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Sociologia

Regimes autoritários

Teoria

Formas de participação política e relação com o Estado


Como percebemos, a questão da cidadania e do direito está amplamente ligada ao estabelecimento de um
Estado. Os indivíduos só são cidadãos em um Estado. E falar de Estado é falar de política, correto? Na política,
o tema central é o poder. A capacidade de tomar decisões é a discussão central do campo da filosofia e da
ciência política. Cada Estado é organizado de uma forma, de maneira tal que o exercício do poder seja
bastante diferente entre cada grupo social. Quando temos um conjunto de regras estipulando quem portará
o poder e como isso se dará, afirmamos que temos um regime político. Dentro dos regimes políticos podemos
identificar dois grandes grupos. São os regimes democráticos e os regimes autocráticos. Mas é claro que,
dentro desses dois grandes grupos há classificações menores e pontos de intercessão, afinal, a vida não é
nada fácil, não é mesmo?

Regimes democráticos
A democracia é o regime onde toda a sociedade tem possibilidade de participação das eleições. Para que a
democracia seja efetiva, e não apenas uma casca, ela precisa que suas eleições sejam regulares, que as
regras do jogo sejam estáveis e que tudo seja feito de maneira livre e limpa. Ou seja, mesmo que tenhamos
um regime presidencialista com voto, a frequente alteração das regras políticas ou a utilização de
mecanismos de distorção ou controle do certame por uma das partes (clássico hacking) configura a
degradação da democracia em um sistema autocrático.
A democracia é o regime do conflito por excelência, não se enganem. Nenhum direito foi dado pela
benevolência das elites. Tudo foi conquistado. A democracia é o regime que admite o conflito e que conduz
o conflito de maneira humanizada. A democracia também é o regime da diferença. Veja, se fossemos todos
iguais, não precisaríamos de uma democracia. A ênfase da igualdade jurídico-política da democracia pode
distorcer sua compreensão, levando a crer que todos devemos ser iguais ou acreditar nas mesmas coisas.
Mas regimes autocráticos são comumente regimes de homogeneização do comportamento e do
pensamento. Na democracia, o diferente pode não apenas existir como participar politicamente. Aliás, os
governos e governantes devem estar abertos a críticas e não reprimir os diferentes e os dissidentes.

Regimes autocráticos
Por outro lado, também temos os regimes autoritários, os quais, infelizmente, ainda são bastante comuns ao
redor do mundo. Dizemos que um regime político é autoritário quando as principais decisões são tomadas
apenas por uma pessoa ou grupo de pessoas, sem a participação maior da sociedade. Em outras palavras,
um regime autoritário concentra o poder em um ou poucos governantes. Isso significa que a população em
geral desfruta de poucos direitos e garantias, que são “atropelados” pelas vontades dos governantes. Existem,
basicamente, dois tipos de regime autoritário, que se diferenciam pelo nível de controle do regime sobre a
população.

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Regimes totalitários
Os regimes totalitários são as formas mais brutais de autoritarismo, nos quais o controle dos governantes
sobre a sociedade é absoluto. Em outras palavras, a interferência do Estado é completa, envolvendo não
apenas a política, mas todos os aspectos da vida dos seus cidadãos. Os governantes não apenas reprimem
as liberdades individuais, como também forçam as suas próprias regras e ideias sobre a sociedade. Também
não é incomum a existência de cultos à personalidade, em que um governante é tratado e promovido como
uma “figura divina”. O exemplo mais conhecido da atualidade é o da Coreia do Norte, mas existem vários
exemplos históricos, como a Alemanha nazista (1933-1945) e a antiga União Soviética (1917-1991). Regimes
totalitários são conhecidos por engajar a maioria da população por meio de propaganda e gerar uma vontade
homogeneizada e intensa. Por isso, são reconhecidos como regimes participativos, apesar dessa
participação ser falsa.

Regimes autoritários
Regimes autoritários são conhecidos por, aparentemente, serem menos graves que regimes totalitários.
Entretanto, são tão brutais quanto os totalitários e desrespeitam os direitos dos indivíduos sempre que julgam
necessário para a manutenção do poder. Mas sua lógica de operação é a da alienação política,
desincentivando os indivíduos a participarem politicamente e reprimindo aqueles que insurgem. Por isso, não
são encontrados os níveis de controle que temos nos totalitarismos, já que a população costuma ter uma
atitude passiva e alienada. As autocracias, ou regimes autocráticos, são as formas “menos graves” de
regimes autoritários – ao menos, quando comparados com os totalitários. Ainda que não tenham o nível de
controle dos regimes totalitários, as autocracias ainda são caracterizadas pela repressão brutal da população.
Liberdades fundamentais, como a de opinião, expressão e oposição, são limitadas, quando não totalmente
restringidas. As autocracias podem tomar várias formas – monárquica, militar ou religiosa, por exemplo –,
mas são sempre caracterizadas pela concentração de poder na mão de um ou mais autocrata(s), ou
ditador(es). Algumas até utilizam instituições “democráticas”, como eleições e parlamentos, mas que servem
apenas para reforçar o poder do regime, sem dar voz à população. Ainda que seja uma forma “branda” de
autoritarismo, as autocracias ainda não chegam perto das garantias e da segurança dos regimes
democráticos. A experiência autoritária mais recente no Brasil, o período da ditadura militar (1964-1985), se
enquadra como um dos possíveis exemplos de autocracia.

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Exercícios

1. De acordo com seus conhecimentos sobre o Totalitarismo, indique a alternativa abaixo que
está incorreta:
a) Na economia, o totalitarismo teve um caráter intervencionista por parte do Estado, sendo que
qualquer outra forma de ordenação das atividades produtivas seria contrária ao fortalecimento da
economia e do próprio governo.
b) Na esfera política, o totalitarismo reprimiu sistematicamente a existência de diferentes grupos
políticos divergentes da orientação oficial. Por isso, tais governos costumeiramente defenderam
a adoção de um sistema unipartidário, sendo nenhum outro grupo político aceito.
c) O ufanismo nacionalista foi repetidas vezes comemorado por meio de manifestações públicas,
feriados nacionais, cartazes, canais de comunicação do Estado e políticas educacionais,
supervalorizando um passado de glórias e oferecendo uma perspectiva de futuro onde a unidade
do povo oferecia um porvir próspero e soberano.
d) Os governos totalitários estabeleceram as forças armadas e policias como uma extensão do
Estado, com a polícia no papel de garantia da submissão ao governo, utilizando de violência física,
tortura, prisões arbitrárias, espionagem, censura e exílio. As forças armadas, complementando
essa ação, deviam estar fortemente munidas contra qualquer ameaça externa.
e) O totalitarismo não contou com uma ideologia sistematicamente reafirmada por meio de agências
de propaganda. O abandono de uma propaganda massiva impedia que o regime repetisse
sistematicamente uma visão histórico-ideológica da nação, que era contrária aos ideais
totalitários.

2. Os regimes totalitários da primeira metade do século XX apoiaram-se fortemente na mobilização da


juventude em torno da defesa de ideias grandiosas para o futuro da nação. Nesses projetos, os jovens
deveriam entender que só havia uma pessoa digna de ser amada e obedecida, que era o líder. Tais
movimentos sociais juvenis contribuíram para a implantação e a sustentação do nazismo, na
Alemanha, e do fascismo, na Itália, Espanha e Portugal.
A atuação desses movimentos juvenis caracterizava-se:
a) pelo sectarismo e pela forma violenta e radical com que enfrentavam os opositores ao regime.
b) pelas propostas de conscientização da população acerca dos seus direitos como cidadãos.
c) pela promoção de um modo de vida saudável, que mostrava os jovens como exemplos a seguir.
d) pelo diálogo, ao organizar debates que opunham jovens idealistas e velhas lideranças
conservadoras.
e) pelos métodos políticos populistas e pela organização de comícios multitudinários.

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3. Ao contrário do historiador contemporâneo ao fascismo – como Franz Neumann, Theodor Adorno ou


Ângelo Tasca –, nós sabemos, através de Auschwitz, o que é o fascismo ou, ao menos, sabemos qual
é a sua prática, ao contrário, ainda, dos historiadores que escreveram no imediato pós-guerra, como
Trevor-Hopper, G. Barraclough ou Eric Hobsbawm (até algum tempo), não podemos tratar o fascismo
como um movimento morto, pertencente à história e sem qualquer papel político contemporâneo.
Encontramo-nos, desta forma, numa situação insólita: sabemos qual a prática e as consequências do
fascismo e sabemos, ainda, que não é um fenômeno puramente histórico, aprisionado no passado.
Assim, torna-se impossível escrever sobre o fascismo histórico – o que é apenas uma distinção
didática – sem ter em mente o neofascismo e suas possibilidades.
(Daniel Aarão Reis Filho, O Século XX, p. 111-112.)
Assinale a opção que sintetiza CORRETAMENTE a ideia contida no trecho acima.
a) O Fascismo é um fenômeno definido conceitualmente, cuja prática é identificada pelos
historiadores que coexistiram com ele historicamente.
b) O Fascismo não é um fenômeno histórico ligado ao passado, ele se insere na política
contemporânea atual sob outras formas de atuação.
c) O Fascismo não pode ser tratado sem qualquer relação com a política contemporânea, já que hoje
sabemos sua prática e suas consequências.
d) O Fascismo, conforme os historiadores, é um fenômeno que não pode ser escrito, já que se
circunscreve na história contemporânea como passado e presente.

4. O Nazismo e o Fascismo surgiram:


a) do desenvolvimento de partidos nacionalistas, com pregações em favor de um Executivo forte,
totalitário, com o objetivo de solucionar crises generalizadas diante da desorganização, após a
Primeira Guerra Mundial.
b) da esperança de conseguir estabilidade na união das "doutrinas liberais" de tendências
individualistas.
c) com a instituição do parlamentarismo da Itália e na Alemanha, agregando partidos populares.
d) com o enfraquecimento da alta burguesia e o apoio do governo às camadas lideradas pelos
sindicatos e socialistas.
e) do coletivismo pregado pelos marxistas.

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5. Como as democracias morrem


Desde o final da Guerra Fria, a maior parte dos colapsos democráticos não foi causada por generais e
soldados, mas pelos próprios governos eleitos. Líderes eleitos subverteram as instituições
democráticas em países como Venezuela, Hungria, Nicarágua, Filipinas, Rússia e Turquia, entre outros.
O retrocesso democrático hoje começa nas urnas. Não há tanques nas ruas. Constituições e outras
instituições nominalmente democráticas restam vigentes e as pessoas ainda votam. Autocratas eleitos
mantêm um verniz de democracia enquanto corroem a sua essência. Muitos esforços do governo para
subverter a democracia são “legais”, no sentido de que são aprovados pelo Legislativo ou aceitos pelos
tribunais. Eles podem até mesmo ser retratados como esforços para aperfeiçoar a democracia – tornar
o Judiciário mais eficiente, combater a corrupção ou limpar o processo eleitoral. Os jornais continuam
a ser publicados, mas são intimidados e levados a se autocensurar. A erosão da democracia é, para
muitos, quase imperceptível.
(Adaptado de LEVITSKY, Steven e ZIBLATT, Daniel. Como as democracias morrem. Rio de Janeiro: Zahar, 2018, p. 17-18.)
A partir do texto, relacione os indicadores do processo de erosão endógena das democracias aos
exemplos apresentados.

1 - Rejeição das regras do jogo democrático.


2 - Negação da legitimidade dos oponentes políticos.
3 - Redução das liberdades civis e da mídia.
4 - Controle das instituições, como o Judiciário.

( ) Em 2018, o primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán modificou as normas de nomeação para a


Suprema Corte, garantindo uma maioria de juízes alinhados a seu partido e com jurisdição sobre a lei
eleitoral e o direito de manifestação.
( ) Em 2016, no último debate presidencial, Donald Trump declarou que não reconheceria o resultado
das urnas, caso a oponente vencesse as eleições.
( ) A partir de 2016, o governo Erdoğan, na Turquia, usou a tentativa de golpe militar contra seu governo
para antecipar as eleições e reprimir a oposição de jornalistas, funcionários públicos e políticos.
( ) A partir de 2017, Nicolás Maduro obteve, na Assembleia Nacional Constituinte, a cassação dos
principais partidos políticos adversários e indiciou seus opositores como traidores da Venezuela.
Assinale a sequência correta, de cima para baixo.
a) 2, 3, 1 e 4.
b) 4, 1, 3 e 2.
c) 1, 4, 2 e 3.
d) 2, 4, 3 e 1.
e) 4, 3, 2 e 1.

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Gabaritos

1. E
A propaganda de massas foi uma das principais características do totalitarismo. Através do cinema,
teatro, cartazes e até da arquitetura, os regimes totalitários buscavam veicular seu ideal de nação
unificada.

2. A
A opção correta é a letra A, pois evidencia como característica fundamental dos Estados totalitários a
perseguição abusiva a tudo e todos que sejam contrários às suas concepções.

3. B
Segundo a posição de Daniel Araão Reis Filho, o fascismo pode ser observado em estruturas políticas e
ideológicas contemporâneas mesmo depois de tantas décadas transcorridas após a Segunda Guerra
Mundial. O fascismo poderia ser observado hoje, por exemplo, em fenômenos como a formação de
grandes corporações empresariais que estabelecem conluio com o Estado e sindicatos de trabalhadores
e também em comportamentos sectaristas relacionados com ideologias políticas (sejam de direita ou
de esquerda) que se utilizam da hostilidade e da agressão (verbal e física) contra seus adversários.

4. A
O fenômeno histórico do fascismo e do nazismo está ligado à intensa crise instaurada na Europa no
entre guerras (até então pós guerra). Misturando o ufanismo e o desespero em que se encontravam os
países derrotados, os partidos nacionalistas deram início ao seu projeto de poder.

5. B
Cada uma das afirmativas apresenta uma característica de um líder com comportamento autoritário.
Cada uma dessas afirmativas demonstram como, mesmo com uma “casca” de democracia, muitos
regimes no mundo sofrem a degradação de sua estrutura interna, deixando de ser uma democracia de
fato.
A primeira afirmativa aponta para a manipulação da suprema corte do país, provocando uma saturação
de juízes favoráveis ao líder, desbalanceando o equíbrío entre os poderes.
A segunda demonstra a costumeira acusação que líderes autoritários dirigem ao sistema democrático
vigente, “não funciona”. Com a intenção de deslegitimar o pleito em caso de derrota.
A terceira aponta para o ataque à liberdades individuais que pode ocorrer dentro do escopo de um regime
democrático. A última afirmativa aponta para uma prática falaciosa chamada envenenando o poço. A
partir da desmoralização (em coordenação com a perseguição política) o líder enfraquece a oposição.

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