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Livro Décimo Primeiro e Décimo Segundo - O Espírito das Leis - Montesquieu

1. Liberdade política e sua relação com a Constituição


. Geral: “Distingo as leis que formam a liberdade política em sua relação com a constituição,
das leis que a formam em sua relação com o cidadão” (p.185 cap I) . Liberdade constitucional
age diferente da liberdade individual cidadã.
Liberdade:
● Liberdade pela deposição de um tirano
● Liberdade pelo poder de escolha na eleição daquele a quem devem obedecer
● Pelo direito de se armar e exercer violência pelo seu soberano ou por suas próprias leis
Dentre os povos que adotaram a república e democracias, a liberdade parecia uma
constante. Logo, essas formas de governo e a liberdade em si foram se correlacionando e
confundiu-se o poder do povo com sua liberdade.
❖ Liberdade existe dentro das leis. Ao fazer o que quiser (ou o que as leis proíbem) não
se é mais livre, pois todos os outros cidadãos automaticamente recebem o direito de
faze-las também.
➢ Liberdade existe somente em governos moderados - “o poder deve frear o poder”
(p.186 Cap IV) - Sendo assim necessário a existencia de uma constituição em que
“ninguém será constrangido a fazer coisas que a lei não obriga e a não fazer as que a
lei permite” (p.187 Cap VI).
➢ Constituidos pelos 3 poderes - Legislativo, executivo das gentes e o executivo civil.

Porém, para o autor também não existe liberdade se um poder não estiver separado do
outro, ou seja, se o legislador também puder julgar, o juiz poderia ser arbitrário, se estivesse
ligado ao poder executivo, “o juiz poderia ter a força de um opressor” (p.187 cap VI). Desta
maneira, Montesquieu discorre sobre principes e reis que tornaram-se déspotas pela simples
ação de reunir em si mesmo todas as magistraturas e/ou grandes cargos do seu Estado. Logo,
o poder não deve ser dado a um senado permanente, mas sim a um grupo retirado do corpo do
povo periodicamente a cada ano, ou em um espaço entre eles.

Todos tem o direito de se governar no Estado de Natureza, logo, é necessário que o


povo, no seu conjunto, possua o poder legislativo. Mas a impossibilidade de decisões entre
todos os indivíduos aponta a necessidade do apontamento de representantes que sejam
capazes de discutir os negócios públicos.
(p.190 Cap VI)
■ O povo só deve participar do poder para escolher os seus representantes.
■ O corpo representante não deve tomar ações ativas, mas sim fazer leis e verificar se
suas leis estão sendo cumpridas ao seu total
■ “O poder legislativo será confiado tanto a nobreza quanto ao corpo representante
escolhido pelo povo, cada qual com suas assembléias e deliberações à parte e
objetivos e interesses separados” (p.190 Cap VI).

Deste modo Montesquieu delega o poder executivo ao monarca. A execução das leis e
tomadas de decisões acabam sendo muto mais ordenadas e eficientes (?) quando tomadas
sem grandes deliberações e/ou indas e vindas nas discussões. Porém, o poder executivo não
tem (ou deve ter) o poder de vetar ou barrar os empreendimentos do poder legislativo, uma vez
que tal ação destruiria a legitimidade (ou a razão da existência) de todos os outros poderes.
Por sua vez, o legislativo não necessita do poder de vetar o poder executivo, visto que tendo a
execução limites por si só, é inutil tentar limitá-la.
“Os poderosos estão sempre expostos à inveja e se fosem julgados pelo povo, não
fruiriam do privilégio que o mais humilde cidadão possui de ser julgado pelos seus pares”
(p.193 Cap. VI). Logo, cabe que os nobres sejam levados diante de tribunais compostos de
outros nobres, no caso seus pares, e não aos tribunais ordinários da nação.

➔ “E é admirável que a corrupção do governo de um povo conquistador tenha formado a


melhor forma de governo que os homens puderam imaginar” (p.197 Cap VIII).
➔ “Os Antigos, que não conheciam a divisão dos três poderes no governo de um só, não
podiam ter uma idéia correta da monarquia” (p.197 Cap IX).
➔ “Para amenizar o governo de um só, Arribas, Rei de Epiro, não imaginou senão uma
república. Os molossos, não sabendo como restringir o mesmo poder, escolheram dois
reis: com isso enfraqueciam mais o Estado do que o comando; quiseram rivais e
tiveram inimigos. Somente na Lacedemônia (Lacônia, Esparta) dois reis eram
toleráveis; eles não formavam a constituição, mas eram uma de suas partes” (p. 197
Cap X).

Se utilizando de exemplos do periodo clássico, Montesquieu remonta a ideia de


monarquia como realizada por Aristóteles e os homens clássicos da grécia e itália afim de
acusá-los os erros da sua conceituação. Da parte dos gregos, o autor aponta para os Reis
Heróicos, um dos 5 tipos descritos por Aristoteles, como sendo poderes absolutos, detentores
do legislativo, executivo e juízes, estes que, tornaram-se insuportaveis às massas encerradas
em suas muralhas, logo sendo destituidos e expulsos. “Os gregos não imaginaram a verdadeira
distribuição dos três poderes no governo de um só; só o imaginaram no governo de vários e
denominaram esse tipo de constituição, polícia” (p.198 Cap XI).
Quanto aos itálicos, o livro fala sobre os monarcas que detinham o poder executivo,
porém o erro de deixar o povo como legislador e juíz das causas civis. Logo após a criação de
províncias e delegação dos 3 poderes aos seus governadores. Apesar de tal forma, ainda
aponta a forma de governo como ótima, ou um governo bom que poderia ter sido melhorado.
“Assim, no mundo romano, como na Lacônia, os que eram livres eram extremamente
livres e os que eram escravos eram extremamente escravos” (p.209 Cap XIX). - “Eis o que fez
com que a força das províncias nada acrescentasse à da república, ao contrário, só a
enfraquecesse. Eis o que fez com que as províncias considerassem a perda da liberdade de
Roma como a época do estabelecimento da sua” (p.210 Cap XIX).

2. Liberdade política e sua relação com o Cidadão


. Geral: É possível que a constituição seja livre e o cidadão não seja, ou que cidadão
seja livre e a constituição não ser. Logo, no primeiro caso, o existe a liberdade por direito mas
não de fato, quando no segundo o cidadão será livre de fato mas não por direito.
. Trata-se da particularidade de cada Estado e seus cidadãos em sua relação com as
leis e costumes com a constituição e o quanto ela demanda de liberdade para cada.
2.1. Liberdade filosófica e política do cidadão
● A liberdade filosófica se consiste no exercício de sua vontade ou na opinião que
se tem sobre o exercício da vontade
● A liberdade política se consiste na segurança, ou na opinião que se tem sobre
segurança
● Ambas estão sujeitas a acusações públicas ou privadas.

2.2.Da natureza das penas


Segundo o autor, existem 4 tipos de crime:
1. Contra a religião - “Exupulsão de templos, privação da sociedade dos fiéis, por
um certo tempo ou para sempre; fuga de sua presença. execrações,
detestações, conjurações”. (p.219 cap. IV)
2. Contra os costumes - “O mau uso dos prazeres relacionados ao uso dos
sentidos e à união dos corpos. Sendo suas punições as multas, a desonra, a
coerção que obriga a ocultar-se, a infâmia pública, a expulsão da cidade e da
sociedade.” (p.220 cap. IV)
3. Contra a tranquilidade - “Restrinjo os crimes contra a tranquilidade as coisas que
encerram uma simples violação da ordem, pois os que, perturbando a
tranquilidade, atingem ao mesmo tempo a segurança, devem ser colocados na
quarta classe”. (p.220 cap. IV)
4. Contra a segurança dos cidadãos - “Um cidadão merece a morte quando violou
a segurança a ponto de suprimir uma vida, ou quando tentou suprimi-la. Quando
se viola a segurança relativa aos bens, [...] deve-se ser punido com a perda
destes bem. Porém, sendo os que não possem bens os que habitualmente
atentam contra os bens de outrem, foi necessácio que a pena corporal suprisse
a pecuniária.

“Cumpre ser muito circunspecto no combate à magia e à heresia. [...] Essas acusações
tornam-se perigosas na proporção da ignorância do povo e, desde então, um cidadão encontra-
se sempre em perigo, [...] pois ela não diz respeito diretamente às ações de um cidadão, mas
principalmente à ideia que se faz do seu caráter”. (p. 221 cap. V)
Durante uma forte porção do livro, Montesquieu discorre sobre os crimes de lesa-
majestade, ou seja, crimes cometidos por desrespeito ou desacato a figura do soberano de um
Estado. Considerando crimes de desrespeito a coroa como arbitrários e não explicados quais
são, facilmente tal regra se deteriora a despotismo, sendo que qualquer ação pode ser
interpretada como um motivo para a eliminação de um cidadão ou de toda a sua família.
Da parte da importância dos crimes, o autor recorre a exemplos da antiguidade clássica
e do oriente médio conhecido para ilustrar que um crime menor ser considerado lesa-
majestade, na realidade suprime parte do horror do crime, descaracterizando a condenação de
pena capital sobre o infrator. Ainda sob tal nota, se recorre ao exemplo da antiguidade grega e
romana para exemplificar o perigo, nas repúblicas, de se punir muito severamente os crimes de
lesa-majestade e tentativas de tomada do trono.
Das leis civis capazes de introduzir liberdade no governo despótico
Montesquieu considera válida a existência da religião ou de livros que tracem um perfil
ético e moral de conduta para a sociedade, clamando que o mesmo “completa o código civil e
fixa o arbitrário” (p.235 Cap. XXIX). Assim como o Alcorão para os árabes, o Veda para os
hindus, os Zoroastros para os persas e os livros clássicos para os chineses.
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