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Universidade Wutivi

Curso de Licenciatura em Economia Monetária e de Seguros

Unidade Curricular: Teoria Geral de Seguros

Ano Lectivo de 2022


TEMA III – A ACTIVIDADE SEGURADORA
3.1. Os Fundamentos e a Necessidade do Seguro

A atividade seguradora tem a missão de proteger agentes produtivos


contra riscos de perdas patrimoniais e assegurar às famílias a
proteção à vida e à saúde, bem como a reposição de bens,
indemnizações e benefícios em caso de infortúnio.

O seguro está presente na vida de qualquer pessoa, mesmo quando


não o percebemos. E, nesta condição, a indústria de seguros pode ser
vista e entendida como fator presente e imprescindível à preservação
do bem-estar coletivo, da tranquilidade, da paz social e do
desenvolvimento económico de qualquer país. Daí por que a atividade
seguradora que compreende os ramos vida e não vida tem sido,
sempre e reiteradamente, recomendada como forma de solução
moralmente justa para um dos mais angustiantes problemas do
indivíduo ante as contingências da vida: a incerteza quanto ao
futuro.
Seu fundamento é o mutualismo, que nasce da convergência e da
prática de duas virtudes que qualificam as relações na comunidade
humana: a boa-fé e a solidariedade.

A boa-fé manifesta-se formalmente como lastro de credibilidade à


palavra do segurado, quando declara suas condições pessoais na
contratação de uma apólice de seguro ou plano previdenciário, e à
seguradora, ao prometer proteção, reposição de bens e rendas ou
reparação de danos cobertos.

E a solidariedade, que é o vínculo entre pessoas que decidem


repartir entre si o preço da proteção à vida, ao património e às
rendas, em face da imprevisibilidade do risco individual e do
infortúnio.
É a partir desse momento, quando procede à partilha do risco entre
muitos, democratizando a possibilidade de proteção, que o seguro
cumpre relevante função social.

Cada qual contribui com pouco, de acordo com suas possibilidades,


para fazer face ao risco que é comum, e garantir-se do infortúnio,
incerto e futuro, no momento em que ele se individualiza.

Cria-se, então, com base nessa divisão solidária, um fundo social


que é administrado pelas seguradoras, destinado ao
enfrentamento do risco fortuito e das ameaças à vida, à saúde e ao
património das famílias e instituições.

O que reveste o trabalho das empresas de seguro de características


muito especiais, marcadamente fundamentadas na ética, e o destaca
positivamente no conjunto das atividades económicas.
3.2. Mutualismo, uma História de Muitos Séculos

Pode-se dizer que a prática da mutualidade (um dos fundamentos da


atividade seguradora) é tão antiga quanto a civilização.

Há registro da existência de modalidade rudimentar de contrato de


seguro firmado entre condutores de caravanas da Mesopotâmia 2.250
anos antes da era Cristã, para proteção contra a perda de camelos
usados no transporte, quando esses caíam vítimas de feras ou de
ladrões.

O foenus nauticus, empréstimo marítimo a risco, era praticado entre


gregos, fenícios e romanos, e uma célebre Lex Rhodia de Jactu
regulava, no Império Romano, o seguro marítimo para cargas
lançadas ao mar em situação de perigo.
Na idade média, organizou-se a proteção coletiva em termos de
socorros mútuos, que compreendiam os montepios, confrarias,
misericórdias e associações de artes e ofícios.

Desde então, a Igreja Católica reconhece a importância do


solidarismo que se articula em torno das formas de mutualidade. Os
Papas (destaque para Leão X, no Século XVI) referem-se à atividade
seguradora (lato sensu) de proteção e assistência moralmente
recomendáveis.

Seu fundamento era próximo da caridade, e os reis católicos (Dom


João I, de Portugal), demonstram seu apreço pela mutualidade.

Foi esse monarca o criador do Compromisso Marítimo de Faro


(1432), para assistir e conceder pensões de sobrevivência a
associados que perdiam a capacidade laboral ou contributiva.
Nesse estágio de desenvolvimento, a mutualidade chegou ao Brasil,
nas primeiras décadas após o descobrimento.

Alinhando-se entre as mais antigas atividades económicas


regulamentadas naquele país, o seguro e a previdência foram
criação de jesuítas, em especial o Padre José de Anchieta,
incentivador do mutualismo ligado à assistência.

A regulamentação mais remota da atividade seguradora data de


1791, quando foram promulgadas as Regulações da Casa de
Seguros de Lisboa, que foram mantidas em vigor até a
Proclamação da Independência, em 1822.

Anos antes, em 1808, com a abertura dos portos brasileiros, houve


início a exploração de seguros marítimos, por meio da Companhia
de Seguros Boa Fé, Foi a primeira seguradora a funcionar no Brasil.
A fiscalização da atividade teve início em 1831, com a instituição da
Procuradoria de Seguros das Províncias Imperiais, que ainda
atuava com base em leis portuguesas.

Embora o Código Comercial de 1850 só definisse normas para o


setor de seguros marítimos, em meados do Século XIX muitas
seguradoras conseguiam aprovar seus estatutos e davam início à
operação de outros ramos de seguros elementares, e também o de
vida.

Em 1895, as empresas estrangeiras passam a ser supervisionadas


com base em legislação nacional.

Finalmente, em 1901, com a edição do Decreto 4270, é criada a


Superintendência Geral de Seguros, subordinada ao Ministério da
Finanças, cuja missão era fiscalizar todas as seguradoras que operam
em cada país.
3.3. A Operacionalidade do Mercado Segurador

Difícil estimar, com precisão e em toda sua abrangência e diversidade,


o impacto sempre muito positivo do setor de seguros, previdência
privada e capitalização na vida social e económica dos povos.

Mas é inegável que, sem essa modalidade de proteção, aviões não


levantariam voo; navios não deixariam os portos; veículos não
circulariam nas cidades e nas estradas; as grandes plantas industriais
parariam de produzir porque o empresário não aceitaria que seus
investimentos ficassem expostos aos humores da sorte; e o próprio
desenvolvimento tecnológico ficaria paralisado, pois nenhum avanço
acontece sem a proteção do seguro.

E as famílias que se vissem privadas desse modo de proteção à sua


vida ou património estariam ao desamparo nos momentos de
adversidade.
A operação do mercado é confiada às seguradoras, empresas
especializadas em avaliar os riscos de cada negócio ou condição
pessoal e, em troca de um pagamento único ou parcelado, que
tecnicamente é chamado de prémio, absorver todas as perdas cuja
cobertura ou reposição seja contratada.

Base de sustentação e certeza das principais atividades económicas de


um país, e garantia de proteção contra a eventualidade dos riscos que
podem afetar os mais diversos aspectos da vida moderna, o seguro
cobre desde perdas relacionadas ao exercício de atividades
profissionais, morte e invalidez, até perdas referentes a desastres
naturais e à propriedade pessoal.

Importante saber que seguradoras, na condição de meras


administradoras desse fundo que é formado pelos segurados, só
podem pagar uma indenização se ocorrer efetivamente o evento
particularizado no contrato como risco coberto.
E devem pagar exatamente o valor devido de acordo com o contrato,
sem ampliações ou reduções.

Se pagassem a mais, o fundo comum teria que ser reposto, o que se


refletiria nos preços do seguro. Se indenizassem a menos,
prejudicariam o direito contratual do segurado atingido pelo evento
específico.

Não desnatura essa finalidade predominantemente ética, originada na


solidariedade e nas virtudes da mutualidade, a circunstância de as
seguradoras se constituírem sob a moderna forma de sociedades
anónimas, cujo objetivo mercantil é a geração de lucro sobre capitais
aplicados.

Mesmo porque as próprias normas de organização societária,


procuram sempre dar relevo e destaque à responsabilidade social da
empresa.
E, particularmente no caso das empresas do mercado segurador, a
garantia daqueles direitos geralmente pactuados nas apólices de
seguro: a vida e nãovida.

3.4. Os Produtos da Actividade Seguradora

No ramo de vida e previdência, os planos disponíveis buscam reduzir


os efeitos de alguns dos infortúnios ou incertezas financeiras os quais
as pessoas estão sujeitas no curso de sua existência.

Na linha de coberturas de riscos, os mais conhecidos são aqueles


produtos para morte prematura, invalidez e acidente. Mas há produtos
para saldar despesas financeiras deixadas por tomador de
empréstimos; de translado de corpo ou pacientes em viagens
internacionais; por desvio de bagagem, ampliando as situações reais
de uso de seguros específicos para pessoas.
No caso de produtos de acumulação, há planos voltados, em princípio,
mas não necessariamente, para enfrentar uma velhice em condição
financeira menos desfavorável, comparativamente à usufruída durante
o período laboral.

Até porque hoje é muito comum a compra de produtos de previdência


para crianças, de olho em despesas futuras, como o custeio da
universidade ou especialização no exterior quando virarem adultos.
Em todos os casos, os produtos de benefícios oferecem uma
alternativa relevante às limitações impostas pelos programas
governamentais, que nem sempre suprem as reais necessidades dos
indivíduos.

Nesse cenário, são criadas, regulamentadas e prosperam as


modalidades privadas de prevenção adicional (complementar) contra
os impactos financeiros negativos relacionados ao enfrentamento
desses infortúnios.
E não raro encontrar-se planos possibilitando ao consumidor combinar
variadas opções de risco de investimento, mas, também, coberturas
previdenciárias e benefícios desejados, de sorte a permitir-lhe obter a
proteção mais adequada às suas necessidades particulares.

Nos seguros de Pessoas (morte, acidentes pessoais e invalidez), por


não terem caráter indenizatório, não há limitação de valor ou sua
cumulatividade: a seguradora é responsável pelo valor do capital
segurado que aceita.

Existem, ainda, produtos de acumulação de recursos (no seguro de


pessoa e em planos abertos de previdência complementar privada)
que admitindo o resgate de recursos, na forma regulamentada,
destinamse ao recebimento, no futuro, em data predeterminada, do
montante acumulado, sob a forma de pagamento único e ou por meio
de uma renda programada.
Os seguros de pessoas podem ser contratados em grupo ou
individualmente.

E, além dessas modalidades, há ainda cobertura por sobrevivência:


vida gerador de benefício livre (VGBL). Tratase de seguro
contratado em regime de remuneração do montante dos prémios
pagos, com base na rentabilidade da carteira de um fundo de
investimentos especialmente constituído.

Durante o período de acumulação, os recursos podem ser resgatados,


parcial ou totalmente, observadas as condições contratuais.

Em data predeterminada contratualmente, o segurado pode optar por


receber os recursos de uma só vez e ou sob a forma de uma renda
programada. Sobre os prémios pagos na modalidade vida gerador
de benefício livre não incide o imposto sobre operações financeiras
(IOF).
Semelhante ao VGBL, o Plano Gerador de Benefícios Livres
(PGBL) é um plano de benefícios de previdência complementar aberta.

A diferença fundamental entre os dois produtos é o tratamento


tributário. Enquanto no VGBL não há dedução do valor dos prémios
pagos para efeito de imposto de renda, que incidirá apenas sobre
os rendimentos, no PGBL o adquirente beneficia-se da possibilidade
de dedução do valor das contribuições pagas no ano civil, até limite de
12% de sua renda bruta, e o imposto de renda incidirá sobre a
importância resgatada ou sobre o valor do benefício pago sob a forma
de renda programada.

No caso do mercado de previdência complementar aberta, pode-se


dizer que começa a existir, mesmo, em 1977. A partir dessa altura
passam a ser consideradas entidades de previdência
complementar.
Enquadrado por essa moldura, o mercado de previdência
complementar aberta é operado por sociedades seguradoras
autorizadas a atuar no ramo vida e por entidades abertas de
previdência complementar que devem estar constituídas, em ambos
os casos, como sociedades anónimas.

As entidades abertas de previdência complementar,


constituídas como sociedade civil sem fins lucrativos, poderão manter
sua organização jurídica. A autorização para funcionamento que é
concedida pelo Ministro de Economia e Finanças, após análise do
Instituto Nacional de Supervisão de Seguros de Moçambique
(ISSM), abrange as operações com planos previdenciários, de renda.

O avanço dos planos de previdência privada tem a ver com o


histórico de dificuldades da previdência social, ao longo de sua
história.
Logo após a Primeira Guerra Mundial, em Janeiro de 1919,
acompanhando uma tendência de ação de Estado que vinha sendo
praticada nas economias mais avançadas e que ditavam novos
modelos de relações de trabalho, os estados, uma prática de
previdência que, em sentido estrito, já pode ser chamada de social.

Era um avanço: empregadores passam a assumir a obrigação de


indenizarem seus empregados, em situação de acidentes ocorridos no
trabalho.

3.4.1. Seguros do Ramo Vida


3.4.1.1. Conceitos Importantes

Resgate: consiste na antecipação do recebimento da prestação


devida pelo segurador, calculada em função dos prémios já pagos,
dando origem à cessação do contrato.
O resgate resulta, de pedido expresso do tomador. O direito ao valor
de resgate é usualmente concedido após um período mínimo
estabelecido no contrato e nem todos os seguros do ramo vida dão
direito a valor de resgate.

O segurador deve anexar à apólice uma tabela de valores de resgate


calculados com referência às datas de renovação do contrato, sempre
que existam valores mínimos estabelecidos.

Reembolso: quando o beneficiário recebe, no final do contrato, o


valor a que tem direito.

Participação nos Resultados: é o direito de o tomador do seguro,


segurado ou beneficiário receber parte dos resultados gerados pelo
contrato de seguro. O segurador deve informar anualmente o tomador
do seguro do valor da participação nos resultados que lhe é
distribuído.
Quando o contrato termina, o tomador do seguro, segurado ou
beneficiário tem direito à participação nos resultados que já tenha sido
atribuída mas ainda não tenha sido distribuída.

Nas situações em que a participação nos resultados ainda não tenha


sido atribuída, o valor a receber será proporcional ao tempo que
decorreu entre a última atribuição e o final do contrato.

Redução: corresponde a uma diminuição das garantias e ou capitais


contratados, por iniciativa do tomador do seguro ou do segurador,
mantendo-se o contrato em vigor.

Ocorre, normalmente, por decisão do segurador em caso de falta de


pagamento de parte do prémio. O segurador deve anexar à apólice
uma tabela de valores de redução calculados com referência às datas
de renovação do contrato, sempre que existam valores mínimos
estabelecidos.
Quando o contrato termina, o tomador do seguro, segurado ou
beneficiário tem direito à participação nos resultados que já tenha sido
atribuída mas ainda não tenha sido distribuída.

Nas situações em que a participação nos resultados ainda não tenha


sido atribuída, o valor a receber será proporcional ao tempo que
decorreu entre a última atribuição e o final do contrato.

Redução: corresponde a uma diminuição das garantias e ou capitais


contratados, por iniciativa do tomador do seguro ou do segurador,
mantendo-se o contrato em vigor.

Ocorre, normalmente, por decisão do segurador em caso de falta de


pagamento de parte do prémio. O segurador deve anexar à apólice
uma tabela de valores de redução calculados com referência às datas
de renovação do contrato, sempre que existam valores mínimos
estabelecidos.
3.4.1.2. Seguro de Vida
3.4.1.2.1. O que é um Seguro de Vida?

É um seguro que garante, como cobertura principal, o risco de morte


ou de sobrevivência (ou ambos) de uma ou várias pessoas seguras.
Pode também incluir, como coberturas complementares, o risco de
invalidez, de acidente ou de desemprego.

No seguro de vida que cobre o risco de morte da pessoa segura


(seguro em caso de morte), o segurador paga ao beneficiário o capital
acordado, se a pessoa segura morrer durante o período fixado no
contrato.

No seguro de vida que cobre o risco de sobrevivência da pessoa


segura (seguro em caso de vida), o segurador paga ao beneficiário o
capital acordado, se a pessoa segura se encontrar viva no final do
contrato.
Estes seguros são usualmente utilizados para a constituição de uma
poupança. Neste caso, o beneficiário pode ser a própria pessoa
segura.

Existem ainda modalidades mistas que englobam ambas as situações,


ou seja, o segurador paga em caso de morte e em caso de vida da
pessoa segura, regra geral, com capitais distintos.

3.4.1.2.2. Porque é Importante Fazer um Seguro de Vida?

Existem riscos que têm consequências graves e de grande impacto


económico na vida dos cidadãos. Uma morte prematura pode afetar
seriamente os recursos familiares, levando à redução dos
rendimentos. Por outro lado, uma maior longevidade pode acarretar
custos acrescidos para o idoso e sua família.
Estes são riscos que podem ser partilhados ou transferidos para um
segurador, através de um seguro de vida.

Assim, o seguro de vida surge como forma de prevenir, a nível


económico, as consequências da morte ou da sobrevivência numa
determinada idade. A prevenção é a base e a razão de ser do seguro.

3.4.1.3. Seguros Ligados a Fundos de Investimento


3.4.1.3.1. O Que São Seguros Ligados a Fundos de
Investimento?

São seguros de vida de capital variável em que o valor a receber pelo


beneficiário depende, no todo ou em parte, de um valor de referência
constituído por uma ou mais unidades de participação.

Os seguros ligados a fundos de investimento são qualificados como


instrumentos de captação de aforro estruturado.
3.4.1.3.2. O Seguro Ligado a um Fundo de Investimento
Garante um Rendimento?

O rendimento de um seguro ligado a um fundo de investimento


depende, total ou parcialmente, de outro instrumento financeiro.

O risco do investimento é assumido, ainda que só em parte, pelo


tomador do seguro.

O seguro ligado a um fundo de investimento, ao contrário do que


acontece no seguro de vida clássico, poderá:
 Não dar origem a nenhum rendimento, se não existir uma cláusula
que garanta um rendimento mínimo;
 Implicar a perda do dinheiro investido, se não existir uma cláusula
que garanta o pagamento do capital investido.
3.4.2. Seguros de Saúde

Durante a vida, as pessoas adoecem com maior ou menor frequência


e gravidade. Parte das pessoas passa pela vida com poucas doenças
ou com doenças de baixa gravidade.

Outras enfrentam doenças graves que podem exigir todo o património


da família no diagnóstico, tratamento e recuperação. Mas o fato é que
ninguém sabe com precisão que doenças (e sua gravidade) vai
encontrar em sua vida.

Estar preparado financeiramente para enfrentar toda e qualquer


situação de saúde ou doença possível na vida exigiria uma grande
fortuna financeira se tivesse que ser provisionada individualmente, o
que seria inalcançável para a maioria das pessoas.
A cobertura em regime mutual, que é típica das coberturas dos
seguros, fornece uma solução mais eficiente. Mediante um prémio
ou mensalidade fixo e certo, a pessoa pode proteger seu património
em caso de doença.

Assim a cobertura de riscos à saúde segue os princípios do seguro,


mas tem características distintas, como, por exemplo, a não
existência de limite aos serviços de assistência à saúde nem aos
valores financeiros das indenizações ou dos gastos na utilização
desses serviços.

A cobertura pode se dar na forma do seguro saúde, contratado


perante seguradoras especializadas em saúde, mas pode também
ser junto a outras modalidades empresariais, como as medicinas
de grupo, as cooperativas médicas ou ainda as autogestões.
A lei dos planos de saúde denominou a todas essas formas de
Operadoras de Planos de Assistência à Saúde, tendo, no
entanto, preservado as características próprias de cada forma de
organização societária.

Todas as formas de contratação destinam-se a garantir proteção em


face de riscos à saúde do segurado e de seus dependentes incluídos
no contrato ou na apólice.

A proteção pode se dar na forma de prestação direta dos serviços de


assistência à saúde ou de indenização ou reembolso de despesas
incorridas de natureza médico-hospitalar que resultem da ocorrência
de eventos (sinistros) cobertos e tudo conforme estabelecido em
contrato.
Essa cobertura de riscos à saúde surgiu em momento de crise, em
Dallas, capital do Texas, nos Estados Unidos, durante a Grande
Depressão de 1929, como solução de enfrentamento à escassez de
meios com que se defrontava o sistema de saúde americano.
Inicialmente pensado como solução quase caseira, que deveria
propiciar cobertura de saúde a um grupo de professores e suas
famílias, tinha um funcionamento simples:
 Cada integrante do grupo recolhia um valor mensal, que era
aportado a um fundo comum, destinado ao pagamento de
internação em unidade hospitalar.
 Havia um limite de tempo à internação coberta: vinte e um dias
por ano.
 O plano permitia que seus usuários tivessem acesso, coberto, à
utilização de centro cirúrgico e outros serviços médicohospitalares
complementares.
O acesso à assistência à saúde desses institutos previdenciários era
limitado às pessoas com carteira de trabalho assinada e a seus
familiares.

A assistência à saúde de pessoas sem carteira assinada dependia de


recursos próprios ou das Santas Casas Beneficentes. Assim era até a
chegada da indústria automobilística, em meados dos anos 1950.

Esse cenário começou a mudar com a implantação da indústria


automobilística, por empresas multinacionais.

A experiência em seus países de origem indicava que a produtividade


da força de trabalho era tanto maior quanto mais saudáveis eram
seus colaboradores. Para terem uma força de trabalho saudável e
presente, portanto mais produtiva, as empresas não queriam ficar na
dependência dos serviços de assistência à saúde, morosa e ineficaz,
dos Institutos de Previdência.
Grupos de médicos, decidem criar uma estrutura de atendimento que
viria a ser o embrião das futuras empresas de planos de saúde. A
Policlínicas, iniciada pelo médico Julian Czapski, foi pioneira nessa
iniciativa. Resumidamente, o modelo novo consistia em estrutura de
atendimento a ser prestado por médicos conveniados para situações
específicas e de serviços auxiliares de tratamento e diagnóstico.

Rapidamente, os planos de saúde ganham espaço, que se amplia na


medida que a industrialização prossegue e se altera o perfil de renda
da população.

O seguro pode ser individual, empresarial, ou por meio de adesão


espontânea a um grupo delimitado de segurados, ligados a uma
pessoa jurídica, a exemplo das adesões que podem ser feitas por
meio de associações, sindicatos e entidades profissionais.
Todas as operadoras são obrigadas a oferecer o plano de
referência a todos os consumidores. Esse plano de referência
garante a cobertura médico-ambulatorial e hospitalar, inclusive
partos, com acomodação em padrão de enfermaria, e cobertura de
transplantes, que é limitada a rim, córnea e um tipo de medula.

Diferentemente das empresas que operam com planos de saúde,


as seguradoras especializadas em saúde não podem possuir ou
administrar estabelecimentos de saúde, como clínicas, hospitais e
ambulatórios.

Como consequência, o seguro de saúde deve obrigatoriamente


oferecer aos segurados a possibilidade da utilização de uma rede de
prestadores de serviços de sua livre escolha, com reembolso nos
limites fixados no contrato.
As despesas contratualmente cobertas, realizadas perante esses
prestadores de serviços, são reembolsadas ao segurado mediante a
apresentação de nota ou recibo.

Na rede referenciada, a operadora paga diretamente ao prestador,


em nome e por conta do segurado.

Para maior tranquilidade do segurado, é importante saber que,


adicionalmente, todos os planos e seguros de saúde são
submetidos à mesma regulamentação e fiscalização de autoridades
competentes em todos os seus diferentes aspectos como no que diz
respeito à materialidade dos contratos, regulação
económicofinanceira, assistencial, entre outros.

Isto é, o tipo e abrangência dos direitos que podem ser contratados


pelo consumidor.
3.4.3. Capitalização

Paul Viget, diretor de uma cooperativa de mineiros francesa,


idealizou, em 1850, uma engenhosa maneira de alavancar recursos
financeiros para seus cooperados.

Em poucas palavras, o sistema funcionava mais ou menos assim:


todos contribuíam mensalmente com uma parcela de suas
economias, por um período previamente determinado. Além da
garantia de resgatar todo o dinheiro acumulado ao fim daquele prazo,
havia a possibilidade de receber tudo antecipado caso o cooperado
fosse sorteado.

O modelo agradou em cheio e não só conquistou a simpatia dos


cooperados como também acabou por espalhar-se por toda a França
e a ganhar novos adeptos.
Uma das formas de utilização do modelo de Paul Viget nasceu
ligada à necessidade da compra da casa própria. Já naquela época,
comprar um imóvel era um investimento alto e, os prazos de
capitalização, de 30 anos, em média.

Para estimular as pessoas a permanecerem no plano, a cada mês era


sorteada uma casa. Dessa forma, além de saber que estavam
poupando e, portanto, pagando pelo imóvel, poderiam receber a casa
própria mais cedo, se premiadas.

No início do século XX, as ideias de Paul Viget romperam fronteiras


e encontraram terreno fértil para se consolidar nos países de origem
latina.

Estimuladas por demandas de mercado, as empresas têm buscado


diversificar para oferecer soluções que atendam as novas
necessidades dos consumidores.
Atualmente, os produtos de capitalização estão segmentados nas
seguintes modalidades:
a) Tradicional;
b) Incentivo;
c) Popular;
d) Comppra Programada.

A modalidade tradicional é a mais comercializada, representando


mais de 85% do mercado. Nesta modalidade, o cliente constitui uma
reserva, participa de sorteios e recebe 100% do valor acumulado ao
fim do prazo de vigência.

Ainda no âmbito da modalidade tradicional, algumas sociedades


de capitalização identificaram nova demanda de mercado e, dessa
forma, surgiram os produtos para garantia locatícia, que substituem o
fiador nas transações de aluguel de imóveis residenciais e comerciais.
Outra modalidade em franca ascensão é a dos produtos de
incentivo. Voltados para clientes pessoa jurídica, estes títulos são
comercializados em séries fechadas para empresas interessadas em
realizar ações promocionais para incremento de vendas ou para
fidelização, cujo mecanismo é o seguinte: a empresa adquire uma
série inteira de títulos de capitalização e cede gratuitamente aos seus
clientes o direito a concorrer aos sorteios daquela série, por meio de
números da sorte.

A modalidade popular, cuja característica principal é o baixo valor


de aquisição, atrai não só em função dos sorteios como pela
possibilidade de o consumidor realizar ações sociais. É porque esta
modalidade, que devolve pelo menos 50% da reserva acumulada,
permite a cessão do direito de resgate para instituições filantrópicas.
Há, ainda, a modalidade compra programada, que garante ao
titular, ao fim da vigência, resgatar sua reserva em dinheiro ou
receber um bem ou serviço.

Por ser uma solução de negócios combinada com sorteios, o título de


capitalização não pode ser considerado como investimento, na
definição clássica.

O consumidor do produto tradicional, por exemplo, troca um


possível retorno financeiro pela chance de participar de sorteios, razão
pela qual o título de capitalização não pode ser comparado a qualquer
produto financeiro disponível no mercado.

Também não pode ser comparado às loterias. Os produtos de


investimento não oferecem a possibilidade de premiação, salvo em
casos excepcionais e temporários; e as loterias não devolvem o valor
da aposta caso o consumidor não seja sorteado.
O título de capitalização assemelha-se hoje a uma grande plataforma,
capaz de suprir necessidades de clientes com objetivos diferentes e
perfis de comportamento e consumo variados.

3.4.3.1. Caderneta de Poupança X Títulos de Capitalização

Embora as taxas de juros e o índice de correção monetária (TR)


sejam praticamente os mesmos para os dois produtos, as suas
funções são diversas.

No caso das cadernetas de poupança a taxa de juros e a TR são


utilizadas para corrigir 100% do capital investido.

Já no caso dos títulos de capitalização tradicionais, a taxa de


juros e a TR são utilizadas para corrigir a cota de capitalização, que
constituí a reserva efetivamente a ser capitalizada e resgatada pelo
cliente.
3.4.3.2. Papel da Taxa de Juros na Capitalização

Os títulos de capitalização tradicionais não podem ser


considerados como investimento porque o capital acumulado não
será rentabilizado da mesma forma que as aplicações financeiras
tradicionais.

A taxa de juros, no caso dos títulos de capitalização, tem a função


apenas de recompor o saldo da reserva do cliente ao fim do prazo de
capitalização, de modo que o cliente receba 100% do que acumulou
atualizado pela TR.

Quem compra um título de capitalização, opta por trocar a


remuneração (juros) pela chance de participar de sorteios
(pagamento da cota de sorteios).
3.4.3.3. Soluções Diferenciadas

A compra de um título de capitalização tradicional é uma


solução para desenvolver o hábito de guardar dinheiro. É também
uma solução que substitui o fiador na hora de alugar um imóvel.

O título popular é uma solução para quem quer contribuir com


alguma instituição filantrópica.

O produto de incentivo é um instrumento promocional e de


fidelização capaz de alavancar novos negócios em qualquer segmento
económico.

Em linhas gerais, uma série é um conjunto de títulos de


características idênticas.
A comercialização de uma série implica a reunião de um conjunto de
pessoas que, portadoras de um mesmo tipo de título, concorrem
entre si a um volume determinado de prémios.

A quantidade e o valor destes prémios serão definidos em função do


tamanho da série e das características dos títulos que a compõe, tais
como prazo de capitalização, valores de mensalidades, quantidade de
sorteios, entre outros.

A forma mais frequente de composição destas séries utiliza


combinação de dezenas, de grupos de números previamente
estabelecidos, tendo como base os sorteios realizados pelas loterias
oficiais (como, por exemplo, a Loteria) ou pelas próprias empresas de
capitalização.
3.4.3.5. Cota de Sorteio

Todos os portadores dos títulos têm as mesmas chances de sorteio,


sendo que, cada um dos participantes de uma série contribui com
uma pequena parcela de seu depósito para a formação de uma
espécie de fundo de premiação.

A comercialização de uma série completa já prevê um determinado


volume de sorteios e também que todos os participantes daquela
série tenham igual chance de premiação.

Ainda que seja sorteado, o mesmo título continua concorrendo a


todos os demais sorteios previstos na série até o fim do prazo de
capitalização, desde que os pagamentos estejam em dia.
3.4.3.6. A Emissão dos Títulos de uma Série

Os títulos de uma série são emitidos por computador e as


combinações nele contidas são distribuídas de forma aleatória. Um
título jamais possui as mesmas combinações de outro dentro de uma
mesma série.

3.4.3.7. Reserva Matemática

É a parte do valor depositado pelos clientes que vai sendo


mensalmente capitalizada a uma taxa de juros, além do indexador
estipulado, no prazo previamente determinado, e que constitui o
saldo de capitalização a ser devolvido aos clientes ao fim da vigência
do plano.
3.4.3.8. Prazos de Capitalização

O prazo mínimo estabelecido pela legislação para planos de


capitalização é de um ano. Boa parte dos produtos hoje disponíveis
no mercado possui prazo de capitalização entre 24 e 36 meses e 12
meses de carência. Não se destinam, portanto, a quem visa ao curto
prazo.

3.4.3.9. O Resgate Antecipado

Como todas as séries de títulos são constituídas prevendo a


permanência de seus portadores até o fim do prazo de capitalização,
os valores aplicados só são restituídos integralmente ao fim desse
prazo. No caso do resgate antecipado, o cliente vai resgatar o saldo
de sua reserva matemática após o prazo de carência, corrigido até o
momento de sua permanência no plano, que fica, assim, encerrado.
Neste caso, como houve um rompimento unilateral do contrato de
capitalização, o cliente é penalizado também com uma multa.

3.4.3.10. Reservas de Capitalização

Os recursos resultantes dos pagamentos dos clientes constituem as


reservas de capitalização que serão devolvidas e são investidos pelas
sociedades de capitalização no mercado financeiro, conforme
regulamentação específica, que determina limites e classes de ativos
onde esses recursos podem ser aplicados.

Isso significa dizer que o setor contribui para a formação da


poupança interna e para alavancar o desenvolvimento económico e
social do país.
3.4.3.11. Cota de Capitalização

É o percentual relativo aos pagamentos a serem utilizados para


constituição da reserva matemática para resgate, que deverão
obedecer os seguintes critérios, observados ainda os demais
requisitos de cada modalidade:
 Nos títulos de pagamento único (PU) em que haja a realização
de sorteios, o percentual destinado à formação da reserva
matemática para resgate deverá ser, no mínimo, 70 % do valor do
pagamento, qualquer que seja o prazo de vigência do título;
 Nos títulos de pagamentos mensais (PM) ou de pagamentos
periódicos (PP), em que haja a realização de sorteios, o
percentual destinado à formação da reserva matemática para
resgate deverá ser, no mínimo, 10% do valor de cada pagamento
nos primeiros 3 meses de vigência; e 70%, a partir do 4º mês de
vigência, sendo que, a média aritmética do percentual de
capitalização de todos os pagamentos, até o fim da vigência do título,
deverá corresponder a, no mínimo, 70%, qualquer que seja o prazo
de vigência do título.

 Nos títulos de pagamento único (PU) com 12 meses de


vigência e pertencentes às modalidades incentivo ou popular, o
percentual destinado à formação da provisão matemática para
resgate deverá ser de, no mínimo, 50% do valor do pagamento.

3.4.3.12. Cota de Carregamento

É o montante deduzido das parcelas mensais ou da cota única para


cobrir os custos de despesas com corretagem, distribuição e
administração do título de capitalização, emissão, divulgação,
atendimento ao cliente, desenvolvimento de sistema e lucro da
sociedade de capitalização.
Não há um limite expresso referente à cota de carregamento, cujo
percentual é estabelecido em função dos demais custos envolvidos na
operação.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

ALVIM, Pedro (1983). O Contrato de Seguro. Rio de Janeiro.


BRASIL;

AMADOR, Paulo; CAVICCHINI, Alexis, et all (2008). A História dos


Seguros no Brasil. Rio de Janeiro, Brasil;

AMADOR, Paulo (2010). Do retrato de Vargas à Carta de Brasília.


Brasilia. BRASIL;

AMADOR, Paulo (2002), Capitalização, uma História de


Prosperidade. Brasilia. BRASIL.

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