-retomar o pluralismo significa superar o convencionalismo identificado dos pluralismos
“orgânico-corporativista” e “neoliberal-capitalista”, e ligá-lo às condições materiais históricas por uma abordagem interdisciplinar de forma que um idioma não subtraía para si toda a legitimidade em abordar as questões. Aqueles estariam em crise, esgotado o modelo jurídico liberal-individualista em oferecer respostas satisfatórias (eficazes) aos reclamos políticos-sociais de segurança e certeza no atual estágio de evolução das sociedades complexas e conflitivas de massa.
-Pluralismo: múltiplas manifestações ou práticas normativa num mesmo espaço sócio-
político, interagidas por conflitos ou consensos, podendo ser ou não oficiais e tendo sua razão de ser nas necessidades existenciais, materiais e culturais. -Validade: reconhecimento de novas formas de ações participativas dentro da democratização, descentralização e participação - novos sujeitos coletivos calcados na falta e privações cotidianas. -Atentar para o pluralismo como marco teórico, já que a via institucional do estado de regulamentar a vida social não resgata os conflitos do sistema, assim restaura a estabilidade da ordem estabelecida. A via oficial falha, surgem novas formas marginais e alternativas, que carecem de um conhecimento adequado. -Pluralismo clássico da modernidade - nasce da contenda poder absoluto soberano e o movimento contrário a esse monopólio, de forma que repensar isso nos dias de hoje é atentar para as novas necessidades criadas pelo Capitalismo e seus influxos sobre as estruturas dependentes, não apenas olhando para o pluralismo neoliberal da primeira metade do XX. -Propor alternativa pluralista, atenta às contingências históricas periféricas como a latino- americana é em si enfrentar a “questão Estado”, bem como suas transformações e desdobramentos mais recentes e principalmente a organização da sociedade civil, da base para o topo. Especificidades das formas de ser latino-americanas e novos valores assimilados e cultivados como democracia, descentralização e participação. Diferentes grupos, diferentes aspirações, convivendo sobre a democracia, estruturalmente desigual, composta por espaços sociais conflituosos, (lutas de matiz classista e interclassista, seja por contradizer no teor sócio-econômico, ou político-cultural). -Essas reivindicações surgem das contradições postas entre o que é prometido no Direito objetivo do Estado e o que é possível pelas condições objetivas - o desencontro entre racionalidade formal e racionalidade material é radical. Insuficiência do referencial lógico- formal da moderna cultura liberal-burguesa absorve a privações e exigências das estruturas societárias do Capitalismo periférico na virada do XX para o novo milênio. -Quer demonstrar prática e teoricamente a existência de mais meios que de regulamentação instituídos e até agora dominantes, emergentes das interações e das flutuações de um processo de auto-regulação em constante recriação; Quer-se fugir da representação individualista do mundo social, mas proceder pela síntese de todos os interesses cotidianos individuais e coletivos, não tão atento as regras técnico-formais e ordenações genérico-abstratas, mas inspiradas na práxis da vida cotidiana e na auto- regulação comprometida com a dignidade do injustiçado - criar um Direito Comunitário. -Não construída a partir do sujeito enqto essência em si, mas “sujeito-histórico-em-relação”, o sujeito transcendendo os órgãos estatais, não se sujeita ao formalismo a-histórico das fontes convencionais, estando em conflito por lhe faltar algo, sendo que esse processo atrairia a legitimidade, conferindo eficácia. Novos sujeitos coletivos, espaço público participativo, desenvolvimento pedagógico para uma ética concreta da alteridade e a consolidação de processos conducentes a uma racionalidade emancipatória. -Crítica no âmbito do direito: tentativa de outra direção e outro referencial epistemológico comprometido com a mudança e criação de um novo poder de auto-regulação societária. -PLURALISMO NÃO SOMENTE NO CAMPO DO DIREITO, SUBSISTEM OUTRAS PRÁTICAS PLURALISTAS NO ÂMBITO DA POLÍTICA, DA ECONOMIA, DO SOCIAL, DA RELIGIÃO, etc. -XXII/III -traz o que cada capítulo aborda, implicando a obra na cultura jurídica informal com temas essenciais, como legitimidade, redefinição da sanção, transformação do Estado, pedagogia libertária, integração e interdisciplinaridade. CAP 1
1.1Monismo como projeto da modernidade burguês-capitalista
Real compreensão do processo de conhecimento, construções e ordenações valorativas
não passam por esquemas interpretativos ideiais a prior, mas na prática cotidiana que produz a vida social. Não se capta a essência de uma sociedade/sistema/cultura se não pela múltipla constatação inerentes à historicidade humana. Se vc parte do Econômico, prestigia a formação por esse viés, a mesma coisa com o Direito, Ideologia e tb o modelo de organização político-institucional (pluricentral, centralizada, descentralizada). Analisar o Direito junto com o tipo de organização social a que está vinculado, e relações estruturais de poder, de valores e interesses que reproduz. -Formas jurídicas do XVII/XVIII: visão de mundo burguesa, produção capitalista, ideologia liberal-individualista e centralização política por meio da figura de um Estado Nacional Soberano, que passa a ser configurada na dominação racional-legal. Monismo confere: univocidade, estatalidade, racionalidade formal, ctz e segurança jurídica. Essa cultura jurídica tb entra pra crise estrutural, não suportando as profundas transformações econômicas e políticas geradas pela complexidade dos conflitos coletivos, demandas sociais e as novas necessidade criadas pela globalização do Capitalismo e sua inserção nas estruturas sócio-políticas dependentes e periféricas.
1.1.1Capitalismo, sociedade burguesa e estado moderno
Feudalismo: combinação da decadência da sociedade escravista romana e a fragmentação
da sociedade gentílica dominante entre povos nórdicos europeus. Sociedade estamental com base na posse da terra e produção agrária, relações por laços de servidão e hierarquia de privilégios. Pluralismo jurídico medieval é pela infinita multiplicidade de centros internos de poder político (bispos, nobres, universidades, reinos, entidades intermediárias, estamentos, organizações e corporações de ofício). Ideologia corporativa, e não liberal- individualista, valorizando os fenômenos coletivos e os múltiplos corpos sociais, dotado de autonomia interna para as funções políticas e jurídicas - ideia de Ordem tomista-aristotélica. Sistema jurídico múltiplo e consetudinário, embasado na hierarquia de privilégios e nas regalias nobliárquicas, que marca o caráter do Direito medieval como assistemática e pluralista, cada Reino/feudo regido por direito próprio, tendo caráter supletivo e doutrinário o D Canônico, D. Visigótico e essencialmente o Romano, que legitimaria a noção estamental de conservação de privilégio. Posteriormente vem a lex mercatoria, para dar conta de uma realidade nova que surgia, especificamente a de lenta desintegração do Feudalismo entre o XI e o XV. Assim, o Capitalismo irá constituir-se paulatinamente, durante o final da Idade Média e alcançará quase toda Europa depois XVI e XVII. Qual padrão de juridicidade a ser produzido e que atingirá a hegemonia? A resposta vai sendo dada pelo Direito produzido unicamente pelo Estado e seus órgãos enqto referencial normativo da moderna sociedade ocidental, a partir do XVII e XVIII. -Legalidade estatal se torna o projeto de modernidade capitalista burguesa, sendo o Capitalismo, dentre outros existentes na história, um modo de produção e distribuição e consumo de bens, a) marcado pela propriedade privada dos meios de produção contraposta ao trabalhador assalariado formalmente livre e b) pelo sistema de mercado, baseado na iniciativa e na empresa privada c) processos de racionalização do capital e a exploração das oportunidade de mercado para efeito de lucro. -Marx: tanto estado das forças produtivas e as formas de apropriação dos meios de produção de mercadorias, sendo a força de trabalho mesma tornada mercadoria e objeto de troca. -Wener Sombart: essência do capitalismo transcende os meros fatores econômicos, pois suas raízes se prender ao “estado de espírito”, ao “comportamento humano”, o “conjunto de atitudes psicológicas e culturais” que subsistem na sociedade moderna. -Weber “ética protestante e espírito do capitalismo”: capitalismo seria produto histórico do modo racional de pensar as relações sociais no contexto do mundo moderno ocidental, forma particular e determinante de racionalidade que não se faz presente nas demais civilizações. Tanto um processo de racionalidade da vida organizada qto como ethos civilizatório da moderna sociedade ocidental europeia. Mas segundo sua visão, à extinção do mercado sucederia somente o despotismo puro e simples do poder burocrático, ou seja, ele acredita que o mercado é garantia de cálculo racional e autonomia dos sujeitos. -Floresce o capitalismo como perda da autonomia dos pequenos produtores, separados dos instrumentos de produção e subsistência, e coisificação da mão de obra, o que forma o substrato para o surgimento de uma nova classe social proprietária que monopolizará os meios de produção. As classes dominantes não são como antigamente, proprietárias de terras, mas donas de bens móveis. Dinheiro, nomeadamente. Burguesia no início da Idade Moderna é vê-la como insurgente às estruturas feudais em crise, sendo classe intermediária nobreza/clero e campesinato/populares. Enqto no nos fins do XIX e meados XX, já representa setor social proprietário dos meios de produção, depositária da riqueza e do poder político, edificadora da cultura oficial, que nem sempre é a das massas urbanas assalariadas. -Modo de vida, uma certa mentalidade religiosa de “fé” em alguns “valores” como a parcimônia, espírito de grupo mesmo na defesa de um sólido individualismo, rígido puritanismo e estrito cumprimento de normas éticas e comerciais, não tanto por estarem escritas e sim por terem entrado nas convenções. -Marx reconhece o espírito rompante da burguesia com a antiga ordem, mesmo brotando dos escombros da sociedade feudas, não aboliu classes. Mesmo sendo uma evolução, não deixa de indicar o preço do progresso, a burguesia “dilacerou, sem compaixão, todos os complexos e variados laços que prendiam o homem feudal e seus superiores naturais, para só deixar subsistir, de homem para homem, o laço do frio interesse, as duras exigências do pgto à vista. Fez da dignidade pessoal um simples valor de troca, substitui inúmeras liberdades pela liberdade do comércio. Em lugar de uma exploração velada por ilusões religiosas e políticas, a burguesia colocou uma exploração aberta, cínica, direta e brutal. A classe operária, em seu desenvolvimento, parece ser a única não dilacerada no movimento de desenvolvimento burguês, ao qual consegue opor suas vontadades. -Liberalismo como nova filosofia para permitir uma justificação racional para o mundo que assim nascera: liberdade total que está presente em todos os aspectos da realidade. No início, surge como libergade, igualdade e fraternidade, mas no seu desenvolvimento apenas o aspecto liberal é favorecido, denegando a distribuição social da riqueza e excluindo o povo do acesso ao governo. -p 38, Lanzoni: Liberalismo “oferece situações ambíguas, em quase todos seus aspectos. Se, de um lado, prega a liberdade, como bem supremo, limita a ação daqueles que não possuem dinheiro. Revolucionário em relação ao Antigo Regime, é no entanto, conservador em relação às reivindicações populares, volta-se contra as autoridades populares e sobretudo contra a democracia e o socialismo. Núcleo econômico: livre iniciativa empresarial, propriedade privada, economia de mercado Núcleo político-jurídico: estado de direito, soberania popular, supremacia constitucional, separação dos poderes, representação política, direitos civis e políticos Núcleo ético-filosófico: liberdade pessoal, tolerância, crença e otimismo na vida, individualismo. -A ordem então não seria fruto de autoridade externa ou de imposição especial, pois a sociedade seria soma das vontades individuais, vontade coletiva e soberanamente livre e autônoma. Se fosse uma formação autônoma e espontânea de indivíduos iguais e com interesses comuns, possibilitaria a existência de um espaço público, soma de vontades individuais plurais e colocadas nas devidas categorias. Mas o liberalismo coloca toda a agência no indivíduo, e o individualismo enquanto expressão da moralidade social burguesa, prioriza o homem como centro autônomo de decisões econômicas, políticas e racionais. A ação não se justifica pela afirmação interativa com o social, mas em uma subjetividade em que o sujeito racional “sen conhece e se afirmas como individualidade”. P.40 Ver-se-á que tipo de estrutura político-institucional reproduziu e assegurou a especificidade desses novos interesses, a moderna organização estatal do poder, revestida do monopólio da força soberana, da centralização, da secularização e da burocracia administrativa. Marx “a burguesia suprime cada vez mais a dispersão dos meios de produção, da propriedade e da população. Aglomerou as populações, centralizou os meios de produção e concentrou a propriedade em poucas mãos, cuja consequência necessária seria a centralização política. -Transposição da vida policêntria e pluralista feudal para uma instância territorial concentrade, unitária e exclusiva, todo um processo de racionalização da gestão do poder, decorrente das “condições históricas materiais” e da secularização utlitária que desloca o controle sócio-político da Igreja para a autoridade laica soberana. Transposição que evidencia, para a nova cultura política, que o Estado corporifica o “projeto ‘racional’ da humanidade em torno do próprio destino terreno: o contrato social, que assinala simbolicamente a passagem do Estado de natureza ao Estado civil, não é mais do que a tomanda de consciência por parte do homem dos condicionamentos naturais a que está sujeita sua vida em sociedade e das capacidades de que dispõe para controlar, organizar, gerir e utlizar esses condicionamentos para sua sobrevivência. -A legitimidade dessa estrutura unitária e centralizada do poder está em doutrinadores do absolutismo da época, Maquivael (funda moderna ciência política e precursor da unidade estatal italiana), Hobbes e Bodin. -Bodin introduz pela primeira vez, e vincula, o conceito de “soberania política” ao Estado absoluto, cuja autoridade era caracterizada pelo mais alto, absoluto e perpétuo poder sobre os súditos e cidadãos numa comunidade. Em sua “República” faz referência a uma ordem secularizada, com autoridade suprema e com vontade ilimitada, habilitada a promulgar leis para todos e não podendo ter seu poder dividido e/ou restringido, como no dualismo medieval papado x impérior. A doutrina da soberania é fundada no Direito Divino dos reis e uma das mais fortes referências do Estado absolutista, foi no começo, uma contestação contrária às “(...) tentativas de limitar os poderes desses Estados, um proetesto contra as pretensões do Império e contra as pretensões políticas da Igreja Católica Romana”. Qdo o absolutismo deixa de ser aceitável, a linguagem da soberania é preservada, mas agora do Estado/Nação, trocando um soberano pessoal por outro impessoal. -Hobbes, Leviatão: proclama que a essência do estado está em uma só pessoa que possui o poder soberano e é capaz de “usar a força e os recursos de todos, da maneira que considere conveniente para assegurar a paz e a defesa comum. Duas modalidades de adquirir o poder soberano i)Estado por instituição: adquiirido pela força natural, da coação, medo, subordinação ii) Estado político: homens pactuam e “concordam entre si em se submeterem a um homem ou uma assembleia de homens. -Além dessas formulações téoricas, há sempre de se reconhecer as condições históricas materiais e as mudanças estruturais favoráveis à solidificação do “novo ethos”. De forma a captar toda a abrangência da formação de um estado unitário, soberano e centralizado, iniciado entre XIII e XIV e que vai até fins do XVIII, combinando fatores internos e externos das formações sociais ocidentais, bem como o impacto de profundas transformações estruturais, de natureza sócio econômica, político-jurídica, e ético-cultural. Crise no monismo do fim do XX.
1.1.2Direito estatal: formação, ciclos históricos e caracterização
-ligação íntima entre a suprema racionalização do poder soberano e a positividade formal
do Direito. Monópolio estatal da produção do direito, sendo que o princípio da estatalidade desenvolve-se concomitantemente com a doutrina política da soberania, elevada à essencialidade do Estado, que se define em função de sua competência para produzir o Direito e a ele submeter-se (Hannah Arendt sobre autoridade: que a régua não ultrapasse o metro), bem como submeter todas as ordens normativas setoriais da vida social. -Suplantar da burguesia sobre clero/nobreza exige um sistema de normatividade, sendo que mtos identificam primeira manifestação de direito burguês com o Código Comercial no fim da I. Média, precedendo mesmo o direito civil e o direito público. -Princípios jurídicos emergentes, ligados à acepção de poder soberano, ampliam os espaçõs de d. público, e fazem florecer de um direito internacional que regulará a especificidade das relações político-comerciais entre as Novas Nações-Estados. Isso num momento que com a Reforma, se vê o declínio do Direito Canônico e o acolhimento de um corpo de princípios extraídos do Direito Romano. -Direito moderno: junção histórica entre a legalidade estatal e centralização burocrática. Aos órgãos d=o estado moderno são atribuídos competência de fazer e julgar lei, ngm precisa concordar, a legitimidade decorre pq se revestiu a lei da forma oficial de sua feitura. De forma que a lei se projeta como limite de um espaço privilegiado, onde se materializa controle, defesas dos interesses e os acordos entre segmentos sociais hegêmonicos. Mas ao criar, Estado concorda em tb se submeter e fazer que observe-se. Respeitando o limite dos direitos do indivíduos e limitar-se à sua própria legislação, ele consagra das retóricas mais aclamadas, o Estado de Direito. Retórica que permite e justifica uma certa administração, fundada na pretensa neutralidade da legalidade. O Direito Capitalista então mascara os interesses da burguesia enriquecida sobre a unidade, pretende ser igual e supondo uma igualdade formal entre os homens, através da generalização, abstração e impessoalidade. -Firma-se traços históricos do moderno Direito Estatal, com supremacia doutrinária do centralismo jurídico, cuja evolução, ou “fases” consubstam QUATRO GRANDES CICLOS (formação, sistematização, apogeu e crise do paradigma). Formação: fim estado absolutista, mercantilismo, declínio da igreja e fortalecimento aristocrático. Hobbes justifica que ngm pode fazer leis a não ser o Estado, pois sua sujeição é exclusiva a si mesmo, e diria que as leis da natureza não são propriamente leis, elas só se tornam lei com o advento do Estado, já que o poder soberano faz obedecer. Os primórdios do monismo estão da crise feudal, novas necessidades de regulamentação centralizadora das práticas mercantis prevalentes. Sistematização: Rev. Francesa até final das principais codificações do sec XIX, onde se estrutura e ganha hegemonia no ocidente. Período influenciado pelo jusnaturalismo racionalista, tb pelas ideias iluministas (enciclopedistas, constratualistas, eticidade crítico- formal de Kant e finalmente pelo idealismo dialético de Hegel). Não mais se privilegia o monarca, mas um corpo legiferante livre para implementar a vontade geral da Nação, sendo no final XIX na europa prevalente o positivismo histórico-teleológico de Jhering numa parte, e a common law pelo utilitarismo positivista de John Austin. -Rev Francesa atribui uma nova diretriz e novo conteúdo à instância administrativa, pela íntima relação entre unidade política revolucionária e Estado de Direito, em um mandato nacional. Codificações são favorecidade pelos influxos de ordenação do espírito iluminista e de fundamentação racional do jusnaturalismo. Codificação favorece às necessidades de segurança e estabilidade da burguesia qdo passam a viver mais intensamente o Capitalismo Concorrencial. Codificações passam a aparecer com Rev Fr e pela larga ressonância teórica da Exegese, em princípios do XIX. -René David: nessa época de codificações se estabelece vínculo estreito entre Direito e Estado, o qual teria sido ilegitimamente tornado absoluto, nomeadamente pelo positivismo. -Base não é mais direito divino dos reis, mas ideologia jurídica do liberal-contratualismo. Sem essa base para justificar diferenças a burguesia tem problemas em se explicar. Michel Miaille “Direito racional da Rev. Fr. é o direito do homem egoísta, da sociedade burguesa fechada sobre seus interesses, esquece dos homens concretos e proclamas princípios que não tem, exceto para a burguesia, qualquer realidade. Positivismo se empenha em erradicar motivações metafísicas, o Direito se explica pela sua própria materialidade coercitiva e punitiva. -Nessa fase o Direito Estatal fica reduzido ao Direito Positivo, consagrando a exegese que todo Direito não só é Direito enquanto produção do Estado, mas, sobretudo, de que somente o Direito positivo é verdadeiramente Direito. Austin se aproxima mto de Hobbes, apesar de buscar conciliar os princípios utilitaristas com a dogmática positiva. -Jhering tb serviu bastante para os horizontes históricos-sociais de seu tempo, sustentando a tese de que o Direito é um sistema de normas imperativas caracterizadas pela coação e garantida pela força organizada do Estado. Regra de direito sem coação é contra-senso, uma tocha que não ilumina. Mas essa política da força, ou força regulada, Jhering avança ao privilegiar o Estado como instrumento máximo da “força” para qualificar juridicamente a normatividade social, conforme fala em Der Zweck im Recht - Fim no Direito Apogeu : expansão do intervencionismo estatal na esfera da produção e do trabalho, passagem do Capitalismo Industrial para um monopolista “organizado”, sustentado por oligopólios e corporações transnacionais, bem como a partir dos 30’s de políticas distributivas (Keynes). Apogeu com o formalismo dogmático da Escola de Viena (Kelsen). Concepção “entidade jurídica estatal” reflete um “mundo monista formado por uma série de ordenamentos subordinados a uma hierarquia de graus sucessivos, de extensão e eficácia decresentes, desde o ordenamento internacional até ao Estado, entidades autárquicas, pessoas públicas, fundações, etc. Descarda o dualismo estado-direito, fundindo-os. Estado legitima seu poder pela eficácia e validade oferecida pelo Direito, que, por sua vez, adquire força no respaldo proporcionado pelo Estado. Surge no entre-guerras, período de depressão econômica, surto das implementações tecnocráticas e pelo crescimento organizado das forças produtivas sob o intervencionismo estatal, o advento do Estado de Bem-estar social Crise do paradigma: 60/70, novas necessidade de reordenação e de globalização do capital monopolista (de acumulação flexível) e enfraquecimento produtivo do Welfare State (crise fiscal e ingovernabilidade do Estado de Bem-estar). Sedimentos da epistemologia jurídica da legalidade ocidental surgidos do XVII/XVIII e prevalentes no XIX e XX não correspondem mais eficazmente às novas demandas político-econômicas, aumento dos conflitos entre grupos e classes sociais, e ao surgimento de complexas contradições culturais e materiais de vida inerentes à sociedade de massa. ESGOTAMENTO DA LEGALIDADE que sustentou por mais de três séculos, a modernidade burguês-capitalista, mas o Estado persiste a qqr tentativa, pela sua rigidez formal, expresso em diferentes tendências formalistas. Pg 59: Projeto jurídico positivista, descartando as análises de domínio da prática política e das relações sociais, encastelou-se em construções meramente descritivo-abstratas e em metodologias mecanicistas, assentadas em procedimentos lógico-linguísticos. Apesar da roupagem científica de competência, certeza e segurança, na prática perde gradualmente sua eficácia. Descompasso ontológico? -Direitos sociais surgem no entreguerras, sucessivamente ao desenvolvimento das liberdades e direitos civis individuais pelo capitalismo do XVIII e expansão dos direitos políticos da cidadania e do sufrágio no XIX. -Não há Direito sem o Estado e fora do Estado, detendo o monopólio fica evidenciado a função instrumental da moderna organização burocrático-centralizadora, prevalecendo sobre práticas pluralistas, o direito canônico, e os pactos corporativos medievais. -Reale salienta essa relação entre Estado e Direito, aquele personificador e criador deste, excluindo todo que não seja ele mesmo. -Monismo absoluto (Estado=Direito), Estatalismo geral (Estado cria o direito) ou estatalismo parcial (Estado só produz Direito positivo). Unicidade se legitima na justificação de uma concepção social e econômica integrada e harmônica do mundo. Monismo consagra que toda positividade do Direito decorre do Estado. Por outro lado o pluralismo jurídico não deixa de associar Direito com Direito Positivo, como, sobretudo, admite a existência do Direito sem o Estado e equivalente ao do Estado. A sobernania não é una, mas múltipla, sendo a soberania do Estado, quando muito, um superlativo relativo. -Racionalização como fator para compreender os aspectos normativos, institucionais e decisionais do moderno Direito Ocidental. Weber: racionalidade como expressão problemática do mundo moderno, como fio condutor da particularidade da civilização ocidental. É um desenvolvimento prático operado pelo gênio técnico do homem, que desencantaram os poderes mágicos do sagrado e do religioso, impondo ao mundo as necessidades calcadas no progresso da ciência e da técnica - nada mais que para se desenvolver e preponderar, abraça a estatalidade. -Distinção Weberiana entre RACIONALIDADE MATERIAL x RACIONALIDADE FORMAL A material é relacionada à eticidade, prioriza a subordinação dos meios aos fins, quase sempre escolhidos os meios após elencado o fim. A formal é relacionada à ética da responsabilidade (em responder aos fins), pressupõe a subordinação e o enquadramento dos meios às regras de comportamento legalmente oficializadas por autoridades competentes. O liberalismo procede pela racionalidade formal, pela maneira como são decididas e não por seu conteúdo. -José Eduardo Faria: são esse processos que irão “acenturar o caráter altamente formalizante do Estado Liberal, uma vez que a validade do sistema jurídico cujas leis são necessariamente obrigadas a se enquadrar numa rigidez hierárquica de um estatuto legal- racional”, o que evidencia a ideologia tecnoformal do “centalismo legal”.
1.2Crise da Hegemonia e Disfunções do paradigma jurídico.
-Reprodução de um esquema mítico próprio de um modo particular de produção econômico-racional. -Uso do jusnaturalismo para defender algo eterno e universal, mas que é usado para escamotear os destinatários da renda ao falarem em igualdade, liberdade e fraternidade, mas puramente formalista. Cujo máximo do racionalismo formal moderno é o positivismo, ciências das sociedades industriais avançadas, de atuação complexa, reprimindo ao mesmo tempo que supostamente liberta. -Habermas: ciência e técnica como ideologia, de forma generalizada. -Esconde as origens sociais e econômicas da estrutura de poder, harmonizando as relações entre capital e trabalho, eternizando através das regras de controle, a cultura liberal- individualista dominante. -Jusnaturalismo e positivismo tem convergências teleológicas, trabalham com o mesmo material, a ideologia jurídicsa burguesa triunfante, positivistas focam na coerção a ser exercida, enqto defensores do direito natural focalizam as premissas da liberdade humana que a ideologia inevitavelmente formula. Situam-se dentro, e não fora, dos sistemas que examinam. -Iluminismo técnico-científico mais oprime, aliena e desumaniza que liberta, assim como o estatuto da legalidade estatal liberal. De forma que na modernidade positivista nenhum Direito está à altura de reivindicação universalista, não realizando vdd interesse geral, mas o médio de uma elite minoritária. Paradigma jurídico dá forma ao aparelho burocrático estatal e esconde origens sociais, econômica, políticas e fiolosóficas, forjando-se sobre proposições legais abstratas, impessoais e coercitivas. Sistemática do Direito identificado com a lei, minimizando suas fontes formais, as múltiplas exteriorizações normativa representada pelos corpos sociais autônomos (sindicatos, assembleias, corporações, etc. -Crise do capitalismo monopolista e consequente globalização e concentração de capital, colapso da cultural liberal-individualista, em descompasso com os novos sujeitos sociais, defende interesses e valores que pela mudança paradigmática já não representam os inteiros objetivos das condições de vida presentes. Intala-se crise de legitimidade e tb na produção e aplicação da justiça. Dissossiação gradativa do racionalismo formal enqto processo ideológico-justificador de mundo e de racionalidade material enquanto prática social marcada por novas formas de conflito e demandas, até mesmo o capitalismo em seu novo ciclo deseja mudanças e evoca a “crise dos paradigmas”, sendo evidente a incapacidade das ciências humanas em tratar eficazmente da totalidade das situações do homem em face das distorções das formas de “verdades” tradicionais e dos obstáculos epistemológicos ao saber vigente. -Crise aparece com agudização das contradições das práticas vigentes das classes dominantes, sendo prenúncio de quebra de ordem. Seriam perturbações mais duradouras que não são resolvidas e fogem do controle e da integração de um dado sistema sócio- cultural. Pag 71 Jaguaribe: crise no que diz repeito a valores, condutas éticas e normativas, mais precisamente quando o comportamento entrar em conflito com a norma, criando-se assim uma situação de desconformidade e contradições entre a ordenação reguladora e o procedimento que aquela supostamente condiciona. -Não são situações individualmente considerada, mas sempre relacionais. Sendo caract marcanete da crise sua transitoriedade, nada pode ficar indefinidamente em quebra ou ruptura, procede por superar as estruturas, reformar ou simplesmente as mantém. Discorrer sobre a crise significa procurar caminhos, relevando aspectos endógenos/exógenos na mistura funcional ou estrutural. -Racionalidades parciais não mais se articulam umas com as outras, gerando graves disfunções estruturais para a consecução do equilíbrio social. Crise no direito não é setorial ou isolada, mas sobre suas fundações e paradigmas norteadores da modernidade. Pq 72: CRISE SUBJETIVA x REAL -Subjetiva: visão individualizada, de liberalização das energias -Real: trata-se de um sistema jurídico que não funciona, ou que começa a ter dificuldade em manifestar sua vontade. Denota sempre a disfuncionalidade, a falta de eficácia ou o esgotamento do modelo ou situação históricas, aceitos ou tradicionalmente vigentes. -Crise fica maior para os limites que se impõe à validação do saber científico e nos pressupostos de fundamentação da verdade. Ao que Thomas Kuhn formula seu conceito de “paradigma” para mostrar o limite. Limitação epistemológica e tb diz respeito ao que Pocock fala em linguagens do ideário político, sobre o condicionamento de um idioma sobre o pensamento. Kuhn não vê a evolução do sistema como algo histórico e linear, mas de saltos epistemológicos, onde um paradigma só é abandonado qdo surge e se adota outro, qdo o velho já não conseguir resolver inteiramente os problemas e o novo é demonstradamente capaz, sendo adotada pela comunidade científica. A resolução das crises e o processo de substituição dos paradigmas dependem de uma revolução científica, instaurado qdo um segmento da comunidade científica entende que o velho é incapaz de explicar um aspecto considerado importante. Tendo-se consciência da crise, começam a competir paradigmas em reorganizar as ciências segundo seus termos. Postura epistemológica que partilha uma concepção relativista da ciência, cuja trajetória é pontuada por rupturas não-cumulativas. Crise é pré-condição para a revolução e emergência de novas teorias/paradigmas. -Dogmática jurídica hegemoniza um entendimento, que é dentro de uma hierarquia, imparcial, se prentende científico. O problema da dogmática quanto ao real saber é que fica adstrita a um conhecimento formalista, afastado da realidade cotidiana. Deixa de resolver problemas e informar diretivas de convivência social. Incompatível a dogmática e seu paradigma com a natureza coletivas dos conflitos grupais e classistas. Abandonar a rígida identificação do Direito com Lei, e revisão do princípio do monopólio de produção normativa. Apesar do novo paradigma não estar acabado, o atual mostra esgotamento, marcadas por estruturas de igualdade precárias e pulverizadas por espaços de conflitos intermitentes. -EXISTE O PLURALISMO DE CUNHO CONSERVADOR: conveniente ao atual estágio capitalista globalizado, abarcado pelo neoliberal dos países de centro exportadores de técnica, econômicos e culturalmente para a periferia, e perpetuando seus interesses em privatizar e liberalizar em contextos periféricos que vivem sob elites selvagens e egocêntrias, sintoma trágico do desajuste, do conflito globalizado e da crise permanente. Esse pluralismo quer normatizar junto com o Estado, muitas vezes parecendo prescindir deste. -Ao que se propõe um PLURALISMO DESIGNADO DE COMUNITÁRIO-PARTICIPATIVO em um espaço público aberto e compartilhado democraticamente. Assegurando que o processo histórico se encaminhe por vontade e sob controle de bases comunitárias.
CAPÍTULO II - O ESPAÇO DA CRISE CONTEMP - A JUSTIÇA NO CAPIT PERIFÉRICO
BRASILEIRO -esgotamento afeta o ocidente como um todo, independente do seu estágio de desenvolvimento industrial, avanço técnico-científico e nível de modernização das instituições. -Importante estabelecer o significado de “capitalismo periférico”: modelo de desenvolvimento que estabelece dependência, submissão e controle das estruturas sócio- econômicas e político-culturais e/ou nacionais aos interesses das transnacionais e das economias dos centros hegemônicos. Restringe à A. Latina o papel de disponibilidade de mão-de-obra, dos baixos salários e do monopólio das fontes de matéria-prima barata, exporta produtos primário e importadora de capital e tecnologia. -O capitalismo constantemente se recompõe em “ciclos”, impondo-se estratégias de dominação que aparece sob forma de moeda-padrão (dólar), políticas “protecionistas” do comércio e do mercado (Bretton Woods 1944, GATT 1947) e constituição de organizações financeiras, tipo Banco Mundial e FMI. Condição periférica evidencia as contradições norte-sul, institui-se um “dependente associado”. -A despeito desse desenvolvimento de traços comerciais e utilitaristas, se compartilha um centro de valores comuns (Direitos humanos, preservar meio ambiente, pacifismo, combate à ameaça nuclear, etc. Na soc industrial avançada há certa preocupação em preservar as particularidades que justamente os separam, priorizando o Direito não só como estrutura normativa, mas como relação social, reflexo cultural da confluência de uma determinada produção econômica com as necessidades da formação social e da estrutura do poder predominante. -Nas sociedades industriais avançadas consegue-se avançar nesses direitos, discutindo ecologia, consumo, distribuição, enqto nas periféricas e dependentes se prioriza direitos civis, políticos, sócio-econômicos, pelo controle do conlito latente relacionados às carências materiais e às necessidades de sobrevivência, marcada por uma ordem normativa marcada pela coerção, repressão e penalização. - Contraposição deixa claras as incongruências e a falência
A Eficácia Horizontal Dos Direitos Fundamentais e Os Limites Ao Princípio Da Autonomia Da Vontade Nos Contratos: Uma Breve Visão Da Constitucionalização Do Direito Civil