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1.1 Liberalismo
. Liberalismo clássico: Adam Smith, John Locke, Stuart Mill, David Ricardo
. “Laissez-faire, laissez passer”; a mão invisível do mercado
. Social democracia e welfare-state
. Neoliberalismo
Liberalismo: “doutrina que defende a mais ampla liberdade individual, a democracia representativa, o direito
inalienável à propriedade, a livre iniciativa e a concorrência no mercado entre indivíduos e empresas. O liberalismo
surgiu na Europa no decorrer do século XVIII e foi a ideologia dominante no capitalismo competitivo, vigente sobretudo
entre o século XVIII e fim do século XIX. No início polemizou com o mercantilismo, opondo-se radicalmente à
intervenção do Estado na vida econômica: uma de suas propostas políticas era o “Estado mínimo”, situação na qual
caberia ao Estado apenas a manutenção da ordem e da segurança interna e externa da sociedade e a defesa do direito
de propriedade. (Marilena Chauí, Filosofia e Sociologia)
1.2 Socialismo
. Utópico e Científico
. Experiência reais do socialismo no século XX: URSS, China, Cuba, Coreia do Norte
. Comunismo e Socialismo democrático
Socialismo: expressão que designa tanto uma doutrina quanto um sistema social. Como doutrina o socialismo é uma
corrente de ideias que propõe a superação da sociedade capitalista por meio da socialização (ou coletivização) dos
meios de produção – que passariam a pertencer à sociedade e não mais a capitalistas privados – e da entrega do poder
político às associações de trabalhadores. Como sistema social, o socialismo teve um caráter marcadamente autoritário
em países como a antiga União Soviética e a China. Ali, a propriedade social ou coletiva acabou se transformando em
propriedade do Estado e o governo tornou-se o monopólio de uma burocracia privilegiada que nega os ideais
igualitários dos fundadores do pensamento socialista.
(Marilena Chauí, Filosofia e Sociologia)
1.3 Anarquismo:
. Sociedade sem classes e sem estado
. Nível elevado de consciência social
. Estágio máximo de desenvolvimento da sociedade
“doutrina que preconiza a criação de uma sociedade sem classes e sem nenhum tipo de Estado e na qual os indivíduos
viveriam livremente. A sociedade anárquica, ou anarquista, se realizaria por meio de um elevado nível de consciência
social de todos os indivíduos, já que o anarquismo, como doutrina, não significa a desorganização total da sociedade”
(Marilena Chauí, Filosofia e Sociologia)
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2. Formas direta e indireta de participação política
2.1 Democracia
. Soberania emana do povo
. Democracia direta ou representativa
. Respeito às liberdades individuais e coletivas e aos direitos humanos.
. Igualdade de todos perante a lei
. Divisão do poder do Estado: Legislativo, Executivo e Judiciário
. Formas de controle das autoridades pelos cidadãos
A palavra “democracia” tem suas raízes no termo grego “demokratia”, cujos componentes individuais são “demos”
(povo) e “kratos” (poder). Logo, o significado fundamental de democracia é um sistema político no qual quem governa é
o povo, e não os monarcas ou os aristocratas. Um conceito que parece bastante simples, mas não é. Em diversos
momentos e em diferentes sociedades, o regime democrático assumiu formas contrastantes, dependendo da maneiro
como interpretamos o conceito. Por exemplo, “povo” é um termo incorporado de várias maneiras, donos de
propriedades, homens brancos, homens cultos, homens e mulheres adultos. Em algumas sociedades, a versão
oficialmente aceita da democracia limita-se à esfera política, ao passo que, em outras, estende-se a âmbitos mais
amplos da vida social. A forma como a democracia assume em determinado contexto é sobretudo um resultado de
como seus valores e metas são entendidos e priorizados. A democracia é geralmente vista como o sistema político mais
capaz de assegurar a igualdade política, de proteger a liberdade e os direitos, de defender o interesse comum, de
satisfazer às necessidades dos cidadãos, de promover o autodesenvolvimento moral e de permitir uma tomada de
decisões eficaz que leve em consideração os interesses de todos. (Anthony Guidens, “Sociologia”)
Democracia participativa: nela as decisões são tomadas em comunidade por aqueles que são
afetados por elas. Era esse o tipo original de democracia praticado na Grécia antiga. Os indivíduos que fossem cidadãos,
uma pequena minoria da sociedade, reuniam-se regularmente para julgar políticas e tomar grandes decisões. A
democracia participativa tem uma importância limitada nas sociedades modernas, nas quais a massa da população
possui direitos políticos, sendo impossível para cada indivíduo participar ativamente da tomada de decisões que os
afetem. (Anthony Guidens, “Sociologia”)
Democracia representativa: nela as decisões que afetam a comunidade não são tomadas pelo
conjunto de seus membros, mas pelas pessoas que elas elegeram para essa finalidade. Na área do governo nacional, a
democracia representativa assume a forma de eleições para os Congressos, Parlamentos ou organismos nacionais
similares. (Anthony Guidens, “Sociologia”)
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3. Democracia e neoliberalismo
3.1 Neoliberalismo
. crise do liberalismo (anos 1970) atribuída aos gastos sociais
. radicalização dos postulados liberais
. Hayek e Friedman: política social compromete os princípios básicos do liberalismo
. Necessidade de fim do Estado de Bem Estar
. Estado mínimo e privatização de todos os serviços públicos
. crença na eficiência máxima do mercado
. ideologia do empreendeorismo
A partir da década de 1970, após a crise do petróleo, houve nova necessidade de mudança na organização
estatal. O capitalismo enfrentava então vários desafios. As empresas multinacionais precisavam expandir-se, ao mesmo
tempo em que havia um desemprego crescente nos Estados Unidos e nos países europeus; os movimentos grevistas se
intensificavam em quase toda a Europa e aumentava o endividamento dos países em desenvolvimento. Os analistas,
tendo como referência os economistas Friedrich von Hayek (1899-1992) e Milton Friedman (1912-2006), atribuíam a
crise aos gastos dos Estados com políticas sociais, o que gerava déficits orçamentários, mais impostos e, portanto,
aumento da inflação. Diziam que a política social estava comprometendo a liberdade do mercado e até mesmo a
liberdade individual, valores básicos do capitalismo. Por causa disso, o bem-estar dos cidadãos deveria ficar por conta
deles mesmos, já que se gastava muito com saúde e educação públicas, com previdência e apoio aos desempregados
idosos. Ou seja, os serviços públicos deveriam ser privatizados e pagos por quem os utilizasse. Defendia-se assim o
Estado mínimo, o que significava voltar ao que propunha o liberalismo antigo, com o mínimo de intervenção estatal na
vida das pessoas. Nasceu dessa maneira o que se convencionou chamar de Estado neoliberal. As expressões mais claras
da atuação dessa forma estatal foram os governos de Margareth Thatcher, na Inglaterra, e de Ronald Reagan, nos
Estados Unidos. Mas mesmo no período desses governos o Estado não deixou de intervir em vários aspectos, mantendo
orçamentos militares altíssimos e muitos gastos para amparar as grandes empresas e o sistema financeiro. Os setores
mais atingidos por essa “nova” forma de liberalismo foram aqueles que beneficiavam mais diretamente os
trabalhadores e os setores marginalizados da sociedade, como assistência social, habitação, transportes, saúde pública,
previdência e direitos trabalhistas. Os neoliberais diziam que era necessário ter mais rapidez para tomar decisões no
mundo dos negócios e que o capital privado precisava de mais espaço para crescer. Reforçavam assim os valores e o
modo de vida capitalistas, o individualismo como elemento fundamental, a livre iniciativa, o livre mercado, a empresa
privada e o poder de consumo como forma de realização pessoal. Com essas propostas, o que se viu foi a presença cada
vez maior das grandes corporações produtivas e financeiras na definição dos atos do Estado, fazendo com que as
questões políticas passassem a ser dominadas pela economia. Além disso, o que era público (e, portanto, comum a
todos) passou a ser determinado pelos interesses privados (ou seja, por aquilo que era particular). (Dacio Tomazi,
“Sociologia”)
Na obra A nova razão do mundo, Christian Laval e Pierre Dardot [argumentam que] (...) o modelo de
sociabilidade neoliberal pode ser sintetizado na introjeção da lógica empresarial nos sujeitos – estes agem como
indivíduos autarquizados e que competem entre si em todos os níveis de relacionamento social – político, econômico,
cultural, entre outros. A racionalidade governamental que vai ao encontro deste modelo de sociabilidade é justamente
garantir a “liberação” destas atitudes (que viram sinônimo de liberdade), inclusive permitindo que todos os
recursos, seja usar armas de fogo ou disseminar fake news, possam ser utilizados. Qualquer regulação que
implique limitar comportamentos individuais é classificada como autoritária e contra “as liberdades”. (...) [Assim} pode-
se falar da emergência de uma cultura neofascista que (...) se entranha nas relações cotidianas – em agosto de 2022,
um empresário agrediu mulheres em uma academia no Shopping Iguatemi e saiu do Brasil em 4 de setembro para
destino ignorado, antes de sofrer qualquer ação das autoridades; em setembro, uma síndica de um condomínio na Barra
da Tijuca, no Rio de Janeiro, foi agredida fisicamente por um morador porque a academia estava interditada para obras
de manutenção; e em julho, na festa de seu aniversário em Foz do Iguaçu, Marcelo Arruda foi assassinado por um
policial por divergências partidárias. O sentido de “liberdade” no extremo é a “lei da selva”. É usar de todos os recursos
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para fazer prevalecer os seus interesses. A cultura neofascista que vai se consolidando é a exacerbação do clima de
competição do neoliberalismo. (Dennis de Oliveira, “Jornal da Usp/Adaptado)
3.1 Autoritarismo: enquanto a democracia estimula o envolvimento ativo dos cidadãos nas questões políticas, nos estados
autoritarios a participação popular é repudiada ou severamente restringida. Nessas sociedades, as necessidades e os interesses do
Estado ganham prioridade sobre os dos cidadãos comuns, e nenhum mecanismo legal de resistência ao governo, ou para remover um
líder político, é instituído. (Anthony Guidens, “Sociologia”)
3.2. Os desafios à democracia: [...] Os desafios que são postos à democracia no nosso tempo são os seguintes. Primeiro,
se continuarem a aumentar as desigualdades sociais entre ricos e pobres ao ritmo das três últimas décadas, em breve, a
igualdade jurídico-política entre os cidadãos deixará de ser um ideal republicano para se tornar uma hipocrisia social
constitucionalizada. Segundo, a democracia atual não está preparada para reconhecer a diversidade cultural, para lutar
eficazmente contra o racismo, o colonialismo, o sexismo e as discriminações em que eles se traduzem. [...] Terceiro, as imposições
econômicas e militares dos países dominantes são cada vez mais drásticas e menos democráticas. Assim sucede, em particular,
quando vitórias eleitorais legítimas são transformadas pelo chefe da diplomacia norte-americana em ameaças à democracia, sejam
elas as vitórias do Hamas [na Palestina], de Hugo Chávez [na Venezuela] ou de Evo Morales [na Bolívia], Finalmente, o quarto desafio
diz respeito às condições da participação democrática dos cidadãos. São três as principais condições: ser garantida a
sobrevivência: quem não tem com que alimentar-se e à sua família tem prioridades mais altas que votar; não estar ameaçado: quem
vive ameaçado pela violência no espaço público, na empresa ou em casa, não é livre, qualquer que seja o regime político em que vive;
estar informado: quem não dispõe da informação necessária a uma participação esclarecida, equivoca-se quer quando participa, quer
quando não participa. Pode dizer-se com segurança que a promoção da democracia não ocorreu de par com a promoção das
condições de participação democrática. (Boaventura de Sousa Santos)
3.3 O Estado de exceção: Giorgio Agamben observa que hoje os cidadãos são continuamente controlados e consideram
isso normal. É o primeiro passo para que os regimes democráticos se tornem autoritários, com a carapaça de democracia. Olhe a sua
volta e observe que está sendo filmado em todos os lugares. Há câmeras nas entradas e elevadores dos edifícios residenciais e
comerciais, nos bancos, nas ruas e também nos corredores das universidades. Você sabia que somente na Inglaterra foram instalados
4,5 milhões de câmeras de vigilância na última década e que um habitante de Londres é filmado trezentas vezes por dia? Mas não é
só lá. Em Clementina, uma cidade de 6 mil habitantes no interior de São Paulo, foram montadas torres de 25 metros com câmeras
para fazer a vigilância da cidade. A justificativa é que essas câmeras, que capturam imagens a até dois quilômetros, intimidam os
bandidos e auxiliam a polícia. Giorgio Agamben chama de Estado de exceção o tipo de governo dominante na política
contemporânea, que transforma o que deveria ser uma medida provisória e excepcional em técnica permanente de
governo. Para Agamben, o Estado de exceção significa simplesmente a suspensão do ordenamento jurídico: a anulação dos direitos
civis do cidadão e seu estatuto jurídico como indivíduo. Ele defende a ideia de que o paradigma político do Ocidente não é mais a
cidade, mas o campo de concentração. Vistas por essa ótica, as práticas de exceção contemporâneas, engendradas por um Estado
policial protetor, fazem da política do terror e da insegurança o princípio gestor, estimulando, cada vez mais, a privatização dos
espaços e o confinamento no interior deles. (Dacio Tomazi, “Sociologia”)
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4. Proposta de Redação/FUVEST 2001
Texto 1
Um dia sim, outro também. Duas bombas, suásticas nazistas e muitas mensagens pregando a tolerância
zero a negros, judeus, homossexuais e nordestinos marcaram a Semana da Pátria em São Paulo. O primeiro petardo
foi direcionado na segunda-feira 4, para o coordenador da Anistia Internacional. Tratava-se de uma bomba caseira,
postada numa agência dos Correios de Pinheiros com endereço certo: a casa do coordenador. Uma hora e meia
depois, foi a vez de o secretário de Segurança e de os presidentes das comissões Municipal e Estadual de Direitos
Humanos receberem cartas ameaçadoras. Assinando “Nós os skinheads” (cabeça raspada), os autores abusaram da
linguagem chula, do ódio e da intolerância. “Vamos destruir todos os viados, pretos e nordestinos”, prometeram.
Eles asseguravam também já terem escolhido os representantes daqueles que não se enquadram no que chamam
de “raça pura” para receberem “alguns presentinhos”. Como prometeram, era só o começo. No dia seguinte, terça-
feira 5, o mesmo grupo mandou outra bomba, dessa vez para a associação da Parada do Orgulho Gay. (Isto é,
08/09/2000)
Texto 2
Desde então [os anos 80], o poder racista alastrou-se por todo o mundo numa torrente de excessos
sanguinolentos. Também na Alemanha, imigrantes e refugia- dos foram mortos friamente por maltas de radicais de
direita em atentados incendiários. Até hoje, a esfera pública minimiza tais crimes como obra de uns poucos jovens
desclassificados. Na verdade, porém, o poder racista à solta nas ruas é o prenúncio de uma reviravolta nas condições
atmosféricas mundiais. (Robert Kurz)
Texto 3
Um dos eventos realizados no final de abril deste ano no Chile foi uma conferência internacional secreta de
militantes extremistas de direita e organizações neonazistas planejada e divulgada pela lnternet. Foram convidados
a participar do “Primeiro Encontro Ideológico Internacional de Nacionalismo e Socialismo” representantes do Brasil,
Uruguai, Argentina, Venezuela e Estados Unidos. (Isto é, 08/09/2000)
Texto 4
(...) Nos últimos anos, grupos neonazistas têm se multiplicado. Tanto nos Estados Unidos e na Europa quanto
aqui parece existir uma relação entre o desemprego estrutural do sistema capitalista e a ascensão desses grupos de
inspiração neonazista. (Página da Internet )
Texto 5
Toda proclamação contra o fascismo que se abstenha de tocar nas relações sociais de que ele resulta como
uma necessidade natural, é desprovida de sinceridade. (Bertolt Brecht)
Texto 6
Considerar alguém como culpado, porque pertence a uma coletividade à qual ele não “escolheu” pertencer,
não é característica própria só do racismo. Todo nacionalismo mais intenso, e até mesmo qualquer bairrismo,
consideram sempre os outros (certos outros) como culpados por serem o que são, por pertencerem a uma
coletividade à qual não escolheram pertencer. (...) (Cornelius Castoriadis)
Texto 7
“A violência é a base da educação de cada um.” (Resposta de um cidadão anônimo entrevistado pela TV
sobre as razões da violência)
Proposta de Redação
Estes textos (adaptados das fontes citadas) apresentam notícias sobre o crescimento do neonazismo
e do neofascismo e, também, alguns pontos de vista sobre o sentido desse fenômeno. Com base nesses textos
e em outras informações e reflexões que julgue adequa- das, redija uma DISSERTAÇÃO EM PROSA, procurando
argumentar de modo claro e consistente.
5. Projeto de texto
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1. Frase tema:
2. Questão:
3. Tese:
4. Argumentos
5. Argumentos
6. Conclusão
6. Leituras complementares
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6.2 Neonazismo: o rosto do nazismo na atualidade
Alguns termos da política são usados de maneira fortaleceram-se apenas com surgimento do neonazismo.
errada – ou ao menos inapropriada. É o caso da confusão entre Vejamos:
nazismo e neonazismo. Alguns casos avaliados como Os neonazistas são chamados de negacionistas. A
neonazistas aconteceram recentemente no mundo e uns maioria dos grupos neonazistas nega que o Holocausto existiu.
pensam que o neonazismo é uma vertente atenuada do O Holocausto foi o nome dado ao genocídio de judeus durante
nazismo, mas não é bem por aí. Vamos compreender o que é o a Segunda Guerra Mundial, em que eles foram perseguidos e
neonazismo? aprisionados em campos de extermínio pelo regime nazista.
Nesses lugares, eram levados a câmaras de gás para morrerem
O QUE É NEONAZISMO? por asfixia. Estima-se que 6 milhões de judeus morreram na
Alemanha nazista. A estratégia de muitos grupos neonazista é
O neonazismo é o resgate do nazismo na atualidade, de negar esse acontecimento, argumentando que não houve
mas com uma face repaginada, a fim de ter mais sintonia com essa perseguição e que o número de judeus mortos durante a
a época atual. Continuam as ideias nazistas, como a do guerra não passou de 500 mil pessoas.
racismo, do nacionalismo, do antissemitismo e do Não se intitulam como racistas, apesar de atitudes
anticomunismo. Para os neonazistas, assim como no nazismo que corroborem essa prática. O discurso nazista e neonazista é
alemão, há apenas uma raça soberana: a “raça pura ariana”. essencialmente racista, tanto por acreditar em uma
Os principais alvos de discriminação são: comunistas, judeus, supremacia branca como por ser contra a entrada de outras
índios, negros e homossexuais. Da mesma maneira que vários pessoas – portanto, de outras culturas, outras ideias, outras
tipos de preconceito se disseminam, como a xenofobia, ele tem vivências e visões de mundo – em seu espaço.
causas em questões pelas quais certo país está passando, como O neonazismo na Alemanha
desemprego, poucas oportunidades de trabalho, crescente O nazismo não é uma ideia antiga, tampouco uma
criminalidade, entre vários outros contextos nacionais. Para filosofia que foi expulsa do mundo após a Segunda Guerra
eles, uma forma de combater esses problemas é depositar a Mundial. Muitas pessoas, e o próprio governo alemão,
culpa desses problemas na presença e cultura do outro no país, demonstraram vergonha do Holocausto e do nazismo depois
como imigrantes, refugiados, estrangeiros. O grande da guerra. Criaram museus sobre a sua história e monumentos
diferencial do neonazismo é o uso de outra abordagem para a para o Holocausto, transformaram os campos de concentração
disseminação de suas ideias. Por exemplo, quando defendem – como Auschwitz, o maior deles – em um lugar aberto para
suas ideias ao clamar por uma “salvação nacional”, visitação e implementaram nas aulas de história formas de
considerando-se “libertadores” que valorizam a pátria e dela se mostrar às novas gerações as consequências do nazismo, a fim
orgulham. Esses são exemplos da utilização de palavras de conscientizá-las. No berço do nazismo, a Alemanha,
brandas, os famosos eufemismos, para maquiar a origem de entendeu-se que a educação seria também um meio de
seus ideais e ter a possibilidade de atrair mais pessoas, conscientização. Em 1991, a agência educacional de
principalmente aquelas que já se identificam com ideais da monitoramento do governo alemão pediu que o nazismo fosse
extrema-direita. O discurso de “nós” contra “eles” é o mesmo, total e ostensivamente tratado nas escolas, a fim de que a
só está repaginado. memória do Holocausto fosse mantida viva e de que o passado
O que foi o nazismo? não se repetisse. Sobre a visão da população alemã acerca do
O Nazismo é o nome de uma ideologia política nazismo, o professor de ética comparada da Universidade Livre
disseminada amplamente pelo Partido Nacional Socialista dos de Berlim, Markus Tiedemann, explica como os alemães
Trabalhadores Alemães, que foi criado em 1920 por Anton encaram a história do nazismo em uma entrevista.
Drexler na Alemanha. Como muitos já sabem, essa ideologia A esmagadora maioria da população alemã tem a
logo se espalhou por toda a Alemanha sob o comando de Adolf explícita rejeição de todas as formas de fascismo e racismo e
Hitler, culminando num regime autoritário nazista, que foi a um compromisso com a história alemã, o Holocausto e a
causa de vários marcos históricos, como o holocausto e a Segunda Guerra Mundial. Tem desejo de paz, tolerância e
Segunda Guerra Mundial solidariedade internacional e agem com comprometimento em
prol desses valores. Uma segunda parte da população toma
QUAIS AS CARACTERÍSTICAS DO NEONAZISMO? esses valores como garantidos, no sentido de não haver
necessidade de relembrá-los o tempo todo – sobre
As características do neonazismo são as mesmas do solidariedade, paz e tolerância. Eles tendem a ignorar os
nazismo, mas com uma abordagem nova e mais adaptada à perigos ou a encarar a miséria humana com horror e
atualidade. As origens são similares também: ambas as impotência.
ideologias florescem em países, espaços e locais em que há Portanto, por mais que tenha havido educação
alguma forma de conturbação social, seja o desemprego, a extensiva no sistema educacional alemão, há dois resultados:
violência, a desigualdade social e dificuldade de vida em geral. de pessoas que reconhecem esses valores e pessoas que se
O neonazismo se alastra em quem já tem um pensamento que comprometem com eles; nem todas serão ativas socialmente
caminha em direção à extrema direita. O neonazismo tem para disseminar valores contrários ao do nazismo, por
como premissas a supremacia da raça branca – ou, como exemplo. E é importante entender que, por ter sido o país em
chamam, a “raça ariana” –, a anti-imigração – e consequente que o nazismo surgiu e se aflorou, a Alemanha não conseguiu
xenofobia –, o nacionalismo exacerbado, o anticomunismo, o extinguir o mal pela raiz. Diversas pessoas que seguiam a
anticatolicismo, o antissemitismo. Esses comportamentos são ideologia nazista continuaram no país, como trabalhadores
diretamente inspirados no nazismo. Outros, porém, comuns, artesãos, vendedores, médicos, advogados. Como
explica o livro “Nazismo – como ele pôde acontecer”, da
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Superinteressante, essas pessoas inclusive voltaram a Ariana, o White Power, os Skinheads, a Ku Klux Klan. Vamos
trabalhar no governo. Exemplo disso foi um dos autores das leis falar sobre dois deles: os skinheads e a Ku Klux Klan.
de segregação racial durante o regime nazista, Hans Globke. Os Skinheads
Ele se tornou assessor do chanceler alemão nos anos 50, ou Um grupo muito conhecido é o dos skinheads,
seja, estava de alguma forma a influenciar o governo. Uma das formado nos anos 1960 na Inglaterra por jovens de classe
formas de manutenção e sobrevivência da ideologia nazista média baixa que, originalmente, não promovia ideais racistas.
foi, então, a criação de grupos remodelados: os que Mas, na década seguinte, devido à recessão econômica e à
conhecemos hoje como grupos neonazistas. fragilização da relação com imigrantes, o grupo se uniu ao
partido neonazista inglês Frente Nacional – em inglês, National
O NEONAZISMO NO MUNDO ATUAL Front –, que promovia a superioridade branca. A partir de
então, são diretamente associados a ideais neonazistas,
Há alguns episódios de grupos neonazistas atuando fascistas e de extrema-direita.
política e socialmente no mundo. Sobre a sua atuação política, Os skinheads ganharam mais notoriedade a partir dos
o neonazismo aparece na sua forma de ideologia. Veja alguns anos 1980, com grupos nos Estados Unidos que praticavam
exemplos: Na Alemanha, o Partido Nacional Democrático vandalismo e violência contra grupos de pessoas negras,
propõe a expulsão de ciganos e turcos do território e afirma homossexuais, judeus e imigrantes latinos.
que essa medida seria democrática e uma forma de expressão Ku Klux Klan
do nacionalismo. Na Grécia, o porta-voz do partido Aurora Outro grupo, também muito famoso historicamente,
Dourada, Ilias Kasidiaris, tem uma suástica tatuada em seu é a Ku Klux Klan, conhecida como KKK. A Ku Klux Klan foi um
braço e já elogiou Hitler publicamente, mas diz que não é grupo secreto racista, chamado de clã, com ideais de extrema-
nazista. Socialmente, milícias e grupos neonazistas atuam ao direita. Prega o ultranacionalismo, a supremacia branca, a
redor do mundo. Para nomear dois deles, falamos do grupo anti-imigração, o antissemitismo e tem um histórico de
Clandestinidade Nacional Socialista que atuou por anos na violência grande nos Estados Unidos. Esses ideais foram mais
Alemanha, sendo autor de ataques por bombas que causaram ou menos presentes nas três formas em que o clã se
mortes de oito pessoas. O Movimento de Resistência Finlandês, desenvolveu no país. A Ku Klux Klan é também conhecida por
que atua na Finlândia, faz protestos contra a entrada de suas vestimentas características: trajes brancos, como
imigrantes e refugiados, atua de forma violenta e tem diversas camisolas, chapéus pontiagudos em forma de cones, apesar
acusações de agressão. com buracos para os olhos. Com essas roupas, buscavam
O mais recente, comentado e visado caso de assustar as pessoas e manter o anonimato de seus membros.
neonazismo explícito aconteceu em Charlottesville, uma O primeiro clã foi formado em 1866 por soldados
cidade no estado de Virgínia, nos Estados Unidos. No dia 12 de veteranos que lutaram pelo sul dos Estados Unidos –
agosto de 2017, centenas de pessoas foram às ruas dessa historicamente um território racista, que queria a continuidade
pequena cidade estadunidense de 50 mil habitantes para do escravismo – e foram derrotados na Guerra Civil Americana.
protestar. Contra o quê? Contra a presença de negros, Não há dados que confirmem quantas pessoas integraram esse
homossexuais, imigrantes e judeus. Carregavam tochas, clã. O grupo agiu com violência e intimidação contra os
gritavam palavras de ordem e faziam saudações nazistas. escravos libertos. Em 1882, a Suprema Corte declarou a
Alguns se vestiam com armaduras e tinham cacetetes nas existência da KKK como inconstitucional. O segundo clã passou
mãos. A passeata neonazista reuniu centenas de pessoas que a agir em 1920 tinha características principalmente
eram contra a retirada da estátua de um general confederado antissemitas, xenofóbicas e nacionalistas. Opunham-se contra
– que lutou pelo Sul na Guerra Civil dos Estados Unidos – os judeus e defendiam a unidade do país, tinham um discurso
chamado Robert E. Lee, pois o consideram um símbolo histórico de anti-imigração – havia uma onde de imigração vinda da
de ideais como a supremacia branca. Os atos ocorreram Europa – e de conservação da identidade nacional. O grupo,
principalmente na Universidade de Virgínia e causaram que chegou a 4 milhões de membros, fazia grande oposição
momentos de tensão e violência, principalmente com os grupos também à Igreja Católica, realizando passeatas em massa, com
que faziam oposição aos extremistas de direita – como o grupo os mesmos trajes do primeiro clã e fazendo queima de cruzes.
Black Lives Matter (a vida dos negros importa, em tradução O terceiro clã surgiu em meados dos anos 1950, em diversos
literal para o português). lugares nos Estados Unidos, como uma forma de se opor ao
A BBC Brasil enviou o repórter Ricardo Senra para a movimento dos direitos civis liderado por Martin Luther King,
cidade de Charlottesville e aqui estão algumas de suas em busca do fim da segregação racial e do ódio contra os
impressões sobre o que ocorreu: “Os participantes do protesto negros. Agiam de maneira independente e radicalizada: faziam
desta sexta-feira carregavam bandeiras dos Confederados e linchamentos e praticavam terrorismo contra a população
gritavam palavras de ordem como: “Vocês não vão nos negra, inclusive por meio de ataques por bombas. Devido à
substituir”, em referência a imigrantes; “Vidas Brancas violência de seus ataques, o próprio governo estadunidense se
Importam”, em contraposição ao movimento negro Black Lives viu obrigado a assinar a Declaração dos Direitos Civis – que
Matter; e “Morte aos Antifas”, abreviação de “antifascistas”, previa a igualdade racial – em 1964 e foi revivido um ato que
como são conhecidos grupos que se opõem a protestos proibia a ação da KKK no país.
neonazistas.” Os dois grupos apresentados não são apenas grupos
de extrema-direita, mas sim grupos que se relacionam
GRUPOS NEONAZISTAS diretamente com ideais nazistas, caracterizando-se pelo
neonazismo. Casos como o de Charlottesville, que pregam
Os grupos neonazistas existem em todo o mundo, intolerância, ódio e preconceito têm sido recorrentes no
estão espalhados por países como Alemanha, Espanha, mundo. Devemos nos educar, entender esses ideais, suas
Estados Unidos, Brasil e Uruguai. Alguns dos mais famosos origens e como se manifestam no mundo atual.
definem sua principal pauta na “supremacia branca” – princípio (Fonte: site Politize)
de que pessoas de pele branca são superiores –, como a Nação
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