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OS DESAFIOS DO LIBERALISMO

POLÍTICO NO SÉCULO XX

História das Ideias Políticas


NOVA School of Law
O ESTADO SOCIAL

• O desenvolvimento do Estado Social é provavelmente o desenvolvimento mais importante e consequente das


democracias liberais no século XX;

• Ecos das preocupações sociais da Revolução Francesa; pressão dos movimentos socialistas; tendências naturais
do capitalismo desregulado para crises cíclicas e para a criação de uma estratificação social rígida;

• Uma definição (neutra) de estado social pode ser destilada da seguinte forma: “the power of a democratic state is
deliberately used to regulate and modify the free play of economic and political forces in order to effect a redistribution
of income” (Freden, 2003);

• Outra perspectiva importante é a de que o desenvolvimento do Estado Social representa uma resposta
colectivista aos individualismo estruturante do liberalismo (económico e político);

• O desenvolvimento do Estado Social é, em alguns casos, mais uma resposta a pressões sociais do que projeto
ideológico claramente assumido.
O ESTADO SOCIAL

• Três categorizações do Estados Social: Esping-Andersen, “The Three Words of Welfare Capitalism”, 1990:

• Estado Social liberal: baseado em mecanismos modestos e means-tested de assistência social, direcionadas a
classes sociais baixas; encorajamento de soluções market-based para problemas sociais de forma indireta
(garantia de mínimos) e direta (subsidiação de mecanismos privados de assistência social); exemplo: EUA;

• Estado Social conservador: tendem a privilegiar dinâmicas de assistência social baseadas no núcleo familiar;
assistência social tendem a excluir mulheres fora do mercado de trabalho e a conceder benefícios à
maternidade; assistência estatal apenas intervém se a unidade familiar não for capaz de providenciar a assistência
necessária;

• Estado Social social-democrata: baseados na ideia de descomodificação de certos bens sociais e da assistência
social; socialização de custos sociais e comprometimento com altos níveis de despesa social estatal; promoção
de altos níveis de igualdade material e redistribuição ativa de rendimentos.
O ESTADO SOCIAL

• Os primórdios do Estado Social assentam na ideia de uma normalização dos riscos sociais e de promoção de uma
nova forma de igualdade: igualdade de oportunidades;

• Doença, incapacidade, desemprego e outras formas de degradação social eram vistas como aleatórias; a ideia de
“segurança social” pretendia normalizar e socializar certos riscos de participação na economia de mercado;

• Pensões, subsídios e outras formas de assistência social (à qual se vão associar também as pensões por velhice)
foram os primeiros mecanismos de desenvolvimento do Estado Social;

• Com o desenvolvimento do século XX, a ideia de igualdade de oportunidades foi se expandindo até à socialização
de certos bens sociais mais proactivos: saúde e educação;

• Há uma transformação marcada na forma de encarar a natureza humana e as relações sociais: de uma visão da
pobreza como uma imposição indesejável aos mecanismo do capitalismo e individualismo político, para uma
“legitimação da necessidade”.
O ESTADO SOCIAL

• No pós-Grande Depressão, a intervenção estatal ganhou um poderoso aliado na popularização do Keynesianismo


como modelo de intervenção económica do Estado;

• Através de demand-side economic policies, a intervenção estatal passou a ser vista não como uma desvirtuação do
sistema económico capitalista, mas como um mecanismo de correção das suas tendência de “destruição criativa”;

• New Deal de Roosevelt: programa de estimulo económico estatal (do lado da procura) para responder a uma
crise de sobreprodução (do lado da oferta), através de mecanismos de proteção social (que garantiam a
manutenção dos meios mínimos de participação económica e de projetos estatais infraestruturais destinados a
reiniciar o crescimento económico;

• Intervenção gradualmente foi transformando-se em regulação.

• Crise de 1973 como uma crise do keynesianismo e do Estado Social: estagflação e emergência do neoliberalismo
da década de 1980.
A EXPANSÃO DA DEMOCRACIA

• Outro fenómeno crucial para o desenvolvimento das democracias liberais no século XX foi a expansão do
sufrágio;

• Primeiro a abolição do voto censitário, para a sufrágio masculino universal para o sufrágio verdadeiramente
universal: massificação da democracia;

• A introdução das massas trouxe considerações bastante próprias: por um lado, o elemento psicológico da
política de massas (mais emotivo e menos racional);

• Por outro lado, a massificação da sociedade (política) é acompanhado por novos instrumentos de organização
social massificada (personificada em burocracias públicas e privadas que deram origem a uma manegerial
society);

• Finalmente, o declínio das elites tradicionais substituídas por dois tipos contrastantes de líderes: demagogos e
tecnocratas; aprofundamento da divisão urbano-rural;
A EXPANSÃO DA DEMOCRACIA

• Esta massificação a política levou a uma reconfiguração da linguagem democrática em termos que ainda hoje nos serão
familiares;

• Transformação da massa social numa massa eleitoral, atribuindo-lhe as mesmas características da mulidão;

• Transformação dos partidos políticos: de partidos de elites para partidos de massas, dominados por formas de decisão,
mobilização e ação descentralizadas e coletivas;

• O surgimento de novas elites políticas, colocadas entre as massas eleitorais e as máquinas partidárias;

• Este três elementos combinaram-se, curiosamente, na negação de uma política democrática em sentido estrito: era
impossível mobilizar permanentemente uma massa tão alargada de indivíduos para a política participativa ativa: os
partidos (intermediadores entre o Estado e o Soberano popular) passam a ser os atoes políticos primários;

• Duas temas fundamentais (e paradoxais): grande variabilidade local e fundamentos de uma sociologia política.
NACIONALISMO E IMPERIALISMO

• Durante o século XX, pelo menos na sua primeira metade, o desenvolvimento e crise das democracias liberais
acompanham o desenvolvimento do nacionalismo e do imperialismo;

• O nacionalismo no século XX aproveita a onda da massificação da política para construir a identidade nacional
como a principal das identidades comunitárias nestas sociedades;

• A Primeira Guerra Mundial é uma guerra que começa como uma guerra imperial e termina como uma guerra de
Nações; esta dinâmica vai prolongar-se e agravar-se com as crises da democracias no período inter bella e pela
Segunda Guerra Mundial;

• As dinâmicas imperais vais manter-se sob várias capas durante a primeira metade do século XX;

• O Pós-Segunda Guerra Mundial, depois do colapso dos impérios centrais na Primeira Guerra Mundial, vai dar
origem ao colapso dos impérios coloniais e a um afirmação mais plena do princípio da auto-determinação.
O PENSAMENTO ANTI-LIBERAL E O
FASCISMO NO SÉCULO XX

• A primeira metade do século XX vai também assistir ao surgimento de uma das ameaças mais existenciais ao
liberalismo político e às democracias liberais;

• Hannah Arendt em “A Origem dos Totalitarismos” (1951) identifica as raízes desta vaga de pensamento anti-liberal
em duas fontes principais: antissemitismo e imperialismo colonial (ambas fundadas na ideia de distinção e
hierarquia);

• Roger Griffin dá aquela que é a definição mais sucinta de fascismo (que marca tanto o fascismo italiano como o
nazismo alemão): ultranacionalismo palingenético;

• O fascismo vai ganhar terreno principalmente no período inter bella, mas tem raízes mais antigas, e está
profundamente associado à devastação social, económica e política deixada no rasto da Primeira Guerra Mundial;

• A ascensão de movimentos fascistas vai verificar-se um pouco por toda a Europa (até em países como o Reino
Unido, sem nunca chegar ao poder) e vai ter como expoentes máximos o regimes italiano, alemão e japonês que
formaram o Eixo da Segunda Guerra Mundial.
A REVOLUÇÃO RUSSA E O SOCIALISMO
APLICADO

• A par da Revolução Francesa, a Revolução Russa é provavelmente um momento revolucionário mais marcantes da
história europeia contemporânea;

• Desenvolvimento do marxismo-leninismo: concretização das teses marxista em programa político concreto e


aplicado ao contexto da Rússia pós-imperial; especificamente, uma densificação das ideias de Marx sobre a ditadura
do proletariado;

• Desenvolvimento de outras correntes influentes de marxismo (trotskismo e, mais tarde, maoismo) e cisões no
movimento da Internacional Socialista (corte com os social-democratas na Terceira Internacional);

• Um elemento importante o desenvolvimento do marxismo-leninismo no século XX foi o papel de liderança da


União Soviética no contexto da Guerra Civil: da revolução mundial para o socialismo num só país, para os caminhos
nacionais para o socialismo, à Doutrina Brehznev;

• Gradual colapso do marximo-leninismo russo no totalitarismo estalinista.


TOTALITARISMO

• O totalitarismo surge como um conceito que não é particular do fascismo (apesar dos fascismos serem, pela natureza
dos seus métodos totalitários), mas que o estalinismo adaptou também ao aparato conceptual do marxismo russo;

• Em “A Origem dos Totalitarismo”, Arendt classifica o totalitarismo não como uma ideologia, mas como uma
metodologia política, incompatível com o liberalismo político, onde cabem tanto o fascismo italiano, como o nazismo,
como o estalinismo;

• A estratégia do totalitarismo é estabelecer um controlo total e completo sobre os indivíduos que constituem um
determinado povo; principais instrumentos: propaganda, estruturas de mobiliação e indoctrinação política, estruturas
de controlo e repressão (polícias secretas, censura, etc);

• Eliminação sistemática do dissenso: “Intellectual, spiritual, and artistic initiative is as dangerous to totalitarianism as the
gangster initiative of the mob, and both are more dangerous than mere political opposition. The consistent persecution of every
higher form of intellectual activity by the new mass leaders springs from more than their natural resentment against everything
they cannot understand. Total domination does not allow for free initiative in any field of life, for any activity that is not entirely
predictable. Totalitarianism in power invariably replaces all first-rate talents, regardless of their sympathies, with those crackpots
and fools whose lack of intelligence and creativity is still the best guarantee of their loyalty” (Arendt, 1951).

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