Você está na página 1de 22

Introdução Histórica ao Direito Privado

- Aula 01 -

Universidade Federal Fluminense


Prof. Rafael Viola
O tempo é a dimensão do trabalho do
historiador.

Quando se analisa a história, busca-se retratar a


memória da humanidade.

O objeto da história é o homem, ou seja, o Ser


Humano e a sucessão temporal de seus atos.
O que importa a História do Direito?

Ela é fundamental na meida em que auxilia o


intérprete na compreensão das conexões que
existem entre a sociedade, suas características e o
direito que produziu.

Dessa forma, ele poderá visualizar e entender


melhor o próprio direito atual.

História crítica do direito: o direito atual como


racional, necessário e definitivo.
“O estudo do direito – e portanto também do
direito tradicionalmente definido ‘privado’ –
não pode prescindir da análise da sociedade na
sua historicidade local e universal, de maneira
a permitir a individualização do papel e do
significado da juridicidade na unidade e na
complexidade do fenômeno social.”
Pietro Perlingieri
Os Povos sem escrita

Direito x Lei Escrita.

O Direito consiste no conjunto de regras ou normas que


regulamentam uma sociedade.

“Encontra-se, pois, a origem do direito na própria


natureza do homem. Havido como ser social.”
Vicente Ráo

Ubi societas ibi jus (onde está a sociedade, aí está o


direito – Ulpiano)
Desta foram, percebe-se que o direito equaciona a vida
social, atribuindo aos seres humanos, que a constituem, uma
reciprocidade de poderes, ou faculdades, e de deveres ou
obrigações.

“(...) é o direito um sistema de disciplina social fundado na


natureza humana que, estabelecendo nas relações entre os
homens uma proporção de reciprocidade nos poderes e
deveres que lhes atribui, regula as condições existenciais dos
indivíduos e grupos sociais e, em consequência, da
sociedade, mediante normas coercitivamente impostas pelo
poder público”
Vicente Ráo

“O conjunto de princípios e regras destinado a ordenar a


coexistência constitui o aspecto normativo do fenômeno
social”
Pietro Perlingieri
Os povos sem escrita são considerados os povos
da Pré-História.

Apesar de excessivamente rica, é difícil ter


acesso a essa época em razão da escassez de
escrita.

Certamente já existiam diversos institutos


jurídicos nesse tempo, tais como casamento,
família, autoridade parental, propriedade,
contratos, etc.

Os povos ágrafos não têm um tempo


determinado.
Características dos Povos Ágrafos:

1) Abstratos: as regras são decoradas e passadas de


pessoa a pessoa.

2) Numerosos: cada comunidade tem seu próprio


costume e vive isolada.

3) Relativamente Diversificados: os direitos são


distintos, na medida em que a distância implica na
criação de direitos dissemelhantes.

4) Impregnados de Religiosidade.

5) Direitos em Nascimento: não há clara distinção


entre o que é jurídico e o que não é.
Fontes dos Direitos do Povos Ágrafos:

“Os povos ágrafos basicamente utilizam os


Costumes como fonte de suas normas, ou seja, o
que é tradicional no viver e conviver de sua
comunidade torna-se regra a ser seguida.”
Flávia Lages de Castro

Costume pode ser definido como “A regra de


conduta criada espontaneamente pela consciência
comum do povo, que a observa por modo
constante e uniforme e sob a convicção de
corresponder a uma necessidade jurídica.”
Vicente Ráo
Primeiras Leis Escritas – Código de Ur
Nammu e Hamurabi

Mesopotâmia e o berço da civilização.

Lá surge a escrita por intermédio da invenção


de símbolos que expressavam ideias.
O corpo de leis mais antigo conhecido é o
Código de Ur-Nammu (2111-2094 a.C.).

A importância do Código de Ur-Nammu e sua


influência no Código e Hammurabi.

A lei e a justiça eram conceitos


fundamentais da antiga
Suméria, que impregnavam a
vida social e econômica
sumeriana tanto na teoria como
na prática.”
Kramer
O Código de Hammurabi

A Babilônia conta história com o Rei


Nabucodonosor (séc. V a. C.).

Porém, foi somente com a ascensão ao poder de


Hammurabi (1792 a.C.) que a Babilônia cresceu
em poder em razão de sua habilidade política).

A necessidade da conquista: a unificação da


língua, religião e do direito.
Uma das formas encontradas por Hammurabi
para exercer seu poder e controle, foi por
intermédio da unificação do direito que
culminou na elaboração do Código de
Hammurabi.

Além da realização do Código, também


reorganizou a Justiça: saiu dos templos dos
deuses e passou para os tribunais civis
dependentes diretamente do soberano.
A divisão da sociedade pelo Código de
Hammurabi:

- awilum: homem livre com todos os direitos


do cidadão. Compreende ricos e pobres.

- muskênum: uma zona intermediária entre os


awilum e os escravos.

- escravos: a minoria, geralmente prisioneiros


de guerra.
Era uma sociedade baseada na agricultura e no
comércio. Nesta, as mulheres cuidavam do
pequeno comércio varejista.

§ 108 – Se uma taberneira não aceitou cevada


como preço da cerveja, (mas) aceitou prata em
peso grande ou diminuiu o equivalente de
cerveja em relação ao curso da cevada,
comprovarão (isso) contra a taberneira e a
lançarão na água.
Aspectos do Código de Hammurabi:

a) Pena de Talião

A lei das XII Tábuas instituída por Talião


previa a ideia do “olho por olho, dente por
dente” absorvida por inúmeras sociedades.

O Código de Hammurabi também se utilizou


desse princípio.
§ 196 – Se um awilum destruiu o olho de um
outro awilum, destruirão seu olho.

§ 229 – Se um construtor edificou uma casa


para um awilum, mas não reforçou seu
trabalho, e a casa, que construiu, caiu e causou
a morte do dono da casa, esse construtor será
morto.
b) Falso Testemunho

Sempre foi tratado com extrema severidade o


falso testemunha. No Código de Hammurabi,
em caso de processo capital, era condenado á
morte.

§ 03 - Se um awilum apresentou-se em um
processo com testemunho falso e não pode
comprovar o que disse: se esse processo é um
processo capital, esse awilum será morto.
Art. 342. Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a
verdade como testemunha, perito, contador, tradutor ou
intérprete em processo judicial, ou administrativo,
inquérito policial, ou em juízo arbitral.

Pena - reclusão, de um a três anos, e multa.

§ 1o As penas aumentam-se de um sexto a um terço, se o


crime é praticado mediante suborno ou se cometido
com o fim de obter prova destinada a produzir efeito em
processo penal, ou em processo civil em que for parte
entidade da administração pública direta ou indireta.

§ 2o O fato deixa de ser punível se, antes da sentença no


processo em que ocorreu o ilícito, o agente se retrata ou
declara a verdade
c) O roubo, a receptação e o estupro era punido
com a morte também.

§ 06 - Se alguém furta bens do Deus ou da


Corte deverá ser morto; e mais quem recebeu
dele a coisa furtada também deverá ser morto.

§ 130 - Se alguém viola a mulher que ainda


não conheceu homem e vive na casa paterna e
tem contato com ela e é surpreendido, este
homem deverá ser morto, a mulher irá livre.
d) Família

A Família era patriarcal e o casamento


monogâmico, embora se admitisse a união estável
(concubinato).

Todavia, a companheira jamais teria o status ou os


direito de esposa.

§ 128 - Se alguém toma uma mulher, mas não


conclui um contrato com ela, esta mulher não é
esposa.
e) Defesa do mau prestador de serviço

O Código de Hammurabi protegia o cidadão de um


mau prestador de serviços, obrigando este a reforçar
seu trabalho.

§ 233 - Se um arquiteto constrói para alguém uma


casa e não a leva ao fim, se as paredes são viciosas, o
arquiteto deverá à sua custa consolidar as paredes.

§ 235 - Se um bateleiro constrói para alguém um


barco e não o faz solidamente, se no mesmo ano o
barco é expedido e sofre avaria, o bateleiro deverá
desfazer o barco e refazê-lo solidamente à sua custa;
o barco sólido ele deverá dá-lo ao proprietário.

Você também pode gostar