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CENTRO 

UNIVERSITÁRIO DO ESTADO DO PARÁ
CURSO DE DIREITO
Erick Orlando da Silva Alves
erickosalves@yahoo.com.br

FUNDAMENTOS DA HISTÓRIA DO DIREITO. CAPÍTULO 15 – “ O ESCRAVO


ANTE A LEI CIVIL E PENAL NO IMPÉRIO, 1822 A 1871”. DO TÓPICO 3 EM
DIANTE ATÉ O FINAL, PÁGINAS 331 – 334.

RESUMO: Segundo o autor, a escravidão no Brasil originava-se no tráfico Africano-lícito, se


submetido a regras legais que regulavam o comércio e se caracterizava ilícito se resultante de
contrabando. Após a Lei de 07 de novembro de 1830, a origem da escravidão restringiu-se ao
nascimento, embora ainda houvesse o trafico ilícito até 1850.
A principal questão então passou a ser se o filho da mulher escrava era também escravo. O
direito romano codificado, as relações do Reino e a legislação do Brasil independente até a Lei do
Ventre Livre, entendiam que sim. Apenas o filho de escrava que no momento da concepção não mais o
fosse ou quando o pai fosse o próprio senhor, davam ao filho o status de nascer livre.
Já o término da escravidão ocorria juridicamente de três maneiras: a morte do escravo a sua
manumissão ou pela lei.
A morte do escravo aplicava-se o mesmo raciocínio emilizado em relação a capacidade civil do
homem livre. Retirado do mundo jurídico suas relações cessavam de existir. A manumissão ou alforria
poderia ser dada no Brasil imperial pelas formas usuais de direito, sendo os meios mais utilizados por
carta de alforria assinada pelo senhor ou seu procurador, o testamento e o batismo este se acompanhado
de declaração do senhor concedendo a liberdade.
A terceira forma de extinção da escravidão era a legal. Manumitiam legalmente o casamento
(um cônjuge não poderia ser escravo do outro), a descendência, ascendência e parentesco consanguíneo
ou afim, o enjeitamento ou exposição do escravo (as leis e a jurisprudência imperial retomaram a
tradição legal colonial sobre o tema, a descoberta de diamantes acima de 20 quilates, a denúncia
comprovada de sonegação de diamantes pelo senhor, o contrabando do pau-brasil e tapinhoã, o
abandono por invalidez e a saída do escravo do império sem ter havido julga, para países onde não
existisse a escravidão. Este ultimo após a lei de 07 de novembro de 1831.
Do ponto de vista civil, o escravo era res, simultaneamente coisa e pessoa. Mas não participava
da vida de civitas, pois estava privado de toda a capacidade. Em consequência não tinha direitos civis,
muito menos políticos. E também não podiam atuar como testemunhas, testar, contratar ou conceder
tutelas uniões de fato. No entanto existiam famílias de escravos reconhecidas pelo direito canônico.
Quanto aos bens, o escravo nada adquiria para si, mas para o seu senhor. Em caso de herança
deixada para escravo, esta não revertia-se para o senhor sendo o testamento considerado nulo.
Como objeto de relações jurídicas, aplicavam-se amplamente ao escravo por institutos da lei
civil quer no campo do direito obrigacional – contratos em geral, compra, venda, comodato, etc. – quer
no campo dos direitos reais – hipoteca, penhor, condomínio, usufruto e usocapião.
Ao contrario da lei civil, na qual se encontra uma continuidade entre a colônia e o império, a
historia da legislação penal compreende dois momentos diferentes: o período colonial, no qual
vigoravam as Ordenações Filipinas e seu livro V; e o período Imperial, caracterizado pelo código
criminal de 1830, pelo código do processo criminal e pela legislação especifica, quer oficial (como as
leis decretadas pela Assembleia-Geral, as assembleias provinciais e os atos administrativos, sobretudo
dos Ministérios da Justiça e do Império), quer oficializada (Pareceres do Instituto dos Advogados do
Brasil).
Na lei penal, diferente da civil, o escravo sujeito ativo ou agente do crime era considerado
pessoa e não coisa, o que significa dizer que respondia por seus atos como imputável. Já enquanto
sujeito passivo, o mal a ele feito era considerado não dano, mas ofensa física, que de acordo com o
artigo 201 do Código criminal do Império, cabeira ao proprietário indenização civil.
O direito a vida e a morte foi retirado do proprietário, concedendo a aplicação de castigos
moderados ou prisão domiciliar.

RESENHA CRÍTICA
Segundo o autor, há uma tentativa de descrever como funcionava o instituto da escravidão no
Império e as reações existentes entre as leis, escravo e seus senhores. Essas relações eram marcadas por
profundas incoerências entre as dominações dos escravos que ora eram vistos como “coisas” ora eram
sujeitos.
Na lei civil, uma vez que regem os direitos de propriedade dos senhores sobre os escravos, estes
adotavam o sentido de coisa, pois pertenciam a alguém (sujeito). Como tal não poderiam ter direitos
civis, tais como possuir bens, constituir família, deixar heranças, entre outros. No entanto algumas
adaptações foram criadas para normatizar esta relação, uma vez que esses “escravos” adotavam
características humanas como constituir família terem relação sexual e por conseguintes filhos com seus
senhores e senhoras.
Já na lei penal, ocorre mais um malabarismo jurídico, pois aquele que era considerado “coisa”
agora passa a condição de “sujeito”. Tudo para que os escravos pudessem ser punidos por seus atos ou
crimes com pessoa imputável e assim não culpabilizar seus senhores por suas infrações. Além disso,
deve-se salientar o relativismo aplicado aos castigos físicos pelos quais eram submetidos os escravos
que fugiam ou cometiam insurreições. Apesar de haver uma tentativa de abrandar e humanizar a relação
com seus senhores, proibindo estes de dispor da vida e morte do escravo; ainda assim, castigos físicos
severos como açoites, marcação com ferros e torturas eram permitidos.
Por fim, o autor constata um amplo leque de contradições entre o Brasil Imperial e os ideais
cristãos de liberdade humana e respeito ao próximo, além de ideias liberais e iluministas, uma vez que a
persistência da escravidão vai fundamentalmente contra essas práticas.

REFERÊNCIA
1 – WOLKMER, A. C. Fundamentos da História do Direito. Belo Horizonte 2006.

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