu redor.

Ele não era um homem intelectual ou mais altamente desenvolvido


espiritualmente do que havia sido na Terra, pois a morte não traz nenhum
desenvolvimento súbito deste tipo; o ambiente em que se achou com sua
família não era de um tipo muito refinado, pois eles apenas representavam
seus ideais mais altos de apreciação não-física durante a vida; mas de
qualquer maneira ele era tão intensamente feliz quanto era capaz de ser, e
desde que estava todo o tempo pensando em sua família antes que em si
mesmo ele estava indubitavelmente desenvolvendo características
altruístas, que se formariam em sua Alma como qualidades permanentes, e
reapareceriam em todas as suas futuras vidas na Terra.

Um outro caso típico foi o de um homem que havia morrido quando sua filha
única ainda era jovem; aqui no mundo celeste ele a tinha sempre consigo e
ela sempre na flor de seus anos, e estava continuamente se ocupando em
acalentar toda a sorte de formosos quadros de seu futuro. Outro ainda foi o
caso de uma menina que estava sempre absorta na contemplação das
múltiplas perfeições de seu pai, e planejando pequenas surpresas e novos
prazeres para ele. Um outro foi uma mulher grega que estava passando um
tempo maravilhosamente feliz com seus três filhos - um deles um garboso
rapaz, que ela se deleitava em imaginar como o vencedor nos Jogos
Olímpicos.

Uma notável característica deste subplano durante os últimos séculos tem


sido o grande número de romanos, cartagineses, e ingleses que lá se
encontram - devido ao fato de que entre os homens destas nações a
principal atividade altruísta encontrava expressão através da afeição
familiar, enquanto comparativamente poucos hindus e Budistas estão aqui,
uma vez que no seu caso um real sentimento religioso usualmente entre
mais imediatamente em seu cotidiano, e conseqüentemente os leva para
um nível mais elevado.

Havia, é óbvio, uma quase infinita variedade entre os casos observados,


seus diferentes graus de progresso sendo distinguíveis por variados graus
de luminosidade, enquanto diferenças de cor indicavam respectivamente as
qualidades que as pessoas em questão haviam desenvolvido. Alguns eram
amantes que tinham morrido no auge de sua afeição, e assim estavam
sempre ocupados com a única pessoa que haviam amado com a inteira
exclusão de todas as outras; outros havia que tinham sido quase selvagens,
um exemplo sendo um malaio, um homem muito subdesenvolvido (num
estágio que pode ser descrito tecnicamente como o de um pitri de terceira
classe inferior) que obteve uma leve experiência da vida celeste em
conexão com uma filha a quem amara.

Em todos estes casos foi o toque da afeição altruísta que lhes deu o seu
céu; na verdade, à parte isso, não havia nada na atividade de suas vidas
pessoais que poderia ter-se expresso naquele plano. Na maior parte dos
exemplos observados neste nível as imagens dos seres amados são muito
longe de ser perfeitas, e conseqüentemente os verdadeiros Egos ou Almas
dos amigos que amaram podem só pobremente se expressar através delas;
porém mesmo a pior das expressões é muito mais plena e mais satisfatória
que jamais o foi na vida física. Na vida terrena vemos nossos amigos tão
parcialmente; conhecemos apenas aquelas partes deles que se afinam
conosco, e os outros lados de seus caracteres são-nos praticamente
inexistentes. Nossa comunhão com eles e nosso conhecimento deles aqui
significa muito para nós, e estão amiúde entre as maiores coisas da vida;
mesmo que na realidade esta comunhão e este conhecimento devam ser
sempre por demais defeituosos, pois mesmo nos raríssimos casos em que
podemos pensar que conhecemos um homem completamente e de todas as
formas, corpo e alma, ainda é somente a parte dele que está manifesta
nesses planos inferiores durante a encarnação o que podemos conhecer, e
há muito mais além no Ego real que não podemos alcançar de modo algum.
De fato, se nos fosse possível, com a visão direta e perfeita do plano
mental, vermos pela primeira vez o todo de nosso amigo quando o
encontrarmos após a morte, a probabilidade é de que fosse assaz
irreconhecível; certamente ele não seria mais o querido que pensamos que
havíamos conhecido antes.

Deve ser entendido que a afeição que sozinha leva alguém para a vida
celeste alheia é uma força poderosa nestes planos mais altos - uma força
que alcança a Alma da pessoa amada, e evoca uma resposta dela.
Naturalmente a vivacidade daquela resposta, a quantidade de vida e
energia nela, dependem do desenvolvimento da Alma do ser amado, mas
não há nenhum caso no qual a resposta não seja tão perfeitamente real
quanto possa ser.

É claro que Alma ou Ego pode ser integralmente alcançado somente neste
seu próprio nível - uma das subdivisão arûpa deste plano mental - mas pelo
menos estamos muito mais perto disso em qualquer estágio do mundo
celeste do que estamos aqui, e portanto sob condições favoráveis
poderíamos conhecer imensamente mais de nosso amigo que jamais seria
possível aqui, enquanto que mesmo sob as condições as mais
desfavoráveis estaremos de qualquer jeito muito mais perto da realidade lá
do que jamais estivemos antes.

Dois fatores devem ser levados em conta em nossa consideração neste


assunto - o grau de desenvolvimento de cada uma das pessoas envolvidas.
Se o homem na vida celeste tem forte afeição e algum desenvolvimento na
espiritualidade ele formará uma clara e quase perfeita imagem-pensamento
de seu amigo assim como o conheceu - uma imagem através da qual
naquele nível a Alma do amigo poderia expressar-se numa extensão bem
considerável. Mas a fim de tirar completa vantagem desta oportunidade é
necessário que aquela mesma Alma estivesse bastante avançada na
evolução.

Vemos, assim, que há duas razões para que a manifestação seja imperfeita.
A imagem feita pelo morto pode ser tão vaga e ineficaz que o amigo,
mesmo que bastante evoluído, pode apenas ser capaz de fazer
pouquíssimo uso dela; e de outro lado, mesmo quando uma boa imagem é
formada, pode não haver desenvolvimento suficiente da parte do amigo
para habilitá-lo a tirar o devido proveito disso.

Mas em qualquer um e em todos os casos a Alma do amigo é alcançada


pelo sentimento de afeto, e qualquer que possa ser seu estágio de
desenvolvimento ela imediatamente responde manifestando-se pela
imagem que foi forjada. A extensão pela qual o homem real pode se
expressar por ela depende dos dois fatores mencionados acima - o tipo de
imagem que é feita em primeiro lugar, e quanta alma há para se expressar
em segundo; mas mesmo a mais tosca imagem que puder ser feita estará
sempre no plano mental, e, portanto, muito mais fácil para o Ego alcançar
do que um corpo físico dois planos inteiros abaixo.

Se o amigo amado está ainda vivo ele obviamente estará inteiramente


inconsciente aqui embaixo de que seu Eu real está realizando esta
manifestação adicional, mas isso de modo algum interfere no fato de que
aquela manifestação é uma mais real e contém uma maior aproximação de
seu Eu verdadeiro do que este eu inferior, que é tudo o que a maioria de
nós pode ver.

Um ponto interessante é que uma vez que uma pessoa pode bem entrar na
vida celestial de diversos de seus amigos falecidos ao mesmo tempo, ele
pode assim estar simultaneamente se manifestando em todas estas várias
formas, bem como, talvez, utilizando um corpo físico aqui embaixo. Esta
concepção, contudo, não apresenta dificuldade nenhuma para quem quer
que entenda a relação dos diferentes planos entre si; é tão fácil para ele
manifestar-se em diversas dessas imagens celestiais de uma só vez, como
o é para nós estarmos simultaneamente cônscios da pressão de diversos
objetos diferentes contra diferentes partes de nosso corpo. A relação de um
plano para com outro é como a de uma dimensão para com outra; nenhum
número de unidades da dimensão inferior pode jamais equivaler a uma só
do superior, e da mesmíssima forma nenhum número destas manifestações
poderia exaurir o poder de resposta do Ego acima. Ao contrário, tais
manifestações lhe propiciam uma apreciável oportunidade adicioanl para
desenvolvimento no plano mental - uma oportunidade que é o resultado
direto e a recompensa sob a operação da lei da justiça divina das ações ou
qualidades que evocaram uma tal efusão de afeto.

Está claro a partir de tudo isso que, em o homem evoluindo, suas


oportunidades em todas as direções se tornam maiores. Não só ele quando
vai avançando fica mais apto para atrair o amor e reverência de muitos, e
assim ter muitas imagens-pensamento fortes à sua disposição no plano
mental; mas ainda seu poder de manifestação através de cada uma delas e
sua receptividade nelas rapidamente crescem com seu progresso.

Isso foi muito bem ilustrado por um caso simples que recentemente atraiu a
atenção de nossos investigadores. Foi o de uma mãe que havia morrido há
talvez vinte anos atrás, deixando para trás dois filhos a quem era
profundamente ligada. Naturalmente eles eram as figuras mais
proeminentes em seu céu, e mui naturalmente, também, ela pensava neles
do modo como os havia deixado, como rapazes de quinze ou dezesseis
anos de idade. O amor que ela assim derramava incessantemente sobre
estas imagens mentais realmente estava atuando como uma força benéfica
descendo sobre os homens já crescidos neste mundo físico, mas isso não
afetava ambos na mesma medida - não que seu amor fosse mais forte por
um deles que pelo outro, mas porque havia uma grande diferença na
vitalidade das próprias imagens. Não uma diferença, bem entendido, que a
mãe pudesse notar; para ela ambos apareciam igualmente junto dela e
igualmente eram tudo o que ela poderia desejar: mas aos olhos dos
investigadores era muito evidente que uma destas imagens era muito
animada de força vital que a outra. Rastreando este interessantíssimo
fenômeno até sua origem, foi descoberto que em um caso o filho havia se
tornado um homem comum de negócios - não especialmente mau de
alguma maneira, mas também não espiritualmente orientado - enquanto o
outro tinha se tornado um homem de altas aspirações altruístas, e de
considerável refinamento e cultura. Sua vida tinha sido tal que desenvolvera
uma proporção muito maior de consciência na Alma que seu irmão, e
conseqüentemente este Eu superior era capaz de vitalizar muito mais
plenamente aquela imagem de sua juventude que sua mãe havia formado
em sua vida celeste. Havia mais alma para animá-la, e assim a imagem era
enérgica e vivaz.

Pesquisa ulterior revelou quantidades de exemplos similares, e foi


claramente visto que quanto mais altamente a Alma era evoluída em
espiritualidade, mais completamente podia se expressar nessas
manifestações que o amor de seus amigos tinha provido para ela. E por tais
expressões mais completas ela também possibilitava derivar mais e mais
benefício da força viva daquele amor que se deramava nela através destas
imagens-pensamento. À medida que a Alma cresce essas imagens se
tornam expressões mais plenas de si, até que quando ela atinge o nível de
um Mestre ela conscientemente as emprega como meios de auxiliar e
instruir seus discípulos.

Só ao longo dessas linhas é possível a comunicação consciente entre


aqueles ainda aprisionados no corpo físico e aqueles que já passaram para
este reino celestial. Como foi dito, uma Alma pode estar brilhando
gloriosamente através de sua imagem na vida celeste de um amigo, e
também nesta manifestação através do corpo físico neste plano aquela
Alma pode estar inteiramente inconsciente de tudo isso, e assim pode supor-
se incapaz de se comunicar com seu amigo falecido. Mas se aquela Alma
tiver evoluído sua consciência até o ponto de unificação, e puder destarte
usar seus plenos poderes enquanto ainda no corpo físico, ela pode então
perceber, mesmo durante esta sombria vida terrena, que ainda permanece
face a face com seu amigo como antigamente - que a morte não afastou o
amigo que ela ama, mas apenas abriu seus olhos para a vida maior e mais
ampla que sempre está à nossa volta.

Em aspecto o amigo se pareceria muito como era na vida terrena, ainda que
um tanto estranhamente glorificado. No corpo mental assim como no corpo
astral há uma reprodução da forma física dentro do ovóide externo cuja
forma é determinada pela do corpo causal, de modo que tem algo da
aparência de uma forma de névoa mais densa rodeada por uma névoa mais
diáfana. Durante toda a vida celeste a personalidade da última vida física é
distintamente preservada, e é só quando a consciência é finalmente
recolhida para dentro do corpo causal que este senso de personalidade
imerge na individualidade, e o homem pela primeira vez desde que desceu
à encarnação se percebe como o verdadeiro e comparativamente
perdurável Ego.

As pessoas por vezes perguntam onde neste plano mental existe alguma
consciência de tempo - alguma alteração de dia e noite, de dormir e
despertar. O único despertar do mundo celeste é o lento alvorecer de sua
maravilhosa bem-aventurança no sentido mental à medida que o homem
entra em sua vida naquele plano, e o único adormecer é o igualmente
gradual mergulho em uma feliz inconsciência quando o dilatado período
daquela vida chega a um fim. Foi-nos uma vez descrito no início como uma
espécie de prolongamento de todas as horas mais felizes da vida do homem
magnificadas centenas de vezes em bem-aventurança; e mesmo que esta
definição deixe muito a desejar (como de fato o devem todas as definições
do plano físico), ainda chega muito mais perto da verdade do que esta idéia
de dia e noite. Existe, realmente, o que parece uma infinita variedade na
felicidade do mundo celeste; mas as alterações de sono e vigília não fazem
parte deste plano.

Na separação final do corpo mental do astral um período de nula


inconsciência normalmente sobrevém - variando em extensão dentro de
limites muito amplos - análogo àquele que usualmente se segue à morte
física. O despertar disso para a ativa consciência mental muito se
assemelha ao que ocorre no acordar após uma noite de sono. Exatamente
como no primeiro despertar na manhã passamos por um período de
repouso intensamente deleitoso durante o qual somos conscientes de um
senso de satisfação, onde a mente está ainda inativa e o corpo sob
relutante controle, assim a entidade que acorda no mundo celeste primeiro
passa por um período mais ou menos prolongado de intensa e
gradualmente crescente felicidade antes que sua atividade plena de
consciência naquele plano seja atingida. Quando primeiro este senso de
prodigioso júbilo desce sobre ele preenche o inteiro campo de sua
consciência, mas gradualmente no despertar ele se descobre rodeado por
um mundo povoado por seus próprios ideais, e apresentando as
características apropriadas ao subplano ao qual se recolheu.

Sexto Subplano - O Segundo Céu -

Podemos dizer que a característica dominante desta subdivisão seja a


devoção religiosa antropomórfica. A distinção entre tal devoção e o
sentimento religioso que acha sua expressão no segundo subplano do astral
reside no fato de que a primeira é puramente altruísta (sendo o homem que
a sente totalmente desinteressado quanto ao resultado que sua devoção
possa trazer a si mesmo), enquanto a outra é sempre despertada pela
esperança e desejo de ganhar alguma vantagem através dela; de modo que
no segundo subplano astral tais sentimentos religiosos onde são ativos
invariavelmente contêm um elemento de barganha egoísta, enquanto que a
devoção que soergue o homem até o sexto subplano do mundo celeste é
inteiramente livre de qualquer destas manchas.

Por outro lado, esta fase da devoção, que consiste essencialmente na


adoração perpétua de uma deidade pessoal, deve ser cuidadosamente
distinguida daquelas mais altas formas que acham sua expressão na
realização de algum trabalho definido para o bem da deidade. Uns poucos
exemplos dos casos observados neste subplano talvez evidenciem estas
distinções mais claramente do que qualquer mera descrição possa fazer.

Um número muito mais vasto de entidades cujas atividades mentais


frutificam neste nível é tirado das religiões orientais; mas somente são
incluídos aqueles que têm as características de uma devoção pura mas
comparativamente irracional e pouco inteligente. Adoradores de Vishnu,
seja em seu avatâr de Krishna seja de outra forma, bem como alguns
poucos seguidores de Shiva, se encontram aqui, cada um encapsulado da
concha auto-criada de seus próprios pensamentos, sozinhos com seu
próprio deus, e esquecidos do resto da humanidade, exceto até onde suas
afeições possam associar a ele em sua adoração aqueles que ele amou na
Terra. Um Vaishnavita, por exemplo, foi visto inteiramente absorvido na
adoração extática da mesmíssima imagem de Vishnu à qual havia feito
oferendas durante a vida.

Alguns dos exemplos mais característicos deste plano são encontrados


entre as mulheres, que de fato formam uma grande maioria de seus
habitantes. Dentre outras havia uma mulher Hinduísta que havia glorificado
seu marido como a um ser divino, e também imaginava o Menino Krishna
brincando com seus próprios filhos, mas enquanto estes eram
completamente humanos e reais, o Menino Krishna não era nada mais que
a semelhança de uma imagem de madeira azul que ela vivificara. Krishna
também aparecia em seu céu sob uma outra forma - a de um afeminado
jovem tocando flauta; mas ela não ficava de modo algum confusa ou
perturbada por essa dupla manifestação. Uma outra mulher, que era
cultuadora de Shiva, tinha confundido o deus com seu marido, olhando para
este último como uma manifestação do primeiro, de modo que um parecia
estar constantemente se metamorfoseando no outro. Alguns Budistas
também são encontrados nesta subdivisão, mas aparentemente só aqueles
menos instruídos que consideram o Buddha mais um objeto de adoração do
que um grande Instrutor.

A religião Cristã também contribui com muitos dos habitantes deste plano. A
devoção não intelectual que é exemplificada de um lado pelo iletrado
camponês Católico Romano, e de outro pelo devotado e sincero 'soldado'
do Exército da Salvação, parece produzir resultados muito similares aos já
descritos, pois estas pessoas também estão envolvidas na contemplação de
suas idéias de Cristo ou sua Mãe respectivamente. Por exemplo, um
camponês irlandês foi visto absorvido na mais profunda adoração da Virgem
Maria, a quem ele imaginava como estando sobre a lua à maneira da
'Assunção' de Ticiano, mas de mãos postas e lhe falando. Um monge
medieval foi encontrado na contemplação extática do Cristo crucificado, e a
intensidade de seu anelante amor e piedade era tal que ao ver o sangue
pingando das chagas da figura de seu Cristo os estigmas se reproduziam
em seu próprio corpo mental. Um outro homem parecia ter esquecido a
triste história da crucificação, e pensava em seu Cristo somente glorificado
em seu trono, com o mar de cristal diante dele, e em toda a volta uma vasta
miríade de adoradores, entre os quais ele próprio estava com sua esposa e
família. Sua afeição por estes parentes era muito profunda, embora seus
pensamentos estivessem mais ocupados na adoração do Cristo, ainda que
sua concepção de sua deidade fosse tão material que ele a havia imaginado
como se em constante e caleidoscópica mudança para cá e para lá entre a
forma de um homem e a do cordeiro desfraldando a flâmula que ele
freqüentemente via representada no vitral da igreja.

Caso mais interessante foi o de uma freira espanhola que tinha morrido
perto dos dezenove ou vinte anos. Em seu céu ela se reportara à época da
vida de Cristo sobre a Terra, e se imaginara acompanhando-o na cadeia de
eventos recontada nos evangelhos, e depois de sua crucificação tomando
conta de sua Mãe a Virgem Maria. Naturalmente, talvez, suas imagens do
cenário e costumes da Palestina eram inteiramente inexatos, pois o
Salvador e seus discípulos usavam os trajes de camponeses espanhóis,
enquanto as colinas ao redor de Jerusalém eram grandes montanhas
cobertas de videiras, e as oliveiras estavam cobertas de cinzento musgo
espanhol. Ela se imaginava depois martirizada pela sua fé, e ascendendo
ao céu, mas somente para já viver de novo e de novo esta vida na qual se
deleitava tanto.

Um pequeno exemplo original e formoso da vida celeste de uma criança


pode concluir nossa lista de exemplos deste subplano. Ela tinha falecido à
idade de sete anos, e estava ocupada de representar no mundo celeste as
histórias religiosas que sua babá irlandesa lhe havia contado aqui embaixo;
e mais do que todas ela amava imaginar-se brincando com o Menino Jesus,
e ajudando-o a fazer aqueles pardais de barro que na fábula o poder do
Cristo Menino trazia à vida e fazia voar.

Está visto que a cega devoção irracional da qual estivemos falando não
eleva nunca seus praticantes a nenhumas grandes alturas espirituais; mas
deve ser lembrado que em todos os casos eles eram inteiramente felizes e
satisfeitos ao máximo, pois o que recebem é sempre o mais alto que são
capazes de apreciar. Tampouco isso fica sem um efeito muito positivo em
suas futuras carreiras; pois mesmo que nenhuma porção de mera devoção
como esta jamais desenvolva o intelecto, produz outrossim uma aumentada
capacidade para uma forma mais elevada de devoção, e em grande parte
dos casos conduz também à pureza de vida. Uma pessoa, portanto, que
vive tal vida e desfruta de um céu tal como os que estivemos descrevendo,
mesmo que não seja apto para efetuar rápido progresso na senda do
desenvolvimento espiritual, pelo menos é preservada de muitos perigos,
pois é muito improvável que em seu próximo nascimento venha a cair em
algum dos pecados mais grosseiros, ou se desvie de suas aspirações
devocionais para uma mera vida mundana de avareza, ambição, ou
dissipação. De qualquer forma, uma análise deste subplano enfatiza
nitidamente a necessidade de seguirmos o conselho de São Pedro: 'Some à
sua fé a virtude, e à virtude, conhecimento.'

Uma vez que tais estranhos resultados parecem derivar de formas cruas de
fé, procuramos com interesse ver que efeito é produzido pelo ainda mais cru
materialismo que não há muito era tão dolorosamente comum na Europa.
Madame Blavatsky assinalou em A Chave para a Teosofia que em alguns
casos um materialista não tinha nenhuma vida consciente no mundo
celeste, pois durante sua vida na Terra não acreditara nesta condição post-
mortem. Parece provável, contudo, que nossa grande fundadora estava
empregando a palavra materialista em um sentido muito mais estrito que
aquele em que geralmente é usado, já que no mesmo volume ela também
assinala que para eles nenhuma vida consciente após a morte era de todo
possível, visto que é questão de conhecimento comum entre aqueles que
noturnamente trabalham no plano astral que muitos dos que são chamados
usualmente de materialistas são encontráveis lá, e certamente não estão
inconscientes.

Por exemplo, um proeminente materialista conhecido intimamente por um


de nossos membros foi encontrado não há muito por seu amigo no subplano
mais elevado do astral, onde se havia rodeado com seus livros, e estava
continuando seus estudos quase como poderia ter feito na Terra. Sendo
questionado por seu amigo ele prontamente admitiu que as teorias que ele
havia sustentado enquanto sobre a Terra estavam refutadas pela irresistível
lógica dos fatos; mas suas próprias tendências agnósticas ainda eram fortes
o suficiente para deixá-lo incapaz de aceitar o que seu amigo lhe falara
sobre a existência do ainda mais elevado plano mental. Pois que havia
certamente muito no caráter deste homem que poderia ter sua plena fruição
somente no plano mental, e uma vez que sua descrença total na vida após
a morte não havia impedido suas experiências astrais, não parece haver
razão de supormos que isso possa refrear a devida frutificação de suas
forças mais elevadas posteriormente no mundo celeste.
Com certeza ele terá perdido muito por sua descrença. Sem dúvida, tivesse
sido ele capaz de entender a beleza do ideal religioso, teria acionado em si
uma poderosa energia de devoção, o efeito da qual ele estaria colhendo
agora. Tudo isso, que poderia ter sido seu, estava faltando. Mas sua
profunda afeição familiar altruísta, seu sério e incansável esforço filantrópico
- estas também foram grandes efusões de energia, que devem produzir seu
resultado, e só o podem produzir no plano mental. A ausência de um tipo de
força não pode evitar a ação das outras.

Um exemplo ainda mais recentemente observado foi o de um materialista


que ao despertar no plano astral depois da morte supôs-se ainda vivo, e
somente experimentando algum sonho desagradável. Afortunadamente
para ele havia no grupo dos capazes de atuar no plano astral um filho de um
velho amigo seu, que havia sido incumbido de o procurar e tentar prestar-
lhe alguma assistência. Muito naturalmente, ele a princípio tomou o jovem
como sendo meramente uma figura em seu sonho; mas depois de receber
uma mensagem de seu velho amigo referindo-se a assuntos que haviam
ocorrido antes do nascimento do mensageiro, ele convenceu-se da
realidade daquele plano onde se encontrava, e tornou-se extremamente
ávido de adquirir toda a informação possível a respeito. A instrução que lhe
é dada sob estas condições terá sem dúvida um efeito muito grande sobre
ele, e modificará largamente não apenas a vida celeste que tem à frente
mas também sua próxima encarnação na Terra.

O que nos foi evidenciado por estes dois e por muitos outros exemplos não
precisa afinal nos surpreender, pois é só o que poderíamos esperar de
nossa experiência no plano físico. Constantemente vemos aqui embaixo
que a natureza não faz concessões à nossa ignorância de suas leis; se, sob
uma impressão de que o fogo não queima, um homem colocar sua mão
dentro da chama, ele rapidamente se convence de seu erro. Da mesma
maneira a descrença de um homem numa existência futura não afeta os
fatos da natureza; e em alguns casos pelo menos ele simplesmente
descobre depois da morte que estava enganado.

O tipo de materialismo referido por Madame Blavatsky nas citações


mencionadas acima era portanto provavelmente muito mais grosseiro e
mais agressivo do que o agnosticismo comum - algo que tornaria
excessivamente improvável que um homem que o sustentasse tivesse
quaisquer qualidades necessitando uma vida no plano mental onde frutificar.

Quinto Subplano - O Terceiro Céu -

A característica principal desta subdivisão pode ser definida como devoção


se expressando em trabalho ativo. O Cristão neste plano, por exemplo, em
vez de meramente adorar seu Salvador, pensaria em si mesmo indo pelo
mundo para trabalhar por ele. É especialmente o plano da realização de
grandes esquemas e projetos irrealizados na Terra - de grandes
organizações inspiradas pela devoção religiosa, e usualmente tendo como
objetivo algum propósito filantrópico. Deve ser mantido em mente, contudo,
que sempre ao subirmos maiores complexidade e variedade são
introduzidas, de modo que ainda que possamos ser capazes de dar uma
característica definida como prevalecendo no plano, estaremos ainda mais e
mais sujeitos a encontrar variações e exceções que não tão prontamente se
encaixam sob a classificação genérica.

Um caso típico, ainda que algo acima da média, foi o de um homem que foi
encontrado desenvolvendo um grande esquema de melhoramento das
condições das classes mais baixas. Ele próprio sendo um homem
profundamente religioso, havia sentido que o primeiro passo necessário em
tratando dos pobres era melhorar suas condições materiais; e o plano que
ele estava agora desenvolvendo em sua vida celeste com triunfante
sucesso e amorosa atenção a cada detalhe era um que havia muitas vezes
cruzado sua mente enquanto na Terra, mesmo que ele tivesse sido
completamente incapaz de dar aqui qualquer passo para sua realização.

Sua idéia era de que, se possuísse enorme riqueza, compraria e reuniria em


suas mãos num conglomerado todos os comércios menores - onde talvez
somente três ou quatro grandes empresas estivessem já envolvidas; e ele
pensava que fazendo isso poderia fazer enormes economias eliminando a
publicidade competitiva e outras dispendiosas formas de rivalidade
mercantil, e assim sendo capaz, enquanto supria o público de mercadorias a
preço atual, de pagar melhores salários aos seus trabalhadores. Era parte
de seu projeto comprar um pedaço de terra e construir nele residências para
seus operários, cada uma rodeada de seu pequeno jardim; e após certo
número de anos em serviço, cada trabalhador receberia uma parte nos
lucros do negócio que seria suficiente para sustentá-lo em sua velhice. Pela
implantação deste sistema nosso filantropo esperava demonstrar ao mundo
que havia um lado eminentemente prático no Cristianismo, e também
conquistar as almas de seus homens para sua própria fé por virtude da
gratidão pelos benefícios materiais que haviam recebido.

Um caso não dessemelhante foi o de um príncipe indiano cujo ideal na


Terra havia sido o divino rei-herói Rama, sobre cujo exemplo ele tinha
tentado modelar sua vida e métodos de governo. Naturalmente aqui
embaixo toda sorte de acidentes adversos havia ocorrido, e muitos dos seus
esquemas haviam conseqüentemente falhado, mas na vida celeste tudo
transcorria bem, e o melhor resultado possível acompanhava cada um de
seus esforços bem-intencionados - Rama é claro pessoalmente
aconselhando e dirigindo seu trabalho, e recebendo perpétua adoração de
todos os seus devotados súditos.
Um exemplo curioso e mesmo tocante de trabalho religioso pessoal foi o de
uma mulher que havia sido freira, pertencendo não a uma ordem
contemplativa, mas a uma ativa. Ela evidentemente havia baseado sua vida
sobre o texto 'O que quer que tenhais feito a cada um destes meus irmãos,
o tereis feito para mim', e agora no mundo celeste ela ainda estava
desenvolvendo até a máxima extensão as injunções de seu Senhor, e
estava constantemente ocupada em curar os doentes, alimentar os
famintos, vestir e ajudar os pobres - a peculiaridade do caso é que cada um
que ela servia imediatamente mudava sua aparência na do Cristo, a quem
ela então adorava com fervorosa devoção.

Um caso instrutivo foi o de duas irmãs, ambas intensamente religiosas; uma


delas havia sido inválida, e a outra passara uma longa vida assistindo-a. Na
Terra elas haviam muitas vezes discutido e planejado sobre qual trabalho
religioso e filantrópico elas fariam se ambas fossem capazes, e agora cada
uma delas é a figura proeminente no céu da outra, a aleijada estando boa e
forte, enquanto cada uma pensava na outra auxiliando-a a levar a cabo os
desejos irrealizados de sua vida terrena. Este foi um belíssimo exemplo da
calma continuidade de vida no caso de pessoas de aspirações altruístas;
pois a única diferença que a morte acarretou foi eliminar a doença e o
sofrimento, e tornar fácil o trabalho que tinha sido antes impossível.

Neste plano também o tipo mais elevado de atividade missionária sincera e


devota encontra expressão. É claro que o fanático ignorante comum jamais
alcança este nível, mas uns poucos dos casos mais nobres, como o de
Livingstone, poderia ser encontrado aqui engajado na original ocupação de
converter multidões de povos à religião particular que eles defendiam. Um
dos mais notáveis destes casos que veio à análise foi o de um Maometano,
que se imaginava trabalhando zelosissimamente pela conversão do mundo,
e seu governo de acordo com os princípios mais ortodoxos da fé do Islam.

Parece que sob certas condições a capacidade artística também pode trazer
seus praticantes a este subplano. Mas aqui deve ser feita uma cuidadosa
distinção. O artista ou músico cujo único objetivo é o egoísta, por fama
pessoal, ou que habitualmente se permite ser afetado por sentimentos de
ciúme profissional, naturalmente não gera forças nenhumas que o tragam
ao plano mental. De outro lado, os maiores tipos de arte cujos discípulos
consideram-na potentes poderes a eles confiados para a elevação espiritual
de seus semelhantes, se expressarão em regiões ainda mais altas que esta.
Mas entre estes dois extremos os devotos da arte que seguem-na por amor
a ela mesma ou a consideram uma oferenda à sua deidade, jamais
pensando no seu efeito sobre seus semelhantes, em alguns casos podem
ter seu céu apropriado neste subplano.

Como exemplo disto pode ser citado um músico de temperamento muito


religioso que considerava todo o seu trabalho de amor simplesmente como
uma oferta ao Cristo, e não sabia nada dos magníficos aranjos de sons e
cores que suas composições inspiradas estavam produzindo na matéria do
plano mental. Tampouco todo o seu entusiasmo foi desperdiçado ou
infrutífero, pois sem seu conhecimento estava trazendo alegria e auxílio a
muitos, e seus resultados certamente seriam de lhe dar maior devoção e
maiores capacidades musicais em sua próxima vida; mas sem a aspiração
ainda mais ampla de auxiliar a humanidade este tipo de vida celeste poderia
se repetir quase indefinidamente. Na verdade, passando em revista os três
planos que acabamos de considerar, podemos perceber que são em todos
os casos relativos à frutificação da devoção a personalidades - seja à família
e amigos ou a uma deidade pessoal - antes que a devoção mais abrangente
à humanidade por seu próprio bem, que encontra sua expressão no próximo
subplano.

Quarto Subplano - O Quarto Céu -

Tão variadas são as atividades deste, o mais alto dos planos rûpa, que é
difícil agrupá-las sob uma única característica. Talvez elas possam ser
melhor arranjadas em quatro divisões principais - busca altruísta por
conhecimento espiritual, alto pensamento filosófico ou científico, habilidade
artística ou literária exercida com propósitos altruístas, e serviço por amor
ao serviço. A definição exata de cada uma destas classes será mais
prontamente compreendida quando alguns exemplos de cada forem dados.

Naturalmente é daquelas religiões onde a necessidade de conhecimento


espiritual é reconhecida que a maioria da população deste subplano é
retirada. Será lembrado que no sexto subplano encontramos muitos
Budistas cuja religião tinha principalmente assumido a forma de devoção ao
seu grande líder como um pessoa; aqui, ao contrário, temos estes
seguidores mais inteligentes cuja suprema aspiração foi sentar a seus pés e
aprender - os que o viram como um instrutor mais do que uma criatura a ser
adorada.

Agora em sua vida celeste este desejo supremo era atendido; eles se
achavam veramente aprendendo do Buddha, e a imagem que haviam feito
dele não era uma forma vazia, mas com toda certeza através dela brilhava a
maravilhosa sabedoria, poder, e amor do mais poderoso dos instrutores da
Terra. Estão portanto adquirindo conhecimento autêntico e concepções
mais amplas; e o efeito sobre eles em sua próxima encarnação não pode
ser senão do mais acentuado caráter. Talvez não venham a lembrar de
nenhum fato individual que possam ter aprendido (ainda que quando tal fato
seja apresentado às suas mentes numa vida posterior eles o acolherão
avidamente e reconhecerão sua verdade de modo intuitivo), mas o resultado
do ensino será construir no Ego uma poderosa tendência de formar mais
amplas e filosóficas visões em todos esses assuntos.
Veremos num átimo o quão definida e inconfundivelmente tal vida celeste
acelera a evolução do Ego; e uma vez mais nossa atenção é chamada para
as enormes vantagens recebidas por aqueles que aceitaram a orientação de
instrutores verdadeiros, viventes e poderosos.

Uma forma menos desenvolvida deste tipo de instrução é encontrada nos


casos nos quais algum realmente grande e espiritual escritor tenha se
tornado para um estudante uma personalidade viva, assumindo o aspecto
de um amigo, formando parte da vida mental do estudante - uma figura ideal
em suas meditações. Tal pessoa pode entrar na vida celeste de seu
discípulo e pela virtude de sua própria Alma altamente evoluída pode
vivificar a imagem mental de si mesmo, e sob estas circunstâncias
afortunadas iluminar adicionalmente os ensinos de seus próprios livros,
revelando os significados mais ocultos.

Muitos dos seguidores Hinduístas da senda da sabedoria acham seu céu


neste plano - isto é, se seus instrutores eram de fato homens que possuíam
algum conhecimento real. Uns poucos dentre os mais avançados Sûfis ou
Parses também estão aqui, e achamos ainda alguns dos antigos Gnósticos
cujo desenvolvimento espiritual era tal que lhes proporcionou uma
prolongada estadia nesta região celestial. Mas exceto por este
comparativamente pequeno número de Sûfis e Gnósticos, nem o Islamismo
nem o Cristianismo parecem elevar seus seguidores até este nível, ainda
que alguns que nominalmente pertençam a estas religiões possam ser
levados a este subplano pela presença em seus caracteres de qualidades
que não dependem dos ensinamentos peculiares às suas religiões.

Nesta região encontramos também sérios e devotados estudantes do


Ocultismo que ainda não eram avançados o suficiente para obter o direito e
o poder de renunciar à sua vida celeste pelo bem do mundo. Entre estes
estava um que em vida tinha sido pessoalmente conhecido de alguns dos
investigadores - um monge Budista que havia sido um diligente estudante
de Teosofia, e tinha longamente acalentado a esperança de um dia ter o
privilégio de receber instruções diretamente de seus instrutores Adeptos.
Nesta sua vida celeste o Buddha era a figura dominante, enquanto os dois
Mestres que têm estado mais intimamente associados com a Sociedade
Teosófica apareciam também como seus oficiais, expondo e ilustrando seus
preceitos. Todas as três imagens estavam realmente plenas do poder e
sabedoria dos grandes seres que representavam, e o monge estava
portanto definidamente recebendo verdadeiro ensino sobre assuntos
ocultos, cujo efeito quase certamente seria o de levá-lo de fato para a
Senda da Iniciação em seu próximo nascimento.

Um outro exemplo de nossas fileiras que foi encontrado neste nível ilustra o
terrível efeito de abrigar suspeitas infundadas e não caridosas. Foi o caso
de uma devotada e dedicada estudante que perto do fim da vida havia
infelizmente decaído para uma atitude de muito indigna e injustificável
desconfiança sobre as motivações de sua velha amiga e instrutora Madame
Blavatsky; e foi triste perceber como este sentimento havia fechado em
considerável extensão a influência e ensino superiores que ela poderia ter
desfrutado em sua vida celeste. Não foi que a influência e o ensino lhes
fossem de algum modo negados, pois isso jamais pode ocorrer; mas que
sua própria atitude mental a tornou em alguma extensão não receptiva a
eles. Ela estava é claro totalmente desapercebida disso, e parecia-lhe estar
desfrutando da mais completa e perfeita comunhão com os Mestres, ainda
que fosse óbvio aos investigadores que se não fosse por aquela infeliz auto-
limitação ele teria derivado muito maior vantagem de sua estada neste nível.
Uma pletora quase infinita de amor e força e conhecimento jazia lá ao seu
alcance, mas sua própria ingratidão havia tristemente lhe amputado seu
poder de aceitá-la.

Seja entendido que uma vez que há outros Mestres de Sabedoria além
daqueles ligados ao nosso próprio movimento, e outras escolas de
ocultismo trabalhando ao longo das mesmas linhas gerais a que
pertencemos, estudantes associados a elas também freqüentemente são
encontrados neste subplano.

Passando agora para a próxima classe, a do alto pensamento filosófico e


científico, encontramos aqui muitos daqueles mais nobres e altruístas
pensadores que procuram visão e conhecimento somente com o intuito de
iluminar e ajudar os seus semelhantes. Não estamos incluindo como
estudantes de filosofia aqueles homens, seja no Oriente ou no Ocidente,
que gastam seu tempo na mera controvérsia verbal e disputa - pois esta é
uma forma de discussão que tem raízes no egoísmo e preconceito, e
portanto jamais pode ajudar para um real entendimento dos fatos do
universo: pois naturalmente uma tola superficialidade como esta não produz
nenhum resultado que possa frutificar no plano mental.

Como um exemplo de um verdadeiro estudante observado neste subplano


podemos mencionar um dos últimos seguidores do sistema neo-platônico,
cujo nome foi felizmente preservado para nós nos registros remanescentes
daquele período. Ele havia se esforçado durante toda a vida terrena para
realmente dominar os ensinamentos daquela escola, e agora sua vida
celeste era ocupada em desvendar seus mistérios e tentar entender suas
aplicações sobre a vida e desenvolvimento humanos.

Um outro caso foi o de um astrônomo, que pareceu ter começado sua vida
como ortodoxo, mas tinha gradualmente sob influência de seus estudos se
expandido até o Panteísmo; em sua vida celeste ele estava ainda
continuando seus estudos com uma mente cheia de reverência, e estava
indubitavelmente obtendo conhecimento real daquelas grandes ordens dos
Devas, através dos quais neste plano o majestoso movimento cíclico das
poderosas influências estelares parecia se expressar em incessantes
fulgurações de onipenetrante luz viva. Ele estava perdido na contemplação
de um vasto panorama de nebulosas rodopiantes e sistemas e mundos em
lenta formação, e parecia estar enredado numa abstrusa idéia de qual seria
a conformação do universo, que ele imaginava como um vasto animal. Seus
pensamentos o cercavam como formas elementares do feitio de estrelas, e
uma fonte de especial júbilo para ele consistia em ouvir o augusto ritmo da
música que emanava como poderosos corais dos orbes semoventes.

O terceiro tipo de atividade neste plano é o do esforço literário e artístico do


tipo mais elevado, que é inspirado principalmente pelo desejo de elevar e
espiritualizar a raça. Aqui encontramos todos os nossos maiores músicos;
neste subplano Mozart, Beethoven, Bach, Wagner e outros estão ainda
inundando o mundo celeste com harmonias muito mais gloriosas do que
mesmo as mais sublimes que foram capazes de produzir quando na Terra.
Parecia como se uma grande torrente de divina música se derramasse
neles de regiões superiores, e era, realmente, especializada por eles e
tornada sua, para ser irradiada sobre todo o plano em uma vasta maré de
melodia que aumentava a felicidade de tudo em torno. Aqueles que estão
atuando em plena consciência no plano mental ouvirão claramente e
integralmente apreciarão esta magnificente efusão, mas mesmo as
entidades desencarnadas deste nível, cada qual encapsulada em sua
própria nuvem-pensamento, são também profundamente afetadas pela
elevadora e enobrecedora influência desta música ressonante.

Também o pintor e escultor, se tiverem seguido suas respectivas artes


sempre com uma alta, altruísta aspiração, estão aqui constantemente
fazendo e disseminando todos os tipos de adoráveis formas para o deleite e
encorajamento de seus semelhantes - as formas sendo simplesmente
elementais artificiais criadas por seu pensamento. E não só podem estas
formosas concepções proporcionar o mais fundo prazer aos que vivem
inteiramente no plano mental; elas podem ainda em muitos casos ser
captadas pelas mentes de artistas ainda encarnados - podem agir como
inspiração para eles, e assim ser reproduzidas cá embaixo para a elevação
e enobrecimento daquela porção da humanidade que está lutando em meio
à agitação da vida física.

Uma figura tocante e bela vista neste plano foi a de um jovem que havia
sido corista, e morrido com a idade de quatorze anos. Toda sua alma estava
cheia de música e de juvenil devoção à sua arte, profundamente colorida
pelo pensamento de que por ela ele estava expressando os anelos
religiosos da multidão de enchia uma vasta catedral, e ao mesmo tempo
estava derramando neles celestial encorajamento e inspiração. Ele tinha
aprendido pouco, exceto o suficiente para este grande e único dom para o
canto, mas o havia usado dignamente, tentando ser a voz do povo para o
céu e do céu para o povo, e sempre desejando aprender mais música e
executá-la mais nobremente por amor da Igreja. E assim em sua vida
celeste seu desejo estava dando fruto, e sobre ele se inclinava a
angulosíssima figura de uma Santa Cecília medieval, formada por seu
amoroso pensamento a partir de uma imagem dela existente num vitral
manchado. Mas mesmo que a aparência externa fosse uma assim pouco
artística representação de uma duvidosa lenda eclesiástica, a realidade que
jazia por trás era viva e gloriosa; pois a forma-pensamento infantil estava
vivificada por um dos poderosos arcanjos da celestial hierarquia canora, e
através dela ensinava ao corista um gênero de música mais sublime do que
a Terra jamais conheceu.

Aqui ainda estava um dos fracassos terrenos - pois a tragédia da vida


terrena deixa estranhas marcas algumas vezes até mesmo nos domínios
celestes. No mundo onde todos os pensamentos dos seres amados sorriem
ao homem como amigos, ele estava pensando e escrevendo em solitude.
Na Terra ele tinha se empenhado em escrever um grande livro, e por amor
disso havia recusado usar seus dotes literários para meramente sustentar-
se com trabalho mercenário; mas ninguém leria seu livro, e ele andou pelas
ruas desesperado, até que a tristeza e a privação fecharam seus olhos para
a Terra. Ele tinha sido solitário toda a vida - sem amigos na juventude e
afastado dos laços familiares, e em sua maturidade foi capaz de trabalhar
somente a seu próprio modo, rejeitando mãos que o teriam conduzido a
uma perspectiva das possibilidades da vida maior do que o paraíso terrestre
que ele anelou construir para todos.

Agora, tendo trabalhado e escrito, mesmo não havendo ninguém lá a quem


tenha amado como pessoa ou auxiliares ideais que poderiam fazer parte de
sua vida mental, ele viu se desenrolando à sua frente a Utopia que havia
sonhado, pela qual tinha tentado viver, e as vastas multidões impessoais
que ele havia desejado servir; e o júbilo pelo júbilo deles desceu sobre ele e
fez de sua solidão um céu. Quando renascer sobre a Terra ele seguramente
retornará com o poder de realizar bem como de planejar, e esta visão
celestial tomará parcialmente corpo em vidas futuras mais felizes.

Muitos foram encontrados neste plano que durante sua permanência na


Terra haviam-se devotado a ajudar os homens porque haviam sentido o
laço da fraternidade - que prestaram serviço por amor ao serviço antes que
por desejarem agradar qualquer deidade particular. Eles estavam engajados
em desenvolver com pleno conhecimento e tranqüila sabedoria vastos
esquemas de beneficência, magníficos planos de melhoramento do mundo,
e ao mesmo tempo estavam amadurecendo poderes com os quais os
implementariam posteriormente aqui no plano inferior da vida física.

A Realidade da Vida Celeste


Críticos que têm apreendido muito imperfeitamente o ensino Teosófico
sobre o tema do além, algumas vezes têm argumentado que a vida da
pessoa comum no mundo celeste inferior não passa de um sonho e uma
ilusão - que quando a pessoa se imagina feliz entre os seus familiares e
amigos, ou executando seus planos com tanta abundância de alegria e
sucesso, seria na verdade vítima de uma cruel delusão: e isso é às vezes
contrastado desfavoravelmente com a chamada 'objetividade sólida' do céu
prometido pela ortodoxia. A resposta para tal objeção é dupla: primeiro, que
quando estamos estudando os problemas da vida futura não estamos
interessados em saber qual das duas hipóteses colocadas diante de nós
seria a mais agradável (isso, no final das contas, sendo uma questão de
opinião), mas antes qual das duas é a verídica; e segundo, que quando
pesquisamos mais profundamente a realidade dos fatos do caso vemos que
os que sustentam a teoria da ilusão estão considerando a matéria de um
ponto de vista assaz equivocado, e entenderam muito mal os fatos.

Quanto ao primeiro ponto, o verdadeiro estado das coisas é facilmente


averiguável por aqueles que desenvolveram o poder de passar
conscientemente para o plano mental durante a vida; e quando assim
investigado é descoberto estar em perfeita concordância com o relato a nós
fornecido pelos Mestres da Sabedoria através de nossa grande fundadora e
instrutora Madame Blavatsky. Isso imediatamente resolve a teoria da
'objetividade sólida' mencionada acima, e transfere o ônus da prova para os
ombros de nossos amigos ortodoxos. Quanto ao segundo ponto, se a
controvérsia for sobre se a verdade em sua plenitude nos níveis inferiores
do mundo celeste ainda não é conhecida pelo homem, e que
conseqüentemente lá ainda existe ilusão, devemos admitir com franqueza
que assim é. Mas isso não é o que usualmente querem dizer os que trazem
esta objeção à baila; eles estão geralmente oprimidos por um sentimento de
que a vida ceelste será mais ilusória e inútil que a física - uma idéia que não
poderia estar mais inteiramente oposta aos fatos.

É alegado que naquele plano construímos nosso próprio ambiente, e por


esta razão vemos apenas uma parte muito pequena do plano? Certamente
aqui em baixo também o mundo ao qual uma pessoa é sensível jamais é o
todo do mundo externo, mas tão somente o quanto seus sentidos, seu
intelecto, sua educação, o capacitam a apreender. É óbvio que durante a
vida terrena a concepção da pessoa comum sobre tudo ao redor é
realmente por demais equivocada - vazia, imperfeita, inacurada em uma
dúzia de maneiras; pois o que ela sabe das grandes forças - etérica, astral,
mental - que estão além de tudo o que vê, e de fato constituem de longe a
parte mais importante de tudo? O que ela sabe, como regra, mesmo sobre
os mais recônditos fatos físicos que a rodeiam e confrontam a cada passo
que dá? A verdade é que aqui, como em sua vida celeste, vive em um
mundo que em larguíssima parte é de sua própria criação. Ela não o
percebe, seja aqui ou lá, mas isso ocorre em função de sua própria
ignorância - porque ela não conhece nada melhor.

É dito que no mundo celeste um homem toma seus pensamentos por coisas
reais? Pois está absolutamente certo; eles são coisas reais, e nele, no plano-
pensamento, nada além de pensamento pode ser real. Lá reconhecemos
este grande fato - aqui não; em qual plano, então, a ilusão é maior? Aqueles
seus pensamentos são mesmo realidades, e são capazes de produzir os
mais extraordinários resultados sobre o homem vivente - resultados que
jamais podem ser nada além de benéficos, porque naquele alto plano não
pode haver nada exceto pensamentos amorosos. Assim se vê que a teoria
de que a vida celeste é uma ilusão é puramente o resultado de uma noção
errônea, e demonstra imperfeita familiaridade com suas condições e
possibilidades; a verdade é que quanto mais alto subimos - mais perto
chegamos da realidade única.

Talvez auxilie o iniciante compreender quão real e quão inteiramente natural


é a porção superior da vida humana se considerá-la simplesmente como o
resultado da porção anterior passada nos dois planos inferiores. Todos nós
bem sabemos que nossos mais altos ideais jamais se realizam, que nossas
mais elevadas aspirações jamais dão frutos plenos aqui embaixo. De modo
que poderia parecer que assim alguns esforços foram vãos, alguma força foi
desperdiçada. Mas sabemos que não pode ser assim, pois a lei da
conservação da energia trabalha tão bem nos planos superiores quanto nos
inferiores. Muita daquela energia espiritual superior que o homem mobiliza
reage sobre ele durante sua vida na Terra, pois até que seus princípios
superiores não se libertem do cascão da carne, são incapazes de responder
àquelas vibrações muitíssimo mais finas e sutis. Mas na vida celeste pela
primeira vez todo este impedimento é removido, e a energia acumulada
imediatamente se libera na reação inevitável que a lei da justiça eterna
requer. Como Browning grandiosamente o descreveu -

'Lá nenhum bem jamais é perdido! O que já foi, será como outrora; Nulo é o
mal, o mal só é nada, é o silêncio que implica o som; O que era bem será
repetido, o que era mal, em bem torna agora; Sobre a Terra as partes dos
arcos: No paraíso, um círculo bom.

'O que esperamos ou pretendemos Ou sonhamos de bom haverá; Não na


aparência, mas em verdade: Toda beleza, o bem, a potência, Cuja harmonia
no ontem perdemos, Para o cantor tudo viverá Quando afirmar-se na
eternidade De momentânea idéia a essência.

'A altitude alta em excesso, o heroísmo aqui demasiado, Toda a paixão que
asas criou para no aéreo espaço perder-se, Música são, mandadas a Deus
Pelo poeta e o enamorado; Uma só vez que Ele a ouça, e basta; Nós a
ouviremos eternamente.'

Um outro ponto que merece lembrança é o de que este sistema sobre o


qual a natureza organizou a vida após a morte é o único imaginável que
poderia atender ao seu objetivo de fazer cada um feliz na mais plena
extensão de sua capacidade para a felicidade. Se a alegria celeste fosse de
um só tipo particular, como é na teoria ortodoxa, sempre haveriam alguns
que estariam insatisfeitos, alguns que seriam incapazes de participar nela,
seja por falta de gosto naquela direção particular, seja por carência da
educação necessária - para não falarmos do outro fato óbvio, de que se
essa situação fosse eterna, a mais grosseira injustiça seria perpetrada ao
conceder-se praticamente a mesma recompensa a todos os que entram,
não importando quais pudessem ser seus respectivos méritos.

Novamente, que outro arranjo no que tange aos parentes e amigos poderia
ser igualmente satisfatório? Se os falecidos fossem capazes de acompanhar
a sorte oscilante de seus amigos na Terra, a felicidade lhes seria
impossível; se, sem saberem o que lhes estava sucedendo, tivessem que
esperar até a morte daqueles amigos antes de encontrá-los, seria um
doloroso período de espera, freqüentemente se estendendo por muitos
anos, enquanto em muitos casos o amigo chegaria tão mudado que já não
lhe seria simpático.

No sistema tão sabiamente disposto para nós pela natureza cada uma
destas dificuldades é contornada; um homem decide por si mesmo a
duração e o caráter de sua vida celeste pelas causas que ele mesmo gerou
durante sua vida terrestre; daí que ele não pode ter senão a porção exata
do que lhe cabe, e precisamente a qualidade de alegria que melhor é
adequada às suas idiossincrasias. Aqueles a quem ama tem sempre
consigo, e sempre em sua melhor e mais nobre condição; enquanto
nenhuma sombra de discórdia ou mudança pode jamais aparecer entre
eles, uma vez que recebe deles exatamente o que deseja. Em verdade, o
arranjo realmente disposto é infinitamente superior a qualquer coisa que a
imaginação do homem tem sido capaz de nos oferecer neste ponto; como
de fato poderíamos ter esperado, apesar de todas as especulações do
homem sobre o que é melhor; mas a verdade é a idéia de Deus.

A Renúncia ao Céu

Tem sido entendido há tempo pelos estudantes do ocultismo que entre as


possibilidades de mais rápido progresso que surgem para o homem à
medida que avança está a 'renúncia à recompensa do Devachan' como tem
sido chamada - isto é, o abrir mão da vida de bem-aventurança no mundo
celeste entre duas encarnações a fim de voltar mais rapidamente para
executar trabalho no plano físico. A frase não é muito boa, pois estaríamos
muito mais aptos a chegar a um entendimento correto da vida celeste se a
olhássemos como um necessário resultado da vida terrestre, mais do que
como sua recompensa. No curso de sua existência física um homem põe
em movimento por seus mais altos pensamentos e aspirações o que
poderia ser descrito como certa quantidade de força espiritual, que reagirá
sobre ele quando chegar no plano mental. Se houver apenas pouca desta
força, ela comparativamente cedo se esgotará, e a vida celeste será curta;
se, ao contrário, uma grande quantidade tivar sido gerada, um espaço de
tempo correspondente será necessário para sua frutificação plena, e o céu
será enormemente prolongado.

À medida que um homem desenvolve-se em espiritualidade, portanto, suas


vidas no mundo celeste se tornam mais longas, mas não devemos supor
que seu progresso seja por isso atrasado ou suas oportunidades de
utilidade diminuídas. Para todas as pessoas exceto as muito evoluídas a
vida celeste é absolutamente necessária, sendo em suas condições apenas
que suas aspirações podem ser desenvolvidas em faculdades, suas
experiências em sabedoria; e o progresso que é feito assim pela Alma é
muitíssimo maior do que seria possível se por algum milagre ela fosse
capaz de permanecer em encarnação fisica durante todo o período. Se
fosse de outro modo, obviamente toda a lei da natureza de anularia a si
mesma, pois quanto mais perto chegasse à consecução de seu grande
objetivo, mais determinados e formidáveis seriam os seus esforços de
derrotar a si mesma - dificilmente uma visão razoável a ter de uma lei que
sabemos ser uma expressão da mais exaltada sabedoria!

A possibilidade de renúncia à vida celeste não está de modo algum ao


alcance de todo mundo. A Grande Lei não permite a nenhum homem
renunciar cegamente ao que ignora, nem desviar-se do curso comum da
evolução a menos e até que esteja certa de que tal desvio seja para seu
benefício maior.

A regra geral é que ninguém está em posição de renunciar à bem-


aventurança da vida celeste até que a tenha experimentado durante a vida
terrena - até que esteja suficientemente desenvolvido para ser capaz de
alçar sua consciência àquele plano, e trazer de volta consigo uma memória
clara e completa daquela glória que tão de longe transcende a concepção
terrestre.

Uma pequena reflexão tornará evidente a razão e a justiça disso. Poderia


ser dito que desde que é o progresso da Alma o que realmente está em
questão, seria suficiente para ela entender em seu próprio plano a
conveniência de fazer o sacrifício da bem-aventurança celestial, e então
compelir seu eu inferior a agir em concordância com sua decisão. Ainda
dificilmente seria uma estrita justiça, pois o desfrute da bem-aventurança
celeste nos níveis rûpa, mesmo pertencendo ao Ego, pertence a ele apenas
somente em manifesto através de sua personalidade; é a vida daquela
personalidade, com todo o seu ambiente pessoal familiar, que é levada para
o céu inferior. Assim que antes que a renúncia de tudo isso possa ter lugar,
aquela personalidade deve perceber claramente o que é aquilo a que ela
está renunciando; a mente inferior deve estar de acordo com a superior
neste assunto.

Agora, tal percepção obviamente envolve a posse durante a vida terrena de


uma consciência no plano mental equivalente àquela que a pessoa em
questão teria após a morte. Mas deve ser bem lembrado que a evolução da
consciência ocorre realmente de baixo para cima, e que a
comparativamente não evoluída maioria da humanidade está efetivamente
cônscia até agora só no seu corpo físico. Seus corpos astrais ainda são na
maior parte ainda informes e desorganizados - pontes de comunicação sim
entre o Ego e sua vestimenta física, e mesmo veículos para a recepção de
sensações, mas em nenhum sentido ainda instrumentos na mão do homem
verdadeiro ou expressões adequadas de seus futuros poderes naquele
plano.

Nas raças mais evoluídas da humanidade encontramos o corpo astral muito


mais desenvolvido, e a consciência nele em muitos casos potencialmente
quase completa, ainda que mesmo então na maioria dos casos o homem
esteja totalmente auto-centrado - cônscio principalmente de seus próprios
pensamentos, e muito pouco de seu real entorno. Para avançar ainda mais,
alguns poucos que têm empreendido o estudo do ocultismo têm sido
regularmente despertos naquele plano, e assim iniciado o uso pleno de suas
faculdades astrais, e estão de muitas maneiras derivando disso doravante
grandes benefícios.

Entretanto, não se segue que tais homens devam logo, ou mesmo durante
um longo período, lembrar-se no plano físico das atividades e experiências
de sua vida astral. Como regra geral eles o fazem de modo parcial e
intermitente, mas há casos que por várias razões quase nada que poderia
deixar lembrança daquela experiência mais alta encontra meios de chegar
ao cérebro físico.

Qualquer tipo de consciência definida no plano mental, é claro, indicaria um


avanço ainda ulterior, e no caso de um homem que estivesse se
desenvolvendo de modo bastante normal e regular esperaríamos encontrar
tal consciência despertando apenas quando a conexão entre o astral e o
físico estivesse já bastante estabilizada. Mas nesta condição unilateral e
artificiosa que chamamos de civilização moderna, as pessoas nem sempre
se desenvolvem muito regular e normalmente, daí que encontramos casos
em que grande porção de consciência no plano mental já foi adquirida e
devidamente conectada à vida astral, e mesmo que nenhuma percepção de
toda esta existência mais elevada jamais alcance o cérebro físico.

Tais casos são muito raros, mas certamente existem, e neles vemos
imediatamente a possibilidade de uma exceção à nossa regra. Uma
personalidade deste tipo poderia estar suficientemente evoluída para provar
da indescritível beatitude do céu e portanto adquirir o direito de renunciar a
ele, enquanto não fosse capaz de trazer a memória disso mais para baixo
do que na sua vida astral. Mas supondo a hipótese de que a vida astral
fosse de plena e perfeita consciência para a personalidade, tal memória
seria amplamente suficientemente para preencher os requisitos da justiça,
mesmo que nenhuma sombra disso tudo jamais chegasse à consciência
física desperta. O grande ponto a ser mantido em mente é que se é a
personalidade quem deve renunciar, também é a personalidade que deve
experimentar, e deve trazer a lembrança para algum plano onde funcione
normalmente e em plena consciência; mas este plano não precisa
necessariamente ser o físico se estas condições forem preenchidas no
astral. Um caso assim seria pouco provável de ocorrer exceto entre os que
já são pelo menos discípulos probacionários de um dos Mestres de
Sabedoria.

O homem que deseje realizar esta grande façanha deve portanto trabalhar
com a mais intensa aplicação para fazer-se um instrumento digno nas mãos
daqueles que auxiliam o mundo - deve arrojar-se com o mais devotado
fervor ao trabalho pelo bem espiritual dos outros, sem presumir-se arrogante
que já merece tão alta honra, mas antes esperando com humildade que
talvez em uma ou duas vidas de estrênuo esforço seu Mestre possa dizer-
lhe que é chegado o tempo em que também para ele esta pode ser uma
possibilidade.

O Mundo Celeste Superior

Nós agora deixamos os quatro níveis inferiores ou rûpa do plano mental,


nos quais o homem atua em sua personalidade temporária, e passamos a
considerar os três níveis superiores ou arûpa, sua morada verdadeira e
relativamente perene. Aqui, até onde ele pode ver, vê claramente, pois
subiu para acima das ilusões da personalidade e do meio refratante do eu
inferior, e por mais que sua consciência possa ser confusa,
sonhadoramente desatenta e pouco desperta, sua visão pelo menos é
verdadeira, mesmo que limitada. As condições de consciência são tão
diversas de tudo o que nos é familiar aqui embaixo que todos os termos
conhecidos da psicologia são inúteis e ilusórios. Este tem sido chamado o
domínio do numenal em contraste com o do fenomenal, ou do sem forma
em contraposição ao formado; mais ainda é um mundo de manifestação,
por mais real que seja quando comparado às irrealidades dos estados
inferiores, e ainda tem formas, mesmo que mais refinadas em seus
materiais e mais sutis em suas essências.
Depois do período do que usualmente denominamos vida celeste, há uma
outra fase de existência para a Alma antes que renasça na Terra, e mesmo
que no caso da maioria das pessoas este seja uma estágio
comparativamente breve, não devemos ignorá-lo se desejamos ter uma
concepção completa da vida supra-física do homem.

Estamos perpetuamente entendendo mal a vida do homem porque temos o


hábito de ter uma visão parcial dela, que desconsidera inteiramente sua real
natureza e objetivo. Geralmente a olhamos, de fato, do ponto de vista do
corpo físico, e jamais do ponto de vista da Alma; e portanto apreendemos
toda a coisa completamente fora de proporção. Cada movimento do Ego em
direção a estes planos inferiores e de volta são em verdade um vasto
caminho circular; tomamos um diminuto fragmento do arco inferior deste
círculo e o consideramos uma linha reta, dando mui indevida importância ao
seu início e fim, enquanto o verdadeiro ponto crucial do círculo naturalmente
de todo nos escapa.

Pense no assunto por um momento como ele deve parecer ao homem real
em seu próprio plano, assim que ele começa a tornar-se claramente cônscio
lá. Obedecendo ao desejo por manifestação que encontra em si, que é
impresso nele pela lei de evolução que é a vontade do Logos, ele imita a
ação daquele Logos se manifestando em planos inferiores.

No decurso deste processo ele se reveste de matéria dos vários planos


pelos quais passa - mental, astral, e então físico, todo o tempo
pressionando firmemente para fora. Durante a parte inicial daquele pequeno
fragmento de existência no plano físico que chamamos de sua vida, a força
para fora é ainda grande, mas por volta da metade do ciclo, nos casos
comuns, aquela força começa a se esgotar, e o grande caminho de retorno
começa.

Não que ali haja alguma mudança súbita ou violenta, pois isso não é um
ângulo, mas ainda parte da curva do mesmo círculo - correspondendo
exatamente ao momento do afélio no percurso de um planeta em torno de
sua órbita. Este é o verdadeiro ponto de retorno daquele pequeno ciclo de
evolução, ainda que em nosso caso usualmente não o seja demarcado de
alguma maneira. No antigo sistema de vida indiano ele era assinalado como
sendo o fim do período grihastha ou período de chefe de família da
existência do homem.

Deste ponto em diante não haveria nada além de um constante refluxo para
o interior de toda a força do homem, e sua atenção deveria ser mais e mais
desligada das coisas meramente mundanas, e concentrar-se nas dos
planos superiores - daí vemos de imediato o quão excessivamente mal-
adaptadas ao progresso real são as modernas condições da vida européia.

O ponto no qual o homem abandona seu corpo físico não é especialmente


importante neste arco evolutivo - de modo nenhum tão importante como a
próxima mudança, que poderíamos chamar de sua morte no plano astral e
seu nascimento no mundo celeste, ainda, embora seja realmente só a
transferência de consciência da matéria astral para a matéria mental no
decorrer do mesmo constante recolher-se do qual já falamos.

O resultado final da vida é conhecido somente quando neste processo de


recolhimento a consciência é uma vez mais centrada no Ego em seu
domicílio no mundo celeste superior; então é percebido quais novas
qualidades ele adquiriu no curso daquele particular pequeno ciclo de sua
evolução. Neste momento ainda um vislumbre da vida como um todo é
obtido; a Alma tem por um instante um lampejo de consciência mais clara,
no qual vê os resultados da vida recém completada, e alguma coisa do que
sucederá disso no seu próximo nascimento.

Este vislumbre dificilmente pode ser dito como envolvendo um


conhecimento da natureza da próxima encarnação, exceto no sentido mais
vago e geral; sem dúvida o objetivo principal da vida seguinte será
percebido, mas a visão seria especialmente valiosa para a Alma como uma
lição sobre o resultado kármico de sua atuação no passado. Isso lhe oferece
uma oportunidade, da qual ela tirará maior ou menor proveito de acordo
com o estágio de desenvolvimento que já tiver alcançado.

No início ela faz pouco uso disso, pois não está senão vagamente
consciente e muito pobremente preparada para apreender os fatos e suas
variadas inter-relações; mas gradualmente seu poder de apreciar o que vê
aumenta, e mais tarde chega a habilidade de incluir a lembrança dos
lampejos finais de vidas anteriores, e compará-los, e assim estimar o
progresso que ela está fazendo ao longo da estrada que tem de percorrer.

Terceiro Subplano - O Quinto Céu -

Este, o mais baixo dos subplanos arûpa, é também de longe a mais


populosa de todas as regiões com que nos familiarizamos, pois aqui estão
presentes quase todos os sessenta bilhões de Almas que nos dizem
estando engajadas na presente evolução humana - todas, de fato, exceto o
comparativamente pequeno número das que são capazes de atuar no
segundo e primeiro subplanos. Cada alma é representada por uma forma
ovóide - de início uma simples película, incolor e quase invisível, da mais
tênue consistência; mas, com a evolução do Ego, este corpo começa a
mostrar uma tremeluzente iridescência como uma bolha de sabão, as cores
a brincar em sua superfície como os matizes cambiantes produzidos pela
luz do sol nos borrifos de uma cachoeira.

Compostas de matéria inconcebivelmente fina, delicada e etérea,


intensamente viva e pulsando com fogo vivente, ao adiantar sua evolução
ela se torna um radiante globo de cores flamejantes, suas altas vibrações
emitindo fulgurações de tons mutáveis sobre sua superfície - tons dos quais
a Terra nada sabe - brilhantes, suaves e luminosos além do poder de
descrição da linguagem. Tome as cores de um pôr-de-sol no Egito e
adicione a elas a maravilhosa suavidade de um céu inglês ao entardecer -
transporte-as tão acima de si mesmas em luz e transparência e esplendor
como estão acima das cores produzidas por uma paleta de tintas infantis - e
mesmo aí ninguém que não tenha visto pode imaginar a beleza desses
orbes radiosos que resplendem no campo visual do clarividente quando se
alça ao nível deste mundo superno.

Todos os corpos causais estão cheios de fogo vivo descido de um plano


superior, ao qual cada globo parece estar conectado por um palpitante fio
de intensa luz, trazendo vividamente à memória as palavras das Estâncias
de Dzyan, 'a Centelha pende da Chama pelo finíssimo fio de Fohat'; e à
medida que a Alma cresce e é capaz de receber mais e mais do inexaurível
oceano do Espírito Divino que se infunde pelo fio como num canal, este se
expande e dá mais larga passagem à corrente, até que no próximo
subplano poderia ser figurado como uma adutora interligando Terra e céu, e
mais alto ainda como sendo um grande globo através do qual jorra a fonte
viva, até que o corpo causal parece fundir-se dentro da luz efluente. Uma
vez mais a Estância nos diz: 'O fio entre o Vigilante e sua sombra se torna
mais forte e radiante a cada mudança. A luz da manhã se tornou a glória
meridiana. Esta é tua presente ronda, disse a Chama à Centelha. Tu és eu
mesma, minha imagem e minha sombra. Eu ocultei-me em ti, e tu és meu
veículo até o dia "Sêde-conosco", quando tu voltarás a ser Eu mesma e
outras, tu mesma e Eu.'

As Almas que estão ligadas a um corpo físico são distinguíveis dos que
desfrutam o estado desencarnado pela diferença nos tipos de vibração
disseminados pela superfície dos globos, e é destarte fácil neste plano
reconhecer num relance qual indivíduo está ou não em encarnação no
momento. A imensa maioria, seja dentro ou fora de um corpo, estão apenas
oniricamente semi-conscientes, embora poucas estejam ainda agora na
condição de meras películas incolores; as que estão plenamente despertas
são notáveis e brilhantes exceções, ficando entre as multidões menos
radiosas como estrelas de primeira magnitude, e entre estas e as menos
desenvolvidas estão escalonadas todas as variedades de tamanho e beleza
de cores - cada uma assim evidenciando o exato estágio evolutivo a que
chegou.

A maioria ainda não está suficientemente definida, mesmo com a


consciência que possuem, para entender o propósito das leis da evolução
na qual estão engajadas; elas buscam a encarnação em obediência ao
impulso da Vontade Cósmica, e também por Tanhâ, a sede cega por vida
manifesta - um desejo de encontrar alguma região na qual possam sentir e
estar conscientes da vida. Pois em seus estágios iniciais estas Almas não
desenvolvidas não podem sentir as vibrações intensamente aceleradas e
penetrantes da matéria altamente refinada de seu plano; as vibrações fortes
e grosseiras mas comparativamente mais lentas da matéria mais densa do
plano físico são as únicas capazes de evocar qualquer resposta delas. De
modo que é somente sobre o plano físico que elas sentem-se inteiramente
vivas, e isso explica seu ardente desejo por renascimento na vida terrestre.
Portanto durante algum tempo seu desejo concorda exatamente com a lei
da evolução. Elas podem se desenvolver tão somente por meio desses
impactos externos, aos quais gradualmente despertam para responder, e
neste estágio inicial só podem recebê-los em vida terrena. A passos lentos
seu poder de resposta aumenta, e é despertado primeiro para as vibrações
físicas mais altas e mais finas, e ainda mais gradativamente para aquelas
do plano astral. Então seus corpos astrais, que até então haviam sido meras
pontes para transmissão de sensações à Alma, paulatinamente se tornam
veículos definidos que elas podem usar, e sua consciência começa a estar
centrada antes em suas emoções do que nas meras sensações físicas.

Num estágio ulterior, mas sempre pelo mesmo processo de aprender a


responder a impactos de fora, as Almas aprendem a centrar sua
consciência no corpo mental - a viver de acordo com as imagens mentais
que formaram para si mesmas, e assim governar suas emoções através da
mente. Mais tarde ainda na longa, longa estrada o centro passa para o
corpo causal, e as Almas percebem sua vida verdadeira. Quando este
tempo chega elas serão encontradas em um subplano mais alto que este, e
a existência terrestre inferior já não lhes será necessária; mas por enquanto
estamos pensando na maioria menos evoluída, que ainda projetam
apalpando com tentáculos ondulantes no oceano de existência as
personalidades que são elas próprias nos planos inferiores da vida, ainda
que não estejam de modo algum conscientes de que estas personalidades
são os meios pelos quais são nutridas e crescem. Não vêem nada de seu
passado ou seu futuro, sequer estando conscientes em seu próprio plano. E
mais, como estão lentamente imergindo na experiência e assimilando-a, lá
aumenta uma sensação de que certas coisas são boas de fazer e outras
são ruins, e isso se expressa imperfeitamente na personalidade associada
como um início de consciência, um sentimento de certo e errado: e
gradualmente, ao se desenvolverem, este sentimento mais e mais
claramente se formula na natureza inferior, e se torna um guia de conduta
menos ineficiente.

Através das oportunidades dadas pelo lampejo de consciência mais


completa a que antes nos referimos, as Almas mais avançadas deste
subplano as desenvolvem a um ponto em que estão empenhadas em
estudar seu passado, detectando as causas desencadeadas nele, e
aprendendo muito desta retrospectiva, de modo que os impulsos enviados
para baixo se tornam mais claros e definidos, e se trasladam à consciência
inferior como convicções firmes e intuições imperativas.

Talvez seja pouco necessário repetir que as imagens-pensamento dos


níveis rûpa não são carregadas para o mundo celeste superior; toda a ilusão
aqui é passado, e cada Alma conhece sua verdadeira linhagem, percebem-
se e são percebidas em suas naturezas régias, como o homem verdadeiro
imortal que continua de vida para vida, com todos os laços intactos que são
enfeixados em seu ser real.

Segundo Subplano - O Sexto Céu -

Da densamente povoada região que estivemos considerando passaremos


para um mundo mais esparsamente habitado, como se nos deslocássemos
de uma grande cidade para um pacato vilarejo interiorano; pois no presente
estágio da evolução humana apenas uma pequena minoria de indivíduos
subiu até este elevadíssimo nível onde até o menos avançado é
definitivamente auto-consciente, e também consciente de seu entorno.
Capaz de pelo menos em alguma extensão de rever o passado donde veio,
a Alma neste nível está ciente do propósito e método da evolução; ela sabe
que está empenhada num trabalho de auto-desenvolvimento, e reconhece
os estágios da vida física e post-mortem pelos quais passa em seus
veículos inferiores. A personalidade a que está conectada é vista por ela
como parte de si mesma, e tenta guiá-la, usando seu conhecimento do
passado como um repositório de experiência da qual eduz princípios de
conduta, convicções claras e imutáveis sobre o certo e o errado. Estas ela
envia para sua mente inferior, superintendendo e direcionando suas
atividades. Conquanto falhe continuamente na primeira parte de sua vida
neste subplano em fazer a mente inferior entender logicamente os
fundamentos dos princípios que imprime nela, já mui definidamente é bem
sucedida em fazer essa impressão, e idéias abstratas tais como verdade,
justiças e honra se tornam concepções inabaláveis e direcionadoras na vida
mental inferior.

Há regras de conduta impostas por sanções sociais, nacionais, e religiosas,


pelas quais um homem se governa na vida diária, ainda que possa ser
desviado por algum ímpeto de tentação, alguma sobrepujante onda de
paixão e desejo; mas há coisas que um homem evoluído não pode fazer -
coisas que são contra suas verdadeira natureza; ele não pode mentir, ou
trair, ou empreender alguma ação desonrosa. Nas mais íntimas fibras de
seu ser certos princípios estão fundidos, e agir contra eles é uma
impossibilidade, não importa qual possa ser a tensão das circunstâncias ou
a veemência da tentação; pois essas coisas são da vida da Alma.
Entretanto, ao conseguir guiar assim seu veículo inferior, seu conhecimento
dele e suas ações estão freqüentemente longe de serem precisos e claros.
Ela vê os planos inferiores mas nubladamente, entendendo seus princípios
antes que seus detalhes, e parte de sua evolução neste plano consiste em
entrar mais e mais conscientemente em contato com a personalidade que
tão imperfeitamente a representa aqui embaixo.

Deve ser entendido disso que somente Almas que deliberadamente estão
desejando crescimento espiritual vivem neste plano, e têm em
conseqüência se tornado largamente receptivas a influências dos planos
acima delas. O canal de comunicação cresce e se alarga, e um fluxo mais
copioso passa através. O pensamento sob essas influências assume uma
qualidade singularmente clara e penetrante, mesmo nos menos
desenvolvidos, e o efeito disso na mente inferior se mostra como uma
tendência à filosofia e ao pensamento abstrato. Nos mais altamente
evoluídos a visão é de longo alcance; atinge com clara percepção o
passado, reconhece as causas desencadeadas, suas conseqüências, e o
que resta ainda não esgotado de seus efeitos.

As Almas que vivem neste plano têm amplas oportunidades de crescimento


quando livres do corpo físico, pois aqui podem receber instruções de
entidades mais avançadas, entrando em contato direto com seus
instrutores. Não mais através de imagens-pensamento, mas de
luminosidades fulgurantes impossíveis de descrever, a verdadeira essência
da idéia voa como uma estrela de uma Alma para outra, suas correlações
se expressando como ondas de luz emanando da estrela central, e
prescindindo de qualquer enunciação à parte. Um pensamento é como uma
lâmpada colocada num sala; mostra todas as coisas em torno, mas não
requer palavras para descrevê-las.

Primeiro Subplano - O Sétimo Céu -

Este, o nível mais glorioso do mundo mental, ainda tem apenas poucos
moradores de nossa humanidade, pois em suas altitudes não reside
ninguém além dos Mestres da Sabedoria e Compaixão, e sues discípulos
iniciados. Da beleza de forma e cor e som aqui nenhuma palavra pode falar,
pois a linguagem mortal não possui termos nos quais aqueles radiantes
esplendores possam achar expressão. Basta que existam, e que alguns de
nossa raça o estejam envergando, o penhor do que outros hão de ser, a
fruição cuja semente foi plantada nos planos mais baixos. Estes
completaram a evolução mental, de modo que neles o mais elevado rebrilha
mesmo através do mais baixo; pois o véu ilusório da personalidade foi
erguido de seus olhos, e sabem e percebem que não são a natureza
inferior, mas só a usam como veículo de experiência. Ainda ela pode ter o
poder nos menos evoluídos deles de abalar e limitar, mas eles não podem
jamais cair no desatino de confundir o veículo com o Eu atrás dele. Disto
estão salvos por manterem sua consciência ininterrupta não só de um dia
para outro mas de vida para vida, de modo que as vidas passadas não são
tanto recuperadas pela retrospecção, mas estão como que sempre
presentes em sua consciência, o homem sentindo-as como uma só vida
antes que como muitas.

Nesta altura a Alma é cônscia do mundo celeste inferior bem como do seu
próprio, e se possuir quaiquer manifestações lá como forma-pensamento na
vida celeste de seus amigos, pode fazer delas o mais completo uso. No
terceiro subplano, e mesmo na parte inferior do segundo, sua consciência
dos planos abaixo de si ainda era nevoenta, e sua ação nas formas-
pensamento largamente instintiva e automática. Mas tão cedo acostumou-
se ao segundo subplano sua visão rapidamente se tornou mais clara, e com
prazer reconheceu as formas-pensamento como veículos através dos quais
era capaz de expressar mais de si mesma de certas maneiras do que
poderia por meio de sua personalidade.

Agora que está funcionando no corpo causal em meio à magnificente luz e


esplendor do mais alto dos céus, sua consciência é instantânea e
perfeitamente ativa em qualquer ponto das divisões inferiores a que quiser
direcioná-la, e, assim, pode intencionalmente projetar energia adicional em
semelhante forma-pensamento quando desejar usá-la com o propósito de
ensinar.

Deste nível mais alto do mundo mental desce a maior parte da influência
irradiada pelos Mestres da Sabedoria em seu trabalho pela evolução da
raça humana, agindo diretamente nas Almas dos homens, semeando nelas
as energias inspiradoras que estimulam o crescimento espiritual, que
iluminam o intelecto e purificam as emoções. É daí que o gênio recebe sua
iluminação; aqui todos os esforços ascendentes encontram orientação.
Como todos os raios do sol partem de um centro, e cada corpo que os
recebe os usa de conformidade com sua natureza, assim dos Irmãos Mais
Velhos da raça recai em todas as Almas a luz e a vida que é sua função
distribuir; e cada uma utiliza o que é capaz de assimilar, crescendo portanto
e evoluindo. Assim, como todo o resto, a mais excelsa glória do mundo
celeste está na glória do serviço, e os que completaram sua evolução
mental são fontes de quem jorra força para os que ainda estão subindo.

Não-Humanos

Quando tentamos descrever os habitantes não-humanos do plano mental,


vemo-nos de pronto face a face com dificuldades do mais insuperável
caráter. Pois ao tocarmos o sétimo céu entramos em contato pela primeira
vez com um plano que é cósmico em sua extensão - no qual, portanto,
podem ser encontradas muitas entidades que a mera linguagem humana
não tem palavras para retratar. Para os propósitos do presente tratado,
provavelmente seria melhor pô-las de lado junto com aquela imensa hoste
de seres cujo âmbito é cósmico, e confinar nossas asserções estritamente
aos habitantes peculiares ao plano mental de nossa própria cadeia de
mundos. Pode ser lembrado que no manual sobre O Plano Astral o mesmo
expediente foi adotado, sem nenhuma tentativa de descrevermos os
visitantes de outros planetas e sistemas; e mesmo sendo lá tais visitantes
só ocasionais aqui seriam muito mais freqüentes, parece melhor neste caso
aderir ao mesmo preceito. Umas poucas palavras, porém, sobre a essência
elemental do plano e as seções do grande Reino Dévico a que está
especialmente relacionada será de utilidade darmos aqui; e a extrema
dificuldade de apresentar mesmo estas idéias comparativamente simples
mostrarão conclusivamente o quão impossível seria lidar com outras que
não poderiam ser senão muitíssimo mais complicadas.

A Essência Elemental

Pode ser lembrado que em uma das primeiras cartas recebidas de um


instrutor Adepto foi assinalado que compreender a condição do primeiro e
segundo dos reinos elementais era impossível exceto para o iniciado - uma
observação que mostra quão parcial deve ser o sucesso que pode resultar
de qualquer esforço para descrevê-las aqui no plano físico. Será bom antes
de tudo que tentemos formar em nossas mentes uma idéia o mais clara
possível do que realmente seja a essência elemental, uma vez que este é
um ponto onde muita confusão parece amiúde existir, mesmo entre aqueles
que têm feito consideráveis estudos da literatura Teosófica.

O Que É

Essência elemental, portanto, é meramente um nome aplicado durante


certos estágios primitivos de sua evolução à essência monádica, que por
sua vez pode ser definida como a emanação da Vida Divina do Segundo
Logos dentro da matéria. Estamos todos familiarizados com o fato de que
antes desta emanação chegar ao estágio da individualização no qual forma
o corpo causal de um homem, terá atravessado e animado por sua vez seis
fases mais inferiores da evolução - a animal, a vegetal, a mineral e três
reinos elementais. Ao energizar aqueles respectivos estágios foi chamada
às vezes de mônada animal, vegetal ou mineral - mesmo que este termo
seja definitivamente enganador, uma vez que muito antes de chegar a
qualquer destes reinos já se tornou não uma mas muitas mônadas. O nome,
foi, contudo, adotado para transmitir a idéia de que, mesmo que a
diferenciação em essência monádica já tenha há muito se estabelecido,
ainda não havia sido levada ao ponto de individualização. Agora, quando a
essência monádica está energizando através dos três grandes reinos
elementais que precedem o mineral, é chamada pelo nome de 'essência
elemental'.

A Velação do Espírito

Antes, contudo, que a natureza da essência monádica e a maneira pela qual


se manifesta nos vários planos possa ser entendida, o método pelo qual o
espírito reveste-se de matéria em sua descida deve ser percebido. Aqui não
estamos tratando da formação original da matéria dos planos, mas
simplesmente da descida de uma nova onda de evolução para dentro de
matéria pré-existente.

Antes do período de que estamos falando, esta onda de vida passou éons
incontáveis evoluindo, de um modo de que só podemos ter pouquíssima
compreensão, através de sucessivas incorporações de átomos, moléculas e
células; mas deixaremos por enquanto de lado toda essa primeira parte
dessa estupenda história, e consideraremos somente sua descida na
matéria de planos um tanto mais dentro do alcance do intelecto humano,
embora ainda muito acima do que o nível meramente físico.

Seja entendido, então, que quando o espírito repousando em qualquer


plano (não importa qual), em sua trajetória descendente em direção à
matéria, pela força irresistível de sua própria evolução é levado a passar
para o plano imediatamente inferior, deve, a fim de manifestar-se lá,
envolver-se pelo menos de matéria atômica daquele plano mais baixo -
lançar em torno de si sob a forma de um corpo um véu daquela matéria,
para o qual servirá de alma ou força energizante. Similarmente, quando
continua em sua descida para um terceiro plano, deve reunir à sua volta um
pouco desta matéria, e teremos então uma entidade cujo corpo ou cobertura
externa consiste de matéria atômica daquele terceiro plano.

Mas a força energizante nesta entidade - sua alma, por assim dizer - não
será o espírito na condição em que existia no plano onde primeiro o
encontramos; será aquele espírito mais o véu de matéria atômica do
segundo plano através do qual passou. Quando uma descida ulterior é feita
para um quarto plano, a entidade se torna ainda mais complexa, pois terá
então um corpo de matéria daquele quarto plano, animado por espírito duas
vezes velado, na matéria atômica do segundo e terceiro planos. Vê-se que
uma vez que este processo se repete para cada plano do sistema solar, no
momento em que a força original atinge nosso nível físico está tão
pesadamente velada que pouco admira que os homens freqüentemente
falhem em reconhecê-la como espírito.

Por exemplo, vamos supor que o clarividente destreinado tentando


investigar a mônada mineral - examinar a força-vida por trás do reino
mineral. A sua visão seria praticamente com certeza confinada ao plano
astral, e provavelmente seria por demais imperfeita mesmo ali; pois para ele
esta força pareceria simplesmente astral. Mas um estudante treinado,
examinando-a com poder superior, veria que o que o clarividente havia
tomado por força astral era meramente matéria atômica astral posta em
movimento por uma força procedente da parte atômica do plano mental. O
estudante mais avançado seria capaz de ver que aquela matéria atômica
metal por sua vez era só um veículo no qual algo do subplano búdico mais
elevado estava agindo, enquanto que o Adepto perceberia que a matéria
búdica não passava de um veículo para a nirvânica, e que a força que
penetrou e agiu através de todos esses sucessivos véus veio na realidade
também de fora deste plano cósmico-prakrítico, e era de fato simplesmente
uma das manifestações da Força Divina.

Os Reinos Elementais

A essência elemental que encontramos no plano mental constitui o primeiro


e segundo dos grandes reinos elementais. Uma onda da Vida Divina, tendo
encerrado nalgum éon anterior sua evolução descendente através do plano
búdico, desce ao sétimo céu, e anima grandes massas da matéria atômica
mental, tornando-se assim a essência elemental do primeiro grande reino.
Nesta, sua condição mais simples, não combina os átomos em moléculas a
fim de formar um corpo para si, mas simplesmente por sua atração aplica
uma imensa força compressora neles. Podemos imaginar a força, primeiro
atingindo este plano em seu percurso descendente, sendo inteiramente
desacostumada com suas vibrações, e incapaz de responder-lhes de início.
Durante o éon que passa neste nível, sua evolução consistirá em acostumar-
se a vibrar em todas as freqüências que forem possíveis lá, de modo que a
qualquer momento pode animar e utilizar qualquer combinação de matéria
daquele plano. Durante este longo período de evolução terá tomado sobre si
todas as possíveis combinações de matéria dos três níveis arûpa, mas no
final deste tempo retorna ao nível atômico - não, é claro, como era antes,
mas levando latentes consigo todos os poderes que adquiriu.

No éon subseqüente ela desce ao quarto subplano do mental - isto é, o


mais alto dos níveis arûpa - e atrai para si mesma como um corpo um pouco
da matéria daquela subdivisão. Ela é então a essência elemental do
segundo reino em sua condição mais simples; mas como antes, no curso de
sua evolução, assume muitas e diversas aparências, compostas de todas as
possíveis combinações de matéria dos subplanos inferiores.

Poderíamos naturalmente supor que estes reinos elementais que existem e


atuam no plano mental, sendo muito mais altos, devam ser mais avançados
na evolução que o terceiro reino, que pertence exclusivamente ao plano
astral. Contudo, não é assim; pois deve ser lembrado que ao falarmos desta
fase da evolução o termo 'mais alto' não significa, como usualmente, mais
avançado, mas sim menos avançado, pois aqui estamos lidando com a
essência monádica no trajeto descendente de seu arco, e o progresso para
a essência elemental significa portanto descer para a matéria em vez de,
como nós, ascender a planos mais altos. A menos que o estudante tenha
isso sempre claro na mente, ele repetidamente se encontrará confundido
por anomalias que o deixam perplexo, e sua visão deste lado da evolução
perderá em firmeza e abrangência.

As características gerais da essência elemental foram indicadas em


considerável extensão no manual sobre O Plano Astral, e tudo o que lá é
dito sobre o número das subdivisões nos reinos e sua maravilhosa
impressionabilidade pelo pensamento humano é igualmente verdadeiro para
estas variedades celestiais. Umas poucas palavras talvez poderiam ser
ditas para explicar como as sete subdivisões horizontais de cada reino se
arranjam em conexão com as várias partes do plano mental. No caso do
primeiro reino, sua subdivisão mais alta corresponde ao primeiro subplano,
enquanto os segundo e terceiro subplanos são cada um divididos em três
partes, cada uma das quais é o habitat de uma das subdivisões elementais.
O segundo reino se distribui no mundo celeste inferior, sua subdivisão mais
alta correspondendo ao quarto subplano, enquanto que o quinto, o sexto e o
sétimo subplanos são cada um dividido em dois para acomodar o
remanescente.

Como a Essência Evolui

Foi falado tanto na primeira parte deste manual a respeito do efeito do


pensamento sobre a essência elemental que seria desnecessário retornar a
esta parte do assunto agora; mas deve ser mantido em mente que ela é, se
possível, ainda mais instantaneamente sensível à ação do pensamento aqui
do que no plano astral, sendo constante e proeminentemente evidenciada
aos nossos investigadores a maravilhosa delicadeza com que responde à
mais tênue ação da mente. Captaríamos melhor esta capacidade se
percebermos que é nesta resposta que a verdadeira vida consiste - que seu
progresso é grandemente auxiliado pelo uso que é feito dela no processo de
pensamento pelas entidades mais avançadas cuja evolução compartilha.

Se pudesse ser imaginada por um momento como inteiramente livre da


ação do pensamento, apareceria como um conglomerado informe de
irrequietos átomos infinitesimais - infusos de fato com uma maravilhosa
intensidade de vida, ainda que provavelmente fazendo apenas pouco
progresso do arco descendente de sua involução para dentro da matéria.
Mas quando o pensamento a atinge e incita à atividade, atirando-a nos
níveis rûpa sob os mais diversos tipos de adoráveis formas, e nos níveis
arûpa como jorros fulgurantes, ela recebe um nítido impulso adicional que,
se repetido muitas vezes, a auxilia em seu caminho para diante. Pois
sempre que um pensamento é dirigido daqueles altos níveis aos assuntos
terrenos, naturalmente desce e toma sobre si matéria dos planos inferiores.
Assim fazendo traz ao contato com aquela matéria a essência elemental da
qual seu primeiro véu foi formado, e assim por estágios habitua aquela
essência a responder a vibrações mais baixas; e isso muito a ajuda em sua
evolução descendente para dentro da matéria.

Muito notavelmente também é afetada pela música - pelas esplêndidas


torrentes de gloriosos sons de que já falamos que são derramadas sobre
estes planos elevados pelos grandes mestres da música que estão levando
a cabo lá em muito maior extensão o trabalho que aqui embaixo nesta Terra
obtusa eles apenas começaram.

Um outro ponto que deveria ser lembrado é a vasta diferença entre a


grandiosidade e o poder do pensamento neste plano e a comparativa
fragilidade dos esforços que aqui em baixo dignificamos com aquele nome.
Nosso pensamentos ordinários começam no corpo mental nos planos
mentais inferiores e ao descer se reveste com a essência elemental astral
apropriada; mas quando um homem já se adiantou a ponto de ter sua
consciência ativa no Eu real no mundo celeste superior, seu pensamento
começa lá e primeiro se reveste da essência elemental dos níveis inferiores
do plano mental, e conseqüentemente é infinitamente mais sutil, mais
penetrante, e de todas as formas mais efetivo. Se o pensamento for dirigido
exclusivamente para altos assuntos, suas vibrações podem ter um caráter
por demais fino para encontrar qualquer expressão no plano astral; mas
quando realmente afetarem esta matéria inferior o farão com efeito de muito
maior alcance do que os que são gerados tão mais próximos de seu próprio
nível.

Seguindo esta idéia um estágio além veremos o pensamento do iniciado


tomando sua partida no plano búdico, acima do mundo mental, e revestindo-
se com a essência elemental do mais alto dos céus, enquanto o
pensamento do Adepto provém do próprio Nirvâna, portando os tremendos,
os absolutamente incalculáveis poderes das regiões além do âmbito da
mera humanidade comum. Assim, sempre que nossa concepção se ergue
mais alto vemos diante de nós campos sempre mais vastos de utilidade
para nossas capacidades ampliadas, e percebemos o quão verdadeiro é o
ditado de que o trabalho de um dia em tais níveis pode bem ultrapassar em
eficiência a labuta de mil anos no plano físico.

O Reino Animal

O reino animal é representado no plano mental por duas divisões principais.


No mundo celeste inferior encontramos as almas-grupo às quais a maioria
dos animais está ligada, e no terceiro subplano os corpos causais dos
comparativamente poucos membros do reino que já se individualizaram.
Estes últimos, contudo, estritamente falando, já não são animais; são
praticamente os únicos exemplos para ver-se agora dos primitivíssimos
corpos causais, subdesenvolvidos em tamanho e ainda coloridos somente
com as tenuíssimas primeiras vibrações das qualidades recém-nascidas.

Após sua morte nos planos físico e astral, os animais individualizados têm
usualmente uma vida muito prolongada, ainda que amiúde algo onírica, no
mundo celeste inferior. Sua condição durante este intervalo é análoga
àquela do ser humano naquele mesmo nível, ainda que com muito menos
atividade mental. Ele se acha cercado por suas próprias formas-
pensamento, mesmo que possa estar apenas consciente delas como num
sonho, e estas incluem por certo as formas de seus amigos terrestres em
seu caráter mais benigno e simpático. E uma vez que o amor que é forte e
altruísta bastante para formar tal imagem deve também ser forte o suficiente
para alcançar a alma do ser amado, e obter uma resposta dele, mesmo os
animaizinhos sobre os quais nossa benevolência é prodigalizada podem
fazer seu pequeno eco em resposta ajudando em nossa evolução.

Quando o animal individualizado se retira para dentro do corpo causal à


espera da volta na roda evolutiva que lhe dará a oportunidade de uma
encarnação humana primitiva, ele parece perder quase toda a consciência
de coisas externas, e passar o tempo em um tipo de delicioso transe da
mais profunda paz e contentamento. Mesmo então alguma espécie de
desenvolvimento interior está seguramente tendo lugar, ainda que sua
natureza seja difícil para nós compreendermos. Mas pelo menos é certo que
para cada entidade que entra em contato com ele, esteja ele apenas
entrando na evolução humana ou se preparando para ultrapassá-la, o
mundo celeste significa a mais elevada bem-aventurança da qual a entidade
é capaz neste nível.

Os Devas, ou Anjos

Muito pouco pode ser expresso em linguagem humana sobre estes


admiráveis e exaltados seres, e a maior parte do que sabemos deles já foi
descrito em O Plano Astral. Para a informação daqueles que não possuem o
manual em mãos, repetirei aqui um pouco da explanação geral dada lá com
referência a estas entidades.

O mais elevado sistema de evolução especialmente conectado com esta


Terra, até onde sabemos, é o dos seres a quem os hindus chamam de
Devas, e que noutras partes têm sido chamados de anjos, filhos de Deus,
etc. Eles podem, de fato, ser considerados como um reino estando
imediatamente acima da humanidade, do mesmo modo que a humanidade
por sua vez jaz imediatamente acima do reino animal, mas com esta
importante diferença, de que enquanto para um animal não há nenhuma
possibilidade de evolução através de nenhum outro reino senão o humano,
o homem, quando atinge o nível de Asekha, ou Adepto pleno, encontra
várias sendas de progresso abertas diante de si, das quais esta grande
evolução Dévica é apenas uma (Vide Auxiliares Invisíveis, pg 124).

Na literatura oriental esta palavra 'Deva' é freqüentemente usada


vagamente para significar quase qualquer tipo de entidade não-humana, de
modo que inclui amiúde os mais excelsos poderes espirituais de um lado, e
espíritos da natureza e elementais artificiais de outro. Aqui, entretanto, seu
emprego será restrito à magnífica evolução que ora consideramos.

Mesmo que ligados a esta Terra, os anjos de modo algum a ela estão
confinados, pois o conjunto de nossa presente cadeia de sete mundos é
como se fosse um único mundo para eles, sua evolução se dando através
de um grande sistema de sete cadeias. Suas falanges têm portanto sido
recrutadas principalmente de outras humanidades do sistema solar,
algumas mais altas e outras menos que a nossa, uma vez que só uma
porção muito pequena da nossa já alcançou o nível em que nos é possível
unirmo-nos a eles; mas parece certo que algumas de suas numerosas
classes jamais passaram em seu progresso ascendente por qualquer
humanidade de alguma forma comparável à nossa.

Não nos é possível por ora entender muito sobre eles, mas é claro que o
que quer que possa ser descrito como sendo o escopo de sua evolução é
consideravelmente mais alto que o nosso; isto é, enquanto que o objetivo de
nossa evolução humana é elevar a porção vitoriosa da humanidade à
posição de Adepto Asekha ao fim da sétima ronda, o objetivo da evolução
Dévica é elevar sua hierarquia mais avançada a uma posição muito mais
elevada no mesmo período. Para eles, como para nós, uma senda mais
íngreme porém mais curta para alturas ainda superiores se encontra aberta
ao esforço mais intenso; mas o que aquelas altitudes possam sem no seu
caso podemos somente conjeturar.

Suas Divisões

Suas três grandes divisões inferiores, partindo da mais baixa, são


geralmente denominadas de Kâma-devas, Rûpa-devas e Arûpa-devas, que
podem ser traduzidas como anjos do mundo astral, do mundo celeste
inferior e do mundo celeste superior respectivamente. Assim como nosso
corpo usual aqui - o corpo mais inferior possível para nós - é o físico, assim
o corpo usual de um Kâma-deva é o astral; de modo que ele está numa
posição similar àquela em que a humanidade estará quando alcançar o
planeta F, e ele, vivendo ordinariamente no corpo astral, se alçaria a esferas
superiores num corpo mental exatamente como poderíamos fazer em um
corpo astral, ao passo que entrar no corpo causal não lhe seria (quando
suficientemente desenvolvido) um esforço tão grande como para nós
usarmos o corpo mental. Igualmente, o corpo cumum do Rûpa-deva seria o
mental, uma vez que seu domicílio é os quatro níveis rûpa do plano mental;
enquanto que o Arûpa-deva pertence aos três níveis superiores daquele
plano, e não possui nenhum corpo mais denso que o causal. Acima dos
Arûpa-devas existem quatro outras grandes classes em seu reino,
habitando respectivamente os quatro planos superiores de nosso sistema
solar; e novamente, acima e além de todo o conjunto do reino Dévico estão
as grandes hostes de espíritos planetários; mas a consideração de tais
glorificados seres estaria deslocada aqui.

Cada uma das duas grandes divisões do seu reino que mencionamos como
habitando o plano mental contém em si muitas diferentes classes; mas sua
vida é de todas as maneiras tão diversa da nossa que seria inútil tentarmos
dar qualquer coisa além de uma idéia a mais geral dela. Não sei como
poderia melhor transmitir a impressão produzida sobre as mentes de nossos
investigadores deste assunto que reproduzir as mesmas palavras usadas
por um deles na época da pesquisa: 'Percebi o efeito de uma consciência
intensamente exaltada - uma consciência gloriosa além de toda palavra; e
contudo tão estranha; tão diferente - tão inteiramente distinta de tudo o que
eu jamais senti antes, tão diversa de qualquer possível tipo de experiência
humana, que não há esperança de tentar colocá-la em palavras'.

Igualmente desesperançada é neste plano físico nossa tentativa de dar


alguma idéia da aparência destes poderosos seres, pois ela muda com cada
linha de pensamento que eles seguem. Alguma referência já foi feita antes
neste trabalho sobre a magnificência e maravilhoso poder de expressão de
sua linguagem de cores, e isso já foi também inferido de algumas
observações de passagem feitas ao descrevermos os habitantes humanos
que sob certas condições é possível ao homem atuando neste plano
aprender muito deles. Pode ser lembrado como um deles havia animado a
figura angélica na vida celeste de um corista, e lhe estava ensinando música
muito mais sublime do que jamais foi ouvida por ouvidos terrenos, e como
em outro caso aqueles associados com a administração de certas
influências planetárias estavam auxiliando o progresso da evolução de certo
astrônomo.

Sua relação com os espíritos da natureza (para um relato sobre eles vide o
Manual V) poderia ser descrita como algo semelhante, mesmo que em
escala mais alta, àquela dos homens em relação ao reino animal; pois
assim como o animal pode obter individualização apenas pela associação
com o homem, também parece que uma individualidade reencarnante
permanente pode normalmente ser obtida por um espírito da natureza só
pela associação de caráter algo similar com membros de alguma das
ordens dos Devas.
É claro que nada do que já foi, ou pode ser, dito desta grande grande
evolução angélica pode senão roçar a beirada de um tema muito poderoso,
cuja elaboração mais integral deve ser deixada a cada leitor fazer por si
mesmo quando desenvolver a consciência destes planos superiores; mas o
que já foi escrito, superficial e insatisfatório como é e deve ser, pode ajudar
a dar alguma tênue idéia das hostes de auxiliares que o avanço do homem
na evolução o porá a entrar em contato, e mostrar como cada aspiração que
suas capacidades aumentadas lhe possibilitam à medida que ascende é
mais que satisfeita pelo beneficente arranjo que a natureza dispôs para ele.

Artificiais

Muito breves palavras precisam ser ditas sobre esta parte de nosso
assunto. O plano mental está mesmo muito mais povoado que o astral pelos
elementais artificiais chamados à existência temporária pelos pensamentos
de seus habitantes; e quando é recordado o quão mais magnífico e mais
potente é o pensamento neste plano, e que suas forças são utilizadas não
somente pelos habitantes humanos, encarnados ou desencarnados, mas
também pelos Devas e visitantes de planos mais altos, de imediato veremos
que a importância e influência destas entidades artificiais dificilmente pode
ser exagerada. Não é necessário aqui percorrermos um terreno já
palmilhado no manual anterior sobre o efeito dos pensamentos do homem e
a necessidade de vigiá-los cuidadosamente; e bastante já foi dito
descrevendo a diferença entre a ação do pensamento nos níveis rûpa e
arûpa para mostrar como o elemental artificial do plano mental é chamado à
existência, e dar alguma idéia da infinita variedade de entidades temporárias
que assim se produzem, e a imensa importância do trabalho que
constantemente é feito por seu intermédio. Um uso muito grande deles é
feito pelos Adeptos e seus discípulos iniciados, e é escusado dizer que o
elemental artificial formado por mentes tão poderosas como estas é uma
criatura de existência infinitamente mais longa e proporcionalmente maior
poder do que qualquer uma das descritas ao tratarmos do plano astral.

CONCLUSÃO

Lançando um olhar sobre o que já foi escrito, a idéia proeminente não deixa
de ser naturalmente um humilhante senso da mais completa inadequação
de todas as tentativas de descrição - da desesperança de qualquer esforço
de pôr em palavras humanas as glórias inefáveis do mundo celestial. Ainda,
um ensaio lamentavelmente imperfeito como este deve ser, é melhor ainda
do que nada, e pode servir para colocar na mente do leitor alguma pálida
noção do que o espera do outro lado do túmulo; e mesmo quando atingir
seu refulgente reino de bem-aventurança ele certamente achará
infinitamente mais do que foi induzido a esperar, não terá, espera-se, que
desaprender qualquer informação que porventura tenha adquirido.
O homem, como agora é constituído, tem dentro de si princípios
pertencentes aos dois planos ainda mais elevados que o mental, pois seu
Buddhi o representa naquilo que por isso mesmo é chamado plano búdico,
e seu Atmâ (a Divina Centelha dentro de si) no terceiro plano do sistema
solar que tem sido usualmente chamado de nirvânico. No homem comum
estes princípios superiores estão ainda quase de todo não-desenvolvidos, e
de qualquer forma os planos a que pertencem estão ainda mais fora do
alcance de qualquer descrição do que está o mental. Deve ser suficiente
dizer que no plano búdico todas as limitações começam a se desvanecer, e
a consciência do homem se expande até que percebe, já não só em teoria,
mas por absoluta experiência, que a consciência de seus semelhantes está
inclusa na sua, e ele sente e conhece e experimenta com uma absoluta
perfeição de simpatia tudo o que está neles, porque é em verdade uma
parte de si mesmo; enquanto que no plano nirvânico ele dá um passo além,
e percebe que a sua consciência e a deles são uma só num sentido ainda
mais elevado, porque em realidade são facetas da consciência infinitamente
maior do Logos, em Quem todas vivem e se movem e têm seu ser; de modo
que quando 'a gota mergulha no oceano de luz' o efeito produzido é antes
como se o processo tivesse se invertido e o oceano tivesse mergulhado na
gota, que agora pela primeira vez percebe que é o oceano - não uma parte
dele, mas o todo. Paradoxalmente, profundamente incompreensível,
aparentemente impossível; mas absolutamente verdadeiro.

Mas isso tudo pelo menos podemos captar - que o abençoado estado do
Nirvâna não é, como alguns têm ignorantemente suposto, uma condição de
vazia nulidade.

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