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13/12/2021 - Fichamento 02 - Maria Paula Santos Ferreira - Relações Internacionais UFF

MONTESQUIEU, Do Espírito das Leis. In: Col. Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural,
1973

Montesquieu, filósofo iluminista que, nesta obra em questão, aborda acerca da origem
das leis, de como é estabelecido o pacto social e também demonstra o caráter de cada etapa da
formação de uma sociedade. Em oposição a Hobbes, Montesquieu não discute a respeito do
Estado de Natureza, uma vez que, segundo o autor, inexiste na História, um momento onde
os seres humanos não viveram em sociedade, assim, ele conclui que seria uma ideia hipotética
e difícil de conceber. Outrossim, Montesquieu embasa sua obra e os argumentos nela
presentes a partir da análise de sociedades antigas, como Grécia e Roma. Além disso, o autor
acredita que as leis existem em todas as coisas e, diferentemente de Hobbes, Montesquieu não
aborda sobre a artificialidade das leis, dado que as leis positivas correspondem à identificação
das leis naturais. Ademais, cabe destacar acerca do relativismo que propõe Montesquieu no
que diz respeito à melhor forma de governo. O autor argumenta que as leis são singulares e,
portanto, as leis do povo x não se adequam às necessidades do povo y.

1. Definição de lei, de acordo com Montesquieu: “As leis, em seu significado mais
extenso, são as relações necessárias que derivam da natureza das coisas; e, neste
sentido, todos os seres têm suas leis…”
a. Observação: Se as coisas (realidades) mudam, as leis também mudam. Neste
ponto, entra o relativismo de Montesquieu, dado que as realidades na Europa e
na Ásia são diferentes, as leis devem ser diferentes, visto que as necessidades
de cada uma dessas sociedades são distintas.
b. “Existe portanto, uma razão primitiva; e as leis são as relações destes
diferentes seres entre si”.
2. Leis Naturais
a. “Derivam unicamente da constituição do nosso ser. Para bem conhecê-las,
deve-se considerar um homem antes do estabelecimento das sociedades”.
b. “Nesse estado, todos se sentem inferiores; no limite, cada um se sente igual aos
outros. Não se procuraria, então, atacar, e a paz seria a primeira lei natural.”
c. Crítica a Thomas Hobbes: “O desejo que Hobbes atribui em primeiro lugar aos
homens de subjugarem-se uns aos outros não é razoável”.
“Não percebe que está atribuindo aos homens, antes do
estabelecimento das sociedades, aquilo que só pode acontecer após
este estabelecimento, que fará com que encontrem motivos para
atacarem e defenderem-se”. (MONTESQUIEU)
d. Segunda lei natural: Procura da alimentação.
i. O temor levaria os homens a fugirem uns dos outros, mas os sinais de
um temor recíproco faria com que eles se aproximassem.
e. Terceira lei natural: Apelo natural que os dois sexos inspiram um ao outro.
f. Quarta lei natural: Desejo de viver em sociedade.
3. “Dizer que não há nada de justo ou injusto além daquilo que as leis positivas ordenam
ou proíbem é dizer que antes de se traçar o círculo todos os raios não são iguais”.
a. Com tal afirmação, Montesquieu argumenta que os seres humanos estão
factíveis ao erro, à ignorância e, por isso, deve-se relativizar como abordado no
tópico 1.
b. Além disso, o autor compara a realidade humana com o mundo animal. Ao
abordar acerca dos animais, Montesquieu diz: “Possuem leis naturais, porque
estão unidos pelo sentimento; não possuem leis positivas, porque não estão
unidos pelo conhecimento.”. Montesquieu afirma que embora os seres
humanos também possuam suas próprias leis, sendo estas naturais ou positivas,
eles não as respeitam como os animais.
4. Leis Positivas
a. Em oposição à ideia hobbesiana, Montesquieu afirma: “Assim que os homens
estão em sociedade, perdem o sentimento de sua fraqueza; a igualdade que
existia entre eles finda, e seu estado de guerra começa”. “Cada sociedade
particular começa a sentir sua força; o que produz um estado de guerra de
nação a nação”.
i. “Esses dois tipos de estado de guerra fazem com que se estabeleçam
leis entre os homens.”.
1. Direito das Gentes: “Leis na relação que estes povos possuem
entre si.”. Lei referente à relação entre as nações.
2. Direito Político: “Leis na relação entre aqueles que governam e
aqueles que são governados.”.
3. Direito Civil: “Relação que todos os cidadão possuem entre si.”.
ii. Princípios dos Direitos das Gentes
1. “Na paz, o maior bem e, na guerra, o menor mal possível, sem
prejudicar seus verdadeiros interesses”.
2. O objetivo da guerra é a vitória; o da vitória, a conquista; o da
conquista, a conservação”.
a. De tais princípios, derivam todas as leis que compõem o
Direito das Gentes.
5. Definição de Estado Político: “Uma sociedade não poderia subsistir sem um governo.
A reunião de todas as forças particulares, como diz muito bem Gravina, forma aquilo
que chamamos de Estado Político.”.
6. Definição de Estado Civil:”As forças particulares não podem reunir-se sem que todas
as vontades se reúnam. A reunião destas vontades, como diz mais uma vez muito bem
Gravina, é o que chamamos de Estado Civil.”.
7. Definição de leis e singularidade das mesmas
a. “A lei, em geral, é a razão humana […] e as leis políticas e civis de cada nação
devem ser apenas casos particulares onde se aplica esta razão humana.”.
b. “Devem ser tão próprias ao povo para o qual foram feitas que seria um acaso
muito grande se as leis de uma nação pudessem servir para outra.”.
c. “Devem estar em relação com a natureza e com o princípio do governo que foi
estabelecido, ou que se pretende estabelecer; quer se elas o formam, como é o
caso das leis políticas; quer se o mantém, como é o caso das leis civis.”.
8. Espírito das Leis: Todas as relações que as leis têm com cada característica específica.
Exemplo: Relação das leis com suas origens, com o objetivo do legislador, etc.
9. Existem três espécies de governo:
a. Republicano: “É aquele no qual o povo em seu conjunto, ou apenas uma parte
do povo possui o poder soberano.”.
b. Monárquico: “Aquele onde um só governa, mas através de leis fixas e
estabelecidas.”.
c. Despótico: “Um só, sem lei e sem regra, impõe tudo por força de sua vontade e
de seus caprichos”.
10. “Quando, na república,, o povo em conjunto possui o poder soberano, trata-se de uma
Democracia. Quando o poder soberano está nas mãos de uma parte do povo, chama-se
uma Aristocracia.”.
11. “Quanto mais próxima uma aristocracia estiver da democracia, mais perfeita será, e o
será menos à medida que se aproximar da monarquia.”.
12. “A mais imperfeita de todas é aquela na qual a parte do povo obedece na escravidão
civil daquela que manda.”.
13. “Existe a diferença seguinte entre a natureza do governo e seu princípio: sua natureza
é o que faz ser como é, e seu princípio é o que o faz agir. Uma é sua estrutura
particular; o outro, as paixões humanas que o fazem mover-se.”.
14. Para que um Estado popular se sustente, a virtude é necessária.
a. “Os políticos gregos, que viviam no governo popular, não reconheciam outra
força que pudesse sustentá-los além da virtude.”.
15. Do princípio da aristocracia
a. “O governo aristocrático tem por si mesmo certa força que a democracia não
possui.”.
b. “A moderação é a alma destes governos.”.
16. Para Montesquieu, a virtude não é o princípio do governo monárquico, uma vez que as
leis ocupam o lugar de todas estas virtudes.
a. “Nas monarquias, a política promove as grandes coisas com a menor virtude
possível.”.
b. “O Estado subsiste independentemente do amor à pátria, do desejo da
verdadeira glória… etc.”.
c. “Nas repúblicas, os crimes privados são mais públicos, isto é, chocam mais a
constituição do Estado do que os particulares; e, nas monarquias, os crimes
públicos são mais privados, isto é, chocam mais as fortunas particulares do que
a constituição do próprio Estado.”.
17. “Há uma coisa que se pode por vezes opor à vontade do príncipe: é a religião.”.
18. Princípios de cada espécie de governo, segundo Montesquieu. Observação: Não
significa que seja assim, e sim que deveria ser (objetivo).
a. Monarquia: Honra
b. República: Virtude
c. Despotismo: Temor
19. “As leis da educação devem ser relativas aos princípios do governo.”.
a. As leis da educação são as primeiras que recebemos e nos preparam para
sermos cidadãos.
i. Desse modo, cada família deve ser organizada no mesmo modelo da
grande família que compreende todas.
ii. “Se o povo em geral tem um princípio, as partes que o compõem, isto
é, as famílias, também o terão.”. - Está em conformidade com os
princípios de cada espécie de governo citados acima.
20. Liberdade: “ A liberdade é o direito de fazer tudo o que as leis permitem”
a. “É verdade que nas democracias o povo parece fazer o que quer, mas a
liberdade política não consiste em se fazer o que se quer”.
b. “A democracia e a aristocracia não são Estados livres por natureza. A liberdade
política só se encontra nos governos moderados”.
21. “Para que não se possa abusar do poder, é preciso que o poder limite o poder”.
22. Existem três tipos de poder:
a. Poder Legislativo que dá ao príncipe ou ao magistrado o direito de criar leis
por um tempo ou para sempre e corrige ou anula aquelas que foram feitas.
b. Poder Executivo das coisas que dependem do direito das gentes (Poder
Executivo) que faz a paz ou a guerra, envia ou recebe embaixadas, instaura a
segurança e previne invasões.
c. Poder executivo daquelas que dependem do direito civil (Poder Judiciário)
que castiga crimes ou julga os praticantes de tais crimes.
23. “Tudo estaria perdido se o homem, ou o mesmo corpo dos principais, ou dos nobres,
ou do povo exercesse os três poderes: o de fazer as leis, o de executar as resoluções
públicas e o de julgar os crimes ou as querelas entre os particulares.” - Nesse caso em
particular, de acordo com Montesquieu, não existe liberdade.

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