Você está na página 1de 5

1.

Sociedade Romana
A sociedade romana baseava-se numa sociedade desigual, com pouca mobilidade
social, constituída por várias classes sociais como:
Patrícios, povos latinos que formavam a elite social e ocupavam os principais cargos
políticos que, durante muito tempo, pertenceram exclusivamente aos mesmos. Sendo
assim, os patrícios, por tradição, possuíam grande parte das propriedades da Roma
Antiga, destacando se pelo seu controle político e económico.
Plebeus, que denominavam a parcela da população que não tinha ascendência social,
ao contrário dos patrícios eram pequenos proprietários de terra e ocupavam atividades
como artesanato e o comercio.
Clientes, que embora sendo cidadãos livres, estavam dependentes dos patrícios onde
recebiam apoio económico e jurídico em troca da participação em trabalhos e
questões militares. Era na maioria formada por refugiados e estrangeiros.
Escravos, que, em grande maioria, eram constituídos por presos de guerra que eram
vendidos como mercadoria para patrícios e plebeus. O seu trabalho não era
remunerado e apenas recebiam roupa e alimentos.
Libertos, ex-escravos que obtinham a liberdade dependendo da decisão dos seus
proprietários através da rejeição ou da concessão da liberdade.
2. Presença do Direito da Mulher na Sociedade Romana

“A acessibilidade das mulheres à educação não era como a dos homens, pois ainda se
perpetuava a noção de que não tinha a mesma capacidade do que o homem, é um facto que
houve muitas mulheres instruídas em Roma” Sulpicia, poetisa romana.

Embora os romanos tradicionalistas só serem capazes de imaginar as suas mulheres no interior


da casa, presas ao trabalho doméstico, elas ocupavam-se frequentemente de muitas outras
coisas. Já durante a República romana, os varões, homens respeitáveis, não olhavam para a
Mulher propriamente como inferior, pois algumas matronas possuíam auctoritas, e a conceção
do sexus fragilitas chegou a ser criticada por alguns filósofos e juristas que não aceitavam a
menoridade das mesmas. A realidade ultrapassa, por vezes, a própria ideologia.

Todavia, as mulheres romanas mantiveram-se oficialmente excluídas da vida política, e jamais


adquiriram direito à expressão publica das suas ideias: mesmo quando sabiam escrever não
tinham permissão para publicar, e as suas obras são-nos ainda hoje, muitas vezes,
desconhecidas.

Na Roma republicana não existia a igualdade de género. Para as mulheres o destino era a
virgindade em solteiras e a fidelidade em casadas. A moral publica continua a privilegiar o
casamento único e a esposa casta e pudica. A entrega a um só parceiro sexual é uma virtude
tipicamente feminina.

3. A Mulher e a sua influência no Direito da Família Romana

Desde o início da humanidade, o homem aplicou a sua força física para influenciar as relações
sociais. As mulheres ficaram sob o domínio de homens, e os espaços públicos relativos ao
comércio, às empresas, à política e às ciências foram dominados quase que exclusivamente
por eles até o século XX.
Já não é o conceito de patria potestas do paterfamilias (poder do homem encarregue da sua
família) que explica a origem e a unidade do grupo de pessoas como família nos dias de hoje.
As normas especificas criadas pelo legislador para a família romana, centrada na casa onde a
família cumpre os seus rituais sob a batuta do homem mais velho, ascendente comum a todos
não serve para os nossos dias. Inscrevem-se na nossa cultura jurídica e explicam hábitos e
rituais que permaneceram, mas não podem ser impostos como dogmas jurídicos, regras para
aplicar no presente. O paterfamilias não tinha um poder ilimitado e tendencialmente eterno
sobre os membros da família, nomeadamente as mulheres. Havia desde logo as limitações do
ius sacrum que declaravam o paterfamilas que violasse os seus poderes-deveres, como sacer,
logo sujeito á vingança divina e, assim, á morte. Logo, o paterfamilias tinha um poder que foi
sendo juridicamente construído ao longo da história do ius Romanum como um dever
relativamente às pessoas que a ele estavam sujeitas e exercido no interesse delas.

A crescente liberdade das mulheres e a sua marca no direito da família está, no entanto, bem
patente na generalização do divorcio entre as famílias de estratos mais altos, a atenuação do
vínculo entre o adultério da mulher e a honra do marido e o recasamento. À propaganda
imperial em torno da imagem da esposa/mulher do imperador (Lívia) modelo de virtudes
femininas de acordo com os mores maiorum, opõe-se o comportamento da filha de Augusto,
Júlia, independente da tutela masculina e com costumes de “libertação sexual”. Apesar do
entusiasmo de Horácio quanto aos efeitos destas leis julianas na reforma moral de Roma pelo
regresso às normas da “família antiga”, parece que tudo ficou basicamente na mesma ou pior,
revelando a incapacidade da lei para mudar o homem ou aprisionar o tempo.

Segundo Pedro Múrias em “Bonus Pater Familias”, ao contrario dos pater, as mulheres não
tinham capacidade jurídica, não podiam celebrar por si contratos validos nem tinham, por via
de regra, propriedade sua.

Já o casamento, era visto como um dever cívico na República, uma necessidade ordenadora da
comunidade humana a viver em sociedades organizadas.

O casamento em Roma implicava, em via de regra, a existência de um homem e de uma


mulher. O casamento comprometia a existência de uma mater (função de mãe). A rapariga
pelo casamento adquiria a condição legal de mater, ficando protegida nessa condição pela
maternidade. Assim, os filhos são do homem com quem casa ordenando as descendências
através do critério da legitimidade do nascimento pela existência do casamento entre os
progenitores. As mudanças mais significativas na familia romana não resultaram da aplicação
de leis, mas de uma alteração das mentalidades e das ideias vigentes.

Num artigo remetente ao problema da escravidão e da liberdade no Direito Romano, a autora


menciona a minoridade dos direitos das esposas em relação aos chefes de família, que
retinham a maioria do poder “É importante ressaltar que capacidade jurídica diferia de
personalidade jurídica, na medida em que alguns indivíduos poderiam exercer mais direitos,
como, por exemplo, os chefes de família, e outros, menos, por exemplo os filhos ou esposas.”

Para além disso, equipara o direito das mulheres com os dos escravos, escravos estes
considerados “não nascidos” e sem direitos, fazendo assim da mulher uma propriedade, um
objeto de direitos. “A pessoa jurídica por excelência não era o indivíduo, mas o pater, que
mantinha sob seu poder e proteção filhos, mulheres, clientes e escravos.”

Noutro artigo sobre o pensamento jusnaturalista no Direito Romano, o autor refere a


proibição feita pelo decreto do senado romano às mulheres, impondo a estas que não
poderiam interceder a favor de homens, garantindo as suas dividas, o que fez com que muitas
das vezes as mulheres ficassem na miséria “O senatusconsulto Veleiano proibiu as mulheres de
intercederem a favor de homens, garantindo as suas dívidas. Isto porque, abusando da
ingenuidade ou falta de experiência das mulheres, os homens conseguiam, principalmente
com promessas de casamento, que garantissem as suas dívidas que depois eram obrigadas a
pagar. As mais das vezes, as mulheres ficavam na miséria e os homens não cumpriam as
promessas de casamento”. Para proteger as mulheres, o senado interveio, justificando a sua
intervenção com a natureza humana das mulheres, pela sua fragilidade e fraqueza.

4. Sociedade Visigoda

À priori de conhecer o papel da mulher no direito Visigótico é importante dar a


entender as origens e caracterização do mesmo. Os visigóticos eram um povo que
tinham estabelecido o seu território previamente na Gália através de uma aliança com
o exército romano, possuindo um contrato em que cediam território em troca de
proteção. Por outro lado, podemos realçar também que o império romano cai na
chegada dos visigodos à península ibérica derrotando os suevos.
O Direito Visigodo (tal como o dos restantes povos germânicos), era de origem
consuetudinária, mas com a perda do nomadismo, e com o contacto com os romanos
dos primeiros reis visigodos, provocou a insuficiência do mesmo. A relação entre as
duas civilizações permitiu aos visigodos desenvolver e possuir autonomia jurídica
através da criação de uma legislação própria escrita e a escrita de compilações de lei.
Através da investigação do Direito Visigodo podemos também realçar que é
influenciado por várias fontes tais como: o Direito Romano ante-justiniane, o Direito
Romano vulgar, usos e costumes visigóticos e romanos, a Doutrina de S.Isidoro de
Sevilha e decisões dos Concílios de Toledo.
5. Presença do Direito da Mulher na Sociedade Visigoda

Apesar de reduzido, o estatuto da Mulher que já tinha sido alcançado em Roma, deixa de
existir no Direito Visigodo.

Na história da legislação visigótica é importante mencionar a compilação de Recesvinto, que


adotou o sistema das compilações romanas de leges, compilação esta que se divide em doze
livros. Considerada a objetividade do tema do trabalho iremos apenas focar nos livros terceiro
e quarto.

O livro terceiro da Lex Visigothorum Recesvintiana leva a designação de “Dos casamentos”,


consequentemente composto por seis títulos.

O Título primeiro retrata os “contratos de casamento” e expõe a minoridade e a discriminação


feita à Mulher, proibindo-a de casar com homens mais novos e as suas limitações em casar
contra a vontade de seu pai.

O Título segundo leva a designação “sobre os casamentos ilícitos”, em que revela a


inferioridade da mulher, quando celebra segundo casamento na ausência de seu marido e o
casamento de uma mulher liberta sem o consentimento dos seus pais.

O Título terceiro leva a designação “sobre o rapto de virgens ou viúvas”, em que denota por
exemplo o facto de um homem livre que rapta pela força uma mulher livre, não lhe é
permitido casar com ela, se for virgem, o que mostra novamente a imagem absurda da mulher
da época que é quase tratada como um objeto.
O livro quarto da Lex Visigothorum Recesvintiana leva a designação de “Da linhagem natural”,
sendo composto por seis Títulos.

O Título segundo leva a designação de “Das sucessões”, em que expõe um patriarcado


profundamente enraizado, no qual caracteriza a superioridade jurídica do marido sobre a
mulher, sendo os filhos os primeiros a herdar dos pais e pela mulher não ter capacidade para
reclamar o que o seu marido ganhou pelo trabalho dos servos desta.

No Título quarto retrata o divórcio e a separação de poderes, em via de regra proibido, em que
mostra mais uma vez a desigualdade na situação jurídica dos homens e das mulheres.

6. Presença do Direito da mulher na atualidade

Não foi encontrada nenhuma entrada do índice de ilustrações.

RESUMO: Ao longo da evolução da raça humana o papel da Mulher e os seus direitos


foram alterando-se, passando pelo Direito Romano e Visigodo. É por isso feita uma
análise na influência e no papel da mulher nas áreas de Direito da família e Direito das
Sucessões. Do mesmo modo, o propósito deste trabalho é apontar as diferenças que
houve entre esses períodos e a atualidade, visto que o direito das mulheres tem vindo
cada vez mais a ser debatido e apoiado.

ABSTRACT: Throughout the evolution of the human race, the role of women and their rights
have been changing, passing through Roman and Visigoth law. An analysis is therefore made of
the influence and role of women in the areas of Family Law and Succession Law. Likewise, the
purpose of this work is to point out the differences that existed between those periods and the
present day, since women's rights have been increasingly debated and supported.

Introdução: Através de uma análise do Direito Romano e Visigodo, com o propósito de


encontrar de que forma a mulher está presente, decidimos mostrar ao leitor a divergência
entre a visão do Homem em relação à mulher, não só pela desigualdade de géneros ser um
tema muito abordado mas também por ser através da mudança de ideologias, de crenças, de
costumes, que o Homem começou a acreditar numa igualdade de géneros.

Bibliografia
Campos, Adriana Pereira

 Da morte ao renascimento social: Direito, escravidão e liberdade na Roma clássica

Pinto, Eduardo Vera- Cruz

 As Fontes para o estudo do direito da família em Roma: algumas breves considerações

Noronha, João Manuel Cardão do Espirito Santo

 Casamento, Parentesco e sucessão no Codex Visighotorum


Barata, Filomena

 A Mulher em Roma. Apontamentos e contributos sobre a condição feminina na Roma


Antiga

Almeida, Elisete S. de

 A Adoção Romana: Adrogatio e Adoptio. Algumas notas delineadoras, desde a lei das
XII tábuas até ao Corpus Iuris Civilis

Justo, A. Santos

 O pensamento jusnaturalista no Direito Romano

Costa, Mário Júlio de Almeida

 História do Direito Português

Você também pode gostar