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Na obra Torto Arado de Itamar Franco o rol de matérias cíveis contidas

no livro é imensurável, porém uma que me chama atenção é a passagem que


relata: “Àquela altura, a terra da Fazenda Caxangá, que havia rendido fartura
de frutos por toda a sua vida, estava retalhada. Os homens investidos de
poderes, muitas vezes acompanhados de outros homens em bandos armados,
surgiam da noite para o dia com um documento de que ninguém sabia a
origem. Diziam que haviam comprado pedaços da Caxangá.” Tal passagem
demonstra a utilização de um título, provavelmente se assemelhando a um
contrato de compra e venda porém sem nenhuma característica legal,
podemos observar claramente a intenção fraudulenta dos homens além do
abuso de poder e uso de violência para obtenção de um pedaço de terra, ou
seja, um lote. De acordo com a legislação civil vigente tal prática é imbuída de
má-fé e apesar de uma ação semelhante a “imissão na posse" não há nada
que comprove uma legítima defesa ou ato de assegurar sua posse, é apenas
uma ocupação violenta disfarçada de ato lícito.

Na passagem podemos observar também a expulsão de pessoas


carentes, que não tem onde viver ou ir após a expulsão, ou seja, observamos a
ofensa ao Direito de moradia bem como à diversos outros direitos inerentes à
dignidade das pessoas aí existentes. Também observamos a falta de finalidade
social da terra da Fazenda, sendo que foi apenas tomada por puro abuso de
poder onde provavelmente não foi utilizada efetivamente para moradia ou
alguma outra utilidade. Além disso, tem que pensar em quem é o real
proprietário dessa terra, talvez ela já estava abandonada a anos e os
moradores expulsos estavam com posse usucapione, logo, em lógica técnica,
os proprietários reais por direito foram expulsos arbitrariamente das suas terras
que eles conquistaram com o trabalho árduo e tanto sofrimento passado, e
provavelmente eles não tinham conhecimento dos seus direitos nem da ofensa
tamanha que tiveram. Por fim, há que se refletir que esses invasores em pouco
tempo vai perder o teor de violência da invasão por conta de falta de outros a
exigir, e por tal fato vai começar a contar o tempo para uma possível usucapião
no futuro.

Portanto, tal passagem destacada demonstra claramente uma realidade


que muitos passam de roubo de suas posses e propriedade e que antigamente
muito mais predominante, e que acaba que tal violência se torna posterior um
direito do autor da violência, e que muitas vezes impossível provar, em regiões
como essa do livro, que eles fizeram um ato ilícito.

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