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Resumos- António Gramsci- Selected writings- Capítulos VI; VII; VIII

Contextualização histórica:

Itália- 1916-1935;

Militante do partido socialista italiano (marxista) e fundador do PCI (Partido Comunista


Italiano). Foi preso pelo fascismo italiano (Mussolini) a 8 de novembro de 1926- Os capítulos
em estudo foram escritos na prisão.

Caso maior de estudo para Gramsci: Revolução russa de 1917

Maiores influências literárias: Marx, Engels, e Benedetto Croce

Revolução russa- surge uma divisão ideológica dentro do Socialismo: influência de Lenin-
marxismo leninista.

Marxismo clássico- é necessário que haja um desenvolvimento capitalista/ver. Burgues p a


criação de uma sociedade capitalista. Das contradições desta surge a sociedade comunista,
através da luta de classes. Não havia necessidade de criação de partidos. O proletariado, sendo
maioritário, revolucionar-se-ia.

Lenin- é possível passar do feudalismo (rússia czarista), sem passagem pela rev. Industrial
(desenvolvimento capitalista), para o comunismo, através de um partido revolucionário
(fanatismo político, doutrina homogénea com uma forte liderança, imbatível, sociedade sem
classes (marxismo)).

Nas sociedades rurais, os camponeses têm um comportamento individualista e tradicionalista,


o que não é favorável à revolução em sociedade. Lenine diz, ao contrário do marxismo clássico,
que é possível criar o socialismo numa sociedade rural, mas é necessário um partido
revolucionário; “a arma organizacional”. O leninismo revolucionário atribui a esta nova força
política a verdade absoluta, com vista a que a sociedade rural opte pela transformação por
eles proposta. Todos os movimentos revolucionários não legitimados pelo partido são
contestados por este, tornando esta revolução comunista numa tirania burocrática-
contradições entre o povo e o partido revolucionário. Caso prático: bolchevismo.

Em relação a uma revolução comunista Trotsky diz que a melhor maneira de a proteger e
prolongar é exportando-a a nível mundial. Em relação a isto Lenin não discorda, no entanto
considera essencial a consolidação da revolução na Rússia em 1º lugar.

3º linha de pensamento em relação à rev. Comunista- GRAMSCI: alternativa entre o


reformismo social-democrata e a linha de Lenine que deu origem ao totalitarismo soviético.
Esta linha procura o fim da sociedade capitalista, mantendo as ideias revolucionárias e de
transformação da sociedade e das suas políticas económicas. Gramsci não se considera
reformista, este quer um processo revolucionário da transformação da sociedade que passa
pela transformação de estruturas económicas e políticas.

Ele rejeita a linha social-democrata reformista, por ser uma linha que procura que procura
melhorar o capitalismo e não aboli-lo. Para Gramsci o capitalismo é sempre opressor, criador
de um trabalho repetitivo e acéfalo, no qual o trabalhador não tem controlo sobre os meios de
produção, estando sujeito a uma disciplina fabril imposta a partir do exterior, que limita o
potencial de desenvolvimento humano. Os quadros revolucionários devem trabalhar de forma
igualitária e democrática com os grupos que querem libertar, de forma a criar uma sociedade
democrática, pela revolução e porque considera que todos os indivíduos apresentam um
potencial igual no que toca à criatividade e à vontade de trabalho, os revolucionários não
devem educar rigorosamente os indivíduos, mas sim, criar condições para que este se procure
educar, explorar as verdades e adquirir consciência da sua posição social oprimida, ao
contrário da imposição ideológica que acontecia na tirania burocrática de Lenin.

Gramsci aponta a ideia marxista sobre o fim da sociedade rural como errada, e justifica, em
parte, o fracasso burocrático do comunismo soviético com esta mesma ideia. Diz ainda que o
comunismo pode gerar a aparição de uma nova vertente revolucionária de direita: o fascismo.

O projeto intelectual de Gramsci é responder a 2 questões:1) Que modelo de partido


revolucionário, transformador e emancipador é possível construir, sobretudo nas sociedades
ocidentais que haviam escapado aos problemas frutos do totalitarismo revolucionário, que
seja também ele democrático (equilíbrio entre a liderança do partido revolucionário e a
massas que este representa). 2) Porque é que a Revolução democrática falhou no Ocidente, só
se concretizando na Rússia e qual a responsabilidade do partido revolucionário no combate à
ascensão do fascismo vista no Ocidente.

Gramsci rejeita a ideia de que a religião pode funcionar como um elemento de dominação de
classes, rejeitando a visão marxista clássica de que a economia determina a política e a
ideologia.

Gramsci procurou desenvolver o conceito de hegemonia. Ele diz que um determinado tipo de
economia determina os modos de produção, o número de empresas, trabalhadores, etc., e
que uma sociedade só apresenta mudanças estruturais após a transformação da sua economia
(pensamento marxista). A economia é a base limitadora da dinâmica política, sendo esta
autónoma dentro dos seus limites, na medida em que nem tudo o que acontece na política é
determinado diretamente pela economia (os atos políticos podem ter origens como lutas de
partidos, de ideologias p.e) e que existem instituições, como a Igreja, que não podem ser
restringidas ao campo económico ou ao campo político. Ainda sobre a autonomia da igreja,
Gramsci diz que a transformação da infraestrutura da economia ocorre muitas vezes ao nível
das ideias. Concordância com Lenine- é pela luta ideológica e da criação de organizações que é
possível transformar a sociedade, ao contrário do marxismo clássico, que diz que a
transformação da sociedade decorrerá da simples evolução económica.

Rejeição do determinismo económico

Infraestrutura/ Estrutura- estrutura económica

Superestrutura- tudo o que é ideologia e política

Enquanto para Marx a infraestrutura determina a superestrutura, para Gramsci estas estão em
equilíbrio, há uma autonomia da infraestrutura sobre a superestrutura, sendo que são a
ideologia e a política as transformadoras da economia. Gramsci diz também que não é possível
a libertação do indivíduo sem a consciencialização do indivíduo sobre a sua liberdade, as suas
ideologias e a sua posição social- processo de transformação cultural, o qual não decorre
diretamente da transformação económica. Rejeita o Economicismo- ideia de que a economia
determina tudo. Para haver uma transformação emancipadora é necessário existir uma
transformação cultural do indivíduo. Aliás, as Igrejas são organizações independentes da
economia, no entanto apresentam um papel importante nas transformações ideológicas,
sendo este um exemplo muito importante nos movimentos revolucionários ideológicos.

Uma das razões pelas quais a revolução fracassou no Ocidente (Itália) deve-se ao facto de esta
não ter sido homogénea, não se tendo registado tantos movimentos revolucionários no Sul,
nem com a mesma intensidade. Para a Revolução ser completa, operários e camponeses
devem reagir de forma simultânea e homogénea, construindo uma aliança, através da criação
de um novo partido- novo Príncipe- cuja função é construir alianças entre grupos sociais, os
quais se devem tornar autoconscientes da sua opressão, ao invés de serem impingidos com
uma verdade absoluta (tirania burocrática de Lenin).

O 1º aspeto do Gramsci é esta autonomia da política em relação à economia, através da


hegemonia, sendo a economia apenas limitadora da política, mas sem determinar todo o
processo político, que é autónomo.

O 2º aspeto é a ideia de que a superestrutura determina, na maior parte dos casos, a


estrutura, e não ao contrário como dizia Marx. Este aspeto decorre do pensamento leninista.

Gramsci defende que o sistema de ensino burguês deve combinar o saber técnico (operário,
produtivo, tecnológico, prático) com o saber teórico (literário, assente no debate de ideias, na
filosofia, etc.) e afirma que a divisão de classes e a dominação da classe operária se baseia
muito nesta diferenciação dos saberes (sendo o saber teórico dominante sobre o saber
técnico).

Os partidos devem refletir vários grupos sociais, e não apenas 1. A pior situação será quando
um partido é controlado pela sua burocracia, ou quando a liderança do partido oprime as suas
massas. Um verdadeiro partido revolucionário deve ter verdadeiras raízes na sociedade civil.

Ele explica o fascismo, não como uma evolução ou consequência direta do capitalismo, mas
como o fracasso dos partidos liberais em se institucionalizarem. “As situações de crise política
são frequentemente geradas por transformações na dinâmica política e pelos conflitos dos
partidos entre si; em certos pontos na sua história, os grupos sociais, por alguma razão
afastam-se dos seus partidos tradicionais. Os partidos tradicionais na sua forma organizacional
própria e com os homens que os constituem e lideram, por alguma razão também não são
capazes de liderar e de ser reconhecidos pelos grupos que supostamente representam e de
serem considerados a sua expressão”: separação entre partidos e o eleitorado. O vazio político
gerado pelas crises políticos e pelo fracasso dos partidos tradicionais tem muitas vezes
tendência para ser ocupado por líderes carismáticos (populistas), muitas vezes
antidemocráticos.

Gramsci considera então que o seu “desenho” de partido revolucionário é fundamental,


distanciando-se do partido reformista e do partido revolucionário de vanguarda (Gramsci).

Ele também rejeita a greve geral revolucionária (estratégia política comum após 1GM), a qual
diz que é necessário aproveitar a instabilidade política e económica do Estado para assaltar a
sua estrutura, convocando uma greve que paralise o mesmo e permite quebrar a força do
estado burguês (que entra em colapso) e assim a força operária poderá conquistar o poder.
Esta estratégia é, tal como a estratégia de Lenin/Trotsky errada. Gramsci apresenta então a
distinção entra guerra de manobra (é uma manobra repentina contra o poder do estado, que
visa deitá-lo abaixo. Ex: tirania burocrática de Lenin/ Trotsky e greve geral revolucionária) e
guerra de posições- o partido revolucionário de massas tem que ir construindo a sua
organização e expandindo-a a vários movimentos, construindo alianças com diferentes grupos
sociais, com o objetivo de se tornar hegemónico na sociedade civil, e assim, num momento de
crise capitalista o poder lhe ser praticamente entregue, ou na ausência desta crise, a
hegemonia cultural e organizacional do Novo Príncipe- novo partido revolucionário- substituirá
a hegemonia do estado burguês, através do seu processo gradual de crescimento na
sociedade. Este processo não é eleitoral, é antes cívico e educacional da sociedade.

Conceito de Gramsci sobre a hegemonia burguesa- a sociedade aceita os princípios da sua


própria exploração.

Gramsci apresenta ainda o conceito de revolução passiva, que se trata de uma transformação
política baseada na manutenção das estruturas (exemplo: unificação de Itália). É uma forma de
revolução conservadora, visto que se mantêm as estruturas tradicionais (papel da Igreja p.e.).

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