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Porém, para o autor também não existe liberdade se um poder não estiver separado do
outro, ou seja, se o legislador também puder julgar, o juiz poderia ser arbitrário, se estivesse
ligado ao poder executivo, “o juiz poderia ter a força de um opressor” (p.187 cap VI). Desta
maneira, Montesquieu discorre sobre principes e reis que tornaram-se déspotas pela simples
ação de reunir em si mesmo todas as magistraturas e/ou grandes cargos do seu Estado. Logo,
o poder não deve ser dado a um senado permanente, mas sim a um grupo retirado do corpo do
povo periodicamente a cada ano, ou em um espaço entre eles.
Deste modo Montesquieu delega o poder executivo ao monarca. A execução das leis e
tomadas de decisões acabam sendo muto mais ordenadas e eficientes (?) quando tomadas
sem grandes deliberações e/ou indas e vindas nas discussões. Porém, o poder executivo não
tem (ou deve ter) o poder de vetar ou barrar os empreendimentos do poder legislativo, uma vez
que tal ação destruiria a legitimidade (ou a razão da existência) de todos os outros poderes.
Por sua vez, o legislativo não necessita do poder de vetar o poder executivo, visto que tendo a
execução limites por si só, é inutil tentar limitá-la.
“Os poderosos estão sempre expostos à inveja e se fosem julgados pelo povo, não
fruiriam do privilégio que o mais humilde cidadão possui de ser julgado pelos seus pares”
(p.193 Cap. VI). Logo, cabe que os nobres sejam levados diante de tribunais compostos de
outros nobres, no caso seus pares, e não aos tribunais ordinários da nação.
“Cumpre ser muito circunspecto no combate à magia e à heresia. [...] Essas acusações
tornam-se perigosas na proporção da ignorância do povo e, desde então, um cidadão encontra-
se sempre em perigo, [...] pois ela não diz respeito diretamente às ações de um cidadão, mas
principalmente à ideia que se faz do seu caráter”. (p. 221 cap. V)
Durante uma forte porção do livro, Montesquieu discorre sobre os crimes de lesa-
majestade, ou seja, crimes cometidos por desrespeito ou desacato a figura do soberano de um
Estado. Considerando crimes de desrespeito a coroa como arbitrários e não explicados quais
são, facilmente tal regra se deteriora a despotismo, sendo que qualquer ação pode ser
interpretada como um motivo para a eliminação de um cidadão ou de toda a sua família.
Da parte da importância dos crimes, o autor recorre a exemplos da antiguidade clássica
e do oriente médio conhecido para ilustrar que um crime menor ser considerado lesa-
majestade, na realidade suprime parte do horror do crime, descaracterizando a condenação de
pena capital sobre o infrator. Ainda sob tal nota, se recorre ao exemplo da antiguidade grega e
romana para exemplificar o perigo, nas repúblicas, de se punir muito severamente os crimes de
lesa-majestade e tentativas de tomada do trono.
Das leis civis capazes de introduzir liberdade no governo despótico
Montesquieu considera válida a existência da religião ou de livros que tracem um perfil
ético e moral de conduta para a sociedade, clamando que o mesmo “completa o código civil e
fixa o arbitrário” (p.235 Cap. XXIX). Assim como o Alcorão para os árabes, o Veda para os
hindus, os Zoroastros para os persas e os livros clássicos para os chineses.
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