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Módulo 2 - Mudanças Recentes Na Administração Pública e Seus Impactos No Brasil
Módulo 2 - Mudanças Recentes Na Administração Pública e Seus Impactos No Brasil
Pública e Contexto
Ins�tucional
Contemporâneo
Módulo
2 Mudanças recentes na
Administração Pública e
seus impactos no Brasil
Fundação Escola Nacional de Administração Pública
Presidente
Diogo Godinho Ramos Costa
Enap, 2020
Referências..................................................................................... 18
Para você entender a ação do Estado hoje, é muito importante compreender a relação entre
Administração Pública e polí�cas públicas. Acompanhe a explicação no vídeo a seguir.
Isso ocorre como resultado do fortalecimento dos movimentos socialistas, especialmente após
a Revolução Russa de 1917. O século XX foi marcado pela disputa entre movimentos socialistas,
que denunciavam as profundas desigualdades provocadas pelo capitalismo, especialmente ao
entrar em sua fase monopolista, e os movimentos de extrema direita, organizados como oposição
aos primeiros.
Uma das estratégias para impedir o avanço do socialismo nas economias capitalistas,
especialmente da Europa ocidental, foi a implementação de polí�cas de promoção do bem-estar
social defendidas pela ideologia socialista. Concretamente, não houve um modelo padrão de
estado de bem-estar social, também conhecido pelo termo em inglês welfare state, mas vários:
No entanto, é interessante observar que a ins�tuição dos estados de bem-estar social implicou a
ampliação do papel estatal como provedor de polí�cas para a sociedade e, consequentemente,
tornou esse papel mais complexo.
Uma das consequências é a necessidade de separar a gestão da máquina pública, que con�nua
a contar com a configuração burocrá�ca, da gestão das polí�cas públicas, que demanda mais
dinamismo e flexibilidade do aparato administra�vo. Isso tem implicações inclusive nas relações
entre Estado e sociedade e entre Administração Pública e governo.
Após esse período, houve um revezamento de períodos de maior intervenção estatal na economia
e nas polí�cas sociais com períodos de predominância do liberalismo, devido ao avanço do new
public management (NPM). Porém, o Estado não abandonou o papel de provedor de polí�cas
públicas, sejam elas regulatórias, distribu�vas ou redistribu�vas, e olhar a organização estatal a
par�r da sociedade passou a ser uma necessidade governamental.
A par�r da crise de 2008, passou a exis�r um novo debate sobre a função do Estado em um mundo
globalizado, onde o que ocorre em um país influencia diretamente os demais. É importante
ressaltar que as polí�cas públicas variam de um país para outro, de acordo com sua inserção no
mundo globalizado, seu nível de desenvolvimento econômico e de homogeneidade social.
Entendendo essa definição, podemos enfa�zar dois elementos essenciais: a tomada de decisões e a
transformação dessas decisões em ações que produzam resultados para a sociedade.
O primeiro nos remete à decisão polí�ca tomada por um conjunto de atores, ou seja, ao seu conceito.
Pode-se afirmar que a origem de toda polí�ca pública é uma decisão polí�ca. Na democracia
representa�va, as principais decisões passam pelo Poder Legisla�vo, composto por representantes
eleitos cuja prerroga�va é tomar decisões de interesse cole�vo. No entanto, esse processo é mais
amplo e, na maioria das vezes, também conta com a par�cipação de outros atores polí�cos.
Uma reflexão importante sobre essa questão é trazida por David Easton (1953): as decisões
sobre polí�cas públicas resultam do processamento pelo sistema polí�co dos inputs,
com origem na sociedade, e dos withinputs, com origem no próprio sistema polí�co..
O segundo nos remete à definição de obje�vos e meios para alcançá-los, ou seja, a uma ação que
produza resultados. No entanto, antes de ser executada, é necessário planejar essa ação tanto
em termos de estabelecimento de diretrizes, obje�vos e metas, quanto em relação às estratégias
mais adequadas para sua implementação. Com isso, o planejamento e a implementação devem ser
tratados como interdependentes.
Assim, é importante refle�r sobre a complexidade desse processo, pois uma polí�ca pública impacta
várias áreas da ação governamental e está sempre sujeita a redefinições. Sobre isso, Saraiva (2006,
p. 29) explica:
Tal complexidade levou a um intenso esforço para racionalizá-lo, a exemplo da criação de �pologias
ou sistemas classificatórios, tanto para se entender os �pos e suas especificidades, quanto para se
organizar o processo da sua gestão, denominado ciclo da polí�ca pública.
Quanto aos �pos, conforme aponta Secchi (2014), usou-se diversos critérios, como a relação entre
custos e bene�cios, saliência e complexidade, nível de conhecimento e intencionalidade dos gestores
de polí�cas públicas e a relação entre técnica e polí�ca.
No entanto, o mais u�lizado é o desenvolvido por Theodore Lowi (1972), cujo critério é o impacto no
financiamento e no acesso aos resultados produzidos esperado pela sociedade. Ele divide as polí�cas
públicas em quatro �pos: regulatórias, distribu�vas, redistribu�vas e cons�tu�vas, conforme
definidos por Secchi (2014):
A �pologia mais usual sobre o ciclo das polí�cas públicas inicia com a entrada de um tema na agenda
governamental e conclui com a sua avaliação. No entanto, o conceito de ciclo nos remete à ideia de
movimento, ou seja, cada etapa alimenta a seguinte e a úl�ma alimenta a primeira.
Cabe ressaltar que essa retroalimentação não é linear, isto é, as etapas não seguem uma sequência
encadeada e con�nua. Ao contrário, as polí�cas públicas estão sempre em movimento, de acordo
com Wu, Ramesh, Hawle� e Fritzen (2014, p. 21): “[...] as a�vidades das polí�cas não ocorrem em
‘estágios’, com uma progressão linear de um para o outro”. A avaliação de uma polí�ca pública, por
exemplo, produz insumos que indicam a necessidade de reformulação e sua implementação.
Para compreender o ciclo das polí�cas públicas, dadas sua obje�vidade e sua simplicidade, os
referidos autores (WU; RAMESH; HAWLETT; FRITZEN, 2014) u�lizam a seguinte �pologia: as funções
gerais da criação de polí�cas públicas que os gestores públicos podem realizar consistem em cinco
a�vidades essenciais. São elas:
Para uma questão social fazer parte da agenda governamental, avalia-se a sua capacidade de angariar
apoio polí�co e o apelo eleitoral que ela representa. Os polí�cos, os quais definem as questões que
farão parte da agenda governamental, têm maior propensão a contemplar temas com maior apelo
eleitoral, mas consideram também os que possuem potencial para provocar desgastes, mesmo que
não sejam populares.
Outro aspecto relevante foi a introdução das janelas de polí�cas públicas por John Kingdon (2003):
são conjunturas favoráveis para uma questão social fazer parte da agenda governamental. Wu,
Ramesh, Howle� e Fritzen (2014, p. 37) as dividem em quatro:
Na etapa de formulação, são levantadas alterna�vas para sua implementação. Além disso, é
fundamental analisá-las em relação aos impactos polí�cos, aos custos, aos arranjos ins�tucionais
necessários à implementação, ao tempo necessário à produção de resultados e aos apoios
polí�cos atraídos.
• Modelo dos fluxos múl�plos: Entende-se que o fluxo dos problemas depende
da atenção do público; o fluxo das soluções depende da atuação dos empreendedores,
pessoas que querem ter suas soluções implementadas; e o fluxo da polí�ca varia de
acordo com eventos especiais, tais como desenho e aprovação do orçamento público,
reeleições, subs�tuição de membros do Execu�vo, refinamento de programas públicos.
Em seguida, tem-se a fase mais complexa: implementação. Nela, novos atores entram no
processo, a exemplo da burocracia do nível da rua, atuante na esfera operacional.
Além disso, há problemas relacionados ao fato de, no planejamento, não terem sido consideradas
todas as variáveis que impactam a polí�ca pública; ao fato de que as conjunturas podem se alterar
entre a formulação e a implementação; e problemas relacionados a disputas entre ins�tuições
governamentais, com interesse em executar a polí�ca pública como forma de ampliar o poder e
o orçamento.
Apesar de ser apresentada como úl�ma, a avaliação perpassa todo o ciclo. É um sistema de
julgamento qualificado, a par�r dos resultados ob�dos por meio de métodos legi�mados
sobre resultados e meios u�lizados para alcançá-los. São vários os seus �pos, definidos a par�r
Quanto à fase da polí�ca pública em que a avaliação é realizada, ela é classificada como ex-ante
ou ex-post:
Quanto aos obje�vos pretendidos, ela é classificada como avaliação de processos e avaliação de
resultados:
Quanto a quem realiza a avaliação, ela é classificada como interna, externa ou par�cipa�va:
Por fim, o mais importante é compreender a ação do Estado pela perspec�va das polí�cas,
implicando maior complexidade para a Administração Pública. Assim, ressaltamos a necessidade
de se buscar modelos mais dinâmicos e flexíveis de administração pública, a fim de atender ao
processo das polí�cas públicas e suas especificidades. Enfim, é essencial fornecer condições para
a integração das polí�cas públicas.
Assim sendo, a Administração Pública precisa ser flexível para se adaptar às especificidades da
polí�ca pública e à sua dinâmica no tempo. Simultaneamente, ela necessita funcionar de forma
integrada e coordenada.
No mundo todo, as sociedades têm passado por transformações significa�vas, tornando-as cada
vez mais complexas e desafiadoras. Consequentemente, exige-se esforços estatais na busca de
respostas eficazes e efe�vas para problemas sociais e econômicos. São solicitados novos arranjos
Cabe destacar que o Brasil possui realidades dis�ntas e desafiadoras para a promoção de um
modelo de desenvolvimento territorialmente equilibrado. Estudo desenvolvido pelo então
Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (BRASIL, 2008, p. 24-25) aponta que:
Outro aspecto que impacta a gestão das polí�cas públicas é a complexidade da nossa nação
Assim sendo, o Estado e a Administração Pública devem estar abertos a mudanças e inovações
necessárias, viabilizando modelos de gestão voltados à ação empreendedora e à efe�vidade
dos resultados. Nesse sen�do, todos os sistemas estruturantes e disposi�vos administra�vos no
setor público, a exemplo do processo orçamentário, da logís�ca e da gestão de pessoas, devem
convergir para tornar a máquina administra�va mais célere e responsiva aos interesses e às
necessidades da sociedade em geral e dos cidadãos em par�cular.
Peters (2008, p. 290) resume de forma didá�ca os principais elementos desse modelo:
À Administração Pública caberia a gestão dos órgãos públicos, cuja responsabilidade seria a
formulação das polí�cas públicas e não a sua execução. Esses órgãos públicos deveriam também
estabelecer mecanismos de gestão centrados no desempenho individual e na compe�ção. Lustosa
da Costa (2008, p. 866) resume essa estratégia, denominada administração pública gerencial, da
seguinte forma:
Como resultado, há um reconhecimento sobre os impactos posi�vos no ajuste das contas públicas
e o estabelecimento de um modelo fundamentado no equilíbrio e na responsabilidade fiscal. Este
úl�mo é apontado como um dos principais problemas enfrentados pelo Brasil no fim do século XX.
Porém, como admite esse mesmo autor (PETERS, 2008), do ponto de vista da Administração
Pública, algumas propostas do modelo gerencialista não geraram os efeitos esperados após
sua implementação. Além disso, surgiram outros problemas, por exemplo, o distanciamento
da execução da ação pública, especialmente no que se refere às agências autonomizadas, em
relação à polí�ca. Em outras palavras, houve uma perda de controle da Administração Pública
por parte do sistema polí�co, representando um problema para a democracia.
Outra questão fundamental foi o aumento das dificuldades na coordenação das polí�cas públicas,
uma vez que as agências execu�vas tendem a se concentrarem em seus negócios e dependem
da ação de outras áreas de governo, sobre as quais não têm qualquer ascendência. No entanto,
a solução de questões complexas demanda a atuação integrada e coordenada.
Por fim, outro aspecto com resultados aquém do esperado foi a aposta exagerada no desempenho
individual. Por um lado, a maior parte dos resultados alcançados pela Administração Pública são
decorrentes do desempenho das organizações. Por outro, é muito di�cil fazer a transposição
dos resultados organizacionais para resultados individuais desagregando-os. Ademais, mensurar
resultados em áreas como a de formulação de polí�cas públicas é uma tarefa complexa, que
depende da construção de indicadores qualita�vos, não obje�váveis.
Assim sendo, a par�r da reforma com foco na superação do modelo burocrá�co, é fundamental
a busca por estratégias que visem ao aprimoramento da Administração Pública. Essas estratégias
devem ser fundamentadas nas seguintes premissas:
Uma das propostas nesse sen�do é a governança em rede. Como defendem Denhardt e Catlaw
(2017, p. 292-293):
A busca de estratégias e arranjos que respondam de forma eficaz à nova realidade da Administração
Pública é um grande desafio e precisa ser feita por meio de aprendizagem associada à inovação.
Portanto, não se trata de um retorno a paradigmas anteriores e nem de uma ruptura radical com
o processo de modernização.
No Brasil, esse é um processo ainda mais desafiador, porque a Administração Pública, em que
pese aos avanços alcançados, ainda apresenta significa�vas fragilidades. Isso reflete na sua
capacidade de responder com qualidade e tempes�vidade aos desafios do século XXI, em
especial às crescentes demandas da sociedade brasileira.
Referências
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1953.
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KINGDON, J. W. Agendas, Alterna�ves and Public Policies. 2nd. ed. Ann Arbor: University of
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LOWI, T. Four Systems of Policy, Poli�cs and Choice. Public Administra�on Review, Berkley, v. 32,
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SECCHI, L. Polí�cas Públicas: conceitos, esquemas de análise, casos prá�cos. 2. ed. São Paulo:
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LUSTOSA DA COSTA, F. Brasil: 200 anos de Estado; 200 anos de administração pública; 200 anos
de reformas. Rio de Janeiro: RAP, 2008.
WU, X., RAMESH, M., HOWLETT, M.; FRITZEN, S. Guia de Polí�cas Públicas: gerenciando processos.
Brasília: Enap, 2014.