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Resumo
A democracia de um Estado está intrinsicamente ligada as suas leis e ao seu
processo legislativo. Como conceito, a democracia sofreu constantes evoluções
filosóficas ao longo da história evolutiva da sociedade humana. Alguns filósofos
consideram as evoluções como reinvenção constante da democracia. O fato é que
houve um amadurecimento evolutivo do conceito, a democracia no seu aspecto
formal consolidou-se como um procedimento e no seu aspecto material consolidou-
se como direitos sociais fundamentais. Neste contexto, o recente Estado Democrático
Brasileiro, constituído pela Constituição de 1988, demandou um ajuste democrático
no controle de constitucionalidade de seu ordenamento. O controle de
constitucionalidade brasileiro influenciado pela evolução do pensamento filosófico a
cerca da democracia se tornou mais plural e participativo.
Palavras-chave:
Democracia. Controle de constitucionalidade. Filosofia jurídica. Constituição.
1. Introdução
A democracia é a maior expressão de cidadania de um povo. Na sua essência
estão os direitos à igualdade e à liberdade, admitindo a pluralidade de pensamento
com respeitos as diferenças. Ela é a base para uma sociedade humana e justa que se
organiza através de leis. Não existe democracia sem lei e sem um processo legislativo
participativo e plural. A lei encontra validade na constituição do Estado, e esta
validade legal é aferida por um processo de controle de constitucionalidade do
ordenamento legal. Portanto, o controle de constitucionalidade é instrumento
fundamental para a manutenção da cidadania e da democracia de um Estado.
O presente trabalho irá investigar a evolução do conceito jus filosófico de
democracia que se inova com evolução das sociedades ao longo do tempo. Em
seguida, irá verificar a adoção de institutos democráticos na Constituição da
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Bobbio faz uma comparação crítica entre o modelo democrático real e o modelo
democrático ideal teórico em contrapontos. Na comparação ele destaca que os
protagonistas reais seriam os grupos ao invés de indivíduos; a forma de sociedade
seria centrífuga ao invés de centrípeta; o Poder estaria dominado pelas oligarquias ao
invés dos indivíduos nacionais; a representação de interesse atenderia a lógica
partidária ao invés da lógica geral; não havia uma ampla transparência nas decisões;
e o voto do representante seria mais por uma questão de troca do que de a legítima
opinião cidadã. Ele conclui a crítica de realidade, na perspectiva procedimental,
afirmando que o Estado Democrático moderno estaria fora do ideário democrático,
não cumprindo as promessas da democracia.
As distorções eram causas e consequências de obstáculos à democracia que
surgiram em decorrência das transformações na sociedade civil. Em destaque houve
uma complexa transformação social e econômica. A economia mudou de uma
economia familiar para uma economia de mercado e depois para uma economia
regulada/controlada. Antes, todos estavam aptos a decidir os problemas econômicos
e sociais, agora, uma nova e complexa sociedade demandava uma racionalidade
técnica para os problemas sociais e econômicos. A razão instrumental substituiu a
razão política, diminuindo a participação e a transparência. O estado deve decidir
dentro de normas técnicas muitas vezes não acessíveis a todas as pessoas. O Estado
deve agir em “segredo técnico” para não provocar escândalo aos não técnicos. Este
processo afastou a cidadania ativa nas decisões estatais e provocou uma apatia
participativa, esvaziando assim a democracia.
As críticas de Bobbio referentes aos desvios da tecnocracia estão atualmente
presente em algumas estruturas decisórias de Poder estatal. No caso brasileiro, a
tecnocracia destaca-se nas composições do Poder Judiciário. Ao contrário do Poder
Executivo e do Poder Legislativo, na base, os membros do Poder Judiciário
ingressam por concurso, e nos Tribunais, os membros ingressam por promoção da
base ou por indicação do quinto constitucional. Nos Tribunais superiores, apesar de
haver requisitos técnicos constitucionais, a investidura sofre maior influência
política, pois em regra a indicação cabe ao chefe do executivo referendada por uma
aprovação no Senado Federal.
No Poder Judiciário brasileiro, as “regras do jogo” destacadas por Bobbio não
deixam de ser democráticas, mas correm o risco de perder a legitimidade ao fugir do
ideário democrático participativo. Em tese, a democracia no Poder judiciário está na
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última instância ficou a cargo do Supremo Tribunal Federal (STF) e está passando
por um processo democratização ao aderir institutos de participação social.
A Constituição de 1988 dispõe diversos institutos que efetivam a democracia
material de uma forma plural, estimulando a diversidade de pensamentos e ideias na
sociedade. O artigo 1°, inciso V traz o pluralismo político; o parágrafo único do artigo
170 trata da pluralidade da atividade econômica “É assegurado a todos o livre
exercício de qualquer atividade econômica, independentemente de autorização de
órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei”; o artigo 206 apresenta o
pluralismo no ensino “O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições
públicas e privadas de ensino;”.
O controle do poder estatal é um elemento essencial na manutenção do ideário
democrático. Para exercê-lo, a Constituição separou os poderes estatais em funções
típicas e atípicas de cada poder (legislar, julgar e administrar) e delegou o controle
mútuo entre si. Ela delegou ao Poder Judiciário o controle da constitucionalidade de
normas do legislativo e de atos do executivo, tendo como o seu órgão máximo o
Supremo Tribunal Federal (STF). O STF é um tribunal de formação política que
possui duas atribuições judicantes ao ser: o órgão de cúpula do Poder Judiciário e a
corte constitucional da República Federativa Brasileira.
Como órgão de cúpula do Poder Judiciário, o STF executa a unificação
jurisprudencial do controle de constitucionalidade difuso em atividade judicante. Ele
pode julgar casos paradigmas concretos de repercussão geral e estabelecer
precedentes vinculantes ao Poder Judiciário. No modelo difuso, ao julgar a
inconstitucionalidade de lei ou ato normativo vinculando como precedente
jurisprudencial, a decisão do STF pode ser declarada como tese, produzindo efeitos
abstratos erga omnes.
Como corte constitucional, o STF exerce o controle de constitucionalidade
através da atividade judicante concentrada abstrata, podendo declarar uma lei ou ato
normativo inconstitucional, ou podendo dar uma interpretação própria do texto
normativo conforme a constituição, ou até mesmo determinar condutas no caso de
lacunas normativas. Ademais, o STF pode modular os efeitos da decisão de controle
de constitucionalidade, possibilitando a adequação temporal da validade da norma.
Com esta amplitude de atuação no controle concentrado abstrato, além de legislar
negativamente ao retirar a validade de uma norma do ordenamento jurídico, o STF
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5. Considerações finais
O controle de constitucionalidade brasileiro sofreu um processo de
amadurecimento democrático após a Constituição cidadã de 1988. As leis
processuais e o regimento interno do STF editados e alterados nos últimos anos
permitiram um amadurecimento democrático do processo de controle constitucional.
Foram incluídos institutos participativos e plurais na formação do racional decisório
nas ações de controle de constitucionalidade abstratas. É importante destacar a
inclusão do Amicus Curiae e da Audiência Pública no processo de controle de
constitucionalidade.
A influencia doutrinária jus filosófica dos alemães Jürgen Habermas e Peter
Häberle foi determinante para este amadurecimento do controle de
constitucionalidade. Ela tem sido vetor da evolução normativa dos processos de
controle de constitucionalidade brasileiros em busca do ideário democrático.
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Referências
ALBUQUERQUE, J. A. Guilhon.“Montesquieu: sociedade e poder” In: WEFFORT,
Francisco (orgs). Os clássicos da política. São Paulo: Ática, p. 87-121, 2011.
STRECK, Lenio Luiz; DE MORAIS, José Luís Bolzan. Ciência política e teoria do
estado. Livraria do Advogado, Revista Atualizada, Apple Books 2014.