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GRANDES MATRIZES IDEOLÓGICAS DO ESTADO OCIDENTAL

- Liberalismo – tudo o que limita a liberdade individual deve ser


suprimido. A história ilustra que a limitação do poder é a melhor garantia
da liberdade. Locke, Kant, herança cultural e histórica da europa
continental. Defesa da liberdade, da segurança e da propriedade
privada, num modelo de estado abstencionista, baseado na mão
invisível de Adam Smith.

Características:
1. Individualismo;
2. Estado mínimo;
3. Crença absoluta no valor do mercado;
4. Direito de propriedade privada como direito natural e sagrado.

- Século XX, duas manifestações:


1. Até à grande depressão do final dos anos 20. Liberalismo continuador
do século XIX. Interrompido pelas políticas intervencionistas.
2. Final dos anos 70, neoliberalismo, protagonizado pela escola de
Chicago. Contagiou todo o mundo. Assenta em 3 ideias:

2.1 redução do peso económico do Estado através de privatizações


e redução do défice público
2.2. desregulação, a regulação privatiza-se, através dos interessados
(autorregulação)
2.3. livre comércio internacional.

- Corrente conservadora – herdeira do modelo pré-liberal.


Origem no pensamento contrarrevolucionário.
➔ Recusa a igualdade liberal.
➔ Defende uma sociedade de classes, uma hierarquia social,
recusa a legitimidade democrática, porque prefere a
legitimidade monárquica.
➔ Tem resistência à inovação, à mudança.

Dogmas conservadores:

1. Importância da história e da tradição – peso dos mortos, numa visão


romântica da pátria e da autoridade e da família
2. Importância da autoridade e do poder, manifestadas na
importância que tem Deus, pátria e família
3. Importância da segurança e da ordem pública
4. Preferência pela liberdade sobre a igualdade, contrário a
Rousseau.
5. Importância da garantia da propriedade privada (comunhão com o
pensamento liberal)
6. Importância da religião e da moral judaico-cristã.

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– Tipos de conservadorismo:

1. Conservadorismo contrarrevolucionário.
a. Presente em Portugal no pensamento legitimista, defensor de
D. Miguel. Perdeu a guerra civil em Portugal em 1834.

2. Conservadorismo restauracionista
– Restauração dos bourgons em frança, em 1814, com a Carta
constitucional.
- Em Portugal, Carta constitucional de 1816.

3. Conservadorismo nacionalista
– Aqueles que nos anos 20, 30 estiveram perto da tentação
totalitária, numa posição profundamente anticomunista.

4. Conservadorismo neoliberal
– Surge no final do século XX, protagonizado no Reino Unido
pela Thatcher, e nos EUA por Ronald Reagan.

5. Conservadorismo protecionista
- Contrário à livre circulação e ao livre comércio internacional,
(com líder em Trump nos EUA).

- Socialismo – começou historicamente com um combate ao


liberalismo, assente em 4 preferências históricas:

1. Preferência da igualdade sobre a liberdade (como Rousseau)


2. Preferência da propriedade coletiva sobre a propriedade privada.
Rousseau e marxismo.
3. Preferência pela intervenção do estado, relativamente à abstenção do
Estado
4. Preferência por uma economia de direção central, relativamente a uma
economia de mercado. Centralidade do Estado. (planificação da economia
sob tomada de decisões de uma entidade, o Estado).

Modalidades do socialismo:

1. Socialismo marxista leninista – tem como meta o comunismo, ditadura


do proletariado + anarquia.

2. Socialismo maoísta, socialismo chinês – socialismo que aposta numa


formação de novas mentalidades. Revolução cultural dos anos 60.
Concilia o modelo de forte intervenção do estado, de domínio do estado,
com uma economia aberta de mercado, virada para o comércio
internacional.

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3. Socialismo democrático – aceita o capitalismo, aceita o pluralismo. Tem
uma preocupação social, com influência da doutrina social da igreja.
Conversão das últimas duas décadas, do socialismo democrático ao
pensamento neoliberal. Privatização, menos Estado. O socialismo
democrático foi capturado pelo neoliberalismo. Explica o quarto tipo de
socialismo.

4. Socialismo populista – contra a liberalização, quer mais presença do


Estado na sociedade e na economia, e tem por vezes tentações
totalitárias, sob uma aparente democraticidade, Venezuela e Espanha
(Podemos).

MODELOS POLÍTICO-CONSTITUCIONAIS

Modelo pluralista
- reconhecimento e garantia pelo Estado de direitos, liberdades e
garantias dos cidadãos (artigo 24º e seguintes CRP).
- principais titulares com poder de decisão política são designados por
eleições, por via de sufrágio universal
- o papel relevante dos partidos políticos – estado de partidos – Comentado [sf1]: Estado novo: Ideia de Estado sem
partidos
1. Importância dos partidos na representação política. São Há também Estados com partido único
o veículo de representação da sociedade. No sistema
português, só os partidos políticos têm o monopólio da
apresentação de candidaturas.

2. Importância nos partidos na oposição. Não só têm a função


de formar ideologicamente a sociedade como têm um papel
insubstituível na apresentação de alternativas para o
funcionamento.

3. Fiscalização política do decisor. Compete aos partidos


controlar e fiscalizar a atuação do poder. Nesse sentido, os
partidos limitam o próprio poder.

- A existência de uma hierarquia de normas jurídicas, e o respeito pelo


princípio da legalidade. O direito tem uma coerência interna e essa
coerência interna determina que se há uma norma que viola uma
outra norma de hierarquia superior, essa norma é inválida. O
princípio da legalidade impõe a subordinação de atos jurídicos a outros
atos jurídicos.
- Não há Estado pluralista sem o controlo dos tribunais, à atuação do
poder político. Os tribunais são a última instância de garantia da
legalidade.

Democracia representativa – não é possível o povo, diretamente, exercer


o poder. Por isso, o povo tem de confiar a alguns, o exercício desse
poder.

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A esses alguns é confiado o poder por via de eleição. Modelo pelo qual
os governantes exercem o poder em nome do povo. O poder pertence
ao povo, mas não o exerce diretamente. A soberania do povo não é
ilimitada, desde logo porque tem de respeitar a Constituição e tem de
respeitar princípios jurídicos fundamentais. A democracia representativa
envolve a ideia de sufrágios periódicos e universais. Baseia-se, ainda,
no princípio maioritário.
Porém, essa maioria é critério de decisão, não critério de verdade.

Democracia direta – povo toma as decisões, reunido numa assembleia.


Ocorre com 3 manifestações:

1. A Grécia antiga. Modelo de cidades estado, o podo podia reunir-se numa


praça pública
2. Alguns cantões da Suíça, de reduzida dimensão territorial.
3. Freguesias de diminuta população, pode haver um plenário dos cidadãos
eleitores.

Democracia semidirecta – situações em que a intervenção dos cidadãos é


feita perante casos pontuais, em que os cidadãos são chamados a ter uma
intervenção. Fundamentalmente:

1.O referendo.
2.Os cidadãos podem eles ter iniciativa popular. Desencadeiam o processo
de feitura de uma lei pelo parlamento.

Democracia participativa – art.º 2º CRP – aprofundar da democracia. A Comentado [sf2]: Artigo 2.º
democracia representativa pode criar crises de legitimidade democrática. Os Estado de direito democrático
A República Portuguesa é um Estado de direito
deputados podem não estar sensíveis ao povo. Há a necessidade de democrático, baseado na soberania popular, no
mecanismos que reforcem a democracia. pluralismo de expressão e organização política
Procura que os cidadãos, através de associações, façam fazer valer democráticas, no respeito e na garantia de efetivação
dos direitos e liberdades fundamentais e na separação
os seus interesses, junto do poder. Faz com que os cidadãos possam, dentro e interdependência de poderes, visando a realização da
de estruturas representativas, ter um papel de intervenção. democracia económica, social e cultural e o
Ex. Sindicatos, associações patronais, elementos nucleares para o aprofundamento da democracia participativa.
reforço da legitimidade para a alteração da legislação.
Ex. Fixação do calendário das provas escritas, com participação dos
Comentado [sf3R2]: Direito de audiência prévia
alunos com os delegados de cada turma. – Sempre que a administração vai
decidir alguma coisa em relação a alguém, em sentido contrário ao que a
pessoa queria, ou em termos lesivos, a administração tem sempre, por via de
regra, de ouvir primeiro o destinatário da decisão.
Direito de audiência prévia. Forma de democracia participativa.

- Modelo não pluralista – poder político não democrático. Poder totalitário.

TEORIA DA CONSTITUIÇÃO

Conceito da constituição está ligado ao sistema jurídico. Ponte entre


direito constitucional e introdução ao estudo do direito. Pirâmide, com a
Constituição no topo.

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Pensamento de Kelsen, estrutura escalonada das normas. Esta, que é a Comentado [sf4]: Ideia de escada – gradativamente
tradição, obedece a 3 ideias:
1. Força prevalecente da constituição. Qualquer norma que a contrarie
é inconstitucional. Constituição é a lei das leis, a lei fundamental.
2. Expressão da unidade axiológica do ordenamento jurídico. Todos os
grandes valores radicam da Constituição. Mãe da ordem de valores
do ordenamento. Qualquer ato jurídico que contrarie o referencial
axiológico é também inconstitucional
3. Monopólio de decisão do poder constituinte do Estado.
➔ A Constituição como expressão da vontade primária do
Estado.

Visão tradicional não abarca a família constitucional britânica. Expressão


do costume de uma sociedade. A constituição britânica não é uma constituição
rígida. A lei parlamentar posterior, que contrarie uma norma costumeira
constitucional, revoga essa norma constitucional.

O conceito tradicional de Constituição está pensado para constituições


escritas Norte Americanas ou da Europa Continental.

A Constituição é hoje caracterizada por uma complexidade axiológica.


Com base na mesma Constituição, é possível defender posições contrárias. A
grande complexidade axiológica é resultado do relativismo ou pluralismo
de valores. Na composição das assembleias constituintes, aparecem uma
pluralidade de partidos e de ideologias. Mito de unidade inequívoca.

Diálogo entre fatos e realidade.


Há normas que perdem efetividade. Há uma oportunidade para a norma
ser aplicada, mas a norma não é aplicada - Desuso.
Falta de efetividade - Quando uma norma escrita deixa de ser aplicada
quando deveria ser aplicada.
Primeiro elemento de uma prática que pode gerar a convicção de
obrigatoriedade contrária à norma legal - Costume contrário à Constituição.
Norma não escrita em sentido contrário à norma constitucional.
Constituição escrita oficial x norma não escrita integrante da constituição não
oficial, a real, aplicada.

O Estado não tem o monopólio da decisão constituinte.


Permeabilidade. Invasão do modelo formal escrito da Constituição oficial, por
práticas reiteradas que criam precedentes e costumes contrários às normas
escritas.

Paulo Benavides – Todos os Estados têm sempre duas constituições. Uma


escrita e uma real, efetivamente aplicada. Todos os estados, exceto os
Estados com constituição de modelo britânico.

Outra observação – contra a visão hierarquizada.

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1. Esta conceção de Kelsen está pensada para a constituição escrita. Comentado [sf5]: Artigo 19.º
Porém, há a relativização da força normativa da Constituição. Suspensão do exercício de direitos
1. Os órgãos de soberania não podem, conjunta ou
separadamente, suspender o exercício dos direitos,
1.1 as normas escritas da Constituição podem perder efetividade. liberdades e garantias, salvo em caso de estado de
1.2 pode haver uma subversão do sentido de uma norma escrita da sítio ou de estado de emergência, declarados na forma
prevista na Constituição.
constituição. (“oposição”) 2. O estado de sítio ou o estado de emergência só
Ex. Constituição na versão original falava de transição para o podem ser declarados, no todo ou em parte do território
socialismo. Porém, o primeiro governo pediu a adesão à União nacional, nos casos de agressão efetiva ou iminente
por forças estrangeiras, de grave ameaça ou
Europeia. Gerou uma falta de efetividade. perturbação da ordem constitucional democrática ou de
Ex. Deputados eleitos de 4 em 4 anos. Porém, a motivação da calamidade pública.
maioria do eleitorado é a escolha do primeiro ministro. 3. O estado de emergência é declarado quando os
pressupostos referidos no número anterior se revistam
Ex. Desde 1966, antes de nomearem o PM, o Presidente de menor gravidade e apenas pode determinar a
encarrega alguém de tentar organizar um programa de governo. suspensão de alguns dos direitos, liberdades e
Indigitação do PM. Encarregar alguém de formar direito. Figura que garantias suscetíveis de serem suspensos.
4. A opção pelo estado de sítio ou pelo estado de
surgiu na prática, sem que a constituição falasse sobre. emergência, bem como as respetivas declaração e
execução, devem respeitar o princípio da
1.3 Pode acontecer que dentro da Constituição exista uma hierarquia proporcionalidade e limitar-se, nomeadamente quanto
às suas extensão e duração e aos meios utilizados, ao
de normas. Nem todas as normas constitucionais têm o mesmo estritamente necessário ao pronto restabelecimento da
valor. normalidade constitucional.
5. A declaração do estado de sítio ou do estado de
emergência é adequadamente fundamentada e contém
Ex. Art.º 19/6 estado de sítio não pode afetar direitos fundamentais xyz. a especificação dos direitos, liberdades e garantias cujo
Mesmo em estado de necessidade constitucional, há direitos exercício fica suspenso, não podendo o estado
fundamentais que nunca podem ser afetados. Os direitos declarado ter duração superior a quinze dias, ou à
duração fixada por lei quando em consequência de
fundamentais a que se refere o art.º 19 são normas hierarquicamente declaração de guerra, sem prejuízo de eventuais
superiores às restantes normas fundamentais. renovações, com salvaguarda dos mesmos limites. ...
Relativização da força normativa da constituição. Comentado [sf6R5]:
Comentado [sf7]: Artigo 41.º
1.4 Muitas normas constitucionais dizem que a situação x será Liberdade de consciência, de religião e de culto
regulada pela lei. 1. A liberdade de consciência, de religião e de culto é
inviolável.
2. Ninguém pode ser perseguido, privado de direitos ou
Ex. Direito à objeção da consciência art.º 41/6. A objeção de isento de obrigações ou deveres cívicos por causa das
consciência é um direito que está prisioneiro de uma norma legal suas convicções ou prática religiosa.
- Quando a Constituição remete para a lei a efetividade das suas 3. Ninguém pode ser perguntado por qualquer
autoridade acerca das suas convicções ou prática
normas, isso significa que a Constituição relativiza a forma religiosa, salvo para recolha de dados estatísticos não
normativa dos seus preceitos. individualmente identificáveis, nem ser prejudicado por
A constituição não basta para a efetividade da força normativa se recusar a responder.
4. As igrejas e outras comunidades religiosas estão
dos seus preceitos. separadas do Estado e são livres na sua organização e
Art.º18º - direitos liberdades e garantias não estão prisioneiros da no exercício das suas funções e do culto. ...
lei. Comentado [sf8]: Artigo 18.º
Força jurídica
1.5. Princípios jurídicos fundamentais acima das normas jurídicas. 1. Os preceitos constitucionais respeitantes aos
direitos, liberdades e garantias são diretamente
aplicáveis e vinculam as entidades públicas e privadas.
2. A lei só pode restringir os direitos, liberdades e
2. Concorrência de normas constitucionais. garantias nos casos expressamente previstos na
Constituição, devendo as restrições limitar-se ao
necessário para salvaguardar outros direitos ou
Hoje, há uma pluralidade de normas jurídicas, provenientes interesses constitucionalmente protegidos.
de diversos atores, a reivindicar que cada uma das fontes emanam 3. As leis restritivas de direitos, liberdades e garantias
têm de revestir carácter geral e abstrato e não podem
normas de natureza constitucional. ter efeito retroativo nem diminuir a extensão e o
A própria sociedade pode criar normas de natureza alcance do conteúdo essencial dos preceitos
constitucional. constitucionais

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O espírito do povo também pode criar normas de natureza
constitucional.
A comunidade internacional também pode criar normas de índole
constitucional, que têm primado sobre as normas constitucionais – ius
cogens – ex. declaração universal dos direitos do homem. Primado do
direito da União Europeia.

Constituição Económica dos estados membros da União


Europeia está no direito da União Europeia, no Tratado de Lisboa. Não
há apenas uma norma proveniente de um sujeito autor da constituição.
Verifica-se uma pluralidade concorrente de normas constitucionais.
A Constituição do Estado não é apenas a lei fundamental,
que ocupa o topo da hierarquia. A Constituição do Estado não se
reconduz à Constituição escrita elaborada por esse Estado -
Constituição multinível. Verificação de que há normas
constitucionais que provêm de várias fontes, de níveis diferentes.

Constituição interna x Normas europeias x normas de ius commune,


direito transnacional, comum a vários estados.

Autoria da constituição – poder constituinte formal (gera a constituição


oficial) ou poder constituinte informal (gera normas não escritas).
3 diferenças:

1. intencionalidade. O poder constituinte formal é a expressão de uma


intenção de elaborar ou modificar normas constitucionais X Poder
constituinte informal - normas que surgem espontaneamente na
sociedade.

2. poder procedimentalizado. O poder constituinte formal obedece a um


conjunto de atos sucessivos, definidos pelo direito.
Procedimentalização, há um processo para elaborar e para modificar
a constituição. X poder constituinte informal - ausência de qualquer tipo
de procedimentalização, sem regras que regulam.

3. O poder constituinte formal traduz-se sempre num ato jurídico escrito.


X poder constituinte informal - ausência de ato jurídico escrito.

O poder constituinte formal pode ser originário ou derivado.

Originário – traduz-se na feitura de uma constituição.


Derivado – traduz-se na revisão ou alteração da constituição existente.
O poder constituinte derivado está subordinado ao originário. Se violar
as normas definidas pelo poder constituinte originário, gera a
inconstitucionalidade das leis de revisão constitucional.

O poder constituinte formal pode ser o resultado de 4 hipóteses:


1. expressão da vontade de uma pessoa, que outorga uma constituição.
2. Expressão de uma Assembleia Constituinte (Portugal 1911, 1976)

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3. Solução mista. Parlamento aprova, lei sanciona ou não. (Carta
Constitucional francesa 1830, Portugal 1837).
4. Constituição produto de uma votação popular. Projeto aprovado por
um referendo. (Portugal 1933, França 1958)

O poder constituinte informal pode ter 3 características:


- pode ser segundo a constituição
- pode ir para além da constituição
- pode ser contrário à constituição

APLICAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO

A validade de todos os atos depende da sua conformidade com a


Constituição

- O legislador, ao fazer as leis, tem de ter em vista a Constituição. A lei


desenvolve-se dentro do espírito do sistema constitucional.
- Os tribunais têm, nos termos do art.º 204º da CRP, têm o dever de
recusar a aplicação de normas que violem a constituição.
- Todos os tribunais estão vinculados a garantir a constituição. Todos os
tribunais são tribunais constitucionais. Fonte do art.º 204º é a Comentado [sf9]: Artigo 204.º
constituição norte americana e a brasileira de 1891. Apreciação da inconstitucionalidade
Nos feitos submetidos a julgamento não podem os
- A administração também tem de aplicar a constituição. tribunais aplicar normas que infrinjam o disposto na
Não tem o poder de recusar normas inconstitucionais, só o pode fazer a Constituição ou os princípios nela consignados.
título excecional. Em regra, a administração está obrigada a aplicar normas
inconstitucionais. Comentado [sf10R9]: Artigo da Constituição de
- No âmbito da função política, os atos políticos não estão sujeitos, em destaque relevante.
regra, a controlo jurisdicional. Os atos políticos só são controláveis em
termos políticos. Opinião pública, eleições – passíveis de controlo
político.
- Entidades privadas que exercem poderes públicos também estão
vinculadas a aplicar a constituição, nos termos que a administração
está.
- As entidades que exercem funções privadas, os particulares estão
vinculados nos termos do art.º 18º/1 da CRP – normas que dizem Comentado [sf11]: Artigo 18.º
respeito a direitos, liberdades e garantias. Força jurídica
1. Os preceitos constitucionais respeitantes aos
direitos, liberdades e garantias são diretamente
Aplicação fora do território nacional: aplicáveis e vinculam as entidades públicas e privadas.
2. A lei só pode restringir os direitos, liberdades e
garantias nos casos expressamente previstos na
Casos de extraterritorialidade. Embaixadas, consulados, aviões, etc. Ficção Constituição, devendo as restrições limitar-se ao
de que esses espaços são território nacional. necessário para salvaguardar outros direitos ou
Normas de conflitos. Art.º 22 e seguintes. Direito internacional privado. interesses constitucionalmente protegidos.
3. As leis restritivas de direitos, liberdades e garantias
Casos de conflitos de leis atravessadas por fronteiras. têm de revestir carácter geral e abstrato e não podem
Ex. A, espanhol, casa com B, francês, vivem em Portugal e querem ter efeito retroativo nem diminuir a extensão e o
divorciar-se. Em Portugal, saber qual a lei que divulga o divórcio e o poder alcance do conteúdo essencial dos preceitos
constitucionais.
parental. Tribunal pode aplicar direito estrangeiro.
Quando aplica uma lei ordinária estrangeira, pode analisar-se a
conformidade dessa lei à constituição do seu país de origem. Aplicação
externa da constituição portuguesa, ou da constituição de qualquer outro país.

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MECANISMOS DE DEFESA INTERNA E EXTERNA DA CONSTITUIÇÃO

Mecanismos de defesa interna


- Defesa da identidade constitucional. Defender os valores nucleares de uma
constituição.

Limites materiais de revisão constitucional. Art.º 288 Cláusulas pétreas Comentado [sf12]: Artigo 288.º
(termo brasileiro). Há matérias que a Constituição nega a possibilidade de Limites materiais da revisão
As leis de revisão constitucional terão de respeitar:
ser objeto de modificação constitucional. a) A independência nacional e a unidade do Estado;
Ex. Forma republicana de governo. Ideia portuguesa – matérias que não b) A forma republicana de governo;
podem ser modificadas. c) A separação das Igrejas do Estado;
d) Os direitos, liberdades e garantias dos cidadãos;
Não é possível substituir a figura do PR pela figura do rei. e) Os direitos dos trabalhadores, das comissões de
trabalhadores e das associações sindicais;
1. Para alguns autores, a norma da Constituição que fixa as cláusulas f) A coexistência do sector público, do sector privado e
do sector cooperativo e social de propriedade dos
pétreas é uma norma supraconstitucional. meios de produção;
g) A existência de planos económicos no âmbito de
2. A norma que fixa os limites materiais é uma norma constitucional igual a uma economia mista;
h) O sufrágio universal, direto, secreto e periódico na
qualquer outra, passível de alteração. designação dos titulares eletivos dos órgãos de
soberania, das regiões autónomas e do poder local,
Ex. 1ª revisão remove a forma republicana como limite, posteriormente, bem como o sistema de representação proporcional;
i) O pluralismo de expressão e organização política,
uma 2ª revisão, uma vez que já não existe a alínea que define que a forma incluindo partidos políticos, e o direito de oposição
republicana é um limite material, pode instaurar uma monarquia. democrática;
A alteração dos principais limites identificativos não leva à criação de j) A separação e a interdependência dos órgãos de
soberania;
uma nova constituição? A descaracterização da entidade de uma constituição l) A fiscalização da constitucionalidade por ação ou por
acaba, por fim, por conduzir a uma transição constitucional. omissão de normas jurídicas;
Ex. 288 a) independência nacional. Portugal como estado federado na m) A independência dos tribunais;
n) A autonomia das autarquias locais;
união europeia. A constituição deixa de ser a constituição de um estado o) A autonomia político-administrativa dos arquipélagos
federado, deixa de ser a mesma constituição. dos Açores e da Madeira.

3. os limites materiais não seriam uma ditadura que os pais da constituição


original impõem à vontade constituinte das gerações futuras? Os limites
materiais colocam o problema do relacionamento constitucional entre
gerações. Gerações condenadas à insubordinação.

Limites materiais podem aprisionar a liberdade das gerações futuras

- Defesa da força normativa da Constituição.


Defesa da Constituição como lei fundamental determina que todos os atos
que violem a Constituição sejam atos inconstitucionais.

Fiscalização da constitucionalidade. Os tribunais são chamados a garantir Comentado [sf13]: Artigo 283.º
Inconstitucionalidade por omissão
a Constituição. Os tribunais são os últimos guardas da constituição. A 1. A requerimento do Presidente da República, do
fiscalização processa-se por: Provedor de Justiça ou, com fundamento em violação
de direitos das regiões autónomas, dos presidentes das
Assembleias Legislativas das regiões autónomas, o
1. Ação. Controla-se aquilo que foi feito, em sentido contrário à constituição. Tribunal Constitucional aprecia e verifica o não
Art.º 283º cumprimento da Constituição por omissão das medidas
legislativas necessárias para tornar exequíveis as
normas constitucionais.
1.1 Fiscalização preventiva – incide sobre atos que ainda não estão perfeitos. 2. Quando o Tribunal Constitucional verificar a
O processo da sua feitura ainda não foi concluído. Pode faltar a promulgação, existência de inconstitucionalidade por omissão, dará
disso conhecimento ao órgão legislativo competente.

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a assinatura do representante da república... Ocorre antes do ato estar Comentado [sf14]: Artigo 204.º
publicado, de ter entrado em vigor. Apreciação da inconstitucionalidade
Nos feitos submetidos a julgamento não podem os
tribunais aplicar normas que infrinjam o disposto na
1.2 Fiscalização sucessiva – incide sobre atos perfeitos, que terminou o seu Constituição ou os princípios nela consignados.
processo de feitura, foi publicado.
A fiscalização sucessiva poderá, por sua vez, ser: Comentado [sf15]: Artigo 19.º
Suspensão do exercício de direitos
1. Os órgãos de soberania não podem, conjunta ou
1.2.1 difusa ou incidental – todo e qualquer tribunal tem separadamente, suspender o exercício dos direitos,
competência para conhecer a constitucionalidade art.º liberdades e garantias, salvo em caso de estado de
204º sítio ou de estado de emergência, declarados na forma
prevista na Constituição.
1.2.2 concentrada – só um órgão tem a competência para 2. O estado de sítio ou o estado de emergência só
fiscalizar. Tribunal Constitucional. podem ser declarados, no todo ou em parte do território
Exemplo francês – Conselho Constitucional. Princípio da nacional, nos casos de agressão efetiva ou iminente
por forças estrangeiras, de grave ameaça ou
separação de poderes. Problema da legitimidade. perturbação da ordem constitucional democrática ou de
calamidade pública.
3. O estado de emergência é declarado quando os
pressupostos referidos no número anterior se revistam
de menor gravidade e apenas pode determinar a
2. Omissão. Controla-se o que não foi feito, mas deveria ter sido feito. suspensão de alguns dos direitos, liberdades e
- Defesa em situações extraordinárias. Revolta militar, desastre nacional. garantias suscetíveis de serem suspensos.
4. A opção pelo estado de sítio ou pelo estado de
emergência, bem como as respetivas declaração e
Estado de Exceção/Necessidade constitucional. execução, devem respeitar o princípio da
Art.º 19º Previstas 2 figuras. proporcionalidade e limitar-se, nomeadamente quanto
às suas extensão e duração e aos meios utilizados, ao
estritamente necessário ao pronto restabelecimento da
1. Estado de sítio normalidade constitucional.
2. Estado de emergência 5. A declaração do estado de sítio ou do estado de
emergência é adequadamente fundamentada e contém
a especificação dos direitos, liberdades e garantias cujo
Nestas circunstâncias extraordinárias, é possível a suspensão parcial de exercício fica suspenso, não podendo o estado
certas normas da constituição. declarado ter duração superior a quinze dias, ou à
duração fixada por lei quando em consequência de
declaração de guerra, sem prejuízo de eventuais
Valores mais importantes que justificam que se crie soluções jurídicas renovações, com salvaguarda dos mesmos limites.
excecionais. 6. A declaração do estado de sítio ou do estado de
emergência em nenhum caso pode afetar os direitos à
vida, à integridade pessoal, à identidade pessoal, à
Limites resultam do art.º 19º/6 – direitos fundamentais não podem ser objeto capacidade civil e à cidadania, a não retroatividade da
de suspensão. lei criminal, o direito de defesa dos arguidos e a
liberdade de consciência e de religião.
7. A declaração do estado de sítio ou do estado de
emergência só pode alterar a normalidade
- Direito penal político – normas do código penal que visam sancionar quem constitucional nos termos previstos na Constituição e
na lei, não podendo nomeadamente afetar a aplicação
atente contra a constituição. das regras constitucionais relativas à competência e ao
Ex. Apelo público para destituir a Constituição, apelo à insurreição é funcionamento dos órgãos de soberania e de governo ...
crime. É crime também a prática de atos que levam à subversão das Comentado [sf16]: Artigo 21.º
instituições constitucionais. Direito de resistência
Todos têm o direito de resistir a qualquer ordem que
ofenda os seus direitos, liberdades e garantias e de
- Não se pode excluir a admissibilidade do direito de resistência para a repelir pela força qualquer agressão, quando não seja
defesa de direitos constitucionais art.º 21. Art.º 19/8. possível recorrer à autoridade pública.

Ex. Portugal é invadido por forças estrangeiras. É admissível que os Comentado [sf17]: Artigo 19.º
portugueses defendam a constituição. Suspensão do exercício de direitos
(…)
8. A declaração do estado de sítio ou do estado de
emergência confere às autoridades competência para
tomarem as providências necessárias e adequadas ao
pronto restabelecimento da normalidade constitucional.

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Mecanismos Externos

- UE tem o direito de sancionar estados que violem valores da


Constituição Europeia. Art.º 7º.
Punições:
- Suspensão de um Estado.
- Proibição de direitos de voto.

CESSAÇÃO DE VIGÊNCIA DA CONSTITUIÇÃO

2 tipos de processos.

1. processos constitucionais – Cessação pode ser parcial ou total.


Pode-se cessar a vigência de toda a constituição (transição
constitucional, respeitando as regras da constituição, sem ruptura
constitucional quanto ao processo de feitura) ou só de certas normas
(revisão constitucional mantém a mesma constituição vigente).
2. processos aconstitucionais – à margem da constituição.
Processos que alteram a constituição.
Podem levar à transição, na íntegra, para uma nova constituição.

2.1. Processos revolucionários.


2.2. Golpe constitucional. Alteração da constituição, sem ser por
revolução e sem respeitar as regras vigentes para a alteração dessa
mesma constituição.
Ex. ato adicional de 1852.
2.3 costume contra a constituição
A dissolução da constituição nacional quer pela globalização
constitucional, ius commune constitucional, quer pela europeização.
Constituições nacionais são constituições regionais, dentro da União Europeia.

PROJEÇÃO EXTERNA DA CONSTITUIÇÃO NACIONAL

- aplicação por tribunal estrangeiro. Problema de compatibilidade do


direito ordinário português com o direito constitucional. Tribunal
estrangeiro competente para julgar conforme a constituição portuguesa.
- Emigrantes portugueses gozam de direitos e estão sujeitos a deveres
compatíveis com o facto de estarem no estrangeiro. Estão sujeitos à
constituição portuguesa, que é uma lei pessoal.
- Vinculação do Estado português a convenções internacionais.
Negociações e representantes legitimados pela constituição
portuguesa.
- Tratado da UE, art.º 6º/3. Tradições constitucionais comuns aos
Estados membros. Constituição funciona no âmbito da UE como fonte
de tradições comuns. Denominadores comuns são fonte de direito da
UE.

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NORMAS CONSTITUCIONAIS

Regras – aplicação “tudo ou nada”. Sem dúvidas interpretativas

Princípios – possuem elasticidade de concretização, permeabilidade.


Ex. Art.º 276º, boa fé, etc. Protagonismo do intérprete, conflitos
interpretativos. Aos tribunais compete fixar o sentido último da interpretação.
Intérprete último = Tribunal constitucional. Grau de abstração, interpretação
pode levar a diversas decisões diferentes. No tribunal, vencidos elaboram uma
declaração de voto. Interpretação da constituição não é pacífica.
Principais normas são normas princípio.

Há situações de concorrência de princípios


Ex. Direito à informação sobre individualidades públicas x direitos à
privacidade, reserva da vida privada. Concorrência coexistencial. Ponto de
equilíbrio. Ponderação no caso concreto. Justo equilíbrio. Hierarquia superior
das normas constitucionais.
Constituição portuguesa permite tanto a nacionalização quanto a
privatização. Prevalência de uma ou de outra depende de fatores políticos.
Princípio da alternância democrática.

Constituições de matriz liberal - estabelece normas de natureza organizativa


e funcional. Separação de poderes.

Constituições de Estados sociais – impõem obrigações, possuem normas


programáticas, que implicam relações entre poderes.

Normas programáticas – não são exequíveis por si mesmas. A lei faz ponte
com a realidade concreta. Inconstitucionalidade por omissão. Tribunal
Constitucional art.º 283º

INTERPRETAÇÃO DE NORMAS CONSTITUCIONAIS

- será legítimo aplicar à constituição as regras de interpretação do CC?


Normas do CC, em matéria de interpretação, são lei constitucional. Há
convicção de obrigatoriedade constitucional
- sujeitos protagonistas da interpretação:
1. Qualquer um pode fazer interpretação doutrinal. Pluralidade de
intérpretes
2. Interpretação judicial
3. O presidente pode considerar que o governo está a por em
causa o regular funcionamento, TC não fiscaliza a constitucionalidade
desse ato.
4. Assembleia da república quando realizam revisão
constitucional realizam interpretação autêntica
5. Administração

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- Princípios a que está sujeita a interpretação:
1. Unidade, consequência do elemento sistemático
2. Máxima efetividade, interpretação que melhor garante os
direitos que constam na CRP
3. Princípio da concordância prática. Concorrência de princípios.
Devemos encontrar uma solução que harmonize os princípios.
Ponderação + hierarquização.
4. Princípios de interpretação de direito ordinário. Sentido
compatível com a constituição deve prevalecer.

Lacunas – ausência de regulação dentro do plano. Lacunas das normas


constitucionais integram-se através de outras fontes de normas
constitucionais.
Ex. DUDH, costume praeter legem. Ou analogia dentro da constituição
Ou tradições constitucionais comuns aos Estados membros da UE.
Critério 10º/3 CC, criação de norma pelo intérprete, transponível para
a CRP? Em matéria de competência, a regra é de que não há lacuna.

EFICÁCIA TEMPORAL DAS NORMAS

- em regra a eficácia das normas é apenas para o presente e para o futuro


- podem subsistir normas de direito anterior. Há normas de direito anterior
à Constituição vigente que podem ser ressalvadas. Direito ordinário não
cede perante a entrada em vigor de uma nova constituição. Apenas se
for materialmente contrária à nova Constituição
- Uma norma constitucional que já não está em vigor pode produzir
efeitos. Enquanto vigorarem atos que forem emanados ao abrigo dessa
constituição, esses atos têm como fundamento essa constituição.
o Formulação do CC/66 não pode ser questionada ao abrigo da
CRP/76 e revogada por um regulamento. Como o CC/66 foi
criado ao abrigo da CRP/33, deve respeitar normas
orgânicas/formais dessa Constituição.
- Pós-eficácia das normas constitucionais.
Inconstitucionalidade pretérita – desconformidade de um ato face a texto
constitucional que já não está em vigor. Também pode ocorrer quanto a
normas da Constituição de 76 que sofreram revogação por revisão
constitucional

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