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Textos de apoio Filosofia 12ª Classe / Escola Secundária 3º Congresso 2022


1. A Filosofia Política na Idade Contemporânea
1.1.Hegel
A Filosofia do Estado de Hegel resume-se à subordinação do indivíduo ao Estado, no qual este se dissolve em nome
de uma ordem suprema. Assim, o indivíduo, no estado, é um simples objecto e não o sujeito do seu destino. A sua
vontade é sufocada pela vontade do Estado e o indivíduo perde a sua liberdade.
1.2.John Rawls (1921 - 2002) Justiça como equidade
Nascido em Baltimore nos Estados Unidos, obras: Uma Teoria da Justiça (1971), O liberalismo político (1993), O
Direito dos povos (1999) e por último A justiça como equidade.
O pensamento político de Rawls nasce dentro de uma vida sócio-político repleta de injustiça e de desrespeito dos
direitos humanos. Rawls apresenta dois princípios de justiça em que os indivíduos devem escolher em situação de
véu.
Princípio de diferença tem a finalidade de limar as desigualdades, organizando-as na condição de todos se
beneficiarem. Para isso o estado deve dividir-se em departamentos: Dep. das diferenças socias; Dep. Para
repartição; Dep. das atribuições; Dep. de estabilização.
Princípio de igualdade diz que a desigualdade só poderá acontecer se for a servir para beneficiar os cidadãos
menos favorecidos. Rawls defende uma justiça entendida como equidade que diz respeito a distribuição igual dos
bens. Rawls afirma que os princípios de justiça como equidade vê precisamente responder ou retificar as
desigualdades profundas (entre os homens).
Véu de ignorância significa que os homens estão em situação de igualdade e sem preconceitos excepto a sua
posição na sociedade e a raça ou tradição.
1.3.Karl Raimund Popper (1902 - 1994)
Vida e obras políticas: Nasceu em Viena, na Áustria, destacam-se as suas obras: A Miséria do Historicismo (1943);
A Sociedade Aberta e seus Inimigos -1945; Sociedade Aberta. Universo Aberto para um mundo melhor, Televisão-
Um perigo para a Democracia.
Pensamento Político
Na sua obra A Miséria do Historicismo, Popper crítica e rejeita a concepção do Historicismo de que a história
humana segue leis e princípios fixos de desenvolvimento, e vê que isso resume-se na fé, o que amarra os homens
impedindo-os de qualquer mudança e sonhos sociais. Popper responsabiliza Platão, Hegel e Max pela teorização
plena do consequente tribalismo e totalitarismo, pela teorização da sociedade fechada, estes três filósofos na
óptica de Popper são os inimigos da " sociedade aberta," ou simplesmente da democracia.
Censuras: Platão pela divisão de classes sociais e pelo governo de sábios do Estado-ideal. Para Hegel, na
teorização da ideologia totalitarista, E para Karl Marx, Popper crítica ao capitalismo e respectivo humanismo a
favor dos explorados.
Democracia liberal como Sociedade Aberta: Popper defende que a sociedade aberta é aquela que está assente
no exercício crítico da razão humana, é uma sociedade que tolera e estimula a liberdade dos indivíduos e grupos
dentro de si mesma e através das instituições democráticas sempre em vista à solução dos problemas sociais,
Segundo Popper a Democracia Liberal é um regime político de uma sociedade aberta que reside no facto de os
Governados gozarem da possibilidade efectivamente de criticar e substituir os seus governantes sem derramamento
de sangue. E mais tarde Popper reformula a tese sobre Sociedade aberta em dois princípios: é por um lado,
aquela em que é possível a livre discussão inclusiva na política, e, por outro lado, existem instituições para a
protecção da liberdade e dos menos favorecidos.
2. Formas de sistemas políticos
Sistema político é a maneira como uma comunidade política se estrutura e exerce o poder político. A estrutura do
poder da comunidade política é feita de duas formas: como regime político e como sistema de governo.
2.1.Regime político
São as relações que se estabelecem entre o indivíduo e a sociedade política, cuja ideologia o poder político tem a
missão de implementar no âmbito jurídico.

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O pensamento político antigo oponha a monarquia (governo de um só homem) à república (governo de um colégio
ou assembleia). Mas, actualmente a distinção entre estes governos baseia-se no modo como é designado o chefe do
Estado: enquanto a monarquia é um regime político em que a designação do chefe de Estado se faz por herança; a
república é o regime político em que a designação do chefe do Estado se faz por formas diversas, por eleição
directa dos cidadãos ou pelos seus representantes, por golpe de Estado, por legislação, etc, mas não por herança.
a) Classificação dos regimes políticos
Os regimes políticos classificam-se em ditatoriais e democráticos:
a)Um regime político é ditatorial quando há uma ideologia exclusiva ou liderança, há um aparelho para impor a
ideologia, não há efectiva garantia dos direitos pessoais dos cidadãos, não existe livre participação na designação
dos governantes e não existe um controlo do exercício dos governantes.
O regime ditatorial pode ser autoritário quando o poder político exerce um certo controlo sobre a sociedade civil.
E, pode ser totalitário quando o controlo do poder político subjuga a sociedade.
b)O regime é democrático quando não existe uma ideologia dominante ou liderança, não existe um aparelho para
impor a regra, há efectiva garantia dos direitos individuais dos cidadãos, existe livre participação na designação
dos governantes e existe um controlo do exercício dos governantes.
2.2.Os sistemas de governo
É a titularidade e a estruturação do poder político, com a finalidade de determinar os seus titulares e os órgãos
estabelecidos para o seu exercício.
Para a análise de um sistema de governo, deve-se ter em conta a separação dos poderes, a dependência, a
independência ou a interdependência dos órgãos e a responsabilidade política de um órgão perante o outro.
a)Classificação dos sistemas de governo

• Sistema de governo ditatorial – o poder político é detido por uma pessoa ou um conjunto de pessoas com
direito próprio e sem participação dos governados. Este, é monocrático quando é exercido por um órgão
singular e autocrático, quando o poder é exercido por um grupo ou partido político (órgão colegial).

• Sistema de governo democrático – o exercício do poder político advém da participação dos governados. Pode
ser directo, quando a assembleia-geral dos cidadãos exerce integralmente as suas funções; democrático semi-
directo, em que a constituição prevê a existência de órgãos representativos de soberania popular através de
um referendo e democrático representativo, quando o poder político pertence à colectividade mas regido por
um órgão que actua em nome dele.
3. Filosofia política em África
3.1. Génese dos nacionalismos
Há uma ligação directa da filosofia política africana com o pan-aficanismo que, para além de lutar pelo
reconhecimento dos negros no mundo, com Du Bois, traçou linhas para uma Filosofia política africana. A Filosofia
política africana tem como objectivo a libertação física e psíquica do jugo colonial do continente africano.
Desde o 5º Congresso Pan-Africano, as principais figuras africanas que se esforçaram por lançar as bases da
política dos Estados africanos são: Du Bois e Nkrumah. Enquanto Kwame Nkrumah defendia a independência
imediata dos Estados africanos; Léopold Sedar Senghor acreditava que uma independência gradual dos Estados
seria ideal. Mas a ideologia adoptada pelos Estados africanos foi o socialismo, que como defendia Nkrumah, era
conforme às tradições socioculturais africanas e o consciencismo que pretendia assegurar o desenvolvimento de
cada indivíduo.
Aliaram-se ao socialismo de Nkrumah outros políticos como Senghor, Luís Cabral, Júlio Nyerere e Agostinho Neto;
estes deram origem ao socialismo africano. Para Senghor, defendendo o socialismo africano, defende que a alma
negra é essencialmente colectiva e solidária, por isso, a África, é por natureza do seu povo, socialista.
Mas o grande mérito de Nkrumah foi de conceber a unidade africana como propulsora para a transformação do
continente africano num só Estado banindo as fronteiras traçadas arbitrariamente em Berlim, pois os Estados

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africanos considerados individualmente não eram suficientemente fortes para competirem com as grandes potências
do ocidente.
E, na década de 1960 nasceram dois grupos: o de Monróvia (Califórnia, EUA) que defendia a criação dos Estados
Unidos da África e o de Casablanca (Marrocos) que defendia a criação das nações e fundou a OUA (Organização
da Unidade Africana) a 25 de Maio de 1963 em Addis Abeba (Etiópia), com os seguintes objectivos: promover a
unidade e a solidariedade entre os Estados Africanos; coordenar e intensificar a cooperação entre os Estados
africanos; defender a soberania, integridade territorial e independência dos Estados; coordenar e harmonizar as
políticas dos países-membro, etc.
3.2.A integração político-regional na União Africana
A União Africana pretendia dar continuação aos objectivos da OUA. Um dos objectivos era a NEPAD (Nova
Parceria para o Desenvolvimento da África), pôr em prática a visão Pan-africana dos líderes africanos para
promover o desenvolvimento sustentável da África.
Assim, a integração regional da África só seria possível se houvesse estabilidade política, permitindo a criação de
instituições democráticas e a promoção do desenvolvimento. Para a NEPD, as condições necessárias para o
desenvolvimento de África seriam: a paz, a segurança, a democracia e a boa governação política; a boa
governação económica e corporativa.
UNIDADE III : FILOSOFIA AFRICANA
4. Contextualização do debate sobre a Filosofia africana: Filosofia em África ou Filosofia africana? Que
implicações? (preconceitos ocidentais)
4.1.Questões históricas:
O povo africano sofreu humilhações, escravatura, a dominação e a colonização europeia ao longo de vários
séculos. Esta situação, inferiorizou e denegriu a imagem e a personalidade africanas. Os ocidentais consideravam-
se povo civilizado com superioridade cultural nutrida por alguns pensamentos na dimensão teológica, filosófica,
antropológica e de direito:
1. Dimensão teológica: a Teologia definia o negro como descendente de Cham, o homem que viu a nudez do pai e
sendo maldito. Assim, o negro torna-se símbolo de maldição e o povo condenado por Deus.
Noé e seus filhos. Os filhos de Noe que saíram da arca eram: Sem, Cam e Jafet. Cam era o pai de Canaa. São estes os
três filhos de Noe e por eles foi povoada a terra interira.
Noé que era agricultor, foi o primeiro a plantar a vinha. Tendo bebido o vinho, embriagou-se e despiu-se dentro da
tenda. Cam, pai de Canaa, ao ver a nudez do pai, saiu a contar o sucedido aos seus dois irmãos. Estes foram cobrir ao
pai andando de costas e não terão o visto. Noé, soube o tinha feito o seu filho mais novo e disse: maldito seja canaa!
Que ele seja o último dos servos dos seus irmãos. E acrescentou: bendito o Senhor, Deus de sem e que canaa seja seu
servo. Que Deus aumente as posses de Jafet e que canaa seja seu servo. Génesis,9, 18-28.
4.2. Dimensão filosófica:
• A Filosofia do Iluminismo, vai dizer que africano, o negro, não é completo.
• Voltaire, na sua obra História do século XIV, afirmava que “o povo mais elevado é o francês e o mais baixo é o
africano”;
• Immanuel Kant (1724-1804), afirmava que: “os africanos são povos sem interesse” . Ele distinguiu quatro raças
dispostas na ordem hierárquica: raça branca, amarela, negra e rosa. A classificação das raças corresponde a uma
ordem inversa de inferioridade, tal que a negra encontra-se acima da dos índios. A inferioridade racial é
hereditária ou seja biológica.
• Jean –Jacques Rousseau (1712-1778) diz que “os africanos são bons selvagens”.
• David Hume (1711-1776) filosofo empirista inlges, duvidou a racionalidade do negro, afirmando que “raramente
se encontra gente civilizada entre os negros, nem se quer um individuo que tenha se notabilizado na acção ou na
especulação.”

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• Georg Hegel (1970-1831), diz: “os africanos são povo sem história e desprovidos da humanidade. África é terra
da infância e o negro representa a natureza no seu estado mais selvagem” . Para ele, África subsariana é
inocente, não conhece a razão. Os seus povos são incapazes de filosofar.

4.3. Dimensão antropológica:


• Lévy Brhul (1857-1939) antropólogo francês, declara que “os africanos têm uma mentalidade pré-lógica”.
• Morgan e Tylor sustentavam que, África é uma sociedade morta.
4. Na dimensão jurídica ou do direito:
• Luís XIV, escreveu O código negro, (Code Noir) um conjunto de direitos dos senhores de escravizar os negros. Em
1685 Luís XIV promulgou os 60 artigos que codificavam a desumanidade do negro. Proclama juridicamente a
destruição física do negro.
• Charles Montesquieu (1689-1755), dizia que “os africanos são povos sem leis”.
Críticas às ideologias europeias
As criticas as afirmações inferioristas europeias dividem-se em mundo ocidental e o africano.
a) Antropólogos ocidentais:
• Eduard Taylor e Lewis Morgan defendiam que o conceito de ideias universais está na natureza do Homem. Assim,
a razão é igual em todos Homens. Assim, a “ideia de que o africano não pode ter um pensamento filosófico por
estar desprovido de ideias universais é duvidosa”.
• Segundo Gérard Leclerc, em sua obra: Crítica da Antropologia, defende que a antropologia europeia,
“arrogava-se o direito de destruir, assumir ou esmagar os outros povos. Este tipo de antropologia era um
verdadeiro vandalismo cultural, narcisista, agressivo, e destruidor”.
b) A reacção dos africanos:
• A primeira reacção foi marcada pela revolta dos escravos contra a situação desumana e humilhante que sofriam.
Essas revoltas eram feitas por canções nos locais do trabalho forçado e nos cultos religiosos nas igrejas (work songs
e gospel spirituals) na América. Objectivo da revolta: alcançar a liberdade individual e colectiva.
• Para George Padmore, afirmava que as constatações inferioristas e racistas europeias provocaram “uma crise no
pensamento, na palavra e no agir do homem africano” .
Hoje, reconhece-se que, toda cultura é uma civilização independentemente da sua situação geográfica, histórica
social e económica, por isso, não há cultura superior nem inferior, mas todas são iguais.
Com a discriminação secular dos europeus sobre os africanos, o povo negro perdeu: a auto-estima, a
personalidade, a identidade, etc.
Como reabilitar a imagem do povo negro decaída?
Surge assim, a reflexão filosófica africana com objectivo de:
• projectar o futuro do povo africano partindo da sua própria história;
• reabilitar a imagem, mentalidade e a personalidade africanas estimulando a sua auto-estima;
• mostrar ao homem negro que é igual ao europeu.

O ESTATUTO DA ORALIDADE E FILOSOFIA EM AFRICA


Os ensinamentos orais presentes na cultura tradicional (provérbios, contos) podem considerar-se Filosofia africana?
Esta questão teve duas respostas:
1. ESCOLA DE PENSAMENTO DEFENSORA DA SABEDORIA CULTURAL (SAGACIDADE)
Defensor: JOHN MBITI, autor do livro: African religions and Philosophy, 1969.

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Mbiti valoriza a oralidade e defende que o pensamento filosófico africano está subjacente nos provérbios,
máximas, costumes que herdamos do passado.
Esta escola considera que a filosofia africana é um pensamento especulativo que subjaz nos provérbios, nas
máximas, nos costumes, etc., que os africanos de hoje herderam dos seus antepassados através da tradição oral.
A tarefa ou função do filósofo africano consiste em coleccionar, interpretar e difundir os provérbios, os contos
folclóricos, mitos assim como outro material deste tipo.

2. A ESCOLA DE PENSAMENTO RACIONALISTA


Esta escola defende que a filosofia africana é o “resultado do pensamento abstracto de pensadores africanos
individuais, tanto tradicionais como modernos.”
A filosofia é uma reflexão racional e critica sobre as ideias e os princípios mais fundamentais que subjazem ao
pensamento sobre a vida humana e o seu ambiente.
Defensor: Paulin Hountondji, seu livro: African Philosophy, Myth and Reality, 1974.
Para ele, a oralidade não é filosofia. A filosofia deve ser uma reflexão crítica e racional. Somente com a escrita
pode-se criar uma tradição filosófica.
Para Hountondji, o conjunto dos provérbios, máximas, contos tradicionais contem muitos conceitos filosóficos e
considera-os de etnofilosofia.
Hountondji, as obras Bantu Philosophy de Tempels e African Religions and Philosophy de Mbiti pertencem ao
conjunto de obras etnofilosóficas. E só a de Mbiti pode-se considerar parte da filosofia africana.
Odera Oruka filósofo queniano, a filosofia africana será o produto dos pensadores africanos, sem excluir a
participação dos pensadores não africanos.
Para Odera Oruka, os sábios tradicionais vivos estão destinados a converter-se em filósofos.
Segundo Kwasi Wiredu, um filósofo queniano, o pensamento africano tradicional contém elementos que são
filosóficos, porque dá resposta a algumas das interrogações fundamentais relacionadas com o homem e o mundo.

Oralidade Escrita
Consolida um saber dogmático Possibilita a transmissão da crítica
Predomina o medo de esquecer. Liberta a memória e o espírito
Preocupado em conservar É mais explícito, podendo ser recuperado e
acriticamente. criticado: a base é a confrontação e discussão.
Favorece uma cultura tradicionalista e Permite o surgimento duma filosofia documentada.
conservadora.

4.2 As principais correntes filosóficas africanas


Filosofia africana tem quatro principais correntes: etnofilosofia, filosofia política africana, filosofia cultural e
filosofia profissional.
4.2.1 A Etnofilosofia:
a) Conceito da etnofilosofia
É o estudo sobre as etnias africanas. Os etnofilósofos defendem que o negro é racional e o conjunto das tradições,
mitos e provérbios africanos revelam a sua racionalidade.
FILOSOFIA – é um sistema de pensamento que dá significado a existência humana, à sua origem e ao seu destino.
Ou seja, um sistema de pensamento duma comunidade africana particular ou da cultura africana inteira.
b) Defensores da etnofilosofia.
Os principais defensores da etnofilosofia são: Placide Tempels, Alexis Kagame, John Mbiti natural de Kenya; Cheik
Anta Diop de Egipto; Leopold Sedar Senghor de Senegal.

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Pensamento etnológico de Placide Tempels: foi um padre missionário, natural de Bélgica. Sua obra “Filosofia
Bantu”, apareceu em 1945 e “marcou o inicio da produção filosófica escrita” .
A principal ideia do padre é que “o comportamento do Bantu deve ser compreendido como racional e possui um
pensamento coerente”. Tempels inspira-se na filosofia escolástica. Para Tempels, o negro é homem e o grande
erro do colonizador foi de reduzi-lo a semi-homem ou criança; de o inferiorizar. No entanto, Tempels convida ao
colono a auto-avaliação e autocrítica por ter ignorado os valores e as tradições do povo bantu.
Objectivo do pensamento tempelsiano: humanizar o negro.
Por conseguinte, para Tempels, o negro não exprime um pensamento lógico e coerente pessoal. A sua ordem
ontológica é colectiva e imediata.
A etnolofilosofia em Alexis Kagame.
Alexis Kagame ruandês, escreveu a obra “A Filosofia Bantu Ruandesa do Ser” em 1957. Ele inspira-se na filosofia
de Aristóteles. Assim, Kagame faz estudo rigoroso e gramatical das estruturas linguísticas do kiryarwanda. A língua
é fundamental para descobrir o sistema de pensamento de um povo.
Kagame, traçou o quadro de categorias ontológicas bantus como fizera Aristóteles com a língua grega. Com feito,
Kagame chegou a 4 categorias metafísicas bantus correspondentes às dez categorias aristotélicas.
1ª categoria – UMUNTU - homem o ser dotado de razão ou inteligência;
2ª categoria – IKINTU – significa coisas, seres ou substâncias irracionais;

3 ª categoria – HANTU – significa tempo e lugar;


4ª categoria – UKUNTU – significa modalidade.
A base da filosofia é a língua. O método de Kagame visa procurar na estrutura da língua ruandesa a forma e o
conteúdo do pensamento. O pensamento formal do povo ruandês caracteriza-se pela elaboração dos conceitos ou
seja pela abstracção e definição de conceitos.

As críticas a Kagame
Ntite Mukendi, o zairense, critica a Kagame. Para ele, Kagame não se interessou em avaliar se as palavras da
língua ruandesa são realmente endógenas. O seu método não cria nova descoberta não sendo fecundo; o estudo
das línguas é superficial e facilmente pode ser refutado.
O zairense Ngoma Binda, afirmava que Kagame viciou a filosofia bantu, pois substituiu o conceito ntu pelo o de
tempelsiano de força.

Paulin Hountondji natural do Benin, afirmava que Alexis Kagame é o pai da etnofilosofia africana.
c) Anyanwu
Para Anyanwu, a tarefa do filósofo africano é de “compreender e explicar os princípios sobre os quais se baseia
cada uma das culturas africanas.”
Objectivos da etnofilosofia
• Compreender a racionalidade e a consistência da mundividência de diversos povos africanos;
• Lutar pelo reconhecimento do negro como homem.
Africanidade da filosofia
Os protagonistas da filosofia são antropólogos, etnólogos, sociólogos e filósofos africanos e não africanos ou seja
estrangeiros. A Africanidade reside no objecto de reflexão: a cultura ou elementos culturais africanos: mitos,
crenças, nas religiões e provérbios constituem o conteúdo de reflexão filosófica. Portanto, filosofia africana tem
origem nos mitos, crenças, nas religiões e provérbios.
Uso da filosofia
• reabilitação da imagem do africano menosprezada pelas primeiras gerações de etnólogos e antropólogos;

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• reabilitar o povo negro das injustiças, das formas do racismo sofridas no passado;
• estimular a criatividade filosófica do povo africano.
Para Senghor, nasce assim, a filosofia da negritude.
Por conseguinte, os defensores da etnofilosofia foram unânimes afirmar que existe uma mente africana, um modo
de pensar característico dos africanos diferente da dos europeus.
4.2.2 A Filosofia Política Africana.
a) Génesis da filosofia política.
A questão que levou o surgimento de um pensamento tipicamente africano, foi de este ter sido coisificado,
instrumentalizado e feito mercadoria para o desenvolvimento dos europeus e americanos. Por isso, era urgente a
emancipação do negro decaído e sem personalidade e considerado selvagem.
Com efeito, começaram as revoltas dos escravos na América do Norte, numa espécie de work songs e dos gospel
spirituals nas igrejas. Assim, três correntes e seus apologistas tais como:
• O desenvolvimento segregado de Booker T. Washington. Para ele, a melhor forma de combater o racismo
branco e garantir a emancipação política do negro residia na emancipação económica. Acreditava que só
acumulando riquezas é que os negros conquistariam o respeito e reconhecimento dos brancos. Para tal apelava os
negros a apostarem na educação tecno-profissional. Esta tese ficou conhecida como desenvolvimento segregado.
• Movimento regresso à Africa (back to movement) defendido por Marcus Garvey, o jamaicano e discípulo de
Booker T. Washington.
Garvey, defende que o “negro só se emanciparia plenamente voltando à sua terra natal (África )” . Este não era
letrado, mas tinha influencia e era designado na extraordinary leader of men. Ele ficou comovido das conduções
desumanas que trabalhava o negro.
Aos 15 anos Garvey iniciou trabalhar e mais tarde expulso por incitar aos colegas os protestos contra as péssimas
condições de trabalho. Ele observou que, os impulsionadores da liberdade negra deveriam ser os próprios negros
para tal realizaria plenamente na sua terra natal, a mãe África.
Contudo, Du Bois era mulato, razão pela qual, Garvey não considerava negro. Para ele, Du Bois não passavam de
um prolongamento da mão do branco, por isso não aceita o regresso do negro a mãe África.
• Movimento do renascimento negro (black renaissance) defendido por William Edward Burghardt Du Bois. Para
ele, “o homem negro podia viver livre e em pe de igualdade com os brancos sem precisar de sair da América”.
Sua principal obra: “Almas negras” escrevia: “sou negro e tenho glória deste nome.”
Du Bois era um jovem universitário, sendo o primeiro negro a fazer o ensino superior na América. Para ele, o
problema dos negros africanos na América não era económico, mas sim, politico. Defendeu que, as elites intelectuais
africanas deveriam ser ponto de referência para o povo negro. Du Bois era um jovem universitário, sendo o
primeiro negro a fazer o ensino superior na América. Para ele, o problema dos negros africanos na América não
era económico, mas sim, político. Defendeu que, as elites intelectuais africanas deveriam ser ponto de referência
para o povo negro.

A dificuldade de Du Bois foi como elevar a moral negra decaída com o desprezo europeu?
Ele recordou ao homem negro que África já tinha impérios como: o de Ghana, o de Mwenemutapa, Benin, Mali,
Songhai, etc; os quais deram grande contribuição à humanidade.
Na mesma senda, o senegalês Cheikh Anta Diop na sua obra: “Nações negras e cultura”, defendeu que, os
egípcios eram de raça negra como os etíopes. A ciência surgiu da África e primeira civilização notória foi a egípcia
como ilustram os filósofos gregos e a bíblia.
Por conseguinte, os europeus para inferiorizar o negro retirando-lhe da sua auto-estima e da dignidade usou arma
psicológica, para fazer dormir e degenerar a sua imagem.

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b) Conceito de filosofia.
É uma actividade intelectual que procura construir um sistema de valores e ideias para o indivíduo e a sociedade e
justifica-los através da razão e intuição.
c) Defensores da filosofia política africana.
Kwame Krumah (Ghana); Léopolde Sedar Senghor (Senegal); Ahmed Sekou Touré (Guiné); Amilcar Cabral (Guiné);
Kenneth Kaunda (Zambia); Julius Nyerere (Tanzania); Jomo Kenyatta (Kenya); Patrice Lumumba (Zaire); Albert J.
Mvumbi Lutuli (Rodesia), etc.
d) Objectivo da filosofia política africana.
Libertar os negros da sua condição de oprimidos mudando a situação sócio - político - económica em que vivem.
e) Método da filosofia.
Muitos defensores desta corrente formaram-se no estrangeiro. Assim, eles identificaram os elementos tradicionais
anteriores ao colonialismo como a família alargada e construíram a filosofia política africana.
f) Africanidade da filosofia.
Consiste em alicerçar que a vida tradicional africana (o comunalismo, a economia de troca sem dinheiro, a
moralidade, etc) deve ser o ponto de partida para a construção duma nova ordem sócio-politica adequada a
realidade africana.
Os valores tradicionais da família, do socialismo, do humanismo, .. anteriores ao colonialismo servem de alicerces da
construção de um sistema sócio político para África moderna, desenvolvendo a teoria sociopolítica original.
g) O uso da filosofia africana.
A filosofia serve para solucionar os problemas sócio- políticos e económicos da África contemporânea, produzindo
uma filosofia política baseada nos valores tradicionais africanos.
OS MOVIMENTOS DE LIBERTAÇÃO AFRICANA:
• Socialismo Africano
Defende que, a administração política e económica dos Estados africanos recentemente independentes deve ser
através de uma forma de socialismo africano.
Razões de adesão ao socialismo africano:

• o socialismo africano está enraizado na sociedade e na vida cultural africana;


• o socialismo moderno pode explorar a herança cultural de que a sociedade é uma extensão da unidade familiar .
• Nas culturas tradicionais africanas há uma concepção de que a riqueza está ao serviço da comunidade;
• o capitalismo jamais predominara na sociedade África, mas sim o socialismo;
• nunca houve ricos para explorar os seus concidadãos, mas a riqueza é para o benefício da sociedade.
Formas da filosofia política africana: pan-africanismo, consciencismo, personalidade africana e negritude.
• Pan-africanismo - surge no âmbito de dois principais acontecimentos históricos: o fim do comércio de escravos e o
começo da colonização efectiva em África. O principal objectivo do pan-africanismo foi: unir politicamente os
Estados africanos.
Em 1900, houve o primeiro encontro de intelectuais africanos em Londres e definiu o projecto ideológico que unisse
os africanos oprimidos, na luta contra os opressores. Eis alguns objectivos do pan-africanismo:
• reforçar os laços de cooperação e fraternidade entre africanos colonizados;
• defender os direitos e a liberdade e interesses geopolíticos dos africanos;

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• autodeterminação de todos povos africanos;
• potenciar a voz dos africanos no contexto internacional.
Consciencismo ou nkrumahismo.
O principal objectivo do consciencismo:
• promover um desenvolvimento harmonioso da sociedade africana. Entretanto, o consciencismo é uma filosofia que
pretende assegurar o desenvolvimento de cada indivíduo.
Nkrumah foi teórico da unidade africana. Na sua obra: “A África deve unir-se” defende a unidade política dos
Estados africanos. Sendo assim, a África seria uma única nação com governo central. Ele inspira-se a Constituição
americana, porém os estados manteriam iguais em direitos e conservariam a soberania.
Personalidade africana.
Foi defendida por Kwame Nkrumah, mas Criada por Edward Wilmont Blyden no século XIX.
Para o filósofo moçambicano Elias Ngoenha, Blyden “pode ser considerado o pai do pensamento político
africano.” Blyden constatou que a raça negra tinha história e uma cultura as quais podia orgulhar-se. E escrevia
que “orai e amai a vossa raça. Se não fordes vós mesmos, se abdicardes da vossa personalidade, não haveis
deixado nada ao mundo.”
4.2.3. Filosofia cultural africana (negritude).
Definição etimológica: Negritude significa: identidade característica dos povos negros.
Negritude é a “totalidade dos valores da civilização culturais, económicos, sociais e políticos que caracterizam o
povo negro”
Foi a partir das circunstâncias do desprezo do negro que surgiu a negritude para reivindicar os direitos humanos
para os africanos, reivindicar a dignidade do africano como pessoa, reivindicar a liberdade no processo de
descolonização política e económica em forma de luta contra o racismo.
A filosofia da negritude foi a primeira forma de rebelião contra a alienação cultural . Leopold Senghor repara
que no inicio dessa filosofia era um racismo antiracista.
O termo negritude é do francês que aparece pela primeira vez escrito por Aimé Césaire, em 1938.
4.2.4. Os fundadores da negritude são:
Em 1932, um grupo de antilhanos em Paris, sob orientação de ETIENE LERO, editava revista “LÉGITIME DÉFENSE”
– um manifesto contra a assimilação literária, cultural, religiosa e política de que sofria o mundo colonial. Dois anos
depois, era publicado um jornal “L’etudiant Noir” que marca o princípio da negritude.
Leon Damas – A sua doutrina manifestava-se na negação da assimilação e defendia as qualidades do negro.
Aimé Césaire – Preocupava-se em resolver o problema do regresso e assunção do destino da raça. Césaire fundou
e passou a editar a revista “L’etudiant noir” (O estudante negro de 1934). É no terceiro número desta revista em
que aparece pela primeira vez a expressão NEGRITUDE, entendido nas palavras de Césaire por “ Nada além da
consciência de ser negro”. E a tomada da consciência de ser negro significava o reconhecimento de um facto que
implicava aceitação, um assumir do seu próprio destino, da sua história, da sua cultura. É de salientar que o livro
onde aparece a expressão “negritude” pela primeira vez é “ cahier d’un retour au pais natal” de 1938. Que é
considerado o hino da Negritude.
Leopold Sedar Senghor- esforça-se na descoberta, defesa e ilustração do património racial e do espírito da
civilização.
Os três resumiram o projecto em três conceitos:
Identidade: Negro assumir plenamente a sua condição;
Fidelidade: atitude que traduz a ligação do homem negro à terra-mae;

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Solidariedade: sentimento que liga secretamente todos os irmãos negros.
Percursores da negritude
Booker Washington – Lutava pela divisão nos EUA. Defende a teoria dos cinco dedos na mesma mão.
Marcus Garvey – Defendia a separação entre os brancos e os negros. Fala do princípio de que se a Europa é dos
europeus a África é para os africanos.
W.E.B.Du Bois – Defendia a integração dos negros nos EUA.
A filosofia da negritude foi a primeira forma de rebelião contra a alienação cultural . Leopold Senghor repara
que no inicio dessa filosofia era um racismo antiracista.
Para Jean Paul Sartre, a “negritude aparece como tempo fraco duma progressão dialéctica, contra a afirmação,
teórica e prática, da supremacia do branco.”
c) DEFENSORES DA FILOSOFIA CULTURAL AFRICANA.
• W. Dubois – americano – pioneiro da negritude;

• Leopoldo Sédar Senghor – senegalês;


• Leon Damas – ganes;
• Aimé Césaire – martinicano.
Dubois, escrevia: “sou negro e tenho glória deste nome, sou orgulhoso do sangue que me corre nas veias.” Dubois
lutava pela integração do negro no contexto americano. Defendia ainda que, primeiro era preciso fazer descobrir
o próprio negro que na sua alma deve encontrar uma autêntica identidade. Recordou que África teve os antigos
impérios, e reinos submergido na exploração europeia.
d) OBJECTIVO DA FILOSOFIA CULTURAL AFRICANA.
• recuperar e exaltar a dignidade do homem negro por meio dos valores da cultura africana.
• F. Fanon, a negritude era uma nostalgia do passado, das origens do negro.
• L. S Senghor, defendia que o negro devia descobrir, defender e ilustrar o seu próprio património racional e a sua
civilização.
• Aimé Césaire, os negros deviam regressar `as suas raízes culturais, singrando e brilhando na vida.
A negritude consistia num processo de resistência defendendo a identidade negra; num processo de desafio para
conquistar as independências e a liberdade; o desafio cultural de integração do negro no mundo como pessoas
humanas iguais às outras de outras raças; e negritude como dinamismo do desenvolvimento.
e) NEGRITUDE E SUAS FORMAS;
1. NEGRITUDE – SOFRIMENTO E REVOLTA
Consistia em incutir no negro o processo de resistência e a questão da identidade. Consistia em afirmar o valor das
culturas africanas rejeitando a assimilação. Assim, a negritude resumia-se em: identidade, fidelidade e
solidariedade.
2. NEGRITUDE – POLITICA E INDEPENDENCIA NACIONAL.
Consistia na revolta contra a dominação colonial e neocolonial, imperialista e racista aspirando a conquista da
independência dos povos africanos.
3. NEGRITUDE – CULTURA E HUMANISMO
Consistia no repúdio ao ódio e na busca de soluções através do diálogo com as outras culturas. o objectivo era de
construir uma sociedade pluralista. Assim, dizia Sartre: “a negritude tende a preparar a síntese ou realização do
humano numa sociedade sem raças.”

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4. NEGRITUDE ANTROPOLITICA – REVOLUÇÃO SOCIALISTA.
Depois da conquista da independência os países africanos, desenvolveram as suas políticas segundo a orientação
socialista. Porém a implementação de modelos de governação europeias em África tornou-se grave erro, pois
fragilizou as estruturas politicas africanas.
5. NEGRITUDE – MOTOR DE DESENVOLVIMENTO HUMANITÁRIO.
Consistia em encorajar o negro a valorizar a sua auto-estima e que o ser negro não é castigo divino e nem da
natureza. Assim, o povo negro deve desenvolver-se exaltando a sua Africanidade e o seu ser negro valorizando as
outras comunidades e impondo-se no concerne das nações.

CRITICAS À NEGRITUDE
- J. P. Sa rtre viu a negritude como um movimento negativo de uma progressão dialéctica.
- Frantz Fanon, a negritude era um movimento transitório. Tornou-se num museu de sarcófagos.
- Soyinka Wole, o negro precisa de saltar e avançar. Deixem de afirmar sou negro, quem não sabe são negros?
4.2.4. FILOSOFIA PROFISSIONAL, CRITICA, RACIONALISTA OU POSITIVISTA E ACADÉMICA.
a) Conceito de filosofia.
Para Hountondji, a filosofia africana é uma disciplina científica, teorética e individual. Com efeito, A Filosofia
africana é uma ciência que se estuda em livros e aprende-se através de discursos.
b) Defensores da filosofia profissional:
Franz Chahay; Marcien Towa (Camarões ); Paulin Hountondji (Benin), Cristian Neugebauer, Kwasi Weredu
(Kenya)etc.
c) Criticas da filosofia profissional a etnofilosofia.
• o pensamento dos etnofilósofos é regressivo e estes fazem filosofia que se ignora a si próprio;
• o filósofo torna-se num simples observador;
• os etnofilósofos reduziram a filosofia a religião e a política.
d) Relação da filosofia com os mitos, a religião e as tradições africanas:
Para Hountondji, a filosofia como disciplina científica, teorética e individual emergiu sempre em oposição ao mito,
as religiões tradicionais e as perspectivas dogmáticas e conservadoras. A relação da filosofia com o mito e as
religiões tradicionais não é como a de um arquivista das tradições culturais com função de sistematizar e perpetuar
a elas, nem sequer como a de protector desse passado cultural, e a sua reflexão, eco e continuação fiel no presente
colonialista e racista. Mas a relação com o mito e a religião tradicional dum povo É uma relação de continuidade,
transformação consciente e de crítica contínua da tradição do povo no presente e no futuro.
e) Africanidade da filosofia.
Reside na pertença dos filósofos que devem ser africanos por residência e nacionalidade. Estes produzem textos
filosóficos de forma crítica e criadora.

f) O uso da filosofia africana.


Consiste no desenvolvimento da actividade criadora e critica entre os africanos; no desenvolvimento e libertação da
faculdade filosófica entre os africanos. Portanto, é a forma de tratar o conteúdo africano ou não, específico da
África ou comum a todos homens.
g) Método da filosofia.
Consiste em produzir textos escritos por africanos. A ciência existe com um discurso explícito e consciente. No
entanto, não se pode falar de filosofia espontânea e colectiva.

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Para Kwasi Weredu (filósofo queniano) é de opinião de que “o pensamento tradicional africano contém elementos
que são filosóficos, no sentido em que tenta dar resposta a algumas interrogações fundamentais relacionadas com o
homem e o mundo. ”. A verdade filosófica é universal e não africana ou europeia embora possa ser expressa por
um africano o europeu. O conhecimento racional é característica de todo ser humano. Precisa abandonar o discurso
apologético da etnofilosofia dirigida aos europeus, fazendo emergir uma cultura científica.
Marcien Towa e sua obra: A ideia de uma filosofia negro-africana.
Towa inicia o seu pensamento criticando a etnofilosofia e a negritude. Diz ele “o acesso a soberania política marca
o limite de toda ideologia política baseada sobre a reivindicação do direito a iniciativa, a personalidade e a um
destino separado”.
• a etnofilosofia tornou-se numa ideologia;
• o método da etnofilosofia consiste na revisão do conceito filosofia, definindo-a a maneira africana;
• exalta as crenças, os mitos, as tradições africanas considerando de filosofia;

• tornou-se dogmatismo e sem avanços, por isso, foi estático.


Eboussi Boulaga e sua obra: A crise do Muntu. Autenticidade africana e filosofia, presença africana, Paris, 1977.
Ele fez também duras criticas a etnofilosofia, considerando-a infértil para a produção de um pensamento filosófico
africano. No entanto, o primeiro caminho que a filosofia africana deve percorrer é o itinerário crítico, metódico e
dialéctico em direcção a conquista de nós mesmos. Portanto, a filosofia é vital, pois filosofar é emancipar-se.

Cristian Neugebauer – Defendia que existem três lugares possíveis para a filosofia e o filósofo em África:
1. estar no governo – a defender a política governamental;
2. estar no estrangeiro – como um grande místico; e
3. estar no túmulo – como herói morto.
A filosofia como disciplina académica e profissional é entendida:
a) no sentido restrito: a filosofia é uma técnica através da qual a visão do mundo é submetida a um escrutínio
sistemático por rigorosos métodos nacionalistas.
b) no sentido amplo: a filosofia é uma análise do mundo que resulta dessa concepção do mundo.
FILOSOFIA ACADEMICA EM ANYANWU.

A filosofia académica africana é conhecida por metacultura ou hermenêutica.


Para Anyanyu Filosofia é uma ciência, arte e sabedoria.
Conceito de filosofia.
ANYANW (NIGERIA ATUALIDADE) – A Filosofia tem a missão de explicitar o implícito, tomar consciência do
inconsciente. A filosofia africana é um esforço para compreender ou justificar os princípios gerais que regulam as
crenças de um individuo africano, a cultura de um povo ou as culturas de todos os povos africanos.
O MÉTODO DA FILOSOFIA
Consiste em interpretar a cultura africana através do pensamento.
A AFRICANIDADE DA FILOSOFIA
A FILOSOFIA ESTÁ NO CONTEÚDO (cultura) e que qualquer filósofo pode fazer objecto de reflexão. A filosofia
africana torna-se em um instrumento de libertação, descolonização e conservação da identidade africana. Esta
filosofia é feita por filósofos africanos e não africanos.
RELACIONAMENTO DA FILOSOFIA COM A TRADIÇÃO, MITOS, RELIGIÃO E PROVÉRBIOS.
É UMA RELAÇÃO de crítica, e consiste numa sistematização consciente, uma explicação e uma relativização.

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O USO DA FILOSOFIA AFRICANA.
A Filosofia africana é um instrumento de libertação e descolonização do continente.
- fornecer as gerações contemporâneas uma identidade especifica;
- dar uma visão coerente da vida e do mundo;
- consiste na crítica e na compreensão das culturas africanas e das outras culturas.

Bibliografia
CHAMBISSE, Ernesto e outros. Emergência do Filosofar. Moçambique Editora. Maputo. 2004.
CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. Ed. Ática. São Paulo. 2000.
GEQUE, Eduardo. BIRIATE, Manuel. Filosofia 12. Pré-Universitário. Editora Longmam. Maputo. 2010.

BIROU, Alain. Dicionáario de ciências sociais. Círculo de Editores. Lisboa. 1988.


DUROZOI, G. e ROUSSEL, A.. Dicionário de Filosofia. Porto, Porto Editora, 2000.
MONDIN, Baptista. Curso de Filosofia. Vol.1. São Paulo 1986.
NGOENHA, Severino Elias. Das independências as Liberdades. Filosofia africana. Edições Paulistas – África.
Maputo. 1993.

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