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Antonio Gramsci
Hegemonia Cultural
A teoria marxista tradicional refere que a relação de dominantes e dominados no
sistema capitalista é exercida pelo Estado pela via económica, pela produção, pela
indústria.
Gramsci, por sua vez, acredita que o capitalismo conquistou a hegemonia cultural
através de instituições como a Igreja, através do sistema de ensino, dos meios de
comunicação, etc. Dizer que conquistou a hegemonia cultural é dizer que tomou o lugar
de ideologia dominante na sociedade civil.
Portanto, para explicar a dominação (da burguesia sobre os operários e camponeses) na
sociedade capitalista, Gramsci atribui maior relevância a esta hegemonia cultural do que
aos modos de produção repressivos. Por outras palavras, e seguindo os conceitos da
teoria de Karl Marx, atribui maior peso à superestrutura do que à infraestrutura.
Intelectuais Orgânicos
Intelectuais orgânicos – intelectuais pertencentes às classes sociais, em vez dos
tradicionais intelectuais tidos como uma classe em si.
O italiano destaca o papel dos intelectuais orgânicos no processo de consentimento à
dominação na sociedade capitalista. São eles que articulam a consciência coletiva da
classe dirigente nas esferas política, social e económica, e que difundem
meticulosamente a sua visão do mundo.
Hegemonia e a Revolução
Se a burguesia domina a sociedade por ter conquistado a hegemonia cultural a nível da
sociedade civil, então a revolução levada a cabo pelo operariado e campesinato tem de
constituir, obrigatoriamente, uma hegemonia alternativa. Ou seja, tem de ser partilhada
entre as massas uma nova ideologia cultural (favorável às classes trabalhadoras) que
possa fazer frente à atual ideologia capitalista que coloca os burgueses na posição de
dominante.
Revolução Passiva
A revolução passiva é, segundo Gramsci, a construção de um novo sistema político por
via de uma revolução.
Tal seria uma revolução política, mas não uma revolução social, porque não mudaria as
estruturas tradicionais da sociedade. Assim sendo, a sociedade não muda, mesmo que as
instituições mudem – logo, é uma revolução passiva, sem verdadeiro efeito positivo,
principalmente a longo prazo.
Isto abre caminho para o fascismo – fortalece a ideia conservadora enquanto o
liberalismo permanece fraco.
Fragilidades Democráticas
Segundo Schmitt, há uma ideia de que a democracia é um regime inevitável, que tudo
aquilo que a democracia significa e implica é inevitável, que é a forma natural de
organização social, mas a História comprova o oposto – durante muito tempo, as
ideologias extremistas de esquerda e de direita tiveram elevado impacto não só nos
círculos de intelectuais e teoristas, mas também no público, com significante adesão
geral.
Acredita viver numa era inédita, onde a democracia se impôs, de facto, mas avisa que
esta não era inevitável nem a sua estabilidade está assegurada.
- Ainda durante uma boa parte do século XX, a organização política democrática
foi frequentemente e fortemente contestada;
- Em determinados casos foi menorizada com sucesso, e até fracassada e
substituída por regimes não democráticos.
A República de Weimar é um exemplo de uma tentativa fracassada de implantar um
regime democrático – e é baseando-se neste mesmo exemplo que Carl Schmitt elabora a
sua teoria.
Rejeição do Liberalismo
Essa teoria é em grande parte sustentada por um pensamento filosófico, e não tanto
empírico, antiliberal. Schmitt comentou e defendeu vários tipos de regime não
democrático, embraçando o seu antiliberalismo, não se fixando, porém, na defesa de um
único regime que considerasse o mais acertado.
O século XX, principalmente a sua primeira metade, constitui um confronto entre três
grandes ideias rivais de organização sociopolítica:
- As ideologias de extrema-direita, ultranacionalistas e antidemocráticas,
representadas primariamente pelo fascismo italiano e o nazismo alemão;
- As de extrema-esquerda, representadas pelo totalitarismo soviético;
- A democracia liberal, que é colocada em xeque pelas duas restantes já
referidas.
Alguns Fundamentos da Teoria de Schmitt
Além de (e ligados à) sua veia antiliberal que esclarece este tipo de democracia como
não inevitável e não assegurado, existem alguns fundamentos da teoria de Carl Schmitt.
Conceito de Inimigo
É um conceito transversal à política num sentido burocrático, mas também num sentido
social e cultural. É uma distinção bipolar e sem intermédio entre amigo e inimigo. São
dois polos inconciliáveis, duas existências radicalmente diferentes. Mentalidade de nós
versus eles.
Existem inimigos internos, mas os principais inimigos são os externos.
O inimigo é o “outro”, é o “estranho”, é o “estrangeiro” e o “diferente”. Deve ser
tratado com impaciência e hostilidade, pois é uma feia e terrível encarnação do mal.
Esta distinção é um, ou o, princípio fundamental da noção de política de Carl Schmitt.
O liberalismo despolitizou a política. Schmitt defende que a sociedade deve ser
novamente politizada, através da distinção entre amigo e inimigo. A política é a divisão
de diferentes visões do mundo sem conciliação. O Inimigo é a ameaça constante a um
determinado e estabelecido estilo de vida, não apenas a uma forma de organização
política. A política é a defesa de um estilo de vida e uma forma de organização
sociopolítica contra um oposto ameaçador e antagonista.
Inimigo Externo
As guerras devem ocorrer principalmente entre nações, expressando as divergências
radicais e intratáveis entre as mesmas. Este conflito é uma possibilidade permanente. Os
participantes devem entender a defesa do estilo de vida nacional (e o aniquilar de outro)
como um dever prazeroso.
Hitler justificou a expansão alemã como uma forma de unir o Império Alemão – pode-
se afirmar que considerava que muitos outros territórios externos eram por direito parte
de um Império Alemão que foi, injustamente, quebrado e humilhado por inimigos
externos aquando do fim da Primeira Guerra Mundial. A expansão era uma forma de
defender o estilo de vida alemão nazi e espalhá-lo por todo o Império, por todo o
território a que julgavam ter direito.
Inimigo Interno
A intensificação de antagonismos internos tem o efeito de enfraquecer a entidade
comum, a totalidade interna, de um Estado, relativamente a um outro Estado externo. A
guerra civil enfraquece a nação.
Porém, havendo um grupo interno que ameasse o estilo de vida nacional e coeso, esse
mesmo grupo deve ser tratado como Inimigo e eliminado. Aliás, inação face a um
inimigo interno possibilita uma futura guerra civil. Esta deve ser evitada, pois
enfraquece a nação. O inimigo interno deve ser destruído antes que inicie uma disputa
interna incontrolável.
Controlo da Natureza
O natural é um conjunto de objetos de conhecimento da atividade racional. Por outras
palavras, o ser humano aplica a sua capacidade de pensar, entender e racionalizar no
mundo que o rodeia.
Segundo Adorno e Horkheimer, o controlo da natureza deve ser feito com o intuito de
aprender, numa procura incessante de sabedoria e libertação intelectual. Porém, o objeto
natural passou a ser uma ferramenta não de conhecimento, mas sim de exploração de
recursos e dominação.
Ciclo de Dominação
Toda uma sociedade planificada em todos os setores económicos e produtivos, em todos
os aspetos do quotidiano civil é uma sociedade gradualmente mais controlada a nível
cultural. E assim se gera um ciclo:
Maior confiança no racionalismo organizacional exercido pelos governos e pelos donos
das indústrias cria maior conformismo – essa maior passividade, por sua vez, possibilita
ainda maior controlo. E assim sucessivamente. A dominação é exercida deste modo e a
cultura de massas tem um papel importante no processo.
Cultura de Massas
Naturalmente, Adorno e Horkheimer são ávidos críticos da cultura de massas. Condena
os meios de entretenimento e de comunicação de massas como a televisão e a rádio,
considerando-as prejudiciais ao opinativo e ao intelecto que constituem um alicerce
importante da liberdade e plenitude humana. A organização económica passa a ser tema
de segundo plano relativamente à dominação exercida pela via cultural.
Argumentam que a obra de arte deve ser um fim em si mesmo. Deve ter o seu próprio
significado único, a sua própria lógica interna. Produz um equilíbrio entre o ser humano
racional e a natureza. Porém, é usada, nas sociedades capitalistas e fascistas, como
instrumento de disseminação e dominação ideológica.
Referem ainda que, desde uma jovem idade, o jovem é educado com vista a uma
normalização da violência. A crueldade e a barbárie são elementos presentes nos
cinemas e nas televisões e até mesmo nas bandas-desenhadas elaboradas para crianças.
Esta ideia normalizadora é passível de ser transferida para a aceitação e adesão a
ideologias totalitárias.
Dialética do Iluminismo
Os pensadores Frankfurtianos acreditam que os ideais iluministas fracassaram e geraram
mesmo o oposto do teorizado e intencionado. O racionalismo extremo desembocou no
irracionalismo extremo, tornando as populações mais e mais aderentes a ideais
totalitários e ao fascismo. Isto possibilitou inéditos tipos de barbárie, que os autores
simbolizam com os campos de concentração nazi.
Em parte, é isto que o livro tenta aprofundar e explicar – como é que as sociedades
humanas, que assistiram desde a sua génese a uma progressiva ascensão do pensamento
racional puro, desembocaram num irracionalismo conformista e fascista bárbaro? Como
surgiu o fascismo? Como surgiu o nazismo e as políticas antissemitas normalizadas?
A Explicação do Paradoxo
É esse o paradoxo do Iluminismo. A resposta é aquilo a que chamam a autodestruição
do iluminismo. A emergência do fascismo, do nazismo, do holocausto, da Segunda
Guerra Mundial e toda a regressão que se fez sentir é, em boa verdade, uma
consequência do pensamento racional iluminista. A razão não foi derrotada nem
derrotada – a regressão é um triste e terrível ‘triunfo’ da razão extrema:
- A exploração da natureza com vista a fins utilitários socioeconómicos, e não
apenas por uma questão de compreensão racional pura, é um dos principais
fundamentos do totalitarismo moderno – a ausência de individualização; a disciplina
restritiva focada no progresso
- A divisão social do trabalho e a especialização do indivíduo é uma expressão
da organização racional do trabalho mas, aplicada ao excessivo, cria sociedades
economicamente competitivas a nível interno (nacional) e externo (internacional).
- Cada indivíduo torna-se num átomo de uma molécula social organizada,
sem verdadeira liberdade e plenitude
- Além disso, o indivíduo torna-se extremamente privado, solitário entre
multidões. Uma das poucas formas de socialização é o consumo, que é controlado pela
cultura de massas, gerando aceitação e passividade na essência da pessoa.
Portanto, a sociedade de massas capitalista já tem em si as bases para a ascensão do
irracionalismo extremo, da radicalização, das ideologias totalitárias.
Crítica à Sociedade
Por muito economicamente e tecnologicamente avançada que seja – o que é sempre
positivo – as sociedades europeias ocidentais e norte-americana estão presas pelos seus
critérios de desenvolvimento.
- Este desenvolvimento pode retirar um número inédito de pessoas da situação
de escassez, porém, o fim é irracional, podendo destruir a natureza e a sociedade.
- As sociedades civis são ricas e prósperas, mas altamente submissas e
conformistas
- A publicidade, o consumo de massas, a indústria do entretenimento leva a um
adormecimento das capacidades de reivindicação social. Definem, numa certa
perspetiva, a visão coletiva de dadas coisas da vida, construindo um “eu” orientado para
o consumo e não para a plenitude individual
- Distinção clara entre trabalho rotinado e mecanismos controlados de lazer de
massas, delineados para funcionar como escape. O lazer é uma ferramenta para a
distração e relaxamento, através do escapismo e consumo. As massas são
‘zombificadas’.
- O lazer é notoriamente distinto de tempo livre. Para Marx, o tempo livre
é o desenvolvimento das plenas capacidades do indivíduo; é o praticar do
inconformismo; o lúdico (lazer) é importante, mas não é fundamental
Contrapartida
Mesmo uma sociedade com alguns bons constrangimentos, perde em liberdade.
Não as defendendo, Berlin aceita algumas limitações à liberdade, consciente da
necessidade de as impor para tornar possível a vida em sociedade. Porém, a liberdade é
por ele estimada como um bem absoluto.
A felicidade é muitíssimo importante, mas não é um bem absoluto. A segurança e a
justiça, por exemplo, são estritamente necessárias a uma ordem social funcional, mas
não se tratam de bens absolutos.
Berlin, lá está, aceita que seja essencial restringir até certo ponto a liberdade para dar
espaço a outros bens da sociedade, mas chama a atenção para o facto de que mesmo que
aceitemos ou defendamos essas limitações, com intuito bom ou mau, estaremos para
todos os efeitos a sofrer perdas de liberdade.
2. - Posição original:
- Conceito especulativo, semelhante (mas não igual) a um “Estado de Natureza”,
situação natural, abstraída do concreto da história e das sociedades humanas
- O indivíduo é uma mente racional motivada pela justiça e também pelos seus
interesses pessoais, sem saber como ou quem vai ser na sociedade (ex.: se vai ser rico,
se vai ser pobre, se vai nascer num lado do mundo ou noutro).
- A partir daí decidem a redistribuição dos recursos num sentido de Justiça
como equidade
- Rawls tem a sua versão de uma tradição de pensamento de delineamento de um
contrato social, o “Véu da Ignorância”, e esta sua versão do Véu está englobada na
teoria da Posição original.
- (ou seja, Justiça como equidade e Véu da Ignorância são dois ‘sub-princípios’
da Posição Original)
Berlin VS Rawls
Recapitulando, a verdade científica e a justiça são, para Rawls, dois bens inegociáveis.
Berlin acredita que a liberdade é um bem absoluto, e é esse bem que coloca ‘no topo’.
Rawls acredita que a justiça é um bem superior do que a liberdade.
Para Rawls, a maneira de se ultrapassar o dilema de Berlin (ter de limitar/constranger
em parte a liberdade para assegurar outros bens como a segurança e a justiça), é colocar
e conciliar a nossa noção de liberdade negativa e positiva a partir de uma definição
daquilo que é justo. (basicamente ele insiste em meter a justiça como ponto central e
fundamental). (rever teoria de Berlin).
Posição Original
Para tal, propõe uma experiência imaginária, a “Posição Original”.
Os indivíduos são despidos de todo o seu ser social. São seres racionais, não emotivos,
que pretendem defender os seus interesses, pois têm predisposição para a justiça, mas
não são pessoas na sociedade.
Não sabem quem vão ser futuramente na sociedade. Também não sabem em que moldes
a sociedade vai ficar organizada – é isso que vão definir, todas juntas, num ato coletivo.
Duas regras:
1 - Sistema de liberdades: a minha liberdade deve ser a máxima liberdade compatível
com a dos outros, sem que nenhuma liberdade de um qualquer indivíduo se sobreponha
à de outro. Constrangimentos à liberdade são aceites, mas só o suficiente para que estas
não sejam injustamente distribuídas
2 - Em termos de diferenças materiais e de distribuição de recursos, este é um sistema
que aceita desigualdades, desde que estas não deixem ninguém para trás. Estas
desigualdades devem ajudar quem está nas situações mais complicadas, porque a partir
da posição original, qualquer pessoa pode ir parar a qualquer situação na sociedade
futura, inclusive uma situação desfavorecida.
Mais do mesmo, mas pode ajudar
Ademais, na posição original, somos seres racionais e vamos querer acumular bens
materiais, riqueza, recursos, etc. Não sabemos se vamos nascer ricos ou pobres, com
grandes ou fracas capacidades físicas e intelectuais. Organizamos a sociedade também
com base nisso.
A justiça enquanto equidade pressupõe desigualdades justificadas se forem
beneficiadoras da sociedade como um todo. Como não sabemos o que vamos ser,
queremos organizar a sociedade e a justiça da forma mais equitativa, esperando sempre
nascer em condições favoráveis, mas podendo sempre acontecer o oposto.
Desigualdades que podem ser vantajosas/beneficiadoras da sociedade como um todo:
uma pessoa com grande capacidade empreendedora e empresária que gera empregos,
um cientista que cria uma cura para uma doença. Tentando equilibrar ao máximo as
oportunidades para todos, as pessoas podem dar aso às suas capacidades para realizar o
melhor de si e o melhor para a sociedade.
Crítica
Seguindo à risca a teoria de Rawls, as melhorias que ajudam aqueles em situações mais
complicadas podem ser insignificantes a médio prazo. A teoria é ambígua.
Críticos – Michael Walzer – critica a Posição Original e o Utilitarismo
(mais abaixo está a crítica de Waltzer explicada a fundo)
WALZER
Michael Walzer
Obra de referência: Feras da Justiça
2 – Paradoxo da igualdade
- As sociedades são quase todas pelo menos em parte desigualitárias, ou seja,
baseadas na desigualdade de princípio – as elites dominantes políticas, sociais,
económicas encontram justificações para legitimar a ordem social que as favorece (ex.:
mandato divino, meritocracia) –, mesmo as sociedades democráticas. A condição de
desigualdade é quase uma condição permanente nas sociedades humanas.
- Simultaneamente, e paradoxalmente q.b., as sociedades caracterizam-se por
uma aspiração incessante à igualdade, por uma constante luta pela mudança das
condições de dominantes e dominados, tentando sempre empurrar na direção de um
tratamento igual ou pelo menos mais justo a todos os níveis, e com inclusão no processo
de decisão política.
3 – Lutas pela igualdade, pelo tratamento indiferenciado, são também lutas pela
redistribuição socioeconómica, política, cultural, de recursos, de acesso, que diminuam
o fosso económico – são lutas redistributivas.
O sentido de igualdade de Michael Walzer não é tanto como o que dizia Rawls (uma
teoria universal de direitos com critérios gerais, sempre válidos e abstraídos do
concreto), mas é sobretudo a capacidade e a possibilidade de uma sociedade estar livre
da dominação.
Portanto, uma sociedade justa e livre é uma sociedade sem dominação, uma sociedade
que elimine a subordinação dos mais fracos em relação aos mais fortes.
- Dominação:
- Capacidade, das elites, de impor a exclusão, a pobreza, a subordinação.
- Monopolizar um bem social (ex.: bem económico, uma fábrica), e usar esse
bem, esses recursos a seu favor de tal modo que condiciona também (e reduz) a
capacidade de mobilização, de voz política, dos subordinados.
- Agentes das esferas de produção, de política, de cultura, têm a capacidade de
impor aos seus subordinados, das suas respetivas esferas, limitações que vão além do
que essas esferas precisam e justificam – aí passa a ser dominação.
Por outras palavras, cada esfera de organização social é, para Walzer, uma esfera de
organização de um bem público (ou privado) com implicações na justiça social,
podendo transformar-se em esferas de dominação.
Walzer enfatiza muito o aspeto de coerção nas relações políticas, sociais, culturais,
simbólicas e diz que as sociedades hierárquicas são caracterizadas por sistemas de
dominação.
Crítica a Rawls
Rawls vê a justiça como um acordo entre indivíduos fora da sociedade, logo, não pode
não está nem poderia estar a ver o fundo da questão.
Esse acordo não é suficiente, diz Walzer. Rawls parece estar focado apenas em eliminar
situações de monopólio e redistribuir recursos e oportunidades, mas essa redistribuição
pode não afetar a sociedade de modo suficientemente positivo; não evita, a médio-longo
prazo, as estruturas de dominação social.
A haver redistribuição e apenas redistribuição como a resolução dos problemas sociais e
de justiça, a partir de um momento A de partida, é uma questão de tempo até haver de
novo desigualdades de distribuição, pois as estruturas de dominação vão-se reformular e
recuperar relativamente rapidamente.
Walzer tem uma conceção muito mais sociológica e historiográfica da justiça – cada
esfera social é também uma esfera de justiça, e cada qual tem a sua lógica distributiva e
hierárquica e com as suas possíveis formas de dominação.
Conclui que não é possível criar um padrão único para definir o que é justo e
injusto para todas as esferas sociais – cada uma tem a sua própria lógica distributiva,
por isso é necessário analisar cada esfera individualmente com base nas suas
características concretas sociais, históricas, culturais, tradicionais…
A dominação expressa-se em várias formas, e pode estar presente em qualquer sistema
político, até numa democracia (ex.: Índia, sistema de castas = sistema de dominação
cultural)
A evolução histórica das sociedades condicionou os indivíduos a desenvolver sistemas
de dominação. Não há um grupo de indivíduos culpados de uma conspiração para
exercer dominação; foi uma questão de evolução natural histórica social.
Aquilo que é necessário é uma redução da dominação, tornando impossível a
autonomia das diversas esferas de justiça e de produção de bens a que cada bem está
ligado.
Conservadorismo VS Neoconservadorismo
Neoconservadorismo casa as noções de conservadorismo político e social, colocando-os
no mesmo saco conceptual. Oakeshott vai rejeitar essa ideia, defendendo um
conservadorismo clássico e, pode-se considerar, mais prudente.
Os autores neoconservadores tendem a ser adeptos de uma organização económica que
favorece uma economia de mercado livre e capitalista. O autor britânico defende um
sistema económico que evita esse mercado liberal livre.
Crítica ao Racionalismo
O atual pensamento político ocidental popular, o racionalismo, é utópico – quem o
defende está profundamente errado. É a política da perfeição e da uniformidade – aquilo
que é melhor, é melhor para todas as sociedades, é universalmente melhor.
Oferece três críticas ao racionalismo:
1. – Distinção entre conhecimento técnico e prático
- Conhecimento técnico é a fonte da atitude racionalista na política, é o
compreender ou descobrir de um funcionamento de algo potencialmente útil e eficaz –
Oakeshott considera-a como uma atitude de conhecimento positiva, mas erradamente
transportada para a atividade política
- Conhecimento prático é aquele que é dado pela experiência
Acredita que este segundo tipo de conhecimento tem um valor enorme de
complementação sobre o primeiro na esfera política, no desenvolvimento das
instituições e sociedades. Um cozinheiro não se torna o melhor cozinheiro do mundo
com um livro de receitas – precisa de prática.
O racionalismo extremo implica universalidade, mas Oakeshott afirma que a
racionalidade não tem princípios universalmente válidos. É possível, e até desejável,
que as sociedades se transformem, mas não numa completa rejeição da história e
cultura, não por total oposição e rutura.
Atitude Conservadora
- Governar é política. Política é governar. A diversidade social em crenças,
escolhas e maneiras de viver não se engloba nessa noção – deve-se ser livre no viver
desde que cumpra as regras de conduta. A atividade social do governo não deve ser
conservadora – isso é paternalista e sufocante.
- Rejeição de um mundo perfeito e racional utópico. Não se pode criar uma
sociedade de raiz. Não existem valores universais.
- Romantização da ideia do passado. A tradição cultural, sob um olhar crítico, é
fundamental.
O conservador sabe que a mudança é inevitável, e que pode ser boa, mas mudar o que
somos e ceder uma fatia da nossa identidade é sempre uma perda. Esta noção pode dar
uma certa desconfiança nos filósofos, teóricos e políticos idealistas que prometem ‘o
Céu na Terra’.
A atitude conservadora não é utilitária, como é o caso do racionalismo; é uma noção
prudente e crítica sociopolítica, tradicional e cultural.